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Conceitos iniciais de queimaduras: - Lesão traumática na pele ou outros órgãos causada por trauma térmico, químico, elétrico, radioativo e atrito. - Causa desnaturação de proteínas dos tecidos e leva a uma alteração do tegumento até a destruição total dos tecidos envolvidos. - Pode atingir camadas mais profundas, como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos. - Risco maior entre 20 e 39 anos. - Prevalência dessas lesões no sexo masculino; - Mortalidade maior entre mulheres nas queimaduras por tentativa de autoextermínio Funções dos tecidos: - Proteção mecânica; - Manutenção e equilíbrio hidroeletrolítico; - Físico química e imunológica; - Termorregulação e hemorregulação; - Metabolismo; - Sensibilidade e percepção; ● As queimaduras podem ter respostas locais ou sistêmicas. → Local: dano direto ao tecido; → Sistêmica: resulta de uma série de mecanismos que buscam conter a lesão, mas que pela sua intensidade podem causar danos ao organismo. Resposta local: zonas de lesão por queimadura. 1) Zona de coagulação: Central, maior dano, perda tecidual irreversível. 2) Zona de estase: Menor lesão, tem células lesionadas porém de modo reversível. Dependem da ressuscitação adequada (fornecimento de volume e oxigênio). - O gelo é muitas vezes usado para amenizar a sensação de dor, mas ele estimula a vasoconstrição, o que diminui a fluxo sanguíneo dos tecidos e, consequentemente, contribui para a necrose celular. Assim, utilizar gelo em áreas de queimadura não é adequado pois ele aumenta a área de queimadura. 3) Zona de hiperemia: Lesões mínimas, vasodilatação inflamatória. Inflamação: Ela é necessária para a recuperação das lesões Quando exacerbada, típica dos grandes queimados, é um dos fatores relacionados às repercussões sistêmicas e demora na cicatrização. Resposta Sistêmica: - Ela se inicia poucas horas após o início da lesão. - Afeta principalmente pacientes com grande área de superfície corporal queimada (SCQ). - Intoxicação por álcool e por drogas são fatores que podem prejudicar ainda mais as queimaduras (ex: contato com álcool, ou rebaixamento do nível de consciência da pessoa que a deixa mais frágil em situações de risco). Queimaduras extensas vão estimular a ativação repetida e incontrolada da cascata inflamatória → aumenta o dano tecidual → disfunção de órgão e mortalidade - O edema, a descontinuidade da pele e a colonização bacteriana auxiliam na perda de líquidos, resultando em uma hipovolemia. Obs: Muitos dos grandes queimados não morrem devido à queimadura em si. O óbito ocorre por repercussões sistêmicas, principalmente pela contaminação que acontece mais facilmente após a morte da camada de proteção da pele. Avaliação da queimadura: - Agente causal - Profundidade - Extensão - Localização - Idade - Doenças pré-existentes - Lesões associadas Obs: No casos de grandes queimados quando passa da epiderme pode acontecer a destruição de terminações nervosas, que altera a sensação de dor deles. Classificação das lesões: Lesões térmicas: Causadas por escaldo, por flamas e labaredas e por contato direto com uma superfície ou objeto extremamente aquecido. Também podem ser ocasionadas geladuras, onde há o congelamento agudo dos tecidos, afetando principalmente extremidades como nariz, orelhas e pontas dos dedos. Lesões elétricas: Os determinantes da gravidade de um trauma elétrico são dados pelo tipo de corrente (contínua ou alternada), voltagem, amperagem, caminho da corrente, duração de contato, resistência dos pontos de contato e susceptibilidade individual. - Ao passar pelos tecidos, a energia elétrica é convertida em energia térmica. Esse fenômeno é chamado de Efeito Joule, é o principal mecanismo de lesão. - Nos casos de choque há ponto de entrada ou ponto de contato (onde foi a fonte) e de saída. O orifício de entrada é mais redondo, escuro e seco, enquanto o de saída também é redondo mas tem lesão tecidual mais visível. - As correntes de alta tensão apresentam manifestações clínicas sistêmicas que podem evoluir com complicações pulmonares, cardiovasculares, neurológicas, osteoarticulares, dentre outros sistemas; - Há sequelas funcionais graves, como perda de extremidades parcial ou total. Probabilidade de ocasionar uma parada respiratória: O trauma elétrico é comumente associado à parada cardiorrespiratória, sendo a fibrilação ventricular a principal causa. Lesões químicas: São causadas principalmente por substâncias corrosivas, como ácidos, bases e compostos orgânicos. - A maioria dos acidentes não possuem uma definição do agente causal específico. É recomendável lavar exaustiva e copiosamente a área afetada com solução salina ou água. - Caso a substância não seja retirada, as queimaduras químicas podem continuar ocorrendo por horas. Queimaduras não acidentais: - Queimaduras comuns em crianças, principalmente por serem vítimas de maus tratos. ● Os seguintes sinais são sugestivos de queimaduras não acidentais: - Queimaduras repetidas e com os mesmos padrões. - Lesão incompatível com a história. - Resposta parental inadequada. - Queimadura em locais incomuns. - Queimaduras por cigarro Profundidade das lesões: - Primeiro grau vai afetar principalmente a epiderme. - Segundo grau vai afetar toda a epiderme e adentrar na região da derme. - A de terceiro grau vai afetar todos os tecidos, até mesmo o subcutâneo. - Em quarto grau há tecido carbonizado. - Quase sempre a queimadura que parece ser de espessura parcial (2ºgrau) mostrará ser de espessura total (3ºgrau) em 24 a 48hs; Queimaduras superficiais (1 grau): Características principais: Hiperemia, edema e dor. - Apenas a epiderme é atingida. - Pele de aspecto seco, hiperemiado e doloroso (para melhorar é importante se hidratar via oral e a hidratação do corpo). - Sem formação de bolhas e costuma descamar em poucos dias. Regride sem cicatrizes. - Tem pouca ou nenhuma repercussão sistêmica, pode ser principalmente a desidratação. - É desconsiderada na avaliação da área atingida, ou seja, nesse caso não contabiliza como porcentagem de queimadura. Queimaduras de espessura parcial (2 grau): - Atinge totalmente a epiderme e a derme de maneira variável. - Pele de aspecto bolhoso, hiperemiado, edemaciado, doloroso, com erosão ou ulceração. - Há reepitelização a partir dos anexos cutâneos. - Cicatrização demorada (2 a 4 semanas). - Pode deixar sequelas superficiais, como discromia (cores mais escuras), e profundas, como cicatriz. Uma ação que favorece a ampliação dessa lesão é a aplicação de gelo na queimadura. Por isso, o gelo é contraindicado como método analgésico nesse tipo de lesão. Queimaduras de espessura total (3 grau): - Todas as camadas da pele são atingidas, podendo alcançar tecido subcutâneo, tendões, ligamentos, músculos e até ossos. - Pele de aspecto variável, principalmente em sua coloração (pálida a preta), inelástica, ressecadas endurecidas ao toque. - Indolor. - Necessidade de enxerto para que ocorra regeneração. - Sua cicatriz pode ocorrer, mas com retração das bordas. Queimaduras de quarto grau: - Queimam todas as camadas da pele - Queima o tecido adiposo subjacente, os músculos, os ossos ou órgãos internos; - O desbridamento significativo de tecido morto e desvitalizado pode resultar em extensas áreas lesionadas do tecido mole. Quando desbridar será possível ver a profundidade da queimadura. ClassificaçãoQuanto à Superfície Corporal Queimada (SCQ) - A área acometida tem relação direta com as repercussões sistêmicas. Quanto maior a perda das funções da pele, mais alterações ocorrerão. - Ela é calculada como o percentual total da superfície corporal atingida. O percentual de SCQ permite ainda classificarmos os pacientes em grandes ou pequenos queimados. - O percentual de SCQ permite ainda classificarmos os pacientes em grandes ou pequenos queimados. ● Pequeno queimado quando há o acometimento de <10% da SCQ. ● O grande queimado acometimento é de >20%. Idosos e crianças, considera-se um grande queimado aquele paciente com SCQ >10% e >30%,respectivamente. Obs: Precisa analisaro resto das complicações em porcentagens entre 10 e 20 para poder classificar como pequeno ou grande. Obs 2: Criança tem maior porcentagem pois precisa equilibrar com a fórmula para ver quanto ela precisa receber de hidratação. Regra dos 9 deWallace para estimar a extensão da queimadura: - Tórax e abdome: 18% Mas se for só tórax ou só abdome: 9% - Se citar membros superiores sem especificar direito ou esquerdo: 18% Outramedida: pega a mão do paciente fechada e considera aquilo 1%. Daí pega a mão e vai posicionando ela sobre a área da queimadura para poder ter uma ideia da porcentagem. Primeiros socorros: O objetivo do atendimento de primeiros socorros não é tratar a lesão, e sim interromper o processo de queimadura, estabilizar o paciente, afastar complicações e fatores de risco de mortalidade e morbidade. - Afastando o agente causal, como chamas, líquidos aquecidos e eletricidade. O mesmo vale para casos de resfriamento. Cuidados pré-hospitalares e avaliação inicial das Queimaduras: - Segurança da equipe SEMPRE. - Antes de avaliar o paciente de forma pormenorizada, deve-se interromper o processo de queimadura. - XABCDE do Trauma (a queimadura também é um tipo de trauma). Hemorragia Exsanguinante (X): - No caso de hemorragias exsanguinantes realiza-se o controle do sangramento externo. Via aérea (A): - Edema ocorre de forma gradual e, muitas vezes, com progressão lenta, por isso, é passível de observação antes que seja indicada intubação; - A vigilância clínica é essencial, tanto para evitar uma intubação desnecessária, quanto para indicá-la. - Calor pode causar edema acima das cordas vocais. - Com a progressão do edema de face e de via aérea, pode haver estreitamento em 30 a 60 minutos. A evolução é muito rápida, por isso muitas vezes é importante realizar uma intubação precoce. Ex: traumas de face podem intubar pelo nariz. - Tendo em vista a vulnerabilidade das vias aéreas, o controle da via aérea com intubação orotraqueal é prudente, mas não é uma indicação absoluta. Boa ventilação (B): - O paciente deve ter alto fluxo de oxigênio fornecido através de uma máscara não reinalante (10-15L/ min), visando saturações de oxigênio de 94 a 98%. - Uma boa ventilação também pode ser impedida por problemas comuns como fraturas de costelas e pneumotórax, ou por problemas específicos das queimaduras, que é a formação de queimaduras torácicas circunferenciais (“Cinto de couro”) que ficam rígidas e necessitam de uma escarotomia imediata para retorno da boa ventilação. Circulação e reposição volêmica (C): - A reposição de fluidos é recomendada na presença ou não de sinais de hipovolemia/hipotensão, em queimaduras de 2 grau e 3 grau. - Utiliza acesso IV calibrosos, de preferência através de pele não queimada. No entanto, na presença de queimaduras extensas, que impeçam a passagem pela pele íntegra, o cateter poderá ser colocado através de tecido queimado. - Na ausência de acessos periféricos disponíveis ou após duas tentativas falhas de obtenção desses acessos, considerar acesso venoso central e acesso intraósseo. - A infusão deve ser feita com solução cristalóide aquecida, preferencialmente com a solução Ringer Lactato, podendo ser utilizado soro fisiológico na ausência desse. - No caso das crianças também é administrada solução glicosada pois elas têm um gasto de energia maior que o dos adultos. - Reposição de fluidos. - Precisa ser muito volumosa no primeiro dia para evitar choque hipovolêmico. - Repor volume já perdido e o que se espera ser perdido nas primeiras 24h. CálculoReposiçãoVolêmica: Regra de Parkland 2 ml de SRL ou SF 0,9% X Peso corporal x SCQ (SCQ: Superfície corporal queimada) - Utiliza 4 no lugar de 2 na fórmula nos casos de queimadura por choque. - A metade do volume total é administrada nas primeiras 8 horas (considerando a partir da hora que a pessoa se queimou) e a metade restante é administrada nas 16 horas restantes. Caso 1: Homem de 80 kg que sofreu queimadura de terceira grau em 30% SCQ e foi tratado no local do incidente logo após a lesão. 24 horas de fluido total = 2ml/kg x peso em kg x SCQ% 2ml/kg x 80kg x 30% SCQ =4.800ml Após calcular o total em 24 hrs, divide o número por 2: Quantidade de fluido a ser adm a partir do momento da lesão até 8 hrs = 4.800ml/2= 2.400ml Obs: É importante uma sonda vesical no paciente para ter uma ideia de mais ou menos quanto de volume entrou e quanto saiu. Déficit neurológico (D): Pacientes que tenham passado por danos termais muitas vezes não apresentam estado mental alterado. No entanto, a possibilidade de um dano associado, uso de substâncias, hipóxia, dano respiratório ou qualquer condição pré-existente deve sempre ser relatada no histórico do evento. - Avaliar déficits motores também (identificar fraturas e imobilizar) - Toxinas inaladas potencialmente fatais (monóxido de carbono,cianeto de hidrogênio) que podem ocasionar uma asfixia. - Traumatismo cranioencefálico (TCE) e ao uso de drogas como álcool, drogas ilícitas e opióides no tratamento podem rebaixar o nível de consciência do paciente. Exposição/ambiente: - Expor e inspecionar - Retirar roupas/acessórios = calor residual ou produtos químicos - Evitar e prevenir hipotermia - Calcular a extensão da queimadura e devem ser verificadas lesões associadas, assim como outros traumas e evidências de maus tratos.
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