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Thiago Teixeira Guimarães Organizador Excesso de exercício físico? 1° Edição Brazilian Journals Editora 2022 55219 Nota https://www.brazilianjournals.com.br/ebooks.php?bk=5fRL4uc0p7b18GIY7y5sB2FKSa2hU366 2022 by Brazilian Journals Editora Copyright © Brazilian Journals Editora Copyright do Texto ©2022 Os Autores Copyright da Edição ©2022 Brazilian Journals Editora Editora Executiva: Barbara Luzia Sartor Bonfim Diagramação: Sabrina Binotti Edição de Arte: Sabrina Binotti Revisão: Os Autores O conteúdo do livro e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Conselho Editorial: Profª. Drª. Fátima Cibele Soares - Universidade Federal do Pampa, Brasil. Prof. Dr. Gilson Silva Filho - Centro Universitário São Camilo, Brasil. Prof. Msc. Júlio Nonato Silva Nascimento - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil. Profª. Msc. Adriana Karin Goelzer Leining - Universidade Federal do Paraná, Brasil. Prof. Msc. Ricardo Sérgio da Silva - Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Prof. Esp. Haroldo Wilson da Silva - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil. Prof. Dr. Orlando Silvestre Fragata - Universidade Fernando Pessoa, Portugal. Prof. Dr. Orlando Ramos do Nascimento Júnior - Universidade Estadual de Alagoas, Brasil. Profª. Drª. Angela Maria Pires Caniato - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Profª. Drª. Genira Carneiro de Araujo - Universidade do Estado da Bahia, Brasil. Prof. Dr. José Arilson de Souza - Universidade Federal de Rondônia, Brasil. Profª. Msc. Maria Elena Nascimento de Lima - Universidade do Estado do Pará, Brasil. Prof. Caio Henrique Ungarato Fiorese - Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Profª. Drª. Silvana Saionara Gollo - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Drª. Mariza Ferreira da Silva - Universidade Federal do Paraná, Brasil. Prof. Msc. Daniel Molina Botache - Universidad del Tolima, Colômbia. Prof. Dr. Armando Carlos de Pina Filho- Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Prof. Dr. Hudson do Vale de Oliveira- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima, Brasil. Profª. Msc. Juliana Barbosa de Faria - Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Brasil. Profª. Esp. Marília Emanuela Ferreira de Jesus - Universidade Federal da Bahia, Brasil. Prof. Msc. Jadson Justi - Universidade Federal do Amazonas, Brasil. Profª. Drª. Alexandra Ferronato Beatrici - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Msc. Caroline Gomes Mâcedo - Universidade Federal do Pará, Brasil. Prof. Dr. Dilson Henrique Ramos Evangelista - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil. Prof. Dr. Edmilson Cesar Bortoletto - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Prof. Msc. Raphael Magalhães Hoed - Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Brasil. Profª. Msc. Eulália Cristina Costa de Carvalho - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Msc. Fabiano Roberto Santos de Lima - Centro Universitário Geraldo di Biase, Brasil. Profª. Drª. Gabrielle de Souza Rocha - Universidade Federal Fluminense, Brasil. Prof. Dr. Helder Antônio da Silva, Instituto Federal de Educação do Sudeste de Minas Gerais, Brasil. Profª. Esp. Lida Graciela Valenzuela de Brull - Universidad Nacional de Pilar, Paraguai. Profª. Drª. Jane Marlei Boeira - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Drª. Carolina de Castro Nadaf Leal - Universidade Estácio de Sá, Brasil. Prof. Dr. Carlos Alberto Mendes Morais - Universidade do Vale do Rio do Sino, Brasil. Prof. Dr. Richard Silva Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul Rio Grandense, Brasil. Profª. Drª. Ana Lídia Tonani Tolfo - Centro Universitário de Rio Preto, Brasil. Prof. Dr. André Luís Ribeiro Lacerda - Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. Prof. Dr. Wagner Corsino Enedino - Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. Profª. Msc. Scheila Daiana Severo Hollveg - Universidade Franciscana, Brasil. Prof. Dr. José Alberto Yemal - Universidade Paulista, Brasil. Profª. Drª. Adriana Estela Sanjuan Montebello - Universidade Federal de São Carlos, Brasil. Profª. Msc. Onofre Vargas Júnior - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Brasil. Profª. Drª. Rita de Cássia da Silva Oliveira - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil. Profª. Drª. Leticia Dias Lima Jedlicka - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil. Profª. Drª. Joseina Moutinho Tavares - Instituto Federal da Bahia, Brasil Prof. Dr. Paulo Henrique de Miranda Montenegro - Universidade Federal da Paraíba, Brasil. Prof. Dr. Claudinei de Souza Guimarães - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Profª. Drª. Christiane Saraiva Ogrodowski - Universidade Federal do Rio Grande, Brasil. Profª. Drª. Celeide Pereira - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil. Profª. Msc. Alexandra da Rocha Gomes - Centro Universitário Unifacvest, Brasil. Profª. Drª. Djanavia Azevêdo da Luz - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Dr. Eduardo Dória Silva - Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Profª. Msc. Juliane de Almeida Lira - Faculdade de Itaituba, Brasil. Prof. Dr. Luiz Antonio Souza de Araujo - Universidade Federal Fluminense, Brasil. Prof. Dr. Rafael de Almeida Schiavon - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Profª. Drª. Rejane Marie Barbosa Davim - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Prof. Msc. Salvador Viana Gomes Junior - Universidade Potiguar, Brasil. Prof. Dr. Caio Marcio Barros de Oliveira - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Dr. Cleiseano Emanuel da Silva Paniagua - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Brasil. Profª. Drª. Ercilia de Stefano - Universidade Federal Fluminense, Brasil. Brazilian Journals Editora São José dos Pinhais – Paraná – Brasil www.brazilianjournals.com.br editora@brazilianjournals.com.br G963e Guimarães, Thiago Teixeira Excesso de exercício físico? / Thiago Teixeira Guimarães. São José dos Pinhais: Editora Brazilian Journals, 2022. 181 p. Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui: Bibliografia ISBN: 978-65-81028-24-4 DOI: 10.35587/brj.ed.0001379 1.Saúde. 2. Exercícios físicos. I. Guimarães, Thiago Teixeira. II. Da Silva, Daniel Costa Alves. III. Pinto, Elaine Cristina da Silva. IV. Rubini, Ercole da Cruz. V. De Amorim, Marcos Vinicios Craveiro. VI. Dutra, Patrícia Maria Lourenço. VII. Borges, Ricardo Moreira. VIII. Cevada, Thais. IX. Coelho, Wagner Santos. X. Título. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) http://www.brazilianjournals.com.br/ mailto:editora@brazilianjournals.com.br ORGANIZADOR Dr. Thiago Teixeira Guimarães Formação: Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte – UERJ Instituição: Oficial Pesquisador – Instituto de Medicina Aeroespacial, Programa de Pós-Graduação em Desempenho Humano Operacional – Universidade da Força Aérea Endereço: Av. Marechal Fontenele, 1755, Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro/RJ, 21740-001 E-mail: thiagotguimaraes@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/4356552805912391 AUTORES Daniel Costa Alves da Silva Formação: Especialista em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo – IBF Instituição: Base de Abastecimento da Marinha no Rio de Janeiro Endereço: Av. Brasil, 10500, Penha, Rio de Janeiro/RJ, 21012-350 E-mail: danielcsilva1985@gmail.com http://lattes.cnpq.br/8842290913125462Elaine Cristina da Silva Pinto Formação: Graduanda em Educação Física e Bacharel em Produção Cultural – UFF Instituição: Grupo de Pesquisa em Educação Física e Esportes, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde – Universidade Federal do Pampa (Uruguaiana/RS) Endereço: BR 472, Km 585, RS, 97501-970 E-mail: elaineprocult@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3735909468192107 Dr. Ercole da Cruz Rubini Formação: Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte – UERJ Instituição: Grupo de Pesquisa em Ciência do Exercício e da Saúde (GPCES/UERJ) Endereço: Rua São Francisco Xavier, n 524, bloco F, nono andar, Maracanã, Rio de Janeiro/RJ, 20550-900 E-mail: ercolerubini@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/6098132628059461 Marcos Vinicios Craveiro de Amorim Formação: Bacharelado em Educação Física – UNESA, com pós-graduação em Gestão e Marketing Esportivo – IBMEC/RJ Endereço: Rua Visconde de Mauá, 246, Caxias do Sul/RS, 95010-070 E-mail: m.4morim@outlook.com http://lattes.cnpq.br/9146723724634439 Dra. Patricia Maria Lourenço Dutra Formação: Doutora em Ciências Biológicas – IBCCF/UFRJ Instituição: Professora Associada – Faculdade de Ciências Médicas – UERJ Endereço: Av. Professor Manuel de Abreu, 444, PAPC, Vila Isabel, Rio de Janeiro/RJ, 20550-170 E-mail: pmldutra@gmail.com http://lattes.cnpq.br/1617851661398279 mailto:danielcsilva1985@gmail.com http://lattes.cnpq.br/8842290913125462 mailto:elaineprocult@gmail.com http://lattes.cnpq.br/3735909468192107 mailto:ercolerubini@yahoo.com.br http://lattes.cnpq.br/6098132628059461 mailto:m.4morim@outlook.com mailto:pmldutra@gmail.com Dr. Ricardo Moreira Borges Formação: Doutor em Química de Produtos Naturais – UFRJ, com pós- doutorado – UGA (EUA) Instituição: Professor Associado – IPPN/UFRJ Endereço: Av. Carlos Chagas Filho, 373, bloco H, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro/RJ, 21941-902 E-mail: ricardo_mborges@ippn.ufrj.br http://lattes.cnpq.br/2002185460196639 Dra. Thais Cevada Formação: Doutora em Ciências do Exercício e do Esporte – UERJ Instituição: Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) – USP Endereço: Av. Professor Mello Moraes, 65, Vila Universitária, São Paulo/SP, 05508-030 E-mail: thacevada@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/6766162058506703 Dr. Wagner Santos Coelho Formação: Doutor em Ciências Biológicas – IBqM/UFRJ Instituição: Professor Adjunto – Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) Endereço: Av. Manuel Caldeira de Alvarenga, 1203, Campo Grande, Rio de Janeiro/RJ, 23070-200 Instituição: Docente – UNESA Endereço: Rua José Acúrcio Benigno, 116, Sans Souci, Nova Friburgo/RJ, 28611-135 E-mail: wagscoelho@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/3423043184092414 mailto:ricardo_mborges@ippn.ufrj.br mailto:wagscoelho@hotmail.com PREFÁCIO Em 2015 tive o prazer de conhecer o novo professor da disciplina Teoria e Prática da Natação, do curso de Educação Física da Universidade Estácio de Sá, campus R9 – RJ, o qual sou coordenadora desde 2014. Seu profissionalismo de imediato me chamou atenção, um rapaz jovem, preocupado em acertar e despertar nos estudantes interesse pela investigação. Com tanta criatividade e proatividade foi conquistando seu espaço e se tornando uma referência no curso. A cada semestre, mais e mais elogios chegavam à coordenação, pois as histórias contadas por ele sobre suas derrotas e fracassos despertaram nos seus alunos um sentimento de empoderamento e gratidão. Muitos que pensavam em interromper sua trajetória acadêmica foram salvos por esse gigante professor, chamado carinhosamente por seus alunos de “monstro”. A partir daí não parou mais... Formou um grupo de iniciação científica chamado GPEEx (Grupo de Pesquisa Excesso de Exercício), escreveu artigos, desenvolveu projetos, criou parcerias, recebeu prêmios, foi homenageado diversas vezes e agora está lançando essa obra inédita ao lado dos seus parceiros, alunos e colegas de trabalho. Este livro confronta os extremos do exercício, “inatividade física e excesso de exercício”, traz informações importantes sobre o overtraining em diferentes populações e seus marcadores, como por exemplo, escalas subjetivas e a variabilidade da frequência cardíaca. Discute, através de informações científicas, estratégias contra a exaustão, fala sobre vício e sistema límbico, aborda o esgotamento físico e mental. Convido você, atleta ou não atleta, treinador, preparador físico ou profissional de educação física e de outras áreas da saúde, para iniciar a leitura desta obra organizada pelo professor Thiago Guimarães, impulsionada por muita admiração de seus alunos. E a você Thiago, deixo aqui minha eterna gratidão, por todo trabalho realizado com excelência, no curso de Educação Física da Universidade Estácio de Sá – campus R9. Boa leitura a todos! Ana Beatriz Moreira de Carvalho Monteiro APRESENTAÇÃO Nos últimos anos, alguns questionamentos nortearam a minha busca pelo conhecimento nas ciências do exercício e esporte. O exercício físico sempre é benéfico? O excesso de exercícios físicos entre atletas é uma realidade? Do que se trata o overtraining? Qual a diferença entre overtraining e overreaching? Deve-se evitar exercícios extremos? Há uma linha tênue entre benefícios e prejuízos modulados pelo exercício físico? O excesso de exercícios físicos entre atletas de recreação é uma realidade? O exercício físico pode apresentar “efeitos colaterais”? Qual a origem do overtraining? Quanto mais exercício, melhor? No pain, no gain? Viver SEMPRE fora da zona de conforto? Existe algum tipo de relação paradoxal com o exercício físico? Qualquer coisa é melhor do que nada? Muita coisa é melhor que qualquer coisa? Quais são os benefícios e riscos potenciais de durações prolongadas, cargas extremas e frequência alta? Como evitar o overtraining? Este livro tem o objetivo de discutir e refletir sobre essas questões. Normalmente, os debates sobre os possíveis efeitos colaterais do exercício físico acontecem em outras áreas da saúde, como a fisioterapia e medicina, por exemplo, quando são tratados assuntos envolvendo lesões e desenvolvimento de doenças por estresse acumulado e repetitivo. Ao longo da minha graduação, três cursos de pós-graduação e mestrado, raríssimos foram os professores e disciplinas que debateram sobre excesso de exercício físico. No doutorado, onde investiguei especificamente esse tema e onde surgiu o Grupo de Pesquisa sobre Excesso de Exercício (GPEEx), alguns professores chegaram a me questionar: “em um mundo com pessoas cada vez mais sedentárias, como pode você falar mal do exercício?” Esse questionamento reflete um tremendo conflito de interesse. Fazendo uma analogia, consegue imaginar se todo pesquisador e profissional da área de farmacologia partisse da premissa de que a sua fórmula seria perfeita contra determinadas doenças? Há períodos de um programa de condicionamento ou treinamento onde o excesso de estresse provocado pelo exercício físico é desejável – isso mesmo! Porém, o profissional de educação física que desconhece a linha tênue entre seus riscos e benefícios potenciais, pode prestar um desserviço. Se uma pessoa que se exercita vive cansada, lesionada, apática, inflamada e dolorida, certamente, em algum momento, ela revisará o exercício enquanto prioridade, podendo aumentar as estatísticas de abandono e sedentarismo. Dentro das ciências do exercício e esporte diversas dificuldades metodológicas limitam o avanço sobre o entendimento do tema aqui tratado. Por exemplo, experimentos com humanos devem respeitar critérios éticos que protejam o bem-estar físico e emocional das pessoas, sendo necessária a utilização de modelos animais. Além disso, infelizmente, prevalece o paradigma de que apenas atletas de elite experimentam os sintomas da síndrome do overtraining. Ainda não há sequer um consenso sobre a terminologia mais adequada paracaracterizar o “descondicionamento paradoxal”. A própria literatura aponta a inexistência de um marcador único, objetivo, preciso e confiável, a partir de parâmetros fisiológicos e bioquímicos classicamente estudados, para o diagnóstico da exaustão crônica relacionada ao treinamento. Para se ter uma ideia, um comunicado especial publicado pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte e Colégio Europeu de Ciências do Esporte, em 2013, afirma que o assunto é muitas vezes abordado de forma anedótica (evidências informais, relatos subjetivos e baseados no “ouvir falar”). O exercício físico por si só não faz milagres e uma boa execução de movimento não é garantia de sucesso. Se pensarmos que o esforço físico é mais um estímulo estressor na já agitada vida de algumas pessoas, uma importante precaução é o seu excesso. Afinal, “o estresse mata e o pior: não aparece no atestado de óbito.” Portanto, recomendações e prescrições consistentes dependem de uma melhor compreensão sobre seus mecanismos fisiológicos e funcionais. Com muita alegria, doutores, mestres, egressos dos nossos grupos de pesquisas e graduandos dedicaram parte do seu tempo precioso para propor reflexões sobre o paradoxo do excesso de exercício físico. O primeiro capítulo – PARADOXO: INATIVIDADE FÍSICA x EXCESSO DE EXERCÍCIO, serve para confrontar os dois extremos do espectro relacionado ao exercício. Sedentarismo e doenças crônicas não transmissíveis geram sofrimento, dependência funcional, gastos intangíveis e muitas mortes. Porém, cargas extremas, ao longo do tempo, podem impactar de forma negativa o funcionamento celular, gerando, inclusive, doenças crônicas não transmissíveis. No segundo capítulo – TERMOS E DEFINIÇÕES PARA O EXCESSO DE EXERCÍCIO, diferentes nomenclaturas são apresentadas, assim como possíveis condições que impactam o desenvolvimento de seus sinais e sintomas. O terceiro capítulo – PREVALÊNCIA, versa sobre a dificuldade de se encontrar estudos epidemiológicos relacionados à síndrome do overtraining entre diferentes populações. Há pesquisa mostrando que 64 % de corredores de elite já experimentaram pelo menos um episódio da síndrome. Isso é realmente muito relevante. O capítulo quatro – OVERTRAINING NO FISICULTURISMO, discute a vigorexia e diversos aspectos negativos dessa condição. O capítulo cinco – OVERTRAINING NO AMBIENTE MILITAR, reforça a necessidade de redobrar as atenções durante treinamentos extremos. O capítulo seis – ORIGEM DO OVERTRAINING: SISTEMA IMUNE, aborda um assunto que cada vez mais recebe atenção por parte da comunidade científica mundial. O sistema imunológico, na maioria dos cursos de graduação em educação física no Brasil, ainda não é trabalhado. Comentamos também resultados da minha pesquisa de doutorado, premiada no tradicional congresso brasileiro de medicina do esporte, em 2019. O capítulo sete – ORIGEM DO OVERTRAINING: ESTRESSE OXIDATIVO, explica uma importante hipótese relacionada aos possíveis efeitos colaterais do excesso de exercícios. O capítulo oito – ORIGEM DA FADIGA AGUDA: CÉREBRO, é muito importante para o entendimento da exaustão aguda, que certamente impacta a fadiga crônica. Como a percepção de cansaço é desenvolvida, estruturas críticas determinantes para a superação de limites, integração de áreas do encéfalo, controle de funções vitais. Conta com diversas informações provenientes da neurociência do exercício e serve também para refletirmos sobre dependência ao exercício, hedonismo, estado de fluxo. A intensa perturbação da homeostase é um processo comprometedor das funções fisiológicas, mas por que será que entusiastas dos esportes e atividades físicas, atletas de recreação, amadores e de elite, praticantes de modalidades “radicais” ou qualquer outra pessoa assídua nos exercícios, experimentam com frequência a sensação de exaustão e tornam a repetir, alguns diariamente, esses estímulos tão estressantes? Exercício sem prazer não favorece sua adesão, mas o vício em exercícios físicos é um tipo de dependência não química. Como trabalhar essa linha tênue? O capítulo nove – SINTOMAS CLÍNICOS DO EXCESSO DE EXERCÍCIOS, apresenta um caso concreto para discutir o monitoramento de cargas no esporte. O capítulo dez – VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA, contextualiza uma importante e cada vez mais utilizada ferramenta biológica para ajudar a controlar a distribuição de cargas em programas de condicionamento ou treinamento. O capítulo onze – PERIODIZAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE TREINAMENTO, serve como revisão sobre o assunto e tenta estabelecer um link entre as “atualidades” apresentadas nos capítulos anteriores e os conceitos norteadores da prescrição de clássicos autores. Finalmente, o capítulo doze – TÓPICOS ESPECIAIS: METABOLÔMICA, convida o leitor para uma área muito promissora nas ciências do exercício e esporte. Em nome de todos os colaboradores, desejo a você uma boa leitura e que o senso crítico despertado possa iluminar muitas tomadas de decisão! Thiago Teixeira Guimarães SUMÁRIO CAPÍTULO 01 ............................................................................................................. 1 PARADOXO: INATIVIDADE FÍSICA x EXCESSO DE EXERCÍCIO Thiago Teixeira Guimarães CAPÍTULO 02 ............................................................................................................. 6 TERMOS E DEFINIÇÕES PARA O EXCESSO DE EXERCÍCIO Thiago Teixeira Guimarães CAPÍTULO 03 ........................................................................................................... 13 PREVALÊNCIA Thiago Teixeira Guimarães CAPÍTULO 04 ........................................................................................................... 19 OVERTRAINING NO FISICULTURISMO Marcos Vinicios Craveiro de Amorim DOI: 10.35587/brj.ed.0001380 CAPÍTULO 05 ........................................................................................................... 32 OVERTRAINING NO AMBIENTE MILITAR Daniel Costa Alves da Silva DOI: 10.35587/brj.ed.0001381 CAPÍTULO 06 ........................................................................................................... 53 ORIGEM DO OVERTRAINING: SISTEMA IMUNE Patrícia Maria Lourenço Dutra Thiago Teixeira Guimarães DOI: 10.35587/brj.ed.0001382 CAPÍTULO 07 ........................................................................................................... 74 ORIGEM DO OVERTRAINING: ESTRESSE OXIDATIVO Wagner Santos Coelho DOI: 10.35587/brj.ed.0001383 CAPÍTULO 08 ........................................................................................................... 86 ORIGEM DA FADIGA AGUDA: CÉREBRO Thiago Teixeira Guimarães Thais Cevada DOI: 10.35587/brj.ed.0001384 CAPÍTULO 09 ......................................................................................................... 104 SINTOMAS CLÍNICOS DO EXCESSO DE EXERCÍCIOS Thiago Teixeira Guimarães CAPÍTULO 10 ......................................................................................................... 116 VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Ercole da Cruz Rubini DOI: 10.35587/brj.ed.0001385 CAPÍTULO 11 ......................................................................................................... 124 PERIODIZAÇÃO E ESTRATÉGIAS DE TREINAMENTO Elaine Cristina da Silva Pinto DOI: 10.35587/brj.ed.0001386 CAPÍTULO 12 ......................................................................................................... 155 TÓPICOS ESPECIAIS: METABOLÔMICA Ricardo Moreira Borges DOI: 10.35587/brj.ed.0001387 1 CAPÍTULO 01 PARADOXO: INATIVIDADE FÍSICA x EXCESSO DE EXERCÍCIO Thiago Teixeira Guimarães O engajamento em programas de exercícios físicos regulares e adequadamente orientados é reconhecido como determinante para a promoção e manutenção de saúde e qualidade de vida1; 2. Nos últimos anos, estudos vêm demonstrando que um estilo de vida moderadamente ativoestá associado à promoção da saúde e à prevenção de doenças1; 2; 3. Pessoas que praticam exercício físico por no mínimo 30 minutos, cinco dias por semana, em intensidade moderada podem reduzir em 14 % o surgimento de doença coronariana e em 20 %, no caso de 300 minutos por semana4. Embora a expectativa média de vida no mundo tenha aumentado, cada vez mais pessoas são acometidas por doenças crônicas não transmissíveis, como por exemplo, doenças cardiovasculares, diabetes, diversos tipos de câncer, transtornos mentais, dos ossos e das articulações5. Além de causarem sofrimento, dependência funcional, gastos intangíveis nos sistemas de saúde e redução da qualidade de vida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde6, essas doenças são responsáveis por 58,5 % de todas as mortes ocorridas no mundo. No Brasil, constituem o problema de saúde de maior magnitude, correspondendo a 72 % das causas de mortes e 75 % dos gastos com atenção à saúde no Sistema Único de Saúde7. A inatividade física figura como uma das principais causas atribuídas à mortalidade3. As consequências clínicas da inatividade física são apresentadas na Tabela 1. 2 Tabela 1. Doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes no mundo decorrentes da inatividade física. Condições gerais Condições específicas Canceres Câncer de mama, câncer de cólon, câncer de endométrio, câncer de próstata, câncer de pâncreas, melanoma. Doenças cardiovasculares Hipertensão, claudicação intermitente (dor nas pernas ao caminhar), angina de peito, adesão e agregação plaquetária, aterosclerose, trombose, doença arterial coronariana, infarto do miocárdio (ataque cardíaco), insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral. Condições gastrointestinais Motilidade intestinal reduzida, prisão de ventre. Alterações do sistema imunológico Disfunção imunológica, inflamação crônica. Condições metabólicas Obesidade, diabetes tipo 2, dislipidemia, (desregulação do metabolismo lipídico), hipercolesterolemia, síndrome metabólica, formação de cálculos biliares. Desordens musculoesqueléticas Dor lombar, osteoporose e fraturas relacionadas, osteoartrite, artrite reumatoide. Desordens neurológicas Distúrbios de aprendizagem e memória, disfunção cognitiva, demência, depressão, transtornos de humor e ansiedade, neurodegeneração (tal como ocorre na doença de Alzheimer, doença de Huntington e doença de Parkinson). Doenças pulmonares Asma, doença pulmonar obstrutiva crônica. Sarcopenia Perda de massa muscular relacionada à idade. Redução da qualidade de vida Fragilidade física, diminuição do bem-estar psicológico, diminuição da capacidade para realizar tarefas diárias e interações sociais, diminuição da capacidade funcional, redução da independência, diminuição da mobilidade, aumento da susceptibilidade ao estresse psicológico, tempo de reação prejudicado, piora do equilíbrio, flexibilidade e agilidade. Fonte: O autor. Por outro lado, pessoas que se exercitam dez vezes acima de 150 minutos semanais em intensidade moderada ou acima de 75 minutos semanais em intensidade vigorosa apresentam o mesmo risco de morte em relação a 3 pessoas pouco ativas fisicamente8. O exercício parece produzir benefícios à saúde em doses moderadas8. Ainda que o esforço intenso seja capaz de aperfeiçoar o desempenho e a saúde9; 10, cargas extenuantes de estresse físico e mental podem os comprometer. Atletas amadores, profissionais ou de recreação são frequentemente acometidos por desordens de origem metabólica, imunológica, neurológica, endócrina, cardiovascular, muscular e esquelética11; 12. A linha tênue entre prejuízos e benefícios de sucessivas sessões fatigantes de esforço não depende exclusivamente do entendimento de conceitos e princípios metodológicos do treinamento. O exercício físico pode apresentar uma relação paradoxal e sua prescrição consistente depende de uma melhor compreensão sobre seus mecanismos celulares11; 13; 14. 4 REFERÊNCIAS 1 FIUZA-LUCES, C. et al.,, Exercise is the real polypill. Physiology (Bethesda), v. 28, n. 5, p. 330-58, Sep 2013. ISSN 1548-9221. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23997192 >. 2 HEINONEN, I. et al.,, Organ-specific physiological responses to acute physical exercise and long-term training in humans. Physiology (Bethesda), v. 29, n. 6, p. 421-36, Nov 2014. ISSN 1548-9221. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25362636 >. 3 HALLAL, P. C. et al., Global physical activity levels: surveillance progress, pitfalls, and prospects. Lancet, v. 380, n. 9838, p. 247-57, Jul 2012. ISSN 1474- 547X. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22818937 >. 4 SATTELMAIR, J. et al., Dose response between physical activity and risk of coronary heart disease: a meta-analysis. Circulation, v. 124, n. 7, p. 789-95, Aug 2011. ISSN 1524-4539. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21810663 >. 5 HANDSCHIN, C.; SPIEGELMAN, B. M. The role of exercise and PGC1alpha in inflammation and chronic disease. Nature, v. 454, n. 7203, p. 463-9, Jul 2008. ISSN 1476-4687. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18650917 >. 6 ORGANIZATION, W. H. WORLD Health Organization: Non communicable Diseases (NCD) Country Profiles 2014. 7 SAÚDE, M. D. Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde 2011. 8 AREM, H. et al., Leisure time physical activity and mortality: a detailed pooled analysis of the dose-response relationship. JAMA Intern Med, v. 175, n. 6, p. 959-67, Jun 2015. ISSN 2168-6114. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25844730 >. 9 GOHIL, K.; BROOKS, G. A. Exercise tames the wild side of the Myc network: a hypothesis. Am J Physiol Endocrinol Metab, v. 303, n. 1, p. E18-30, Jul 2012. ISSN 1522-1555. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22535747 >. 10 SOBRAL-MONTEIRO-JUNIOR, R. et al., Is the "lactormone" a key-factor for exercise-related neuroplasticity? A hypothesis based on an alternative lactate neurobiological pathway. Med Hypotheses, v. 123, p. 63-66, Feb 2019. ISSN 1532- 2777. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30696595 >. 11 GUIMARÃES, T. T.; TERRA, R.; DUTRA, P. Chronic effects of exhausting exercise and overtraining on the immune response: Th1 and Th2 profile. Journal Motricidade, v. 13, n. 3, p. 69-78, 2017. 5 12 MEEUSEN, R. et al., Prevention, diagnosis, and treatment of the overtraining syndrome: joint consensus statement of the European College of Sport Science and the American College of Sports Medicine. Med Sci Sports Exerc, v. 45, n. 1, p. 186-205, Jan 2013. ISSN 1530-0315. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23247672 >. 13 CADEGIANI, F. A.; KATER, C. E. Novel insights of overtraining syndrome discovered from the EROS study. BMJ Open Sport Exerc Med, v. 5, n. 1, p. e000542, 2019. ISSN 2055-7647. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31297238 >. 14 GUIMARÃES, T. T. Paradoxo do exercício físico em excesso: linha tênue entre riscos e benefícios. Revista Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 6, n. 8,2016. 6 CAPÍTULO 02 TERMOS E DEFINIÇÕES PARA O EXCESSO DE EXERCÍCIO Thiago Teixeira Guimarães Desde anos antes de Cristo, especula-se que o excesso de exercício físico impacta negativamente o desempenho e saúde. Hipócrates, Platão e Aristóteles alertaram não apenas para as possíveis complicações deletérias da inatividade física, como também para a cultura da dor sem moderação, uma realidade observada desde a antiguidade1. Os antigos ideais gregos, incluindo os relacionados ao exercício e saúde, influenciaram a cultura ocidental moderna e desempenharam um papel importante na prática da higiene preventiva1;2. Passados alguns séculos, ainda não existe um consenso sobre a melhor forma de se definir e diagnosticar os sintomas e complicações da exaustão crônica provocada pelo excesso/acúmulo de estresse provocado pelo exercício físico e fatores associados2. Overtraining, síndrome do overtraining, overreaching (funcional e não funcional), síndrome inexplicável do baixo desempenho (unexplained under performance syndrome), síndrome de burnout, esgotamento físico e mental, exaustão, supertreinamento, sobretreinamento, síndrome da fadiga crônica, síndrome de descondicionamento paradoxal, estafa, lesão por esforço repetitivo, overuse, distress (oposto de eustress) e deficiência de energia relativa no esporte (RED- S) são termos recorrentes na literatura científica3; 4; 5. No senso comum parece prevalecer o paradigma de que apenas atletas de elite são suscetíveis aos sintomas da síndrome de overtraining. Porém o “descondicionamento paradoxal” não é uma exclusividade das ciências dos esportes e performance, e precisa ser repensado em outras áreas, sobretudo a da saúde6. Os sinais e sintomas que caracterizam a síndrome do overtraining são os transtornos de humor e ansiedade, depressão, apatia geral, instabilidade emocional, perda de apetite, distúrbio de sono, alterações hormonais, aumento da frequência cardíaca de repouso e aumento da vulnerabilidade a infecções e lesões, além de dores musculares e articulares7; 8; 9. Diferenças individuais no tempo de recuperação, capacidade de realizar e tolerar o esforço físico, além 7 de outros estímulos estressores não relacionados ao treinamento (sono, dieta, família, estudos, trabalho, lazer e outros) podem explicar porque cada praticante apresenta uma resposta diferente para uma mesma rotina ou planejamento de treinamento10. Uma importante definição de overtraining é o acúmulo de treinamento e/ou estresse sem treinamento que pode resultar, a longo prazo, no decréscimo da capacidade de desempenho, com ou sem sinais fisiológicos e psicológicos relacionados, além de sintomas de má adaptação, cuja restauração pode levar várias semanas ou meses3. Enquanto overtraining caracteriza um processo de treinamento intensificado, a expressão "síndrome" é utilizada para enfatizar a etiologia multifatorial de forma a reconhecer que o exercício (treinamento) não é necessariamente o único fator causal da síndrome11. Entretanto, o exercício físico, através de durações prolongadas, cargas extremas e/ou frequência elevada pode apresentar benefícios, caracterizando um paradoxo6; 12. Há uma linha tênue entre riscos e benefícios induzidos por excesso de exercício. Como benefícios potenciais, há praticantes que podem experimentar ativações no sistema límbico de recompensas cerebral, sensações de prazer e bem-estar, além de aumentos no gasto energético e reduções ou manutenções na distribuição da gordura corporal12; 13. Se a perturbação da homeostase for devidamente programada, monitorada e avaliada ao longo de um ciclo de treinamento, ainda que ocorra uma exaustão temporária induzida pelo excesso de treinamento, é possível reverter o status de esgotamento, recuperar a constância fisiológica interna e aprimorar o rendimento através da supercompensação de adaptações fisiológicas6. Overreaching é justamente a exaustão temporária seguida da supercompensação, porém, ao contrário do overtraining que requer meses, sua recuperação é relativamente fácil de ocorrer em curto prazo, entre uma a quatro semanas14, período conhecido como tapering ou polimento. Segundo o Colégio Europeu de Ciências do Esporte4, o overtraining pode ser resultado de dois estados diferenciados em relação ao desempenho: overreaching de curta duração, funcional, ou overreaching extremo, não- funcional. O estado funcional é caracterizado por uma queda rápida no desempenho seguido por uma eventual melhora, em um processo que se 8 assemelha à teoria da supercompensação de adaptações fisiológicas4. Ainda de acordo com o posicionamento, no estado não-funcional, a queda na performance tem recuperação mais prolongada. Normalmente, é acompanhada de fadiga e alterações bioquímicas, imunológicas, fisiológicas e comportamentais4. O estado não-funcional desencadearia a síndrome do overtraining, que por sua vez afetaria negativamente diversos sistemas biológicos, sendo de recuperação muito lenta4. Apesar dos inúmeros esforços para tentar classificar operacionalmente os diferentes termos, a distinção entre o overreaching não-funcional e a síndrome do overtraining é muito difícil e depende do resultado clínico e diagnóstico por exclusão3; 6. Ainda assim, de acordo com um comunicado especial publicado pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte e Colégio Europeu de Ciências do Esporte em 2013, não existe evidência científica para se confirmar ou refutar essa sugestão3. No Reino Unido, o termo síndrome inexplicável do baixo desempenho (unexplained under performance syndrome – UUPS) tem sido adotado, ao invés de síndrome do overtraining, para descrever um episódio de baixo desempenho com fadiga persistente, ou seja, má adaptação. Esse constructo, síndrome inexplicável do baixo desempenho, reflete a complexidade da síndrome, a etiologia multifatorial e o supertreinamento ou um desequilíbrio entre a carga de treinamento e a recuperação pode não ser a principal causa do desempenho insuficiente15. A Tabela 2 apresenta um resumo sobre as definições de termos e seus significados. 9 Tabela 1. Resumo de definições relacionadas ao excesso de exercício físico. Termos Definições Supertreinamento ou overtraining Processo de treinamento intensificado com possíveis resultados como overreaching funcional, overreaching não funcional ou síndrome do overtraining3. Overreaching funcional Após a intensificação do treinamento ocorre o decréscimo do desempenho em curto prazo. Através de duas a quatro semanas de recuperação a supercompensação fisiológica promove a melhora do condicionamento quando comparada ao início do treinamento3. Overreaching não funcional Overreaching extremo, quando o treino intensificado continua e a recuperação não é adequada. Há estagnação ou redução do desempenho, assim como o surgimento dos primeiros sinais e sintomas fisiológicos de estresse prolongado. São necessárias semanas ou meses para se recuperar3. Síndrome do overtraining Em uma linha do tempo a síndrome do overtraining ocorre após o overreaching não funcional. É considerada uma síndrome por ter etiologia multifatorial, ampla variação entre indivíduos, inespecificidade, anedótica, não se restringindo apenas às variáveis clássicas do treinamento físico (frequência, duração e intensidade das sessões). Há evidências sobre outros fatores causadores como o estresse mental, alimentação e sono inadequados, por exemplo3. Síndrome inexplicável do baixo desempenho (unexplained underperformance syndrome) Adotado no Reino Unido, ao invés de síndrome do overtraining, para descrever um episódio de baixo desempenho com fadiga persistente, ou seja, mal adaptação. Reflete a complexidade da síndrome, a etiologia multifatorial e o supertreinamento pode não ser a principal causa do desempenho insuficiente15. Polimento (tapering) Descanso ativo, onde o volume de treinamento é reduzido de 1 a 4 semanas antes do evento principal com o objetivo de se promover uma supercompensação de adaptações fisiológicas e, consequentemente, o desempenho14. Fonte: O autor. De uma forma geral, independentemente da definição operacional, diferentes causas têm sido associadas ao baixo desempenho: lesões musculoesqueléticas como traumas, tendinopatias e estresses ósseos; causas fisiológicas como sobrecarga funcional, alteração do ritmo biológico após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião (jet lag), sono insuficiente, gravidez, calor, frio, altitude,desidratação; infecções do trato respiratório superior e inferior, doença semelhante à gripe, diarreia/gastroenterite, febre, asma, alergias; deficiências nutricionais de 10 proteínas, carboidratos, minerais, vitaminas (por exemplo, D), deficiência de ferro (anemia), doença celíaca; outras condições como menorragia, abuso de anti-inflamatório não esteroidal, abuso de drogas, concussão, estresse mental, ansiedade e depressão15. É muito difícil determinar crenças e hábitos, baseando-se exclusivamente no tipo de conhecimento científico, compatíveis com o desenvolvimento do esgotamento físico e mental. Pode-se sugerir, a partir de observações empíricas, investigações futuras sobre alguns comportamentos e circunstâncias: • Temor do destreinamento; • Excesso de motivação e resiliência; • Vício pelo exercício; • Treinamento não periodizado; • Estresse mental; • Restrição dietética (ainda que com o treino em volume reduzido); • Restrição de sono (ainda que com o treino em volume reduzido); • Achar que todos reagem da mesma forma ao estresse; • Crer que apenas a inatividade física gera prejuízos; • Desconhecer os efeitos colaterais do exercício; • Excesso de confiança e soberba; • Drogas que mascaram a fadiga e exaustão; • Desconhecimento conceituais; • Negligência profissional; • Dismorfismo corporal e vigorexia; • Monotonia e strain (tensão) não monitorados; • Pressão de patrocinadores, treinadores e competições. 11 REFERÊNCIAS 1 ALBANIDIS, E. Exercise in Moderation. Health Perspective of Hellenic Antiquity. Nikephoros, v. 26, p. 33-62, 2013. 2 KLEISIARIS, C. 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Nadadores colegiais que completaram um ciclo de treinamento relataram uma prevalência média de 10 % (variação de 7 % a 21 %) de sinais e sintomas de overtraining2, mas outro estudo longitudinal com nadadores britânicos revelou que 29 % desenvolveram overtraining pelo menos uma vez, com o risco positivamente relacionado ao nível de habilidade3. Em um estudo com nadadores universitários dos Estados Unidos, verificou-se que 91 % da amostra que desenvolveu a síndrome do overtraining durante sua primeira temporada de treinamento colegial foi diagnosticada com a síndrome do overtraining novamente em um ou mais dos três anos seguintes de treinamento4. O excesso de exercício físico parece não acometer apenas atletas de alto rendimento. Com frequência, programas de condicionamento físico para pessoas que não objetivam a competição envolvendo exercícios de endurance, força e velocidade também provocam danos e efeitos colaterais agudos ou crônicos indesejáveis5; 6; 7. O estresse severo provocado pelo esforço físico no ambiente não competitivo também pode levar a complicações extremas, como no estudo de caso apresentado em 2011, durante o congresso anual do Colégio Americano de Medicina Esportiva 8. Três dias após uma sessão de exercícios intensos, baseada no método CrossFit®, um homem de 33 anos, previamente assintomático e fisicamente ativo, experimentou um quadro de rabdomiólise, síndrome grave que pode levar ao óbito e ocorre devido à morte das fibras musculares, que liberam seu conteúdo para a corrente sanguínea, provocando insuficiência renal aguda, letargia, fraqueza, náuseas e tontura, por exemplo8. 14 Entre crianças e adolescentes, o sucesso de jovens atletas pode ser definido por convites para competições nacionais ou internacionais, ou para bolsas de estudo. Apesar de apenas 0,02 % a 0,5 % dos atletas do ensino médio continuar a participar em nível profissional, o número de jovens atletas que se torna especialista em único esporte continua a crescer9. O aumento da dedicação a regimes intensos de treinamento apresenta desafios físicos, emocionais e cognitivos ao jovem atleta que podem colocar em risco a saúde geral9. Não é do nosso conhecimento a existência de dados na literatura que permitam uma discussão mais aprofundada sobrea epidemiologia do supertreinamento nessa população. Entre iniciantes, um dos tipos mais comuns de danos sofridos, através de observações empíricas, é a dor muscular de início tardio fora de controle. A dor muscular de início tardio é caracterizada como uma sensação de desconforto na musculatura esquelética, que ocorre algumas horas após o exercício físico, desencadeada por processo inflamatório a partir de sobrecargas não habituais1011. Especula-se que a dor seja um importante fator para reduzir a adesão ao exercício nessa população, contribuindo ainda mais para a inatividade física. No imaginário social entre treinadores e atletas de competição, o estado de supertreinamento, seus sinais e sintomas deletérios à saúde são condições não muito aceitas, afinal de contas, prevalece a cultura “no pain, no gain”. Além disso, o temor do destreinamento que acomete atletas e treinadores, resulta em contínua e precoce realização de sessões adicionais de treinamento físico estabelecendo condição inflamatória crônica semelhante à observada entre indivíduos obesos e em pacientes com diabetes melitus tipo 2 (DM-2), que configura as bases para o desenvolvimento da resistência à insulina e da disfunção do endotélio vascular12; 13. Apesar de controverso o assunto em função de dados ainda inconsistentes, o exercício de endurance praticado por pessoas com diferentes níveis de aptidão física pode induzir o remodelamento patológico de estruturas do coração e artérias adjacentes14. Maratonas, ultramaratonas, triátlons, corridas de bicicleta muito longas, podem causar sobrecarga aguda de volume nos átrios e ventrículo direito, com reduções transitórias na fração de ejeção do ventrículo direito e elevação de biomarcadores cardíacos. Cronicamente, o 15 estresse repetitivo pode resultar em fibrose do miocárdio, fibrilações e arritmias14. Embora haja evidências de que o exercício físico intenso possa promover o desempenho e a saúde15; 16, e seja considerado uma “polipílula”17 capaz de promover inúmeros benefícios biológicos e funcionais, não se pode descartar a existência de uma linha tênue entre seus riscos e benefícios. Existem efeitos colaterais, inclusive entre as populações mais frágeis fisicamente, ainda que estudos epidemiológicos sejam escassos. Sinais e sintomas de overtraining, rabdomiólise, dores e lesões musculoesqueléticas, síndrome da mulher atleta envolvendo distúrbios na alimentação, ciclo menstrual e densidade mineral óssea18, doenças crônicas não transmissíveis, infecções bacterianas e virais (doenças transmissíveis)19 são alguns exemplos de seus efeitos colaterais. Como exemplo de que sintomas de exaustão física e mental não acometem exclusivamente a população de atletas de alto rendimento, um estudo envolvendo 186 universitários de diversas áreas da saúde evidenciou que o grupo de insuficientemente ativos apresentou maior pontuação no Questionário de Sintomas Clínicos do Overtraining em relação aos grupos de moderadamente ativos e superativos6. Os autores sugerem que existem questões relacionadas ao desenvolvimento da síndrome do overtraining que não são justificadas exclusivamente pela frequência, intensidade, duração e o intervalo das sessões de exercício físico6. Dados ainda não publicados pelos mesmos autores, de dois diferentes estudos com universitários do curso de medicina e militares, respectivamente, revelaram resultados semelhantes. Existe ainda a recomendação de que pacientes com doenças neuromusculares de caráter crônico, progressivo e muitas vezes inexorável, necessitem de uma abordagem com enfoque no gerenciamento da fraqueza muscular, e não no incremento da força, para evitar o estado de overtraining20. Um programa de condicionamento ou treinamento físico, portanto, se mal gerenciado pode provocar sinais e sintomas de exaustão ou esgotamento físico e mental, lesões celulares e funcionais, redução da adesão ao exercício físico e, consequentemente, aumento das estatísticas de inatividade física e doenças crônicas não transmissíveis21; 22. A Tabela 3 apresenta um breve 16 comparativo entre os potenciais riscos e benefícios do exercício físico em excesso. Tabela 1. Paradoxo do exercício físico em excesso: linha tênue entre riscos e benefícios de durações prolongadas, intensidades extremas e/ou frequências elevadas21; 22. Benefícios potenciais Riscos potenciais Ativação do sistema límbico de recompensas do cérebro; Prazer, sensação de bem-estar; Aumento do gasto calórico, redução da gordura corporal; Overreaching funcional. Overreaching não funcional, síndrome do overtraining, lesões celulares e funcionais; Remodelamento patológico do coração e arritmias; Tríade da mulher atleta*; Perda de desempenho e saúde; Redução da adesão ao exercício e desenvolvimento ou agravamento de doenças transmissíveis e doenças crônicas não transmissíveis. *Para o Comitê Olímpico Internacional (consenso de 2014), o conceito “deficiência de energia relativa no esporte” (Relative Energy Deficiency in Sport – RED-S) seria mais adequado porque: (1) o fenômeno clínico não é exclusividade das três condições (tríade) decorrentes dos distúrbios na alimentação, ciclo menstrual e densidade mineral óssea; (2) trata-se de uma síndrome, algo mais complexo, que afeta múltiplos aspectos fisiológicos, psicológicos, da saúde física e mental, além do desempenho; (3) sua complexidade é tamanha que atletas de diferentes idades e do sexo masculino também podem ser acometidos23. Fonte: O autor. 17 REFERÊNCIAS 1 ARMSTRONG, L. E.; VANHEEST, J. L. 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INTRODUÇÃO De acordo com a definição descrita pela própria Federação Internacional de Fisiculturismo e Fitness (IFBB), trata-se de uma modalidade esportiva institucionalizada em que atletas treinam para desenvolver seus músculos com harmonia e equilíbrio, sendo necessário reduzir ao menor percentual de gordura corporal possível, assim como evitar a retenção hídrica subcutânea, para que se torne visível sua definição e volume muscular1. O Fisiculturismo, em inglês Bodybuilding, tem por finalidade a estética, sendo praticada em diversas categorias, onde os critérios e julgamentos subjetivos são: volume, simetria, proporção e definição muscular. Para que se atinjam tais objetivos, faz-se uso, principalmente, do treinamento de resistência1. Figuras 1 e 2 – Atletas de fisiculturismo premiados em competição promovida pela IFBB nas suas respectivas categorias. Fonte: Federação Internacional de Fisiculturismo e Fitness (http://ifbb.com) http://ifbb.com/ 20 A prática da musculação de forma recreativa, tão difundida e amplamente praticada pelas academias ao redor do mundo, também pode, obviamente, resultar no desenvolvimento muscular. Portanto, pode-se concluir que o Fisiculturismo é um degrau profissionalizado dentre os praticantes do treinamento de resistência e que seus assuntos pertinentes possuem alta relevância, não se tratando apenas de um nicho quando relacionado tal treino também à prática da musculação amadora. Neste capítulo, será explorada a preocupação exacerbada em relação à estética corporal, que representa a base do Fisiculturismo, através de estudos científicos sobre seus possíveis impactos na saúde da população. Brevemente, além disso, serão abordados seus fatores associados, como o estresse psicológico, personalidades que induzem autoimagem negativa, efeitos sobre a massa muscular e as reações fisiológicas aos exercícios desmedidos. Quanto ao Overtraining, a aderência entre a modalidade esportiva alvo deste capítulo e a síndrome vai além da crença de que os excessos de treinos resultam em melhores resultados. Ou seja, a errônea ultrapassagem da linha tênue entre benefícios e prejuízos não se dá somente pela busca em atingir um nível competitivo acima dos demais. 2. VIGOREXIA COMO PRECURSORA DO OVERTRAINING A imagem corporal representa a forma como uma pessoa pensa e sente sobre si mesma, sendo influenciada por inúmeros fatores que constroem valores emocionais acerca de suas próprias características físicas. Ao haver uma distorção da imagem corporal em um sentido negativo, enaltecendo, assim, sempre algum atributo físico que cause incômodo à pessoa, pode-se criar uma insatisfação corporal exacerbada2; 3. Esse excesso de preocupação incidindo em qualquer característica vista como algo negativo no corpo corresponde ao Transtorno Dismórfico Corporal. A Dismorfia Muscular, também conhecida como Vigorexia, apresenta-se, assim, como um subtipo, especificamente quando o alvo de insatisfação é a massa muscular e a gordura corporal. Pessoas com esse transtorno em particular adotam comportamentos sempre voltados a promover o físico desejado, como o exercício compulsivo e dieta restrita, podendo, inclusive, 21 submeterem-se também ao uso indiscriminado de esteroides anabolizantes. Com isso, o impacto em suas vidas pode afetar prejudicialmente a rotina social e ocupacional4; 5. Os sentimentos de baixa musculosidade em homens e suas consequências começaram a ser estudados há pouco mais de vinte anos, quando pesquisadores procuraram correlacionar o excesso de preocupação nesse aspecto e possíveis impactos na saúde. A maioria de suas conclusões aponta até hoje resultados maléficos significativos, onde essa condição faz com que a rotina diária dessas pessoas seja tomada por comportamentos que objetivam o crescimento e desenvolvimento muscular, como o treinamento de resistência, dieta rica em proteínas e uso de recursos ergogênicos ilícitos5; 6. Cabe ressaltar que existem parâmetros que incorrem sobre a composição corporal, regulados pela individualidade biológica. Mesmo que todo o potencial genético seja atingido, o desenvolvimento da massa muscular ainda pode não ser o suficiente para atender às expectativas. Sendo assim, um fisiculturista ou um praticante recreativo do treinamento de resistência pode almejar um físico que possivelmente jamais poderá ser atingido7; 8. Existem algumas investigações científicas voltadas a observar e interligar grupos de fisiculturistas e traços de preocupações obsessivas em manter um físico com predominância de Mesomorfia e baixo percentual de gordura corporal, representando o ápice do perfeccionismo em relação à estética. Um deles sublinhou que justamente praticantes desse esporte se sentem menores e mais fracos em relação a outros grupos, como praticantes Fitness, por exemplo, demonstrando maior prevalência de um complexo de inferioridade, mesmo que não represente a nítida realidade4. Ainda sobre esse estudo, não houve distinção no que diz respeito ao envolvimento em sessões intensivas de treinamentos na comparação de grupos de fisiculturistas e praticantes do treinamento de resistência recreativos. Assim, ambos os grupos são suscetíveis a experimentar emoçõesnegativas ao não alcançar o desenvolvimento muscular planejado e ansiedade ao expor essa suposta fragilidade em situações de contato social4. A baixa autoestima, menor atividade sexual e depressão podem também estar relacionados à Vigorexia2; 9. 22 A necessidade de alguns atributos são tradicionalmente impostos ao homem como parte de sua aceitação na sociedade. Força física e mental, competência e dominância são condicionantes para a afirmação de sua identidade. O exercício físico, sob essa ótica, só reforça ainda mais a busca por uma posição sólida de destaque social. O insucesso nessa afirmação pode criar comportamentos desesperados e compensatórios, como uma obsessão por desenvolver seus músculos6; 10. Corroborando com isso, outros estudos transcreveram que a adoção de exercícios físicos desmedidos e dietas restritas podem ser originadas por pressões socioculturais, uma vez que a boa forma é vinculada à autoestima e felicidade. A sociedade, com isso, cria um padrão de imagem corporal que é difundido através das relações interpessoais contemporâneas. Assim, a tecnologia faz com que cada vez mais pessoas sejam hipersensibilizadas por imagens com pessoas felizes e corpos perfeitos2; 11. Treinos com cargas elevadas e intervalos de recuperação curtos podem ocasionar fadiga extrema e perda de desempenho esportivo, quadro denominado Síndrome de Overtraining (SOT). Essa condição pode ser predita através de estados relacionados, o Overreaching Funcional e Overreaching Não Funcional, que se diferem, principalmente, no período de incidência dos sinais e sintomas e na restauração do desempenho12; 13, mesmo sendo difícil estabelecer uma definição inquestionável e limites precisos entre eles14. Volume e intensidade excessivos compondo as sessões de exercícios, o que exige grande demanda de energia, em junção com uma dieta voltada ao baixo aporte de calorias, dificultando a restauração fisiológica pós-treino, são atribuídos aos principais gatilhos da SOT. Os comportamentos são incompatíveis e acarretam respostas anormais do organismo12; 13. Uma das razões da dificuldade em notar características relativas à Vigorexia é que a preocupação das pessoas em praticar exercícios físicos e se engajar em uma dieta saudável pode ser vista como indicadores positivos de atenção com a saúde, sem perceberem os prejuízos que isso pode causar se submetidos de maneira obsessiva. Em decorrência de um sentimento de vergonha em relação à sua forma física, elas podem também buscar distanciamento social, o que dificulta ainda mais em se observar traços desse transtorno e sua influência negativa no bem-estar6. 23 O Questionário do Complexo de Adonis é amplamente utilizado como um instrumento de investigação da Vigorexia pela comunidade científica, já que possui validação para tal. Sua composição é direcionada a apontar, por exemplo, quanto tempo a pessoa se dedica a exercícios físicos para melhorar sua aparência, assim como possui questões sobre dieta restritiva e comportamentos que exprimem, possivelmente, fobia social2; 15. 3. ESTRESSE PSICOLÓGICO OCASIONADO PELA INSATISFAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE O estresse é comumente utilizado para manifestar emoções negativas, como irritação, descontentamento e fadiga. Na realidade, esse termo representa qualquer alteração psicológica e fisiológica em decorrência de ambientes desafiadores, como o contato social, por exemplo. Cabe ressaltar que as reações condizem com a individualidade de cada um, baseado na forma de interpretar determinadas situações16; 17; 18. A experiência estressante é uma situação corriqueira e tudo depende do controle que se exerce sobre suas consequências e reações. O estresse pode ser muito útil ao fornecer motivação e desafio no cumprimento de uma tarefa, enxergando-o pelo lado positivo. Em contrapartida, pode ser problemático se assimilado de maneira negativa perante exigências ambientais. Assim, a pessoa assume uma posição de elemento ativo ao eleger a melhor estratégia condizente à solução do problema16; 19. Em resposta ao estresse há uma estimulação neurofisiológica, na qual a pessoa fica em estado de atenção e vigília e interpreta a experiência com euforia ou fúria. Nesse sentido, o estímulo estressor é um fator preponderante na maneira em que a experiência é sucedida, porém nem sempre estímulos negativos provocam reações negativas. Na verdade, a base emocional irá determinar reações que exprimem desconforto ou não16; 20. Fisiologicamente, o estresse pode alterar de forma exacerbada as atividades do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal (HPA), o Sistema Nervoso Autônomo e o Sistema Imunológico, em que, possivelmente, podem ser observadas através de níveis hormonais, como, por exemplo, o Cortisol16; 21. 24 Outro hormônio sensível e que pode ter sua atividade basal alterada é a Testosterona22. O estresse pode ser mensurado de forma subjetiva, através de uma avaliação psicométrica, como a aplicação de questionários, ou objetivamente através de marcadores fisiológicos, obtidos em tecidos ou fluidos, como sangue, urina e saliva16; 21. Assim, a percepção de uma situação estressante pode depender da personalidade de cada pessoa, sendo diversas também em suas reações biológicas subsequentes. Portanto, identificar individualidades que provocam respostas fisiológicas excessivas pode ter importância na manutenção da saúde22. 4. PERSONALIDADES QUE INDUZEM AUTOIMAGEM NEGATIVA A personalidade determina padrões de comportamentos característicos para cada pessoa, sendo que algumas se mostram mais suscetíveis a sentimentos pessimistas. Alguns estudos foram desenvolvidos para identificar interações entre estímulos e respostas com a personalidade, no intuito de poder estimar o nível de estresse do ser humano16; 23. Alguns tipos de personalidade podem ao longo do tempo desenvolver um apoio psicológico capaz de suportar o estresse, por maior que ele seja, contornando-o ao lidar com positividade determinadas situações. Por outro lado, existem tipos que são mais vulneráveis e predispõem pessoas a apresentarem transtornos mentais e dificuldades em se adequar aos eventos desafiadores16; 24. Estudos objetivando avaliar respostas fisiológicas em decorrência de agentes estressores foram desenvolvidos, especificamente medindo o Cortisol e alterações cardiovasculares com individualidades comportamentais. Por exemplo, seus achados significativos associaram baixa autoestima com atividades hormonais adrenocorticotróficas anormais16; 25. A resposta ao Cortisol parece ser bem aceita pela ciência ao prever se um estímulo estressante causará ou não uma resposta desmedida. Fatores fisiológicos e estruturas encefálicas determinam o modo de pensar e agir do ser humano, indicando traços de personalidade que irão interagir com o 25 estresse e provocar respostas exageradas, ou não. Por exemplo, uma menor resposta ao Cortisol pode fazer com que a pessoa se sinta mais confiante e aceita socialmente. Já a alta reatividade pode provocar uma autopercepção negativa16; 26. 5. ESTRESSE PSICOLÓGICO E MASSA MUSCULAR Existe a correlação entre o excesso de estresse e a redução da massa corporal magra27; 28; 29, que tem como um de seus componentes a massa muscular, apesar de, a nível molecular, os mecanismos específicos responsáveis não estarem bem esclarecidos. Entre os efeitos desfavoráveis desses achados sobre o organismo seria um maior acúmulo de energia nos adipócitos e um enfraquecimento dos músculos, tornando-os mais suscetíveis à fadiga e lesão27. Um aumento na secreção de glicocorticoides pela glândula adrenal, em consequência de uma hiperatividade do eixo HPA, pode ocasionar em uma alteração na composição corporal, compondo um conjunto de fatores justamente em decorrência do estresse, apresentando-se, assim, como um moduladorneuroendócrino importante27; 28; 30. Reforçando, outros estudos também concluíram que o estresse prolongado pode incitar acúmulo de gordura abdominal, podendo, inclusive, desenvolver um quadro de obesidade e suas complicações associadas, como as doenças crônicas não transmissíveis28; 29. 6. REAÇÕES FISIOLÓGICAS AOS EXERCÍCIOS DESMEDIDOS Alguns mecanismos fisiológicos são instaurados para o início e manutenção do desempenho esportivo, em que são responsáveis por estimular fontes energéticas. No sistema endócrino, um deles eleva as concentrações séricas de hormônios, como Cortisol e Hormônio do Crescimento, metabolizando, respectivamente, Aminoácidos e Ácidos Graxos, possuindo uma função crucial no suporte à demanda de energia31. Em condições normais, os treinamentos de resistência que objetivam ganho de força e hipertrofia muscular, desenvolvidos para que sejam intensos 26 e densos, com intervalos de recuperação curtos, são os que mais elevam de forma aguda as concentrações do Cortisol, Hormônio do Crescimento e Testosterona31; 32. As lesões teciduais provocadas pela sobrecarga mecânica desses treinos induzem tais respostas hormonais responsáveis pelas adaptações fisiológicas. Esses hormônios anabólicos e catabólicos têm as funções de reparação, remodelamento e hipertrofia muscular, evolvendo processos de síntese e degradação do tecido proteico33; 34; 35. O Cortisol, especificamente, atua também como um anti-inflamatório31; 34. Assim, a atuação dos hormônios secretados prepara o tecido muscular para suportar gradativamente maiores cargas, aumentando a demanda metabólica33; 34. Essas respostas hormonais podem servir de parâmetro para medir a eficiência de um estímulo no processo de treinamento, sendo suas magnitudes diretamente proporcionais ao esforço físico exigido. Sua importância prática se orienta na readequação do estímulo caso sejam identificadas respostas agudas distintas das utilizadas como base e suficientemente necessárias para induzir o processo de adaptação fisiológica positiva, ou para observar o excesso31. Um dano estrutural na fibra muscular provido pelo exercício causa, inicialmente, um processo inflamatório, sendo que uma degeneração intensa no local pode permitir o extravazamento anormal de constituintes celulares para a corrente sanguínea33; 36. Assim, exercícios físicos extenuantes que incitam perda de integridade e acentuada lise do tecido muscular podem desencadear um quadro gravemente nocivo à saúde, como a insuficiência renal aguda, denominado Rabdomiólise37. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Fisiculturismo representa o ápice da busca pelo atributo estético dos atletas, associado à hipertrofia muscular e baixo percentual de gordura corporal. Esse esporte é difundido no mundo inteiro e desperta atenção também de grande parte da população que não possui o interesse de competição. Trata-se de pessoas que objetivam usufruir da consequente boa aparência física decorrente de treinamentos específicos, associando boa 27 imagem corporal com o sucesso pessoal. O problema ocorre quando há um exagero, tanto em relação à distorção da autoimagem, quanto à adesão em dietas excessivamente restritivas e exercícios desmedidos, mesmo o crescimento muscular estando submetido aos parâmetros da individualidade biológica. Esse quadro característico à Vigorexia pode ocasionar riscos à saúde e qualidade de vida dessas pessoas, referente, principalmente, ao alto nível de estresse psicológico em decorrência do seu descontentamento quanto à aparência física. A literatura aponta fatores ambientais atrelados, como a busca pela aceitação social. No âmbito biológico, esse agente perturbador, o estresse, quando exacerbado, pode impactar também a composição corporal através da redução da massa magra, sendo prejudicial à própria busca incessante pelo desenvolvimento muscular. Além disso, respostas fisiológicas podem resultar em um recorrente estado de atenção e vigília, baseado na mobilização de substratos energéticos oriundos também do catabolismo do tecido proteico, sobretudo concomitante aos treinos extenuantes e dietas restritas, como consequências. A adesão ao treinamento sem o devido controle de suas tantas variáveis para que haja a necessária adaptação fisiológica gradativa estaria relacionada à consequente dor muscular e dano tecidual, que, em casos extremos, representam efeitos maléficos ao organismo. Seja no esporte ou na prática recreativa de exercícios, a sobrecarga não deve exceder limites. 28 REFERÊNCIAS 1. 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