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Estruturas de Mercado e Tomada de Decisão Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Bruno Leonardo Silva Tardelli Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Concorrência perfeita • Introdução • A estrutura de mercado de concorrência perfeita • O objetivo da empresa • O objetivo da empresa e a concorrência perfeita • A maximização de lucro no curto prazo sob concorrência perfeita • A curva de oferta da empresa no curto prazo • A maximização de lucro da empresa no longo prazo • O equilíbrio competitivo de longo prazo • Considerações finais O objetivo desta Unidade é: · Apresentar o problema de maximização de lucros para qualquer estrutura de mercado, bem como apresentar a escolha da empresa em concorrência perfeita nos prazos curto e longo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, serão discutidos os aspectos gerais da estrutura de mercado conhecida como concorrência perfeita, tanto no curto quanto no longo prazo. Também será abordada a maximização de lucro dessa estrutura. Para melhor exposição do tema, diversas curvas de receita e custos foram caracterizadas. Assim, diante da complexidade do assunto, realize todas as atividades propostas para obter o máximo de sucesso. ORIENTAÇÕES Concorrência perfeita UNIDADE Concorrência perfeita Contextualização “Moça bonita não paga, mas também não leva.” Fonte: iStock / Getty Images A famosa frase acima é usada para fazer as freguesas rirem e tentar conquistá- las, pois, na verdade, existe um preço a ser pago. E qual será? Esse é um dos temas centrais desta unidade. Em um mercado onde existem vários agentes econômicos envolvidos – como em feiras de verduras e legumes – os vários vendedores e compradores se misturam ao colorido dos produtos. Na feira, em meio ao emaranhado de pessoas, cada um dos personagens envolvidos pode ser tão pequeno a ponto permanecer despercebido, mas, em conjunto, formarão o preço de cada um dos bens vendidos. 6 7 Introdução Esta Unidade trata da primeira estrutura de mercado que normalmente se aprende na Teoria Microeconômica: a Concorrência Perfeita. Entretanto, antes de iniciar este estudo, é necessário entender o que é uma estrutura de mercado. O mercado de qualquer bem possui algumas características marcantes, que podem existir em alguma região e em outras não. Essas características determinam a estrutura na qual o bem está inserido. Envolvem, por exemplo, o número de empresas que atuam no mercado, a capacidade de criar algum poder de mercado para impor preços ou a quantidade produzida no mercado, a possibilidade de obter lucro extraordinário ou se o produto é diferenciado ou não. A estrutura de mercado de concorrência perfeita Um dos tipos clássicos de estrutura de mercado é a concorrência perfeita. Para caracterizar um mercado como estrutura de concorrência perfeita, normalmente, este deve seguir as seguintes características: 1) Mercado atomizado; 2) Ausência de barreiras à entrada; 3) Produtos homogêneos. O mercado ser atomizado significa que cada uma das empresas atuantes no mercado e cada um dos compradores não possuem capacidade, individualmente, de afetar o mercado. Assim, cada agente econômico posiciona-se apenas como um átomo no mercado. A característica de ausência de barreiras à entrada diz respeito ao fato de não existir qualquer fator que impeça a entrada de um produtor ou vendedor no mercado. Um exemplo contrário a isto, até para elucidar melhor a questão, é quando o aporte financeiro iniciar as atividades for muito elevado, de modo que isto evite a entrada de alguns participantes. No caso da concorrência perfeita, este ou qualquer outro tipo de impedimento, não existe. Por fim, o fato de o produto ser homogêneo expressa que todos os concorrentes do mercado fornecem produto de mesma qualidade. Um exemplo mais próximo disto poderia ser de ambulantes que vendem fone de ouvido ou pen drive de mesma marca e modelo. Outra situação poderia ser o de uma feira livre, em que vários feirantes poderiam vender a mesma verdura ou legume em bancas distintas. Entretanto, é muito difícil encontrar um mercado com a estrutura exata de uma concorrência perfeita, de modo que os exemplos buscam aqueles mercados os quais, normalmente, mais se aproximam desta. 7 UNIDADE Concorrência perfeita O objetivo da empresa Se algum dia alguém já lhe perguntou qual o objetivo principal das empresas, a resposta de que buscam lucro seria a mais aceitável na Teoria Microeconômica. A empresa pode possuir vários objetivos, mas o fim sempre seria o mesmo, o lucro. Entretanto, para a Teoria Microeconômica, o objetivo das firmas não é um lucro qualquer, mas sim o máximo de lucro possível. Apesar da presente Unidade se referir à estrutura de mercado de concorrência perfeita, qualquer forma outra terá por finalidade a maximização de lucro. A obtenção de lucro, basicamente, passa pela expressão: π = RT - CT em que π é o lucro, RT é a receita total e CT é o custo total. A partir disto, fica a pergunta: como se pode atingir o objetivo de maximização de lucro? Para começar tal análise, observe o seguinte raciocínio. Imagine que, a cada unidade de um bem que você produza e venda, sempre receba o mesmo valor a mais – por exemplo, se o preço de mercado de cada abacaxi é $5, então você sempre receberá $5 a cada abacaxi produzido e vendido, de modo que a receita adicional de cada abacaxi produzido e vendido é $5. Por outro lado, sabe-se que à medida que se produz unidades a mais de um bem, no curto prazo, o custo de cada unidade adicional cai, inicialmente e, posteriormente, eleva-se. Isso se deve ao fato da curva de custo marginal ter formato de U – por conta da lei dos rendimentos decrescentes. Assim, chegar-se-á a um ponto no qual a receita adicional de um produto a mais que se esteja vendendo – $5, pelo exemplo – poderá ser inferior ao seu custo, de modo a não continuar valer a pena uma produção adicional. Esse raciocínio simples é a chave do entendimento desta Unidade. A receita adicional proveniente de uma unidade a mais que é produzida chama-se Receita Marginal (RMg) e o custo adicional de uma unidade a mais produzida é o Custo Marginal (CMg). Assim, a linha de entendimento técnico é que, enquanto RMg for maior que CMg, valerá a pena para a empresa continuar produzindo. Como CMg irá se elevar após um patamar de produção, então compensará para a empresa gerar bens até o momento em que a receita marginal (RMg) for igual ao custo marginal (CMg), ou seja, até enquanto se puder tirar alguma vantagem da atividade da empresa. Quando o CMg superar o RMg, cada unidade a mais que é produzida, somente reduzirá o lucro da empresa, até poder, em determinado ponto, gerar prejuízo. Portanto, a quantidade produzida que irá gerar a maximização de lucro de qualquer empresa será o ponto em que a receita marginal é igual ao custo marginal. 8 9 Condição de Maximização de Lucro em qualquer Estrutura de Mercado: Receita Marginal (RMg) = Custo Marginal (CMg) O lucro de uma empresa por si só pode ser apresentado da seguinte forma: π = RT - CT Em que RT é a receita total e CT é o custo total. Entretanto, a receita total (RT) de uma empresa depende da quantidade de bens que produzir e vender, como também do preço que for cobrado de cada unidade. Assim, RT = PxQ, em que P é o preço e Q a quantidade vendida. Ou seja, π = PxQ - CT Como o objetivo da firma não é somente lucro, mas o máximo de lucro, busca- se produzir a quantidade que possibilite a maior distância entre receita total e custo total, para obter este maior lucro possível. E é a partir de RMg = CMg que se obtém o resultado da referida quantidade ótima a ser produzida. Conceitos Fundamentais Tabela 1 – Receita Marginal, Custo Marginal e Custos Médios Definição Função Receita Marginal Quanto varia a receita quando o nível de produção aumenta. RMg = ∆q ∆RT Receita Total É igual ao preço de mercado multiplicado pelo número de unidades vendidas. RT= P x Q Custo Total É o custo econômico total da produção, consistindo em custos fixos e variáveis. CT = CF + CV Lucro É receita total menos custo total. π = RT- CT Custo Marginal É o aumento no custo resultante da produção de uma unidade adicional de produto. CMg = ∆q ∆CT Custo Total Médio É o custo total da empresa dividido pela quantidade produzida. CTMe = q CT Custo Fixo Médio É o custo fixo dividido pela quantidade produzida. CFMe = q CF Custo Variável Médio É o custo variável dividido pela quantidade produzida. CVMe = q CV Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 198 a 199 e 242). 9 UNIDADE Concorrência perfeita O objetivo da empresa e a concorrência perfeita Conforme explicitado no início da Unidade, a empresa que convive em um mercado que opera sob concorrência perfeita é vista como um átomo no mercado. Se as forças de oferta e demanda, convencionalmente, determinam o preço de um bem, individualmente, um produtor qualquer não consegue fazê-lo. Assim, este deve seguir a determinação de preço fornecida pela interação entre os agentes econômicos como um todo. Observe! Na estrutura de concorrência perfeita, o produtor é somente mais um agente econômico. Este toma como dado o preço de mercado, de modo que existem duas curvas de demanda: a demanda em relação a um produtor e/ou vendedor individual e a demanda que os consumidores possuem em relação ao mercado (setor) como um todo. A partir disto, observe os Gráficos 1.a e 1.b que trazem um exemplo extraído de Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 243). O Gráfico 1.a representa a curva de demanda por bushels de trigo de uma empresa qualquer (representada por d) e o Gráfico 1.b mostra a demanda de todo com relação ao setor como um todo (representada por D). Gráfico 1 – Demanda da empresa e demanda do setor Fonte: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2010, p.243). O Gráfico 1.b informa que a quantidade demandada de mercado aumenta conforme o preço do bem diminui (segue a Lei da Demanda) e o preço de mercado – $4, pelo exemplo – seria definido na comunhão entre a oferta e a demanda. No Gráfico 1.a, verifica-se uma reta horizontal. Mas, o que seria esta reta horizontal? Veja: Se a reta é horizontal, significa que nos infinitos pontos ao longo dela, ao preço de mercado de $4, a quantidade demandada dos consumidores por este produtor pode ser de 0 a um número muito elevado. Isso é óbvio, pois em função dos produtos neste mercado serem homogêneos, os consumidores não distinguem 10 11 os vendedores, o que gera um resultado aleatório. Ou seja, em um determinado período, os produtores podem ter quantidades demandadas distintas entre eles, pois os consumidores seriam indiferentes entre eles e, por sorte, alguns podem ter quantidade demandada superior a outros. Entretanto, duas situações surgem: 1. Produtor define o preço acima do mercado: se isto ocorrer, nenhum consumidor desejará comprar a mercadoria deste produtor. 2. Produtor define o preço abaixo do mercado: se isto ocorrer, todos os consumidores desejarão comprar a mercadoria deste produtor. Por essa característica, diz-se que a curva de demanda em relação a um produtor individual é perfeitamente elástica, pois qualquer desvio de preço em relação ao mercado geraria uma enxurrada de compradores ou uma debandada geral. A maximização de lucro no curto prazo sob concorrência perfeita A regra de determinação da quantidade produzida que é maximizadora de lucro de uma empresa é dada por RMg = CMg, conforme explicado anteriormente. Entretanto, para o caso da concorrência perfeita uma igualdade adicional é válida: RMg = CMg = P, em que P é o preço do bem no setor. A pergunta no ar é: Por quê? Observe. A receita marginal é o quanto a empresa recebe por uma unidade adicional de bem que é vendido. Entretanto, sob concorrência perfeita, o preço do bem é independente da quantidade que é ofertada por um produtor individual e demandada deste. Assim, a cada unidade que é vendida, o que o produtor receberá é exatamente o preço do bem no mercado. Por exemplo, se o preço de um bem é $38 no mercado, a cada unidade vendida, a receita é de $38, ou seja, a RMg é $38, de modo que RMg = P. Como no ponto de maximização de lucro a RMg = CMg, então sob concorrência perfeita será válido que: Receita Marginal (RMg) = Custo Marginal (CMg) = Preço de Mercado (P) A partir disso, analise a Tabela 2. Esta contém informações sobre alguns possíveis níveis de produção de uma empresa: a receita marginal (RMg) em cada nível e seus respectivos custos, o custo fixo total (CF), o custo variável total (CV), o custo total (CT), o custo marginal (CMg), o custo fixo médio (CFMe), o custo variável médio (CVMe) e o custo total médio (CTMe). 11 UNIDADE Concorrência perfeita Tabela 2 - Receitas, Custos e Níveis de Produção de uma empresa Nível de produção (unidades por ano) Custo fixo (unidades por ano) Custo variável ($ por ano) Custo total ($ por ano) Custo marginal ($ por unidade) Receita Marginal Custo fixo médio ($ por unidade) Custo variável médio ($ por unidade) Custo total médio ($ por unidade) Lucro Total ($)($ por unidade) CF CV CT CMg RMg CFMe CVMe CTMe π 0 50 0 50 - - - - - -50 1 50 50 100 50 38 50 50 100 -62 2 50 78 128 28 38 25 39 64 -52 3 50 98 148 20 38 16,7 32,7 49,3 -34 4 50 112 162 14 38 12,5 28 40,5 -10 5 50 130 180 18 38 10 26 36 10 6 50 150 200 20 38 8,3 25 33,3 28 7 50 175 225 25 38 7,1 25 32,1 41 8 50 204 254 29 38 6,3 25,5 31,8 50 9 50 242 292 38 38 5,6 26,9 32,4 50 10 50 300 350 58 38 5 30 35 30 11 50 385 435 85 38 4,5 35 39,5 -17 Fonte: Adaptado de Pindick e Rubinfeld (2010, p. 199). Observe, na Tabela 2, os seguintes pontos: a) O nível de produção se eleva de um em um, ou seja, a variação de cada nível (∆Q) é de 1; b) O Custo fixo total (CF) é constante, mas o custo fixo médio diminui a cada nível produtivo (em função de diluir à medida que a quantidade produzida for maior); c) Inicialmente, o custo marginal (CMg) diminui – em função do produto marginal do fator de produção variável (normalmente se utiliza o trabalho) ser crescente. Posteriormente, quando o produto marginal do fator variável diminui, o custo marginal (CMg) se eleva. d) O custo variável médio se aproxima cada vez mais do custo total médio pelo fato de o custo médio fixo se diluir e ser cada vez menos relevante por unidade produtiva. e) Por fim, verifica-se que a receita marginal é constante e é dada pelo preço de mercado do bem que está sendo produzido. 12 13 Na Tabela 2, é possível identificar que, no intervalo de 0 a 4 unidades produzidas, a empresa apresenta prejuízo. Entretanto, a partir da 5ª unidade, a empresa possui lucro, que se mantém crescente até a 9ª unidade. Nesta unidade, o lucro apresenta seu ponto de máximo, e, após esta unidade apresenta queda de resultado, até culminar em prejuízo a partir da 11ª unidade. Pode-se observar que no ponto de lucro máximo, a RMg é igual ao CMg, conforme já previsto anteriormente. Enquanto CMg estiver abaixo da RMg, ainda é interessante produzir, pois ainda existe espaço para lucrar. A condição de CMg = RMg define a quantidade maximizadora de lucros, de modo que qualquer produção adicional somente reduzirá o lucro, até poder gerar prejuízo. O Gráfico 2 apresenta um exemplo com o desenho das curvas, envolvendo a receita marginal e alguns tipos de custo. Observe que a curva de CMg passa pela RMg duas vezes. Entretanto, a primeira vez que cruza a reta da RMg é apenas o momento em que o CMg deixa de ser superior à RMg. Para além desse ponto existem muitas unidades a serem produzidas com CMg < RMg – o que pode gerar resultados positivos para a empresa. O intervalo virtuoso chega ao máximo quando a empresa tiver RMg = CMg, pois já extraiu toda a vantagem que poderia obter nas unidades anteriores, ou seja, enquanto o CMg se apresentava como inferior à RMg. No caso da estrutura de concorrência perfeita, como CMg = RMg = P, então a produçãodeve cessar quando o custo marginal (CMg) superar o preço de mercado do bem (P). Quando o CMg > RMg, cada unidade adicional de produto tem custo superior à receita proveniente de cada unidade, de modo que só irá reduzir o lucro total da empresa. O segmento AB mostra o quanto o preço de mercado (P) é superior ao custo total de cada unidade produzida (CTMe). O segmento DA apresenta o nível de produção q*. Assim, a multiplicação do que “sobra” entre o custo total médio de produção (CTMe) e o preço (AB) pela quantidade q* mostra o lucro da empresa. Na representação do gráfico 2, o lucro é representado pela área retangular ABCD. Gráfico 2 – Exemplo de maximização de lucro em uma empresa competitiva Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 245)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010). 13 UNIDADE Concorrência perfeita Uma situação possível é o nível de produção em que o custo marginal (CMg) está igual ao preço de mercado, posicionado em um ponto no qual o custo total médio de produção é superior ao preço de mercado. O que isto implica? Significa que a empresa está vendendo a um preço inferior ao custo de produção por unidade (CTMe), ou seja, P< CTMe. Entretanto, o Gráfico 3, que apresenta tal situação, mostra o exemplo, em que o preço, apesar de inferior ao CTMe, é superior ao custo variável médio (CVMe). Como o CTMe = CVMe + CFMe, o preço de mercado está sendo suficiente para cobrir o CVMe, mas não para cobrir o custo fixo médio (CFMe). Ou seja, isso implica, por exemplo, que a empresa é capaz de assumir totalmente custos variáveis, como matérias-primas, mas não conseguiria cobrir integralmente os custos fixos, como o aluguel do galpão da fábrica. Caso fosse suficiente para cobrir ambos, P seria maior que CTMe. A partir do Gráfico 3, o segmento AB apresenta a distância entre o custo total e o preço de venda de cada produto quando a empresa produz q* unidades (representadas pelo segmento DA). Assim, o prejuízo total da empresa seria a área retangular formada por ABCD. Diante disso, portanto, vem a seguinte pergunta: a empresa deveria continuar a ofertar produtos ao mercado? A resposta é: no curto prazo sim, pois, mesmo que tenha prejuízos de curto prazo vinculados ao fato de não conseguir honrar todos os compromissos de custos fixos, a empresa pode ter a expectativa de recuperar os resultados no longo prazo. A questão é que a desistência em função de um mal resultado que comprometa apenas a cobertura dos custos fixos poderia tornar muito custosa a volta da empresa ao mesmo mercado, pois muitos custos, como, por exemplo, de rescisão de contratos de todos os funcionários, seriam gerados. Gráfico 3 – Exemplo de preços abaixo do custo total médio (CTMe) Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 246)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010). 14 15 Entretanto, se o preço estivesse abaixo do CVMe, isto significa que a empresa estará tendo prejuízo ao produzir. Assim, a receita obtida com cada unidade produzida e vendida – que é o seu preço de mercado –, não seria suficiente para cobrir até mesmo os custos variáveis, como a matéria-prima envolvida na produção de cada unidade, por exemplo. Caso isso esteja ocorrendo, a empresa deveria abandonar o setor mesmo no curto prazo. Em resumo, “[...] a empresa deve fechar se o preço de seu produto é menor do que o custo variável médio de produção no nível que maximiza seu lucro.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 246). A curva da oferta da empresa no curto prazo Agora que está definida a condição de maximização de lucro da empresa envolvida num mercado com concorrência perfeita, deve-se entender qual será a curva de oferta individual desta empresa. Quando se observa a formação de preço em um mercado, ele se daria tradicionalmente no ponto em que a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Entretanto, uma empresa, individualmente, poderá não ter interesse em ofertar. Essa situação foi elucidada anteriormente, em que a empresa fechará, caso o custo variável médio estiver abaixo do preço de mercado do bem envolvido. É uma regra válida no curto prazo e no longo prazo. Outra observação a ser levantada é sobre o ponto de maximização de lucros da empresa competitiva. A empresa envolvida em um mercado sob concorrência perfeita estará maximizando o lucro quando P = CMg. Assim, à medida que o preço de mercado oscila, a empresa acompanha a quantidade ofertada, baseando-se nos pontos de cruzamento entre a linha de preços e a curva de custo marginal (CMg). Assim, no curto prazo, a oferta da empresa estará associada à igualdade entre P = CMg, mas, quando o P < CVMe, a empresa não ofertará qualquer quantidade ao mercado. O menor preço pelo qual a empresa exibe algum interesse em produzir é quando o preço de mercado iguala-se ao CVMe mínimo. O nível de produção associado ao CVMe mínimo é encontrado no ponto de cruzamento entre a curva de CVMe e a curva de CMg. Portanto, a representação gráfica da curva de oferta será iniciada quando o preço for pelo menos igual ao CVMe mínimo. O Gráfico 4 apresenta a curva de oferta de curto prazo ao longo da curva de CMg a partir do CVMe mínimo. 15 UNIDADE Concorrência perfeita Gráfico 4 – Oferta da empresa individual no curto prazo Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 249)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010). A maximização de lucro da empresa no longo prazo A empresa buscará maximizar o lucro tanto no curto quanto no longo prazo. A diferença entre os períodos, é que no longo prazo todos os fatores de produção podem ser ajustados, incluindo a possibilidade de expansão na planta industrial e a entrada de outras empresas no setor. No longo prazo, a empresa não aceitará ofertar a um preço inferior ao custo médio total de produção. No caso do curto prazo, a empresa até aceitaria algum prejuízo proveniente da incapacidade de cobrir custos fixos no nível de produção ótima, mas no longo prazo, a permanência da empresa no setor dependerá de P ≥ CTMe no nível de produção maximizador de lucro. Para entendimento completo do equilíbrio de longo prazo sob concorrência perfeita é preciso analisar a transição entre o curto e o longo prazo. Para tal, apresenta-se o exemplo do Gráfico 5. Uma consideração inicial a ser feita é que este apresenta o custo médio total como CMe, e não CTMe, como foi desenvolvido ao longo da Unidade. 16 17 Gráfico 5 – Exemplo de oferta de uma empresa competitiva no longo prazo Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 257)/ Fernando e Ivonn Quijano (2010). O Gráfico 5 mostra duas situações aos preços de mercado igual a $40: 1. O nível de produção ótimo no curto prazo, em que o preço de mercado ($40) é igual ao custo marginal de curto prazo (P = CMgCP), que é representado por q1. 2. O nível de produção ótimo no longo prazo, em que o preço de mercado ($40) é igual ao custo marginal de longo prazo (P = CMgLP), que é representado por q3. A pergunta recorrente é: qual o motivo de a curva de CMgCP ser distinta da CMgLP? A resposta para tal questionamento passa por entender que no longo prazo a empresa possui ampla capacidade de flexibilização de fatores de produção. Para tratar da redução ou aumento de custos à medida que o nível de produção varia, utilizam-se os conceitos de economias e deseconomias de escala. Importante! Conceitos de Economias e Deseconomias de Escala De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2010, p. 215): • Economias de Escala: para se dobrar o produto é necessário que os custos menos que dobrem. • Deseconomias de Escala: para se dobrar o produto é necessário que os custos mais que dobrem. Importante! A partir do Gráfico 5, é possível identificar que, quando o custo marginal de longo prazo (CMgLP) cai, o custo médio de longo prazo (CMeLP) também se reduz, conforme se produz mais unidades. Isto implica que a empresa está passando por economias de escala. Ao produzir mais, a empresa estaria sendo capaz de produzir mais com uma quantidade de insumos que não precisaria aumentar na mesma 17 UNIDADE Concorrência perfeitaproporção, de modo que os custos também não iriam elevar na mesma proporção. Por outro lado, a existência de economias de escala possuiria um limite, que seria no ponto, no qual o custo médio de longo prazo (CMeLP) chega ao seu mínimo, situado no nível de produção q2. A partir deste ponto, o CMeLP aumenta, implicando que os custos estão aumentando em um ritmo superior ao nível de produção. Assim, a empresa estaria passando por um intervalo de deseconomias de escala, a partir da produção de q2 unidades. O equilíbrio competitivo de longo prazo No caso dos mercados sob concorrência perfeita, apesar das características inerentes a esta, como a ausência de barreiras à entrada, mercado atomizado e homogeneidade dos bens, algumas empresas podem ter algumas vantagens no curto prazo. Uma das razões para isto seria a possibilidade de serem pioneiras do setor, de modo que, como as demais ainda estão fora do mercado, ou se ajustando para estarem no mesmo patamar, esta empresa poderá ter algum lucro acima do normal, chamado lucro extraordinário. A possibilidade de obtenção de lucro extraordinário está elucidada no gráfico 5 nas quantidades q1 e q3, nos quais o preço maximizador de lucro foi superior ao custo médio total (CTMe). De fato, você ainda pode estar um pouco confuso em relação ao que seria este lucro extraordinário. Para tentar esclarecer melhor, é necessário entender o conceito de lucro econômico, a partir de custos econômicos. Os custos econômicos envolvem “[...] custos que uma empresa tem para utilizar recursos econômicos, incluindo os custos de oportunidade.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 194). Estes custos estão envolvidos no cálculo do lucro econômico. Partindo da equação: π = RT - CT Em que o custo total (CT) envolve o custo com os fatores de produção envolvidos na produção, por exemplo, trabalho e capital, a equação de lucro econômico no longo prazo pode ser representada por: π = RT - wT - rK Na qual: T é o número total de trabalhadores; K é o número de unidades de capital investidos na empresa; w é o salário por trabalhador; r é a taxa de uso do capital por cada unidade de recurso investida na empresa. 18 19 A parcela rK da equação anterior representa o montante que poderia ser obtido caso o recurso estivesse em algum outro tipo de mercado, por exemplo, aplicado em algum título bancário, que, portanto, renderia juros e seria uma oportunidade de ganho. Ter lucro econômico para o exemplo apresentado em que se tem apenas dois tipos de fatores de produção (trabalho e capital) implica que, além de cobrir os gastos com os salários dos trabalhadores, seria necessário que a receita total também cobrisse o valor o qual a empresa poderia ganhar, em outro tipo de investimento, caso esta não existisse. Em um caso especial, se o lucro econômico é zero, não significa que a empresa está tendo lucro contábil igual a zero, pois o lucro contábil, a partir de dois fatores de produção (capital e trabalho), levaria em consideração o gasto com os trabalhadores e com a depreciação dos recursos investidos, e não incluiria, portanto, os custos econômicos. O lucro econômico será zero “[...] quando uma empresa obtém um retorno normal sobre os investimentos, ou seja, quando tem um resultado tão bom quanto teria se investisse os mesmos recursos em outra atividade.” (PINDYCK e RUBINFELD, 2010, p. 257). Quando o lucro econômico é zero, não existe lucro extraordinário no mercado analisado, pois se está apenas obtendo um retorno normal, ou seja, somente o retorno médio que os demais mercados também possuem. Agora que o entendimento do conceito de lucro extraordinário foi resolvido e, também, aproveitou-se para ser apresentado o conceito de lucro econômico, bem como a exposição do caso especial, no qual o lucro econômico é zero, coloca-se a seguinte afirmação: no longo prazo espera-se uma situação de equilíbrio em que o lucro econômico é zero. Mas, por que será que isso acontece? Observe o raciocínio a seguir. Partindo do exemplo do gráfico 5, a quantidade produzida no curto prazo ao preço de mercado de $40, será q1. No longo prazo, ao preço de $40, a empresa teria condições de ajustar todos os fatores de produção, de modo a estar sob a curva de custo marginal (CMgLP) e curva de custo médio (CMeLP), nas quais os custos são menores. Ao preço de mercado de $40, o custo marginal de longo prazo (CMgLP) seria igual ao preço de mercado no nível de produção q3 e a empresa teria algum lucro econômico e, portanto, teria lucro extraordinário pelo fato do preço de mercado estar acima do custo médio total de longo prazo (CMeLP). Entretanto, a possibilidade de obter lucro econômico, faz com que empresas de outros setores migrem para este mercado com lucro extraordinário. Com a formação de novas empresas para o setor que está sendo analisado, o preço de mercado tende a reduzir, pois a quantidade ofertada será maior. As empresas irão se formar neste mercado enquanto houver possibilidade de obtenção de lucro extraordinário. Chegará a um ponto, que o preço de mercado será somente o preço que se iguala ao CMeLP, no qual o nível de produção maximizador de lucro é q2, de modo que não existirá mais possibilidade de lucro econômico, como havia no curto prazo, representado pelo retângulo ABCD. 19 UNIDADE Concorrência perfeita Considerações FInais Nesta Unidade, foi possível entender as características gerais da estrutura de mercado de concorrência perfeita, e como é desenvolvida a obtenção do objetivo de maximização de lucro sob esta estrutura, tanto no curto como no longo prazo. 20 21 Material Complementar Livros Para ter maior aprofundamento matemático sobre o assunto de Concorrência Perfeita, você poderá consultar o livro Manual de Microeconomia, de Vasconcellos, Oliveira e Barbieri (2011). 21 UNIDADE Concorrência perfeita Referências PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. VASCONCELLOS, M. A. S.; OLIVEIRA, R. G.; BARBIERI, F. Manual de Microeconomia. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011. VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios Básicos. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005. 22