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DESCRIÇÃO Abordagem dos parâmetros e conceitos fundamentais sobre o desenvolvimento motor e das mudanças nos domínios afetivo, cognitivo e psicomotor que ocorrem ao longo da vida. Além do apontamento das características epidemiológicas do envelhecimento e das avaliações aplicadas pelo profissional de Educação Física em algumas fases do desenvolvimento humano. PROPÓSITO Conhecer o desenvolvimento motor humano; as modificações nos aspectos motor, afetivo e cognitivo; as alterações decorrentes do processo de envelhecimento; e quanto é fundamental avaliar esse indivíduo para que o profissional de Educação Física tenha uma atuação ajustada para o planejamento de sua intervenção e contribua para a saúde e qualidade de vida. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar como os domínios afetivo, cognitivo e psicomotor interferem no desenvolvimento perceptivo MÓDULO 2 Reconhecer o impacto do processo de envelhecimento nas habilidades motoras MÓDULO 3 Definir os critérios para uma avaliação motora ou psicomotora e a utilização de alguns testes de proficiência motora, avaliação psicomotora e escala de desenvolvimento motor INTRODUÇÃO Veremos como o comportamento motor é influenciado por áreas relacionadas a domínios diferentes. Desde o nascimento até a velhice, os aspectos afetivos, cognitivos e motores modificam-se e geram percepções variadas em cada indivíduo. Veremos como o processo de envelhecimento pode interferir na saúde e na qualidade de vida dos idosos, impactando a realização de suas atividades diárias e suas capacidades e habilidades motoras. Em seguida, será destacada a importância da avaliação motora e psicomotora para o trabalho do profissional de Educação Física, pois, de acordo com a faixa etária, diferentes testes poderão ser utilizados para identificar o nível de aptidão e desenvolvimento de cada indivíduo, favorecendo o ajuste necessário para todo tipo de treinamento. Para ampliar as habilidades motoras, prevenir ou atenuar comorbidades específicas do envelhecimento, ou mesmo garantir melhora no desenvolvimento psicomotor, o profissional de Educação Física poderá se beneficiar desse conhecimento, ampliando as possibilidades de uma intervenção que garanta a manutenção, autonomia, saúde física, mental, psíquica e emocional em todas as idades. MÓDULO 1 � Identificar como os domínios afetivo, cognitivo e psicomotor interferem no desenvolvimento perceptivo O COMPORTAMENTO HUMANO Quando estudamos o comportamento humano, temos que considerar inúmeros aspectos que influenciam nesse processo. Fatores físicos e mecânicos que utilizam um conjunto de habilidades que envolvem hereditariedade, experiência e aprendizado são solicitados para a execução de um gesto motor. Neste conteúdo, veremos o desenvolvimento motor segundo a perspectiva desenvolvimentista e, nesse caso, classificaremos o comportamento humano como pertencente e interligado intrinsecamente entre três domínios: Imagem: Shutterstock.com COGNITIVO OU MENTAL Imagem: Shutterstock.com AFETIVO-SOCIAL (REFERINDO-SE AOS SENTIMENTOS E ÀS EMOÇÕES) Imagem: Shutterstock.com MOTOR VALE LEMBRAR QUE HÁ UMA RELAÇÃO ENTRE DOMÍNIO MOTOR E COGNITIVO. � ATENÇÃO Sabemos ser possível classificar determinado comportamento em um desses domínios, e haverá o predomínio de um sobre os outros. Entretanto, convém esclarecer que em todos os comportamentos existe a participação desses três. DOMÍNIO AFETIVO O desenvolvimento da criança precisa do convívio para se estruturar, pois o início de sua sociabilização será marcado pelas relações humanas, pelo desejo de se integrar a partir do olhar, dos gestos e da palavra, ou seja, socializar. Esse processo é muito importante, principalmente se considerarmos que o cérebro apresenta na infância uma capacidade aumentada para se remodelar, partindo das experiências vividas pela criança com o ambiente e com o outro. Essa relação desenvolve a maioria dos processos cognitivos, incluindo a interação afetiva e a cooperação entre os neurônios e suas conexões. Imagem: shutterstock.com Imagem: shutterstock.com Desde os primeiros momentos de vida, a criança apresenta seu próprio repertório de condutas afetivas que permitem a ela a comunicação e a possibilidade de expressar seus desejos. Suas necessidades básicas, como sono, fome, sede e alguns desconfortos, são as primeiras formas de comunicação e de reação afetiva para com pessoas e objetos. Pouco a pouco, a criança se apropria de expressões faciais e gestos de forma a integrar novas manifestações afetivas, lhes atribuindo um novo significado e de maneira mais eficiente ao seu contexto social. Assim, amplia-se a troca afetiva da criança com os pais e outras pessoas que fazem parte de seu círculo de afetos e relações. Essas condutas afetivas não são apenas uma forma de reagir ao ambiente ou a alguma experiência, mas também um aspecto importante no desenvolvimento que permite a criação de novas experiências e conceitos formadores de sua personalidade e capacidade de perceber que somos seres sociais, dotados de intenção, interpretação e significados próprios capazes de influenciar o comportamento. � ATENÇÃO Podemos afirmar, então, que a criança aprende muito sobre comunicação, autonomia e construção de sua cognição antes mesmo de ter alcançado efetivamente esses domínios. Portanto, o desenvolvimento afetivo permitirá a ampliação de sua interação com o meio e a percepção da linguagem, substituindo sua forma mais primitiva de comunicação por algo mais ajustado e de acordo com sua cultura e seus costumes. É importante salientar que todo esse processo de “desenvolvimento” cognitivo ocorrerá a partir de sua relação com os outros e com os objetos e, necessariamente, essa relação de dá a partir de sua motricidade. DOMÍNIO COGNITIVO E DE LINGUAGEM O SURGIMENTO DA CAPACIDADE DE COMPREENDER, PENSAR E DECIDIR COMO AGIR NO MUNDO É O QUE CARACTERIZA O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO. Processos mentais que envolvem memória, atenção, percepção e imaginação se integram construindo formas de se alcançar a resolução de problemas. As funções sensorial, perceptiva, motora, linguística, intelectual e psicológica são as que permitirão um desenvolvimento cognitivo integral, desde que esses processos ocorram de forma satisfatória. O ser humano se apropria da linguagem desde sempre, aprendendo a se comunicar com os outros, falando, conversando e organizando suas experiências que nomearão o mundo, construindo e expressando suas ideias e opiniões. Dessa forma, a criança aprende porque interage, sendo um ser social construído a partir de sua cultura e da interação e mediação de outro ser humano, necessariamente. Quando nesse processo ocorre uma escassez ou a presença de estímulos em momentos não adaptados, poderemos ter uma alteração importante no desenvolvimento. Imagem: shutterstock.com De acordo com Piaget (1973), a criança é o próprio agente de seu desenvolvimento, partindo de alguns determinantes para construção e compreensão desse processo, que são: A maturação do sistema nervoso central Um ambiente físico estimulante A aprendizagem propriamente dita A tendência do equilíbrio de todo esse processo O nascimento da criança é o começo do desenvolvimento cognitivo, que deverá evoluir acompanhando o crescimento e a maturidade, permitindo que na fase adulta o indivíduo tenha obtido o conhecimento necessário e possível. As diversas capacidades ou competências que um indivíduo apresenta são o que irá compor sua inteligência, de forma multifacetada, sendo o resultado de influências genéticas e ambientais que se combinaram de forma complexa. � RESUMINDO Isso significa que a inteligência é uma adaptação ao meio em que o indivíduo está inserido e necessita, inicialmente, da manipulação dos objetos do meio para que a “adaptação” ocorra (FONSECA, 1998). A cada situação nova vivida, o organismo cria um mecanismo de adaptação ao mundo exterior. � Assim, são construídas novas estruturas, que deverão ser contínuas e que desenvolvemintelectualmente o indivíduo a partir de exercícios e estímulos oferecidos por aqueles que o cercam e pelo próprio meio, formando a inteligência. � Desde o nível mais básico de nossa existência, as trocas bioquímicas e simbólicas aperfeiçoam as potencialidades de um indivíduo, exercitando sua inteligência humana. Isso significa que, ao estabelecer uma interrelação com o seu meio a partir dos esquemas de ação e de representação, o indivíduo atuará sobre sua própria realidade, conhecendo-a. Os primeiros reflexos (sugar e pegar) que uma criança apresenta, associados aos aspectos que pertencem a determinada ação, compreendem os esquemas de ação. Quando a criança passa a representar situações, suas ações e experiências, adquirindo o que chamamos de função semiótica, estamos falando de esquema de representação. MAS, AFINAL, O QUE É SEMIÓTICA? Semiótica é um termo de origem grega que significa basicamente o estudo dos signos. Os signos são as representações mentais (em nosso pensamento, em nosso cérebro) de determinada coisa. Por exemplo: quando olhamos para uma bola vermelha, nosso cérebro cria essa imagem, que é uma cópia similar à bola vermelha. Dizemos que é uma cópia similar, porque o objeto, no caso, a bola vermelha não está dentro da sua cabeça, mas, sim, na imagem que você fez daquele objeto. Sabemos que a bola existe devido à representação mental que fizemos dela em nossa cabeça. Isso é o que chamamos de signos. Dessa forma, as crianças entram em contato com o meio, com novos objetos, e tentam encaixá-los em seus esquemas por meio de ações e representações. Quando observamos a capacidade de uma criança para aprender e se desenvolver cognitivamente, nota-se que isso depende das formas de pensamento que ela predispõe para assimilar o ensino, ou seja, depende do nível de competência cognitiva, e não somente da forma como é ensinada (PIAGET, 1973). DOMÍNIO PSICOMOTOR O DOMÍNIO PSICOMOTOR INTEGRA OS CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE PARA QUE POSSAMOS ENTENDER A RELAÇÃO ENTRE ESSE DOMÍNIO E O DESENVOLVIMENTO E CONTROLE MOTOR. O movimento humano e o desenvolvimento motor são interligados pelo desenvolvimento psicomotor. � Esse, por sua vez, integra o movimento humano com as relações que o indivíduo faz consigo mesmo, com os outros, com o ambiente e com os objetos. � As aquisições motoras, afetivas e cognitivas serão a base para o desenvolvimento de um movimento organizado, integrado e consciente, que se realiza em um corpo que se expressa e se relaciona. A psicomotricidade organiza o movimento humano, integrando-o a partir de suas vivências, e será a ação motora o resultado de sua individualidade, o que inclui sua linguagem e socialização. Os aspectos psico são relacionados a tudo que compõe os aspectos mentais, isso inclui a cognição e a afetividade do ser humano. Os aspectos motores têm relação com a motricidade, o movimento e os aspectos orgânicos e biológicos do sujeito. É importante destacar que esses aspectos são indissociáveis, ou seja, não se separam, estão sempre conectados e se expressam juntos, pois um indivíduo é constituído por uma ação de trocas constantes entre sua psiquê e o seu corpo. PSIQUÊ Tudo o que acontece na mente humana, formada por fenômenos, é o que chamamos de PSIQUÊ. Os sentimentos, as percepções e os pensamentos são funções da psiquê que permitem ao ser javascript:void(0) humano se adaptar e se relacionar com os outros e com o meio em que vive. Imagem: shutterstock.com � Psiquê humana — sentimentos, percepções e pensamentos O movimento humano é observado em seu aspecto psicomotor com todas as suas nuances, utilizando o corpo para promover o desenvolvimento humano, tendo em vista que o movimento corporal e suas estruturas se conectam, representando um sujeito que precisa ser compreendido em suas relações consigo mesmo, com o ambiente, os objetos e suas relações interpessoais. Os componentes pessoais e internos, e os aspectos que pertencem a determinado ambiente, se relacionam continuamente com os sujeitos. Essa relação ocorrerá por meio do movimento, das emoções e sensações, captando todos os estíFmulos necessários ao desenvolvimento humano. O domínio psicomotor será definido, então, pelo desenvolvimento neurobiológico que permite uma organização das funções motoras, cognitivas e emocionais cada vez mais elaboradas. Essas funções seguem uma sequência dentro do processo de maturação do indivíduo. Na medida em que o sujeito amplia sua capacidade de percepção de si mesmo, de sua ação no mundo e da expressão por meio de suas ações, seu desenvolvimento ocorrerá de forma harmônica e ele ampliará seu autoconhecimento. Imagem: shutterstock.com � Domínio psicomotor — importante para a aprendizagem esportiva SENSAÇÃO X PERCEPÇÃO O DESENVOLVIMENTO MOTOR HUMANO É CARACTERIZADO POR SEGUIR UMA SEQUÊNCIA ESPERADA E POR PERMITIR A ACUMULAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS QUE SE SOMAM E SE COMPLETAM. As habilidades motoras se desenvolvem naturalmente em uma criança, porque fazem parte de sua ampliação e de seu desenvolvimento global e individual. Esse desenvolvimento é, portanto, resultado de diversos fatores individuais e ambientais que se interligam e ampliam o desenvolvimento da socialização, cognição, afetividade e das qualidades físicas. O profissional de Educação Física direciona e planeja sua intervenção, considerando todos esses aspectos, e não apenas os motores. � SAIBA MAIS A aprendizagem motora sempre envolverá em sua base algum elemento da percepção, ou seja, a aquisição de movimentos voluntários se associa diretamente ao funcionamento perceptivo-motor. OS ESTÍMULOS SENSORIAIS RECEBEM UM SIGNIFICADO QUE SÓ SERÁ POSSÍVEL A PARTIR DA PERCEPÇÃO. Os nossos órgãos dos sentidos têm receptores específicos que recebem e interpretam estímulos, são os terminais nervosos que transformam um estímulo em impulso nervoso. � Inicialmente, nosso corpo detecta a energia física do ambiente e a transforma em sinais nervosos/captação de estímulos sensoriais e isso será uma determinada sensação. � Após esse processo de sentir, haverá o processo de seleção, organização e interpretação de sensações/decodificação de estímulos sensoriais/interpretação e categorização, ao qual chamaremos de percepção. Quanto melhor a capacidade do indivíduo em organizar suas sensações, preparando-as para serem interpretadas e percebidas, melhor a capacidade do indivíduo de aprender a partir da sua comunicação com o meio ambiente. Além disso, o desenvolvimento das percepções é fundamental para o sucesso nas ações cognitivas e motoras da criança e, quando não são desenvolvidas, potencialmente podem favorecer o surgimento de problemas no aprendizado de habilidades motoras. Imagem: shutterstock.com � Socialização, cognição, afetividade e qualidades físicas O DESENVOLVIMENTO DAS PERCEPÇÕES DE FORMA ADEQUADA DEPENDE TANTO DA MATURAÇÃO QUANTO DAS EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS. As experiências influenciam positivamente o desenvolvimento das percepções, pois aprimoram as capacidades perceptivas. � A precisão da percepção está relacionada ao processo de maturação do indivíduo. � ATENÇÃO Vale ressaltar que o contexto ambiental no qual se está inserido, a especificidade da tarefa motora a ser realizada e a maturação são fatores que interferem diretamente no desenvolvimento da percepção. É importante compreender os conceitos perceptivos motores para a adequação do trabalho que visa ao aprendizado e ao desenvolvimento infantil. Além disso, o desenvolvimento das funções perceptivas não depende exclusivamente da maturação, mas, sim, das vivências e possibilidades de experimentação sensorial. Diferentes autores definem conceitos como estímulo, sensação e percepção. As informações que uma pessoa recebe, antes mesmo de serem interpretadas, são definidas por Schmidt e Wrisberg (2001) como um estímulo. Dessa forma, um som que corta o ambiente, ou mesmo quando encostamos em uma panela quente são exemplos de estímulos sentidos inicialmente e que darãoinício a um processamento de resposta. Um estímulo, na concepção de Hurtado (1983), pode ser caracterizado por algo natural ou social que tenha sido captado por algum órgão sensorial. Isso inclui visão, tato, audição e olfato, entre outros, seja um fator químico, ambiental mecânico ou mesmo físico. Imagem: shutterstock.com � Os sentidos Quando o estímulo é captado, damos início imediatamente ao que chamaremos de sensação, ou seja, determinado receptor sensorial será ativado e iniciará uma atividade neural que levará informação ao cérebro. Podemos entender como a recepção de determinado estímulo vindo de um ou de vários órgãos sensoriais. Após a sensação, vários processos têm início para que aconteça a percepção. Os órgãos sensoriais captaram as sensações e informaram ao cérebro. A partir daí haverá a seleção, o processamento, a organização e a integração de tudo que foi sentido pelo nosso cérebro (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; HAYWOOD; GETHEL, 2016; HURTADO, 1983). A sensação pode ser subdividida em interoceptivas, proprioceptivas e exteroceptivas. SENSAÇÕES INTEROCEPTIVAS As sensações interoceptivas permitem ao cérebro tomar conhecimento do que acontece nos órgãos internos e se manifesta de diferentes maneiras (fome, calor, frio, desconforto etc.). São inconsistentes, e javascript:void(0) seu significado é aprendido por meio da experiência. SENSAÇÕES PROPRIOCEPTIVAS Já as proprioceptivas permitem ao cérebro tomar conhecimento do seu movimento (movimento corpóreo) no espaço e da sua posição em relação aos outros, por exemplo, o equilíbrio. SENSAÇÕES EXTEROCEPTIVAS As exteroceptivas se originam nos receptores periféricos da pele ou das membranas mucosas, decorrentes dos estímulos vindos do ambiente e podem ser de três tipos: dor, temperatura (calor e frio) e tato leve. A integração dos eventos sensoriais externos ao corpo humano é um processo mais dinâmico do que simplesmente sentir ou detectar um estímulo. Envolve a consciência do indivíduo acerca do que acontece ao seu redor, isso é a percepção. É necessário que haja a integração do que foi sentido (sensorialmente) com as sensações que já estão armazenadas em determinada pessoa. É essa dinâmica que promove a percepção de cada um, na qual uma determinada informação é comparada a informações decorrentes de experiências anteriores. Essa integração entre duas ou três sensações àquelas já armazenadas permitem uma classificação, uma interpretação e uma percepção acerca de algo que é sentido (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; HAYWOOD; GETHEL, 2016; PAYNE; ISAACS, 2007). DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO VISUAL O movimento humano depende da integração de alguns sistemas e, para o desenvolvimento motor, a principal Imagem de informação exteroceptiva é a visão. O sistema visual interfere no controle do movimento, identificando variações no ambiente como objetos, inclinações, obstruções no caminho, e permitindo a antecipação a eventos que estão por acontecer, como o movimento de pessoas ou objetos que estão ao nosso redor, e orienta a movimentação do corpo em relação ao espaço. A visão pode ser dividida em dois sistemas: VISÃO FOCAL A Visão focal é específica para a identificação de objetos. Ela é responsável pela identificação consciente de objetos, principalmente aqueles que percebemos no centro do nosso campo visual. A visão focal associada à orientação da atenção processa a informação no sentido de identificar um estímulo. Dessa forma, a visão focal orienta a atenção auxiliando e contribuindo para a performance motora, direcionando o foco para as informações ambientais que são essenciais para o sucesso. javascript:void(0) javascript:void(0) VISÃO AMBIENTAL A Visão ambiental é especializada em controlar o movimento. Ela permite às pessoas detectar a orientação de seus corpos no ambiente de forma inconsciente e contempla todo o campo visual, sendo usada para o controle de todo tipo de movimento, inclusive os de coordenação fina. A informação visual, seja pela visão focal seja ambiental, exerce papel distinto na qualidade de execução motora. Na visão ambiental, o controle do movimento tem como conceito fundamental um fenômeno chamado fluxo óptico, que é o movimento de padrões de raios de luz de um ambiente na retina de uma pessoa, o que significa que o indivíduo poderá perceber o movimento, a posição e a sincronização. O fluxo óptico oferece ao observador informações sobre o seu movimento, gerando estabilidade e equilíbrio, ajuste da velocidade em relação ao ambiente, a direção do movimento em relação aos objetos fixos e a percepção dos objetos propriamente ditos. As crianças desenvolvem suas capacidades motoras e perceptivas simultaneamente, mas é possível que ocorra em ritmos diferentes. Vejamos alguns aspectos importantes relacionados à percepção visual: Imagem: Shutterstock.com � Acuidade visual ACUIDADE VISUAL Capacidade que permite a distinção em detalhes em ambientes estáticos ou em movimento e de objetos. Pode ser dividida em acuidade visual dinâmica, quando distingue detalhes em objetos em movimento; e acuidade visual estática, quando percebe detalhadamente tanto o indivíduo como o objeto ao qual dedica atenção. Imagem: Shutterstock.com � Desenvolvimento da figura-fundo de maneira lúdica por meio de brinquedos manipulativos FIGURA-FUNDO A percepção de figura-fundo é importante para que a criança tenha capacidade de separar o objeto e os seus arredores, ou seja, o ambiente que o cerca. A capacidade de observar com clareza o objeto-alvo, ou a imagem do seu pano de fundo é muito importante para a realização de uma habilidade motora. Essa percepção de figura-fundo encontra-se em desenvolvimento nas crianças e, na medida em que se oferecem tarefas de manipulação diversificadas, é esperado um aumento do desempenho motor e o desenvolvimento dessa capacidade. Imagem: Shutterstock.com � Passar a bola requer noção de profundidade. PROFUNDIDADE Essa percepção é um dos aspectos mais interessantes da percepção visual. É uma variação da visão que deve ser considerada por professores, pais e técnicos para habilidades diversificadas com uma bola ou durante o ensino de como manuseá-la. As variações como a textura da bola, o tamanho e a cor, assim como a velocidade em que será lançada, a trajetória e a distância que deve alcançar são importantes no fornecimento de indicações de profundidade, e isso interfere diretamente na realização bem-sucedida de uma ação. Imagem: Shutterstock.com � Para realização dos fundamentos técnicos dos esportes, a coordenação visomotora é fundamental. COORDENAÇÃO VISOMOTORA É a capacidade de rastrear e fazer uma interpretação acerca de determinado objeto que esteja em movimento. O que se destaca nessa capacidade é o fato de a experiência ser fundamental para o desenvolvimento da precisão, pois melhora a condição de interceptação de um objeto em velocidade, por exemplo. DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO MOTOR O DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO MOTOR SE DÁ A TODO MOMENTO, SEMPRE QUANDO INFORMAÇÕES SENSORIAIS DE UM AMBIENTE SÃO CAPTADAS, SE ORGANIZAM E SE REORGANIZAM. OU SEJA, QUANDO NOVAS INFORMAÇÕES SE SOMAM ÀS JÁ EXISTENTES, PERMITINDO A REALIZAÇÃO DE UM MOVIMENTO DE FORMA EFICAZ. Fases diferentes compõem o processo perceptivo-motor, sendo elas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013): O estímulo A recepção de informações ambientais O processamento dessas informações A escolha do movimento mais adequado A realização do movimento � EXEMPLO Uma bola é lançada (estímulo), informações sensoriais do ambiente são coletadas pelos receptores especializados (ex.: tátil, auditivo) e são transmitidas ao cérebro como energia neural, lá ocorre o processamento e a comparação da informação recebida com a informação já armazenada anteriormente; e assim é escolhida a melhor opção de movimento (PAYNE; ISAACS, 2007). O processo perceptivo motor tem como destaque as sensações proprioceptivas, onde receptores localizados nas cápsulas articulares, ligamentos, músculos, tendõese pele possuem componentes necessários para a regulação do tônus e da atividade muscular, sendo uma aferência neural cumulativa para o sistema nervoso central (PAYNE; ISAACS, 2007). A propriocepção é a capacidade de reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais sem utilizar a visão (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Esse tipo de percepção permite a manutenção do equilíbrio e a realização de diversas atividades práticas, sendo resultado de vários fatores, entre eles a interação das fibras musculares de sustentação, informações táteis e sistema vestibular (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). O desenvolvimento perceptivo-motor compreende percepções simples desenvolvidas nos primeiros anos de vida e percepções complexas desenvolvidas posteriormente e que exigem um desenvolvimento cognitivo mais avançado para interpretação e utilização conjunta. As percepções complexas se classificam como percepção espacial, temporal, espaço-temporal, figura-fundo e análise-síntese: Imagem: shutterstock.com � Passar embaixo de objetos auxilia o desenvolvimento da percepção espacial. PERCEPÇÃO ESPACIAL A percepção espacial é a capacidade de identificar localizações como perto/longe, em cima/embaixo, aqui/ali, dentro/fora, ao lado, em frente/atrás dentre outras. Permite que o indivíduo se movimente de forma consciente. As aulas de Educação Física criam oportunidades para que essa percepção se amplie, partindo de deslocamentos, quando o professor dá ao aluno uma dessas referências e quando desenvolve dinâmicas e brincadeiras. Imagem: shutterstock.com � Esportes com bola auxiliam a percepção temporal. PERCEPÇÃO TEMPORAL A percepção temporal possibilita ao indivíduo formar ou abstrair informações com base nas relações temporais como velocidade, intensidade, noção de tempo, sequência, duração, sucessão e ritmo. Dentre essas relações, o ritmo é a que mais se observa para que as outras possam se desenvolver, pois a falta dessa percepção dificulta a integração das outras variáveis (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Atividades conduzidas por ritmos musicais, a prática de jogos diversos e de esportes favorecem o desenvolvimento da percepção temporal. Imagem: shutterstock.com � Um goleiro necessita da sua percepção espaço-temporal desenvolvida para saltar e realizar suas defesas. PERCEPÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL Essa percepção utiliza simultaneamente as percepções de tempo e de espaço, o que solicita maior capacidade do indivíduo em coordenar seus movimentos adaptando-os da forma mais adequada possível em decorrência de mudanças rápidas. O indivíduo será capaz de projetar seu corpo de forma correta, de acordo com o tempo e o espaço percebidos por ele. SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO A especialista Marina Guedes de Oliveira Lopes explicará a diferença entre sensação e percepção e sua implicação para o desenvolvimento motor. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE SENSAÇÃO, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) É a detecção da energia física do ambiente e sua transformação em sinais nervosos motores. B) É o que sentimos, por isso não tem relação com a energia física do ambiente. C) É a transformação da energia física do ambiente em estímulos motores. D) É a resposta motora à detecção da energia física do ambiente por estruturas externas ao nosso corpo. E) É a transformação em sinais nervosos da energia física do ambiente detectada por nosso corpo. 2. O DOMÍNIO PSICOMOTOR INTEGRA OS CONCEITOS DA PSICOMOTRICIDADE E DEPENDE DE UM DESENVOLVIMENTO NEUROBIOLÓGICO PARA ORGANIZAÇÃO DAS FUNÇÕES MOTORAS. SOBRE ESSE DOMÍNIO, PODEMOS AFIRMAR QUE: A) Desenvolve-se isoladamente por meio da prática esportiva. B) É pré-requisito para a noção de sensação e percepção. C) Atua com os domínios afetivos e cognitivos para a aprendizagem motora. D) Requer ótima percepção de ritmo, velocidade, tempo e espaço. E) Integra as funções de sensação e percepção. GABARITO 1. Sobre sensação, é correto afirmar que: A alternativa "E " está correta. Os nossos órgãos dos sentidos possuem receptores específicos que recebem e interpretam estímulos do ambiente. Em seguida, os terminais nervosos transformam um estímulo em impulso nervoso para serem interpretados nas regiões superiores do sistema nervoso central. Em outras palavras, nosso corpo detecta a energia física do ambiente e a transforma em sinais nervosos. Esse processo pode ser caracterizado como determinada sensação. 2. O domínio psicomotor integra os conceitos da psicomotricidade e depende de um desenvolvimento neurobiológico para organização das funções motoras. Sobre esse domínio, podemos afirmar que: A alternativa "C " está correta. O desenvolvimento do domínio psicomotor está relacionado aos aspectos psicomotores e atua de forma integrada com os domínios cognitivos e afetivos para o desenvolvimento total de um indivíduo. MÓDULO 2 � Reconhecer o impacto do processo de envelhecimento nas habilidades motoras COMPORTAMENTO MOTOR NO ADULTO E NO IDOSO O processo de desenvolvimento motor, de certa forma, permanece estável na idade adulta, mas apresenta o início de um declínio, caracterizando o envelhecimento. Nesse processo, surgem algumas limitações em decorrência das alterações que ocorrem ao longo da vida adulta e se faz necessário que o profissional de Educação Física identifique as possibilidades de intervenção motora. Durante o processo de envelhecimento, a capacidade de execução de uma tarefa pode ser ou não comprometida, tendo em vista que ocorrerá uma redução nas funções motoras. Essa redução poderá ocasionar comorbidades, enfraquecimento dos sistemas e redução da mobilidade no adulto e no idoso. Imagem: shutterstock.com Apesar de o envelhecimento ser um processo inevitável, o adulto e o idoso não precisam sofrer as consequências dessa fase de forma intensa ou incapacitante, podendo se manter ativos. Essa postura, quando adotada e orientada pelo profissional de Educação Física, poderá reduzir as alterações características da idade, melhorando a capacidade funcional e de realização das atividades básicas diárias. Todos esses fatores se somam, favorecendo a melhora da saúde, qualidade de vida e previsão de longevidade e envelhecimento saudável. EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL O envelhecimento é um fenômeno populacional mundial, um processo com implicações a nível do funcionamento global que repercute na esfera pessoal, familiar e ocupacional. Biologicamente é uma fase de senescência, com diminuição da capacidade funcional e evolução tendencial para a doença. Os quadros de perturbação cognitiva podem ser frequentes, o que reflete de forma marcante o grau de autonomia/independência desses indivíduos. Podemos afirmar que o movimento é primordial nas etapas iniciais da vida, mas durante o envelhecimento ele é imprescindível para que o idoso possa adaptar seu corpo às fases desse processo. Imagem: shutterstock.com Em todos os lugares do mundo, chegar à velhice é uma realidade, e o número de indivíduos com 60 anos ou mais é o que mais cresce no Brasil e no mundo. Doenças crônicas e internações hospitalares estão associadas às consequências desse processo de ampliação do número de idosos. Nesse sentido, intervenções de políticas públicas e de atendimento especializado para essa população com o intuito de promover um envelhecimento saudável são mais do que necessárias, podendo torná-los mais ativos e ocasionar significativa melhora na saúde e qualidade de vida. � VOCÊ SABIA O conceito de saúde vai muito além da simples ausência de doença, como definiu a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1946, pois saúde engloba um completo bem-estar físico, mental e social e, nesse sentido, oportunidades para práticas corporais e aquisição de hábitos saudáveis para os idosos é fundamental. Além de favorecer a identificação de um novo estilo de vida, será possível a construção de uma rotina que promova saúde e bem-estar. O envelhecimentonão tem que, necessariamente, estar associado ao adoecimento, pois, mesmo sendo uma fase em que certas doenças apresentam maior prevalência, a adoção de hábitos saudáveis melhora a qualidade de vida e contribui para reduzir ou evitar o aparecimento de comorbidades. A prevenção e a manutenção da saúde associam-se historicamente à Educação Física, o que favorece a criação de estratégias e intervenções nas políticas públicas e na própria legislação para minimizar os riscos de doenças crônicas não transmissíveis e os seus agravos. Esse trabalho pode ser feito por meio de orientação, promoção e estimulação de hábitos da vida ativa, tendo o objetivo de promover saúde a partir das práticas corporais. Envelhecer é um fenômeno comum a todos os seres vivos, decorrente da própria natureza do ser humano, e isso deverá ser visto de forma natural. � VOCÊ SABIA A distribuição etária na população brasileira tem se modificado ao longo das últimas décadas. Estima-se que até 2045 o número de idosos será superior ao de crianças (MILLER; CASTANHEIRA, 2013). Todas essas projeções justificam a preocupação com a população idosa e evidenciam a necessidade, quase urgente, de se pensar em prestação de serviços para essas pessoas e incrementar ações que previnam ou minimizem os efeitos do envelhecimento. IMPACTOS DO ENVELHECIMENTO NAS HABILIDADES MOTORAS Os domínios cognitivos, afetivos e psicomotores se estruturam e interferem no desenvolvimento e no comportamento motor na vida adulta à medida que o indivíduo envelhece. Essas interferências se dão a partir da interação de algumas variáveis que podem ser categorizadas como: a natureza da tarefa, as condições do ambiente e as próprias características afetivas, cognitivas e psicomotoras de um indivíduo. Nesse sentido, modificações variadas ocorrem no sistema fisiológico e influenciam a performance motora de cada indivíduo. � SAIBA MAIS A performance, como sabemos, é a qualidade de execução de um determinado movimento e, durante o processo de envelhecimento, essa qualidade poderá ser comprometida. O nível de sucesso na realização de alguma tarefa motora é influenciado por fatores como o estágio do desenvolvimento motor, suas características individuais, as demandas dessas tarefas e, além disso, as circunstâncias em que o indivíduo está inserido em algum ambiente. Os fatores que determinam o nível de aptidão física, como força, velocidade e flexibilidade, sofrem mudanças conforme o indivíduo avança em sua idade, o que naturalmente interfere em sua performance motora. � ATENÇÃO Cabe ressaltar que os hábitos praticados por toda a vida, saudáveis ou não, serão sentidos nessa fase de envelhecimento. Os estudos voltados para a área da gerontologia identificam aspectos que interferem no envelhecimento e afetam a vida cotidiana dos indivíduos. Jovens e adultos ativos podem ter seus sistemas fisiológicos deteriorados mais lentamente por conta de sua capacidade física. O envelhecimento biológico natural é o resultado de um processo gradual relacionado ao tempo, à idade e aos eventos fisiológicos degenerativos. A esse processo damos o nome de senescência. Por outro lado, indivíduos que são afetados em meados da vida adulta até o fim de sua vida por doenças contraídas não representam o período da senescência, e sim de senilidade. Imagem: shutterstock.com � Gestos simples são realizados com dificuldade afetando a funcionalidade. Algumas teorias abordam o envelhecimento em níveis que variam desde o celular até o organismo por inteiro. Não vamos detalhar cada uma dessas teorias, mas as citaremos de forma sucinta. � SAIBA MAIS Podemos falar da teoria do desligamento genético, na qual o número de replicações das células é desligado e programado por aspectos genéticos; da hipótese da teoria da mutação genética, em que órgãos e tecidos se deterioram e suas células se modificam na medida em que aumentam, alterando o seu funcionamento; e da teoria dos radicais livres, também em nível celular, que se refere ao aparecimento de deficit na performance motora, na saúde geral ou em ambos. Os sistemas envolvidos nesse processo estão menos estáveis e mais vulneráveis a rupturas na medida em que envelhecemos, gerando maior predisposição a doenças. Além disso, a redução da efetividade do sistema imunológico aumenta o risco de doenças e o tempo de recuperação quando acometido por alguma comorbidade. Com o avançar da idade, os sistemas envolvidos nesse processo são menos estáveis e mais vulneráveis a rupturas. Vejamos algumas alterações importantes que impactam diretamente o desempenho e as habilidades motoras: ALTERAÇÕES ANATOMOFISIOLÓGICAS O sistema musculoesquelético do adulto se modifica à medida que a pessoa envelhece. Isso ocasiona diminuição de sua estatura. Devido ao ressecamento dos discos intervertebrais, seus núcleos se tornam mais rígidos, mais fibrosos, perdem água e a condição de absorção de choque. A densidade mineral óssea também sofre alterações em todos os ossos do corpo e pode levar a um quadro de osteoporose. Nesse caso, haverá um aumento da vulnerabilidade óssea, tendo em vista que um osso com osteoporose apresenta diminuição no processo de produção e absorção mineral óssea. A consequência dessa comorbidade será uma alteração no equilíbrio do metabolismo de cálcio que é regulado pelo sistema endócrino. Perdas leves na densidade mineral óssea caracterizam um quadro chamado de osteopenia. Na condição mais grave, a osteoporose, os ossos mais frágeis predispõem a quedas. Um comprometimento leva a outro, pois, em caso de fraturas, o idoso precisará de um tempo maior de tratamento e mais tempo acamado, com consequências que afetam diretamente sua autonomia. Essa alteração pode ser tratada com prática de exercícios com sustentação de peso, ou seja, pressão intraóssea gerando um estresse saudável e acompanhamento médico. O sistema musculoesquelético nos indivíduos mais velhos pode apresentar uma condição chamada sarcopenia ou atrofia da massa muscular esquelética, que se caracteriza pela redução da área de secção transversa dos músculos, gerando significativa perda de função muscular e prejudicando a realização de atividades simples e habilidades motoras. A força é um aspecto referente à aptidão física importante para performance, desde as atividades funcionais da vida diária até níveis mais altos de rendimento. É importante destacar que a sarcopenia pode ocorrer em qualquer idade, mas adultos que mantêm um estilo de vida ativo apresentam declínios menores na força muscular quando comparados àqueles que são inativos. Embora a expressão força muscular seja usada muitas vezes para descrever as funções musculares de uma tarefa, várias habilidades requerem alguma combinação da força com a resistência muscular, que também é desenvolvida com o treinamento físico. O sistema nervoso central se modifica estruturalmente com o envelhecimento, resultando em decréscimo das várias funções, perdendo continuamente neurônios que não serão substituídos. Os sistemas respiratório e circulatório terão suas funções reduzidas, principalmente se o idoso tem um estilo de vida mais sedentário; as paredes arteriais tornam-se mais rígidas, e isso pode levar a uma condição chamada de arteriosclerose, gerada pelo aumento da calcificação e formação de tecido conjuntivo de colágeno nas artérias. Finalmente, a composição corporal após os 60 anos tende a modificar. A gordura intra-abdominal está relacionada ao desenvolvimento de diabetes e hipertensão. O ganho de peso na vida adulta pode ser atribuído a diversos fatores, entretanto a redução do gasto energético é ponto fundamental para esse aumento. Assim, a redução da mobilidade interfere na funcionalidade, na autonomia e na condição psicossocial, o que pode gerar o aumento da necessidade de apoio e de serviços que contribuam para a manutenção da vida diária. Imagem: Shutterstock.com � A prática de atividade física por idosos implica em manutenção da autonomia funcional.HABILIDADES MOTORAS As habilidades motoras compreendem os movimentos observáveis durante o processo de desenvolvimento motor. Esses movimentos serão reveladores quando notarmos as modificações ocorridas ao longo de toda a vida do indivíduo. Naturalmente, os movimentos tomam formas diversas, simples e complexas, assim como se ajustam, se ampliam e são combinados partindo basicamente de três categorias: estabilizador, locomotor e manipulativo. MOVIMENTO ESTABILIZADOR O movimento estabilizador requer algum grau de equilíbrio e naturalmente está presente em toda atividade motora ampla. A estabilidade engloba movimentos que têm o objetivo de adquirir ou manter o equilíbrio de uma pessoa em relação à força da gravidade. Nesse caso, movimentos não locomotores — que podem ser chamados de movimentos axiais, giros e posturas invertidas — fazem parte das habilidades estabilizadoras. MOVIMENTOS LOCOMOTORES Os movimentos locomotores estão relacionados a mudanças de localização e envolvem habilidades como correr, caminhar, saltar e até mesmo rolar para frente e para trás. MOVIMENTOS MANIPULATIVOS Finalmente, os movimentos manipulativos se referem às motricidades ampla e fina. Movimentos como chutar, arremessar, pegar, soltar, rebater, quicar entre outros são incluídos nessa categoria. No dia a dia de qualquer pessoa, muitas atividades exigem a combinação de movimentos de estabilização, locomoção e/ou manipulação. Do mesmo modo, habilidades e aspectos físicos diversos são necessários para a execução dessas tarefas e para a manutenção da autonomia do idoso. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) � ATENÇÃO Chamaremos atenção para os fatores psicomotores como tônus — que dão origem a ações básicas de contração e descontração; e equilíbrio — que é o responsável pelo controle postural e desenvolvimento das aquisições de locomoção e estabilização. Com o envelhecimento, esses fatores declinam e dificultam a realização de vários movimentos, podendo até mesmo impedi-los. Dessa forma, o envelhecimento leva a um declínio progressivo das capacidades físicas e das funções musculares. Esse declínio reflete diretamente nas habilidades necessárias para desempenhar as atividades da vida diária (AVDs) e leva progressivamente à diminuição da independência e da autonomia do indivíduo. Quando vista sob a perspectiva da qualidade de vida, a autonomia assume um estatuto de valor, sendo um ideal social, moral e político, pois será a forma pela qual o indivíduo irá lidar e gerenciar sua própria vida (FARINATTI, 2000). OS IDOSOS E AS HABILIDADES MOTORAS A especialista Marina Guedes de Oliveira Lopes explicará os impactos do envelhecimento nas habilidades motoras. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PODERÁ INTERVIR E ATUAR COM A POPULAÇÃO IDOSA CONTRIBUINDO PARA SUA SAÚDE. DE QUE FORMA PODERÁ SER FEITA ESSA INTERVENÇÃO? A) Com a criação de leis e intervenções nas políticas públicas e na própria legislação, com o objetivo de minimizar os riscos de doenças crônicas não transmissíveis e os agravos decorrentes delas. B) Desenvolvendo um trabalho por meio de orientação, promoção e estimulação de hábitos de vida ativa, tendo o objetivo de promover saúde a partir das práticas corporais. C) Prescrevendo vitaminas e suplementos para reduzir esse processo, pois envelhecer é um fenômeno comum a todos os seres vivos, decorrente da própria natureza do ser humano, e isso deverá ser visto de forma natural. D) Promovendo ações e palestras que informem sobre esse processo, orientando psicologicamente o idoso e apresentando a ele documentários e informativos para que ele mesmo faça suas atividades físicas. E) Desempenhando um trabalho de reabilitação, pautado nos princípios da fisioterapia e da reeducação postural, cuidando do idoso acamado e que apresenta uma condição de saúde mais frágil. 2. SOBRE O ENVELHECIMENTO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O sistema nervoso central se modifica estruturalmente com o envelhecimento, resultando em decréscimo de várias funções, mas os neurônios se regeneram, minimizando as perdas. B) Os sistemas respiratório e circulatório terão suas funções reduzidas com um estilo de vida sedentário, mas essas alterações não implicam perdas funcionais. C) O ganho de peso na vida adulta pode ser atribuído a diversos fatores e é irreversível em indivíduos idosos. D) A redução da mobilidade interfere no funcionamento físico, na autonomia, na condição psicossocial e, consequentemente, na condição motora. E) O envelhecimento leva a um declínio progressivo das capacidades físicas e das funções musculares, condição conhecida como osteopenia ou osteoporose. GABARITO 1. O profissional de Educação Física poderá intervir e atuar com a população idosa contribuindo para sua saúde. De que forma poderá ser feita essa intervenção? A alternativa "B " está correta. O profissional de Educação Física tem a função de desenvolver práticas de ação e prevenção pela elaboração e/ou coordenação de programas de exercícios físicos por meio das práticas corporais. Não é permitido ao profissional da Educação Física prescrever qualquer tipo de suplementação, vitaminas, ou mesmo ter uma intervenção direcionada à reabilitação das funções motoras e apoio psicológico. O permitido é um trabalho orientado que promova o restabelecimento dos níveis adequados de desempenho físico corporal. 2. Sobre o envelhecimento, marque a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. No contexto do envelhecimento, a redução da mobilidade interfere no funcionamento físico, diminuindo seu gasto energético e favorecendo o aumento do ganho de peso, reduzindo a autonomia e sua condição psicossocial. Todos esses fatores podem gerar o aumento da necessidade de apoio e de serviços que possam contribuir para a manutenção da vida diária. MÓDULO 3 � Definir os critérios para uma avaliação motora ou psicomotora e a utilização de alguns testes de proficiência motora, avaliação psicomotora e escala de desenvolvimento motor IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO A avaliação é uma forma de estabelecer metas a serem alcançadas a partir de determinada condição física ou motora. Sem o conhecimento prévio de quem é e como está o indivíduo, não será possível estabelecer um plano de treinamento. Dessa forma, é possível estabelecer um parâmetro para o início ou continuação de determinada prescrição e/ou intervenção. Somente a partir de algo que se pode medir será possível avaliar e estipular uma meta a ser atingida ou alcançada. A avaliação permitirá a identificação do nível de aptidão física, desenvolvimento motor e cognitivo, permitindo a observação e classificação necessária em qualquer processo de desenvolvimento humano. Qualquer experiência de aprendizagem deverá ser testada/avaliada para que se tenha a dimensão do progresso e da evolução em direção à meta. Sendo assim, a avaliação é um componente importante para identificar a eficiência das estratégias que estão sendo utilizadas e o que não está adequado para determinado momento. Por fim, de que forma o indivíduo se apresenta e como podemos classificá-lo ou entendê-lo será em grande parte revelado a partir de uma avaliação, que em Educação Física classifica as condições de saúde, psíquicas, cognitivas e psicomotoras de um indivíduo que culminam na identificação de parâmetros de desempenho físico ou motor. A abrangência da intervenção do profissional de Educação Física permite uma atuação efetiva junto à população de todas as idades, favorecendo a identificação, o controle e o cuidado de questões adversas que podem dificultar o processo de desenvolvimento motor, a melhora na saúde e na qualidade de vida. Diversos protocolos de avaliação existentes se aplicam desde os bebês aos idosos, com características e objetivos que atendem às necessidades de cada indivíduo, sendo utilizados para avaliação de saúde, desempenho físico e alterações psicomotoras em qualquer idade. Imagem: shutterstock.com Imagem: shutterstock.comAs avaliações psicomotoras analisam o desenvolvimento dos elementos psicomotores (tônus, equilíbrio, coordenação motora, entre outros) correlacionando-os com o desenvolvimento neurológico e funcional do indivíduo. As avaliações motoras poderão caracterizar o desempenho das habilidades motoras fundamentais (locomoção, manipulação e estabilização) que são importantes para a realização das atividades básicas da vida diária e para o desenvolvimento esportivo. Finalmente, as avaliações de aptidão física envolvem medidas fisiológicas (VO2máx), medidas de performance (força, impulsão, flexibilidade entre outras) e composição corporal (antropometria, IMC (Índice de Massa Corporal) ). TESTE DE PROFICIÊNCIA MOTORA DE BRUININKS-OSERETSKY As capacidades físicas e as habilidades motoras podem ser avaliadas e entendidas como um ponto de partida para que o profissional de Educação Física desempenhe um trabalho mais ajustado às necessidades de seus alunos. A aplicação de um protocolo que forneça dados relacionados ao desenvolvimento das habilidades e capacidades motoras é fundamental para acompanhar o desenvolvimento motor. O ambiente em que se vive e interage, as características físicas e biológicas e as vivências motoras que experimenta influenciam o desenvolvimento motor por toda a vida do indivíduo. As vivências influenciarão diretamente a eficiência e a precisão das habilidades e capacidades motoras que podem ser adquiridas. As atividades do dia a dia ou problemas do cotidiano demandam uma adaptação constante dos músculos e segmentos corporais. Ao mesmo tempo, adaptações funcionais e morfológicas vão sendo requisitadas, e as capacidades como força, velocidade, flexibilidade e resistência também sofrem alterações. O teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky (TBO) foi desenvolvido por Bruininks (1978) e permite realizar um diagnóstico da proficiência em determinadas habilidades motoras de crianças dos 4 aos 14 anos, e estabelecer o status do desenvolvimento motor em que ela se encontra com relação aos seus pares. Esse teste permite ainda avaliar funções, distúrbios motores e atrasos no desenvolvimento. Pode-se utilizar a forma longa, composta por 46 itens (tarefas), ou a forma reduzida, de 14 itens derivados da anterior. Em ambos, conseguimos obter as informações sobre funções, distúrbios motores e atrasos no desenvolvimento. A estrutura, tanto da forma longa quanto da forma curta do TBO, possui o mesmo número de subtestes e tem como finalidade o estudo de três componentes da proficiência motora: motricidade global, motricidade composta e motricidade fina: MOTRICIDADE GLOBAL Fornece a estimativa relativa à motricidade ampla e compreende os subtestes de 1 a 4; a motricidade ampla avalia a capacidade de controle e utilização dos grandes grupamentos musculares. MOTRICIDADE COMPOSTA Refere-se à eficiência na coordenação óculo-manual receptiva e propulsiva. COMPOSTO MOTOR FINO Fornece o índice da motricidade fina e compreende os subtestes de 5 a 8; a motricidade fina avalia a capacidade de controle preciso dos pequenos músculos. As duas formas são constituídas por 8 subtestes que, em seu conteúdo, representam aspectos importantes da motricidade e de seu desenvolvimento no indivíduo. São os seguintes: Subteste 1. Corrida de velocidade e agilidade Um item que mensura a velocidade de corrida e a agilidade durante uma corrida rápida em uma distância de 13,7m, envolvendo a captação e o transporte de um objeto. Subteste 2. Equilíbrio Oito itens que medem o equilíbrio dinâmico e estático, propõem tarefas como sustentar-se sobre uma perna só e caminhadas sobre uma linha e uma trave. Subteste 3. Coordenação bilateral Oito itens que medem a coordenação sequencial e simultânea de membros superiores e inferiores. Subteste 4. Força Três itens que verificam a força dos braços e ombros, abdominal e das pernas. Subteste 5. Coordenação dos membros superiores Nove itens que medem a coordenação do acompanhamento visual com movimentos do braço e das mãos, e movimentos precisos de braços, mãos e dedos. Subteste 6. Velocidade de resposta Um item que mede a capacidade de responder rapidamente a um estímulo visual. Subteste 7. Controle viso-motor Oito itens que medem a capacidade de coordenar movimentos precisos das mãos. Subteste 8. Dextralidade Oito itens que medem a destreza das mãos e dedos e a velocidade dos braços e mãos (BRUININKS,1978; BRUININKS; STEFFENS; SPIEGEL,1989). A aplicação do TBO leva em média 45 a 60 minutos para o teste longo e 15 a 25 para o teste curto. Naturalmente, não há um tempo-padrão para a execução desse protocolo, pois isso dependerá da habilidade e prática do avaliador, do quantitativo de crianças a serem avaliadas, das idades e do comportamento delas. O material necessário para a aplicação do teste é simples, sendo facilmente organizado por quem irá aplicá-lo. É importante que o avaliador antecipadamente separe e organize todos os equipamentos e materiais necessários, como cronômetro, mesas e cadeiras, e disponha os participantes de acordo com a faixa etária. ASPECTOS RELACIONADOS À AVALIAÇÃO PSICOMOTORA Os desenvolvimentos motor, cognitivo e afetivo estão interconectados e, de maneira singular em cada indivíduo, precisam constantemente se adequar e se ajustar à medida que a criança amadurece neurologicamente, amplia suas capacidades físicas e utiliza seus recursos sensoriais para agir, interagir e existir no mundo. As funções psicomotoras podem ser classificadas e apresentar terminologias diferentes de acordo com a definição de cada autor, mas isso não modifica o conceito de cada uma, e a relação entre corpo, mente e emoções é sempre preservada. Imagem: shutterstock.com A avaliação psicomotora (BPM) criada por Vitor da Fonseca (2012) tem como finalidade detectar e identificar, por meio de uma avaliação dos elementos psicomotores, as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. Essa avaliação é um instrumento psicopedagógico que poderá reconhecer as dificuldades de aprendizagem e no desenvolvimento psicomotor precocemente. Vejamos agora alguns elementos psicomotores que estão relacionados e descritos na avaliação de Vitor da Fonseca: TÔNUS Pode ser definido como um estado de tensão permanente dos músculos. É a base psicomotora para todo e qualquer movimento, controle postural, mímica, atitude e emoção. O estado tônico, segundo Fonseca (2012), reflete a atenção e, sobretudo, a emoção (e-moção, pois essa não é mais do que a preparação para a ação). Todo movimento necessita do suporte tônico. Desde as camadas mais profundas até as mais superficiais, os músculos reagem de acordo com os estímulos que recebem e se preparam para um comportamento organizado, coordenado, equilibrado e eficiente, expressando sempre uma emoção. Alterações no controle do tônus desestabilizam a atenção e podem ser refletidas em um comportamento desorganizado, hiperativo, com paratonias ou respostas motoras exageradas, o que leva a diversas reações emocionais, como tiques, irritabilidade e inquietude. Essas alterações podem caracterizar imaturidade ou desintegração entre os sistemas neurológicos e musculares, o que faz do tônus um elemento psicomotor importante a ser observado. PARATONIAS Alteração do estado normal de firmeza ou elasticidade de um órgão. EQUILÍBRIO Integra o controle postural e o desenvolvimento da marcha na medida em que o indivíduo se desenvolve neurologicamente. Envolve os ajustes posturais necessários para qualquer ação motora, integrando um sistema funcional complexo que articula a função tônica, propriocepção e o movimento — ou imobilidade — que se deseja realizar. LATERALIDADE É a percepção de que existem dois lados no corpo. Não estamos falando de preferência ou dominância lateral, tampouco de identificar o lado direito ou esquerdo, mas, sim, da capacidade de integração bilateral e postural do corpo. Ou seja, a capacidade de perceber os “lados”, de perceber que lateralidade não estárelacionada apenas aos membros superiores ou inferiores, mas aos olhos, ouvidos e todos os nossos órgãos que apresentam essa característica. NOÇÃO CORPORAL javascript:void(0) O corpo da criança é o seu instrumento de existência e troca com o mundo. Será por meio das experiências corporais que o ser humano fará suas impressões singulares e carregadas de emoção e representação, de maneira que constitua sua personalidade. A conscientização e o conhecimento do corpo permite que o ser humano elabore sua forma de agir com o outro e consigo mesmo. Desse modo, a noção corporal será o resultado do desenvolvimento do esquema e da imagem corporal. ESQUEMA CORPORAL É o saber pré-consciente a respeito do seu próprio corpo e de suas partes, permitindo que o sujeito se relacione com espaços, objetos e pessoas que o circundam. IMAGEM CORPORAL É a representação mental inconsciente que fazemos do nosso próprio corpo, formada a partir do momento em que esse corpo começa a ser desejado e, consequentemente, a desejar com sensações vividas corporalmente por meio das relações sociais. COORDENAÇÃO GLOBAL OU MOTRICIDADE AMPLA É a ação simultânea de diferentes grupos musculares na execução de movimentos voluntários, amplos e relativamente complexos, de forma que as ações motoras acontecem de forma harmoniosa, equilibrada, com o controle tônico ideal para que se imprima mais ou menos força, e com a maior precisão possível. COORDENAÇÃO FINA OU MOTRICIDADE FINA É a capacidade de coordenar pequenos músculos em determinada atividade motora que exija precisão, controle tônico, e controle da preensão. Essas habilidades são desenvolvidas desde o nascimento até a fase de especialização motora, seguindo a maturação neurológica, biológica e as oportunidades motoras experimentadas pela criança. ORGANIZAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL Capacidade de orientar-se adequadamente no espaço e no tempo. A criança precisará da noção corporal, desenvolvimento proprioceptivo e coordenação motora ampla, já que constituem a base para a organização espaço-temporal. A organização espacial se relaciona a conceitos e noções como perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, ao lado de, antes, depois. AVALIAÇÃO MOTORA DE VITOR DA FONSECA Vitor da Fonseca dedica-se há mais de 30 anos a crianças com atrasos no seu desenvolvimento, alterações psicomotoras e dificuldade de aprendizagem. Foi ele quem criou a bateria psicomotora (BPM) após desenvolver um trabalho voltado para a observação e reeducação psicomotora. A BPM analisa o perfil psicomotor da criança procurando uma concordância, de forma dinâmica, com as áreas funcionais do cérebro, e foi proposta por A.R. Luria. Essa observação busca a relação das funções neurológicas com o comportamento e o desenvolvimento humano. A BPM não fornece alterações neurológicas e patológicas muito detalhadas, sendo, portanto, um instrumento de identificação da integridade psicomotora e psiconeurológica da criança. Não deverá ser utilizada para diagnosticar deficit neurológicos, nem lesões ou disfunções cerebrais, mas poderá ser muito apropriada para que se compreendam alguns problemas de aprendizagem e ou comportamentais em criança de 4 a 12 anos. Conforme citamos, a BPM se baseia na observação de funções que envolvem as três áreas funcionais de Luria. Essas unidades são necessárias a qualquer tipo de atividade mental, na linguagem, na escrita e na elaboração psicomotora dos movimentos voluntários. Para que você compreenda melhor, vamos observar que a cada unidade funcional corresponde a alguns elementos psicomotores, que procuram demonstrar a relação entre o modelo psiconeurológico de Luria e a BPM: A.R. LURIA Alexander Romanovich Luria (1902-1977) foi um famoso psicólogo soviético especialista em psicologia do desenvolvimento. javascript:void(0) 1ª UNIDADE FUNCIONAL Regula o tônus e o equilíbrio, é a base para organização e desenvolvimento psicomotor. Funcionalmente, compreende a função de vigilância e a capacidade de prestar atenção; 2ª UNIDADE FUNCIONAL É onde as informações recebidas exteriormente são obtidas, captadas, processadas e armazenadas. Essa unidade compreende os seguintes elementos psicomotores da BPM: lateralização, noção do corpo e estruturação espaço-temporal; e 3ª UNIDADE FUNCIONAL Regula a praxia global e a praxia fina, e é a última unidade a ser desenvolvida. É responsável por programar, verificar e regular as funções executivas que envolvem planejamento, motricidade, tomada de decisão e linguagem. Segundo Fonseca (2012), existe uma hierarquização funcional que acontece durante o desenvolvimento da criança. Essa hierarquização influencia a organização “vertical” relacionada às três áreas funcionais de Luria. Cada área funcional corresponde a um elemento psicomotor que, de acordo com a BPM, é denominado fator psicomotor. De acordo com essa hierarquização, o tônus se desenvolve do nascimento até os 2 anos, o equilíbrio dos 2 aos 3 anos, a noção corporal entre os 3 e 4 anos, a estruturação espaço-temporal dos 4 aos 5 anos e as praxias global e fina dos 6 aos 7 anos. Na BPM, cada elemento será avaliado de acordo com o comportamento da criança. Os testes correspondem aos fatores (elementos) que serão subdivididos em outros subfatores definidos em termos psiconeurológicos, conforme uma ficha de registro da BPM. De acordo com a descrição de Fonseca (2012), o nível de realização é medido em todos os fatores e subfatores, e a esses níveis são atribuídos uma cotação de 1 a 4 pontos, conforme a seguinte descrição: COTAÇÃO 1 PONTO (APRAXIA) Ausência de resposta, realização imperfeita, inadequada ou descoordenada (muito fraco e fraco; disfunções evidentes e óbvias). COTAÇÃO 2 PONTOS (DISPRAXIA) Realização fraca, com dificuldade de controle e sinais desviantes (fraco; insatisfatório; disfunções ligeiras). COTAÇÃO 3 PONTOS (EUPRAXIA) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Realização completa, controlada e adequada (bom; disfunções indiscerníveis). COTAÇÃO 4 PONTOS (HIPERPRAXIA) Realização perfeita, precisa, econômica e com facilidades de controle). AVALIAÇÃO MOTORA DE ROSA NETO Segundo Rosa Neto (2002), não existe uma avaliação motora que, de forma holística, contemple todas as variáveis referentes ao desenvolvimento de uma criança. Portanto, a escolha de determinada forma de avaliação levará em conta o tempo, a prática, o local e a necessidade de cada profissional. A aplicação de uma bateria de testes permitirá a observação de uma criança em vários ângulos, considerando seus aspectos motores, afetivos e cognitivos, o que favorecerá a escolha de novos caminhos em nossa prática profissional, de forma que favoreça o desenvolvimento humano. De acordo com o autor, a avaliação motora é uma complementação importante do exame psicológico e um componente essencial na análise das mais diferentes complicações de falta de adaptação que a criança pode apresentar. É o ponto de partida para uma intervenção educacional, uma vez que permite: avaliar as complicações estabelecidas; distinguir os vários tipos de debilidade; presumir e, até mesmo, certificar a presença de problemas escolares, as perturbações motoras e as complicações de comportamento; e examinar o desenvolvimento da criança ao longo de seu progresso evolutivo. � ATENÇÃO Aplicar essa avaliação em um sujeito permite determinar seu grau de progresso motor, considerando êxitos e fracassos, e avaliar o avanço ou o atraso motor de uma criança, de acordo com os resultados obtidos nos testes. A EDM é indicada para crianças entre 2 e 11 anos e, para todas as referências cronológicas e cálculos, essa bateria utiliza a contagem da idade em meses, compreendendo testes para os seguintes fatores psicomotores: Motricidade fina (Óculo-manual) Motricidade global (Coordenação) javascript:void(0) Equilíbrio (Postura estática) Esquema corporal (Imitação de postura, rapidez) Organização espacial (Consciência do espaço)Organização temporal (Linguagem, estruturas temporais) Lateralidade (Mão, olhos e pés) O que se pretende avaliar é se a idade cronológica da criança (expressa em meses) está compatível com a idade motora. Quando a idade cronológica é mais avançada do que a idade motora pode se dizer que a criança se encontra em uma EDM abaixo do normal, sendo considerada em uma idade negativa (escala de desenvolvimento inferior), e quando a idade motora é mais avançada do que a idade cronológica, pode se dizer que a criança se encontra em uma EDM acima do normal, sendo considerada em uma idade positiva (escala de desenvolvimento superior). A partir da aplicação dos testes, identificaremos o(a): IDADE MOTORA (IM) Procedimento para pontuar e avaliar os resultados dos testes, sendo a pontuação obtida expressa em meses. IDADE MOTORA GERAL (IMG) Será obtida pelo quociente entre a soma da pontuação dos seis elementos e 6. Quando a criança realiza a prova com êxito atribui-se o símbolo (1); o resultado negativo, ou seja, quando a criança não consegue realizar o teste, é representado pelo símbolo (0); e, quando o resultado é parcialmente positivo, é representado pelo símbolo (1/2). QUOCIENTE MOTOR (QM) Será obtido a partir da divisão entre a idade motora e a idade cronológica em meses, multiplicado por 100. QUOCIENTE MOTOR GERAL (QMG) Obtido por meio da divisão entre a idade motora geral e a idade cronológica, multiplicado por 100. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Esses valores são quantificados e categorizados. Com exceção dos testes de lateralidade, as outras baterias consistem em 10 tarefas motoras cada, distribuídas entre 2 e 11 anos, organizadas gradativamente em nível de dificuldade. Atribui-se, para cada tarefa, em caso de sucesso, um valor adequado à idade motora expressa em meses. O teste é interrompido quando a criança não realizar a tarefa com êxito de acordo com protocolo. Dessa forma, inicia-se o teste a partir da idade da criança no momento da aplicação da bateria. � EXEMPLO Se uma criança tem 5 anos, o protocolo é iniciado com os testes correspondentes a essa idade. Se a criança o realiza com êxito, aplica-se o teste para a idade seguinte, nesse caso de 6 anos, e assim sucessivamente até que ela não consiga realizar a tarefa. O mesmo critério se aplica retrocedendo, quando a criança não conseguir realizar o teste. Se a criança tem 5 anos e não consegue realizar o teste, aplica-se o teste da idade anterior (4 anos). Esse conjunto de provas da EDM tem como característica ser diversificado e de dificuldade graduada de acordo com a habilidade avaliada. Após a atribuição dos pontos, utiliza-se a tabela de classificação do desenvolvimento motor que apresenta os seguintes níveis: muito inferior, inferior, normal baixo, normal médio, normal alto, superior e muito superior. Para a verificação do teste na íntegra, recomenda-se a utilização do manual de avaliação motora produzido pelo autor dessa BPM, Francisco Rosa Neto. AVALIAÇÃO MOTORA E AVALIAÇÃO PSICOMOTORA A especialista Marina Guedes de Oliveira Lopes apresentará os 3 instrumentos de avaliação descritos no módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. POR QUE O TESTE DE PROFICIÊNCIA MOTORA DE BRUININKS-OSERETSKY (TBO) PERMITE AO PROFESSOR REALIZAR UM DIAGNÓSTICO DA PROFICIÊNCIA EM DETERMINADAS HABILIDADES MOTORAS DE CRIANÇAS DOS 4 AOS 14 ANOS? A) Porque comtempla avaliações que identificam exclusivamente distúrbios motores e atrasos no desenvolvimento. B) Porque tem como finalidade o estudo de três componentes da proficiência motora: motricidade global, motricidade composta e motricidade fina, mas não permitem a identificação de distúrbios ou atrasos no desenvolvimento. C) Porque tem como finalidade o estudo de três componentes da proficiência motora: motricidade global, motricidade composta e motricidade fina, permitindo a identificação de distúrbios ou atrasos no desenvolvimento. D) Porque contempla avaliações que identificam distúrbios motores e atrasos no desenvolvimento, permitindo uma intervenção terapêutica para tratamento dessas alterações. E) Porque tem como finalidade avaliar a motricidade global, a motricidade composta, a motricidade fina e o ritmo, quesito esse o mais importante do desenvolvimento motor. 2. QUAL O NOME DA AVALIAÇÃO INDICADA PARA CRIANÇAS ENTRE 2 E 11 ANOS QUE UTILIZA A CONTAGEM DA IDADE EM MESES, E CÁLCULOS, COMPREENDENDO TESTES PARA AVALIAR A COMPATIBILIDADE DA IDADE CRONOLÓGICA COM A MOTORA? A) Teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky B) Avaliação psicomotora de Vitor da Fonseca C) Escala de desenvolvimento motor de Rosa Neto D) Bateria de testes Fitnessgran E) Bateria de testes Eurofit GABARITO 1. Por que o teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky (TBO) permite ao professor realizar um diagnóstico da proficiência em determinadas habilidades motoras de crianças dos 4 aos 14 anos? A alternativa "C " está correta. O teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky (TBO) permite ao professor realizar um diagnóstico da proficiência em determinadas habilidades motoras de crianças dos 4 aos 14 anos por estabelecer o status do desenvolvimento motor em que ela se encontra com relação aos seus pares. Esse teste permite ainda avaliar funções, distúrbios motores e atrasos no desenvolvimento e tem como finalidade o estudo de três componentes da Proficiência Motora: motricidade global, motricidade composta e motricidade fina. 2. Qual o nome da avaliação indicada para crianças entre 2 e 11 anos que utiliza a contagem da idade em meses, e cálculos, compreendendo testes para avaliar a compatibilidade da idade cronológica com a motora? A alternativa "C " está correta. A escala de desenvolvimento motor EDM utiliza a idade cronológica da criança expressa em meses para estabelecer uma relação com o seu nível de desenvolvimento. Quando a idade cronológica é mais avançada do que a idade motora, pode-se dizer que a criança se encontra em uma EDM abaixo do normal, e quando a idade motora é mais avançada do que a idade cronológica, pode-se dizer que a criança se encontra em uma EDM acima do normal. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento humano contempla dimensões físicas, motoras, emocionais e cognitivas que se interconectam e estruturam a personalidade humana. Nesse sentido, busca-se a harmonia e a conexão entre os sentidos, hormônios, capacidade física e interação social. Esses aspectos devem ser valorizados na prática do profissional de Educação Física, vimos ainda como isso é possível pelo desenvolvimento dos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor. Sabemos que o envelhecimento é inevitável e implica em alterações morfofuncionais negativas, mas a participação de idosos em programas de exercícios físicos melhora seus níveis de força muscular, equilíbrio, autonomia funcional, cognição, interação social e qualidade de vida. Todos esses processos deverão ser acompanhados e avaliados periodicamente, para que a prescrição de exercícios seja adequada ao estado de saúde e ao nível de condicionamento físico de qualquer indivíduo. Por fim, foram apresentadas avaliações que podem contribuir para identificação das habilidades motoras individuais. Desse modo, o profissional de Educação Física poderá intervir de forma satisfatória e controlada, contribuindo assim para um desenvolvimento harmonioso dos indivíduos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BRUININKS, R. Bruininks-Oseretsky test of motor proficiency: examiner's manual. Minnesota: American Guidance Service, 1978 BRUININKS, R.; STEFFENS, K.; SPIEGEL, A. The Bruininks-Oseretsky test of motor proficiency: development, research and intervention strategies. In: Second international symposium on psychomotor therapy and adapted physical activity, Catholic University, Bélgica, 1989. FARINATTI, P.T.V. Flexibilidade e esporte: uma revisão de literatura. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, v. 1, n. 14, p. 85-96, jan./jun. 2000. FONSECA,V. Manual de observação psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores, 2.ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012. ________ . Gerontopsicomotricidade: uma abordagem ao conceito da retrogênese psicomotora. In: Fonseca V. Psicomotricidade: filogênese, ontogênese e retrogênese. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998. p. 343-81. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. HAYWOOD, K. M.; GETHEL, N. Desenvolvimento motor ao longo da vida, 6ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. HURTADO, J. G. G. M. Glossário básico de psicomotricidade e ciências afins. Curitiba: Educa/Editer, 1983. MILLER, T.; CASTANHEIRA, H. C. O impacto fiscal do envelhecimento populacional no Brasil: 2005-2050. Revista Brasileira de Estudos de População, 2013. PAYNE, V. G.; ISAACS, L. D. Desenvolvimento motor humano: uma abordagem vitalícia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. PIAGET, J. O nascimento da inteligência na criança. 4ª ed. Rio de janeiro: Zahar, 1973. ROSA NETO, F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. SHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. EXPLORE+ Leia mais sobre a bateria de testes Bruininks-Oseretsky no artigo Utilização e validade do teste de proficiência motora de Bruininks-Oseretsky: uma revisão de literatura, que você pode encontrar na internet. Leia as impressões de Vitor da Fonseca sobre psicomotricidade no artigo Psicomotricidade: uma visão pessoal, que você pode encontrar na internet, além desses dois livros do mesmo autor: FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. FONSECA, V. Psicomotricidade. 4ª ed. São Paulo: Martins Imagens, 1996. CONTEUDISTA Marina Guedes de Oliveira Lopes � CURRÍCULO LATTES Aguarde enquanto preparamos tudo por aqui.Isso pode levar alguns instantes. javascript:void(0); javascript:void(0);
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