Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 4 ÉTICA E RELAÇÕES INTERPESSOAIS Prof. Adriano Antonio Faria 2 INTRODUÇÃO Enunciando a ética como conhecimento maior do seu valor e importância na sociedade moderna Esta aula tem a ética como assunto vinculando-se ao conceito de valor, ética e valor na sociedade, e quanto ao conhecimento, habilidades e atitudes, valores e experiências que compõem o campo da ética como objetivo para descrição. TEMA 1 – O QUE É VALOR Este tema apresenta o conceito de valor fornecendo informações sobre os valores da sociedade contemporânea e a adoção de valores como escolha individual de conduta. Valores como coragem, honestidade e generosidade, ao expressarem ideais de conduta são reconhecidos pela comunidade, associados a situações e formas específicas de comportamento, uma linguagem que tem sentido quando fazemos referência ao sistema de normas de uma comunidade (Giusti, 2007). Ainda que o uso do termo valores possa ser impreciso com referência a uma ampla variedade de aspectos de avaliação moral, ele é designando originalmente como “o conjunto de comportamentos exemplares concretos, aqueles perfis de excelência moral relacionados ao ideal de vida de uma comunidade, mas estilizado na forma de um catálogo de conceitos normativos” (Giusti, 2007, p. 29). 1.1 Os valores na sociedade contemporânea Questões que se referem a uma crise de valores no mundo incluem a necessidade de investigar parâmetros normativos tradicionais que apoiaram a hierarquia de comportamentos na sociedade (Giusti, 2007). Assim, Covey (2014), mostra três valores centrais na vida das pessoas: a experiência, a criação e a atitude, esta última como resposta dos momentos difíceis, e considerada como uma atitude com o maior valor, no sentido paradigmático. Desse modo, importa como reagimos às experiências da vida, a forma de ver o mundo e o conhecimento de si, em uma perspectiva que poderá refletir aos valores inerentes à atitude humana, que enobrece a pessoa. 3 Relacionado à organização, o valor é conhecido como “uma crença básica sobre o que é importante ou relevante para a organização, aquilo que ela espera que se deva ou não fazer” (Chiavenato, 2014, p. 57). A prioridade no respeito aos valores são as pessoas como ativo mais importante, e o cliente em sua razão, funcionando como padrões para as empresas que orientam o comportamento das pessoas em seu cotidiano, colocando-as em primeiro lugar (Chiavenato, 2014). 1.2 Adotando valores para uma boa conduta Todas as pessoas possuem dentro de sua cabeça os mapas conceituais que indicam o modo sobre como são as coisas, além daqueles baseados na realidade, no modo como as coisas deveriam ser ou dos valores e princípios, estes últimos, fundamentos sólidos. As experiências humanas são interpretadas com base nesses mapas mentais, tendo nossas atitudes e comportamentos a partir desses pressupostos, pois é a forma como vemos o mundo que serve de inspiração para os pensamentos e as ações (Covey, 2014). As virtudes são consideradas hábitos de comportamento que se moldam ao perfil que o sistema de valores estabelece. Cabe às pessoas tornarem seus os valores, adotarem a maneira habitual de conduzir na vida como uma atitude pessoal e comprometida tradicionalmente associada ao conceito de virtude (Giusti, 2007). O desenvolvimento de um potencial que aprimore os talentos humanos vincula-se ao princípio do crescimento, que inclui o processo de desenvolvimento de talentos e do exercício do potencial e aqueles que servem de base: princípios da paciência, educação e encorajamento. Visto assim, os princípios não são valores, mas servem como verdades fundamentais, com aplicação universal e quando interiorizadas, conferem às pessoas a força para criar práticas capazes de lidar com situações diversas (Covey, 2014). De fato, “quando valorizamos os princípios corretos, temos a verdade – o conhecimento das coisas como elas são. Os princípios são guias para a conduta humana [...] Eles são indiscutíveis, pois em sua essência são claros” (Covey, 2014, p. 18). 4 TEMA 2 – VALORES E ÉTICA O Tema 2, que traz os valores e a ética, pode mostrar que esses dois termos já haviam sido abordados na história da ética. Quando do estudo sobre o bem como algo relativo, Protágoras (334 a.C.), afirmara quanto aos valores, que se o homem é a causa de todos os valores e se o que a todos parece ser verdade, a convivência terá que se basear em um acordo e consenso. O símile do paciente, que tem percepções diferentes do homem normal, pode sugerir que nem todas as opiniões têm o mesmo valor, e que, assim como o médico, acredita-se que o paciente recupere as sensações normais do homem saudável, portanto o sábio pode corrigir e ensinar aos outros as melhores e mais úteis opiniões para a convivência. Nesse sentido, poder-se-ia falar de uma opinião correta, que seria a correta do que outros, mais ingênuos, chamam de verdade objetiva. (Gual, 2007, p. 50) Essa afirmação de Protágoras, para a ética e a política de valores, indicou que o princípio do bem se aplica a todos, e tem alcance universal, com a ressalva de que não é absoluto, no entanto (Gual, 2007). Sartre já registrara que o homem, “enquanto agente moral, postula valores. O homem é aquele através do qual os valores chegam ao mundo”, pois fornecer as normas as quais o homem deve seguir não é atribuição da história evolutiva ou da constituição do cérebro (Kirsch, 1996, p. 20). A ética, no entanto, postula valores, é normativa e se fundamenta na ordem dos fatos; necessita de uma autoridade incontestável: a da vontade divina, ou da razão, porque a natureza, em si não é normativa (Kirsch, 1996). Salienta Ferraz (2014, p. 42) que “não há valores absolutos, sendo que cada povo engendra os seus. Tampouco haveria, para os sofistas, uma justificação objetiva para valores morais”. A ética, no entanto, sempre buscará oferecer um fundamento objetivo para os valores morais, conforme a história da filosofia e da ética de Sócrates, Platão e Aristóteles, que marcou a imagem dos sofistas para a história, com a preocupação que eles tinham apenas com as aparências e para a ilusão, e não com a realidade do mundo (Ferraz, 2014). 2.1 A interação entre valores e comportamento Em escritos de Aristóteles, há razão para o homem possuir a palavra como sinal de dor e prazer, para expressar o conveniente e o danoso, o justo e o injusto, sendo atribuído somente ao homem o sentido do bem e do mal. A referência aos valores feita nesta intepretação – o bem e o mal, o justo e o injusto – são, “entre 5 outros, os fios que encadeiam e constituem o social” (Lledó, 2007, p. 199), valores são ditos em logos, e vinculam o comportamento prático às diretrizes originadas por um ciclo ideal que as ordena e sistematiza. Trata-se daquilo que se entende como o bem comum descrito como o paradigma da ética do bem comum e apontado como um sistema de virtudes, sendo que estas mostram o lado subjetivo dessa existência de valores, o que implica em compromisso pelos indivíduos, que “tenham uma atitude de adesão, apoio com convicção, assimilação comprometida desses valores até que se tornem traços de caráter ou personalidade” (Giusti, 2007, p. 30). Essa formação de caráter acompanha o indivíduo em sua vivência cotidiana e também em suas atividades laborais ou profissionais. Leciona Chiavenato (2003) que as organizações sociais surgiram como uma necessidade de as pessoas se relacionarem entre si, de modo a realizar seus próprios objetivos. O comportamento no âmbito de tais organizações é determinado pelo papel que cada um desempenha, mediado pela internalização dos valores e das normas sociais que um grupo estabelece para o indivíduo. 2.2 A possibilidade de escolher as próprias ações e as decisões De modo natural, o homem é dotado da capacidade de escolha, porque é inteligente edetêm as condições sobre o comportamento que deseja adotar, o que deve falar e a forma de proceder em diferentes eventos de sua vida. À ética compete avaliar a conduta do homem, a forma de agir, o padrão comportamental decorrente de valores existentes por ser humano (Silva et al., 2016). Considerando que ao homem é dada a propriedade de escolha, observamos as ponderações de Kirsch (1996), de que a sobrevivência humana não indica a adoção de lições de ética dadas pela natureza, porquanto dela só podemos esperar lições de vida, e a oportunidade de desmitificar algumas crenças que carregamos denunciando ilusões e compreendendo os enganos. Kirsch (1996, p. 27) afirma que “todas as sociedades, todas as produções culturais e todos os valores éticos são produto de organismos biológicos modelados pela sua história e pelas necessidades de adaptação”. O homem já não pode desprezar a ideia de que o surgimento da socialidade e das normas éticas de comportamento consiste em um processo inscrito na história natural, o que não caracteriza a cultura e a ética senão como epifenômenos da constituição biológica e dos imperativos das imposições biológicas. 6 Uma maneira de regulação do comportamento social humano e de conferir uma estrutura normativa às escolhas éticas que realizamos consiste em acatar as orientações a partir de bases novas e justificáveis (Kirsch, 1996). É competência da ética cuidar dos valores e das realizações humanas, quando uma pessoa com caráter “poderá escolar com base na sua decisão, considerando a liberdade e as situações que comprometem os seus atos” (Trindade, 2016, p. 83). TEMA 3 – CONHECIMENTOS, HABILIDADES E ATITUDES – A TÉCNICA C.H.A. O Tema 3 disserta sobre o C.H.A. (Figura 1) e a interpretação de que “as competências são entregas sustentadas por capacidades. [...] Essas capacidades, que com frequência são utilizadas como sinônimo de competências, incluem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores” (Fernandes, 2013, p. 92). Figura 1 – Atributos de competência Crédito: ogichobanov/Shutterstock. O objetivo deste tema é definir essas capacidades – conhecimento, habilidades e atitudes – destacando que as competências possibilitam pensar a gestão das pessoas nas organizações. 7 3.1 Apresentando o conhecimento Afirmando que conhecimento não é dado como um conjunto de fatos distintos e objetivos, e nem informação compreendida como uma mensagem, geralmente expressa sob a forma de um documento ou uma comunicação audível ou visível, Davenport (2003, p. 6) assim aponta o conhecimento: Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. A análise deste conceito mostra o conhecimento como uma mistura de vários elementos: fluido, estruturado, intuitivo, se encontra dentro das pessoas, do conjunto de complexidade e imprevisibilidade humanas (Davenport, 2003). Exclusivo pela criação pelos indivíduos, o conhecimento não pode ser criado por uma organização sem as pessoas que trabalham nela, de modo que ao se tratar de conhecimento organizacional, o processo de amplificação de conhecimento criado pelos indivíduos se concretiza ao nível de grupo, por meio de diálogo, compartilhamento de experiências e disseminação do conhecimento, fazendo sentido na comunidade de prática (Takeuchi; Nonaka, 2008). A cada dia, o conhecimento se constitui como um ponto de apoio à sobrevivência de pessoas, sociedade e empresas, o que implica na necessidade da aprendizagem organizacional, que possam gerenciar mudanças a seu favor. O conhecimento e o potencial humano criam condição para as organizações aprenderem como um elemento fundamental para a criação de vantagem competitiva (Chiavenato, 2014). Pensar em um ativo como algo definível e concreto mostra quanto é difícil identificar ativos do conhecimento. Takeuchi e Nonaka (2008) comentam acerca das contradições, inconsistências e dilemas, dualidades e polaridades, dicotomias e oposições inerentes ao conhecimento, situando-o em sua formação dois componentes dicotômicos opostos: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito, com a seguinte redação: O conhecimento explícito pode ser expresso em palavras, números ou sons, e compartilhado na forma de dados, fórmulas científicas, recursos visuais, fitas de áudio, especificações de produtos ou manuais. O conhecimento explícito pode ser rapidamente transmitido aos indivíduos, formal e sistematicamente. O conhecimento tácito, por outro lado, não é 8 facilmente visível e explicável. Pelo contrário, é altamente pessoal e difícil de formalizar, tornando-se de comunicação e compartilhamento dificultoso. As intuições e os palpites subjetivos estão sob a rubrica do conhecimento tácito. O conhecimento tácito está profundamente enraizado nas ações e na experiência corporal do indivíduo, assim como nos ideais, valores ou emoções que ele incorpora. O conhecimento se tornou mais importante que o dinheiro e saber aplicá- lo e usá-lo de maneira rentável significa torná-lo útil e produtivo, como uma grande responsabilidade gerencial, em razão dos avanços do capital humano e do capital intelectual como ativos da organização (Takeuchi; Nonaka, 2008). 3.2 As habilidades e atitudes – conceitos Kanaane (1994 citado por Fernandes, 2013, p. 93), entende que “s atitude resulta de valores, crenças, sentimentos, pensamentos, cognições e tendências à reação, referentes a determinado objeto, pessoa ou situação, sendo uma predisposição interior, que é anterior ao comportamento”. Fernandes (2013), interpreta as atitudes em elementos como perseverança, confiança, comprometimento, pela predisposição em relação a alguma coisa, além de ética e integridade, como valores. Chiavenato (2003), por sua vez, indica as ações humanas como atitudes desenvolvidas a partir do contato entre pessoas e grupos, influenciando e sendo influenciados pelas normas existentes nessas relações. Sobre o conceito de habilidades, um indivíduo ou um profissional que foi treinado em uma determinada tarefa, se torna experiente e capacitado; ao exercitar continuamente as atividades, lapida as suas habilidades. Assim, a habilidade consiste na capacidade que cada profissional tem de fluir e aplicar os seus conhecimentos e experiências em cada ação, tarefa, atividade, procedimento, conduta ou decisões, necessárias ao perfeito funcionamento e encaminhamento dos negócios e destinos da empresa sob sua responsabilidade. (Ruffini, 2013, p. 181) Inclui ainda o dom particular de cada um, ou que adquire no exercício das atividades, que torna o indivíduo capaz de manter-se ativo durante o dia laboral, “de forma leve, direta, rápida, aplicada, eficiente, eficaz, efetiva, produtiva, criativa, inovadora e com qualidade, deixando-o seguro de si em cada passo ou tomada de decisão que dará na empresa” (Ruffini, 2013, p. 181). Nas lições de Chiavenato, as habilidades do indivíduo podem ser apresentadas assim: 9 1. habilidade técnica: envolve o uso de conhecimento especializado e facilidade na execução de técnicas relacionadas ao trabalho e sua realização; 2. habilidade humana: tem relação com o trabalho das pessoas e com a facilidade de relacionamento interpessoal e grupal, envolvendo a capacidade de comunicar, motivar, coordenar, liderar e resolver conflitos pessoais; 3. habilidade conceitual: faz referência à visão da organização e à facilidade de trabalhar com conceitos e ideias; está relacionada com o pensar, raciocinar, elaborar diagnóstico das situações e formulação de alternativaspara a solução de problemas (Chiavenato, 2003). TEMA 4 – CHAVE DA COMPETÊNCIA PROFISSIONAL: CONHECIMENTOS, HABILIDADES, ATITUDES, VALORES E EXPERIÊNCIAS – C.H.A.V.E. No Tema 4, o objetivo é apresentar sucintamente os conceitos dos termos que compõem o título e a sigla C.H.A.V.E. como fator importante da competência profissional. Uma organização depende da aplicação de conhecimentos e habilidades das pessoas para a geração de riqueza, sendo que os valores e as crenças se caracterizam como diretrizes conscientes influenciadoras do modo de trabalho da empresa (Fernandes, 2013). 4.1 O conjunto da competência O termo competência foi inicialmente apresentado por White (1959), orientando-se pela descrição do Webster, sugerindo que os diversos comportamentos apresentam interação efetiva com o meio ambiente. Assim, competência significa aptidão ou habilidade, e os sinônimos sugeridos incluem habilidade, capacidade, eficiência, proficiência e habilidade. Portanto, é uma palavra adequada para descrever coisas como agarrar e explorar, rastejar e andar, atenção e percepção, linguagem e pensamento, manipular e mudar o ambiente, tudo isso promove uma interação efetiva – competente – com o ambiente. (White, 1959, p. 318) Para Rubin (2012), o conceito de competências é mostrado como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, o denominado C.H.A., confirmando que o indivíduo competente possui esse conjunto de aptidões humanas e estas o revelam com alto desempenho, especialmente com base na inteligência e personalidade humanas. 10 De acordo com Chiavenato (2014, p. 126), a competência consiste em saber agir de modo responsável e que isto seja reconhecido pelo outro, tendo como base as três dimensões já apontadas: “conhecimentos, habilidades e atitudes, associadas aos aspectos cognitivos, técnicos, sociais e afetivos”. Se caracteriza ainda como uma mudança na atitude social do indivíduo, em sua atuação no trabalho e na comunidade na qual se insere. Sobre as competências individuais, Fernandes (2013, p. 83) as define como “um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que um indivíduo mobiliza e aplica, de forma reiterada, dentro de um contexto profissional, agregando valor à organização e a si mesmo”. Segundo White (1959), o amadurecimento do indivíduo desempenha um papel nesse desenvolvimento, porém esse papel é ofuscado pelo aprendizado em todas as realizações mais complexas, como fala ou manipulação habilidosa. Argumenta sobre a necessidade de fazer da competência um conceito motivacional, afirmando que existe motivação de competência, e assim como competência em seu sentido mais familiar de capacidade alcançada. Exemplificando: “O comportamento que leva à construção de agarrar, manusear e soltar objetos não é um comportamento aleatório produzido por um transbordamento geral de energia. Ele é direcionado, seletivo e persistente, e continua porque satisfaz uma necessidade intrínseca de lidar com o ambiente” (White, 1959, p. 318). Para Fernandes (2003), o conceito de competência denominado C.H.A., ou seja, conhecimentos, habilidades e atitudes, envolve o agrupamento desses atributos correlacionados, que afeta a atividade de uma pessoa, e caracterizam os pré-requisitos necessários a uma atuação competente. 4.2 No que consiste a competência profissional O desenvolvimento de qualquer competência organizacional requer vinculação com as pessoas, porque compreende o modo de gestão, inspiração, desenvolvimento e recompensa de pessoas, considerando-as como a alma da competência da organização. “São elas que ‘vão atrás’ de novas tecnologias, de processos, de recursos, como laboratórios, recursos financeiros; e são elas também que inspiram, recompensam e atraem profissionais para alavancar a atividade inovadora na empresa” (Fernandes, 2013, p. 27). 11 Chiavenato (2014, p.3), mostra que as pessoas são parceiras da organização e fornecem conhecimento, habilidades, competências e inteligência, possibilitando decisões racionais e imprimindo significado e rumo aos objetivos. “As pessoas constituem parte integrante do capital intelectual da organização”. Para Fernandes (2013, p. 38), “o conceito de competências organizacionais provê insights [...], compreender o lado intangível das organizações ou o assim chamado capital intelectual, que, de alguma forma, está imbricado nas competências que uma organização possui”, e guardam estreita relação com sua cultura, atreladas aos seus valores e crenças. Já o conceito de competência organizacional em sua relação com a articulação de recursos geradores de vantagem competitiva para a organização é apresentado como o “conjunto de recursos articulados que geram valor para a organização são difíceis de imitar, podem ser transferidos a outras áreas, produtos ou serviços da organização, e impactam o desempenho organizacional em um fator-chave de sucesso (FCS)” (Fernandes, 2013, p. 42-3). TEMA 5 – ÉTICA DENTRO DO CONCEITO DE C.H.A.V.E. Seguindo as orientações feitas por Aristóteles, A melhor maneira de viver não é excluir as emoções do nosso comportamento, mas expressá-las com clareza, mas na medida certa. [...] as virtudes são uma maneira inteligente e medida de processar emoções. Aqueles que agem moralmente o fazem comprometendo seus afetos e aderindo aos valores com o compromisso de toda a sua personalidade (Giusti, 2007, p. 30). Retomando a ética pregada por Aristóteles, o indivíduo não alcança a felicidade se estiver isolado da sociedade, mas é no convívio humano com seus pares, no agir humano. Neste espaço, o homem mostra sua virtude pela prática, exercício e hábito, desenvolvimento em um contexto social e ético, porque é a ação que torna o homem virtuoso (Ferraz, 2014). É assim também que o comportamento modifica o caráter, porque o indivíduo poderá se tornar justo ao praticar ações justas; temperado, se agir com temperança; corajoso, se realizar atos de coragem. São as disposições permanentes do caráter constituídas por meio de ações que são praticadas em situações passíveis de obter resultados contraditórios, o que confirma os ensinamentos de Aristóteles, de que os resultados opostos “[...] são oriundos das 12 escolhas que um sujeito pode fazer diante de uma situação concreta. E tais escolhas são muitas vezes difíceis” (Ferraz, 2014, p. 57). 5.1 Composição da C.H.A.V.E. A C.H.A.V.E. possui os atributos inerentes ao caráter e forma de ser do homem: conhecimento, habilidades, atitudes, valores e experiências, assim descritos: 1. conhecimento: entendido como conceito básico; na abordagem tradicional, o conhecimento é adquirido pelo sujeito à medida que as crenças são verdadeiras e quando a condição de justificação o satisfaz. A constituição do conhecimento é feita pelas componentes crenças, verdade e justificação, uma abordagem sustentada pelos pressupostos que o conceito de conhecimento é analisável em conceitos constituintes mais simples; que assume que o homem possui conhecimento ao se encontrar em um estado híbrido, constituído em parte pelo estado de sua mente e em parte pelo estado do mundo (O’Brien, 2013). 2. habilidades: “É o saber fazer. Significa utilizar e aplicar o conhecimento para resolver problemas ou situações ou criar e inovar. Em outras palavras, é a transformação do conhecimento em resultado” (Chiavenato, 2014, p. 47). 3. atitudes: são definidas como “um grau de sentimento positivo ou negativo associado a um objeto psicológico”, como uma predisposição com relação a algo, com possibilidade de identificar questões atinentes ao estado de disposição da pessoa, e de como saber agir (Fernandes, 2013, p. 93). Para Ferraz (2014, p. 143), quanto à atitude, a justiça se caracteriza como virtude soberana, de modo que o justo a ser seguido “é aquilo que está em conformidade com a lei positiva civil. Esse seriao primeiro princípio da filosofia moral. [...] O fundamento da lei natural é exatamente este: buscar pela paz. Essa é uma regra geral da razão que nos proíbe de tomar atitudes e decisões que destruam nossa vida”. 4. valores: “A ideia é que não há verdades éticas objetivas porque diferentes culturas têm valores éticos diferentes” (O’Brien, 2013, p. 247). Valores e crenças, de acordo com Davenport (2003, p. 9), “são partes integrantes do conhecimento, pois determinam, em grande medida, aquilo que o conhecedor vê, absorve e conclui a partir de suas observações. Pessoas 13 com diferentes valores ‘veem’ diferentes coisas numa mesma situação e organizam seu conhecimento em função de seus valores”. 5. experiências: o desenvolvimento do conhecimento ocorre ao longo do tempo por meio da experiência, absorvida em cursos, livros, estudos, mentores e em aprendizado informal; refere-se a tudo o que o sujeito fez e o que lhe aconteceu no passado. O conhecimento oriundo da experiência reconhece padrões familiares e possibilita a inter-relação entre aquilo que ocorre no momento e eventos já vividos; transforma as ideias sobre o que deve acontecer, em conhecimento daquilo que efetivamente acontece (Davenport, 2003). Sobre a ética e os valores e experiências da C.H.A.V.E., salienta Ferraz (2014, p. 14), que “a ética é oriunda de uma reflexão sobre nossas experiências concretas, da busca por sua legitimidade e objetivo”. Consoante a esta descrição e considerando o conceito de competências, esses insumos ou atributos que compõem o C.H.A.V.E. confirmam que “a pessoa que dispõe de conhecimentos adequados, habilidades trabalhadas, atitudes favoráveis, e valores alinhados aos da organização na qual se insere está propensa a entregar as competências relacionadas” (Fernandes, 2013, p. 95). 5.2 Ética e tolerância no âmbito de valores Afirma Ferraz (2014, p. 23), que a ética tem como direção os princípios relacionados ao bem e ao mal e que permitem ajuizar moralmente pessoas e ações. Eventualmente, tais princípios podem ter conotação universal, e em algumas culturas democráticas prezam valores como a liberdade e a igualdade, considerados universais, os chamados direitos humanos. “Muitos princípios subsumíveis àqueles dois princípios e, consolidados nos costumes, serviram de parâmetro para a instituição de códigos legais, sejam princípios, sejam regras/lei”. Se houver presença excessiva de emoções na defesa dos valores, este excesso pode levar ao fundamentalismo, dogmatismo e fanatismo, um perigo de intolerância trazido pelas emoções que deve ser evitado, tomando-se a decisão racional, como resultado de análise sobre as causas e as consequências da livre ação de todos (Giusti, 2007). Questionando como agir com tolerância diante do que devemos ser tolerantes ou não, e qual deve ser o limite para este comportamento, Tubino (2007, p. 82), assim explanou: A tolerância é, portanto, uma virtude que emana de um processo formativo, uma disposição característica que se adquire ao longo do 14 tempo. Não prospera em empatia ou constrói em semelhança. Tolerar é mais do que ‘suportar’, não é colocar os próprios valores e crenças como condição absoluta de convivência com o outro. É aprender que a autonomia do outro é o limite da nossa e que, além disso, ambas as autonomias podem e devem construir juntas um ‘outro curso do mundo’ (Tubino, 2007, p. 82) Comportamento, atitudes, crenças e valores de um indivíduo têm como base a cultura existente nos grupos aos quais pertence. A capacidade de criar invenções sociais, como organizações participativas, pode aproveitar as energias do ser humano para o uso construtivo da sociedade. Ao mudar o comportamento das pessoas e as relações que possuem para aceitarem e se respeitarem de modo recíproco, pode ocorrer uma mudança social positiva à vivência confortável de todos (Chiavenato, 2003). 15 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, l. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. COVEY, S. R. Os 7 hábitos de pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Best Seller, 2014. DAVENPORT, T. H. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FERRAZ, C. A. Elementos de ética. Pelotas: NEPFIL, 2014. FERNANDES, B. H. R. Gestão estratégica de pessoas com foco em competência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. GIUSTI, M. Introdución: el sentido de lá ética. In: GIUSTI, M.; TUBINO, F. (ed.). Debates de la ética contemporánea. Peru: Pontificia Universidad Católica del Perú, 2007. p. 13-42. GUAL, C. G. Los sofistas y Sócrates. In: CAMPS, V. (ed.). Historia de la ética: 1. De los griegos al renacimiento. Barcelona: Editorial Crítica, 2007. p. 35-79. KIRSCH, M. Introdução. In: CHANGEUX, J-P. (dir.). Fundamentos naturais da ética. Portugal: Instituto Piaget, 1996.p.11-27. LLEDÓ, E. Aristóteles y la ética de la polis. In: CAMPS, V. (ed.). Historia de la ética: 1. De los griegos al renacimiento. Barcelona: Editorial Crítica, 2007. p. 136- 208. O’BRIEN, D. Introdução à teoria do conhecimento. Lisboa: Gradiva Publicações, 2013. RUBIN, C. B. Gestão por competência: livro digital. Palhoça: UnisulVirtual, 2012. RUFFINI, J. C. A educação e a gestão empresarial. In: MOCSÁNYI, D.; SITA, M. Consultoria empresarial: os melhores consultores do Brasil apresentam casos práticos e seus benefícios após trabalhos profissionais notáveis. São Paulo: Editora Ser Mais, 2013. p. 177-83. 16 SILVA, B. A. A. et al. Ética e saúde. In: GONÇALVES, J. R. et al. Ética geral e profissional: ensaios e reflexões. Brasília: Processus, 2016. p. 22-9. TAKEUCHI, H.; NONAKA, I. Criação e dialética do conhecimento. In: TAKEUCHI, I. (org.). Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008. p. 17-38. TRINDADE, K. R. F. A importância da ética para os profissionais contábeis. In: GONÇALVES, J. R. et al. (org.). Ética geral e profissional: ensaios e reflexões. Brasília: Processus, 2016. p. 81-107. TUBINO, F. Presentación. In: GIUSTI, M.; TUBINO, F. (ed.). Debates de la ética contemporánea. Peru: Pontificia Universidad Católica del Perú, 2007. p. 9-12. WHITE, R. W. Motivation reconsidered: the concept of competence. Psychological Review, n. 66, p. 297-333, 1959.
Compartilhar