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Aula 3

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PSICOLOGIA HOSPITALAR
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO ESPAÇO 
HOSPITALAR
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Olá!
Objetivo desta Aula
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1- Entender a avaliação psicológica no espaço hospitalar;
2- Ressaltar as técnicas utilizadas para a avaliação psicológica no espaço hospitalar;
3- Esclarecer sobre os comportamentos éticos no preenchimento do prontuário.
Introdução
Nesta aula, veremos as diversas técnicas usadas para avaliar o psicológico daqueles que chegam ao ambiente
hospitalar com uma queixa. Diagnóstico, entrevistas, questionários, inventários. Condutas e relatórios. Ética no
preenchimento do prontuário. A importância da avaliação psicológica. Fatores desencadeadores dos problemas
de saúde. Boa aula!
A avaliação no hospital não é uma tarefa tão simples como no consultório. Naquele espaço, a privacidade e a
individualidade são comprometidas pelos acompanhantes da enfermaria, pelos familiares e por outros
profissionais da saúde, o que dificulta a escuta e a obtenção de informações sobre o caso.
O psicólogo, no espaço hospitalar, deve proporcionar um local de acolhimento, sem invadir ainda mais o espaço
do doente que se encontra no leito, aproximando a cadeira dele e doando-se para a escuta (esta escuta deve ser
ativa, ou seja, deve ter uma conduta nas condutas, até porque o tempo não é muito longo, devido à grande
demanda que o hospital tem para o atendimento diário).
1 Código de ética profissional do psicólogo
Procedimento do psicólogo no hospital
Em um primeiro momento, deve-se criar medidas para a quebra de gelo. Depois, é o momento de permitir que o
paciente fale e de observar seus comportamentos. Por fim, explicar quais foram os pontos mais importantes
expostos por ele.
No preenchimento do prontuário, o psicólogo deve ficar muito atento ao que o Código de Ética do Psicólogo diz.
Ali, devem conter apenas as informações importantes para a compreensão sobre a doença, não se atenuando a
detalhes muito pessoais e que venham a romper com o sigilo.
O hospital, por sua vez, deve guardar esses prontuários em lugares altamente seguros e sigilosos. Mesmo após a
alta do paciente, estes documentos devem permanecer ali por 20 anos.
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1.1 Avaliação psicológica no espaço hospitalar
A avaliação psicológica tem sido uma área de grande curiosidade por outros especialistas. O encantamento está
frente aos instrumentos utilizados para se chegar a uma conclusão sobre a mente e o comportamento humano.
Mas, para que esta seja diferenciada do senso comum, o Conselho Federal de Psicologia, frequentemente, avalia
as ferramentas e as autoriza como fidedignas ou não.
Ao longo desta aula, você perceberá que são muitas as técnicas, tais como:
· Testes psicológicos
· Questionários
· Entrevista aberta
· Entrevista fechada
· Entrevista semidirigida
· Inventários
Mas quando se fala no espaço hospitalar, estas técnicas ficam mais restritas, pois o lugar do quarto ou da
enfermaria muitas das vezes não tem privacidade, limitando alguns tipos de avaliação.
A avaliação psicológica no espaço do hospital é bem diferente do psicodiagnóstico na clínica. Este utiliza-se de
testes psicológicos para se chegar à interpretação da queixa do paciente.
1.2 A entrevista psicológica no hospital
Já no hospital, as ferramentas são o olhar clínico e a entrevista, pois o tempo de internação muitas das vezes é
muito curto ou longo demais, e o espaço físico não proporciona atendimento clínico.
A atuação do psicólogo hospitalar muitas vezes é multidisciplinar (como vimos na aula 2), e outras vezes,
transdisciplinar (ou seja, o paciente é atendido por uma série de outros profissionais que precisam manter uma
comunicação entre si para que o tratamento alcance o resultado esperado).
No hospital, a entrevista psicológica não tem a mesma privacidade de um consultório, pois na sua maioria ela é
realizada ao lado do leito onde o paciente se encontra:
· Em um quarto particular, há limitações, como invasão de outros profissionais da saúde, dos familiares, de
visitantes, ente outros;
· Em uma enfermaria, esta entrevista se torna ainda mais invasiva, pois o espaço é compartilhado por outras
pessoas e a privacidade também é invadida.
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1.3 Passar Confiança ao paciente
Para minimizar esta falta de privacidade, é preciso que o psicólogo use estratégias que possam passar confiança
ao paciente. Aproximar a cadeira do leito, falar em um tom baixo e começar com perguntas descontraídas e
menos invasivas são algumas medidas que facilitam o processo de avaliação.
A proposta da escuta é trazer um trabalho mais humanizado, onde haja um espaço para as queixas que vão além
da doença, mas que envolvam questões intrigantes ao internado. Este momento não deve ser forçado: os
conteúdos devem ser abordados conforme o ritmo do paciente, pois falar da doença pode potencializar o
sofrimento em alguns casos e em outros pode minimizar.
Então, é preciso deixar que o outro construa uma confiança, e mediante este andamento, o psicólogo vai
percebendo onde pode intervir.
1.4 Escuta ativa
Sobre este olhar, é possível afirmar que:
A escuta ativa tem como característica o valor terapêutico da escuta, valorizando a expressão e o vínculo com o
paciente, percebendo se neste momento ele precisa falar e desabafar, ou se necessita de uma atitude mais ativa,
com perguntas e intervenções que facilitem as colocações do paciente de suas dificuldades e de sua compreensão
sobre a doença (Fonte: OLIVEIRA, Beatriz; SOUZA, Joel; FREITAS, Paulo. A entrevista psicológica no ambiente
hospitalar: a escuta ativa e a avaliação psicológica do paciente).
A habilidade do psicólogo hospitalar está em avaliar quais perguntas serão cabíveis àquela situação, e decidir
qual é o momento de olhar, de escutar e de falar.
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Para isso, é preciso conversar com a equipe de saúde, antes de se colocar nos leitos. Faz-se necessário escutar os
conteúdos e experiências da enfermagem, dos médicos, fisioterapeutas e nutricionistas sobre aquele paciente,
para facilitar a condução da avaliação.
2 Entendendo os sinais do paciente
Deve-se respeitar o momento do paciente de não querer falar ou expor alguma inquietação para o psicólogo.
Para isso, é muito importante esclarecer com precisão sobre a doença e explicar os termos técnicos.
Se alguma dúvida surgir, é muito importante afirmar para o paciente que esta será esclarecida num encontro
posterior. Neste momento, a linguagem verbal e não verbal devem ser analisadas, a fim se obter uma medida
sobre o sofrimento do paciente.
O silêncio, o choro, a risada, os gestos, a inquietação, o olhar, todos esses comportamentos e sentimentos têm
significados no momento da escuta. Estes sinais servem de pistas para as próximas entrevistas ou encontros que
serão realizados.
Estas serão informações valiosas para o diagnóstico clínico, para a intervenção do médico e de toda a equipe de
saúde, pois é a partir desses dados que as intervenções serão feitas com precisão. Caso contrário, servirão
apenas os resultados dos exames clínicos.
2.1 Caso sobre a diferença do diagnóstico médico para o psicológico
“O médico, quando se debruça sobre o paciente, posicionando o estetoscópio sobre o seu peito em busca de
informações sobre o funcionamento do coração, já está passando ao paciente a sensação de que é cuidado,
tratado mesmo, e isso faz com que ele se sinta melhor. Há mesmo quem veja neste gesto a recriação simbólica de
um cordão umbilical ligando médico e paciente, com tudo de nutritivo que isso possa ter.
Quando um psicólogo entrevista um paciente pela primeira vez, procurando diagnosticar sua forma de reação à
doença, ao mesmo tempo já está oferecendo ao paciente uma escuta que permite ao paciente elaborar sua
doença por meio da fala, o que por si só produz efeitos terapêuticos. Não existe um ato que seja exclusivamente
diagnóstico, e todo encontro comporta possibilidades terapêuticas”. (Simonetti, 2004, p.36).
Num primeiro momento, é preciso apresentar-se ao paciente, esclarecerseu papel dentro do hospital e dizer em
quais momentos ele poderá solicitar sua ajuda.
Depois, vem a hora de deixar o paciente falar, e então, estimulá-lo com uma pergunta prazerosa, como por
exemplo: “Você é casado ou solteiro?”; "Tem filhos?”, ou elogiar a roupa ou o cabelo. Isto é muito importante
para “quebrar o gelo” frente a uma “figura estranha” e que carrega o estigma de que “cuida de loucos”.
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Na hora em que o paciente estiver falando, é imprescindível estar atento à comunicação não verbal, como:
negação, enganação, falta de percepção, reconhecimento, risadas, perguntas inadequadas, críticas, evitação para
falar de si, entre outros sinais.
3 Contratos estabelecidos pelo psicólogo no atendimento 
em hospital
Abaixo, veremos alguns tipos de contrato que o psicólogo pode estabelecer com os hospitais quanto ao
atendimento prestado, segundo Bruscatto, Benedetti e Lopes (2004):
3.1 Atendimento integral da clientela:
Viável em internação de menor porte ou junto a especialidades médicas que atendem um número limitado de
indivíduos.
Possibilita fazer uma triagem de todos os pacientes, tendo em vista a seleção, pelo psicólogo, dos casos que
apresentam demanda de assistência psicológica durante o período de hospitalização.
3.2 Atendimento parcial da clientela:
Útil em unidades de internação de médio ou grande porte. Seleciona a parcela dos indivíduos hospitalizados para
os quais o psicólogo julga ser prioritário o atendimento.
Exemplo: o médico e os enfermeiros definem se os pacientes da enfermaria com problemas ortopédicos devem
passar pelo atendimento psicológico.
Saiba mais
Todos esses são considerados como a percepção desta pessoa ao espaço hospitalar. É por meio
dos feedbacks a essas reações que a relação de confiança, o acolhimento, o suporte, o respeito
e atenção são estabelecidos.
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3.3 Atendimento parcial da clientela, segundo critérios de seleção 
estabelecidos pela equipe:
Em grandes enfermarias e com um número heterogêneo de pacientes, este tipo de hospital prevê que a
assistência psicológica seja prestada apenas para aqueles considerados mais necessitados.
4 Registrando os atendimentos psicológicos
Todos os atendimentos psicológicos devem ser registrados no prontuário hospitalar do paciente até a sua
conclusão naquele espaço.
Algumas condições devem ser levadas em consideração para avaliar o estado do paciente na enfermaria, tais
como:
· Condição psíquica atual do paciente;
· Correlação entre o estado psíquico atual e sua situação médica condição emocional prévia (estrutura e
dinâmica de personalidade);
· Situação psicossocial e ambiental.
Após todo e qualquer fechamento de atendimento na enfermaria, é preciso que alguns questionamentos sejam
respondidos, conforme exposto por Bruscatto, Benedetti e Lopes (2004, p.63):
Percebe-se que a avaliação psicológica no espaço hospitalar tem todo um protocolo a ser seguido, para que se
obtenha êxito nos resultados. Caso contrário, torna-se apenas um diálogo.
5 Ética no preenchimento dos prontuários
O Código de Ética do Psicólogo aborda a questão do sigilo no seu artigo 9º.
A Resolução CFP 001/2009, em seu artigo 2º, aponta as informações que devem ser registradas no prontuário
pelo psicólogo,
Artigo 9º
"É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional, a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a
intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.”
Os prontuários no hospital se colocam como um meio de comunicação entre os profissionais da saúde, para que
todos entendam o estado físico e emocional do paciente e deem continuidade ao tratamento dentro de uma
lógica de raciocínio.
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“O hospital, para dar um exemplo, apenas tem a guarda desses documentos, ou seja, é seu fiel depositário, com a
finalidade de preservar o histórico de atendimento de cada paciente" (Conselho Regional de Psicologia de São
Paulo).
Artigo 2º
- Identificação do usuário/ instituição;
- Avaliação de demanda e definição dos objetivos do trabalho;
- Registro da evolução dos atendimentos, de modo a permitir o conhecimento do caso e seu acompanhamento,
bem como os procedimentos técnico-- científicos adotados;
- Registro de encaminhamento ou encerramento;
- Cópia de outros documentos produzidos pelo psicólogo para o usuário/ instituição do serviço de Psicologia
prestado, que deverá ser arquivada;
- Registro da data de emissão, finalidade e destinatário.
6 Preenchimento dos prontuários nos hospitais
Em hospitais, a situação não é muito diferente: deve-se seguir o mesmo protocolo, para que os prontuários sejam
preenchidos com rigor e ética. As informações contidas neste espaço devem ser apenas as relevantes,
resguardando a confidencialidade dos detalhes e reforçar o sigilo das informações.
Estes prontuários devem ficar arquivados por um período de cinco anos, sob a responsabilidade do hospital. Mas
como é área de saúde, este deve permanecer guardado durante 20 anos.
Primeiro contato
Uma paciente chamada Mariana, de 27 anos, está em sua 4ª tentativa de ser mãe. Sua gravidez é de risco, devido
à pressão arterial descontrolada e anemia profunda.
A paciente relata que não conheceu o pai biológico na infância e fora criada pelo padrasto, por quem tem um
enorme carinho e afinidade.
Nega-se a entrar em contato com qualquer diagnóstico de doenças, com medo da morte. Prova disso é o relato de
possuir nódulos nas mamas há quatro anos e não querer investigar, por medo de ser câncer.
Segundo contato
Quando cheguei, Mariana estava chorando. Disse:
“Daqui a pouco vou matar um aqui. Vou fazer uma loucura. Quando meu marido vier, vou assinar a minha alta.
Ninguém diz o que está acontecendo com meu filho. Uns dizem que estou com 34 semanas.
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Hoje me disseram que estou com 33. Amanhã vou estar com 32. Daqui a pouco estou com 10 meses de gravidez e
não sei”.
“Disseram que eu estou com infecção, mas não explicaram por quê. Não sei se eu perdi líquido. Falei pra médica
uma vez que a minha calcinha estava molhada, mas eu não sabia o motivo. Só o exame podia saber se eu perdi
líquido”.
“E o meu filho? Estou com infecção e eles não fazem nada! Eles só dizem isso, que estou clinicamente normal,
sem perda de líquido. Mas e esses leucócitos, o que são? Tem que saber!”. “Estou morrendo de medo. Eu já perdi
três bebês, e todos os meus partos foram induzidos porque a dilatação não completa. Meu marido está uma pilha,
pois quer muito esse filho”. Neste momento, Mariana começa a chorar e demonstrar sua raiva, enquanto arruma
a cama.
Terceiro contato
Mariana diz estar conformada, mas está um pouco zangada. A médica entrou no quarto e disse que está tudo
bem. “Deixa só acontecer alguma coisa pra eles verem – diz Mariana.
Não vou perder mais um bebê. Eles estão esperando eu ‘empacotar’, aí vai ser tarde (risos). Infelizmente, e Deus
me livre, eles esperam acontecer alguma coisa.”
Pouco depois, Mariana estava rindo e brincando com a paciente ao lado (uma jovem de 16 anos, na primeira
gravidez) e perguntando se tinha sentido saudades dela. Comentou uma brincadeira que fez com a médica, que
fez seu exame de toque, e disse que ia “esperar para ver”.
Quarto contato
Descobriu-se a razão dos leucócitos e das dores nos quadris que Mariana sentia (ela queixava-se de frequentes
dores na coluna lombar, e achava que era por causa do colchão): ela tem cálculo renal.
Naquele dia, a obstetra deslocou a bolsa para induzir o parto. Rapidamente, a paciente chegou a três centímetros
de dilatação. Estava andando pelo corredor quando cheguei, e disse que ficou aliviada pelo parto ter sido logo.
Depois desse dia, não vi mais Mariana, por conta de outros casos que precisei atender. Soube pelas médicas que
o bebê havia nascido três dias depois da quarta consulta e Mariana o havia levado para casa dois dias depois do
parto (cesariana).
Saiba mais
Visite este site do CRP-SP:
//www.crpsp.org.br Acesso em 30 nov. 2012.
Nele, você encontrará de forma detalhadaa ética no preenchimento dos prontuários. Acesso
em 30 nov. 2012.
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
· A humanização no espaço hospitalar;
· O psicólogo como ouvidor na humanização hospitalar;
· As práticas psicológicas no SUS.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Entendeu a avaliação psicológica no espaço hospitalar;
• Aprendeu sobre a entrevista no espaço do hospital;
• Analisou o comportamento ético no preenchimento do protocolo no espaço do hospital;
Referências
BAPTISTA, M.N. Psicologia Hospitalar: teoria, aplicações e casos clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2010.
BRUSCATO, W.L.; BENEDITTI, C.; LOPES, S.R.A. A prática da Psicologia Hospitalar na Santa Casa de Misericórdia:
novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
OLIVEIRA, Beatriz; SOUZA, Joel; FREITAS, Paulo. A entrevista psicológica no ambiente hospitalar: a escuta ativa e
a avaliação psicológica do paciente. Disponível em: //goo.gl/ky9FP. Acesso em 30 nov. 2012.
SIMONETTI, Alfredo. Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2004.
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