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PLANEJAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA E-book 1 Rafael Coelho Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO ����������������������������������������������4 Contextualização Preliminar �����������������������������������4 As quatro grandes perspectivas do pensamento estratégico ������������������������������������������8 As Dez Escolas de Estratégia ������������������������������� 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������34 SÍNTESE ������������������������������������������������������� 35 2 INTRODUÇÃO O primeiro módulo da disciplina de Planejamento e Gestão Estratégica abordará a origem do conceitual de estratégia, a evolução das estratégias nas organi- zações e de que maneira elas servem de parâmetro e referência para as empresas do mundo contempo- râneo empregar essas estratégias na construção de cenários e tomadas de decisão� Esse processo inicial é muito interessante, pois você terá a oportunidade de mergulhar na historici- dade das escolas do pensamento estratégico e nas perspectivas que norteiam o planejamento e gestão estratégica� Somado à contextualização histórica, traremos exemplos para que você absorva essa pri- meira etapa de aprendizagem� Nesse sentido, faço o convite para que você mergulhe nesse mundo fas- cinante do planejamento e da gestão estratégica empresarial� 3 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO Nas próximas subseções você tomará conhecimento do contexto histórico da estratégia, passando pelas quatro grandes perspectivas do pensamento estra- tégico� Também terá a oportunidade de conhecer as dez escolas de estratégia e compreender de que maneira cada uma delas influencia o mundo empre- sarial contemporâneo� Contextualização Preliminar Não é de hoje que a palavra estratégia é utiliza- da pelas pessoas e, também, pelas organizações� Praticamente todos os dias (senão, toda hora) nós empregamos a palavra “estratégia” para explicar ou justificar ações na vida pessoal ou corporativa. Até nos esportes a palavra estratégia é utilizada� Quer um exemplo? Então, vamos lá! É a final do campeonato de futebol; o time está perdendo pela diferença de um gol, e precisa apenas do empate para conquistar a tão sonhada taça� Faltam poucos minutos para terminar a partida e o técnico precisa pensar em algo diferente para reverter a situação� Ele olha para o banco, vê o jovem atacante promis- sor que está lá; vencedor nas categorias de base, 4 mas que nunca atuara como profissional. Ao lado dele, há outro atacante, ex-titular do time, goleador, experiente e conquistador de títulos, mas que, nos últimos dez jogos, perdera a titularidade porque seu desempenho fora aquém do esperado� E agora? Qual decisão estratégica o técnico deve tomar para fazer seu time buscar o empate para sagrar-se campeão? Bom, você notou que, nesse pequeno exemplo, apa- receram alguns elementos de estratégia? Se não, vamos verificar quais são esses elementos. O primeiro é o próprio cenário� Favorável ou não, para aplicar uma determinada estratégia, é necessário analisar as circunstâncias, os riscos, as causas e as consequências do ambiente� O segundo são os recursos disponíveis, principalmen- te os “humanos” (na verdade, pessoas não devem ser enxergadas como recursos)� Para determinadas tomadas de decisão, você precisa ter profissionais competentes e enxergar como e quando utilizar es- sas competências� Por isso, é fundamental analisar o cenário e avaliar o lado emocional e técnico dos profissionais para envolvê-los de maneira adequada. E o terceiro, não menos importante, é justamente a liderança� A liderança, por si só, leva em suas costas uma dose extra de responsabilidade nas tomadas de decisão� Até porque, a equipe escutará as orienta- ções do seu líder� Na vitória, os membros aparecem mais que o líder� Na derrota, a pressão e as cobran- ças serão muito maiores para o líder� 5 Mas reflexões a respeito de liderança e gestão de equipe são apenas as pontas desse iceberg cha- mado estratégia� A etimologia – área que estuda a origem das palavras – da palavra estratégia vem do grego stratègos� Separando os elementos, temos stratos, que significa “exército”, e ago, que significa “liderança”� Se retomarmos o exemplo anterior, verificaremos que há um exército (jogadores), que está na arena de batalha, e um líder (técnico), que está no alto da colina, analisando o cenário e buscando as melhores alternativas para que seu exército alcance a vitória� E, de fato, é isso mesmo� O termo estratégia era bastante utilizado pelos povos antigos para dominar os adversários e conquistar no- vas terras. Os próprios filmes épicos contextualizam bem esse cenário: as guerras não aconteciam sem motivo; eram marcadas por planos e estratégias, e articuladas pelos reis e generais� O tratado milenar A arte da guerra, atribuído ao ge- neral Sun Tzu, é considerado uma das maiores refe- rências em estratégia militar e traz uma abordagem única sobre as competências necessárias de um líder na condução de seu exército: Não cometer erros significa que – faça o que fizer – o general hábil conquistará a vitória� Ele conquista um inimigo já derrotado� Nos planos, jamais um desloca- mento inútil; na estratégia, jamais um passo em vão� O comandante hábil assume uma posição tal que não pode sofrer nenhuma derrota; não negligencia 6 nenhuma circunstância que lhe garanta o controle do inimigo (TZU, 2006, p� 26)� De acordo com a tradutora da edição dessa citação, não se sabe ao certo se o general Sun Tzu realmente existiu� Entretanto, os ensinamentos militares estra- tégicos do livro influenciam, até os dias de hoje, o pensamento estratégico nas organizações� Ao longo do tempo, as instituições do mundo do trabalho passaram a adotar a estratégia, termo em- pregado pelas instituições militares� Esse processo foi acentuado principalmente após as duas grandes guerras mundiais – influenciadas pelo pensamento militar presente nos confrontos bélicos e pela he- rança militar das gerações passadas� Assim, os lí- deres empresariais começaram a adotar a mesma linguagem para analisar cenários, tomar decisões e solucionar problemas (LOBATO et al�, 2007)� Todo esse processo de evolução do pensamento estratégico trouxe novas perspectivas para o plane- jamento, execução, controle e correção, chegando ao que entendemos, atualmente, por Planejamento e Gestão Estratégica (MINTZBERG; LAMPEL; QUINN, 2007; WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2007)� Para refletir a respeito de como o processo evoluti- vo da inovação estratégica influencia as empresas, acesse o Podcast 1 7 https://famonline.instructure.com/files/719541/download?download_frd=1 Na próxima seção, você terá a oportunidade de apro- fundar seus conhecimentos nas grandes perspecti- vas do pensamento estratégico� As quatro grandes perspectivas do pensamento estratégico No mundo empresarial, a relação entre cenário e suas características traz vários desafios estratégicos para os gestores e não é de hoje que essa equação se tor- na cada vez mais complicada, devido a uma série de dilemas, tais como: volatilidade de mercados, esta- bilidade e instabilidade dos governos, previsibilidade e perturbação do ambiente interno ou a certeza e a incerteza das transformações digitais� Para compreender esse contexto estratégico contem- porâneo, é preciso resgatar os principais conceitos das grandes perspectivas do pensamento estratégi- co: a clássica, evolucionária, processual e sistêmica� Perspectiva estratégica clássica Assim como as teorias da administração possuem grandes estudiosos que já contribuíram com o pensa- mento administrativo – inclusive, com o emprego de conceitos da década de 1940 até os dias atuais –, o pensamento estratégico também possui perspectivas de pensamento, sendo a primeira delas, a clássica. A perspectiva clássica é muito bem representada por estudiosos como Alfred Sloan, Igor Ansoff, Alfred 8 Chandler, e o contemporâneoMichael Porter, nascido em 1947� O engenheiro norte-americano Alfred Sloan (1875- 1966) foi executivo e CEO (Chief Executive Officer) da empresa General Motors e trouxe como contri- buições o controle do planejamento estratégico, dos orçamentos e de vendas� O matemático Igor Ansoff (1918-2002) é considerado um dos maiores expoentes da gestão estratégica� Ele a entendia como um processo de incerteza e desenvolveu ferramentas que contribuíram para o processo estratégico das empresas� Alfred Chandler (1918-2007) foi professor da Harvard Business School e pioneiro no estudo das Histórias das Organizações� Essa visão investigativa e analítica trouxe contribuições, principalmente, no background das organizações� Michael Porter também foi professor da Harvard Business School e colaborou com o pensamento estratégico a partir da publicação das cinco forças competitivas� Os autores citados contribuíram de maneira ímpar com a evolução do pensamento estratégico, cujas preocupações estavam em pensar a estratégia a partir da maximização dos lucros e de como obter vantagem competitiva em relação à concorrência� A perspectiva clássica prevê um processo linear e aplicável, principalmente em mercados estáveis, com planejamento a longo prazo (WHITTINGTON, 2002)� 9 Perspectiva Estratégica Evolucionária Whittington (2002) entende que a perspectiva es- tratégica busca a maximização dos lucros e que as organizações possuem capacidade limitada para interagir com o ambiente externo� O gestor precisa compreender que esse ambiente caótico e cheio de nuances e instabilidades deve levá-lo a pensar “fora da caixa”, ou seja, ampliar a capacidade de inovação e ficar atento à imprevisi- bilidade do cenário externo, cada vez mais comum na sociedade contemporânea� Perspectiva Estratégica Processual De acordo Whittington (2002), a perspectiva estra- tégica processual tem como base duas premissas interessantes e fundamentais para seu entendimento: 1. Limitação humana: entende que o ser humano possui capacidade cognitiva limitada e, portanto, não consegue desenvolver um certo número de ati- vidades combinadas e sequenciais; 2. Complexidade organizacional: a estratégia não é somente um processo criativo e racional, com sequ- ência de etapas; ela interage, também, nas questões políticas e organizacionais, na capacidade de geren- ciar os recursos disponíveis (e indisponíveis) no que tange às pessoas, cultura e clima organizacionais, à política interna e à orientação ao mercado� 10 Se compararmos a perspectiva estratégica com a clássica e evolucionária, notaremos que a formula- ção de uma estratégia é a combinação das contri- buições de todas as perspectivas, pois cada uma delas trata de pontos particulares ligados a questões analíticas, ao processo criativo, e da complexidade política interna� Perspectiva Estratégica Sistêmica Pode-se afirmar que a abordagem da perspectiva sistêmica é a cereja do bolo do pensamento estra- tégico� Contemporânea, essa abordagem privilegia principalmente as questões externas do ponto de vista sociológico, ou seja, aspectos que vão além do controle da organização� Segundo Whittington (2002), todas as pessoas da sociedade fazem parte da organização: colaborado- res, fornecedores, clientes, parceiros de negócios e até as esferas governamentais: municipal, estadual e federal� REFLITA Diante da evolução do pensamento estratégico e da transformação digital acelerada, de que ma- neira você enxerga o planejamento e a gestão estratégica? Como o gestor deve se reinventar, diante desse novo desafio chamado transforma- ção digital? 11 Para ampliar nosso campo de visão, faremos algu- mas reflexões a respeito da influência de cada uma das perspectivas do pensamento estratégico na di- nâmica organizacional� A primeira reflexão está ligada à perspectiva clássi- ca� Ao nos depararmos com a palavra clássica (ou clássico), temos a impressão de que é algo tradicio- nal e que não passou por renovações, não é verdade? Entretanto, de acordo com o dicionário Michaelis, a origem da palavra traz outra conotação: do latim, classicus, significa “superioridade”. Também está relacionada às classes mais altas do povo romano� Isso significa que os autores citados não são antigos; pelo contrário, cada contribuição foi essencial para a evolução do pensamento estratégico e muito do que fora estudado ainda é empregado pelas organizações contemporâneas� Já a segunda reflexão traz os aspectos da inovação e perspectiva evolucionária� Em tempos pós-moder- nos, cuja transformação digital está cada vez mais presente na interação das pessoas e organizações, startups surgem para proporcionar soluções mer- cadológicas, o “pensar fora da caixa”, ou seja, ser criativo é peça fundamental para inovar em produtos; criar estratégias para atingir novos mercados ou até mesmo, criá-los� A terceira reflexão está relacionada à perspectiva processual e ao ambiente interno� Mesmo não fazen- do parte da perspectiva sistêmica, ela é responsável por fazer uma empresa funcionar: colaboradores, 12 políticas internas, processos, desenvolvimento e co- municação são alguns dos elementos que compõem o ambiente interno, fundamentais para fazer a “roda” girar� Por fim, a perspectiva sistêmica traz essa amplitude do ambiente externo, sem deixar de lado as questões internas, processuais e de inovação do negócio� FIQUE ATENTO O que são startups? Startup é um modelo de empresa que surgiu nos Estado Unidos da América, a partir da década de 1980, no Vale do Silício, estado da Califórnia� Tra- duzindo, startups são empresas iniciantes, cujas características marcantes desse modelo de ges- tão são a flexibilidade, a promoção à criatividade, hierarquia horizontal, dinamismo e capacidade de inovação tecnológica� Foi um movimento inte- ressante que contribuiu significativamente para o surgimento de grandes empresas – como Face- book e Google – e difundiu-se para todo o mundo� A partir das quatro perspectivas do pensamento es- tratégico, é possível notar que as visões se comple- mentam e proporcionam caminhos para administrar estrategicamente as organizações, conforme ilus- trado na figura 1. 13 Lucros Plural Processos Emergentes EvolucionáriaClássica ProcessualSistêmica Figura 1: Visão das estratégias empresariais a partir das perspectivas do pensamento estratégico. Fonte: adaptado de Whittington (2002). SAIBA MAIS Para buscar maior aprofundamento sobre a evolução do pensamento estratégico e de que maneira ele influencia as principais tomadas de decisão dos gestores, assista ao interessan- te documentário Vale do Silício: a história dos revolucionários� Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=OvceOWrmSeI� Portanto, não há uma perspectiva que se sobrepo- nha a outra� Elas são complementares e devem ser empregadas de maneira integrada, com o propósi- 14 https://www.youtube.com/watch?v=OvceOWrmSeI https://www.youtube.com/watch?v=OvceOWrmSeI to de levar a empresa ao alcance de seus objetivos estratégicos� A próxima seção trará mais subsídios para você com- preender de que maneira a evolução estratégica está presente no dia a dia das empresas e como as esco- las de estratégia podem contribuir para a transforma- ção do pensamento estratégico nas organizações� As Dez Escolas de Estratégia Anteriormente, tivemos a oportunidade de aprofundar os conhecimentos na fundamentação conceitual do pensamento estratégico� Percebemos que, apesar de existir uma defesa para cada uma das visões e perspectivas estratégicas, todas elas buscam atingir os objetivos de suas propostas� Outro ponto importante, e que deve ser levado em consideração, está na aplicabilidade da perspectiva estratégica� Independentemente do nível de atuação da organização ou do seu modus operandi, não há perspectiva estratégica que se sobrepõe a outra; o gestor pode combinar as características de cada perspectiva para traçar a perspectiva mais adequada ao seu negócio�Vamos conhecer as dez escolas do pensamento es- tratégico: Escola do Design, Escola do Planejamento, Escola do Posicionamento, Escola Empreendedora, Escola Cognitiva, Escola de Aprendizado, Escola do Poder, Escola Cultural, Escola Ambiental e Escola de 15 Configuração. Perceberemos que os pesquisadores defendem seu ponto de vista sem preocupação de conectar os pontos e entender que cada ideia e pen- samento contribui para evolução de um processo� Escola Do Design A escola do design pode ser considerada uma das mais influentes no estudo das estratégias. Seus conceitos são muito utilizados em cursos do ensi- no superior e nas empresas, pois o modelo sugere a criação de uma estratégia a partir da análise dos aspectos internos e externos da organização� Sobre sua origem, Mintzberg et al. (2010) explicam que a escola do design sofreu forte influência da University of California (Berkeley) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a partir dos estudos de Philip Selznick (1957) de e Alfred Chandler (1962), aquele mesmo autor citado na seção anterior e que trouxe contribuições de historiador, principalmente, para o background das organizações� Entretanto, a influência mais significativa está vin- culada ao grupo de Administração Geral da Harvard Business School, com o livro-texto intitulado Business policy: text and cases, cujos estudos são atribuídos à Kenneth Andrews (MINTZBERG et al., 2010)� Conforme listado por Mintzberg et al. (2010, pp� 41- 43), a escola do design defende que: A formulação da estratégia deve ser um pro- cesso deliberado de pensamento consciente; 16 A responsabilidade por esse controle e essa percepção devem ser do executivo principal: essa pessoa é o estrategista; O modelo da formulação de estratégia deve ser mantido simples e informal; As estratégias devem ser únicas: as melhores resultam de um processo de design individual; O processo de design está completo quando as estratégias parecem plenamente formula- das como perspectiva; Essas estratégias devem ser explícitas; assim, precisam ser mantidas simples; Depois que as estratégias únicas, desen- volvidas, explícitas e simples são total- mente formuladas é que elas podem ser implementadas. A figura 2 mostra o modelo de implementação es- tratégica em que a escola do design está ancorada� Essa estrutura defendida pela escola do design per- corre dois caminhos paralelos, o ambiente interno e 17 externo, dos quais se exige uma investigação apro- fundada, antes da implementação estratégica� Avaliação externa Avaliação interna Ameaças e oportunidades no ambiente Forças e fraquezas da organização Fatores chave de sucesso Competênicas distintivas Responsabilidade social Criação de estratégia Avaliação e escolha Implementação Valores gerenciais Figura 2: Modelo de implementação estratégica da Escola do Design. Fonte: adaptado de Mintzberg et al. (2012). Para refletir sobre as escolas do pensamento estra- tégico e os desafios do mundo empresarial contem- porâneo, acesse o Podcast 2 Escola Do Planejamento A escola do planejamento surgiu em 1965, com a publicação do livro Corporate strategy, de Igor Ansoff� 18 https://famonline.instructure.com/files/719542/download?download_frd=1 Curiosamente, a escola do planejamento apareceu junto com a escola do design� Distintamente da escola do design, a escola do pla- nejamento tem como características a racionalidade e a fragmentação das etapas em um processo line- ar com controles, por meio de planos operacionais, fluxos e números. Dentre as premissas da escola do planejamento, Mintzberg et al. (2012, p� 67) destaca três principais pontos: 1. As estratégias devem resultar de um pro- cesso controlado e consciente de planejamen- to formal, decomposto em etapas distintas, cada uma delineada por checklists e apoiada por técnicas; 2. A responsabilidade por todo o processo está, em princípio, com o executivo principal; na prática, a responsabilidade pela execução está com os planejadores; 3. As estratégias surgem prontas desse pro- cesso, devendo ser explicitadas para que pos- sam ser implementadas por meio da atenção detalhada a objetivos, orçamentos, programas e planos operacionais de vários tipos. 19 A figura 3 ilustra o modelo da escola do planejamento que será aprofundado oportunamente� Missão Objetivos Objetivos Análise externa Escolha estratégica Implementação estratégica Figura 3: Modelo de implementação estratégica da Escola do Planejamento. Fonte: adaptado de Mintzberg et al. (2012). REFLITA Diante dos desafios expostos, de que maneira os conhecimentos e técnicas de gestão estratégica podem contribuir com o planejamento empresa- rial para o alcance dos objetivos estratégicos? Escola Do Posicionamento Após o movimento das escolas do design e do pla- nejamento, outra escola que contribuiu com o pen- samento estratégico foi a escola do planejamento, que teve como expoente Michael Porter, com a pu- blicação do livro Competitive strategy, no início da década de 1980� 20 De acordo com Mintzberg et al. (2012, p� 92) as pre- missas da escola do posicionamento estão calcadas da seguinte maneira: 1. Estratégias são posições genéricas, es- pecificamente comuns e identificáveis no mercado; 2. O mercado (o contexto) é econômico e competitivo. O processo de formulação de es- tratégia é, portanto, de seleção das posições genéricas com base em cálculos analíticos; 3. Os analistas desempenham um papel im- portante nesse processo, passando os resul- tados dos seus cálculos aos gerentes, que, oficialmente, controlam as opções; 4. Assim, as estratégias saem desse processo totalmente desenvolvidas para serem articu- ladas e implementadas; de fato, a estrutura do mercado dirige as estratégias posicionais deliberadas, as quais dirigem a estrutura organizacional. Os estudos de Porter trouxeram novas perspectivas para as organizações, principalmente no aspecto analítico, no qual o papel dos gestores é fundamental 21 para o sucesso da implementação estratégica� Mais adiante, teremos a oportunidade de aprofundar o conhecimento nos ensinamentos de Michael Porter� SAIBA MAIS Para conhecer melhor a importância das cinco forças de Porter, leia o livro Entendendo Michael Porter: o guia essencial da competição e estraté- gia, de Joan Magretta. Escola Empreendedora A escola empreendedora tem uma forte influência dos ensinamentos de Joseph Schumpeter que, na década de 1950, conceituou o empreendedor como aquele que destrói a ordem econômica existente por meio da introdução de novos produtos e servi- ços, pela criação de novas formas de organização, ou pela exploração de novos recursos e materiais (MINTZBERG et al., 2012)� A Tabela 1 traz um comparativo interessante sobre os desafios dos modelos econômicos que influenciaram na personificação do empreendedor. 22 Velho modelo econô- mico Novo modelo econômico Dirigido pelos modelos clássicos, os recursos eram escassos, força de trabalho (poder dos músculos), retornos pequenos, barreiras de entrada e sobrevivência dos maiores� Dirigido por novos modelos de negócios, os recursos escassos são imaginação e conhecimen- to, os retornos são maiores, as baixas barreiras de entrada/ ativos intelectuais, poder do conhecimento, sobrevivência dos mais rápidos e o fim do emprego� Tabela 1: Comparativo entre os modelos econômicos. Fonte: adap- tado de Dornelas (2008). No empreendedorismo, o líder é incentivado a inovar, utilizar os recursos disponíveis de forma criativa, transformar o ambiente social e econômico onde vive e aceitar assumir os riscos e a possibilidade de fracassar� Esse processo foi intensificado na década de 1980, com o surgimento das startups – novo modelo de negócios, mais enxuto e disruptivo, impulsionado pela nova onda tecnológica mundial; e hoje faz par- te da rotina e da estrutura de grandes empresas na busca de soluções estratégicas para seus negócios� REFLITANa era tecnológica, nos deparamos com diversas situações e pessoas se aventurando no processo empreendedor� A busca por novas oportunidades, a quebra de paradigmas e o rompimento com o antigo traz perspectivas interessantes para o 23 novo perfil profissional. Entretanto, fica uma per- gunta no ar: o indivíduo nasce empreendedor ou se torna empreendedor? Escola Cognitiva A escola cognitiva possui características distintas das anteriores, pois a contribuição dessa linha de pensamento não está nos fluxos, comparativos, aná- lises ambientais ou de indicadores de desempenho; o que está em jogo é a mente do estrategista, a par- tir dos estudos do campo da psicologia cognitiva (MINTZBERG et al., 2012)� De modo geral, os líderes buscam, por si só, o co- nhecimento necessário para atingir os objetivos estratégicos pessoais e profissionais. Ou seja, são autodidatas� Na escola cognitiva, há duas alas que procuram estudar a mente do estrategista: a positi- vista e a subjetivista� A ala positivista entende que o processamento e a estruturação do conhecimento faz parte da visão de mundo, entendendo a cognição como espécie de recriação do mundo� Já o lado subjetivista compre- ende a estratégia como um processo interpretativo do mundo e a cognição como a criação de um novo mundo (MINTZBERG et al., 2012)� SAIBA MAIS Para se aprofundar na escola cognitiva, leia o ca- pítulo 6 de Safári de estratégia: um roteiro pela 24 selva do planejamento estratégico, de Henry Mint- zberg. O livro está disponível em Minha Biblioteca. Escola De Aprendizado A escola de aprendizado vai na contramão do forma- lismo e da racionalidade das escolas do design e do planejamento, pois os seus idealizadores entendem a formulação estratégica a partir da máxima “na teoria é uma coisa; na prática é outra”� Em outras palavras, as premissas de formulação estratégica estão ba- seadas nas causas e consequências entre ajudar ou prejudicar a organização� Entre seus influenciadores, destacam-se o cientista político Charles Lindblom com o livro A Ciência de ‘Alcançar o Objetivo de Qualquer Maneira’, de 1959; H� Edward Wrapp, com seu artigo Bons gerentes não tomam decisões políticas, de 1967; e o mais influente de todos, James Brian Quinn, com o livro Strategies for change: logical incrementalism (MINTZBERG et al., 2012)� Em suma, qualquer colaborador pode contribuir com a formulação de uma estratégia, do nível operacio- nal ao estratégico, desde que o profissional tenha competência para tal� Entretanto, é importante res- saltar que, em muitos casos, as decisões tomadas são políticas e de poder – questão, inclusive, que será abordada na próxima subseção com a escola de poder� 25 Escola De Poder A escola de poder traz um complemento à escola de aprendizado� Se de um lado qualquer pessoa pode contribuir com o processo de formulação estratégi- ca, do outro, há questões políticas e de poder que podem impedir uma boa ideia de ser materializada� De certa forma, as organizações utilizam o poder para obter consentimento, ou seja, é a relação do indivíduo com o poder empregado� Por isso, a for- mulação da estratégia, além de percorrer o caminho da racionalidade, analítico, cognitivo e criativo, passa ainda por questões políticas e jogos de poder� Nesse sentido, podemos compreender que as organi- zações são envolvidas por grupos de interesses, dife- renças individuais e coletivas, crenças e percepções de realidade distintas e metas e decisões que vêm de negociações e manobras políticas (MINTZBERG et al., 2012)� Escola Cultural A escola cultural traz uma peculiaridade interessante e está um tanto ligada à escola de poder� Com forte influência da cultura japonesa, herdada principalmen- te do modelo de gestão da empresa Toyota, essa escola defende que a formulação estratégica deve levar em consideração as questões de cultura orga- nizacional� Mas, o que seria cultura organizacional? De modo geral, as pessoas possuem valores e cren- ças distintas umas das outras� Contudo, nem só de 26 distinções vive o ser humano; existem aspectos co- muns em torno dos quais os membros de um deter- minado grupo estão integrados e constituem, dessa maneira, sua cultura� Laraia (2001) entende que o conceito de cultura está atrelado ao modo de vida das pessoas; um grupo ou sociedade são reflexos dos objetos utilizados por elas, das ideias em comum, das ações, das intera- ções e dos símbolos que ostentam na sociedade� Transpondo esse conceito de cultura da sociedade para cultura organizacional, é possível entender que os valores, padrões, problemas, interações, integra- ções, adaptações e maneiras, quando transmitidas aos membros de uma organização, constituem a cultura de uma organização (SCHEIN, 1992)� Nesse sentido, Mintzberg et al. (2012, pp� 256-257) contribuem com nossa reflexão, pontuando cinco premissas a respeito do papel estratégico da cultura organizacional: 1. A formulação de estratégia é um processo de interação social baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização; 2. Um indivíduo adquire essas crenças por meio de um processo de aculturação ou so- cialização, o qual é, em grande parte, tácito e 27 não verbal, embora seja, às vezes, reforçado por uma doutrinação mais formal; 3. Portanto, os membros de uma organiza- ção podem descrever apenas parcialmente as crenças que sustentam sua cultura, ao passo que as origens e explicações podem perma- necer obscuras; 4. Em consequência disso, a estratégia as- sume a forma de uma perspectiva, acima de tudo, enraizada em intenções coletivas (não necessariamente explicadas). Isso se refle- te nos padrões pelos quais os recursos ou capacidades da organização são protegidos e usados para sua vantagem competitiva. Portanto, a estratégia é mais bem descrita como deliberada (mesmo que não seja ple- namente consciente); 5. A cultura e, em especial, a ideologia não encorajam tanto as mudanças estratégicas quanto a perpetuação da estratégia existen- te; na melhor das hipóteses, elas tendem a promover mudanças de posição dentro da perspectiva estratégica global da organização. 28 A próxima escola vai abordar as questões do ambien- te empresarial que, apesar de não ter sido discutido claramente anteriormente, a análise do ambiente sempre esteve implícita nos processos estratégicos� Escola Ambiental A escola ambiental traz uma visão ampla sobre o posicionamento estratégico do negócio, tanto no âmbito interno quanto no externo� Apesar de o ambiente não ter sido abordado de ma- neira mais evidente nas outras escolas, esse ponto ficou implícito nos processos de planejamento. Como premissas, Mintzberg et al. (2012, p� 276) elencam pontos interessantes aos quais devemos nos atentar: 1. O ambiente, apresentando-se à organização como um conjunto de forças gerais, é o agente central no processo de geração de estratégia; 2. Durante seu período formativo, a organi- zação molda-se em resposta ao ambiente, mas depois se torna cada vez mais incapaz de reagir a ele; 3. A sobrevivência da organização no longo prazo depende das escolhas iniciais feitas durante o período de formulação; 29 4. No decorrer do tempo, a liderança torna- -se cada vez menos capaz de influenciar o desempenho e a capacidade de sobrevivência da organização; 5. As organizações que sobrevivem às pres- sões pela sobrevivência acabam aglomeran- do-se em nichos ecológicos distintos, em que tendem a compartilhar tecnologias, produtos e estilos administrativos semelhantes. Escola De Configuração A escola da configuração é a última escola a ser estudada� O interessante é que essa escola traz uma visão integrada com a contribuição de todas as ou- tras escolas, mostrando que, independentemente da ideologia, as questões estratégicas são fundamen- tais para o sucesso do negócio, conforme mostra a figura 4, entendendo a estratégica como formação de um único processo� 30 Escola Cultura EscolaCognitiva Escola do Aprendizado Escola do Poder Escola da Configuração Escola Ambiental Escola do Planejamento Escola do Design Escola Empreendedora Escola do posicionamento Figura 4: As escolas da estratégica como um único processo. Fonte: adaptado de MINTZBERG; LAMPEL; QUINN et al. (2007). A partir dessa relação das escolas da estratégia, é relevante elencar as premissas pontuadas por Mintzberg et al. (2012, pp� 292-293) sobre a escola da configuração: 1. Na maior parte das vezes, uma organização pode ser descrita em termos de algum tipo de configuração estável de suas características: para um período distinguível de tempo, ela adota uma determinada forma de estrutura adequada a um determinado tipo de contexto, o que faz com que se engaje em determina- dos comportamentos que dão origem a um determinado conjunto de estratégias; 2. Esses períodos de estabilidade são ocasio- nalmente interrompidos por algum processo 31 de transformação – um salto quântico para outra configuração; 3. Esses estados sucessivos de configuração e períodos de transformação podem se orde- nar ao longo do tempo em sequências padro- nizadas, por exemplo, descrevendo ciclos de vida de organizações; 4. Portanto, a chave para a administração estratégica é sustentar a estabilidade ou, no mínimo, mudanças estratégicas adaptáveis marginalmente, na maior parte do tempo, mas reconhecer periodicamente a necessidade de transformação e ser capaz de gerenciar esse processo de ruptura sem destruir a organização; 5. Assim, o processo de geração de estratégia pode ser de concepção conceitual ou plane- jamento formal, análise sistemática ou visão de liderança, aprendizado cooperativo ou po- liticagem competitiva, focalizando cognição individual, socialização coletiva ou a simples resposta às forças do ambiente; mas cada um deve ser encontrado em seu próprio tempo e contexto. Em outras palavras, as próprias escolas de pensamento sobre formulação 32 de estratégia representam configurações particulares; 6. As estratégias resultantes assumem a forma de planos ou padrões, posições ou perspectivas, ou meios de porém, mais uma vez, cada um a seu tempo e adequado à sua situação. 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio desta leitura, foi possível entender a com- plexidade do pensamento e das escolas da estraté- gia� Cada concepção ajuda as possibilidades estra- tégicas e que vão além de cada escola� É necessário avaliar as ideias, as ações, o aprendi- zado, os planos, o ambiente, a cognição no proces- so de escolha estratégica� Nos próximos módulos, aprofundaremos o conhecimento em ferramentas que ajudarão no processo de construção, gestão e planejamento estratégico� 34 SÍNTESE EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO PLANEJAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA • Origem e premissas de estratégia; • Principais conceitos de planejamento e gestão estratégica; • Perspectivas do pensamento estratégico: (1) Clássica, (2) Evolucionária, (3) Processual, e (4) Sistêmica; • As principais escolas de estratégia: (1) Escola do Design� (2) Escola do Planejamento� (3) Escola do Posicionamento� (4) Escola Empreendedora� (5) Escola Cognitiva� (6) Escola de Aprendizado� (7) Escola do Poder� (8) Escola Cultural� (9) Escola Ambiental� (10) Escola de Configuração� O tema do módulo é a evolução do pensamento estratégico e a proposta é levar a uma reflexão inicial sobre os principais conceitos do planejamento e gestão estratégica empresarial. O conteúdo deste módulo foi estruturado, tanto do ponto de vista teórico quanto prático, com o objetivo de trazer as principais nuances que circundam o planejamento e uma boa gestão estratégica, a saber: Referências Bibliográficas & Consultadas ANDERSEN, T. J. Gestão estratégica: uma introdução. São Paulo: Saraiva, 2014. [Minha Biblioteca] ANDRADE, A. R. Planejamento estratégico: formulação, implementação e controle. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. [Minha Biblioteca] CAVALCANTI, M.; FARAH, O. E.; MARCONDES, L. P. (Orgs.) Gestão estratégica de negócios: estratégias de crescimento e sobrevivência empre- sarial. 3. ed. São Paulo: Cengage, 2018. [Minha Biblioteca] CHIAVENATO, I.; GOMES, F. Visão e ação es- tratégica: os caminhos da competitividade. 3. ed. Barueri: Manole, 2009. [Minha Biblioteca] DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. FERENCE, T. P. Estratégia. São Paulo: Saraiva, 2012. [Minha Biblioteca] LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 14. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. LOBATO, D. M.; MOYSÉS FILHO, J.; TORRES, M. C. S.; RODRIGUES, M. R. A. Estratégia de em- presas. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. (Gestão Empresarial) MAGRETTA, J. Entendendo Michael Porter: o guia essencial da competição e estratégia. Trad. Carlos Szlak. São Paulo: HSM Editora, 2012. MINTZBERG, H.; LAMPEL, J.; QUINN, J. et al. O Processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. Porto Alegre: Artmed, 2007. [Minha Biblioteca] MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safari de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. [Minha Biblioteca] OLIVEIRA, D. P. R. Administração estratégica na prática: a competitividade para administrar o futuro das empresas. São Paulo: Atlas, 2013. [Minha Biblioteca] OLIVEIRA, D. P. R. Estratégias empresariais & vantagem competitiva. 9. ed; São Paulo: Atlas, 2014. [Minha Biblioteca] PEREIRA, M. F. Planejamento estratégico: teorias, modelos e processos. São Paulo: Atlas, 2010. [Minha Biblioteca] PORTER, M. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 17. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. SCHEIN, E. H. Organizational culture and lea- dership. 2. ed. San Francisco: Jossey-Bass, 1992. TACHIZAWA, T. Gestão ambiental e responsa- bilidade social corporativa: estratégias de ne- gócios focadas na realidade brasileira. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2015. [Minha Biblioteca] TZU, S. A arte da guerra. Trad. Sueli Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM, 2006. WHITTINGTON, R. O que é estratégia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. WRIGHT, P.; KROLL, M. J.; PARNELL, J. Administração estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas, 2007. _GoBack INTRODUÇÃO EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO Contextualização Preliminar As quatro grandes perspectivas do pensamento estratégico As Dez Escolas de Estratégia CONSIDERAÇÕES FINAIS SÍNTESE