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66 UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais Professor Moacir Junior Carnevalle Plano de Estudo: • Das sentenças estrangeiras e possibilidade de aplicabilidade no Brasil; • Da teoria geral das organizações internacionais; • Da ONU; • Da teoria geral dos mercados regionais. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar o que são sentenças estrangeiras e verificar quando podem gerar efeitos no Brasil; • Abordar aspectos gerais relacionados às organizações internacionais; • Entender em que consiste a Organização das Nações Unidas e qual o seu papel no cenário internacional; • Contextualizar os mercados regionais e a sua importância para o desenvolvimento dos Estados. 67UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais INTRODUÇÃO Olá. Chegamos à última unidade do material didático. Você está próximo(a) de terminar mais uma disciplina importante para sua formação. Vamos a ela então. Nesta unidade entenderemos quais os requisitos necessários para que uma sen- tença estrangeira gere efeitos no Brasil. Abordaremos, também, as Organizações Interna- cionais, inclusive a mais importante delas, a Organização das Nações Unidas (ONU), e os mercados regionais. Para o desenvolvimento do conteúdo proposto dividimos a unidade em quatro tópicos. No primeiro aprenderemos que o direito brasileiro admite, embora com algumas restrições, que sentenças proferidas por tribunais estrangeiros possam ser aplicadas em nosso território. No segundo tópico veremos aspectos gerais relacionados às Organizações Inter- nacionais, que, como visto em unidade anterior, são sujeitos de Direito Internacional, e cuja participação no cenário mundial tem cada vez mais relevância. Na terceira parte, nosso foco se concentrará na Organização das Nações Unidas (ONU), uma organização internacional de caráter mundial cujas decisões impactam direta- mente os rumos da sociedade internacional. Por fim, no último bloco abordaremos os mercados regionais, cuja atuação, como o próprio nome indica, procura privilegiar Estados que estão localizados em regiões próxi- mas, e que hoje têm importante papel de destaque, principalmente em questões comerciais e econômicas. Portanto, aproveite bem esta última unidade para concluirmos o estudo acerca do Direito Internacional. 68UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais 1. AS SENTENÇAS ESTRANGEIRAS E POSSIBILIDADE DE APLICABILIDADE NO BRASIL A sentença é um ato soberano emanado da autoridade judicial de determinado Estado. Como qualquer ato soberano, incide prioritariamente no território nacional, sendo endereçada à população desse estado. Algumas decisões, entretanto, interessam a mais de um país. Como dito, geral- mente a decisão irá valer apenas no território nacional do juiz prolator, apesar do interesse de outras jurisdições, então é nesse contexto que surge a necessidade de homologação da sentença estrangeira. Com a homologação da sentença estrangeira ela passa a produzir efeitos no país prolator, e também se torna apta a produzir efeitos em outras jurisdições. Homologar significa tornar a sentença estrangeira semelhante (em seus efeitos) às sentenças aqui proferidas, utilizando-se como parâmetro as decisões do Judiciário pátrio. Trata-se, portanto, de ato formal que recepciona a sentença alienígena na ordem jurídica nacional, apoiado, contudo, em mero juízo de deliberação, pelo qual não se analisa senão o preenchimento dos requisitos formais previstos tanto no Código de Processo Civil (art. 963) como na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 15). (MAZZUOLI, 2018). Ou seja, as sentenças estrangeiras passam por uma espécie de reconhecimento, para produzir efeitos, visto que seria impossível executar sentença proferida por outro Estado. 69UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais No Brasil, a competência para homologar sentenças estrangeiras era do STF, até o advento da Emenda Constitucional 45/2004, quando passou para o STJ, de acordo com o artigo 10, I, da Constituição Federal.(BRASIL, 1988) O Brasil é um dos países que admite homologação de sentenças estrangeiras, res- saltando que a sentença estrangeira só será admitida no Brasil após homologação, salvo lei contrária ou tratado, como pode se ver no artigo 961, caput, do Código de Processo Civil. O procedimento de homologação da sentença estrangeira não é apto a examinar o mérito da sentença em si, mas apenas os requisitos formais sobre a violação ou não da soberania nacional, ordem pública e bons costumes (art. 17, da LINDB). (BRASIL, 1942) No Brasil, a homologação dependerá, portanto, da apreciação judicial, e o regra- mento a respeito encontra-se disciplinado por vários diplomas legais: Constituição Federal, artigos 105.1, “ i” , e 109, X; Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), artigos 15 a 17; Código de Processo Civil (CPC) 2015, artigos 960 a 965; Lei 9.307, de 23/09/1996, artigos 34 a 40; e o Regimento Interno do STJ, atualizado pela Emenda Regi- mental 18, de 17/12/2014, que incluiu os artigos 216-A a 216-N no Regimento Interno em apreço. A homologação também é regulada por tratados que podem existir entre dois ou mais Estados (PORTELA, 2017). O artigo 15 da LINDB estabelece os requisitos para a homologação da sentença estrangeira no Brasil: Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro que reúna os seguintes requisitos: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificada a revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado; e) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 1942). Quando observado o artigo 483 do CPC, mais um requisito deve ser acrescentado: estar autenticada pelo cônsul brasileiro. Nesse sentido também o art. 216-D do Regimento Interno do STJ, alterado pela Emenda Regimental nº 24, de 28 de setembro de 2016, estabelece que: Art. 216-D. A decisão estrangeira deverá: I – ter sido proferida por autoridade competente; II – conter elementos que comprovem terem sido as partes regularmente citadas ou ter sido legalmente verificada a revelia; III – ter transitado em julgado (BRASIL, 2020). O artigo 963 do CPC de 2015 enumerou requisitos distintos para a homologação: Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: I – ser proferida por autoridade competente; 70UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais II – ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III – ser eficaz no país em que foi proferida; IV – não ofender a coisa julgada brasileira; V – estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI – não conter manifesta ofensa à ordem pública. O NCPC trouxe a possibilidade de a autoridade judiciária brasileira deferir pedidos de urgência e realizar atos de execução provisória no processo de homologação de decisão estrangeira (CPC, art. 961, § 3°). (BRASIL, 2015) Neste sentido, a doutrinadora Maristela Basso (2020, p. 227) ensina: Segundo a orientação da doutrina e a práxis da recente jurisprudência do STJ, os requisitos para homologação das sentenças estrangeiras devem ao menos acompanhar dois fundamentos distintos, mas combinados em sua essência. Primeiramente, o procedimento homologatório deve ser coerente com o juízo de delibação. Isso significa que o procedimento implicado na execução das sentenças estrangeiras no direito brasileiro se basta na apre- ciação da procedência e legitimidade do ato prolatado, mas também não deixa de verificar se existiria alguma barreira ao reconhecimento de seus efeitos, como no tocante à violação da ordem pública e soberania nacional, conforme os contornos dados pela norma do art. 17da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro,14 que estabelece uma exceção à aplicação do direito estrangeiro pelo juiz nacional. E quanto aos tipos de sentença, sejam elas constitutivas, declaratórias, condenató- rias e as sentenças arbitrais, também são objetos de homologação pelo STJ. Mazzuoli (2018) explica que as decisões interlocutórias (v.g., citações, produção de provas, oitiva de testemunhas, exceções processuais etc.) não são, por sua vez, homo- logáveis; serão objeto, contudo, de carta rogatória, cuja concessão do exequatur também compete ao STJ (CF, art. 105, I, i). Os títulos executivos extrajudiciais advindos de países estrangeiros não necessi- tam de homologação pelo STJ, visto que, para ter eficácia, basta cumprir os requisitos de formação exigidos pelo território de celebração e indicar o Brasil como foro de cumprimento para determinada obrigação, isto se encontra visível no artigo 585, § 2° do CPC. Não é possível homologar sentença estrangeira na parte em que ordene, sob pena de responsabilização civil e criminal, a desistência de ação judicial proposta no Brasil, de acordo com a atual jurisprudência do STJ. Em regra, só se homologam, no Brasil, sentenças cíveis, não se podendo ho- mologar sentenças penais para fins propriamente criminais. O que se permite é que seja homologada sentença penal para que da homologação surtam efeitos civis, como autoriza o art. 790 do Código de Processo Penal, pelo qual [o] interessado na execução de sentença penal estrangeira, para a reparação do dano, restituição e outros efeitos civis, poderá requerer ao Supremo Tri- bunal Federal [hoje, Superior Tribunal de Justiça] a sua homologação, obser- vando-se o que a respeito prescreve o Código de Processo Civil (MAZZUOLI, 2018, p. 194). 71UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais O CPC/2015 autorizou expressamente a dispensa do procedimento homologatório quando assim prever lei ou tratado (art. 961, in fine) e, também, no que tange às sentenças estrangeiras de divórcio consensual (art. 961, § 5º). Dentre os requisitos exigidos pelo legislador, a sentença estrangeira deve ter sido proferida por juiz competente, segundo as regras de competência do Direito Processual Internacional. Não cabe ao STJ examinar sobre qual é o juízo competente para a confecção da sentença, mas apenas verificar se a sentença poderia ter sido proferida pelo juízo da qual emanou (GARCIA, 2016). No momento da deliberação, cabe ao STJ checar se a citação das partes envolvi- das foi regularmente efetuada ou se a revelia foi corretamente configurada com supedâneo na legislação do país onde a sentença foi prolatada. É válido lembrar que quando o réu reside no Brasil, o único meio de citá-lo é por meio de carta rogatória, que depende do exequatur do STJ para ser cumprida. Quando o requerido se encontrar em local incerto, não sabido ou inacessível, o STJ entende que é possível a citação por edital (GARCIA, 2016). De acordo com o artigo 224 do CC, os documentos redigidos em língua estrangeira devem ser traduzidos para o português, para que possam produzir efeitos legais aqui no país. Essa exigência é com base na língua adotada no Brasil, que tem o português como seu idioma oficial, segundo o art. 13 da Constituição Federal (GARCIA, 2016). Ainda, de acordo com a Súmula 420 do STF, a sentença só será aqui homologada se tiver transitado em julgado no país onde foi prolatada. 72UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais 2. DA TEORIA GERAL DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS Quando surgiram, as organizações internacionais não foram imediatamente reco- nhecidas como sujeitos de Direito Internacional, o que se deu possivelmente em função do texto da Convenção de Viena de 1969, que não vislumbrou expressamente a capacidade dessas entidades de concluir tratados. Posteriormente, a prática internacional tornou evidente a possibilidade de que também as organizações internacionais celebrem tratados, o que levou à negociação e assinatura da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Orga- nizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais, de 1986, que reconhece explicitamente a capacidade contratual autônoma dos organismos coletivos dotados de personalidade jurídica de Direito Internacional. Desta forma, os atos internacionais que contam com a participação de organizações internacionais podem ser regulados tanto pela Convenção de Viena de 1969, por analogia, como pelas normas costumeiras pertinentes. As organizações internacionais podem concluir tratados independentemente de seus membros e até contra a vontade de alguns dos Estados que dela façam parte. Podem ainda celebrar tratados com seus próprios membros, com terceiros Estados ou com outras organizações internacionais. Entretanto, a capacidade das organizações internacionais de elaborar tratados apresenta certas peculiaridades. A título de exemplo, o poder dessas entidades nesse 73UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais campo não é tão amplo quanto o do Estado, porque esses sujeitos internacionais só podem celebrar acordos relativos a seus objetivos. É, assim, uma capacidade parcial, que decorre de seu tratado constitutivo, que estabelece os objetivos da organização. A capacidade dessas entidades de concluir trata- dos é derivada, visto que resulta da decisão dos Estados que as criaram e que, como seus membros, são, em muitos casos, os responsáveis pela formação da vontade do organismo, por meio das negociações que entabulam em seu âmbito. Cada organização internacional estabelece, em seu tratado constitutivo, os órgãos competentes para celebrar tratados em seu nome (PORTELA, 2017). Por fim, é de suma importância não confundir as organizações internacionais com as organizações não governamentais (ONGs), sendo que estas possuem o caráter de entidades privadas que não são mantidas por recursos advindos do poder público. Em relação à personalidade jurídica, às Organizações Internacionais têm natureza de pessoa jurídica de direito internacional, de caráter institucional. A criação de Organizações Internacionais fundamenta-se no poder soberano dos Estados. A natureza jurídica é, portanto, a mesma dos Estados, mas com limites de compe- tência predeterminados pelos próprios membros que a constituem. A principal diferença é a origem do fundamento: nos Estados, existe uma justifi- cativa interna para a personalidade jurídica, derivada da faceta interna da soberania. Nas Organizações Internacionais, o único elemento justificador é externo, derivado apenas da soberania dos Estados-membros. Se houver outras Organizações Internacionais como membros, o fundamento continua a ser a soberania dos Estados que, indiretamente, atribuíram capacidades e com- petências a estas, por meio da primeira Organização Internacional que integraram. A personalidade jurídica da Organização Internacional é um elemento fundamental do próprio conceito. Deve ser reconhecida pelos membros, mas nem sempre o é pelos sujeitos de direito internacional que não a integram. Para tanto, pode haver a necessidade de um tratado entre os não membros e a Organização Internacional para validar o reconhe- cimento. No entanto, tal cenário vem modificando-se aos poucos. A Corte Internacional de Justiça, por exemplo, sugere o reconhecimento presumido da personalidade jurídica das Organizações Internacionais universais, com mais de 50 membros, pelos não membros. A maioria dos tratados entre Estados, no entanto, não gera uma Organização Internacional. 74UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais A existência da personalidade jurídica deve ser prevista no tratado constitutivo da organização. No direito internacional contemporâneo, com a multiplicação de Organizações Internacionais de toda ordem, principalmente regionais,com poucos Estados, existe uma tendência ao reconhecimento geral da personalidade jurídica pelos não membros, mas a regra ainda é a necessidade de um tratado que valide esse reconhecimento. Não se deve confundir, contudo, a personalidade jurídica internacional da Organiza- ção Internacional com a sua personalidade jurídica no direito doméstico de cada Estado em que atua. Quando as organizações internacionais atuam em um determinado território, este Estado deve prever mecanismos para a atribuição de direitos e obrigações às organizações internacionais, o que varia de Estado para Estado. Algumas organizações internacionais preveem expressamente que os membros reconhecerão de forma automática o direito da organização de exercer todos os atos para o cumprimento de suas funções, como a própria Carta da ONU, em seu art. 104. No Brasil, por exemplo, devem ter um CNPJ. São os Estados que atribuem capa- cidades internacionais de controle às Organizações Internacionais, ou seja, os Estados permitem que as Organizações Internacionais os controlem. A princípio, podem restringir esses poderes quando analisarem melhor, diminuindo os poderes da Organização Interna- cional ou quando os demais Estados não concordarem com isso, retirando-se. No entanto, em algumas Organizações Internacionais universais, sobretudo em temas militares e de segurança internacional, é cada vez mais remota a possibilidade de não ser controlado pela Organização Internacional quando não lhe for conveniente. As Organizações Internacionais também podem criar outras Organizações Inter- nacionais. Neste caso, a organização instituidora atribuirá parte de suas capacidades e competências à outra, também decorrente da vontade dos Estados. De qualquer modo, a vontade soberana dos Estados-membros é a fonte e o fundamento de todos os poderes das Organizações Internacionais. A Organização das Nações Unidas criou diversas Organizações Internacionais. O conjunto dessas organizações ligado à ONU é chamado de sistema onusiano. Entre estas, pode-se citar a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) (VARELLA, 2019). O ato constitutivo das organizações internacionais normalmente é um tratado que, em geral, denomina-se estatuto. 75UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais O tratado constitutivo das Organizações Internacionais é ratificado por Estados ou por outras Organizações Internacionais e determina as estruturas, as competências, as finalidades, os meios de execução, os procedimentos para alteração de seu estatuto, suas formas de extinção, além do orçamento. Para cada estrutura, define os instrumentos e critérios para composição de cargos e a forma de exercício do poder. Esses tratados são documentos solenes, que geralmente não aceitam reservas. Os membros devem aceitar a Organização Internacional, tal como foi negociada. Também não podem alegar outros tratados posteriores para esquivar-se de cumprir o trata- do constitutivo porque este tem primazia sobre outros tratados. Existem ainda alguns outros tipos de personalidade jurídica de direito internacional, que não podem ser classificados nem como Estados nem como Organizações Internacio- nais, mas que merecem ser citados: • Agências de Estados: são criadas por Estados, para resolver problemas específicos, com pouca autonomia, ou seja, não tão independentes quanto as Organizações Internacionais e sem personalidade jurídica própria. Podem ter alguns poderes autônomos restritos, como criar regras específicas para gerenciar problemas determinados, administrar determinada área, decidir litígios específicos ou supervisionar a execu- ção de tratados, a exemplo da Comissão Conjunta Internacional para Administrar as Águas Fronteiriças entre o Canadá e os Estados Unidos ou a antiga Comissão Europeia para o Danúbio. • Agências de Organizações Internacionais: são órgãos subsidiários das Organizações Internacionais, com elevado grau de autonomia, em geral com poderes para criar e controlar a implementação de normas interna- cionais, sem, no entanto, terem personalidade jurídica própria, a exemplo da Agência Nuclear de Energia Europeia da OCDE (VARELLA, 2019, p. 425). Os membros das Organizações Internacionais são os Estados ou outras Orga- nizações Internacionais. Existem três diferentes modalidades de vínculo: permanente, observador e temporário. Os membros permanentes podem participar ativamente de todas as atividades da Organização Internacional, com direito a voz e voto. Os observadores têm acesso às reuniões e podem ter, inclusive, direito à voz, mas não terão direito a voto. Temporários são convidados para reuniões específicas, para a discussão de pontos que lhe interessam, ou apenas durante um período restrito e, em geral, predeterminado. Mesmo entre os membros permanentes, o direito de participação nos órgãos não é necessariamente aberto a todos os Estados-membros. Em uma mesma Organização In- ternacional, é possível ter órgãos restritos, a exemplo do Conselho de Segurança da ONU, 76UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais que tem apenas 15 membros, sendo 5 permanentes e outros 10 temporários, escolhidos dentre os mais de 190 Estados-membros. Muitas vezes os Estados preferem passar um período como observadores junto às Organizações Internacionais antes de ingressarem como membros permanentes, para melhor avaliar as vantagens de um vínculo obrigatório com as posições assumidas pela organização. A princípio, as normas da Organização Internacional atingem apenas os membros. Em algumas organizações de caráter universal, como a ONU, aceita-se sua competência geral e irrestrita sobre todo e qualquer conflito que ameace a paz internacional. Assim, um Estado que não é membro da ONU não pode defender-se perante as ações dessa organização sob o argumento de que não a integra. Se assim não fosse, um Estado prestes a sofrer a intervenção militar da ONU poderia retirar-se da organização e ficar imune à intervenção. A representação diplomática dos membros é feita por meio da missão diplomática credenciada junto à Organização Internacional. Os representantes irão acompanhar as discussões e tomar posições sobre os assuntos discutidos, em um contexto de diplomacia multilateral permanente. Em geral, a quantidade de diplomatas depende não apenas dos recursos de cada Estado, mas principalmente da importância dada pelo Estado aos temas discutidos na Organização Internacional. Muitos Estados sequer têm representação diplomática permanente para atuar pe- rante as principais Organizações Internacionais, seja por opção, seja por falta de interesse ou ainda por falta de recursos. O Estado pode deixar de ser membro de uma organização internacional de quatro formas: retirada por iniciativa própria; expulsão do Estado pela Organização; dissolução da organização; dissolução do Estado-membro. A exclusão de um membro é bastante rara, sendo mais comum a proibição da sua participação efetiva, como a suspensão do seu direito de voto, mesmo porque essa medida impede que a Organização Internacional possa continuar agindo sobre o Estado, no futuro. Na ONU, é possível suspender o direito de voto quando há atraso no pagamento da contribuição anual, de forma reincidente, ou quando o Estado se nega a cumprir as resoluções da organização. A maior parte das Organizações Internacionais prevê a possibilidade de o Estado se retirar, desde que anuncie suas intenções previamente, em geral, com um ano de ante- cedência. 77UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais A ONU nunca expulsou um membro. No entanto, África do Sul, Haiti e República Dominicana já tiveram seus direitos de voto suspensos pela Assembleia Geral (VARELLA, 2019). No que tange à classificação, as Organizações Internacionaispodem desempenhar sua atuação em âmbito geográfico, funcional ou estrutural. No âmbito geográfico podem ser universais ou regionais. A primeira se trata das organizações internacionais que tratam de assuntos que interessam a todos os países, e estão abertas para associações de todos os países. Já as regionais tratam de assuntos do interesse de uma parcela de países que se encontram geralmente numa mesma região e estão abertas somente para associações destes países. No âmbito funcional caracterizam como fins gerais ou específicos. São de fins gerais as organizações internacionais que têm por objetivo, consoante ao definido no res- pectivo pacto constitutivo, tratar de uma gama de assuntos referentes às relações pacíficas entre seus membros e a resolução de conflitos internacionais. Ao passo que são de fins específicos as que tem por objetivo, consoante ao definido no respectivo pacto constitutivo, cuidar de assuntos particulares da cooperação internacional. Já no âmbito estrutural podem classificar-se em de cooperação ou de integração. Basicamente a caracterização entre uma e outra vai ser determinada pela extensão da transferência de competências que os Estados-membros decidiram em favor das organiza- ções em que participam. As Organizações Internacionais de Cooperação caracterizam-se como tendo com- petências limitadas, com uma estrutura institucional simples, sendo as decisões tomadas por consenso ou unanimidade; e as deliberações que só criam obrigações aos estados e não diretamente aos nacionais desses estados. Por outro lado, as Organizações Internacionais de integração (ou supranacionais) caracterizam-se por terem competências amplas; estrutura institucional complexa; deci- sões tomadas por maioria simples ou qualificadas, e sempre vinculativas; deliberações que criam obrigações ao estado e aos seus nacionais; existência de órgãos próprios para o exercício do poder executivo e das atividades administrativas; existência de um tribunal independente (poder jurisdicional obrigatório) constituído no seio da própria organização. No âmbito participativo podem ser classificadas em abertas ou fechadas. São aber- tas as que condicionem a participação dos países a certos requisitos objetivos, exemplo da ONU, de acordo com o texto do art. 4°, § 1° da Carta das Nações Unidas. 78UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais E são fechadas as que limitam a participação de estados por não apresentarem certos requisitos tidos como essenciais. Esta limitação é motivada pelo caráter objetivo ou âmbito geográfico da OI. Exemplo: Conselho da Europa, pois esta organização só permite o ingresso do estado europeu que seja uma democracia representativa e pluralista, além de respeitador dos direitos humanos (GARCIA, 2016). As Organizações Internacionais gozam de imunidades e privilégios assim como os Estados, porém diferente dos estados que recebem como reciprocidade, elas os têm como requisitos para funcionalidade.Com exceção da ONU, cujos privilégios e imunidades são válidos perante qualquer país, independentemente de ser ou não membro, as das demais Organizações Internacionais são válidas apenas nos Estados-Membros. As imunidades e privilégios englobam imunidade de jurisdição; inviolabilidade dos locais de atividade da organização internacional e o correspondente direito de assegurar a proteção desses locais; inviolabilidade de todos os bens da OI (não passiveis de requisição, confisco ou expropriação) – imunidade de execução; garantia de livre comunicação com o exterior; inviolabilidade dos arquivos em qualquer circunstância e onde quer que se encon- trem; imunidades fiscais (GARCIA, 2016). As organizações internacionais são criadas, em regra, para funcionarem por tempo indeterminado, embora existam algumas que são criadas com tempo determinado, como, por exemplo, a Comunidade Europeia do Carvão e Aço (CECA), criada pelo tratado de Paris para viger pelo prazo de 50 anos. A extinção de uma organização internacional ocorrerá de acordo com o que estiver estipulado no seu ato constitutivo. De qualquer modo podem extinguir a qualquer tempo pela vontade dos próprios sujeitos de direito internacional que a criaram (GARCIA, 2016). 79UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais 3. A ONU A ONU foi criada por ocasião da Conferência de São Francisco, em 26/06/1945, quando foi firmada a Carta das Nações Unidas (Carta da ONU), ato constitutivo da orga- nização, e iniciou suas atividades em 24 de outubro do mesmo ano. Sua sede é em Nova Iorque (EUA), contando ainda com uma sede europeia, em Genebra (Suíça), e diversas sedes, órgãos e representações distribuídos ao redor do mundo. A ONU sucedeu a Liga das Nações, também conhecida como Sociedade das Na- ções (SDN), que existiu entre 1919 e 1947 e que tinha sede em Genebra. Seu objetivo era garantir a paz e a segurança internacionais, além de promover a cooperação econômica, social e humanitária entre seus membros. Tinha vocação universal e fundamentava-se em princípios como a segurança coletiva e a igualdade entre os Estados. Preconizava a proscrição da guerra, a solução pacífica das controvérsias e a observância dos tratados. Entretanto, a entidade acabou sucumbindo frente à escalada de tensões que levou à II Guerra Mundial. Contribuíram para seu fracasso a adoção da regra da unanimidade para aprovação das principais decisões da entidade e a não participação de Estados importan- tes, como os EUA. A ONU é consequência direta da II Guerra Mundial e do interesse dos Estados que venceram o conflito em reorganizar o mundo em bases que evitassem novos conflitos armados, que incluíam: a promoção da dignidade humana e o respeito aos direitos funda- mentais dos indivíduos; a igualdade entre as pessoas, os povos e os Estados; a promoção 80UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais do progresso econômico e social; e a proibição do uso da força nas relações internacionais, a não ser no interesse comum da sociedade internacional. As negociações voltadas à criação da ONU começaram antes mesmo do fim da II Guerra. Em 01/01/1942, foi firmada a Declaração das Nações Unidas, documento que reunia Estados que combatiam o Eixo Alemanha-Itália-Japão. Em 1943, por ocasião da Conferência de Moscou, EUA, Reino Unido e União Soviética concluíram que a reorgani- zação do mundo do pós-guerra deveria contar com o aporte de uma organização fundada na igualdade soberana entre os Estados e voltada prioritariamente à manutenção da paz. A proposta seria formatada por ocasião de reuniões em Dumbarton Oaks (EUA), em 1944, e em Yalta (na atual Ucrânia), em 1945, que serviram de base para a elaboração da Carta das Nações Unidas. O principal documento da ONU é a Carta das Nações Unidas (Carta da ONU), que é seu ato constitutivo e que define sua criação, seus objetivos, seus princípios e principais órgãos. Foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto n. 19.841, de 22 de outubro de 1945. Os propósitos da ONU foram estabelecidos no artigo 1 da Carta das Nações Unidas e são os seguintes: • manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, cole- tivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do Direito Internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; • desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; • conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas in- ternacionais de caráter económico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimularo respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; • ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a conse- cução desses objetivos comuns (BRASIL, 1945). A ONU deve agir orientada pelos seguintes princípios (art. 2o da Carta da ONU) (BRASIL, 1945): • todos os seus integrantes são iguais entre si; • as obrigações decorrentes da Carta da ONU deverão ser cumpridas de boa fé; • as controvérsias internacionais deverão ser solucionadas por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais; 81UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais • deverão ser evitadas, nas relações internacionais, a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os propósitos das Nações Unidas; • os membros da ONU darão aos Estados toda assistência em qualquer ação a que eles recorrerem de acordo com a Carta da ONU e não darão auxílio a Estados contra os quais as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo; • a ONU fará com que os Estados que não são membros das Nações Uni- das ajam de acordo com seus princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e da segurança internacionais; • a soberania nacional deverá ser respeitada, pelo que as Nações Unidas não estão autorizadas a intervirem em assuntos que dependam essencial- mente da jurisdição de qualquer ente estatal nem a obrigar os membros da Organização a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta, sem prejuízo, porém, da possibilidade de ação contra Estados que representem ameaça à paz. Em outras palavras: a ONU não derrogou nem eliminou o princípio da não intervenção em assuntos internos dos Estados, mas o limitou, diante da necessidade de manter a paz e a segurança internacionais. (BRASIL, 1945) As línguas oficiais da ONU são: árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo. A ONU é dividida em diversos órgãos, sendo que os principais são: Assembleia Geral, Conselho de Segurança, Corte Internacional de Justiça, Secretariado, Conselho Econômico e Social e Organização Mundial do Comércio. A Assembleia Geral das Nações Unidas é considerada o órgão mais democrático da ONU, justamente por ser composta de todos os membros da organização, cabendo a cada estado-membro o direito a apenas um voto. A Assembleia Geral reúne-se em sessões ordinárias, uma vez por ano, e em ses- sões extraordinárias, quando as circunstâncias o exigirem. As sessões extraordinárias são convocadas pelo Secretário-Geral, a pedido do Conselho de Segurança ou da maioria dos estados-membros. As decisões da Assembleia Geral são tomadas pela maioria simples dos membros presentes e votantes. Nas questões importantes, as decisões são tomadas por dois terços dos membros presentes e votantes. Nos termos da Carta, as questões importantes abrangem: recomendações acerca da manutenção da paz e da segurança internacionais; eleição dos membros não perma- nentes do Conselho de Segurança; eleição dos membros do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela; admissão de novos membros na organização; suspensão dos direitos e privilégios dos membros; expulsão destes; questões relativas ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias. Suas decisões noutras questões, até mesmo a determinação de categorias adicio- nais de assuntos a serem resolvidos por maioria de dois terços, são tomadas por maioria 82UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais dos membros presentes e que votem. Deixará de ter voto na Assembleia o membro da organização que estiver em atraso no pagamento de sua contribuição financeira, se o total de suas contribuições atrasadas igualar ou exceder a soma das respectivas contribuições correspondentes aos dois anos anteriores completos. A Assembleia poderá, no entanto, permitir que o referido membro vote, caso fique provado que a falta é devida a condições independentes de sua vontade. A Assembleia tem certas atribuições obrigatórias e outras facultativas. Entre as obrigatórias, que, na maioria dos casos, são privativas, figuram as seguin- tes: a consideração e aprovação do orçamento da organização; a eleição dos membros não permanentes do Conselho de Segurança e dos membros do Conselho Econômico e Social e do Conselho de Tutela; a admissão de novos membros na organização; a suspensão e a expulsão destes; a nomeação do Secretário-Geral das Nações Unidas (estas quatro últimas atribuições devem ser precedidas de recomendação do Conselho de Segurança); a eleição, simultaneamente com o Conselho de Segurança, dos juízes da Corte Internacional de Justiça; a adoção de regras para as nomeações pelo Secretário-Geral, do pessoal do secretariado das Nações Unidas; o exame dos relatórios anuais do Conselho de Seguran- ça, bem como dos relatórios dos outros órgãos das Nações Unidas; o estudo dos meios de promover a cooperação internacional, no terreno político, e a sua codificação, bem como dos meios de promover a cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário, e de favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião. As últimas atribuições são, geralmente, exercidas sob a autoridade da Assembleia, pelo Conselho Econômico e Social. Entre as funções ou atribuições facultativas da Assembleia, indicam-se as seguin- tes: discutir quaisquer questões ou assuntos que estejam no âmbito das finalidades da Carta das Nações Unidas ou se relacionem com as atribuições e funções de qualquer dos órgãos nela previstos; considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais; discutir quaisquer questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais que lhe forem submetidas por qualquer membro das Nações Unidas, ou pelo Conselho de Segurança, ou por um estado que não seja membro; solicitar a atenção do Conselho de Segurança para situações que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais. Enquanto, porém, o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou situação, as funções que lhe competem, a Assembleia não fará 83UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais recomendação alguma a respeito de tal situação ou controvérsia a menos que o próprio Conselho a solicite. Também é órgão da ONU o Conselho de Segurança, que foi criado para ser o órgão principal das Nações Unidas, compunha-se, inicialmente, de 11 membros, sendo 5 perma- nentes (China, Estados Unidos da América, França, Reino Unido e URSS) e 6 eleitos pela Assembleia Geral para um prazo de 2 anos e sem faculdade de reeleição para o período imediato. Em 1963, contudo, a composição do Conselho de Segurança foi modificada e passou a ter 10 membros não permanentes, além dos mesmos 5 membros permanentes. Cada membro do Conselho tem apenas um representante e apenas um voto. O Conselho reúne-se periodicamente, podendo fazê-lo fora da sede da organiza- ção. As decisões do Conselho são tomadas pelo voto afirmativo de nove dos seus membros, quando se trata de questões processuais, e pelo voto afirmativo de nove mem- bros, com a inclusão, entre estes, de todos os membros permanentes em todos os outros assuntos. Essa exigência do voto afirmativo de todos os membros permanentes do Conselho é o reconhecimento do chamado “direito de veto”, de qualquer deles contra a maioria, ou até a unanimidade dos demais. O uso abusivo do direito de veto paralisou durante longos anos o Conselho e acabou por enfraquecê-lo com o consequente fortalecimento da Assem- bleia Geral, que passou a opinar naqueles assuntos em que o Conselho de Segurançanão conseguia alcançar uma solução. Deve abster-se de votar o membro do Conselho que for parte numa controvérsia que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais ou numa contro- vérsia de caráter local, a respeito da qual o Conselho deva tomar alguma resolução. Qualquer membro das Nações Unidas que não for membro do Conselho poderá tomar parte, sem direito de voto, na discussão de qualquer questão submetida ao Conse- lho, se este considerar que os interesses do referido membro se acham, especialmente, em jogo. Analogamente, qualquer dos ditos membros ou qualquer estado que não pertença às Nações Unidas será convidado a participar, sem direito de voto, na discussão de qual- quer controvérsia submetida ao Conselho, uma vez que seja parte em tal controvérsia. Segundo o artigo 24 da Carta das Nações Unidas (BRASIL, 1945), os membros desta conferiram ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção 84UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais da paz e da segurança internacionais e concordaram em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho proceda em nome deles. Entre as principais atribuições do Conselho de Segurança figuram as seguintes: convidar as partes em uma controvérsia e resolvê-la por algum meio pacífico; recomendar procedimentos ou métodos de solução adequados para controvérsias ou situações que possam constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais; determinar a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão e fazer recomendações ou decidir medidas tendentes a manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais; dentre outros. Outro órgão de extrema importância da ONU é a Corte Internacional de Justiça (CIJ) – é o resultado de décadas de sedimentação da ideia de órgão jurisdicional capaz de assegurar a solução de controvérsias entre Estados. Criada em 1945, a CIJ constitui o principal órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela compõe, juntamente com a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Secretariado e o Conselho de Tutela, os seis principais órgãos da organização. À semelhança da ONU, concebida com base na extinta Sociedade das Nações (SdN), a Corte Internacional de Justiça modelou-se a partir da, também extinta, Corte Permanente de Justiça Internacional (CPJI), que constituía órgão complementar da SdN, mas, diversamente da sensação de fracasso, que marca o fim da SdN, a Corte Perma- nente de Justiça Internacional foi muito bem-sucedida em sua atuação. Tanto que gerou a dúvida, entre os representantes dos Estados, quando discutiam a criação da ONU, se a nova organização mundial que surgia deveria ou não manter a CPJI. No final, chegou-se à conclusão de que uma nova corte mundial deveria ser criada, condizente com o “novo mundo” do pós-guerra, com as novas superpotências e com as novas instituições de direito internacional. Em reconhecimento ao monumental trabalho realizado pela CPJI, foi decidido que o projeto da nova Corte deveria ser ou a adaptação do Estatuto da CPJI, mantida em vigor com as modificações julgadas necessárias, ou novo Estatuto para cuja redação deveria servir de base o da CPJI. Esta última opção acabou por prevalecer: o Estatuto da CIJ é substancialmente idêntico ao da CPJI. No início dos trabalhos da Corte Internacional de Justiça, em 1946, as decisões e pareceres prolatados pela antiga CPIJ foram aceitos como precedentes da nova Corte. Em realidade, deve-se entender o esforço empreendido e o trabalho realizado não a 85UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais partir de 1946, mas sim todo o respeitável conjunto de decisões e pareceres, desde 1922, quando teve início o trabalho da CPJI. Não por coincidência, a Corte Internacional de Justiça encontra-se localizada no mesmo local onde outrora estava instalada a antiga CPIJ, no Palácio da Paz, na cidade de Haia, Países Baixos. A base legal de funcionamento da CIJ está pautada pelo Capítulo XIV da Carta da ONU, pelo Estatuto da CIJ e pelas chamadas Regras da Corte – instrumento criado pela própria Corte, em 1978, para funcionar como espécie de código de processo. O Estatuto da Corte é extenso, contendo 70 artigos, de tal modo que pareceu pre- ferível não o inserir diretamente no corpo do texto da Carta da ONU. No entanto, o Estatuto da Corte é parte integrante da Carta da ONU, vale dizer, o estado que se torna Membro das Nações Unidas aceita integralmente o Estatuto da CIJ. Estados não membros da ONU podem postular perante a CIJ, bastando, para tanto, que o estado em referência cumpra os requisitos exigidos pela Assembleia Geral, atuando esta mediante recomendação do Conselho de Segurança. Assim, aos membros das Nações Unidas, a Corte estará aberta sem outras con- dições. Aos outros estados estará aberta nas condições que o Conselho de Segurança determinar, ressalvadas as disposições especiais dos tratados vigentes. Em nenhum caso tais condições colocarão as partes em posição de desigualdade perante a Corte. A CIJ é órgão permanente e sua composição é formada por quinze juízes de dife- rentes nacionalidades. Os juízes são independentes, de ilibada moral e devem ser reco- nhecidos como possuidores de competência na área de Direito Internacional. O mandato dura nove anos, com renovação de um terço a cada três anos. São eleitos pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança, que se preocupam com a representatividade das diversas civilizações e dos principais sistemas jurídicos mundiais. Destaca-se ainda o Secretariado, que é o órgão administrativo da ONU, com sede em Nova Iorque, onde fica alocado o Secretário-Geral, que é eleito pela Assembleia Geral, por recomendação do Conselho de Segurança. Dentre as funções, merece destaque a que prevê que todo tratado firmado por estado-membro deverá ser registrado e publicado pelo Secretariado depois de sua entrada em vigor. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) ocupa-se da matéria minuciosamente nos artigos 76 a 80. Ainda como órgão, é função do Conselho Econômico e Social, que é composto por 54 Membros das Nações Unidas, cuja função primeira é a de realizar estudos e apre- 86UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais sentar relatórios acerca de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, sendo-lhe facultado fazer recomendações a respeito de tais assuntos à Assembleia Geral, aos membros das Nações Unidas e às entidades espe- cializadas interessadas. Ao órgão denominado Conselho de Tutela que, embora atualmente continue a existir, ante a ausência de Estados atualmente sob tutela, não tem atuação efetiva. Por fim, destaca-se a Organização Mundial do Comércio, outro órgão da ONU, mas responsável por regulamentar o comércio internacional, monitorando a implementação de acordos em vigor, e fiscalizando a execução da política comercial dos membros da ONU. Tem também importante papel na solução de controvérsias que surjam entre os Estados referentes à área do comércio internacional. 87UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais 4. DA TEORIA GERAL DOS MERCADOS REGIONAIS Nas últimas décadas os Estados têm presenciado um significativo processo de internacionalização do direito acompanhado de uma interdependência global. Estes fenômenos têm gerado cada vez mais uma integração maior entre os Esta- dos, o que pode ser observado em diferentes aspectos. Sobre o tema do presente tópico, um bloco econômico pode ser conceituado como uma união entre Estados com o objetivo de aumentar as trocas comerciais em determinada região, expandindo suas relações econômicas. Muitos autores chamam esses blocos de mercados regionais. São dois os caminhos de integração: um regionale outro global. No plano regional, os Estados unem-se a outros Estados próximos, onde os avan- ços na integração são facilitados por diferentes fatores, como, por exemplo, a proximidade geográfica, os interesses comuns e as facilidades de integração de estruturas de produção (VARELLA, 2019). No plano global, a integração ocorre normalmente entre inúmeros Estados, sempre visando a criação de processos de integração que sejam comuns. Abordaremos neste tema alguns aspectos gerais relacionados aos mercados re- gionais. Através dos sistemas regionais de integração, portanto, ocorre de aproximação entre Estados de uma região geográfica próxima para a criação de alianças. São reconhecidas pelo Direito Internacional cinco maneiras de integração: a) Zona de preferência tributária: os tributos são reduzidos entre os membros; b) Zona de livre co- mércio: não há tributos para uma parte importante de produtos; c) União aduaneira: há uma 88UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais tarifa externa comum; d) Mercado comum: livre circulação de pessoas e capitais; e) União econômico-monetária: integração da política monetária e econômica (VARELLA, 2019). Através da zona de preferência tributária, os tributos cobrados sobre a importação de produtos dos Estados-partes são inferiores àqueles cobrados dos demais Estados. O objetivo é facilitar o comércio entre os Estados integrantes desta zona. É exemplo desta modalidade de integração a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), integrada pela maior parte dos países da América Central e do Sul, além do México. Entre os integrantes, não há incidência de tributos sobre o comércio de produtos originários dos Estados-partes, e as barreiras não alfandegárias (procedimentos para a livre circulação de riquezas) são reduzidas. Nas zonas de livre comércio elimina-se a incidência de impostos sobre o comércio de produtos originários dos Estados-partes, acompanhada de uma redução de barreiras não alfandegárias. Quando é formalizada uma união aduaneira, não ocorre a incidência de tributos para uma parcela importante do comércio intrazona sobre os produtos fabricados na região e, em relação à importação de produtos produzidos em outros Estados, existe uma tarifa externa comum. É o que ocorre atualmente com o Mercado Comum do Sul (Mercosul), cujas características gerais apontam no sentido de formarem uma união aduaneira. Quando estamos diante da formação de um mercado comum, além de incorporados os benefícios de uma união aduaneira, existe livre circulação de bens, serviços e fatores de produção, ou seja, há livre circulação de pessoas e de capitais entre os Estados-partes. A integração é maior porque os Estados devem aproximar suas políticas econômicas (mone- tária e fiscal), com uma articulação entre os bancos centrais, os ministérios responsáveis pela economia e relações exteriores (VARELLA, 2019). A integração mais avançada é a que constitui uma união econômica monetária, que engloba, além da livre circulação de bens, serviços e produção, uma política econômica e monetária integrada entre os Estados, uma moeda comum, como ocorre, por exemplo, com a União Europeia, único exemplo atualmente existente no mundo. Esses processos de integração regional são operacionalizados por tratados. Nos estágios mais avançados, prevê-se a criação de uma Organização Internacional, onde os Estados são chamados de membros. O Acordo Geral de Tarifas e Comércio prevê e estimula duas modalidades de integração regional: a união aduaneira e o acordo de livre comércio. As demais formas de integração são consideradas como acordos provisórios destinados a formar uma união aduaneira ou um acordo de livre comércio (MAZZUOLI, 2020). Todos os tratados regionais de integração devem ser comunicados à Organização Mundial do Comércio, antes de sua entrada em vigor. Existem cerca de 400 tratados regio- nais de integração registrados perante a Organização Mundial do Comércio (MAZZUOLI, 2020). 89UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais O objetivo central da criação de um sistema regional integrado é o aumento do comércio entre os Estados participantes, o que normalmente ocorre justamente pelo fato de os integrantes se beneficiarem de alíquotas mais favoráveis para negociarem seus produtos. Embora prevaleça no Direito Internacional o Princípio da Nação mais favorecida, que prevê que o benefício concedido por um Estado a outro seja igualmente concedido aos demais Estados, quando ocorre uma União Aduaneira ou uma Zona de Livre Comércio, os Estados não precisam estender os benefícios aos Estados. Estamos diante, portanto, de uma exceção ao Princípio. Destacam-se internacionalmente vários sistemas de integração regional. A título exemplificativo, trataremos de duas: União Europeia e Mercosul. A União Europeia originou-se da Comunidade Europeia de Carvão e Aço (CECA), criada após a Segunda Guerra Mundial. Através dela os Estados desenvolvem projetos de cooperação comuns em diversas áreas, como política externa, defesa coletiva, polícia e justiça, meio ambiente, a saúde pública, entre outros. Atualmente é considerada uma entidade supranacional, à medida em que os Esta- dos-membros atribuem competência sobre novos temas, perdem a capacidade de legislar internamente sobre eles. Na prática, a atribuição de competências ao poder supranacio- nal é maior em algumas áreas, como agricultura, pesca, política comercial, construção do mercado comum. Em outras, como educação, saúde e cultura, os Estados mantêm autonomia. Com o Tratado de Lisboa, criou-se oficialmente a expressão União Europeia. O exercício das competências da União rege-se pelo princípio da subsidiariedade, ou seja, mesmo quando os Estados-membros não outorgaram competências à União, esta pode agir quando os objetivos não podem ser alcançados de forma suficiente pelos Estados (MAZZUOLI, 2020). Segundo Mazzuoli (2020, p. 904), integração comunitária desenvolve-se, assim, sobre três pilares principais: • primeiro pilar: integração econômica, política, ambiental, cultural, sani- tária, monetária e fiscal; • segundo pilar: política externa e segurança comum, com a coordenação das posições dos diversos Estados-mem- bros nos foros internacionais, inclusive com a possibilidade de realizar missões de manutenção da paz e restauração da paz, com ou sem a ajuda de outras Organizações Internacionais (ONU e OTAN); • terceiro pilar: cooperação judiciária e policial. Estruturas administrativas comuns Um diferente conjunto de tratados europeus prevê as seguintes estrutu- ras comuns: a) instituições tipicamente executivas: Conselho Europeu e Comissão Europeia; b) instituições tipicamente legislativas: Conselho da União Europeia e Parlamento Europeu; c) instituições tipicamente judi- ciárias: Tribunal Geral, Tribunal da Função Pública, Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas; d) instituições de participação da sociedade e das regiões: Comitê Econômico e Social Europeu e Comitê das Regiões; e) instituições financeiras: Banco Central Europeu, Banco Europeu de Investimentos. 90UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais Figura 1 - Membros da Comunidade Europeia Fonte: autor COMUNIDADE EUROPEIA ALEMANHA AUSTRIA BÉLGICA BULGÁRIA CHIPRE CROÁCIA DINAMARCA ESLOVÁQUIA ESLOVÊNIA ESPANHA ESTÔNIA FINLÂNDIA FRANÇA GRÉCIA HOLANDA HUNGRIA IRLANDA ITÁLIA LETÔNIA LITUÂNIA LUXEMBURGO MALTA POLÔNIA PORTUGAL REPÚBLICA TCHECA ROMÊNIA SUÉCIA 91UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais O Mercosul foi criado em 1991, pelo Tratado de Assunção. Somente em 1995, com a entrada em vigor do Protocolo de Ouro Preto, os Estados decidiram criar a personalidade jurídica do Mercosul. Trata-se agora de uma Organização Internacional. O Mercosul tinha como membros originais Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em dezembro de 2005, houve a adesãoda Venezuela, suspensa desde dezembro de 2016 por descumprimento das normas do bloco. A Colômbia, o Chile, o Equador, o Peru, a Guiana e o Suriname não são membros do Mercosul, mas mantêm acordos comerciais com o Mercosul para a redução tarifária em diversos setores por meio de Acordos de Comple- mentação Econômica. A Bolívia está em processo de adesão ao Bloco. A integração regional do Mercosul é fundada no princípio da reciprocidade e incide sobre bens, serviços e capitais. Alguns instrumentos são utilizados pelo Mercosul para buscar um avanço na integração entre os Estados integrantes do bloco. Através de um programa de liberação comercial busca-se a redução de tarifas alfandegárias e a eliminação de tarifas não alfan- degárias. Há também uma tentativa de que as políticas macroeconômicas dos membros do bloco sejam alinhadas. Além disso, busca-se a adoção de uma tarifa externa comum, além da celebração de acordos para melhorar os aspectos relacionados à produção dos membros do mercado regional. O Mercosul possuía a seguinte estrutura administrativa: a) foros de caráter execu- tivo: o Conselho do Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Secretaria Administra- tiva; b) foros de caráter legislativo: o Parlamento do Mercosul; c) foros de caráter judiciário: o Tribunal arbitral ad hoc e o Tribunal Permanente de Revisão; d) foro de participação da sociedade: o foro consultivo econômico-social (MAZZUOLI, 2020). No que tange à solução de controvérsias no Mercosul, cabe destacar que, com a assinatura do Protocolo de Olivos (de 18 de fevereiro de 2002), foi criada uma instância decisória permanente – o Tribunal Permanente de Revisão, cuja natureza é a de tribunal arbitral – com competência para decidir sobre a interpretação, aplicação e cumprimento das normas jurídicas do processo de integração. A competência contenciosa do Tribunal pode ser originária ou servir como instância recursal sobre questões decididas pelos Tribunais Arbitrais Ad Hoc; é também possível provocar o TPR no que tange à emissão de Opiniões Consultivas (MAZZUOLI, 2020). 92UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais Figura 2 - Mercosul MEMBRO PLENO BRASIL ARGENTINA PARAGUAI URUGUAI MEMBRO ASSO- CIADO CHILE BOLÍVIA PERU EQUADOR COLÔMBIA GUIANA SURINAME PAÍS SUSPENSO (desde 2016) VENEZUELA Fonte: o autor. Além das citadas, exemplificativamente outras organizações regionais de repre- sentativa importância estão o Conselho da Europa (CE), a Organização dos Estados Americanos (OEA), a União Africana (UA), o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a Asia-Pacific Economic Cooperation (Apec). Uma das preocupações de tais organizações é, também, a promoção e proteção dos direitos humanos (MAZZUOLI, 2020). 93UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais SAIBA MAIS Que tal aprofundarmos nossos estudos sobre um dos pontos abordados nesta unidade de ensino? A seguir deixo uma recomendação de leitura que irá enriquecer o apren- dizado e reforçar o que foi estudado até aqui. O texto pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: http://geocrocetti.com/zeno/Textos/zeno_ONU.pdf REFLITA Você já parou para pensar como o Mercosul influencia a economia brasileira e, con- sequentemente, a nossa vida? O grupo econômico regional denominado Mercosul, do qual o Brasil faz parte desde a fundação, tem uma importância relevante para as rela- ções exteriores do Brasil. Para ajudá-lo(a) a refletir sobre o assunto, deixo uma indicação de leitura: https://meuar- tigo.brasilescola.uol.com.br/geografia/a-importancia-mercosul-para-brasil.htmr http://geocrocetti.com/zeno/Textos/zeno_ONU.pdf https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/geografia/a-importancia-mercosul-para-brasil.htm https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/geografia/a-importancia-mercosul-para-brasil.htm 94UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da quarta e última unidade didática. Neste material tivemos a oportunidade de compreendermos que sentenças pro- feridas por tribunais de outros países podem, desde que cumpridos os requisitos legais, gerar efeitos dentro do nosso ordenamento jurídico. Para que isso ocorra, entretanto, há a necessidade da sentença estrangeira ser homologada, sendo essa homologação de competência do STJ. Vimos ainda aspectos gerais relacionados às organizações internacionais, que hoje são consideradas sujeitos de Direito Internacional e cuja formação depende do consenso entre Estados. A personalidade jurídica internacional dessas organizações depende da vontade dos Estados, que é também quem atribui seu alcance, competência, estrutura de funcionamento e atuação. As organizações internacionais estão cada vez mais presentes no Direito Internacional e desempenham importante função nos mais diversos assuntos. Analisamos, também, a ONU (Organização das Nações Unidas), a mais importante organização internacional, surgida por ocasião do fim da Segunda Guerra Mundial com o principal objetivo de manter a paz. Atualmente é uma organização de caráter mundial e se ocupa de inúmeros temas, como saúde, economia, meio ambiente, combate ao terrorismo dentre outros. Por fim, traçamos um panorama geral sobre os mercados regionais, cuja atua- ção, embora não tenha a amplitude da ONU, ter servido para desenvolver a economia e o comércio nas mais variadas regiões do planeta. Para ilustrar o papel desses mercados regionais, analisamos sucintamente a União Europeia e o Mercosul. Espero que tenha aproveitado e foi um prazer te acompanhar nessa jornada. Novos desafios surgirão na sua vida, mas que com dedicação e afinco certamente serão supera- dos. Até a próxima. Abraços. 95UNIDADE IV Das Sentenças Estrangeiras e das Organizações Internacionais MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Organizações Internacionais. Autor: João Mota de Campos (Coeditor). Editora: Almedina. Sinopse: A importância das organizações internacionais pode aferir-se pelo seu número, pela vastidão dos domínios em que atuam e até pelo número de funcionários que nelas servem: o Annuaire des Organizations Internationales recenseia cerca de 400 organizações empregando mais de 100.000 agentes. Na ver- dade, é fundamental o papel que as organizações internacionais desempenham - e julga-se que desempenharão cada vez mais - no quadro das relações entre os Estados e os Povos. Pode afoi- tamente dizer-se que, em consonância com a interdependência crescente de uns e outros, todas as matérias em que a cooperação internacional é considerada útil constituem atualmente objeto de organizações especializadas. Por isso mesmo, todos aqueles que atuam no domínio das relações internacionais ou de algum modo se interessam pelo seu estudo sentem a necessidade de conhecer de perto as numerosas organizações que são hoje o instrumento privilegiado do relacionamento internacional. FILME/VÍDEO Título: Hotel Ruanda Ano: 2004 Sinopse: Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito. https://www.amazon.com.br/s/ref=dp_byline_sr_book_1?ie=UTF8&field-author=Jo%C3%A3o+Mota+de+Campos&text=Jo%C3%A3o+Mota+de+Campos&sort=relevancerank&search-alias=stripbooks
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