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Débora Di Gregorio Domingues de Oliveira Karoline Biason de Jesus Manifestações hematológicas e imunológicas decorrentes da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana São Bernardo do Campo 2022 1 Débora Di Gregorio Domingues de Oliveira Karoline Biason de Jesus Manifestações hematológicas e imunológicas decorrentes da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade São Judas como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina, sob a orientação do prof.: José Roberto Fogaça de Almeida. São Bernardo do Campo 2022 2 RESUMO O HIV é uma doença de preocupação de saúde pública mundial, sendo descoberto no início da década de 1980. Sendo um vírus de RNA, pertencente à família Retroviridae do gênero Lentivirus. Ataca principalmente o sistema imunológico deixando os indivíduos acometidos com a doença imunossupressora, levando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), aumentando assim a probabilidade de doenças oportunistas devido a queda significativa das células de defesa do corpo. Essa presença do vírus no organismo acaba desencadeando diversas alterações, como a diminuição dos linfócitos T CD4, sendo a principal célula que o vírus ataca e sendo a principal característica da patologia. O HIV é constituído de três fases, a fase aguda, também chamada de primária, a fase assintomática e a fase sintomática. Alterações hematológicas e imunológicas são comuns, como o surgimento de anemias, sendo a mais comum em indivíduos soropositivos, trombocitopenias, neutropenias e leucopenias também são frequentes. O hemograma é um exame padrão ouro que pode realizar o controle dessas alterações dos indivíduos acometidos pelo HIV, porém é de extrema importância que não se utilize apenas o hemograma para fechar um diagnóstico de HIV, exames laboratoriais específicos como os moleculares são mais sensíveis para o diagnóstico da patologia. A doença pode ser transmitida durante as relações sexuais sem o uso do preservativo, sendo bidirecional, podendo ocorrer em relações heterossexuais e nas homossexuais. Pode ser transmitido através da inoculação de sangue e derivados, por transmissão vertical e por materiais perfurocortantes por profissionais da área da saúde e usuários de drogas injetáveis. Palavras-Chave: HIV, AIDS, Alterações hematológicas e Alterações imunológicas. 3 INTRODUÇÃO O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é uma sigla em inglês para o vírus da imunodeficiência humana, ele foi descoberto no início da década de 1980, nos Estados Unidos, onde teve um alto índice de morbimortalidade, em decorrência à infecção que o HIV causa, sendo ela a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), devido a essa infecção o índice de mortes cresceu rapidamente em decorrência da característica principal e mais preocupante da doença. O HIV provoca uma queda exacerbada do sistema imune, o que torna o indivíduo imunodepressivo, causando o aumento da probabilidade de contrair infecções oportunistas e\ou neoplasias, como por exemplo, sarcomas, tuberculose, pneumonia e candidíase (RACHID et al., 2008). Os primeiros relatos da AIDS foram relatados em 1981, porém somente dois anos após, em 1983 ocorreu os primeiros indícios que se tratava de um agente infeccioso, onde foi isolado pela primeira vez pelo Instituto Pasteur em Paris, onde foi descoberto que se tratava de um retrovírus (BRASIL, 2003). No mundo, o número de óbitos pelo HIV/AIDS no ano de 2019, foi em torno de 690.000 e só no Brasil desde o início de 1980 foram registrados o número de 349.784 mortes, e também, é possível observar uma ocorrência maior da infecção em indivíduos do sexo masculino, entre a idade de 20 a 34 anos, sendo uma preocupação de saúde pública mundial (CUNHA et al., 2021). O HIV causa no organismo disfunção imunológica crônica e progressiva devido ao declínio dos níveis de linfócitos T CD4, sendo que quanto mais baixo for o índice desses, maior o risco do indivíduo desenvolver AIDS (CANINI, 2004). Além das alterações imunológicas, a patologia causa alterações hematológicas, sendo a anemia a complicação mais comum, devido a uma queda progressiva dos níveis de hemoglobina ou do hematócrito (RACHID et al., 2008). A patologia pode ser transmitida durante as relações sexuais, sendo bidirecional, ou seja, podendo ocorrer em relações heterossexuais como nas homossexuais. Por meio da inoculação de sangue e derivados, e por transmissão vertical, onde a mãe infectada pode transmitir para o feto. Há hábitos que podem aumentar o risco de infecção, como a prática do intercurso anal, quando tem a presença de úlceras genitais e quando o indivíduo transmissor está em um estado de imunodeficiência severa. Presença de DST's, a ausência de circuncisão e ter 4 relações no período menstrual também podem aumentar a possibilidade de transmissão do HIV (RACHID et al., 2008). O principal método de prevenção é fazer o uso de preservativo durante as relações sexuais, tanto heterossexuais, quanto homossexuais. Utilizar agulhas e seringas descartáveis, sempre utilizar luvas ao manusear feridas e líquidos corporais, bem como testar previamente sangue e hemoderivados para transfusão. Mulheres infectadas pelo vírus do HIV devem realizar o uso de antirretrovirais durante a gestação, para evitar o risco de transmissão vertical e evitar a amamentação (FIOCRUZ, 2022). O diagnóstico do HIV pode ser realizado através de testes rápidos, onde é determinada a presença de anticorpos anti-HIV, fornecendo um resultado qualitativo, ou seja, positivo ou negativo. Testes mais específicos considerados padrão ouro são o ELISA e o Western Blot, que foram desenvolvidos para detectar a presença de anticorpos específicos (CARVALHO et al., 2004). Este trabalho buscou realizar uma revisão de literatura sobre o HIV e sobre as complicações que a patologia pode causar, sendo as manifestações hematológicas e imunológicas. 5 METODOLOGIA Este trabalho teve como finalidade a realização de um estudo com o objetivo de alertar a importância do HIV e da AIDS e como a patologia pode influenciar na vida dos portadores e como alteram seu sistema imunológico e hematológico. A classificação da pesquisa quanto aos seus objetivos, foi de uma forma descrita, ou seja, baseada em artigos científicos, livros e trabalhos acadêmicos. A metodologia dessa revisão de literatura foi elaborada a partir da seleção e leitura de artigos científicos em bases públicas de trabalhos como Scielo e Google Scholar, livros didáticos e revistas científicas relacionadas ao tema entre de 1999 a de 2022, utilizando as palavras: Alterações hematológicas, alterações imunológicas, HIV e AIDS. 6 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO HIV O vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi descoberto no ano de 1983, onde o seu agente etiológico foi identificado. Pertencente da família Retroviridae do gênero Lentivirus. É um vírus de RNA, ou seja, ele possui uma enzima chamada de transcriptase reversa, o que permite a transcrição do RNA viral em DNA, podendo então ter uma interação com o genoma da célula do hospedeiro, passando a ser chamado de provírus, que é transcrito em proteínas virais e logo após ocorre a montagem do vírus e, posteriormente, a gemulação (RACHID et al., 2017). Os vírions são partículas virais completas e são do gênero Lentivirus, e medem entre 80 e 100 nm de diâmetro, possuindo um envelope lipoproteico moderadamente esférico, capsídeo é cilíndrico e seu genoma é formado por duas fitas simples de RNA linear. O genoma do HIV é mais complexo contendo alguns genes de replicação adicionais em comparação com o dos retrovírus oncogênicos (FERREIRA et al., 2010) (figura 1). Figura 1: Representação esquemática da estrutura do HIV-1. As glicoproteínas de membrana gp120 e gp41 encontram-se inseridas no envelope lipídico. O capsídeo, formado pela proteína p24, engloba o material genômico composto por 2 fitas de simples de RNA e as enzimas virais (WERSOM ESet al., 2013). O HIV possui três genes estruturais, sendo o gag, env e pol, que são comuns aos retrovírus, tem como função codificar as poliproteínas, que são 7 subsequentemente clivadas pelas proteases virais em proteínas individuais (tabela 1). Há os genes regulatórios tat, rev e nef e os genes acessórios vif, vpr, vpu (no HIV-1) ou vpx (no HIV-2). Os componentes para a formação do capsídeo e do envelope viral são necessários quatro proteínas, sendo elas, a Gag, MA (matriz, p17), CA (capsídeo, p24), NC (nucleocapsídeo, p7) e p6, e duas glicoproteínas Env e SU (superfície, gp120) e TM (transmembrana, gp41 (FERREIRA et al., 2010). Tabela 1: Principais proteínas do HIV com importância diagnóstica Nesta tabela mostra as principais proteínas que codificam o HIV e suas respectivas funções em cada estrutura do vírus (WERSOM ES et al., 2013). Existem dois tipos de HIV, são eles o HIV-1 e o HIV-2, ambos podendo causar a Síndrome da Imunodeficiência Humano (AIDS). O maior traço preocupante é a característica principal da patologia são em relação ao sistema imune, onde há uma diminuição qualitativa e quantitativa dos linfócitos T CD4 circulantes, principal célula afetada, o que resulta em uma condição de imunodeficiência severa e grave. Com o agravamento da doença, aumenta a possibilidade dos indivíduos infectados estarem mais propícios para infecções oportunistas e/ ou neoplasias. Os principais alvos são o aparelho respiratório, como a tuberculose, doença infecciosa que comumente afeta os pulmões; afeta o sistema nervoso, o sistema hemolinfopoiético, a pele e as mucosas (LORETO et al., 2012). Rachid e Schechter (2017) afirma que “as principais células infectadas são aquelas que apresentam a molécula CD4 em sua superfície, predominantemente linfócitos CD4+ (linfócitos T4 ou T-helper) e macrófagos (RACHID et al., 2017).” 8 Replicação viral O HIV-1 infecta diferentes células como linfócitos TCD4 +, macrófagos e células dendríticas. A replicação começa pela interação da glicoproteína de superfície gp120 ao receptor CD4 na superfície celular, o que muda a conformação estrutural de gp120 e aumenta sua afinidade pelo co-receptor CCR5 ou CXCR4, formando um complexo (figura 2). Logo depois, mudanças conformacionais na glicoproteína transmembranar gp41 permitem que esta se insira na membrana celular e provoca a fusão do envelope viral. Esta fusão permite o acesso do core viral ao citoplasma (GONCALVES AP et al., 1996). Posteriormente, ocorre o desnudamento viral, e liberação do genoma no citoplasma sendo este seguido pela transcrição reversa do RNA viral, pela ação da enzima transcriptase reversa, ou seja, é a capacidade de converter os genomas de RNA em DNA dupla-fita, sendo esta uma das características que definem os retrovírus. Durante esse processo, o DNA viral recém-formado fica associado ao complexo de transcrição reversa. Nesta etapa, pode-se introduzir erros no genoma viral a cada ciclo de replicação, contribuindo para a alta diversidade genética do vírus (Hottiger M; Hubscher U et al., 1996). O DNA viral é transportado para o núcleo, como parte do complexo de pré-integração composto por proteínas virais e celulares. No núcleo, o DNA será incorporado, chamado provírus se comporta como um gene celular que poderá ser transcrito em RNAm, pela maquinaria celular. Quando o DNA é integrado, a regulação da síntese de RNA é realizada pelas LTR, inseridas nas terminações do DNA integrado durante a transcrição reversa. A região 5’ da LTR serve como promotora da transcrição viral, enquanto a região 3’ auxilia na poliadenilação do RNA transcrito (Brown PO. Integration et al., 1997). Os RNAs transcritos são exportados do núcleo para o citoplasma, onde serão traduzidos em proteínas virais que farão parte das novas partículas virais. As novas partículas virais são liberadas por brotamento e são capazes de infectar novas células somente após o processo de maturação. Este processo ocorre no meio extracelular, após processamento proteolítico das proteínas Gag e Pol pela ação da protease viral (FRANKEL AD et al., 1998). 9 Figura 2: Representação esquemática do ciclo replicativo do HIV-1. O vírus se liga à célula hospedeira pela ação das glicoproteínas gp120 e gp41 no receptor celular CD4 e co-receptor CCR5. A ligação permite a fusão viral e desnudamento do material genético. O RNA viral é transcrito em DNA no citoplasma pela transcriptase reversa, em seguida importado para o núcleo onde é integrado no genoma celular pela ação da integrase viral. A transcrição e tradução ocorrem pela maquinaria celular e os novos vírus são liberados por brotamento. No meio extracelular ocorre a maturação dos novos vírus pela ação da protease viral (Adaptado de ENGELMAN & CHEREPANOV, 2012). AIDS A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), foi oficialmente reconhecida no ano de 1981, pelo órgão dos EUA “Center for Disease Control and Prevention”, que centraliza as normas e ações a serem tomadas diante de doenças. (MALBERGIER et al., 2001). A AIDS é uma doença que se manifesta após a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), essa síndrome é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que definem a doença. O sistema imunológico do indivíduo acometido pela AIDS é comprometido, tendo uma probabilidade de contrair infecções oportunistas e podendo levar ao óbito (BRASIL, 2006). 10 É doença infecciosa mais emergente, destacando-se devido às diversas enfermidades que ela causa e por conta da sua grande magnitude e extensão de danos causados às populações e, desde a sua origem, cada característica da AIDS tem sido trabalhoso e exaustivamente discutida pela comunidade científica e pela sociedade no geral (BRITO et al., 2000). Segundo os dados apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente existem mais de 1,5 milhões de doentes e 10 a 20 milhões infectados no mundo inteiro, embora sendo assintomáticos (NOBRE et al., 2008). Esta doença apresenta três estágios, são eles fase aguda, assintomática e sintomática (figura 3). Fase Aguda da Infecção pelo HIV A fase aguda, também podendo se chamar de fase primária, é considerada por ser o período que vai desde a infecção pelo HIV, até o início da resposta do sistema imunológico. Sendo assim, a formação dos anticorpos específicos para o HIV, comumente detectados de 3 a 12 semanas após o contágio, marcando o fim da fase aguda da infecção. No decorrer desta fase, dados mostram que 40 a 80% dos indivíduos manifestam sintomas não específicos, o que acaba tornando o diagnóstico nessa fase improvável, porém pode haver algum histórico do indivíduo que possa elevar o índice de suspeita, podendo ser associado a comportamento de risco, sexual e sanguíneo (LORETO et al., 2012). De acordo com Rachid e Schechter (2017), o quadro clínico dos indivíduos na fase aguda, também chamada de síndrome da soroconversão, da doença pode variar entre uma síndrome gripal até mononucleose-símile, apresentando febre, astenia, faringite, mialgia, artralgia, cefaleia, dor retro orbicular e linfadenopatia. Na segunda semana pode ser mais evidente adenomegalias, envolvendo gânglios axilares, occipitais e cervicais. Pode ocorrer exantema, manifestações que comprometem o sistema nervoso central (cefaleia, fotofobia, meningite). Manifestações mais comuns apresentadas pelos indivíduos são febres, doença incapacitante para o trabalho com duração superior a três dias, faringite e mialgia (RACHID et al., 2017). Fase Assintomática da Infecção pelo HIV 11 Na fase assintomática da doença, encontram-se indivíduos infectados pelo HIV e que nunca apresentaram manifestações clínicas a infecção. O indivíduo pode descobrir de maneira ocasional, o teste anti-HIV pode ser realizado em exames rotineiros ou antes de uma doação de sangue. Clinicamente deve-se ter uma abordagem da história social, incluindo aspectos que estão relacionados aos parceiros sexuais, família etc. (RACHID et al., 2017). Durante afase assintomática, na ausência de terapia medicamentosa, os números dos linfócitos TCD4 começam a ter uma queda progressiva, podendo inicialmente ser mascarada pela linfocitose (contagem aumentada dos linfócitos), mais o aumento das células TCD8. Após ocorrer o diagnóstico da patologia, frequentemente vai ocorrer a pancitopenia (diminuição de todas as células sanguíneas). Podendo causar anemia e púrpura trombocitopênica trombótica (SILVA et al., 2001). Fase Sintomática da Infecção pelo HIV A fase sintomática do HIV pode ser dividida em duas, precoce e tardia. A fase precoce é definida pela ocorrência de manifestações que são frequentes em indivíduos com imunodeficiência na fase inicial, porém não impede de ocorrer em imunocompetente. A fase tardia é caracterizada pela prevalência de infecções e/ou neoplasias que raramente prejudicam indivíduos imunocompetentes. Essa fase é mais suscetível a patógenos agressivos, como, por exemplo, S. pneumoniae e M. tuberculosis, são os mais comuns e são os que mais acometem os indivíduos infectados pelo HIV (RACHID et al., 2017). De acordo com Rachid e Schechter (2017), existe um termo pouco utilizado atualmente que se refere a um conjunto de sinais e sintomas que estão associados à infecção pelo HIV, chamado de ARC (Aids Related Complex) que, porém, não constituem critério para o diagnóstico da AIDS. É bem comum ocorrer perda de peso progressiva, astenia, febre intermitente, mialgias, sudorese noturna, herpes zoster etc. Em fases um pouco mais avançadas, o indivíduo pode desenvolver candidíase oral, leucoplasia pilosa, perda de peso acentuada, diarreia de longa duração sem causa aparente e febre prolongada. Pode ocorrer em alguns pacientes evoluir para uma síndrome chamada de “Slim Disease” (síndrome consumptiva progressiva e grave), que pode levar ao óbito sem desenvolver infecções ou neoplasias que definem a AIDS. E em fases mais avançadas da imunodeficiência 12 ocorrem, então, as infecções oportunistas, devido ao sistema imune debilitado (RACHID et al., 2017). Figura 3: Fases da infecção pelo HIV e evolução clínica. A fase aguda da infecção acontece nas primeiras semanas depois da contaminação pelo HIV. O vírus tende a progredir rapidamente sua infecção, fazendo com que o paciente fique altamente infectante (linha vermelha). Primeiramente, ocorre a diminuição da contagem de LTCD4 +, com o aumento em algumas semanas, porém não tem retorno aos níveis iniciais (linha azul). Na fase crônica, o exame físico continua sendo normal, ao mesmo tempo que a contagem de LTCD4 continua caindo. Mas se o paciente não for tratado com o tratamento de TARV, inevitavelmente irá evoluir para a morte (WINKLER et al.,2010). MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS NA INFECÇÃO PELO HIV Exames hematológicos, como por exemplo, o hemograma que é considerado um exame padrão ouro, em relação a custo e benefício e são rotineiramente solicitados, nas quais satisfazem as necessidades do clínico assistente no tratamento e acompanhamento de pacientes em infec tologia. No caso de pacientes 13 soropositivos, revelando-se imprescindível no controle de anemias, na percepção do agravamento do quadro infeccioso, no monitoramento de alterações medulares, ou mesmo na observância de interações farmacológicas (CARVALHO et al., 2016). A infecção pelo HIV está associada a uma ampla gama de anormalidades hematológicas. Pode ser encontrada em qualquer fase da infecção e envolver a medula óssea, elementos celulares do sangue periférico e as vias de coagulação. Entre as principais causas estão o efeito supressivo do próprio HIV, hematopoiese ineficaz, doenças infiltrativas da medula óssea, consumo periférico secundário à esplenomegalia ou desregulação imune, deficiências nutricionais e efeitos colaterais de medicamentos (RACHID et al., 2008). Anemia A anemia é a manifestação hematológica mais comum e mais propensa em pacientes portadores do HIV (figura 4), determinando menor sobrevida e maior risco de progressão para AIDS. As possibilidades etiológicas são múltiplas, somente normocítica e normocrômica com anisopoiquilocitose (RACHID et al., 2008). Atualmente, estudos epidemiológicos mostram que a prevalência de anemia em indivíduos soropositivos para HIV tem sido estimada entre 63% a 95%, dependendo do estado clínico geral (ZÁTTERA, 2020). 14 Figura 4: Representação da frequência anual (1º de janeiro de 2013 a 1º de janeiro de 2014) das alterações do hemograma encontradas em pacientes com HIV (CARVALHO, RODRIGO CORRÊA et al., 2016). De acordo com Daminelli, A etiologia da anemia em pacientes infectados pelo HIV é de natureza multifatorial, podendo estar relacionada a infecções oportunistas, deficiências nutricionais (ferro, vitamina B12 e ácido fólico), determinadas medicações (antibióticos e agentes antirretrovirais) e doenças invasivas na medula óssea que provocam alterações nas células progenitoras. (DAMINELLI et al., 2009, p.2). A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o quadro de anemia quando a dosagem de hemoglobina se apresentar menor que 12g/dL para mulheres e menor que 13g/dl para homens adultos. O mais comum são pacientes com anemia serem assintomáticos, podendo apresentar alguns sintomas como, fraqueza, dispneia e letargia. Porém, pacientes infectados pelo vírus do HIV e anêmico, pode ser notado alguns sinais gerais como, a palidez das mucosas, e esse sintoma é somente notado quando o indivíduo apresenta uma hemoglobina menor que 9 a 10g/dl, ou até mesmo sintomas mais específicos, que está relacionado ao tipo de anemia (ZÁTTERA, 2020). A hipótese mais viável que explica a redução dos níveis de hemoglobina é a redução dos níveis séricos de vitamina B12 nos pacientes HIV soropositivos, alterando a capacidade de ligação de cobalamina, induzida pelo HIV, que compromete a síntese das cadeias de hemoglobina (DAMINELLI et al., 2009). É relatado a presença de anemias por carência de elementos essenciais para a eritroformação, como a ferropriva e a megaloblástica, em pessoas com HIV (ZÁTTERA, 2020). Há uma porcentagem de aponta que 15% são conceituadas como megaloblástica, 25% consideradas ferropênicas, 30% como origem clínica e 30% consideradas de origem mista (CARVALHO et al., 2016). A anemia megaloblástica, resulta na inibição da síntese de DNA na produção das hemácias, devido frequentemente a deficiência de vitamina B12 e/ou ácido fólico. É reconhecida frequentemente no valor do VCM (volume corpuscular médio) aumentado, acima de 100 fL, além das características observadas no esfregaço de sangue periférico, onde pode-se observar alterações como, a hipersegmentação 15 dos neutrófilos e eritrócitos apresentando um quadro de anisopoiquilocitose, onde se encontram em tamanhos e formas diferentes (SÁ, 2017). A relação da anemia megaloblástica em pacientes portadores do HIV positivo, pode ser baseada em dois aspectos: o primeiro pode estar relacionado ao uso do AZT (zidovudina), um fármaco utilizado como antirretroviral, que proporciona uma dificuldade na absorção da cobalamina e ácido fólico. O segundo aspecto já relacionado a anemia crônica, na AIDS, onde há um grande déficit nutricional CARVALHO et al., 2016). A anemia ferropriva é frequente, sendo uma anemia por carência de ferro, outro nutriente essencial para a formação das hemácias. A hipótese mais provável para esse acontecimento em indivíduos soropositivos é a deficiência nutricional, a redução dos níveis de vitaminas, tendo uma queda nos níveis de hemoglobina (RUIZ et al., 2003). Apesar dos tratamentos antirretrovirais terem proporcionado benefícios clínicos e imunológicos aos pacientes HIV positivos, o grau de reconstituição imunológica não foi alcançado totalmente, devido ao TARV (uso da terapia antirretroviral altamente ativa), foi observado uma maior incidência de anemia nos pacientes, devido ao alto efeito tóxico hematológico, que pode inibir a proliferação das células sanguíneas progenitoras (DAMINELLI et al., 2009). O tratamento daanemia vai depender da sua etiologia. Infecções e o efeito iatrogênico de medicamentos devem ser sempre considerados. Pacientes com o nível sérico de eritropoietina < 500 Ul/L podem se beneficiar da administração de eritropoietina recombinante, lembrando que esse valor pode variar de indivíduos com a infecção pelo HIV, e para os demais é considerado realizar transfusões de repetição e também, a reavaliação do tratamento antirretroviral, pois se a anemia ainda persistir, pode ser uma evidência de falha terapêutica. E nesse caso, a melhor opção é a instituição de um novo esquema antirretroviral, podendo assim haver melhora da anemia (RACHID et al., 2008). Quando a anemia está relacionada com outras citopenias e a sintomas, deve -se investigar a possível presença de infecções oportunistas, podendo ser micobacterioses disseminadas, o que torna preocupante devido ser pacientes imunodepressivo, situação na qual a medula óssea deve ser avaliada (RACHID et al., 2008). Trombocitopenia 16 A trombocitopenia é uma condição hematológica em que as plaquetas no sangue demonstram um nível abaixo de 140.000/mm³, essa alteração pode ser decorrente da diminuição da produção de plaquetas, do aumento da destruição, por consumo ou ainda sequestro dessas células. Em pacientes com HIV, a trombocitopenia pode ser decorrente de três mecanismos. Segundo Sales; Freitas e Tanaka, “pode ocorrer uma agressão direta nos megacariócitos, uma trombocitopenia imunológica pela presença de anticorpos contra o vírus que reagem contra as plaquetas (destruídas no baço) e ainda por toxicidade das drogas antirretrovirais.” A avaliação de plaquetopenia baseia-se no hemograma, na contagem e nos índices plaquetários (SALES et al., 2020). A trombocitopenia é uma característica comum entre os pacientes HIV positivo e está documentada desde o início da descrição da doença e, muitas vezes, antes do aparecimento dos quadros da AIDS e indistinguível dos quadros de púrpura trombocitopênica. O quadro clínico em geral é leve e com contagem de plaquetas abaixo de 50.000/mm³ raramente observado, com poucos casos descritos de sangramento importante (LEITE, 2010). A incidência de trombocitopenia é cerca de 40% das pessoas infectadas e 10% dos indivíduos podem ser sinal da AIDS (WONDIMENEH et al., 2014). Os principais mecanismos fisiopatológicos que estão envolvidos na trombocitopenia são a falha na produção de plaquetas, depleção rápida de plaquetas e o aumento do sequestro de plaquetas a nível sistêmico e no baço, especialmente nos casos de esplenomegalia (DERESSA et al., 2018). Formas graves de plaquetopenia podem estar associadas a outras citopenias, como as infecções oportunistas, que são comuns nos pacientes HIV positivos (LEITE, 2010.). Nesses casos de trombocitopenia profunda e/ou sintomática, uma medida relativamente agressiva é a melhor opção devido ao risco de hemorragias viscerais, incomum, porém quando ocorre pode ser fatal (RACHID et al., 2008). Casos de púrpura trombocitopênica (PTI) em pacientes acometidos pela infecção pelo HIV geralmente é semelhante à forma crônica de púrpura trombocitopênica idiopática do adulto, tendo uma manifestação lenta, manifestações hemorrágicas, como por exemplo, equimoses espontâneas e gengivorragias, sendo pouco comum, porém ocorrendo em pacientes que mostram os níveis de plaquetas abaixo de 25.000/mm³ (RACHID et al., 2008). 17 Em virtude disso, a complicação da trombocitopenia em indivíduos acometidos com HIV e AIDS é associada hoje a um aumento de morbidade e mortalidade devido aos riscos de sangramentos em diferentes tecidos (DERESSA et al., 2018). Para o tratamento da trombocitopenia pode-se utilizar de intervenções terapêuticas, como transfusão, supressores, esplenectomia e terapia antirretroviral, porém, podem carregar riscos e limitações para o paciente infectado pelo HIV e ressaltam a necessidade de estabelecer novas terapias estratégias (MIGUEZ-BURBANO et al., 2005). RESPOSTA IMUNOLÓGICA À INFECÇÃO PELO HIV Como já foi dito, o HIV tem como principal ação a degradação progressiva das células do sistema imune, levando a uma imunossupressão do organismo e resultando que o indivíduo portador fique suscetível a várias doenças oportunistas e neoplasias raras. Ou seja, essa extrema imunossupressão caracteriza a AIDS. (TASCA et al., 2012). Sobre as doenças oportunistas mais comuns estão a tuberculose pulmonar, sendo ela mais frequente no paciente HIV positivo, sendo o maior número de óbitos nessa população (JAMAI; MOHERDAUI, 2007). Um estudo revelou que pacientes com HIV/AIDS tiveram óbitos por doenças oportunistas no período antes do tratamento (PEREIRA et al., 2007). A Imunossupressão típica da infecção pelo HIV é resultado da diminuição dos linfócitos T, sendo estes marcadores importantes para o seguimento da evolução do quadro clínico e do risco de infecções oportunistas, tal como pela carga viral, relacionada especialmente à progressão da doença e morte (MIZIARA et al., 2004). O desenvolvimento de doenças oportunistas relacionadas à infecção pelo vírus também pode estar relacionada a alterações da função dos macrófagos. Estudos evidenciam que a proteína regulatória produzida pelo HIV (NEF) é capaz de reduzir a expressão de receptores de reconhecimento padrão (CD36) na superfície das células, associado à redução do processo de fagocitose (OLIVETTO et al., 2014). A intensa produção de citocinas como interleucina (IL-1β) e interferon do tipo 1 (IFN-alfa ou beta) é produzida principalmente pela resposta imune inata, e a ativação das células natural killers (NK), que são capazes de controlar 18 temporariamente a replicação do HIV através de apoptose de células infectadas (MCMICHAEL et al., 2010). As respostas imunes específicas controladas pelas células T surgem quando a viremia se aproxima do seu pico, atingindo o máximo da resposta e provocando a diminuição de carga viral plasmática (CVp) (MCMICHAEL et al., 2010). Os anticorpos que neutralizam os vírus têm um desenvolvimento demorado, de aproximadamente 12 semanas ou mais após a transmissão pelo HIV, entretanto, de acordo com MCMichael et al. (2010), esses anticorpos iniciais não se envolvem ao vírus mutantes, sendo ineficazes contra a infecção. As alterações imunológicas observadas após a infecção primária têm como fundamental importância, pois a resposta gerada pode dar pistas sobre a progressão da doença, ou seja, uma vez que nesta fase a ativação imune resulta da destruição rápida de células TCD4+ e na produção de citocinas pró-inflamatórias, que favorecem a replicação do vírus e sua difusão para os tecidos linfóides (COSSARIZZA et al., 2012). A citometria de fluxo é uma técnica utilizada para o estudo de células, ou seja, avalia as características físicas, químicas e biológicas de vários tipos de células (tanto humanas, animais, protozoários, etc). É um método que se utiliza de anticorpos monoclonais conjugados a fluorocromos, com afinidade por determinada molécula de interesse. Em pacientes HIV positivos, se utilizam desse método para quantificação de linfócitos TCD4 + e TCD8 +, que é importante para identificação do grau da patologia (SANTOS et al., 2014). MANIFESTAÇÕES IMUNOLÓGICAS NA INFECÇÃO PELO HIV Como já citamos, o HIV provoca uma supressão do sistema imune e torna o portador propenso a infecções oportunistas que se não for tratada leva ao óbito. Também, caracterizada pela replicação viral contínua e pela depleção dos linfócitos TCD4 +, a qual pode acarretar alterações imunológicas e infecções por diversos patógenos (MELO BP et al., 2017). Já sabemos que o HIV causa diversas alterações no corpo e a parte mais afetada é o sistema imunológico, no qual, torna tão característica a doença, deixando o portador imunossupressor. Sendo os principais a leucopenia e a neutropenia. 19 Leucopenia A leucopenia não é considerada uma doença do sangue, mas uma manifestação hematológica de algum transtorno orgânico, crônico ou transitório,que causa a diminuição na quantidade de leucócitos que estão presentes no sangue (BRUNETTO, 2020). A contagem de leucócitos baixa, quer dizer menos chance da célula combater infecções e doenças. O valor de referência global de leucócitos para homens adultos normais está em torno de 4.500 a 11.000 mm3 de sangue (BRUNETTO, 2020). A causa principal de leucopenia em portadores da imunodeficiência humana é multifatorial, incluindo a supressão da medula óssea pelo HIV, que leva a diminuição do fator estimulador de colônias de granulócitos, uso de drogas mielossupressoras e infecções oportunistas, como, tuberculose, leishmaniose, citomegalovírus, histoplasmose e criptococose (BISETEGN H et al., 2021). Neutropenia Ela é uma condição sanguínea muito rara que causa uma diminuição ou falta completa de neutrófilos. Isso consiste, quanto mais baixo for a contagem de neutrófilos, maior será o risco de infecção. O valor de referência dos neutrófilos no sangue seria de 1.500 a 7.000 por mm3. A pessoa com a neutropenia pode ter vários graus, leve moderado e grave (BRUNETTO, 2021). A neutropenia leve, quanto a contagem tem uma queda abaixo de um limite inferior de 1.500 por mm3, porém permanece acima de 1.000 mm3. Já a moderada, a contagem cai entre 500 por mm3 e 1.000 por mm3. E a grave, tem uma queda grande, ou seja, inferior a 500 mm 3. (BRUNETTO, 2021). Isto é perigoso, quando a pessoa está infectada com o HIV, porque o vírus já enfraquece o sistema imune, e ainda mais com a neutropenia, facilita uma infecção oportunista, que se não for tratada leva a óbito. (BRUNETTO, 2021). A neutropenia é mais frequente em pacientes com a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. As causas durante a infecção são multifatoriais, incluindo a toxicidade viral ao tecido hematopoiético, o uso de agentes mielotóxicos para tratamento, complicação com infecções secundárias e neoplasias, bem como a associação do paciente com fatores de confusão que prejudicam a mielopoiese. (XIN SHI et al., 2014). 20 A imunodeficiência humana pode causar neutropenia ao prejudicar diretamente ou indiretamente a hematopoiese. Isto é, microrganismos que causam infecções oportunistas, como a citomegalovírus e o complexo Mycobacterium avium, podem se infiltrar na medula óssea e provocar mielossupressão (COBAUGH et al.,1999). CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho apresentou uma revisão de literatura sobre as manifestações hematológicas e imunológicas decorrentes do HIV, patologia na qual 21 tem base infecciosa, e é causada por um vírus de RNA, que ataca as células de defesa do indivíduo infectado, principalmente as células TCD4, devido a capacidade do vírus alterar seu DNA celular, fazendo com que ela multiplique o próprio vírus do HIV. A AIDS é uma infecção que se manifesta após a infecção do HIV, sendo a mais crítica devido aos seus sintomas mais severos e a possibilidade de infecções oportunistas, o que leva a uma chance maior de morte. As principais alterações hematológicas e imunológicas foram: anemia, trombocitopenia, leucopenia e neutropenia. Ambas alterações que podem ser avaliadas e controladas pelo exame de hemograma devido aos seus índices hematimétricos. O indivíduo HIV soropositivo pode ter seu sistema imunológico comprometido, porém com um diagnóstico precoce e o tratamento antirretroviral adequado sua qualidade de vida será normal, a falta de informação da doença gera preconceito e medos desnecessários. É necessário embasar que exames específicos são necessários para o diagnóstico da patologia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BISETEGN, Habtye; EBRAHIM, Hussien. The prevalence of thrombocytopenia and 22 leucopenia among people living with HIV/AIDS in Ethiopia: A systematic review and meta-analysis. PLOS ONE, Dessie, Ethiopia, p. 1-14, set./2022. BRITO, Ana Maria; CASTILHO, Ayres; SZWARCWALD, Célia Landmann. Aids e infecção pelo HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada. 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