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Complexidade e Psicologia Histórico-
cultural da Neuroeducação
Atuação 
Interdisciplinar e 
Neuroeducação
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
FRANCINE HEIDEN RIOS
AUTORIA
Franciane Heiden Rios
Olá! Sou formada em Pedagogia, Mestre em Educação, Especialista 
em Educação Especial e Inclusiva e Tecnologias Educacionais. Estou 
nesta área desde o início da minha vida profissional, cursei Magistério, 
ingressei como estagiária e da escola nunca mais sai. Esse espaço rico 
de aprendizagens humanas me oportunizou pensar sobre diferentes 
questões e perceber as pessoas em suas diferentes necessidades. Durante 
dez anos fui servidora concursada, professora, do Município de São José 
dos Pinhais, também atuei como educadora pela Prefeitura Municipal 
de Curitiba e, atualmente, sou supervisora do curso de Pedagogia da 
UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo - e diretora 
pedagógica da CuriosaIdade, instituição que atua em parceria com redes 
de ensino para desenvolvimento de boas práticas educativas tendo 
como subsídio a perspectiva do Desenho Universal para a Aprendizagem. 
Acredito no princípio básico da inclusão e no respeito pela diversidade, 
portanto, escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra ação ou prática 
profissional relacionada ao tema são hoje meu foco de atuação. 
Desejo que tenhamos juntos um caminho rico de aprendizagens 
significativas, que o material aqui proposto em suas ideias, reflexões e 
discussões permitam a você construir-se enquanto um profissional 
interdisciplinar, que navega entre as mais diversas áreas do conhecimento 
em prol de uma melhor prática educativa, avançando para a qualidade na 
educação e consequente transformação social. 
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
OBJETIVO:
para o início do 
desenvolvimento de 
uma nova compe-
tência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de se apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando forem 
necessários obser-
vações ou comple-
mentações para o 
seu conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundamen-
to do seu conheci-
mento;
REFLITA:
se houver a neces-
sidade de chamar a 
atenção sobre algo 
a ser refletido ou dis-
cutido sobre;
ACESSE: 
se for preciso aces-
sar um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
se fazer um resumo 
acumulativo das últi-
mas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de au-
toaprendizagem for 
aplicada;
TESTANDO:
quando o desen-
volvimento de uma 
competência for 
concluído e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Teoria da Complexidade .......................................................................... 10
História e Fundamentos da Teoria da Complexidade .......................................... 10
Conceitos-chave da Teoria da Complexidade .......................................................... 13
Psicologia Histórico-cultural ................................................................20
História e Fundamentos da Psicologia Histórico-cultural ................................ 20
Conceitos-chave da Psicologia Histórico-cultural ................................................. 21
Método Lógico-histórico ........................................................................................25
Construção do Conhecimento na Neuroeducação ......................28
Problemas Relacionados à Natureza da Ciência e Neuroeducação ........28
Cérebro e Aprendizagem ..........................................................................................................32
Caminhos para a Neuroeducação ........................................................34
Ética na Relação com os Serem Humanos ...............................................35
Conjunto de Práticas de Ações Adotadas pela Comunidade Científica 36
7
UNIDADE
04
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
8
INTRODUÇÃO
Neste capítulo avançaremos nas perspectivas epistemológicas que 
se projetam na sociedade contemporânea. Teremos como foco a Teoria da 
Complexidade e a Psicologia Histórico-Cultural. Seguimos, portanto, em busca 
dos elementos que nos permitam respostas às questões: O que é ciência? 
Será que ela necessita de verificações sistematizadas e comprovações a partir 
de princípios científicos? Será ciência uma organização do conhecimento 
empírico? Ou será uma “roupagem” para o senso comum? Será ciência aquele 
conhecimento produzido em laboratório? 
Transitaremos por exemplos práticos e aproximações com a neurociência 
efetivamente, abordando os aspectos da pesquisa nessa área. entre essas 
discussões, veremos que, por exemplo, é possível articular métodos, afinal, 
sendo a neuroeducação um campo interdisciplinar, cabe um olhar específico, 
porém global, a cada conhecimento que se evidencia. 
Seguimos com a finalidade de desvelar as possíveis concepções de 
como se produz o conhecimento em áreas que não “são duras”, que permitem 
e necessitam de interpretações e narrativas. Assim, esperamos que você 
estudante e entusiasta da área, mantenha sua curiosidade para que juntos, 
possamos ampliar a concepção que temos de ciência e, consequentemente, 
da produção do conhecimento. Vamos lá?
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
9
OBJETIVOS
Olá, seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar 
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o 
término desta etapa de estudos:
1. Identificar, conceituar e discutir a Teoria da Complexidade, uma 
consistente base epistemológica atual.
2. Identificar, conceituar e discutir a Psicologia Histórica-Cultural, 
uma das principais linhas epistemológicas contemporâneas.
3. Refletir sobre os limites e possibilidades para os estudos e 
construção do conhecimento na neuroeducação.
4. Refletir sobre os caminhos para produção e pesquisa científica na 
neuroeducação diante dos conhecimentos discutidos no processo 
formativo.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? 
Ao trabalho! 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
10
Teoria da Complexidade
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo você terá conhecido a proposta 
da Teoria da Complexidade, bem como, será capaz de 
compreender os principais conceitos dessa perspectiva 
epistemológica. Assim como as demais teorias que vimos, 
entender como essa perspectiva discute a construção 
do conhecimento é fundamental para a ampliação de 
seu campo teórico, permitindo a você uma visão ampla e 
geral das epistemologias/teorias do conhecimento que 
habitam o campo da educação e, consequentemente, da 
neuroeducação. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Então vamos lá. Avante!.
História e Fundamentos da Teoria da 
Complexidade
O que é conhecimento? O que é Ciência? Essas perguntas vêm nos 
acompanhando desde o início dessa disciplina e, diante de tudo que vimos 
e discutimos, ainda estamos distantes de uma resposta concreta, afinal 
tivemos um vasto percurso teórico diverso o qual permite respondermos 
essas questões de diversas formas. E assim como as teorias anteriores, a 
Teoria da Complexidade busca evidências, hipóteses e significados para 
essas questões. 
O primeiro elemento que podemos identificar na Teoria da 
Complexidade é a relação entre ciência e complexidade. Morin (2007) 
antes de afirmar o que é, de fato, conhecimento, indica como esse opera. 
Para ele, qualquer que seja o conhecimento “[...] opera por seleção de 
dados significativos e rejeição de dados não significativos” (MORIN, 
2007, p.10), utilizando-se da lógica e de princípios supra lógicosnessa 
organização do pensamento. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
11
Figura 1 - Princípios supra lógicos na organização do pensamento 
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
Desses princípios de fortes características de matematização, 
formalização e de lógica binária, resultam nossas visões de mundo, 
muitas vezes, sem que tenhamos o entendimento sobre esse processo.
EXEMPLO: 
Você já parou para analisar como se dá, muitas vezes, o processo 
de pesquisa para a produção de um trabalho acadêmico? 
Usualmente separamos sujeito e objeto, objetividade e 
subjetividade, conteúdo e forma, quantidade e qualidade. Seguimos por 
aí: pesquisas quantitativas, pesquisas qualitativas, se descrevem, não 
analisam e, seguimos de forma esclarecida ou não, esse caminho de 
seleção e sistematização. 
Essa lógica de “ideias claras e distintas” (MORIN, 2007) é herança 
de Descartes, que promoveu o pensamento disjuntivo, responsável por 
grandes avanços científicos, porém, que diante do seu caráter elucidativo, 
precariza a reflexão sobre “[...] conhecimento que produz, à ação que 
determina, à sociedade que transforma” (MORIN, 2007, p. 16). Nesse 
sentido, o pensamento disjuntivo torna-se excludente, segregador e meio 
de aprisionamento. 
Na contramão dessa lógica, a Teoria da Complexidade parte do 
pressuposto de que é necessário dispor de pensamentos que permitam 
compreender a complexidade intrínseca à ciência. Complexidade que não 
tem aqui conotação de confusão ou de complicação, por exemplo, quando 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
12
nos referimos à uma relação afetiva “complexa”, confusa e/ou complicada. 
Mas, é entendida como: a associação de elementos heterogêneos e 
contraditórios de forma única e múltipla, que se entrecruzam e tornam-se 
uma unidade complexa sem, entretanto, destruir a diversidade de cada um.
IMPORTANTE:
Cada um desses elementos é nomeado por Morin 
(2007) como complexus e o encontro, como “núcleo da 
complexidade” que, nada mais é que “o complexus do 
complexus”. Nesse núcleo se interligam o núcleo empírico 
e o núcleo lógico.
Figura 2 - Núcleo da Complexidade 
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
13
Assim, a premissa da complexidade propõe um sistema que tenta 
representar o pensar moderno, além de desenvolver e ultrapassar a 
percepção da complexidade.
Conceitos-chave da Teoria da 
Complexidade
Dessa apresentação inicial é possível perceber que a complexidade 
reintroduz o caráter de incerteza aos conhecimentos que poderiam ser 
considerados absolutos e naturalizados. Nesse cenário, Morin (2007) 
propõe o “pensamento dialógico” entre o empírico e o lógico, resultando 
na “unidualidade”. 
DEFINIÇÃO:
Unidualidade diz respeito ao “princípio da 
complementaridade de Bohr” que prevê que por meio da 
ação e interação entre os opostos – prótons e elétrons, 
que coexistem simultaneamente, resultam articulações 
nas quais nem um ou outro se anulam, configurando-
se em algo que atinge outro nível de realidade ou de 
perspectiva. Os opostos não desaparecem e, em sua 
articulação, formam uma unidade diferente da que 
eram em sua individualidade, porém, mantêm suas 
características individuais. .
A unidade constituída será diferente dos pares binários, mas ela 
não desaparece como unidade. Em suas inter-relações projetam outros 
sistemas com conteúdos e formas que não seriam percebidos no nível 
individual. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
14
EXEMPLO: 
Observe a figura a seguir: 
Figura 3 - Ingredientes
Fonte: Pixabay
Temos a farinha de trigo e os ovos que, em uma aproximação 
simples, seriam os complexus. Cada qual com suas características e 
especificidades. A seguir, temos o macarrão, que resulta no “complexo 
dos complexus”, o trigo e os ovos ao “se unirem” resultam em algo que, 
individualmente, não seria possível contemplarem, porém, não deixam de 
ser farinha, tampouco, ovo. 
A crítica que Morin (2007) estabelece à lógica clássica é que essa, 
por suas características, ao se deparar com as contradições refutava o 
conhecimento produzido, nessa perspectiva, qualquer contradição 
que o conhecimento apresentasse, apontaria que ele estaria errado. 
Na perspectiva da complexidade, a contradição toma outro lugar: é a 
descoberta de outra “camada” desse conhecimento, mais profunda ou 
não perceptível pela nossa visão reducionista orientada por princípios 
lógicos. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
15
Não é proposto a conversão da complexidade em outro conjunto 
de princípios lógicos de base simples e dualistas, mas sim, que seja 
assumida que a complexidade é base da vida e das relações. 
Outra questão importante da Teoria da Complexidade é a relação 
do homem com a produção do conhecimento. Na lógica da modernidade, 
para que o objeto pudesse ser “estudado”, o homem deveria ser separado 
dele, pois para que o conhecimento fosse objetivo, seria necessário 
eliminar qualquer ruído que pudesse interferir em sua produção. Sendo 
o homem orientado por diversas questões: cultura, sociedade, crenças, 
entre outras, deveria se afastar para que não corrompesse o processo 
científico. 
Novamente surge um paradoxo: “o conceito positivista de objeto faz 
da consciência ao mesmo tempo uma realidade (objeto) e uma ausência 
de realidade (reflexo)” (MORIN, 2007, p. 42). Ou seja, essa consciência 
reflete no mundo porque é reflexo do sujeito e, portanto, objeto e sujeito 
– sujeito e objeto se permeiam em uma relação complexa e indissociável, 
atravessados pelos princípios da incerteza, da incompletude e da 
abertura -. Para Morin (2007, p. 47-48), “a epistemologia não é pontifical 
nem judiciária; ela é o lugar ao mesmo tempo da incerteza e da dialógica”, 
apresentando verdades que são “biodegradáveis, isto é, mortais, isto é, ao 
mesmo tempo, vivas”. 
Diante da perspectiva da complexidade, a teoria não propõe 
métodos, mas sim, estratégias para a produção de conhecimentos. Não 
propõe, portanto, um novo método, mas, caminhos que poderão ser mais 
ou menos assertivos no percurso dialógico. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
16
SAIBA MAIS:
Edgar Moran – A complexidade do Eu 
“Eu sou um produto do meio.” Será? Até onde somos 
criadores do nosso “eu” e até onde o meio nos define? 
Quem responde uma das reflexões mais interessantes da 
psicologia humana é Edgar Morin, que esclarece como a 
noção de identidade se define de uma forma dupla. Um 
eu singular e insubstituível e um eu comunitário, composto 
de uma família, pátria ou comunidade. Para compreender a 
multiplicidade da identidade, Morin defende a necessidade 
do pensamento complexo, capaz de relacionar conjuntos 
de concepções ao mundo através da vida. Essas reflexões 
são trazidas pelo próprio Morin, disponível no Canal 
Fronteiras do Pensamento, disponível aqui.
Como destaque, portanto, podemos apontar que a complexidade 
não tendência ser clara, distinta ou delimitada às fronteiras dos conceitos. 
Ainda, diante do pensamento sistêmico: “as propriedades das partes 
podem ser entendidas apenas a partir da organização do todo” e que, as 
construções teóricas são permeáveis e fluídas.
SAIBA MAIS:
Indicamos a leitura do artigo da Revista Nova Escola, 
intitulado: Edgar Morin, o arquiteto da complexidade, 
disponível aqui 
Morin (2003) define três princípios para pensar a complexidade: 
dialógico, recursivo e hologramático. O princípio dialógico “pode ser 
definido como a associação complexa (complementar/concorrente/
antagonista) de instâncias, necessárias conjuntamente à existência, ao 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
https://www.youtube.com/watch?v=ExOqRgBKDKA
https://novaescola.org.br/conteudo/1391/edgar-morin-o-arquiteto-da-complexidade
17
funcionamento e ao desenvolvimento de um fenômeno organizado” 
(MORIN, 2007, p. 95). 
O termo dialógico quer dizer que duas lógicas, dois 
princípios, estão unidos sem que a dualidade se perca 
nessaunidade [...]. (MORIN, 2007, p. 189)
Já o princípio recursivo é o processo no qual produtos e efeitos 
assumem concomitantemente “causa” e “agente” da produção. O princípio 
hologramático considera a “parte que está no todo”, busca superar a ideia 
reducionista que se debruça sobre a parte e o holismo que, ao contrário, 
se debruça sobre o todo. 
Por fim, outro destaque da perspectiva da complexidade é a relação 
ordem-desordem-organização. Para Morin (2007) essa é a relação que 
controla todas as coisas, se estruturando conforme a figura a seguir: 
Figura 4 - Tetragrama da relação 
Fonte: Elaborada pela autora, com base em Morin (2003, p. 204).
Segundo Morin (2007, p. 91), “a complexidade da relação ordem/
desordem/organização surge quando se verifica empiricamente que 
fenômenos desordenados são necessários em certas condições, em 
certos casos, para a produção de fenômenos organizados, que contribuem 
para o aumento da ordem”. Portanto, é preciso pensar “ordem e desordem 
conjuntamente” para que se estabeleça um diálogo efetivo. 
Esse tetragrama permite-nos conceber que a ordem 
do universo se autoproduz ao mesmo tempo que esse 
universo se autoproduz, por meio das interações físicas 
que produzem organização, mas também desordem. 
(MORIN, 2007, p. 204)
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
18
Assim, podemos perceber que o pensamento complexo não 
propõe uma nova lógica, mas sim, evidencia um pensamento articulante 
e multidimensional. Não despreza o que é simples, tampouco, privilegia 
a especialização, mas busca, portanto refletir sobre as fragilidades 
existentes no processo de conhecer e, com isso, considerar o que é 
indissociável.
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, 
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido 
que a Teoria da Complexidade parte do pressuposto de 
que é necessário dispor de pensamentos que permitam 
compreender a complexidade intrínseca à ciência.
Complexidade que não tem aqui conotação de confusão ou 
de complicação, mas é entendida como: a associação de elementos 
heterogêneos e contraditórios de forma única e múltipla, que se 
entrecruzam e tornam-se uma unidade da complexidade sem, entretanto, 
destruir a diversidade de cada um. Unidades que são nomeadas por 
Morin (2007) como complexus e que agrupadas, formam um “núcleo da 
complexidade” que, nada mais é que “o complexus do complexus”. Nesse 
núcleo se interligam o núcleo empírico e o núcleo lógico. Vimos que 
unidualidade diz respeito ao “princípio da complementaridade de Bohr” 
que prevê que por meio da ação e interação entre os opostos, se em algo 
que atinge outro nível de realidade ou de perspectiva. Ainda que esses 
opostos, não desapareçam nessa articulação, formam uma unidade 
diferente das que eram em sua individualidade, porém, mantêm suas 
características individuais. Evidenciamos que não é proposto a conversão 
da complexidade em um outro conjunto de princípios lógicos de base 
simples e dualistas, mas que seja assumida que a complexidade é base da 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
19
vida e das relações. Ainda, que a Teoria da Complexidade critica a relação 
do homem com a produção do conhecimento na lógica da modernidade, 
quando essa afirma que, para que o objeto pudesse ser “estudado”, o 
homem deveria ser separado dele, pois para que o conhecimento fosse 
objetivo, seria necessário eliminar qualquer ruído que pudesse interferir 
em sua produção. Sua perspectiva complexa não propõe métodos, mas 
sim, estratégias para a produção de conhecimentos além de caminhos 
que poderão ser mais ou menos assertivos no percurso dialógico. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
20
Psicologia Histórico-cultural 
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo você terá conhecido a 
proposta da Psicologia Histórico-cultural que, apesar de 
não ser considerada uma teoria de como se constrói o 
conhecimento, tem em sua base epistemológica conceitos 
fundamentais para a compreensão da neuroeducação 
enquanto um campo multi e interdisciplinar. E então? 
Motivado para desenvolver esta competência? Então 
vamos lá. Avante!
História e Fundamentos da Psicologia 
Histórico-cultural
A Psicologia Histórico-cultural está associada principalmente à 
Vygostky (1896-1934), Leontiev (1903-1977) e Luria (1902-1977). 
Figura 5 - Vygotsky, Leontiev e Luria
 
Fonte: Wikipédia 
No período do desenvolvimento da Psicologia Histórico-Cultural, 
três correntes se destacavam no campo psicológico: a introspecionista, 
dedicada a descrever fenômenos da consciência a partir das análises 
dos elementos de constituição desse fenômeno; a Gestalt, que propôs a 
análise holística dos fenômenos psíquicos; e a funcionalista, contraposição 
ao introspecionismo na análise da consciência. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
21
As premissas da Psicologia Histórico-Cultural se diferenciavam 
dessas correntes em voga, principalmente, por suas características 
culturais peculiares de forte conexão e embasamento nas ideias socialistas 
de Marx e Engels. Nesse sentido, podemos evidenciar na construção 
teórica de Vygotsky, Luria e Leontiev as linhas de desenvolvimento natural 
– campo biológico - e social-cultural, bem como:
 • A presença de uma visão holística do desenvolvimento.
 • A função dos instrumentos/objetos na atividade humana. 
 • A premissa da existência de duas categorias de funções: 
elementares e superiores. 
 • O conceito de interiorização das funções psíquicas. 
 • A importância da atividade tanto nas relações externas como 
internas ao sujeito. 
 • A função atribuída à linguagem.
Conceitos-chave da Psicologia Histórico-
cultural
Dessas principais características, podemos seguir para destacar 
os princípios epistemológicos da Psicologia Histórico-Cultural, 
principalmente, aqueles que nos permitem compreender como nesse 
paradigma, Vygotsky, Luria e Leontiev, a priori, analisam o processo de 
construção do conhecimento. 
A primeira análise diz respeito à concepção de “signo” e “instrumento”. 
Esses dois elementos são construções históricas elaborados pelo homem 
que surgem diante das necessidades de se apropriar e transformar a 
natureza. Eles atuariam na mediação das relações, os signos agindo na 
atividade interna e, os objetos, na atividade externa ao homem. 
Por ser campo interno ao homem, os signos estão diretamente 
relacionados ao significado social e sentido pessoal em seu uso pelo homem. 
O significado social diz respeito às apropriações do processo histórico; já o 
sentido pessoal, resulta da interação entre o homem e o mundo. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
22
Na questão da relação homem-objetos, a consciência humana é, 
também, resultado das relações com o “mundo dos objetos”, afinal, são 
eles que possibilitam a comunicação com outras pessoas. Chegamos, 
assim, a outro conceito importante nessa perspectiva: a consciência. 
A consciência é compreendida como o produto das relações sociais 
estabelecidas por meio da vida social, e, concomitantemente, é mediada 
pelas significações elaboradas pela sociedade em seu percurso histórico. 
Podemos definir consciência como o conhecimento partilhado, ou seja, 
um produto social que tem a língua como instrumento para sua produção. 
Portanto, um outro fundamento dessa perspectiva é a “mediação 
semiótica”, que consiste na reflexão da relação entre os instrumentos e o 
sistema de signos, com destaque para a linguagem. Para a perspectiva 
histórico-cultural, a característica da atividade humana é que ela é 
mediada por instrumentos técnicos que operam na regulação das ações 
sobre os objetos e, o sistema de signos, que operam na regulação das 
ações simbólicas, que se estabelecem com os outros e consigo mesmo. 
Vygotsky debruça-se principalmente na análise dessa relação 
simbólica e, portanto, na ação dossignos na atividade humana, 
principalmente por ele conceber que é a palavra que constitui o 
“microcosmo” da consciência. 
Está reflexão evidencia as relações do pensamento humano com 
a linguagem na mesma relação de significação de dupla função: de 
representação e generalização. Funções que permitem a reconstrução 
do real ao nível simbólico a partir da atividade humana. 
Essa reconstrução se dá pela atividade compreendida como uma 
forma de mediação das relações do homem com a natureza, desenhando 
a realidade, é portanto, criadora. Tem como perspectiva o homem que “[...] 
age sobre a natureza externa e a modifica, modifica sua própria natureza 
e desenvolve as faculdades nela adormecidas” (Sirgado, 1990, p.65). É 
fundamental indicar que, evidentemente, essa perspectiva é relacionada 
ao conceito de trabalho dos textos de Marx. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
23
SAIBA MAIS:
Indicamos a leitura da reportagem “Karl Marx – o filósofo 
da educação”, publicada na Revista Nova Escola, disponível 
aqui. 
Dessa perspectiva, o modelo de atividade de trabalho compõe-se 
de três elementos: o sujeito ativo, o objeto e o mediador instrumental. 
Figura 6 - Modelo básico de mediação em Vygotsky 
Fonte: Elaborada pela autora com base em Vygotsky (1978).
OBJETO: traduz a atividade inteligente do sujeito, consiste em uma 
produção social-cultural. 
INSTRUMENTOS: condutores da ação humana. 
Dessa relação, há a objetivação da atividade humana que se dá 
concomitantemente produto e fonte de conhecimento, ou seja, a partir 
da sua ação – atividade, faz-se possível emergir as funções e habilidades 
humanas. No caminho inverso à objetivação, tem-se a apropriação e 
internalização das produções culturais que explicam que, antes da 
existência no nível individual, há a existência no nível social. Sendo, 
portanto, a apropriação o resultado de processos de “reconstrução” do 
sujeito. Assim, consciência e atividade são elementos fundamentais à 
psicologia histórico-cultural. Mas, o que “gera” a atividade na perspectiva 
da psicologia histórico-cultural, essa que regula e orienta a atividade 
concreta do sujeito em seu meio?
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
https://novaescola.org.br/conteudo/7222/karl-marx
https://novaescola.org.br/conteudo/7222/karl-marx
24
Seria a necessidade seja ela de ordem biológica ou de ordem 
da fantasiosa, mas, essa necessidade não é a atividade em si, somente 
quando o objeto correspondente à necessidade, é que se é possível 
orientar e regular a atividade. 
EXEMPLO:
De maneira “simplória” podemos exemplificar atividade a partir da 
seguinte imagem: 
Figura 7 - Ponta de lança
Fonte: Wikipédia
Trata-se de uma “ponta de lança” produzida pelo homem quando 
houve a necessidade de “caçar e se defender de outra forma”. Ou seja, 
houve a produção de um objeto para satisfazer uma necessidade 
eminente. Com essa produção, ampliou-se as necessidades e, a produção 
de outros objetos, em um ciclo retroalimentado.
Figura 8 - Relação objeto-necessidade 
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
25
Assim, podemos afirmar que a atividade tem como componentes 
estruturais: necessidade, objeto e motivo; só sendo possível sua existência 
a partir das ações. O motivo é, portanto, o “cara a cara” da necessidade com 
o objeto, o princípio de impulsionamento da atividade e o elo de ligação 
entre a necessidade e o objeto. Portanto, isoladamente necessidade e 
objeto não resultam em atividade. 
Nessa relação, a proposta da psicologia histórico-cultural propõe 
a análise da natureza do objeto, o que não é novidade na cientificidade, 
porém, propõe um novo método que permitam uma nova perspectiva 
dos fenômenos psíquicos, por considerar que esses não podem ser 
considerados e estudados como meros objetos, por serem processo que 
resultam em mudanças. Esse método é chamado de “Método lógico-
histórico”. 
Método Lógico-histórico
Esse método tem o contraste entre enquanto princípio-chave. 
Converge com as premissas de Engels, as quais elucidam a relação entre 
a abordagem naturalista (suposição de que são as condições naturais que 
determinam o desenvolvimento histórico) com a abordagem dialética 
(que sustenta que, mesmo havendo influência das condições naturais, o 
homem age sobre a natureza e a transforma, nisso há transformação e a 
produção de novas condições de existência). Essa abordagem dialética 
exige uma nova estrutura analítica e metodológica, a qual pode ser 
compreendida a partir de três princípios básicos: 
1. Primeiro princípio: o centro está nos processos e não nos objetos, 
sendo necessário expor de forma dinâmica os pontos históricos da 
constituição desses processos. 
2. Segundo princípio: a abordagem deve ser explicativa e não, tão 
somente, descritiva. São as explicações que permitirão evidenciar 
às relações internas constitutivas. 
3. Terceiro princípio: é necessário analisar em suas origens 
os processos psicológicos fossilizados, automatizados ou 
mecanizados.
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
26
O princípio explicativo define um campo teórico-metodológico 
de análise, resultando em uma construção que permite associar as 
determinadas realidades às determinadas elaborações teóricas. Assim, 
dessa perspectiva podemos evidenciar que é contraproducente isolar o 
momento da ação do percurso histórico, bem como, isolar o sujeito das 
suas relações sociais. Trata-se, portanto, de uma abordagem dinâmica 
que busca e age na origem e nas causas dos fenômenos investigados, 
sem que esses sejam extirpados de seu movimento de existência, 
necessitando, portanto, de um método para cada problema. 
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, 
vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a Psicologia Histórico-Cultural está 
associada principalmente à Vygostky (1896-1934), Leontiev (1903-1977) 
e Luria (1902-1977). Que surge no mesmo período de outras correntes 
de destaque no campo psicológico, sendo elas a introspecionista, a 
Gestalt e a funcionalista. Avançamos para compreender as premissas da 
Psicologia Histórico-Cultural, indicando sua diferenciação das demais, 
principalmente, por suas características culturais peculiares de forte 
conexão e embasamento nas ideias socialistas de Marx e Engels. Vimos 
que essa corrente se relaciona o desenvolvimento natural – campo 
biológico - e social-cultural, tendo como características: visão holística, 
a função dos instrumentos e objetos na atividade humana, existência 
de duas categorias de funções: elementares e superiores; o conceito de 
interiorização das funções psíquicas, a importância da atividade, função 
atribuída à linguagem. Como conceitos, destacamos que são construtos 
históricos, elaborados, reelaborados e apropriados mediante a relação 
do homem com o meio. Vimos que consciência é compreendida como 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
27
o produto das relações sociais estabelecidas por meio da vida social, 
e, concomitantemente, é mediada pelas significações elaboradas pela 
sociedade em seu percurso histórico. Podendo ser, portanto, definida 
como o conhecimento partilhado, ou seja, um produto social que tem 
a língua como instrumento para sua produção. Percebemos que da 
perspectiva histórico-cultural é possível identificar o método lógico-
histórico, que elucida a relação entre a abordagem naturalista (suposição 
de que são as condições naturais que determinam o desenvolvimento 
histórico) com a abordagem dialética (que sustenta que, mesmo havendo 
influência das condições naturais, o homem age sobre a natureza e a 
transforma, nisso há transformação e a produção de novas condições de 
existência). Tal método tem como característica a abordagem dialética 
que exige, portanto, uma nova estrutura analíticae metodológica.
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Construção do Conhecimento na 
Neuroeducação
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo você será capaz de relacionar os 
conhecimentos trabalhados durante essa disciplina com a 
neuroeducação. Iremos ampliar as relações de produção 
de conhecimento na perspectiva da articulação entre 
neurociência e Educação, fundamental para sua prática seja 
de intervenção, seja na pesquisa. E então? Motivado para 
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!.
Problemas Relacionados à Natureza da 
Ciência e Neuroeducação
Durante o percurso formativo dessa disciplina buscamos apresentar 
as diversas perspectivas sobre o entendimento de como o conhecimento 
é produzido. Vimos, ainda, que a sistematização de métodos e os próprios 
conceitos de conhecimento e Ciência são diversos, que algumas teorias 
se “confrontam” em suas premissas, outras, articulam-se. Porém, o mais 
importante sobre tudo o vimos até aqui é que nós, humanos, somos peça-
chave em qualquer que seja a perspectiva, afinal, ou pensamos o método, 
ou somos submetidos à natureza, ou transformamos a natureza, enfim, 
a produção de conhecimento e a busca pelo esclarecimento dele, seja 
em sua produção/processo, seja em conceito é uma ação humana que é 
permeada por diferentes elementos. 
Portanto, conhecer as diferentes perspectivas e refletir criticamente 
sobre o que elas nos oferecem é essencial para o profissional da 
educação com vistas à neuroeducação. Afinal, é complexa a relação que 
se estabelece nesse campo em decorrência, como vimos, da articulação 
de diferentes áreas que abordam diferentes questões e que, mesmo 
objetivas diante de suas especificidades, acabam subjetivas quando 
transportadas para a neuroeducação. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Vejam algumas questões pertinentes:
Sabemos que com os exames de imagem é possível identificar o 
local no cérebro que “acende” quando o indivíduo recebe uma ordem, ou 
seja, desses exames podemos identificar o resultado da ação exterior no 
interior biológico-anatômico do indivíduo. Entretanto, de que forma essa 
informação nos serve na neuroeducação? Seria nosso objetivo “acender” 
essa parte do cérebro do estudante? Quais atividades permitiriam 
“acender” esse local cerebral? Ainda, o que “acender” esse local específico 
contribuiria com a aprendizagem e o desenvolvimento do estudante? 
Essas são questões válidas que exemplificam um dos problemas da 
própria natureza da ciência e suas finalidades. 
Podemos identificar a neurociência como uma ciência natural, 
descritiva, que tem como finalidade, a princípio, descobrir e descrever as 
estruturas e o funcionamento neurológico. Já a Educação, ao contrário, é 
artificial e normativa, não se satisfaz pela descrição do natural, pretende 
criar, transformar, modelar, intervir, mediante objetivos específicos. Ainda, 
temos a psicologia que, de certa forma, aproxima-se mais da educação, 
pois, no campo terapêutico também é interventiva, mas, também 
privilegia a descrição de “como os processos psíquicos acontecem”, como 
se estabelecem a relação entre o que é biológico (cérebro) com o que é 
psicológico (mente) e como essa relação se manifesta (comportamento). 
Novamente, ao se aproximar da psicologia, a educação questiona: Como 
transformar, qualificar, potencializar, substituir, enfim, como intervir para 
que a relação cérebro-mente-comportamento apresente resultados 
normativos, àqueles que propomos como objetivos de aprendizagem? 
Outro problema, portanto, estaria nos níveis de análise. 
A neurociência estuda as funções cognitivas em um sistema isolado, 
já a Educação considera as funções cognitivas em todo um sistema de 
plural, permeado de diferentes e diversas interações, no qual, o “cérebro” 
é um dos elementos, e não o centro da questão. 
Dessa afirmação a questão que resulta é: Sabendo que Piaget, 
Vygotsky, Wallon e tantos outros teóricos já discutiram e que já é 
“sedimentada” a importância do cérebro na aprendizagem, por quê 
precisaríamos de uma outra ciência, de uma outra área?
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Talvez aqui, no terceiro problema é que possamos esboçar uma 
resposta. O terceiro problema reside no campo da linguagem e diz respeito a 
necessidade de traduz os conteúdos das duas ou três áreas para uma teoria 
interdisciplinar que, como vimos, vem a ser chamada de neuroeducação.
IMPORTANTE:
Enquanto a neurociência evoca conceitos da natureza do 
sistema nervoso – elétrica, química, espacial, temporal, 
entre outras; a psicologia evoca as questões da pisque, e a 
educação se debruça no campo da aprendizagem.
Nesse sentido, a neuroeducação nos permitiria, como exemplo, o 
seguinte percurso de ação.
Observe a imagem. 
Figura 9 - Produção de texto
Fonte: Acervo da autora (2019).
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
31
Trata-se da produção de texto de um estudante do terceiro ano 
do ensino fundamental. Ao perceber que ele, apesar dos esforços do 
professor em termos de metodologia, não avança, a neuroeducação nos 
permitiria as seguintes questões: 
- Esse aluno tem algum transtorno/distúrbio de aprendizagem? – 
Para essa resposta a neurociência proveria os seguintes dados: 
RESPOSTA AFIRMATIVA: Sim. Então, o professor saberia que esse 
estudante tem questões relacionadas à estrutura biológica de seu cérebro 
que dificulta seu processo de aprendizagem. 
RESPOSTA NEGATIVA: Não. Então, o professor saberia que, talvez, 
outros fatores precisam ser revistos, como: a condição do espaço da sala 
está propícia para a aprendizagem desse aluno? A metodologia está em 
consonância com suas necessidades? Aqui, portanto, a neurociência em 
aproximação com a percepção dos elementos externos que influenciam 
o global do estudante forneceria elementos básicos do funcionamento 
do cérebro, como: está escuro? O aluno consegue enxergar do local onde 
está sentado? Há algo que prejudique sua atenção?
Portanto, tanto a neurociência quanto a psicologia, tampouco a 
neuroeducação, assumiriam um caráter “prescritivo” para a ação docente, 
mas sim, se retornarmos a perspectiva de Bachelar, nos permitiriam 
“falsear” as afirmações/verdades, para que pudéssemos avançar em 
novas possibilidades e novos caminhos. Assim, para o sucesso da 
neuroeducação é necessário compreender e lidar com expectativas 
realistas em relação ao que cada ciência dispõe. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Cérebro e Aprendizagem
Nessa perspectiva de “expectativas realistas ao que cada ciência propõe”, é 
possível indicar alguns avanços promovidos pela neuroeducação. 
Primeiramente que, com o destaque dessa “nova ciência” que, como 
vimos, não é tão nova assim, voltou-se a discutir questões biológicas, 
psicológicas e comportamentais no processo de ensino-aprendizagem. 
Estando em destaque, a neurociência retomou e evidenciou relações que 
já compunham o campo de formação do professor, mas que, poderiam 
estar sublimadas. 
Ao se debruçar nas questões da relação biológica com a aprendizagem 
do estudante, a neuroeducação contribuiu com evidências – exames, 
imagens, testagens – que permitem superar qualquer dúvida sobre a 
influência de uma na outra, por exemplo, não cabe mais discutir que uma 
criança com deficiência intelectual pode aprender, porém, é necessário 
que a educação busque caminhos para esse processo e considere seu 
componente biológico.
Assim, a neuroeducação contribui para, à luz das investigações da 
neurociência, pensar a aprendizagem e sua íntima e inegável relação com 
o substrato biológico. 
É fato que esse percurso não está findado e que poderíamos listar e refletir 
sobre diversas possibilidades da neuroeducação, porém, a perspectiva que 
trazemos é essa: a de que você, estudante que irá atuar com os subsídios 
da neuroeducação tenha criticidade e busque sempre fundamentação 
para a sua prática. 
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmotudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, 
vamos resumir tudo o que vimos. 
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Você deve ter aprendido que a sistematização de métodos e os 
próprios conceitos de conhecimento e Ciência são diversos, que algumas 
teorias se “confrontam” em suas premissas, outras, articulam-se e que, o 
mais importante sobre tudo o vimos até aqui é que nós, humanos, somos 
peça-chave em qualquer que seja a perspectiva, afinal, ou pensamos o 
método, ou somos submetidos à natureza, ou transformamos a natureza, 
enfim, a produção de conhecimento e a busca pelo esclarecimento dele, 
seja em sua produção/processo, seja em conceito é uma ação humana que 
é permeada por diferentes elementos. Ainda, evidenciamos a necessidade 
de se conhecer as diferentes perspectivas e refletir criticamente sobre o 
que elas nos oferecem enquanto neuroeducadores. Afinal, é complexa a 
relação que se estabelece nesse campo em decorrência, como vimos, 
da articulação de diferentes áreas que abordam diferentes questões e 
que, mesmo objetivas diante de suas especificidades, acabam subjetivas 
quando transportadas para a neuroeducação. 
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Caminhos para a Neuroeducação
OBJETIVO:
Ao término deste capítulo esperamos que você 
compreenda os caminhos para a neuroeducação no campo 
da pesquisa científica, bem como, esperamos que você 
possa identificar as características de estrutura que está em 
voga na atualidade. Ainda, esperamos que você identifique 
o dinamismo desses processos, compreendendo-os como 
perspectivas e não como verdades ou “receitas”. E então? 
Motivado para desenvolver esta competência? Então 
vamos lá. Avante!.
Como vimos, a ciência e o conhecimento seguem juntas. Assim, é 
necessário pensar como a pesquisa se faz necessária à neuroeducação. 
Como os dados, observações e análises das diversas áreas que se 
articulam podem ser sistematizados para que os resultados indiquem 
caminhos éticos para a ação perante os problemas, desafios e objetivos 
identificados e/ou propostos. 
Neste contexto, vimos várias possibilidades de como áreas e 
correntes já estabelecidas indicam ser possível, metodologicamente, 
contribuir para a construção e evolução do conhecimento, no nosso caso, 
da neuroeducação. 
Cabe, agora, compreender que as normas metodológicas são 
variadas e que podem envolver um ou mais métodos científicos, 
principalmente no caso da interdisciplinaridade inerente à neuroeducação. 
Seguimos, portanto, a lógica que é a análise, revisão, transformação e 
reinterpretação que permite a ciência ser possível nessa área.
Então, mais que respostas, temos perguntas que orientam 
essa construção do conhecimento: O que é pesquisa? Qual o melhor 
direcionamento? O que justifica essa pesquisa? Como serão obtidas as 
informações dessa pesquisa? Como os dados e evidências serão tratados 
e analisados?
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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Indiferente das respostas que você esboce para cada uma dessas 
questões, há elementos que devem estar presentes em qualquer caminho 
seguido, que veremos a seguir. 
Ética na Relação com os Serem Humanos
Consiste na necessidade de fundamentação teórica dos valores 
vividos de forma prática por uma sociedade. Tem suas premissas baseadas 
pelo Código Nuremberg e Declaração de Helsinque. 
SAIBA MAIS:
 Acesse na íntegra o Código de Nuremberg e a Declaração 
de Helsinque.
Assim, na realização das pesquisas é necessário: 
1. O consentimento voluntário dos participantes. 
2. A fundamentação de vantagem à sociedade dos resultados. 
3. A condução por pesquisadores/pessoas qualificadas em termos 
de estudo e formação. 
4. É prioridade que todo sofrimento e danos desnecessários sejam 
evitados. 
Assim, cabe ao pesquisador: 
a. Proteção integral do participante, ou seja, sua vida, saúde, 
dignidade e integridade.
b. O projeto e os métodos devem atender os protocolos reconhecidos 
e ter como base a literatura que se aprofunda no tema da pesquisa.
Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=DiretrizesDeclaracoesIntegra&id=2
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Podemos resumir essas indicações em quatro eixos: 
Figura 10 - Eixo das pesquisas em seres humanos 
Fonte: Elaborada pela autora (2019).
Conjunto de Práticas de Ações Adotadas 
pela Comunidade Científica
Essas regras e normas são oriundas da comunidade científica, que 
é autorreferente e autorregulada. Tem como princípios: primazia, avanço 
do conhecimento e reprodutibilidade. Sendo: 
CONCEITO: 
 • Primazia: quem publica o primeiro artigo sobre o tema, tem o 
crédito da descoberta (ou da invenção)
 • Avanço do conhecimento: todo artigo científico deve conter um 
resultado inédito e relevante para a Ciência
 Atuação Interdisciplinar e Neuroeducação
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 • Reprodutibilidade: todo experimento publicado deve ser 
replicável por outrem. Portanto, em Neuroeducação, os trabalhos 
científicos estão centrados em todos os procedimentos da pesquisa 
científica, procurando fornecer soluções às perguntas levantadas 
e atendendo todo o rigor científico para cada temática levantada e 
ou para estudo de caso tratado. E, na atualidade, pode-se perceber 
um avanço nas pesquisas centradas no desenvolvimento pessoal 
para melhorar a capacidade de aprendizagem, qualidade de vida, 
transtornos e distúrbios da aprendizagem, entre outros que se 
fazem presentes diante da necessidade social. 
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo 
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você 
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, 
vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que na neuroeducação a ciência e o 
conhecimento seguem juntas. Sendo necessário, portanto pensar sobre 
e como os dados, observações e análises das diversas áreas que se 
articulam e como podem ser sistematizados para que os resultados 
indiquem caminhos éticos para a ação perante os problemas, desafios 
e objetivos identificados e/ou propostos nessa área. Vimos ainda que, 
as normas metodológicas são variadas e que podem envolver um ou 
mais métodos científicos, principalmente no caso da interdisciplinaridade 
inerente à neuroeducação. E que, portanto, a lógica que é a análise, 
revisão, transformação e reinterpretação é o que permite a ciência ser 
possível nessa área. Também indicamos que, indiferente do caminho a 
ser seguido, o princípio ético é fundamental, sendo esse compreendido 
como a necessidade de fundamentação teórica dos valores vividos de 
forma prática por uma sociedade. 
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REFERÊNCIAS
FAZENDA, I. C. Integração e interdisciplinaridade no ensino 
brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979.
GADOTTI, Moacir. A organização do trabalho na escola: alguns 
pressupostos. São Paulo: Ática, 1993.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio 
de Janeiro: Imago, 1976.
LUCK, Heloísa. Pedagogia da interdisciplinaridade. Fundamentos 
teórico-metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2001.
MORIN, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. São 
Paulo: Papirus, 2007.
SIRGADO, A. P. A corrente sócio histórica de psicologia: 
fundamentos epistemológicos e perspectivas educacionais. Em Aberto, 
Brasília, ano 9, n. 48, out./dez. 1990, p. 60-67.
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