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Autoria: Ma. Anay Cardoso Miranda Revisão técnica: Ma. Rita de Cássia Eleutério De Moraes SEMÂNTICA DA LÍNGUA INGLESA CONHECENDO A PRAGMÁTICA Introdução Prezado Estudante, esta unidade apresenta o conceito de Pragmática sob a fundamentação teórica de George Yule e de outros teóricos da linguagem a �m de fazer com que você possa compreender os aspectos sociais da estrutura do discurso. Vamos também conhecer os conceitos de gênero, usos e formas de produção textuais como voz do sujeito. Para nortear nossos estudos, buscamos compreender os aspectos sociais, discursivos e as plurissigni�cações de diferentes gêneros em contextos de fala e de escrita, bem como na análise de situações comunicativas diversas. No decorrer de nossos estudos sobre Pragmática, você vai perceber o quanto é importante estudar a linguagem na perspectiva do falante, observando suas escolhas lexicais, suas restrições nas interações sociais, assim como quanto às consequências das escolhas lexicais em uso na interação comunicativa. Por isso, �que atento ao assunto desta unidade e mergulhe no estudo da Pragmática aplicada à Língua Inglesa. Vai ser empolgante! Bons estudos! Tempo estimado de leitura: 41 minutos. A palavra Pragmática vem do grego pragmátikós e do latim pragmatica e se refere àquilo que é prática, o que é objetivo. Em Linguística, portanto, a Pragmática estuda e analisa o discurso com base no contexto comunicacional. De acordo com o linguista escocês-americano George Yule (1947-), a Pragmática consiste no estudo dos signi�cados durante a comunicação entre o falante ou escritor e a interpretação do ouvinte ou leitor, como de�nido no livro intitulado Pragmatics (1996). 3.1 Pragmática – George Yule Para esse autor, mais do que analisar o que o comunicador quer dizer com o discurso que usa, a Pragmática se preocupa em estudar o que o falante declara, levando em conta o contexto e as in�uências deste na comunicação. Em se tratando da Pragmática, George Yule nos mostra que a vantagem desse estudo é poder discutir a respeito da intencionalidade, os objetivos e a emoção das pessoas durante seus atos de fala, enquanto a desvantagem é que todos estes conceitos são subjetivos por comporem a linguagem humana e, por isso, são extremamente complexos de serem analisados. Também temos que considerar outro fato importante que trata da informatividade transmitida pela linguagem, ou seja, cada vez que nos comunicamos, desejamos, em muitos momentos, informar sobre diferentes aspectos, compreendendo a extensão do utterance (enunciado). As consequências, portanto, para esse autor, têm relação com o que os falantes/escritores querem dizer com esses enunciados, do que as palavras ou frases possam signi�car. Figura 1 - A comunicação humana Fonte: GaudiLAb, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de duas mulheres conversando no ambiente de trabalho. Ambas estão sentadas e estão sorrindo. Na frente delas estão dois computadores, que estão desligados, enquanto as duas estão interagindo. Exempli�cando o que o autor nos apresenta, em uma interação presencial temos: - I found an old bicycle lying on the ground. The chain was rusted and the tires were �at. (Encontrei uma bicicleta velha no chão. A corrente estava enferrujada e os pneus estavam furados) (YULE, 2008, p. 5, tradução nossa). Os participantes dessa interação, ao ouvirem esse enunciado, partilham do conhecimento de que uma bicicleta possui partes especí�cas que distinguem de outros objetos e que, por esse motivo, é desnecessário comunicar que a corrente e os pneus fazem parte dela. Imperioso, porém, para o locutor é comunicar que embora seja uma bicicleta, ela está velha, jogada no chão e que suas partes estão, temporariamente, inabilitadas para o uso, porém, ela continua a ser uma bicicleta. Ao assumir tais fatos sobre a Pragmática de Yule, podemos acrescentar que para que os enunciados emitidos pelos participantes das interações comunicativas façam sentido, também existe uma dependência de um maior ou menor grau de proximidade desses falantes, valores de ordem sociais e fatores até como idade e poder. Ele também assevera que além da função interpessoal (interpersonal function) dos falantes/escritores, há a função textual (textual function) deles, que perpassa a criação de textos bem formados e apropriados, acrescentando-se ainda a função ideacional (ideational function) ou representativa de um pensamento e a uma experiência de modo coerente. Por assim dizer, temos o discurso como atravessando a perspectiva dos signi�cados na vida social dos indivíduos. Para Yule: “(…) within the study of discourse, the pragmatic perspective is more specialized. It tends to focus speci�cally on aspects of what is unsaid or unwritten (yet communicated) within the discourse being analyzed” (“dentro do estudo do discurso, a perspectiva Pragmática é mais especializada. Ela tende a focalizar especi�camente em aspectos do que não é dito ou escrito (embora comunicado) com o discurso sendo analisado”) (YULE, 2008, p. 84, tradução nossa). Para entender melhor como a Pragmática do discurso se comporta é importante compreender que as questões associadas ao discurso estão intimamente ligadas às formas e às estruturas que estão presentes nos textos que os compõem, bem como nas crenças, conhecimento de mundo e nas expectativas dos falantes/escritores, isto é, todos esses fatos se juntam para a compreensão de como pensa o locutor. 3.1.1 Significados e aspectos sociais de estrutura do discurso Em termos de discurso, José Luiz Fiorin (2012), linguista brasileiro, apresenta-o como objeto linguístico e histórico. Esse autor apresenta que, apesar de o discurso ser uma “construção linguística”, ele está vinculado à uma especi�cidade que o �xa a regras de um dado tempo. Um dos critérios interessantes do discurso e que, na verdade, também se relaciona ao texto, trata da recursividade, isto é, o fato dele poder ser repetido inúmeras vezes. Fiorin (2012) também nos coloca que a relação interdiscursiva, ou seja, de um discurso com outros discursos, permite que tenhamos sua face histórica, uma vez que esse diálogo entre discurso se faça à parte de uma determinação no tempo. Em seu livro Linguagem e Ideologia, Fiorin (1998, p. 17) a�rma que o discurso: “(...) não é um amontoado de frases. O discurso tem uma estrutura”. Simpli�cando o que o autor determina, temos que o discurso se faz a partir não apenas da construção sintática veri�cada no contexto das palavras, mas ele se inscreve no inconsciente dos falantes por meio de relações com outras entidades discursivas que estão em circulação em um dado local e tempo. Fiorin (1998) de�ne a semântica discursiva como: Os “campos de determinações inconscientes” que fazem parte do modo como os indivíduos veem o mundo em uma determinada época e, assim, temos o que ele chama de formação social dada. Nela reside o aspecto ideológico que pode tornar-se consciente para �ns de manipulação ou de determinação de padrões, pois veri�camos que pela linguagem, por meio de textos verbais ou não-verbais. Nesse sentido, há uma demanda poderosa de escritos que podem nos in�uenciar, inclusive negativamente. Um exemplo claro disso são as fake news, que denotam o caráter brutal da informatividade em favor da desinformação, outrossim, com a rajada de discursos racistas e de ódio veri�cados nas redes sociais. Herbert Paul Grice (2004) apresenta um exemplo interessante que trata bem de evidenciar a questão do discurso inapropriado e a estratégia que um dos interlocutores usa, que ilustra a situação social de encontro entre esses interlocutores, comentando sobre alguém que eles veem no evento: A: Mrs. X is an old bag. (silence) B: the weather has been quite delightful this summer, hasn´t it? A: A Senhora fulana é uma mala sem alça. (silêncio breve) B: O clima tem estado delicioso nesse verão, não tem? (GRICE, 2004, p. 54, tradução nossa). Vamos analisar esse breve diálogo: Nessa situação social, a inconveniência desencadeada pelo comentário do interlocutor A, muito provavelmente se dá porconta não apenas das palavras usadas, mas por conta da não manutenção de um discurso sobre alguém que está aquém da situação interativa de A e B e esse alguém, a “fulana”, pode ser signi�cativa para B. Além desses fatos apresentados, veri�camos que a expressão “an old bag”, equivalente à “mala sem alça”, também denota uma carga discursiva depreciativa que passa a marcar um tipo de pessoa que incomoda, o que nos faz crer que estamos imersos na ideia de que essas pessoas existem e que, naquela situação, veri�ca-se alguém com aquela característica. 3.2 Pragmática e Semântica José Luiz Fiorin (1947 - ) nasceu em Birigui, São Paulo. Sua formação se deu nos anos setenta e nos anos oitenta ele concluiu o mestrado e o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), onde também atuou como docente e coordenador de cursos. É autor e organizador de vários volumes sobre Linguística. VOCÊ O CONHECE? Se, de um lado, a Semântica, enquanto parte dos Estudos Linguísticos, estuda o sentido das palavras e das sentenças, a Pragmática, como já vimos, vai além do sentido e compreende o que o falante quer dizer quando enuncia algo em uma determinada sentença. Essa distinção não permite que descartemos a relação íntima entre elas na medida em que elas se complementam na análise das situações de comunicação entre falantes e no campo do armazenamento de fatos importantes relacionados à comunicação humana. Alan Baddeley, Michael Eysenck e Michael Anderson escreveram Memory (2009), que trata dos tipos de memória e essa obra fornece informações importantes que fazem com que compreendamos a associação da armazenagem e da recuperação de informações a �m termos o desempenho apropriado nas interações necessárias à participação social dos interlocutores. Sobre a memória semântica: entre os tipos de memória de longo prazo, temos a memória semântica, que se assemelha a um dicionário ou uma enciclopédia, ao registrar o conhecimento sobre o que há no mundo, enquanto a memória episódica relaciona-se a armazenar experiências para relembrá-las mais tarde. Desse modo, criamos procedimentos que avançam com esses tipos de memória e criam processos de armazenamento próprios que são relativos ao aspecto processual de nossas ações discursivas, que tratam de nossa vida sensorial e cognitiva. Figura 2 - Esquema da memória de longo tempo Fonte: DanWhite1000, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer No esquema, escrito em língua inglesa, encontram-se, à esquerda, o que é a memória episódica, marcada por suas percepções sensoriais. À direita, a memória semântica que trata do significado das coisas, fatos e outros e, ao centro, abaixo de ambas, está a união delas em uma natureza processual, que trata de como fazer as coisas. Elas estão representadas por ícones: a música, uma xícara de café, balões de diálogos, um coração, números, símbolos de sono e da configuração de mecanismos. O que está convencionado, portanto, em termos de língua, é de preocupação de�nida pela Semântica, que assume o conteúdo descrito pela língua. Por exemplo, ao dizermos a palavra ball acionamos imediatamente a imagem do objeto redondo com o qual as crianças brincam, portanto, essa descrição evidencia seu aspecto semântico, de sentido da palavra. Entretanto, ao se ouvir a expressão throw (somenone) a curveball você não poderá recuperar o mesmo sentido aplicado a somente bola. Será necessário reaver um dado contextual típico da língua inglesa que põe essa expressão como “surpreender alguém com algo”, como em: Michael threw me a curveball when he asked about you and our relationship. I couldn´t answer him very well. (Michael me surpreendeu quando me perguntou sobre você e nossa relação. Não pude responder a ele muito bem). Tal aspecto deve ser atribuído não ao sentido, mas ao uso da palavra em um determinado contexto. Nesse sentido, Semântica e Pragmática tratam de dar conta do que os falantes/escreventes fazem com a língua e como pode haver criatividade e inovação no uso da língua, provocando, inclusive, a inclusão de sentidos novos aos termos já convencionados. Em termos de ensino de língua estrangeira e, especialmente, em termos de estudo da língua inglesa, veri�camos que todos os aspectos levantados até agora denotam que devemos levar em conta o desdobramento dos signi�cados considerando a comunicação na produção de textos e discursos no cotidiano das pessoas. Com isso, o objetivo é atingir diferentes meios, sejam eles pro�ssionais, familiares, religiosos ou acadêmicos para explicitar os processos de aquisição desse novo idioma considerando como importante a língua, mas também do contexto de uso dela. Se consideramos essas possiblidades, passamos a ver a língua como uma entidade extremamente viva, entretanto ela também deve ser encarada como algo que determina territórios e, por esse, fato ela deve guardar uma determinada uniformidade e atemporalidade. Assim, chegamos a um termo em que, para alguém que esteja adquirindo uma língua estrangeira, parecerá bastante razoável que se deva dar um lugar muito importante em seu estudo para a interpretação do que se faz com ela. Portanto, o contexto é determinante para o uso, o qual marca uma memória episódica importante para a recuperação do sentido a �m de que haja, também, uma interpretação plausível do que se ouve/lê, isto é, o contexto �agra o uso e o armazena para recuperá-lo em breve. Não conseguir recuperar essas experiências pode representar estar fora de contexto ou, ainda, até não poder se comunicar com a mesma familiaridade ou �uidez daqueles que atualizam a língua com mais frequência. 3.2.1 Relação entre língua e contexto Figura 3 - Imagem sugestiva da fala fora de contexto Fonte: FHPhoto, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem com dois objetos: uma lupa e um caderno de notas, onde se lê Out of context (Fora de contexto). Esses objetos estão em cima de uma base de madeira. Para a Linguística, a língua é composta por estruturas linguísticas e designa-se como um fato social. Esse último caráter nos interessa no estudo de línguas, pois veri�camos que o contexto deverá ser incluído como aspecto social necessário para a comunicação. Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi quem de�niu a língua como fato social no começo do século XX e foi Noam Chomsky (1928-) quem pontou um aspecto importante que contribui para o ensino de línguas, “cada língua em particular é uma manifestação especí�ca do estado inicial uniforme” (CHOMSKY, 1998, p. 24). Desse modo, para esse autor, não temos uma idade para aprender uma língua estrangeira e estamos potencialmente preparados para adquiri-la em qualquer parte da vida. As questões levantadas por Saussure e Chomsky �zeram com que o contexto, aos poucos, fosse sendo inserido no âmbito do ensino de línguas. No livro Teaching English as a Foreign Language, Geoffrey Broughton et al. (2003, p. 35, tradução nossa) asseveram que: “Designers of syllabuses and writers of EFL texts are now concentrating on techniques of combining the teaching of traditionally necessary aspects of the language (…) with greater emphasis on the meaningful use of the language” (Os designers de currículos e os escritores de textos do ensino de língua como língua estrangeira estão agora concentrados em técnicas que combinam o ensino tradicionalmente necessário de aspectos da língua com grande ênfase no uso signi�cativo dela). Para esses autores, o objetivo dessa perspectiva, além do situacional veri�cado nas aulas de língua, está no enfoque dado ao emprego das estruturas da gramática, como a contextualização de formas em si. Língua como fato social, que existe na coletividade, no começo do século XX. Utiliza o termo “estado inicial” para caracterizar o que seria um dispositivo de aquisição da língua (CHOMSKY, 1998, p. 24). Ferdin and de Sauss ure Noam Choms ky A contextualização, ainda para esses autores, faz parte do conhecimento muitas vezes compartilhados em diferentes culturas e, por isso, veri�ca-se um estoque de conhecimentos compartilhados que podem apoiar a aquisição no novo idioma. O fato mais signi�cativo,nesse sentido, é buscar meios de usar esses apoios a �m de melhor aproximar os idiomas, de origem e em foco. Leia o excerto abaixo: Há, aproximadamente, 7 mil idiomas falados em todo o mundo e todos eles têm diferentes sons, vocabulários e estruturas, mas eles modelam a maneira como nós pensamos? A cientista cognitiva Lera Boroditsky compartilha exemplos de idiomas, de uma comunidade aborígene da Austrália, que usa pontos cardeais em vez das palavras "esquerda" e "direita", às diversas palavras para "azul" em russo, que sugere que a resposta seja um sonoro sim. Para saber mais sobre o assunto, assista o vídeo: “Como a linguagem modela nossa forma de pensar”, com a cientista cognitiva Lera Boroditsky no TedWomen 2017 e disponível no link abaixo: Acesse (https://www.ted.com/talks/lera_boroditsky_how_language_shapes_the_ way_we_think?language=pt-br#t-565400) VOCÊ QUER VER? (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS https://www.ted.com/talks/lera_boroditsky_how_language_shapes_the_way_we_think?language=pt-br#t-565400 “O ensino de língua pressupõe uma teoria da linguagem e isto é suprido pela Linguística Aplicada. A visão tradicional de que a língua inglesa consistia em uma bateria de regras gramaticais e um livro de vocabulário produzindo um método de ensino selecionado com regras e exceções para ensinar em uma determinada sequência.” BROUGHTON, G. et al. Teaching English as a foreign language. New York: Routledge, 2003. p. 35. Considerando o fragmento acima, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas: I. Com a Linguística, especi�camente, com a Pragmática, o contexto revelou-se como fundamental para a compreensão da língua na produção e interpretação de formas. PORQUE II. O que realmente importa para a comunicação humana é a língua em uso e as formas empregadas que se encontram arquivadas na memória ou reatualizadas em usos criativos. Assinale a alternativa correta: a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justi�cativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justi�cativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. VERIFICAR Halliday (2007) apresenta que: “(...) the organization of language, its form, is meaningful: that is, linguistic activity participates in situations alongside man’s other creative activities” (a organização da língua, sua forma, é signi�cativa: ou seja, a atividade linguística participa nas situações ao lado de outras atividades criativas do homem.) (HALLIDAY, 2007, p. 137, tradução nossa). Nesse sentido, veri�camos que a participação dos aspectos internos e externos às enunciações são importantes para a interpretação do que dito ou escrito. No caso da Pragmática e da Semântica, ambas se associam ao que a complexidade da língua apresenta, isto é, dada uma situação de fala ou de escrita, temos o acionamento de uma memória de enunciados e de discursos que atravessam a linguagem. Não há como fugir desse formato tão determinativo da ação humana. É necessário entender que as formas linguísticas podem ser inúmeras para expressar o que o falante/escritor deseja comunicar. As metáforas, a ironia e outros dispositivos nos permitem a melhor comunicação com nossos interlocutores. Grice (2004) nos fornece exemplos bem interessantes de como nos apropriamos das formas com funções comunicativas especí�cas, como o exemplo da metáfora You are the cream of my coffee (Você é o creme do meu café). A metáfora, semelhantemente à comparação, opera no nível do pensamento estabelecendo uma relação entre um item A e um item B. Na cultura inglesa e americana, especialmente na inglesa, temos a imagem do café com creme como uma combinação muito recorrente, por isso, o locutor que optou por essa metáfora estabelece uma comparação para o tipo de relação deles e da importância do outro para ele. 3.3 Formas e funções Quanto à ironia, Grice (2004) nos apresenta uma situação interessante e que podemos usar como exemplo: “X, com quem A teve uma relação próxima até então, revelou a um rival de pro�ssão de A um segredo. A e sua audiência [amigos em comum] ambos conhecem o fato. A diz: X é um bom amigo” (GRICE, 2004, p. 53, tradução nossa). A ironia reside justamente no fato de não haver verdade no que se diz, que é partilhado pelos interlocutores, embora tenha sido enunciado o contrário. O eufemismo e a hipérbole também são muito comuns em nossas enunciações em função do efeito delas, a saber, em relação à primeira, ameniza o evento ou a realidade e, a segunda, exagera uma situação, fato ou evento. Grice (2004, p. 50, grifos do autor) nos apresenta um exemplo bastante pertinente de eufemismo: “De um homem que tenha quebrado toda a mobília, se diz: Ele estava um pouco embriagado”. Aqui, veri�ca-se a retirada da força enunciativa que deveria ser colocada na sentença, uma realidade amenizada. A hipérbole é muito acionada para expressar o exagero com que nos manifestamos em relação a nossos sentimentos, por exemplo, quando dizemos: “Vamos! Estou morrendo de fome”. Aqui, temos uma impossibilidade, isto é, não posso ter necessidades quando estou morto. Figura 4 - Imagem referente à ironia Fonte: Page Light Studios, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de uma placa na qual existe a mensagem “Beware of dog” (Cuidado com o cão), centralizada e colocada em um portão de ferro. Ao lado do portão, à direita da imagem, um homem com um pequeno cão, à direita. Funcionalmente, essas formas nos remetem a uma maior vivacidade de nossas enunciações, na medida em que denotamos um caráter mais expressivo, típico das �guras de linguagem. Além disso, podemos estar passando de uma linguagem denotativa para uma linguagem conotativa, apresentando maior ou menor grau de subjetividade, pois a linguagem depende efetivamente das demandas dos participantes, de suas necessidades expressivas e comunicativas, bem como de sua capacidade de acionar formas linguísticas em determinadas situações. Na verdade, tudo depende dos interlocutores e de suas demandas. Émile Benveniste (1902-1976) nos coloca a questão do sujeito na enunciação, especialmente, da publicação de seu livro, em 1958, Da subjetividade na linguagem. Ele aponta que um sujeito depende de outro sujeito para se de�nir 3.3.1 Produção textual como voz do sujeito como tal, em suas palavras, o sujeito “(...) é um homem que encontramos falando no mundo, um homem falando com outro homem, e a linguagem ensina a própria de�nição de homem” (BENVENISTE, 1995, p. 285). Desse modo, temos que, na interação e pela formulação das enunciações, os homens vão se de�nindo enquanto sujeitos da linguagem e acrescentamos a esse fato que o tom com que esses homens vão fazer a enunciação determina a voz com eles vão enunciar. Nesse aspecto da voz, na Pragmática, podemos dizer que ela se relaciona ao uso da linguagem pelo falante, à atividade de um sujeito quanto ao uso da linguagem. Essa voz vai ganhar pluralidade na medida em que, na enunciação, surge não apenas a voz do sujeito enunciador, mas também outras vozes relacionadas a outros sujeitos que já falaram antes do sujeito-enunciador, isto é, quando falamos algo, estamos também re�etindo outras vozes de outros sujeitos nas nossas falas. Em um 7º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, uma professora de Inglês elaborou um plano de ensino bimestral visando aprimorar a produção escrita dos estudantes. Para isso, planejou com a turma a construção do blog, contando com o auxílio daqueles que já tinham mais experiência com as TIC para, também, auxiliar os colegas. Conforme uma sequência didática, formada por etapas a serem seguidas no decorrer de um trimestre de trabalho, devem ser sugeridas atividades para que ao �nal a turma tenha um arcabouço de textos elaborados por eles, a partir das atividades sugeridas, e que tenham passado pela avaliação docente, seguindo os quesitos doplano de ensino para o trimestre. ESTUDO DE CASO Figura 5 - Imagem relativa à produção de texto Fonte: GaudiLab, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Na imagem de um homem consultando dados em um computador e escrevendo em um bloco de notas. Ele é jovem, usa óculos e está sentado usando tais materiais que se encontram em uma mesa de madeira. Na produção textual, seja ela em nível oral ou escrito, temos um re�exo muito explícito desse fato: falamos e escrevemos textos a partir de outros textos, de outras falas, de outros discursos, de outros sujeitos. (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS Leia o excerto abaixo: “Para garantir que uma implicatura particular conversacional esteja presente, o ouvinte responderá aos seguintes dados: (1) um sentido conversacional das palavras juntamente com a identidade de quaisquer referentes que estejam envolvidos; (2) um princípio cooperativo e sua máxima; (3) o contexto, linguístico ou de outra ordem, do enunciado (...)” GRICE, H. P. Logic and conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. L (ed.). Syntax and semantics. Speech Acts. New York: Academic Press, 2004. p. 41-58. v. 3. p. 50. Sobre os aspectos apresentados acima, analise as assertivas a seguir: I. É necessário entender que as formas linguísticas podem ser inúmeras para expressar o que o falante/escritor deseja comunicar. II. Funcionalmente, as �guras nos remetem a uma maior vivacidade de nossas enunciações, pois denotam um caráter mais expressivo. III. Quando se trata de formas linguísticas, devemos estabelecer regras muito rígidas no trato com as funções a elas atribuídas. IV. É fundamental compreender que parte da expressividade da língua em uso está na convencionalidade exposta pelas gramáticas. V. Seria necessário marcar bem o lugar de cada forma para que pudéssemos nos comunicar com mais �uidez frente aos ouvintes. É correto o que se a�rma em: a. I e II. b. I e III. c. II e IV. d. III e IV. e. IV e V. VERIFICAR Como a produção textual é um processo que envolve algumas etapas, é importante a leitura e debate de textos relacionados, o planejamento da escrita, por meio de diversos tipos de estratégias, a saber: 3.4 Produção textual A escrita livre. O freewriting. O brainstorming. É importante pensarmos, também, na avaliação do produto �nal, pois ela é parte essencial do ensino e aprendizagem e se torna tanto mais efetiva quando o estudante recebe as devolutivas do professor, como um suporte necessário para a construção efetiva do conhecimento. Nessa devolutiva oferecida ao estudante, o professor pode oferecer textos do mesmo gênero discursivo para serem reescritos, servindo de andaimes para novas e melhores produções. A estratégia do process approacches que defende o trabalho de escrita em pequenos grupos, considera que o autor precisa re�nar seu texto para torná-lo claro e agradável ao leitor. Assim, o estudante/escritor forma a consciência de que é importante pensar no leitor e nas possíveis inferências que ele pode fazer ao ler o texto. Essa estratégia também é válida à medida que ajuda o estudante a fazer a revisão de textos, pois ao se depararem com os problemas textuais do colega, ele reconhece os seus, além de ajudá-los com ideias criativas a que tem contato por meio da leitura de outros textos. Em todos os aspectos sugeridos acima, compreendemos que existe uma relação direta do gênero textual selecionado para a atividade de produção de texto com o tipo de enunciação. É fato que ao evidenciarmos os lugares de enunciação, ou vozes implicadas nela, analisamos tais lugares a �m de Os mapas conceituais. Os roteiros. A elaboração de perguntas. A revisão do texto nos quesitos gramatical, ortográ�co, de clareza, coesão e coerência. esclarecer que toda enunciação, seja ela da ordem da oralidade ou da escrita. Ela traz em si a importância de resgatar o sujeito e sua voz em um determinado contexto criado para a enunciação. Há, também, a Pragmática, que nos leva a considerar as atividades realizadas em sala como voltadas para as situações reais de produção, com o foco voltado para os usos da língua real e na aplicação de práticas que possam gerar habilidades de uso dessa língua real. Para Jeremy Harmer (2010), o gênero é um tipo escrita de fácil compreensão pela comunidade falante. Essa de�nição nos parece su�ciente para compreender como cada manifestação de texto se comporta na sociedade, como eles apresentam características especí�cas que os fazem distintos e reconhecíveis. Quanto à produção textual, em língua inglesa, Jeremy Harmer em How to teach English (2010), faz uma distinção importante a “escrita para aprender” e “escrita para escrever”. No caso da primeira, há uma conexão direta com o ensino de estruturas linguística e a prática delas. No caso da segunda, as motivações estão associadas à produção de texto para o desenvolvimento das habilidades de escrita, para produzir escritores. O livro trata de atividades práticas e evidencia que o processo de escrita constitui-se de um planejamento, de esboço, de revisão e edição. 3.4.1 Gênero e discurso Figura 6 - Imagem de gêneros diferentes de escritos Fonte: BigAlBaloo, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de livros com diferentes tamanhos e títulos em uma estante. São treze exemplares de livros pequenos, grandes, finos e grossos sobre mitos, drama, comédia, poesia e outros, representando diferentes gêneros. Harmer (2010) apresenta que podem ser sugeridas aos estudantes atividades com diferentes gêneros, como postcards, entrevistas e relatórios. Quanto aos exemplos fornecidos pelo autor, temos que no caso dos postcards, veri�camos que a supressão muitas vezes de palavras sugere que nesse gênero a voz do sujeito pode ter uma centralidade na ação, mais que no sujeito em si da ação, como, exempli�ca Harmer: “ We´re having a good time, The food is wonderful” (HARMER, 2010, p. 114, tachado do autor). Há, portanto, uma preocupação em evidenciar as ações realizadas por um sujeito em uma viagem e o relato dessas ações em um texto escrito, por exemplo. No caso das entrevistas, o foco no sujeito representa sua voz enunciando fatos sobre sua vida e suas experiências. Assim, para Harmer (2010), perguntas e respostas são a estratégia desse gênero, focalizando na apreensão de um sujeito com voz própria e pertencente ao mundo empírico, como uma celebridade, por exemplo. No caso dos relatórios, temos que o foco da produção escrita é um referente, que pode até se tratar de um sujeito físico, porém o foco reside em um evento ou fato que se coloca em evidência. Frente ao enunciado, veri�camos que o falante/escritor se esforça em ativar mecanismos como �guras de linguagem, formas concretas, abstratas e outros recursos para trazer à baila o que se apresenta para enunciar. Opera-se também a atividade de escolher entre o que está convencionado e o que o contexto demanda, evidenciando, certamente, a comunicação. Todavia, muito do que fazemos em relação à língua está preso ao contexto, como já veri�camos que ocorre, pois na medida em que o ouvinte/leitor coopera ou não com o enunciado, este se determina pela necessidade de cobrir uma série de demandas que aparecem. Porém, é necessário compreender que o que os falantes/escritores fazem com a língua não é perfeitamente compreendido CONCLUSÃO Pense em um plano de aula com uma atividade de produção textual em Língua Inglesa para ser desenvolvida com os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental que priorize o Planejamento do texto: brainstorming. Para tanto, a principal habilidade a ser trabalhada é a listagem de ideias para a produção textos considerando o tema de sua escolha. O plano de aula deve conter: Conteúdo, Objetivos, Desenvolvimento, Avaliação e Recursos didáticos. VAMOS PRATICAR? como convencionado, ou seja, muitos dos usos linguísticos perfazem uma demanda também criativa ou de reuso dos enunciados em diferentes situações ou contextos. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: entender o conceito de Pragmática, de George Yule; compreender os possíveis signi�cadose aspectos sociais de estrutura do discurso; identi�car a função e a forma das produções textuais como voz do sujeito; identi�car os conceitos de gênero e discurso. Clique para baixar conteúdo deste tema. BADDELEY, A.; EYSENCK, M.; ANDERSON, M. Memory. 3. ed. London: Psychology Press, 2020. BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral I. 4. ed. Campinas: Pontes, 1995. BROUGHTON, G. et al. Teaching English as a foreign language. New York: Routledge, 2003. Referências CHOMSKY, N. Linguagem e mente: pensamentos atuais sobre antigos problemas. Tradução: Lúcia Lobato. Brasília: Universidade de Brasília, 1998. FIORIN, J. L. Da necessidade da distinção entre texto e discurso. 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