Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Avaliação Econômica de Projetos Industriais George de Souza Mustafa 2015 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 0 Avaliação Econômica de Projetos Industriais Avaliação Econômica de Projetos Industriais 1 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 1ª Edição George de Souza Mustafa Professor de Engenharia Química Universidade Salvador - UNIFACS Salvador - Bahia 2015 Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou partes do mesmo, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem a permissão expressa do autor. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 2 PREFÁCIO Ao instalar uma nova fábrica, modernizar ou ampliar uma fábrica existente, comprar novos equipamentos ou simplesmente alugar uma máquina, isto é, ao fazer um novo investimento, uma empresa deve, antes da implantação, fazer um estudo de viabilidade técnico-econômica. Somente um estudo econômico pode confirmar a viabilidade de projetos tecnicamente corretos. Em um primeiro momento, são considerados os aspectos econômicos do investimento, em outras palavras, deseja-se saber se o investimento é ou não rentável. Aplicando corretamente os critérios econômicos sabe-se quais os investimentos que rendem mais, ou seja, como aplicar o dinheiro de maneira a obter o maior retorno. Para se efetuar uma análise econômica é necessário levantar os custos e as receitas adicionais. As receitas serão decorrentes do aumento de produção e os custos podem ser classificados da seguinte forma: Custos de investimento: decorrentes das transações dos ativos; e Custos operacionais: decorrentes da operação dos ativos. Poucas empresas apresentam uma cultura quantitativa e conseguem, dessa forma, tomar decisões mais racionais eliminando os riscos desnecessários. Os executivos das empresas mais bem administradas tendem a fazer comparações e medições de maneira a tirar a tomada de decisão dos domínios da mera opinião. A estimativa dos custos será mais ou menos precisa em função do grau de informação existente sobre o projeto. À medida que o projeto evolui, maiores dados são disponíveis, possibilitando o emprego de metodologias mais detalhadas, fornecendo uma precisão maior nos resultados. Para a realização da análise de investimento de qualquer projeto são necessários: O conhecimento prévio dos conceitos da matemática financeira (capítulo 2); Utilização do método de análise mais adequado, conforme a engenharia econômica (capítulo 3); e Elaboração correta do fluxo de caixa do empreendimento (capítulo 3). Já no capítulo 4, são relatados os métodos de estimativa de investimento e detalhados os itens que normalmente se considera em uma estimativa de investimento industrial. A estimativa dos custos operacionais, custos fixos e variáveis, são de fundamental importância para se elaborar uma avaliação econômica confiável. Os critérios para a estimativa destes custos estão apresentados no capítulo 5. Finalmente, no capítulo 6, são apresentados três exemplos típicos de avaliações econômicas de projetos industriais: Trocador de calor tipo casco-e-tubos x air-cooler; Tanque criogênico x esfera; e Implantação de uma unidade de produção de solventes. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................3 2. MATEMÁTICA FINANCEIRA..........................................................................................4 3. ENGENHARIA ECONÔMICA...........................................................................................9 3.1 Introdução............................................................................................................................9 3.2 Taxa Mínima de Atratividade (TMA) ...............................................................................11 3.3 Método do Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE) .................................................12 3.4 Método do Valor Presente Líquido (VPL) ........................................................................12 3.5 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) .......................................................................14 3.6 A Taxa Mínima de Atratividade variando com o tempo....................................................16 3.7 A necessidade da consideração da inflação nas análises...................................................16 3.8 Fluxo de caixa....................................................................................................................17 3.9 Receitas líquidas................................................................................................................18 3.10 Custos variáveis e fixos.....................................................................................................18 3.11 Impostos............................................................................................................................19 3.12 Depreciação.......................................................................................................................19 3.13 Valor residual....................................................................................................................20 3.14 Investimento......................................................................................................................20 4. ESTIMATIVA DE INVESTIMENTO TOTAL.................................................................21 4.1 Introdução................................................................................................................... .......21 4.2 Investimento fixo............................................................................................................ ...22 4.2.1 Definições.....................................................................................................................22 4.2.2 Estudo de viabilidade....................................................................................................23 4.2.3 Incorporação do empreendimento.................................................................................23 4.2.4 “Know-how”.................................................................................................................23 4.2.5 Engenharia................................................................................................................... .24 4.2.6 Pré-operação..................................................................................................................25 4.2.7 Contingências................................................................................................................26 4.2.8 Terreno e melhorias......................................................................................................26 4.2.9 Equipamentos principais...............................................................................................27 4.2.10 Materiais de aplicação...................................................................................................384.2.11 Fundações e estruturas..................................................................................................38 4.2.12 Obras civis.....................................................................................................................38 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 4 4.2.13 Montagem industrial....................................................................... ..............................38 4.2.14 Fretes, seguros e taxas...................................................................................................39 4.2.15 Peças sobressalentes......................................................................................................39 4.2.16 Inventários iniciais........................................................................................................39 4.2.17 Veículos, móveis e utensílios........................................................................................39 4.2.18 Utilidades e sistemas auxiliares (OSBL) .....................................................................40 4.3 Despesas financeiras durante a construção........................................................................42 4.4 Capital de giro....................................................................................................................42 4.5 Investimento total...............................................................................................................44 4.6 Métodos de estimativa de investimento.............................................................................47 4.6.1 Métodos de avaliação global.........................................................................................47 4.6.2 Métodos de fatores multiplicativos constantes.............................................................48 4.6.3 Métodos de fatores multiplicativos variáveis................................................................48 4.6.4 Métodos que consideram o caráter individual de cada projeto.....................................49 4.6.5 Precisão dos métodos....................................................................................................49 5. ESTIMATIVA DE CUSTOS OPERACIONAIS................................. ..............................53 5.1 Introdução..........................................................................................................................53 5.2 Custos variáveis.................................................................................................................55 5.3 Custos fixos........................................................................................................................56 6. EXEMPLOS DE AVALIAÇÕES ECONÔMICAS DE PROJETOS INDUSTRIAIS......57 6.1 Introdução..........................................................................................................................57 6.2 Exemplo 1: trocador de calor tipo casco-e-tubos x air-cooler ..........................................57 6.3 Exemplo 2: tanque criogênico x esfera .............................................................................68 6.4 Exemplo 3: implantação de uma unidade de produção de solventes ................................84 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................90 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 5 1. INTRODUÇÃO Ao instalar uma nova fábrica, modernizar ou ampliar uma fábrica existente, comprar novos equipamentos ou simplesmente alugar uma máquina, isto é, ao fazer um novo investimento, uma empresa deve, antes da implantação, fazer um estudo de viabilidade técnico-econômica (EVTE). Somente um estudo econômico pode confirmar a viabilidade de projetos tecnicamente corretos. Em um primeiro momento, são considerados os aspectos econômicos do investimento, em outras palavras, deseja-se saber se o investimento é ou não rentável. Aplicando corretamente os critérios econômicos sabe-se quais os investimentos que rendem mais, ou seja, como aplicar o dinheiro de maneira a obter o maior retorno. Porém, de nada adianta conhecer a rentabilidade dos investimentos em carteira se não há disponibilidade de recursos próprios nem há possibilidade de se obterem financiamentos. Os investimentos mais rentáveis deverão ser analisados de acordo com critérios financeiros, os quais mostrarão os efeitos do investimento na situação financeira da empresa, por exemplo, como irá o investimento afetar o capital de giro da empresa. Além do mais, ao se elaborar a análise econômica e financeira, somente são considerados os fatores conversíveis em dinheiro. Um investimento pode ter repercussões que não sejam ponderáveis, tais como manter certo nível de emprego ou conseguir a boa vontade de um cliente ou fornecedor. Estes critérios imponderáveis são, em geral, analisados pela alta administração da empresa. A decisão da implantação de um projeto deve, pois, considerar: Critérios econômicos: rentabilidade do investimento; Critérios financeiros: disponibilidade de recursos; e Critérios imponderáveis: fatores não conversíveis em dinheiro. Vê-se, portanto, que a análise econômico-financeira pode não ser suficiente para a tomada de decisões. Para a análise global do investimento, pode ser necessário considerar fatores não quantificáveis ou os objetivos e políticas gerais da empresa, através de regras de decisão explícitas ou intuitivas. Finalmente, é conveniente ter em mente que, para se fazer um estudo econômico adequado, alguns princípios básicos devem ser considerados, como os seguintes: a) Deve haver alternativas de investimento. É infrutífero calcular se é vantajoso comprar um equipamento à vista se não há condições de conseguir dinheiro para esta operação; b) As alternativas devem ser expressas em dinheiro. Não é possível comparar diretamente 300 horas/mensais de mão de obra com 500 kwh de energia. Convertendo os dados em termos monetários, têm-se um denominador comum muito prático. Alguns dados, entretanto, são difíceis de se converter em dinheiro. Exemplos Avaliação Econômica de Projetos Industriais 6 que ocorrem freqüentemente: boa vontade de um cliente, boa imagem da empresa etc.. São os chamados fatores imponderáveis, que são reservados para a tomada de decisão juntamente com os fatores ponderáveis; c) Só as diferenças entre as alternativas são relevantes. Em uma análise para decidir sobre o tipo de motor a ser comprado, os consumos de energia dos motores não serão levados em consideração caso eles sejam idênticos; d) Sempre serão considerados os juros sobre o capital empregado. Sempre existem oportunidades de empregar dinheiro de maneira que ele renda alguma coisa. Ao se aplicar o capital em um projeto, deve-se ter certeza de ser esta a maneira mais rentável de utilizá-lo; e e) Nos estudos econômicos, o passado geralmente não é considerado. Interessa o presente e o futuro. Os custos de manutenção já realizados de um equipamento não são incorporados ao seu valor, o que importa é o seu valor de mercado. 2. MATEMÁTICA FINANCEIRA A matemática financeira é uma área do conhecimento que estuda a evolução do valor do dinheiro com relação ao tempo, utilizando modelos que permitem avaliar e comparar o valor do dinheiro em diversos instante do tempo. Por exemplo, é fácil entender que mil reais hoje têm mais valor do que mil reais daqui a um ano. A matemáticafinanceira é uma ferramenta útil na análise de algumas alternativas de investimentos ou financiamentos de bens de consumo. Consiste em empregar procedimentos matemáticos para simplificar a operação financeira a um Fluxo de Caixa. Diversas aplicações no sistema econômico utiliza a matemática financeira, como por exemplo: financiamentos de casa e carros, realizações de empréstimos, compras a crediário ou com cartão de crédito, aplicações financeiras, investimentos em bolsas de valores etc. Para iniciar o estudo da matemática financeira, é necessário estabelecer o conceito dos diversos elementos desta disciplina. Capital: é o valor aplicado através de alguma operação financeira, que está sendo emprestado ou investido. É também conhecido como principal, valor atual, valor presente ou valor aplicado. Juros: representam a remuneração do capital empregado em alguma operação financeira. Assim, o valor da quitação é superior ao valor inicial da operação financeira. Os juros podem ser capitalizados segundo os regimes simples ou compostos, sendo que raramente é utilizado o regime de juros simples, que é utilizado apenas em operações de curtíssimo prazo e em processos de desconto simples de duplicatas. No regime de juros simples, o saldo cresce em progressão aritmética, e nos juros compostos em progressão geométrica. O momento que os juros são incorporados ao principal é denominado de capitalização. Pode ser capitalização simples (juros simples) ou capitalização composta (juros compostos). Avaliação Econômica de Projetos Industriais 7 Montante: é a soma do capital inicial emprestado ou aplicado com os juros pagos ou recebidos. É também conhecido como capital final de um financiamento ou de uma aplicação financeira. Pode ser montante simples (juros simples) ou montante composto (juros compostos). Taxa de juros: é o coeficiente entre os juros pagos ou recebidos no final de um determinado período de tempo e o capital inicial. A taxa de juros sempre se refere a uma unidade de tempo (dia, mês, ano etc.) e pode ser apresentada na forma percentual ou unitária. A forma unitária é a forma percentual dividida por 100. Se a taxa de juros for mensal, trimestral ou anual, os períodos deverão ser respectivamente, mensais, trimestrais ou anuais, de modo que os conceitos de taxas de juros e períodos sejam compatíveis, coerentes ou homogêneos. A taxa de juros pode ser calculada através da Equação 2.1. i = J/P Onde, i: taxa de juros J: juros P: principal Exemplo 1: qual é a taxa de juros relativa ao pagamento de uma dívida de R$ 5.000,00, cujos os juros foram R$ 1.000,00? i = 1.000,00/5.000,00 = 0,2 ou 20 % ao período analisado Taxa nominal: é quando o período de formação e incorporação dos juros ao capital não coincide com aquele a que a taxa está referida. Por exemplo, 160% ao ano com capitalização mensal. Taxa efetiva: é quando o período de formação e incorporação dos juros ao capital coincide com aquele a que a taxa está referida. Por exemplo, 160% ao ano com capitalização anual. Taxas equivalentes: duas taxas i1 e i2 são equivalentes, se aplicadas ao mesmo capital P durante o mesmo período de tempo, através de diferentes sistemas de capitalização, produzem o mesmo montante final. Por exemplo, a aplicação de R$ 5.000,00 a uma taxa de 5,00 % ao mês durante 6 meses equivale a uma única aplicação com taxa de 34,01 % ao semestre. As duas aplicações geram o mesmo montante: R$ 6.700,50. Exemplo 2: qual é a taxa anual equivalente a 1,5 % ao mês? 1 + ia = (1 + im)12 = (1 + 0,015)12 ia = 0,1956 ou 19,56 % a.a. Taxa real: é a taxa efetiva corrigida pela taxa inflacionária do período da operação. O cálculo da taxa real é dado pela Equação 2.2. (1 + ireal) = (1 + iefetiva)/(1 + iinflação) Exemplo 3: qual é a taxa real de uma aplicação que rendeu 12,01 % a.m., sendo a inflação do mês da aplicação igual a 9,75 % a.a.? Eq. 2.1 Eq. 2.2 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 8 (1 + ireal) = (1 + 0,1201)/(1 + 0,0975) ireal = 0,0206 ou 2,06 % a.a. Juros simples: somente o principal rende juros, ou seja, não incidirão novos juros sobre os juros gerados a cada período. Podem ser calculados através da Equação 2.3. J = P*i*n Onde, J: juros P: principal i: taxa de juros n: número de períodos Exemplo 4: qual o valor dos juros simples a serem pagos relativos a uma dívida de R$ 5.000,00, a uma taxa de juros de 5 % a.m., após 4 meses? J = 5.000,00 * 0,05 * 4 = R$ 1.000,00 Juros compostos: após cada período, os juros são incorporados ao principal, proporcionando juros sobre juros. As Equações 2.4 e 2.5 apresenta a forma de cálculo dos juros compostos. M = P*(1 + i)n J = M - P Onde, J: juros M: montante P: principal i: taxa de juros n: número de períodos Exemplo 5: qual o valor dos juros compostos a serem pagos relativos a uma dívida de R$ 5.000,00, a uma taxa de juros de 5 % a.m., após 4 meses? M = 5.000,00 * (1 + 0,05)4 = R$ 6.077,53 J = 6.077,53 – 5.000,00 = R$ 1.077,53 Sistema Price: corresponde a um financiamento onde todos os pagamentos são iguais. Este método foi apresentado em 1771 pelo inglês Richard Price e ganhou força na França, no início da segunda revolução industrial, como método de amortização de empréstimo pela necessidade de massificação de consumo; por este motivo, também é conhecido como sistema francês de amortização. Estas definições apresentadas acima são utilizadas nas relações de equivalência da matemática financeira. Estas relações estão apresentadas na Tabela 2.1. Eq. 2.3 Eq. 2.4 Eq. 2.5 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 9 Tabela 2.1 - Fórmulas dos Fatores das Tabelas Financeiras. Tipo Problema Notação Internacional Fórmula Valor futuro Achar F dado P (F/P;i;n) F = P(1 + i)n Valor presente Achar P dado F (P/F;i;n) P = F (1 + i)n Valor futuro de uma série Achar F dado A (F/A;i;n) F = A (1 + i)n – 1 i Valor presente de uma série Achar P dado A (P/A;i;n) P = A (1 + i)n – 1 i (1 + i)n Fundo de amortização Achar A dado F (A/F;i;n) A = F i (1 + i)n - 1 Recuperação do capital Achar A dado P (A/P;i;n) A = P i (1 + i)n (1 + i)n – 1 Série uniforme do gradiente aritmético Achar A dado G (A/G;i;n) A = G 1 – n i (1 + i)n - 1 Valor presente do gradiente aritmético Achar P dado G (P/G;i;n) P = G (1 + i)n – in – 1 i² (1 + i)n Onde, F é o montante que deverá ser devolvido ao cabo de n períodos; P é o principal ou capital na data de hoje; i é a taxa de juros; n é o número de períodos de juros; A é uma série uniforme de pagamentos (ou recebimentos) que inicia no período 1 e termina no período n; e G é uma série gradiente de pagamentos G, 2G, ... (n-1)G, que inicia no período 2 e termina no período n. A primeira relação a ser estudada é entre o valor presente, no instante zero, com o valor futuro, em um dado instante. Considerando uma aplicação no valor de R$ 10.000,00 a uma taxa de 1,0 % a.m., durante 5 meses. Os valores finais e dos juros de cada período estão apresentados na Tabela 2.2. Avaliação Econômica de Projetos Industriais10 Tabela 2.2 – Cálculo do valor futuro a partir do valor presente e juros. Mês Valor Inicial Juros Valor Final R$ % R$ R$ 1 10.000,00 1,0 100,00 10.100,00 2 10.100,00 1,0 101,00 10.201,00 3 10.201,00 1,0 102,01 10.303,01 4 10.303,01 1,0 103,03 10.406,04 5 10.406,04 1,0 104,06 10.510,10 Os cálculos realizados foram os seguintes: Mês 1: P * (1 + i) = F1 Mês 2: F1 * (1 + i) = F2 Mês 3: F2 * (1 + i) = F3 Mês 4: F3 * (1 + i) = F4 Mês 5: F4 * (1 + i) = F Substituindo os valores futuros intermediários (F1, F2, F3 e F4) nas equações correspondentes: Mês 1: P * (1 + i) = F1 Mês 2: P * (1 + i) * (1 + i) = F2 Mês 3: P * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) = F3 Mês 4: P * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) = F4 Mês 5: P * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) * (1 + i) = F Obtém-se as equações gerais (Equações 2.6 e 2.7) que relacionam o valor presente, valor futuro, juros e o tempo de estudo. F = P * (1 + i)n P = F/(1 + i)n Calculando o valor futuro do exemplo acima utilizando a Equação 2.6, obtém-se o mesmo resultado apresentado na Tabela 2.1. F = 10.000,00 * (1 + 0,01)5 = R$ 10.510,10 Uma outra relação de equivalência da matemática financeira muito importante, apresentada na Equação 2.8, é a que relaciona o valor presente com uma série uniforme de parcelas iguais. A = P * [i * (1 + i)n]/[(1 + i)n – 1] Eq. 2.6 Eq. 2.7 Eq. 2.8 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 11 Para exemplificar a aplicação da Equação 8, considere a compra de um automóvel que custa R$ 50.000,00, em 24 prestações mensais consecutivas e iguais, sem entrada, a uma taxa de juros de 2,50 % a.m.. Qual o valor da prestação mensal do financiamento? A = 50.000,00 * [0,0250 * (1 + 0,0250)24]/[(1 + 0,0250)24 – 1] = R$ 2.795,64/mês Para concluir este estudo inicial da matemática financeira, será analisada uma situação típica, muito comum na vida das pessoas: qual a melhor opção financeira, alugar ou comprar um apartamento? Considerando que você tenha R$ 700.000,00 aplicados no CDB a uma taxa líquida de 0,5% a.m., já abatida a inflação. Considere também que existem duas opções para você mudar de residência: Opção 1: aluguel de um apartamento: R$ 2.800,00/mês Opção 2: compra de um apartamento no valor de R$ 700.000,00 Na Opção 1, alugando o apartamento e aplicando o dinheiro no CDB, o rendimento líquido seria: 0,5%*700.000,00 = R$ 3.500,00/mês. Portanto, a melhor opção, neste caso, é alugar o apartamento por R$ 2.800,00 e manter o dinheiro aplicado no CDB. Ainda haverá um aumento do capital investido de R$ 700,00/mês, já que o aluguel é R$ 2.800,00 e o rendimento líquido é R$ 3.500,00. Caso a taxa líquida fosse 0,3% a.m., já abatida a inflação, a melhor opção seria comprar o apartamento, já que o rendimento líquido (R$ 2.100,00) seria inferior ao valor do aluguel. Para uma avaliação mais rigorosa destas alternativas é necessário considerar o fluxo de caixa completo, incluindo os valores residuais. Estes assuntos serão vistos no Capítulo 3. 3. ENGENHARIA ECONÔMICA 3.1 Introdução A primeira questão que surge ao se analisar um investimento é quanto ao próprio objetivo da análise. Qual é o objetivo da empresa que pretende investir? Respondendo a esta pergunta é possível traçar o objetivo da análise. Um objetivo que foi largamente utilizado e que hoje pode ser considerado ultrapassado, é o objetivo imediatista de lucro no final do ano. Modernamente, com o advento de técnicas de administração como o Planejamento Estratégico, as empresas passaram a adotar filosofias, políticas e objetivos de longo prazo. O objetivo “lucro imediato” foi substituído pelo objetivo “máximos ganhos em determinado horizonte de análise”. Para uma análise sob este enfoque é necessário introduzir um conceito muito utilizado em engenharia econômica: “o custo de recuperação do capital”. Antigamente, as empresas normalmente adotavam uma filosofia monista em relação aos custos, ou seja, contabilidade de custos e contabilidade financeira conjugadas. Com isto, todo o investimento feito era amortizado em determinado número de anos, sob a forma de depreciação. A recuperação do capital era lançada a uma taxa “zero”. Pelo conceito de Avaliação Econômica de Projetos Industriais 12 “equivalência” (ver o Capítulo 1), estudado na matemática financeira, deve haver uma taxa tal que torne equivalente o investimento feito e sua recuperação. E é esta taxa que determina o custo do capital investido a ser lançado como despesa. Por isso é interessante que a empresa adote uma filosofia dualista: contabilidade de custos separada da contabilidade financeira. Três são os métodos determinísticos da análise de investimentos que se ajustam aos conceitos de ”equivalência” da matemática financeira: 1) Método do Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE); 2) Método do Valor Presente Líquido (VPL) ou “Net Present Value” (NPV); e 3) Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) ou “Internal Return Rate” (IRR). Estes métodos são equivalentes e, se bem aplicados, conduzem ao mesmo resultado, apenas que cada um se adapta melhor a determinado tipo de problema. Alguns analistas, no entanto, ainda se utilizam de métodos não exatos, cujos os principais exemplos são: 1) Método do Tempo de Recuperação do Capital Investido ou “Pay-Back Time” Mede o tempo necessário para que o somatório das parcelas anuais seja igual ao investimento inicial. Este método não leva em consideração a vida do investimento, e pode ser dificultada sua aplicação quando o investimento inicial se der por mais de um ano ou quando os projetos comparados tiverem investimentos iniciais diferentes. O defeito mais sério, no entanto, ocorre por não ser considerado o conceito de “equivalência”. Isto pode fazer com que fluxos de caixa distintos possuam o mesmo “Pay-Back Time”. 2) Método do “Pay-Back Time” descontado Uma alternativa é o “Pay-Back” descontado, que elimina apenas o último defeito apontado do método anterior. O “Pay-Back” descontado mede o tempo necessário para que o somatório das parcelas descontadas seja, no mínimo, igual ao investimento inicial. 3) Método da Rentabilidade do Projeto Consiste no cálculo do índice Lucro anual/Investimento inicial à plena capacidade, sendo o lucro anual calculado após a depreciação. O problema é que a depreciação nada mais é do que a recuperação do capital a uma taxa zero, o que não é condizente com o conceito de Taxa Mínima de Atratividade (TMA), que será visto no item 3.2. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 13 4) Método do Valor Futuro É muito semelhante ao método do VPL, porém diz respeito ao valor futuro e não ao valor presente. 5) Método do Custo-Benefício É o método que, a uma determinada TMA, considera-se aceitável a alternativa que a diferença entre o valor presente dos benefícios e o valor presente dos custos seja maior ou igual a zero. 6) Método do ponto de equilíbrio O ponto de equilíbrio é definido como sendo o ponto onde o custo operacional total é equivalente à receita da planta. O ponto de equilíbrio define a capacidade operacional mínima da planta. A operação acima desta propiciará lucros a empresa e a operação abaixo deste nível será deficitária. Apesar de não ser propriamente um critério de rentabilidade, sua determinação torna-se importante na análise econômica de um projeto, pois indicará a flexibilidade operacional lucrativa da planta. Deste ponto de vista,um projeto será tanto melhor quanto sua capacidade operacional mínima, determinada pelo ponto de equilíbrio, estiver afastada da capacidade nominal da planta. Este fato possibilitará a empresa resistir, principalmente, às flutuações do mercado. A utilização deste método é inadequada quando o empreendimento demandar um grande número de períodos para atingir a plena capacidade produtiva. Além disso, não leva em consideração a vida do investimento, que é considerada como infinita. 3.2 Taxa Mínima de Atratividade (TMA) Ao se analisar uma proposta de investimento, deve ser considerado o fato de se estar perdendo a oportunidade de auferir retornos pela aplicação do mesmo capital em outros projetos viáveis. Em outras palavras, para um investidor, o custo do capital, por isto chamado custo de oportunidade do capital, é o lucro que teoricamente perde por utilizar o capital nesse projeto. Assim, o custo de oportunidade do capital pode ser definido como a taxa de rentabilidade que o capital pode ganhar na melhor alternativa de utilização, além do projeto. Neste caso, para atualizar os fluxos do projeto, o avaliador deve utilizar como taxa de desconto a taxa de rentabilidade da melhor alternativa de investimento disponível. A nova proposta para ser atrativa deve render, no mínimo, a taxa de juros equivalente à rentabilidade das aplicações correntes e de pouco risco. Esta é, portanto, a Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Para pessoas físicas, no caso do Brasil, é comum a TMA ser igual à rentabilidade da caderneta de poupança. Para as empresas, a determinação da TMA é mais complexa e depende do prazo ou da importância estratégica das alternativas. Para investimentos de curtíssimo prazo, como por exemplo, comprar hoje uma matéria- prima com desconto ou daqui a cinco dias sem desconto, pode ser utilizada como TMA a taxa de remuneração de títulos bancários de curto prazo, como os CDB. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 14 Em investimentos que envolvem o médio prazo (até seis meses), pode-se considerar como TMA a média ponderada dos rendimentos das contas do capital de giro, como, por exemplo, aplicações de caixa, valorização dos estoques ou taxa de juros embutidas em vendas a prazo. Já em investimentos de longo prazo, a TMA passa a ser uma meta estratégica. Por exemplo, a empresa que tem como objetivo crescer seu patrimônio líquido em 10% a.a., e possui uma política de distribuição de dividendos da ordem de 1/3 de seus lucros, deverá fixar como TMA estratégica a taxa de 15% a.a., assim, poderá distribuir 5% como dividendo e reinvestir os 10% restantes. Já para empresas financeiras pode-se considerar a TMA como sendo a taxa a partir da qual elas passam a ter lucro financeiro. Elas captam recursos a determinada taxa, reaplicando com certa margem (“spread”). A taxa de captação poderia ser considerada como a TMA de um banco. 3.3 Método do Valor Anual Uniforme Equivalente (VAUE) Este método consiste em determinar a série uniforme anual (A) equivalente ao fluxo de caixa dos investimentos à Taxa Mínima de Atratividade (TMA), ou seja, determina-se a série uniforme equivalente a todos os custos e receitas para cada projeto utilizando-se a TMA. O melhor projeto é aquele que tiver o maior saldo positivo. Este método é adequado em análises que envolvam atividades operacionais da empresa, com investimentos que normalmente possam repetir-se. Uma empresa periodicamente apura resultados e o referencial normalmente utilizado é o ano. Portanto, a padronização dos resultados dos investimentos para valores anuais equivalentes os tornará mais palpáveis para uma tomada de decisão. Uma das grandes utilidades do método do VAUE é a determinação da vida econômica de veículos e equipamentos em geral. 3.4 Método do Valor Presente Líquido (VPL) Este método é tão simples quanto o VAUE. A única diferença reside em que, em vez de se distribuir o investimento inicial durante sua vida (custo de recuperação do capital), deve-se calcular o valor presente dos demais termos do fluxo de caixa para somá-los ao investimento inicial de cada alternativa. Ou seja, o VPL é obtido pela diferença entre o valor presente dos benefícios previstos de caixa e o valor presente do fluxo de caixa inicial (valor do investimento, do empréstimo ou do financiamento). A seguir, é apresentada a forma de cálculo do VPL: Valor atual dos investimentos (I): Ij Valor atual das receitas (R): Rj J = 0 n (1 + i)j J = 0 n (1 + i)j Eq. 3.1 Eq. 3.2 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 15 Valor atual dos custos (C): Cj Como o VPL é a diferença entre o valor presente dos benefícios e dos custos: VPL = Rj - Cj - Ij Ou seja, VPL = Rj - Cj - Ij Assumindo o caso em que os investimentos se concentram integralmente em torno do ano zero: VPL = Rj - Cj - I Ou, VPL = R1 - C1 + R2 - C2 + R3 - C3 + ... + Rj - Cj - I Desta forma, para determinar o VPL, somam-se todos os termos de (Rj - Cj)/(1 + i)j, para cada ano, durante a vida útil do projeto, e dessa soma diminui-se o valor dos investimentos. Escolhe-se a alternativa que apresentar melhor VPL, ou seja, a maior diferença entre o valor presente dos benefícios e o valor presente dos custos. A taxa utilizada para descontar o fluxo (trazer ao valor presente) é a TMA. O VPL é um bom coeficiente para a determinação do mérito do projeto, uma vez que ele representa, em valores atuais, o total dos recursos que permanecem em mãos da empresa ao final de toda a sua vida útil. Em outras palavras, o VPL representa o retorno líquido atualizado gerado pelo projeto. J = 0 (1 + i)j J = 0 (1 + i)j (1 + i)j n n n J = 0 J = 0 (1 + i)j (1 + i)j J = 0 J = 0 (1 + i)j n n (1 + i)j J = 0 n (1 + i)1 (1 + i)2 (1 + i)3 (1 + i)j n Eq. 3.3 Eq. 3.4 Eq. 3.5 Eq. 3.6 Eq. 3.7 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 16 O VPL não é tomado, de uma maneira geral, como o critério único para a determinação do mérito do projeto, devido a dificuldades em determinar o valor exato da taxa de descontos a ser aplicada para a atualização dos fluxos de caixa. Para evitar essas dificuldades na determinação da taxa de descontos, que é, em última instância, uma decisão pessoal por parte dos investidores, utiliza-se o método da Taxa Interna de Retorno (TIR), que tem a característica de ser determinada somente através dos dados próprios (interna) do projeto. Embora, no processo de tomada de decisões, essa taxa tem que ser comparada com as taxas de outros projetos ou com o custo de oportunidade do capital. A relação entre o VPL e o investimento total é considerada também na decisão sobre viabilidade econômica de um projeto, e normalmente se considera, no mínimo, igual 2,0. 3.5 Método da Taxa Interna de Retorno (TIR) O conceito de Taxa Interna de Retorno (TIR) apresenta inúmeras aplicações práticas, constituindo-se em um dos mais importantes instrumentos de avaliação econômica. Conceitualmente, a TIR é a taxa de juros que iguala, em uma única data, os fluxos de entrada e saída de caixa produzidos por uma operação financeira. Em outras palavras, é a taxa de juros que, se utilizada paradescontar um fluxo de caixa, produz um resultado nulo. Portanto, a TIR é a taxa de juros que iguala, em determinado momento de tempo, o valor presente das entradas (recebimento) com o das saídas (pagamento) previstos de caixa, ou seja, zera o VPL, conforme a Figura 3.1. VPL Taxa de Desconto (%) Figura 3.1 – Definição da taxa interna de retorno (TIR). No início, a taxa de retorno é zero. À medida que a taxa de desconto vai se distanciando de zero, o valor presente dos fluxos de caixa decresce, proporcionando, em conseqüência, um VPL cada vez menor. Até atingir a TIR, o VPL é positivo, indicando atratividade do investimento. A partir desta taxa o valor presente líquido passa a ser negativo, demostrando que o projeto é incapaz de produzir uma riqueza econômica positiva para uma taxa de desconto superior à TIR. Considerando a equação do cálculo do VPL: VPL = Rj - Cj - I Fazendo o VPL igual a zero, (1 + i)j J = 0 n TIR 0 Eq. 3.8 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 17 0 = Rj - Cj - I Rearrumando a equação acima, I = Rj - Cj Ou, I = R1 - C1 + R2 - C2 + R3 - C3 + ... + Rj - Cj O valor de i que soluciona esta equação permite saber qual é a taxa de desconto que terá de ser aplicada ao fluxo de fundos para, em termos atuais, igualar o valor de todos os custos com todas as receitas do projeto. A esse valor de i, que iguala o valor atual do fluxo de custos de um projeto com o valor atual correspondente ao fluxo de benefícios, chama-se Taxa Interna de Retorno (TIR) do projeto. A TIR é uma demonstração da rentabilidade do projeto, ou seja, quanto maior for a TIR mais vantagens apresenta o projeto em termos atuais. A TIR é um dos principais instrumentos na determinação do mérito do projeto, devido principalmente a duas grandes vantagens: Não apresenta as dificuldades dos demais métodos de atualização, que exigem conhecimentos sobre variáveis externas aos dados do projeto, como é o caso da taxa de desconto; e Pela semelhança entre o conceito da TIR e o conceito tradicional de rentabilidade de um investimento. Assim, uma taxa interna de 10% de um projeto pode ser facilmente comparada com muitos outros tipos de rentabilidade, tais como a rentabilidade de 10% em títulos, rentabilidade de 6% em depósitos de poupança etc.. Entretanto, a TIR apresenta algumas desvantagens que não lhe permitem ser o instrumento absoluto na seleção e classificação de projetos, uma vez que: No caso de projetos com grandes diferenças entre os valores dos investimentos, podem ocorrer contradições entre os métodos da TIR e do VPL. Isso ocorre porque um pequeno projeto (baixo investimento) pode apresentar uma alta TIR, mas ainda assim ter um reduzido valor atual; e A expressão matemática que permite a determinação da TIR leva, em certos casos, a soluções múltiplas e sem sentido. (1 + i)j J = 0 n (1 + i)j J = 0 n (1 + i)1 (1 + i) 2 (1 + i)3 (1 + i)j Eq. 3.9 Eq. 3.10 Eq. 3.11 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 18 O método da TIR também é utilizado para comparar diferentes projetos entre si, comparando-os com a “rentabilidade geral” possível na economia, ou seja, com a TMA. Os investimentos com TIR maior que a TMA, são considerados rentáveis e são passíveis de análise. A utilização prática do método da TIR dá-se normalmente em projetos de implantação ou expansão industrial. Segundo FILHO e KOPITTKE (2003), pesquisas realizadas junto às maiores empresas do Brasil mostram que o método da TIR é o mais utilizado. Isto se deve provavelmente ao fato de que seu resultado é bem mais palpável do que os métodos do VPL ou VAUE. 3.6 A Taxa mínima de atratividade variando com o tempo Sabe-se que, no mercado de capitais, as taxas variam diariamente, então a TMA referida a um período maior (mês ou ano) é sempre média. Dependendo da data em que for recebida a parcela positiva, a sorte fará com que a taxa de reaplicação esteja acima ou abaixo da média. Se esta TMA média variar durante a vida do projeto, deve-se analisar o problema de maneira diferenciada, considerando as oscilações diárias e as oscilações de médio e longo prazo. A princípio, o método da TIR não apresentará a solução adequada, visto ser muito difícil uma comparação de uma TIR com várias TMA. O método do VAUE também é problemático, visto ser extremamente difícil distribuir uniformemente um fluxo com TMA variável. O método do VPL, este sim, apresenta todas as condições para solucionar este tipo de problema. 3.7 A necessidade da consideração da inflação nas análises Em geral, os cálculos são feitos admitindo-se como premissa de que todos os preços subirão na mesma proporção. Se todos os preços e, portanto, os custos e as receitas estivessem sujeitos à mesma variação, seria correto desconsiderar esta variação, ou seja, não seria necessário levar em conta a inflação. Esta premissa pode não se verificar na prática em virtude de duas razões. A primeira razão está ligada à necessidade de capital de giro da empresa. Para que não haja necessidade suplementar de capital de giro devido aos aumentos da inflação, as empresas devem ter condições de embutir os valores da inflação nos preços das vendas a prazo. A segunda razão se deve ao fato de que em períodos de forte inflação, há forte tendência a um aumento diferenciado nos preços. Neste caso, é evidente que os resultados dos cálculos, desconsiderando-se a inflação, não serão mais corretos. Então, a princípio, em uma situação com alta inflação, esta deveria ser considerada na análise de investimentos. Acontece, infelizmente, que, em geral, é muito difícil prever aumentos diferenciados em preços para horizontes de planejamento maiores que um ano. É claro que existem casos em que é possível prever que haverá evolução diferenciada em alguns preços. Produtos com alto conteúdo tecnológico, por exemplo, tendem a baixar de preço em termos absolutos. O custo de mão-de- obra tenderia a aumentar com o tempo. O problema é saber quanto. Nestas situações, o analista poderá utilizar-se de uma TMA real, à qual será agregada a sua estimativa de inflação, que poderá ser variável, ou de uma TMA global, que engloba a TMA real e a estimativa de inflação. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 19 3.8 Fluxo de caixa Como foi visto no item anterior, para a realização da análise de investimento de qualquer projeto é necessário, além de utilizar o método de análise mais adequado, construir corretamente o fluxo de caixa do projeto. O fluxo de caixa descreve todo o movimento de moeda corrente, no seu tempo, ao longo da vida útil do projeto, a partir de sua fase inicial. No fluxo de caixa ocorrem, logicamente, entradas e saídas de caixa, as quais relaciona- se a seguir. Fluxo de caixa negativo As saídas de caixa são o investimento total do projeto, os custos totais operacionais, incluindo os custos variáveis e os custos fixos, e os impostos. A única exceção fica por conta da depreciação, a qual não constitui uma saída de caixa. Fluxo de caixa positivo Basicamente, é a receita proveniente da venda de seus produtos e o valor residual recuperado no final da vida útil do projeto Nos três métodos determinísticos de análise de investimentos, os custosou receitas durante o ano são considerados como tendo ocorrido no final do ano. Porém, se sabe que certos custos, como as despesas de mão-de-obra, energia e manutenção, são relativamente uniformes durante o ano. É, entretanto, vantajoso considerar que as despesas são todas feitas no final do ano para simplificação dos cálculos. Na maioria dos casos, esta convenção não implica em erros significativos. Na Tabela 3.2, é apresentado um modelo de fluxo de caixa para ser utilizado na análise de investimento de projetos. Tabela 3.2. Fluxo de caixa para análise de investimento de projetos. ITENS ANOS 0 1 2 ... n Receitas líquidas 0 RL1 RL2 ... RLn Custos variáveis 0 CV1 CV2 ... CVn Custos fixos com depreciação 0 CF1 CF2 ... CFn Lucro bruto 0 LB1 LB2 ... LBn Impostos 0 IP1 IP2 ... IPn Lucro líquido 0 LL1 LL2 ... LLn Depreciação 0 D1 D2 ... Dn Geração de caixa 0 GC1 GC2 GCn Valor residual 0 0 0 ... VR Investimento I 0 0 ... 0 Fluxo de caixa FC0 FC1 FC2 ... FCn Avaliação Econômica de Projetos Industriais 20 Onde, n: tempo de análise do empreendimento; Lucro bruto: Receitas líquidas - Custos variáveis - Custos fixos com depreciação; Lucro líquido: Lucro bruto - Impostos; Geração de caixa: Lucro líquido + Depreciação; e Fluxo de caixa: Geração de caixa + Valor residual - Investimento. 3.9 Receitas líquidas Para efeito de análise do investimento, as receitas adicionais decorrentes de uma nova fábrica ou de um novo equipamento normalmente são apenas as operacionais, ou seja, o produto do aumento de produção, de cada bem, pelo seu respectivo preço unitário. R = Pj x Qj Onde, Pj é o preço e Qj a quantidade de cada bem produzido. Normalmente, o valor contabilizado de uma nota fiscal não inclui os impostos federais, o que difere a receita bruta da receita líquida. Esta última normalmente é a considerada nas análises. Alguns equipamentos são de difícil associação com o volume de produção. De um tear, por exemplo, pode-se dizer que aumentará a produção em “x” m²/hora. Já para uma bomba ou um trocador de calor em uma indústria petroquímica, isto se torna extremamente difícil. Em uma análise entre duas bombas concorrentes, normalmente assume-se que o efeito sobre as receitas será o mesmo e levam-se em consideração apenas os custos diferenciais. Vale ressaltar que, quando houver produção de subprodutos ou coprodutos, deverá haver um crédito extra, cujo valor será seu custo de produção ou seu preço de venda. Preços internacionais de produtos industriais podem ser obtidos através do site www.icis.com, ou preços nacionais através da Revista Química & Derivados (http://www.quimica.com.br/pquimica/category/revista/). 3.10 Custos variáveis e fixos Os custos operacionais variáveis e fixos eqüivalem ao total dos recursos necessários para comprar e pagar os diversos componentes do processo de produção e vendas da empresa durante um certo período, em geral um ano. Estes custos estão detalhados no Capítulo 5. J = 0 n Eq. 3.12 http://www.icis.com/ http://www.quimica.com.br/pquimica/category/revista/ Avaliação Econômica de Projetos Industriais 21 3.11 Impostos O imposto de renda é uma forma de imposto incidente sobre o lucro das corporações. No caso brasileiro é um percentual que pode oscilar na faixa de 25 a 50%, dependendo da política fiscal vigente, aplicado sobre o lucro apurado ao final de cada exercício. O lucro é basicamente a diferença entre receitas e despesas, enquanto o que realmente interessa nos problemas de análise de investimentos é o fluxo de caixa real. Por isso, devem-se comentar alguns fatores que apresentam características especiais: a depreciação, por exemplo, é uma despesa não correspondida por saída de caixa; a amortização de financiamentos é saída de caixa, mas não é despesa; venda a prazo podem representar receitas em um período, mas entradas de caixa em outro. Estes fatores influenciam substancialmente na análise por seu efeito sobre o imposto de renda e, principalmente, por afetarem de forma diferente a análise de lucro e a análise de fluxo de caixa. Além do imposto de renda, as empresas devem pagar um tributo denominado de “contribuição social”. O valor atual da contribuição social é de 9% do lucro bruto apurado ao final de cada exercício 3.12 Depreciação A depreciação é contabilmente definida como a despesa equivalente à perda de valor de determinado bem, seja por deterioração ou obsolescência. Não é desembolso, porém é uma despesa e, como tal, pode ser abatida das receitas, diminuindo o lucro tributável e, consequentemente, o imposto de renda, este sim um desembolso real, e com efeitos sobre o fluxo de caixa. A legislação fiscal adota certos parâmetros, caso contrário todos iriam querer depreciar seus bens no menor tempo possível, beneficiando-se o quanto antes dos efeitos fiscais. Por isso, a legislação brasileira permite que prédios sejam depreciados linearmente em 25 anos, equipamentos em 10 anos e veículos em 5 anos. Eventualmente, estes prazos podem diminuir se justificada uma utilização excessiva. A depreciação contábil é feita de forma linear (ver a Equação 3.13), de modo que, por exemplo, um equipamento que tenha sido adquirido por US$ 10 milhões, deprecie um décimo do valor a cada ano, ou seja, US$ 1 milhão por ano. Depreciação Linear = Investimento Total - Valor Residual Vida Útil (anos) Ao se considerar uma vida útil para um equipamento não significa que não possa mais ser utilizado após este tempo, mas que a sua operação não é mais econômica. A depreciação também pode feita através de outros métodos: Depreciação pelos números da soma dos anos; Eq. 3.13 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 22 Depreciação pelo saldo decrescente; Saldo decrescente com conversão para a depreciação linear; Depreciação por unidade de produção; e Depreciação pelo sistema modificado de recuperação de custo acelerado. Em contrapartida à depreciação contábil está a depreciação que realmente houve no bem, ou seja, a perda efetiva de valor com o passar dos anos. A prática nos diz que na maioria das vezes a depreciação real é conduzida por uma curva exponencial com queda acentuada nos primeiros anos e mais suave nos anos posteriores. Caso uma empresa vendesse um determinado equipamento após alguns anos de operação, deveria então lançar esta diferença como lucro tributável, o que iria influir no cálculo do imposto de renda. Da mesma forma como um equipamento pode ser depreciado, os investimentos em projetos de engenharia e despesas de pré-operação e partida podem ser amortizados, à razão de 20% ao ano, no caso brasileiro. 3.13 Valor residual O valor residual é utilizado para especificar o valor líquido da dispensa de uma propriedade retirada de serviço. No caso de equipamento velho, é o valor de venda do equipamento menos os custos de sua manutenção. Desta forma, podem ocorrer valores residuais negativos. O valor residual é o montante de recursos financeiros que a empresa pode obter ao final da sua vida útil. Ao último ano do fluxo de receitas devem agregar-se a renda originada pelas vendas de todos os bens da empresa. Basicamente, ao final das suas atividades, a empresa pode vender o seu terreno, os seus edifícios, os seus equipamentos e utensílios utilizados, os seus estoques de matérias-primas e de produtos, e ainda recuperar os recursos em dinheirodisponíveis em caixa. Para calcular o valor residual, os projetistas podem estimar o valor que terá cada um dos bens da empresa ao final da sua vida útil. De uma maneira geral, o terreno pode ser recuperado na sua totalidade; a construção civil será valorizada de acordo com cada caso particular, bem como os equipamentos, móveis e utensílios depreciados. No que se refere ao capital de trabalho líquido (estoques e dinheiro em caixa), em graus diferentes, poder-se-á recuperar a quase totalidade do seu valor. Depois de estimado o valor potencial de receita por liquidação, os projetistas deverão considerar a necessidade do pagamento das contas pendentes da empresa, para determinar o valor residual líquido que será acrescentado às receitas diretas do último ano de funcionamento da empresa. 3.14 Investimento O investimento total de um empreendimento corresponde à soma das despesas que a empresa deve realizar a fim de efetuar as diversas operações que lhes são relacionadas, desde os estudos técnico-econômicos até a partida das instalações produtivas. Este custo está detalhado no Capítulo 4. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 23 4. ESTIMATIVA DE INVESTIMENTO TOTAL 4.1 Introdução Para se efetuar uma análise econômica de um investimento é necessário levantar os custos e as receitas adicionais, decorrente deste investimento. Quer o investimento seja uma expansão da empresa, uma nova fábrica, uma nova linha de produção ou simplesmente um novo equipamento, devem ser analisados os efeitos adicionais, medidos em termos de custos e receitas. As receitas adicionais serão decorrentes do aumento de produção. Já os custos podem ser classificados da seguinte forma: Custos de investimento: decorrentes das transações dos ativos; e Custos operacionais: decorrentes da operação dos ativos (ver o Capítulo 5). A composição dos custos de investimento pode se apresentar de formas variadas, devendo, contudo, todas elas atingir o mesmo objetivo, ou seja, apresentar a estimativa do investimento total. O investimento total pode ser dividido nos três grandes itens seguintes: 1) Investimento fixo: 2) Despesas financeiras durante a construção; e 3) Capital de giro. A estimativa destes itens será mais ou menos precisa em função do grau de informação existente sobre o projeto. À medida que o projeto evolui maiores quantidades de dados estão disponíveis, possibilitando o emprego de metodologias mais detalhadas e, consequentemente, fornecendo uma precisão maior nos resultados. No caso dos investimentos correntes de uma empresa, o levantamento dos custos relacionados requer iniciativa, conhecimento e tempo. Normalmente, são tomadas muitas decisões nas quais uma consideração mais detalhada dos custos envolvidos não é feita por falta de dados quantitativos, pela urgência da decisão ou pelo fato das pessoas envolvidas não se darem conta de que é possível calcular qual a melhor decisão do ponto de vista econômico. Poucas empresas apresentam uma cultura quantitativa e conseguem, dessa forma, tomar decisões mais racionais eliminando os riscos desnecessários. Os executivos das empresas mais bem administradas tendem a fazer comparações e medições de maneira a tirar a tomada de decisão dos domínios da mera opinião. Com isto, não quer dizer que todas as decisões empresarias podem ou devem ser feitas apenas em bases quantitativas. Isto seria um absurdo, pois a administração não é uma ciência exata. Os aspectos quantitativos não são suficientemente considerados nas decisões empresariais e a falta de uma cultura quantitativa pode custar bastante caro à empresa. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 24 4.2 Investimento fixo 4.2.1 Definições O investimento fixo representa os custos dos equipamentos, das instalações industriais para operação dos equipamentos (redes de energia, vapor, água, ar comprimido e outras), da montagem e do projeto quando houver, as construções civis necessárias e de outros investimentos como móveis e transportadores. Alguns itens do investimento fixo podem estar mais diretamente relacionados com o processo produtivo do que outros, por isso o investimento fixo normalmente é subdividido em investimento indireto e direto. Como investimento fixo indireto são considerados os seguintes itens: Estudos de viabilidade; Gerenciamento do empreendimento; “Know-how”; Projeto básico; Projeto de detalhamento; Serviços de procura, inspeção e diligenciamento; Pré-operação; e Contingências. Já o investimento fixo direto compreende os investimentos nos limites da unidade de produção (investimento ISBL) e investimentos em utilidades e sistemas auxiliares (investimento OSBL). Estes investimentos são compostos pelos itens abaixo: Terreno e melhorias; Equipamentos principais; Tubulação; Instrumentação; Materiais elétricos; Isolamentos térmicos; Pintura; Fundações e estruturas; Obras civis; Avaliação Econômica de Projetos Industriais 25 Montagem industrial; Fretes, seguros e taxas; Peças sobressalentes; e Inventários iniciais. Todos estes itens serão detalhados a seguir. 4.2.2 Estudos de viabilidade Compreendem todos os gastos feitos no preparo de estudos relativos à definição de empreendimento. Compreende aqui, quando o caso, a contratação de serviços de consultorias e o gasto com os estudos de seleção de tecnologia. É estimado com base no número de meses e números de técnicos envolvidos. 4.2.3 Gerenciamento do empreendimento Além dos gastos com pessoal envolvido na implantação do projeto, como o gerente de projeto, engenheiros e outros, inclui também todas as despesas preparatórias necessárias, bem como, a própria criação da empresa piloto que irá encabeçar o projeto. Um valor típico que se considera na estimativa de investimento é 5% do investimento fixo. 4.2.4 ”Know-how” O pagamento pela tecnologia, quando ela é comprada, é feito normalmente das seguintes maneiras: Pagamento tipo “paid-up” São pagamentos feitos de forma global ao detentor do processo. Geralmente, este pagamento é função do porte da unidade e referenciado à tonelada de capacidade anual instalada. Este pagamento, normalmente, não se faz de uma maneira única, mas sim em parcelas de acordo com o contrato; Pagamento tipo “running royalties” Em alguns casos, os pagamentos são feitos em anuidades durante um certo tempo de vida da unidade ou em função do período de validade das patentes que protegem a invenção. O mais comum é referir-se à produção real e não a capacidade nominal. Em uma primeira aproximação pode-se considerar que um pagamento “paid-up” eqüivale a um “running royalties” pelo período de dez anos. Há também o caso misto em que há um pagamento inicial seguindo de “running royalties” durante um certo período, definido em contrato. O “know-how” pode ser estimado como 5 a 7% do custo total de equipamentos principais, materiais secundários, montagem e custos indiretos, sendo um valor típico de 5%. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 26 4.2.5 Engenharia Os objetivos da engenharia são basicamente determinar o processo de produção, os equipamentos e as instalações e, assim, tornar possível o cálculo dos custos de investimento e de operação. Estas funçõesproporcionam ainda informações para outras etapas do projeto, como por exemplo: Reorientar o estudo de mercado, indicando outros tipos de artigos que se podem produzir com as mesmas instalações; Orientar as decisões sobre tamanho e localização da unidade de produção; Orientar o esquema de financiamento com a informação do tempo necessário para a execução e o funcionamento das instalações; Definir o tipo de mão-de-obra requerida e os serviços auxiliares necessários, tais como mão-de-obra especializada, problemas de “know-how” assistência técnica etc.; e Orientar quanto a problemas legais (patentes e marcas). Representa a remuneração dos serviços de uma empresa de engenharia estipulada em um contrato, cujo escopo pode variar de empreendimento para outro. Nessa rubrica, podem estar incluídos três tipos de atividades: Projeto básico, que em alguns casos pode estar dentro da rubrica de “know-how”; Projeto de detalhamento, abrangendo os serviços de cálculo e especificações detalhadas dos equipamentos; e Serviços de procura, inspeção e diligenciamento. No Brasil, normalmente, esta atividade é desenvolvida pela empresa de engenharia que faz o detalhamento. Em uma estrutura mais aberta, ao invés de se considerar “engenharia” como um único item, é interessante destacar cada um desses componentes como um item separado. Os custos totais com engenharia variam de 8 a 20% do investimento fixo. Normalmente, utiliza-se 12% como primeira estimativa, conforme apresentado logo a seguir: Projeto básico: 3% do investimento ISBL; Projeto de detalhamento: 6% do investimento fixo direto (investimento ISBL mais investimento OSBL); e Serviços de procura, inspeção e diligenciamento: 3% do investimento ISBL. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 27 4.2.6 Pré-operação A partida de uma unidade é em geral efetuada sob a responsabilidade técnica do detentor do processo, com a assistência do pessoal da empresa produtora bem como com os responsáveis da empresa de engenharia que fizeram o projeto. Ao longo deste período, deve-se colocar em regime a unidade, verificar se os produtos respondem às especificações garantidas, que a capacidade nominal garantida pode ser atendida sem dificuldade, que as performances dos diversos sistemas em questão (catalisadores, solventes etc.) são bem atingidas, que as paradas e partidas estão de acordo com o manual de operação. Portanto, os custos da pré-operação levam em conta os custos correspondentes a estes serviços prestados pelo detentor da tecnologia e pela firma de engenharia. Também, ao longo do período de partida, no qual diversos ajustes ou modificações de detalhes são efetuados, as unidades não produzem imediatamente os produtos nas especificações requeridas que podem portanto não serem comercializáveis. Existe, então, consumo de matéria-prima, de produtos químicos, de utilidades e de pessoal não compensados por venda de produtos finais. Os custos de partida e pré-operação são destinados a cobrir estas despesas. O tempo necessário à partida depende da complexidade da unidade. As despesas de partida são normalmente avaliadas em termos de meses de custo operacional, excluída a remuneração do capital, ou seja, levando-se em conta o consumo de matérias-primas, produtos químicos, utilidades e mão-de-obra. No caso de produtos finais poderem ser valorizados ou reciclados, quando eles estiverem fora de especificação, os custos são calculados, excluindo-se os custos das matérias-primas. Compreende-se neste item, também, o custo do treinamento do pessoal para a operação da fábrica. O número de técnicos de nível médio e superior é função do tipo de fábrica considerado, ou seja, das características particulares da empresa em implantação. Uma composição típica seria: engenheiros coordenadores (turno e dia), engenheiros de processo, supervisores (turno e dia), operadores e analistas de laboratório. Resumindo-se, pode-se estimar o custo de pré-operação como: Assistência técnica à partida: “n” meses de custos variáveis mais custos com mão-de- obra (“n” pode ser considerado igual a 1); e Treinamento de pessoal: normalmente, o tempo necessário para o treinamento do pessoal é estimado em seis meses. Como estimativa inicial para o custo com a pré-operação de uma unidade industrial, pode-se considerar de 10 a 30 dias de custo variável, a depender da complexidade do processo, ou ainda 1% do investimento fixo direto (investimento ISBL mais investimento OSBL). Avaliação Econômica de Projetos Industriais 28 4.2.7 Contingências A estimativa de investimento feita com base em um “check list” exaustivo deve-se levar a um valor bastante realista. Contudo, toda a estimativa tem uma margem de erro associada e independentemente dos esforços para se fazer uma estimativa detalhada, o resultado sempre será uma estimativa e não um custo real. A ordem de grandeza do erro depende de determinados fatores, sendo os principais: Indefinições no processo, a qualidade e a confiabilidade dos dados disponíveis para a estimativa; Extensão do projeto mecânico e “take-off” de material para a estimativa; Validade de cotações recebidas e dos métodos de estimativa usados; Localização e natureza do solo, problemas de mão-de-obra local e problemas não esperados de fundações; Complexidade de organização do projeto; e Flutuações de preços. Um método muitas vezes utilizado para se determinar um fator de contingência é baseado numa distribuição probabilística pelo uso de curvas normais e desvios padrões. A utilização das contingências, em estimativa de investimento, contudo deve ser bastante criteriosa, em função do seu objetivo. No caso de se estar fazendo estudos de viabilidade, em que se procura determinar a atratividade econômica do empreendimento, o item “contingências” é o instrumento que se usa para levar em conta a precisão da estimativa de investimento, ligada ao grau de informação que se tem sobre o projeto. Embora, a precisão destas estimativas possam ser para mais ou para menos, nestes estudos coloca-se sempre para mais, de forma a se avaliar a rentabilidade na condição mais desfavorável. Já no caso de um programa-orçamento, a previsão de gastos com contingências deve ser de pequeno valor, pois neste caso o grau de informação deve ser tal que permita uma estimativa detalhada do investimento e deverá se constituir em uma meta a ser atingida. A inclusão de um item “contingências” elevado supervalorizará o orçamento, sendo um fator que inevitavelmente forçará o investimento real para cima. Portanto, a estimativa dos gastos com contingências depende da etapa em que se encontra o projeto. Como estimativa inicial, considera-se que os gastos com contingências variam de 15 a 25% do investimento fixo direto. 4.2.8 Terreno e melhorias Compreende o custo de aquisição dos terrenos necessários para a construção, bem como os gastos legais de escritura, impostos, taxas, registros etc., assim como também o preparo do terreno, nivelamento, estradas, alamedas, ferrovias, cercas, área de estacionamento, cais e piers, facilidades recreacionais, paisagismos etc.. Avaliação Econômica de Projetos Industriais 29 Para uma primeira estimativa, considera esse item como sendo 2% do investimento fixo total. 4.2.9 Equipamentos principais O custo dos equipamentos principais é sem dúvida, em uma indústria química, o item de maior importância,do qual depende, normalmente, o cálculo dos outros itens de investimento. Os equipamentos normalmente existentes nas unidades produtivas são: Colunas; Vasos; Reservatórios (para produtos intermediários durante o processamento); Reatores; Trocadores de calor, condensadores e evaporadores; Fornos; Bombas; Compressores; Acionadores primários (turbinas e motores); e Equipamentos diversos, tais como: filtros, centrífugas, ejetores e secadores. Existem vários métodos para realizar a estimativa de custo dos equipamentos principais. A estimativa baseada em equações regredidas em curvas de custo específicas para cada equipamento, obtidas na literatura e em programas comerciais, é uma das mais utilizadas. As equações de custo são normalmente uma função potência e segue o seguinte padrão: Custo = a * P R * F tipo * F material * F pressão * F tecnologia Onde, a: parâmetro de regressão; R: parâmetro de regressão; P: característica principal de projeto do equipamento; F tipo: fator do tipo do equipamento em relação ao tipo de referência; F material: fator do material do equipamento em relação ao material de referência; F pressão: fator da pressão do equipamento em relação a pressão de referência; e F tecnologia: fator de tecnologia para equipamentos especiais. Nem todas as equações possuem todos estes fatores de correção. Eq. 4.1 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 30 A seguir, serão apresentadas equações de custo de diversos equipamentos industriais. Os dados de custos são do mercado norte-americano, em US$ FOB, e obtidos em 2014. a) Agitador (aço carbono, 3 a 200 hp) Custo = 7555 * Pot 0,70 * F material Pot em hp F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,20 Aço inox 316 1,25 Monel 1,45 F tipo, F pressão e F tecnologia: 1,0 b) Trocador de calor tipo “air cooler” (aço carbono, 35 a 150.000 ft², 150 psig) Custo = 2965 * A 0,40 * F material * F pressão A em ft² F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,25 Aço inox 316 1,30 F pressão: Pressão (psig) F pressão 0 1,05 150 1,00 300 1,15 450 1,25 600 1,45 900 1,75 F tipo e F tecnologia: 1,0 Eq. 4.2 Eq. 4.3 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 31 c) Trocador de calor tipo casco e tubos, espelho fixo ou tubo em “U” (aço carbono, 50 a 300 ft², 150 psig) Custo = 8,012 * A 1,35 * F material * F pressão A em ft² F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,25 Aço inox 316 1,30 F pressão: Pressão (psig) F pressão 0 1,06 150 1,00 300 1,13 450 1,25 600 1,44 900 1,75 F tipo e F tecnologia: 1,0 d) Trocador de calor tipo casco e tubos, espelho fixo ou tubo em “U” (aço carbono, 300 a 1500 ft², 150 psig) Custo = 143,0 * A 0,85 * F material * F pressão A em ft² F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,25 Aço inox 316 1,30 Eq. 4.4 Eq. 4.5 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 32 F pressão: Pressão (psig) F pressão 0 1,05 150 1,00 300 1,15 450 1,25 600 1,45 900 1,75 F tipo e F tecnologia: 1,0 e) Trocador de calor tipo casco e tubos, espelho fixo ou tubo em “U” (aço carbono, 1500 a 6000 ft², 150 psig) Custo = 6011 * A 0,34 * F material * F pressão A em ft² F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,25 Aço inox 316 1,30 F pressão: Pressão (psig) F pressão 0 1,05 150 1,00 300 1,15 450 1,25 600 1,45 900 1,75 F tipo e F tecnologia: 1,0 Eq. 4.6 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 33 f) Trocador de calor tipo bitubular (aço carbono, 2,5 a 50 ft², 150 psig) Custo = 972,6 * A 0,21 * F material * F pressão A em ft² F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,25 Aço inox 316 1,30 F pressão: Pressão (psig) F pressão 0 1,05 150 1,00 300 1,15 450 1,25 600 1,45 900 1,75 F tipo e F tecnologia: 1,0 g) Bomba centrífuga (ferro fundido, 4 a 3600 m³/h, 10 kgf/cm² g) Custo = 2410 * Q 0,38 * F material * F pressão Q em m³/h F material: Material F material Ferro fundido 1,0 Aço carbono 1,8 Aço inox 304 2,4 Eq. 4.7 Eq. 4.8 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 34 F pressão: Pressão (psig) F pressão 10 1,0 50 2,1 100 2,8 200 3,5 300 4,0 F tipo e F tecnologia: 1,0 h) Torre de resfriamento de tiragem induzida (aço carbono, 2,5 a 150 MM kcal/h) Custo = 223100 * q 0,60 q em MM kcal/h F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 i) Esfera tipo ASME (aço carbono, 4500 a 130000 kg) Custo = 2236 * M 0,35 M em kg F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 j) Esfera tipo ASME (aço carbono, 130000 a 280000 kg) Custo = 83,15 * M 0,74 M em kg F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 k) Compressor de ar, tipo centrífugo (aço carbono, 125 a 3500 hp, 125 psig) Custo = 1743 * Pot 0,75 Pot em hp F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 l) Compressor de ar, tipo alternativo (aço carbono, 75 a 500 hp, 125 psig) Custo = 1336 * Pot 0,87 Pot em hp Eq. 4.9 Eq. 4.10 Eq. 4.11 Eq. 4.12 Eq. 4.13 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 35 F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 m) Compressor centrífugo (aço carbono, 40 a 10000 hp, 1000 psig) Custo = 1982 * Pot 0,80 Pot em hp F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 n) Compressor alternativo (aço carbono, 100 a 3200 hp, 1000 psig) Custo = 1415 * Pot 0,91 Pot em hp F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 o) Compressor rotativo (aço carbono, 10 a 800 hp, 1000 psig) Custo = 2965 * Pot 0,71 Pot em hp F material, F pressão, F tipo e F tecnologia: 1,0 p) Forno tipo box (aço carbono, 5 a 164 MM kcal/h) Custo = 221300 * q 0,70 * F material * F pressão q em MM kcal/h F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,52 Aço inox 316 1,67 F pressão: Pressão (psig) F pressão 150 1,00 300 1,05 450 1,07 600 1,10 Eq. 4.14 Eq. 4.15 Eq. 4.16 Eq. 4.17 Avaliação Econômica de Projetos Industriais 36 F tipo e F tecnologia: 1,0 q) Forno tipo cilíndrico (aço carbono, 1 a 8 MM kcal/h) Custo = 168200 * q 0,82 * F material * F pressão q em MM kcal/h F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 1,52 Aço inox 316 1,67 F pressão: Pressão (psig) F pressão 150 1,00 300 1,05 450 1,07 600 1,10 F tipo e F tecnologia: 1,0 r) Vaso de processo (aço carbono, 450 a 27000 kg) Custo = 392,5 * M 0,61 * F material M em kg F material: Material F material Aço carbono 1,00 Aço inox 304 2,66 Aço inox 316 2,92 F tipo, F pressão e F tecnologia: 1,0 s) Vaso
Compartilhar