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Autoria: Ma. Anay Cardoso Miranda Revisão técnica: Ma. Rita de Cássia Eleutério De Moraes SEMÂNTICA DA LÍNGUA INGLESA APROFUNDANDO-SE NA PRAGMÁTICA Introdução Você, estudante, sabe o que quer dizer dêixis? Já sabe a diferença entre pressupostos e subentendidos? Você poderia dizer como a ética e a ideologia fazem parte do nosso cotidiano e se relacionam com o discurso? Tais questionamentos poderão ser elucidados com o estudo da Pragmática. Nesta unidade, portanto, você veri�cará como esse ramo da Linguística vem ganhando a atenção dos teóricos, pois compartilha com a Semântica o status de trabalhar com o sentido. Você verá que o discurso se relaciona profundamente com a Pragmática e que ela trata dos atos de fala. Você poderá veri�car que a atenção hoje dada ao contexto trata de estar voltado para a realidade da comunicação humana. Você poderá entender também como os estrangeirismos povoam nosso idioma e como esse processo de povoamento foi possível no decorrer de tempos de convívio com a língua inglesa. Desse modo, ao �nal dessa unidade você terá identi�cado os aspectos mais intrínsecos que caracterizam essa linha de análise, para a qual nos voltaremos nesse momento. Aproveite bem esse momento de pesquisa e exploração! Bons estudos! Tempo estimado de leitura: 44 minutos. Fançois Recanati (2006) nos situa quanto a dois domínios ou áreas da Linguística que tratam sobre aspectos semelhantes: A Semântica e a Pragmática. Para esse autor, não é possível separar as palavras do mundo, como do uso das palavras. Desse modo, quando pensamos em palavras, e isso nos remete a textos orais ou escritos, estamos assumindo que essas palavras se relacionam com o mundo material no qual vivemos e compartilhamos nossas experiências. 4.1 Pragmática - A construção do sentido no texto Por esse fato, nossas experiências se articulam por meio de usos que fazemos dessas palavras. O acúmulo de usos na memória nos faz ter certa familiaridade com contextos distintos, bem como nossa criatividade nos possibilita novos usos e, por isso, tanto os sentidos como os contextos são necessários para nossa comunicação. Márcia Cançado (2008) nos apresenta bem como a Semântica se volta não só para o signi�cado das palavras, mas também para o das sentenças. Entretanto, como a própria autora assevera, não seria possível pensar que a Semântica �caria restrita apenas ao campo do sistema linguístico, mesmo porque a língua não associa palavras apenas como aglomerados sintáticos, mas também as associa em níveis de blocos de sentidos, na medida em que as sentenças são apresentadas a partir de implicações de diferentes ordens. Vejamos o Exemplo 1 a seguir: À propósito do que levanta Cançado (2008), podemos analisar os sentidos de implicação: quando a�rmamos (1a), tivemos como pressuposto (1b), do mesmo modo que (1a) acarretou (1c), tanto quanto (1a) acarretou (1d). Assim, quando dizemos algo, devemos considerar que há aspectos que estão implícitos no jogo da associação dos termos na oração e na organização das sentenças, ou seja, que compreendem uma consciência do falante com relação ao que foi dito e ao a) Luciano bateu o carro dele nas férias do trabalho. b) Luciano possui um carro. c) Alguém trabalha. d) Alguém estava de férias. que não foi dito, mas também associado ao que está envolvido quando dizemos algo, o que Cançado (2008, p. 20) aponta como “operações de natureza muito complexa”. Entendidos esses fatos, percebemos que o conhecimento semântico também gera um conhecimento compartilhado entre os interlocutores, como ocorre com a pressuposição, que está implícita na sentença que foi proferida em (1a) e foi pressuposta em (1b). Isso quando se informou sobre o que ocorreu com Luciano, que possuía um carro e o bateu nas férias do trabalho. Esse conhecimento é de natureza pragmática, isto é, determinado pelo uso que os interlocutores fazem das sentenças e como elas se comportam no sistema complexo da consciência compartilhada, como mencionamos anteriormente. A Pragmática trata da interpretação do que foi dito por um falante/escritor em uma dada situação. Esse aspecto nos remete imediatamente à recepção por parte do ouvinte/leitor que processa esse estímulo linguístico por meio de sua experiência nos usos de formas da língua. O ouvinte/leitor detém o conhecimento enciclopédico, o conhecimento pressuposto e as normas sociais necessárias para essa interpretação. Purpura (2004) nos apresenta exemplos interessantes sobre a interação de interlocutores face a face. Esse teórico, que faz parte da linha de Herbert Paul Grice (1913-1988), de tradição �losó�ca, pontua que a denominada gramática do sentido incorpora o sentido literal e intencionado de um enunciado. Isso signi�ca que há um interesse por parte desses teóricos em inserir a Pragmática no campo da Gramática. Desse modo, o que ele denomina de Pragmática do Signi�cado abriga os sentidos diversos que abrangem a interação pela linguagem. Um exemplo que pode ilustrar bem a questão apontada aqui trata que, algumas vezes, podemos extrapolar limites sociais: A. Can I have another doughnut, honey? B. You keep it up and you’re gonna look like one. A: Posso comer outro doughnut, querido(a)? B: Continue assim e você se parecerá com um. (PURPURA, 2004, p. 75, tradução nossa) Observe que em A, o autor nos faz pensar que o sentido literal e o sentido pretendido tratam da solicitação de um outro doce, porém, em B, o sentido literal passa a ser que se A continuar a comer outros doces, A engordará e tomará a forma de um doce, no caso um doughnut. Perceba que a palavra “querido(a)”, expressada pelo adjetivo honey, que pode estar no masculino ou no feminino na língua inglesa, denota o tipo de relação entre os participantes da interação, ou seja, são próximos, quem sabe uma casal, porém, B, ao externar o comentário sobre A manter a calma quanto à ingestão do doce, B extrapola até os limites de intimidade advindos do nível de relação, pois chega a sugerir que a forma da pessoa poderá ser semelhante ao do doce, o qual é redondo e massudo. Nesse ponto, compreendemos que a Pragmática nos possibilita conhecer estruturas que habilitam os falantes a usarem fatores contextuais. Purpura (2004) destaca que tal conhecimento depende dos aspectos funcionais e implicatórios da linguagem, isto é, o participante deverá ter minimamente um conhecimento funcional e um conhecimento implicatório, ambos responsáveis pelo entendimento das formas na interação comunicativa. James Enos Purpura é professor de Linguística Aplicada na Columbia University. Sua pesquisa tem como foco a avaliação da Gramática, do sentido e sobre fundamentos da avaliação. Ele realiza pesquisas sobre o estudo da língua como L2 e como LE. Suas publicações são muito citadas por conta do fato de ele ter como foco o sentido e o estudo dos contextos em que os sentidos são operados na comunicação. Também há grande ênfase em seu trabalho em relação ao conteúdo veiculado nas mensagens encerradas nos enunciados dos falantes, suas intenções, suas habilidades em trabalhar os aspectos envolvidos na comunicação, como associados à cultura e às escolhas individuais. VOCÊ O CONHECE? Figura 1 - Interação entre participantes. Fonte: fizkes, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de um homem jovem, de barba e de óculos de grau, com uma camisa azul estampada e, ao lado dele, uma mulher jovem de camisa branca. Parecem estar conversando. Em se tratando de textos escritos, o que se trabalha a partir da Pragmática envolve a interpretação do que os escreventes querem dizer com seus escritos, considerando a adequação do que será dito, momento histórico e outros fatores que determinam essa interpretação. Entre os fatores signi�cativos de se estabelecer essa interpretação, temos que os implícitos, os pressupostos, os subentendidos, as anáforas são importantes aspectos de análise nos textos escritos. (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS Leia o excerto a seguir: “A diferença entre uso e menção de uma sentença também ajudará a compreender asnoções de semântica e pragmática. Para entendermos essa diferença, primeiramente vejamos o signi�cado da palavra signi�cado. Certamente, o signi�cado em teorias semânticas não é tão abrangente quanto o uso que se faz na linguagem cotidiana (...) o objeto de estudo da semântica é a menção das sentenças e das palavras isoladas de seu contexto; e o objeto de estudo da pragmática é o uso das palavras e das sentenças inseridas em determinado contexto.” CANÇADO, M. Manual da semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2008. p. 18. A respeito das informações acima, avalie as asserções a seguir: I. A Semântica se volta não só para o signi�cado das palavras, mas também para o das sentenças. II. O conhecimento é de natureza pragmática quando determinado pelo uso que os interlocutores fazem das sentenças III. Seria fácil separar as sentenças e as palavras e analisá-las fora do contexto, pois ambas são constituídas de aglomerados. IV. O desa�o é grande quando se trata de unir Semântica e Pragmática porque elas se opõem quanto aos objetos e objetivos. Está correto o que se a�rma em: a. I e II. b. II e III. c. I, III e IV. d. I e IV. e. III e IV. VERIFICAR Na visão de Cançado (2008), a pressuposição trata de uma relação semântico- pragmática, isto signi�ca que podemos compreender a pressuposição quando: “são determinadas construções, expressões linguísticas, que desencadeiam essa pressuposição” (CANÇADO, 2008, p. 33). A autora exempli�ca de modo bastante didático, como vemos no Exemplo 2: Se forem colocadas quaisquer das sentenças acima, ninguém poderá negar que existe um conteúdo em comum entre elas, que trata do fato de João ter tido o hábito de fazer caminhadas. Todas as realizações acima, ou seja, todas as sentenças acima, pressupõem esse fato. Assim são as construções linguísticas que desencadeiam essa pressuposição. Veri�ca-se também que outro fato signi�cativo que trata da “família” de uma determinada sentença, ou seja, como no exemplo, quando usamos: “as quatro formas dessa sentença: a declaração a�rmativa, a negação dessa a�rmativa, a interrogação e a condição antecedente.” (CANÇADO, 2008, p. 33). 4.1.1 Estruturação textual – pressuposto e subtendido a. O João parou de fazer caminhadas. a' O João não parou de fazer caminhadas. a" Se o João parou de fazer caminhadas... a’’’ O João parou de fazer caminhadas? Figura 2 - Imagem de sentenças. Fonte: Africa Studio, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de sentenças escritas em giz branco em um quadro verde. Uma mão escreve duas sentenças com um giz branco: John is reading (João está lendo) e John reads everything (O João lê tudo). A partir dessas orientações, entendemos que existem conteúdos compartilhados por aqueles que participam da comunicação. Teremos que entender também que o pressuposto está vinculado a uma dada situação, de cunho histórico e de acordo com as condições atribuídos à produção, circulação e consumo dessas informações e que é fundamental ter em mente que os pressupostos estão ligados à componentes sintáticos, como vimos na família de determinadas sentenças, isto é, ele se prende, por exemplo à negação, à interrogação. Situando historicamente, veri�camos que o primeiro a tratar da questão do pressuposto foi Friedrich Ludwig Gottlob Frege, matemático e �lósofo alemão, que associou a pressuposição à referência. Frege (1978) publicou, em 1892, um livro intitulado Sobre o sentido e a referência (On Sense and Reference). Para ele, a pressuposição evidencia uma relação entre orações, sendo que ele pensava nela como uma condição de verdade, presa a seu referente. Desse modo, temos que para esse autor o pressuposto entra na particularidade da linguagem em armazenar conteúdos falsos e verdadeiros a partir de organizações linguísticas. Frege utilizou nomes próprios, personagens ilustres como Ulisses, da Odisseia, de Homero, Cristóvão Colombo, navegador europeu, e outras denominações, como a de planetas como Vênus, por exemplo, para evidenciar que os referentes têm uma associação com o sentido da enunciação proferida em relação a eles, bem com o critério de verdade se baseia nessa referência ilustre. Desse modo, existe o critério do compartilhamento do conhecimento, do sentido e do referente, para a validação da verdade sobre o que se comunica. Oswald Ducrot (1987), em seus estudos a partir dos anos oitenta (1981 a 1987), defende a associação da pressuposição com aspectos como a negação, a interrogação, as várias vozes nos textos e discursos e, ainda, com o encadeamento. Sendo a negação e a interrogação critérios importantes para revelar a pressuposição, temos que, como visto em Frege, podemos fazer uma enunciação, negá-la ou fazer um questionamento sobre ela e ainda assim prevalecer o conteúdo pressuposto. Observe o Exemplo 3: 3 Ele pouco me visitou ultimamente. 3’ Pressuposto: Ele me visitou. 3a É falso que ele pouco me visitou ultimamente. 3b É verdadeiro que ele pouco me visitou ultimamente? Pela apresentação da negação e da interrogação, vemos que o pressuposto não se altera em ambos. Essa é a realização do pressuposto, apresentado por Ducrot, (1987) decorrente da aplicação de transformações sintáticas da negação Um �lme que sintetiza a lógica matemática voltada para a informação e, por conseguinte, para a linguagem, foi O jogo da imitação, de Morten Tyldum, de 2014. No �lme, Alan Turing, da Cambridge University, foi chamado para decifrar os códigos nazistas, no período da Segunda Guerra Mundial. A conexão da criação da programação computacional de Turing e as ideias de Friedrich Ludwig Gottlob Frege relacionam-se à compreensão da linguagem, pois há di�culdades na língua que podem ser identi�cadas a partir do sentido e da referência. É um �lme que problematiza a questão da guerra, da lógica e da linguagem. Vale a pena conferir. VOCÊ QUER VER? e da interrogação do conteúdo pressuposto. Ducrot (1987) também vai tratar do subtendido, porém com menor ênfase que o pressuposto. O subtendido está ligado aos objetivos do falante/escrevente e relaciona-se ao que ele pode sugerir quando faz uma enunciação. No exemplo acima (3), teríamos como subentendidos: (3) Ele pouco me visitou ultimamente. 3d Visitar alguém com frequência demonstra interesse. 3e Ele não demonstra interesse em sair para me visitar. 3d Ele não gosta mais de mim. Perceba que os subentendidos estão para os objetivos que o locutor do enunciado, ou ainda o redator do texto, tem quando enuncia, por exemplo, aqui representado por (3). Para Ducrot (1987), mesmo quando se trata de subtendido, ainda aponta que no interior dessa criação existem pressupostos, o interesse é demonstrado pela frequência de visitas de alguém e ele não demonstrou tal interesse, ele não gosta mais de mim. Portanto, para esse teórico, o pressuposto é importante por manter-se como elemento de sentido, isto é, que marca o sentido dado pelo que é enunciado ou posto pelo falante/escritor. Assim, a estruturação textual, seja ela em nível de fala ou de escrita, é marcada por fenômenos da linguagem que nos remetem a propriedades que estão associadas ao sentido, à referência, aos aspectos discursivos relativos às vozes nas enunciações que determinam que seu corpo de estruturação depende do que é dito e do que não é dito nas enunciações. Isso signi�ca que, para estruturar um texto oral ou escrito, teremos que recorrer aos fatos apontados. Leia o trecho a seguir: (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS “A sentença ‘Ulisses profundamente adormecido foi desembarcado em Ítaca’ tem um sentido. Mas, assim como é duvidoso o nome ‘Ulisses’, que aí ocorre, tenha uma referência, é também duvidoso que a sentença inteira tenha uma. Entretanto, é certo que se alguém tomasse seriamente a sentença como verdadeira ou falsa, também atribuiria ao nome ‘Ulisses’ uma referência e não somente um sentido; pois é da referência deste nome que o predicado é a�rmado ou negado.” FREGE, G. Sobre o sentido e a referência. In: ALCOFORADO, P (org. e trad.). Lógica e �loso�a da linguagem.São Paulo: Cultrix/Edusp, 1978. p. 68. Para compreender melhor essa observação do autor, é necessário: a. A pressuposição evidencia uma relação entre orações, sendo que ele existe uma condição de verdade, presa a seu referente. b. O sentido decorre de uma enunciação falsa que se torna verdadeira por causa do referente que é, indubitavelmente, verdadeiro. c. A avaliação da verdade é muito complexa do ponto de vista da lógica matemática e requer do pesquisador esforço em entendê- la. d. Há um critério importante em relação ao sentido que diz respeito à dissociação com o referente nas sentenças em que há dúvidas sobre a verdade. e. O impeditivo da verdade em uma sentença é seu referente que paira em uma aura de incertezas que devem ser comprovadas. VERIFICAR Para David Crystal, a Pragmática relaciona-se a: “Um estudo da língua do ponto de vista dos usuários, especialmente das escolhas que eles fazem, as restrições que eles encontram em usar a língua em interação social e de efeitos de seus usos da língua têm nos outros participantes no ato de comunicação” (CRYSTAL, 1997, p. 301). Por essa noção, já podemos compreender que se estabelece aqui uma visão que abrange a produção e interpretação como re�exo da vivacidade com que os participantes lidam com a língua. Se aceitamos que a dinâmica da comunicação que de fato está pontuada por Crystal e dá voz a muitos teóricos na Linguística, teremos, então, que nos remeter a outros fatos que emergem dessa noção, a questão dos participantes, seus lugares e funções na e para a interação. Cançado (2008) nos mostra a questão da dêixis, termo que vem da língua grega e signi�ca “mostrar”, “apontar” e diz respeito à identi�cação “de pessoas, coisas, momentos e lugares a partir da situação da fala, ou seja, a partir do contexto” (CANÇADO, 2008, p. 53). Assim, veri�camos que podemos localizar, por meio de esses traços do contexto e esses são elementos linguísticos, como: os demonstrativos, os pronomes, os tempos verbais, os advérbios de tempo e lugar e outros elementos que se associam às enunciações. Cançado (2008, p. 53, grifo nosso) nos fornece dados desses elementos, como vemos no Exemplo 4: 4.2 Pragmática e dêixis a) Este gato é muito bonito. b) Eu adoro chocolate. c) Aqui é o país da impunidade. d) Aquele ali, eu levo. Por esses exemplos, veri�camos que cada um dos termos, grifados por nós, denota um ponto de partida para a compreensão do enunciado tendo em vista um índice, um ponto para iniciar a de�agração da interpretação vinculada ao contexto de uso. Ora demonstrando, como em a e d, ora localizando como em b e c, devemos buscar seus referentes para efetivar a compreensão, devemos investigar suas fontes e lugares. Figura 3 - Imagem de perguntas que podem nos remeter a dêiticos. Fonte: pixelbliss, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de um quadro negro, onde estão escritas perguntas em inglês (Who? What? When? Where? Why? How? - Quem? O que? Quando? Onde? Por quê? Como?) com a representação de uma lâmpada ao centro, cuja luz se representa com uma folha de papel amassada, o bocal e a representação da luz emitida pelo objeto estão desenhadas no quadro. Veri�que que no caso dos demonstrativos, nós precisamos, além de comunicá- los, apontá-los, gestualizar, ritualizar a referência de modo a indicá-la para os interlocutores. Temos que nos servir de outros mecanismos além dos linguísticos para nos fazer entender, nesse sentido. Partimos, então, de pontos de referência para nos comunicar, deixamos nossas trilhas para o nosso interlocutor nos acompanhar. Stephen C. Levinson (1983), em Pragmatics, nos traz à análise a questão dos dêiticos de pessoa, de lugar e de tempo. Ele inicia o capítulo 2 sobre as dêixis mostrando que ela pertence ao campo da Pragmática na medida em que as estruturas se ancoram no contexto, de modo que, sem ele, não seria possível compreender o que se deseja comunicar. No que se refere a dêixis de pessoa, o autor assevera que ela se assenta nas categorias de pessoas, como os pronomes pessoais, existem os lugares dos participantes (participants-roles). Ele nos coloca que em termos de base gramatical, temos a primeira, a segunda e terceira pessoas. Nessa relação, ele nos mostra que, na primeira pessoa, vê-se o falante, ou inclusão dele (+S), como representação; no caso da segunda, o destinatário está incluído (+A); na terceira pessoa, ambos estão excluídos (-S) (-A), em que: S representa o subject, A representa Addressee. Nesse sentido, temos que fazer uma distinção entre dêixis e anáfora. Cançado (2008) apresenta exemplos que, didaticamente, podem nos auxiliar, como vemos no Exemplo 5: Em 5a. temos o exemplo, em itálico, da dêixis, pois sem o apoio do contexto, não podemos saber quem é Ela. Entretanto, quando se trata de 5b., temos a anáfora, recuperando com o ela a pessoa concreta de quem se fala, Maria. Eis a diferença: uma não se pode recuperar sem o contexto, a dêixis, a outra se pode 4.2.1 Dêiticos de pessoa, lugar e tempo a) Ela já saiu. b) A Maria estava na sala, mas ela já saiu. (CANÇADO, 2008, p. 55). recuperar por meio de correferências, ou presença física no mundo. Existe, quanto à anáfora, uma dependência de expressões antecedentes, no caso de 5b., de Maria. Quanto a dêixis de lugar, Levinson (1983) a relaciona à importância de especi�cações locais para fomentar a interpretação. Quando temos, por exemplo, em: (6) A casa de Pedro �ca à direita do Museu, veri�camos duas referências, uma em relação a outra e se trocamos por: (7) Ela �ca à direita do Museu, sem evidentemente termos qualquer antecedente, vamos estar na presença de um dêitico em Ela, sem a possibilidade de compreender sem o contexto, porém se houver referências antecedentes, com em: (8) A casa de Pedro �ca à direita do Museu. Ela é tem três quartos. Ela é anafórico. Entretanto, o autor exempli�ca com a língua inglesa que temos em aqui, ali e lá e em este e aquele, são puramente palavras dêiticas, pois elas dependem dos pontos de referências gestuais que devem constar no mundo físico e que não se apresentam no nível do enunciado. Em termos de dêiticos temporais, Levinson (1983) pontua que a dependência do tempo em que o participante, na interação, faz sua enunciação, com em: (9) Carlos fez a tarefa agora. Ora, para compreender o agora, necessitamos de informações como quando o agora se comporta em relação ao seu enunciador, em outras palavras, qual foi o momento em que o enunciador colocou tal enunciação? Sem esse dado, não podemos imaginar nem que se trate do século XX! Um livro interessante para professores é “Referenciações dêiticas em livros didáticos do Ensino Médio”, de Ana Cátia Silva de Lemos, editado por Novas Edições Acadêmicas, 2018. No livro, a pesquisadora apresenta de modo claro como se comportam os dêiticos a partir da análise de livros didáticos do Ensino Médio. As obras analisadas compreenderam uma pesquisa robusta sobre essa questão e vale muito a pena ler por se tratar de referência importante para professores que desejem saber um pouco mais sobre esse assunto. VOCÊ QUER LER? Temos, como ele acrescenta, que identi�car o CT (coding time), isto é, momento da enunciação, do RT (receiving time), ou seja, do momento da recepção da enunciação. Esses aspectos auxiliam na análise ou na interpretação do que se deseja comunicar. Por isso, vemos tantas referências necessárias em textos escritos, como datas e locais, pois a mensagem escrita denota a distância que temos entre os participantes das interações comunicativas. Por isso, temos que realizar gravações com referências claras de tempo e espaço, a �m de evitar que tenhamos falhas de codi�cação de nossas mensagens. Pela história da colonização, da ocupação do nosso território e pelos processos políticos relacionados à educação e às relações internacionais no país, observamos que a língua inglesa, a espanhola e a francesa têm grande representatividade em nossa vida. Por se tratar de línguas que se apresentam no currículo de muitas escolas no país, devemos considerarque o estudo de sua in�uência é importante. Em termos de estrangeirismos, veri�camos o uso de expressões estrangeiras emprestadas, ou também denominadas de empréstimos linguísticos, em diferentes âmbitos, porém com a crescente evolução tecnológica e cientí�ca, vemos que os termos estrangeiros passaram a se tornar bem comuns e aceitos por alguns grupos. Em nível de língua inglesa, temos a sua inserção desde o século XIX, quando foram instituídas duas línguas estrangeiras como disciplinas obrigatórias no país, a língua francesa e a língua inglesa. Desde então, vemos a circulação de termos na língua inglesa não apenas em nível educacional, mas também como re�exo de políticas internacionais de gerenciamento de bom entendimento entre os países onde a língua inglesa é instituída e o Brasil. Embora muitos teóricos, denominados puristas da língua, defendam que devemos adaptar os termos estrangeiros para o nosso idioma, vemos que o empréstimo direto é uma realidade evidentemente clara. E também podemos 4.3 Estrangeirismos 4.3.1 Anglicismos, significações e interferências na língua materna destacar que o uso direto do termo estrangeiro tem representado um diferencial de oferta de modernidade. Uma pesquisa que vale ser referenciada é de Pâmela Maria Pereira Rocha, apresentada como monogra�a de Especialização do Curso em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em 2015, Rocha apresentou em sua monogra�a a análise de termos estrangeiros em anúncios de carros, de produtos tecnológicos e de cosméticos. A autora destaca dois pontos importantes que requerem nossa atenção. Os dados coletados em revistas brasileiras apresentam os termos diretamente na língua inglesa, o que caracteriza um empréstimo direto, sendo que ela avalia como representativos da valorização do produto, status e prestígio à comercialização. Outro fato, relaciona-se à concepção da autora quanto ao enriquecimento da língua com esses acréscimos. Termos como cool, soft, shampoo, air-bag fazem parte desse inúmero grupo de termos que nos encantam a percepção. Figura 4 - Imagem relativa a um termo estrangeiro na língua portuguesa. Fonte: Joylmage, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Imagem de uma propaganda de um shampoo, com uma embalagem no centro da imagem e dentro de uma pequena caixa. Ao fundo, encontram-se folhas verdes de plantas. Esses fatos fortalecem nossa concepção de que cada vez mais os estrangeirismos fornecem, além de potencial lexical, mais ganhos vocabulares e enriquecimento de nossa descrição e aprimoramento linguístico. Nesse sentido, Barros (2001) pontua que devemos compreender que o enunciador faz suas opções terminológicas ou lexicais a partir de suas orientações, valores e convenções e que é fundamental que esse enunciador possa ter uma diversidade de registros a seu dispor a �m de melhor comunicar esses conteúdos. O discurso se apresenta como um desa�o para o pro�ssional de Letras, na medida em que ele está inserido nos vários textos de trabalho desse pro�ssional, nos seus próprios textos, en�m na linguagem social em circulação. Quando tratamos de ideias sobre o mundo e sobre os fatos da língua, remetemo- nos aos inúmeros discursos que fazem parte da nossa história humana, não apenas pessoal, mas coletiva. Fiorin (2012) nos adverte que um mesmo discurso pode gerar inúmeros textos e acrescentamos que esses textos podem se manifestar em diversos gêneros. Por exemplo, ao tratarmos de racismo, podemos selecionar algumas ideias sobre o tema, discursos que circulam socialmente, porém, são inúmeros os modos de produzir material falado ou escrito sobre ele, como manifesto, palestra, carta- denúncia, artigo e inúmeros outros gêneros. 4.4 Discurso, ética e ideologia 4.4.1 Análise de aspectos éticos e ideológicos no texto Figura 5 - Imagem de um gênero textual denominado palestra. Fonte: Matej Kastelic, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Na imagem, vemos uma mulher de costas, à direita da imagem. Ela se encontra frente a um público para o qual parece palestrar. Existem um microfone e um computador à sua frente. Um aspecto signi�cativo que Fiorin (2012) pontua é justamente a relação dos discursos com outros discursos, o que caracteriza uma visão “translinguística” dessa relação. De fato, vemos que os discursos em circulação se interpenetram e se atravessam de modo que eles ganham sentido nessa relação, como também ganham identidade a partir de parcimônia. Entretanto, devemos destacar que Fiorin (1998) também assevera que um objeto crítico do nosso trabalho com a língua e com a linguagem é a ideologia. Esses campos de determinações ideológicas, advindas de inúmeras fontes, políticas, sociais, econômicas e até psicológicas fomentam a produção de enunciados pelo falante/escritor que veicula essas ideias nas várias instituições por onde circula: família, trabalho, religião e outros meios, como até as redes sociais, em que se tem veri�cado uma maior incidência de discursos de diferentes ordens. Essas determinações fazem parte do campo da semântica discursiva e passam diretamente para as enunciações e para os textos, pois apresentam elementos semânticos muito especí�cos, palavras, frases, sentenças, que marcam o critério ideológico na linguagem, por isso, é fundamental que usemos de ética na produção e circulação dos discursos na sociedade, em especial, no ambiente escolar, no qual vemos uma agência ideológica muito signi�cativa da veiculação de ideias. Figura 6 - Imagem de princípios éticos importantes. Fonte: PX Media, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer A imagem mostra setas que estão pregadas em um poste de madeira. Esse poste encontra-se centralizado na imagem e apresenta em cada seta uma palavra diferente: ethics (ética), respect (respeito), code (código), honesty (honestidade) e integrity (integridade). Todas essas setas são todas de madeira clara. Em termos da linguagem, vemos que a ética deve percorrer nossas formulações de pensamento e determinar nossas enunciações, a ética vem do grego ethikos, que signi�ca comportamento, portanto, temos que essa parte da �loso�a nos demanda a re�exão sobre os sistemas sociais, por isso, Cortella (2009) nos adverte sobre os “exercícios de conduta”, ou ações recorrentes que geram condutas. Nesse sentido, devemos escolher a ética, o respeito, a tolerância e outros valores necessários a uma linguagem mais livre de ideologias que estejam associadas ao preconceito e à violência, fatores que devem estar ausentes de nossos textos. No aspecto voltado ao enunciado, percebemos que o falante/escritor tem a seu dispor mecanismos que determinam não apenas sua operacionalização com a língua, mas também com a busca de melhor estabelecer a interação comunicativa. Muito tem sido compreendido sobre o que os falantes/escritores fazem em relação à língua e ao mundo físico com o qual se relacionam em nível de apreensão. A ética, a discursividade e a expressão ganham imensa força ideológica a �m de permitir que essa expressão seja cada vez mais limpa e honesta em termos de relação com o outro. Há, hoje, imensa preocupação com o que se diz e com o que se interpreta sobre o que é dito, por isso, é necessário ser um falante- analista dos fatos da língua e da linguagem sem esquecer de ainda tornar ambas vivazes e capazes de atualizar as concepções humanas e históricas presentes na atualidade. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: CONCLUSÃO A partir das noções de Pragmática estudadas, bem como dos aspectos mais particulares relacionados a ela, produza um texto dissertativo, com extensão mínima de dois parágrafos, apresentando noções-chave na sua opinião e fornecendo exemplos baseados nos exemplos apresentados e fornecendo informações novas a respeito desse ramo da Linguística. VAMOS PRATICAR? identi�car o conceito de Pragmática e a construção do sentido no texto; compreender a relação entre estruturação textual, pressuposto e subentendido; identi�car o conceito de dêixis e sua relação com anáfora; identi�car o conceito de estrangeirismo;compreender as relações entre discurso, ética e ideologia; Clique para baixar conteúdo deste tema. BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2001. CANÇADO, M. Manual da semântica: noções básicas e exercícios. São Paulo: Contexto, 2008. CORTELLA, M. S. Qual é a tua obra? Inquietações, propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis: Vozes, 2009. CRYSTAL, D. Cambridge Encyclopedia of the English Language. 2nd ed. New York: Cambridge University Press, 1997. DUCROT, O. Pressupostos e subentendidos: a hipótese de uma semântica linguística (1969). In: DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987. Referências FIORIN, J. L. Da necessidade da distinção entre texto e discurso. In: BRAIT, B.; SOUZA-e-SILVA, M. C (org.) Texto ou discurso? São Paulo: Contexto, 2012, p. 145-165. FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. 6a Ed. São Paulo: Editora Ática, 1998. FREGE, G. Sobre o Sentido e a Referência. In: ALCOFORADO, P (org. e trad.). Lógica e �loso�a da linguagem. São Paulo: Cultrix/Edusp, 1978. p. 68. LEMOS, A. C. Referenciações dêiticas em livros didáticos do Ensino Médio. São Paulo: Novas Edições Acadêmicas, 2018. LEVINSON, S. C. Pragmatics. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1983. O JOGO da Imitação. Direção: Morten Tyldum. 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