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Estudo Dirigido P1

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Resolução do Estudo Dirigido para a P1
1) Segundo Marx, Smith e Ricardo concentram sua investigação nos determinantes do valor das mercadorias (medida do valor). Ainda do ponto de vista de Marx, tal investigação deveria ser precedida pela seguinte questão: Em que condições o produto do trabalho assume a forma valor?
Discuta e comente a afirmação acima utilizando os seguintes conceitos desenvolvidos por Marx:
a) produto do trabalho e mercadoria;
b) valor de uso, valor e valor de troca;
c) trabalho concreto e trabalho abstrato.
R:	Marx, ao contrário do que pensavam os economistas clássicos, não enxerga o capitalismo como um estado natural inerente à sociedade e, portanto, baseia sua tese numa desnaturalização desse conceito. Ele faz uma diferenciação entre conceitos trans-históricos (que se referem a elementos presentes em qualquer função social) e conceitos históricos (conceitos que se referem a elementos próprios, inerentes a uma função social específica, ainda que pareçam naturais e inerentes a qualquer modelo).
	O primeiro âmbito no qual essa discussão pode ser realizada é na diferenciação entre produto do trabalho e mercadoria. O produto do trabalho é a forma assumida pelo resultado final do processo produtivo em qualquer sociedade em que indivíduos trabalhem (conceito trans-histórico). O produto do trabalho possui apenas uma dimensão de valor: o valor de uso (conceito trans-histórioco). Já o conceito de mercadoria é a maneira específica que o produto do trabalho assume em uma sociedade mercantil, na qual há uma apropriação privada do produto do trabalho e uma divisão do trabalho, sendo, portanto, a forma elementar da riqueza em uma sociedade mercantil (conceito histórico). A mercadoria possui duas dimensões de valor: o valor de uso e o valor de troca (conceito histórico).
	Em sua análise sobre o trabalho, Marx realiza uma divisão deste em duas facetas: trabalho concreto e trabalho abstrato. O primeiro pode ser definido como qualquer atividade geradora de valor de uso, ou seja, de um objeto que satisfaça uma utilidade (conceito trans-histórico). O segundo corresponde ao trabalho gerador de valor, sendo chamado abstrato por possuir suas características abstraídas, independente da atividade realizada ele consiste na geração de valor (conceito histórico).
	Segundo Marx, o produto do trabalho vem ao mundo na forma de “valor de uso” (conceito trans-histórico), sendo essa sua forma originária, que expressa sua utilidade, gerada pelo trabalho concreto. Este produto do trabalho passa a ter “valor” ao expressar “valor de uso” para alguém que estaria disposto a trocar seu produto de trabalho pelo de outrem, ou seja, abrir mão do “valor de uso” do produto de trabalho que possui para ter acesso ao “valor de uso” do produto do trabalho de outrem. A mercadoria apresenta valor de uso e valor, por estar inserida em uma sociedade mercantil. O valor, portanto, expressa-se materialmente em “valor de troca” (conceito histórico) nesta sociedade. A forma de “valor de troca” é uma análise quantitativa da mercadoria, tendo em vista que irá analisar a magnitude do valor, que por sua vez é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à produção de mercadoria. 
2) Discuta e diferencie os conceitos:
a) trabalho abstrato e tempo de trabalho socialmente necessário; 
 b) produtividade e intensidade do trabalho. 
R:	O trabalho abstrato é definido como a faceta do trabalho responsável pela geração de valor. Um trabalho imediatamente privado que se socializa através da troca. Já o trabalho socialmente necessário é o tempo que, em média, é necessário para se produzir um valor de uso, dadas as condições de produção vigentes, dadas a produtividade e a intensidade do trabalho.
	 A produtividade do trabalho pode ser definida como a potência do trabalho, no que se refere a capacidade de transformação da natureza; enquanto a intensidade do trabalho é justamente a intensidade da realização do trabalho em uma determinada jornada.
3) Se em um determinado setor da economia ocorre um aumento da produtividade do trabalho, qual o efeito sobre a produção da massa de valor produzida, sobre a quantidade de valores de uso produzida e sobre o valor unitário de cada uma das mercadorias produzidas? Repita o exercício anterior, agora para a hipótese de um aumento na intensidade do trabalho. 
R:	Um aumento na produtividade do trabalho não altera a massa de valor produzida, uma vez que a quantidade de trabalho necessário para a produção não se alterou. A quantidade de valor de uso produzida aumenta, pois agora são produzidas mais mercadorias. No entanto, cai o valor unitário, pois agora uma certa quantidade pode ser produzida sendo necessário menos trabalho do que era antes.
	No caso de um aumento da intensidade do trabalho, aumenta a massa de valor produzida devido a um aumento/melhoria no trabalho necessário para a produção. Aumenta também a massa de valor de uso produzida, visto que mais mercadorias podem ser produzidas agora. No entanto, o valor unitário das mercadorias se mantém constante, pois o aumento da produção (aumento do valor de uso) foi derivado de um aumento da intensidade do trabalho (aumento do valor).
4) Em que consiste a discussão de Marx sobre o fetichismo das mercadorias, desenvolvida no capítulo 1 do livro I de O Capital?
R:	Quando, na sociedade capitalista, são produzidos os bens e os homens vão ao mercado trocá-los, a relação evidente de troca é a de “coisa x coisa”, ou seja, mercadoria por mercadoria. O que passa despercebido, no entanto, é que a troca de mercadorias nada mais é do que a produção de um homem que, devido ao seu trabalho, produziu aquilo a ser trocado. O fetiche, portanto, é que as coisas resultantes do trabalho humano, quando trocadas, escondem uma relação social implícita a essa produção. Essa relação é, na verdade, “homem x homem”, sendo a mercadoria apenas um meio de medir a relação. As relações humanas estão encobertas pelas relações entre coisas, e, nesta sociedade, as relações sociais de produção tomam necessariamente a forma de relações entre coisas. Tal processo é visto como a coisificação das relações sociais de produção. É comum dizer que o fetichismo é uma inversão entre meios e fins, pois a mercadoria é um meio encontrado de se trocar as coisas. Porém, como o resultado da produção assume a forma de mercadoria, esta torna-se um fim.
5) "A divisão do trabalho é a consequência necessária de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana, ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra". (A. Smith em A Riqueza das Nações). Qual a crítica de Marx dirigida à concepção de troca presente na afirmação anterior? Em que sentido a crítica de Marx propõe uma concepção de ordem mercantil capitalista radicalmente distinta da utilizada por A. Smith?
R:	Para Smith, o homem possui uma propensão natural às trocas, pois só por meio das relações de troca os indivíduos conseguem obter tudo aquilo que necessitam para sua subsistência. Isso resulta na divisão do trabalho, que aumenta a produtividade e garante que haja uma massa de mercadorias suficiente para ser trocadas de modo a satisfazer a necessidade de todos.
	Marx critica a ideia de Smith de propensão natural às trocas, pois, para ele, os homens só têm essa propensão porque vivem numa ordem social mercantilista capitalista. Ou seja, a propensão à troca não é inata, ela surge devido a uma ordem social na qual os homens vivem. Além disso, a divisão do trabalho não é uma decorrência da necessidade de trocar, e sim a causa da necessidade de trocar. Isso porque, devido à alienação da produção, o indivíduo não é capaz de produzir sozinho aquilo que necessita. Portanto, a propensão do homem a trocar é derivada de uma determinada ordem social, na qual é necessário trocar para ser inserido, ou seja, a troca é compulsória por estar inserido na sociedade mercantil.
6) No cap. 1 do livro 1 de O Capital, Marx apresenta o conceito de mercadoria tendo como referência uma economia mercantil simples (EMS).Em que medida a utilização desse modelo (EMS) impede a construção do conceito de capital, do mesmo modo que impossibilita conferir lógica econômica à acumulação de riqueza?
R:	Na construção de um modelo abstrato, Marx opõe a sociedade onde rege a produção capitalista à sociedade mercantil simples. Ao se tornar dominante, o capital subjuga o trabalhador, aprisiona o trabalho, mercantiliza a força de trabalho, e torna o processo de trabalho em meio de produção de mais-valia, e, portanto, de capital. Por isso, a troca, nas sociedades em que rege a produção capitalista, não se dá, como na sociedade mercantil simples, proporcionalmente à quantidade de trabalho, mas proporcionalmente à quantidade de capital investido na produção. Esse caráter fetichista da produção capitalista está, no entanto, implícito na forma mercadoria (particularmente em sua forma mais geral e abstrata, que é o dinheiro). Por isso é indispensável começar o estudo exatamente pela mercadoria (e pelo dinheiro), pela sociedade mercantil simples e, portanto, de capital. 
7) Ao longo da década de oitenta a economia brasileira atravessou períodos de alta inflação. Utilizando a análise de Marx sobre as funções do dinheiro, como é possível caracterizar a falência do padrão monetário característica daquele período?
R:	A discussão da função meio de pagamento é o primeiro passo na construção da teoria do crédito de Marx. Ela é construída em dois momentos: crédito comercial (crédito para fazer circular mercadorias já produzidas) e crédito de capital (crédito para produção futura). Para Marx, o crédito comercial aumenta a instabilidade do sistema, porque qualquer disfunção da economia tende a se propagar, não ficando restrita a apenas uma parte da economia. O crédito comercial inverte as fases da circulação de mercadorias. Com crédito a compra antecede a venda (D-M’), tornando a venda compulsória (M-D). Isso tem como consequência um aumento da instabilidade sistêmica e um aumento de operações de especulação.
	O surto inflacionário na década de 80 foi subproduto de uma crise do padrão internacional de financiamento que atingiu diversos países da América Latina e provocou pressões inflacionárias disseminadas. Devido à grande facilidade de obtenção de crédito internacional na década de 70, o Brasil obteve grandes créditos para financiar seu crescimento. Segundo os conceitos de Marx, essa grande obtenção de crédito comercial da década de 70 teria propagado a
crise que veio a acontecer na década de 80, fazendo com que o Brasil atravessasse períodos de alta inflação.	
8) Qual a função do dinheiro discutida por Marx no capítulo III do Livro I do Capital que estabelece um primeiro elemento para o desenvolvimento de sua teoria do crédito? Justifique a resposta. 
R:	 Com o desenvolvimento da circulação de mercadorias, desenvolvem-se condições em que a alienação da mercadoria se separa temporalmente da realização de seu preço. Uma mercadoria nasce no lugar de seu mercado, outra tem de viajar para um mercado distante. Por outro lado, vende-se, por exemplo, uma casa por determinado espaço de tempo. Somente após o decurso do prazo fixado recebe o comprador realmente o valor de uso da mercadoria. O vendedor torna-se credor, o comprador, devedor. O dinheiro assume outra função. Converte-se em meio de pagamento. Cessou o aparecimento simultâneo dos equivalentes mercadoria e dinheiro. O dinheiro já não media o processo.
Com certo nível e volume de produção de mercadorias, a função do dinheiro como meio de pagamento ultrapassa a esfera da circulação de mercadorias. Ele torna-se a mercadoria geral dos contratos, rendas, impostos etc., transformam-se de entregas em natura em pagamentos em dinheiro. Há o surgimento do crédito comercial (credor e devedor/ crédito e débito) que serve para fazer circular as mercadorias já produzidas. O dinheiro funcionava como meio de pagamento, já o dinheiro crédito é um meio de circulação que irá representar o dinheiro futuro.
9) "Para Marx a troca de mercadorias não pode explicar o surgimento de riqueza excedentária. Entretanto, pode ser a via de enriquecimento de agentes envolvidos nas transações mercantis". A afirmação anterior está correta ou equivocada? Justifique a resposta.
R:	A afirmação está correta. Não é possível entender a geração de excedente se a análise permanecer apenas na órbita da circulação. Sistematicamente não se pode ter uma geração de riqueza. Entretanto, em uma situação em que os agentes possam comprar e vender sem respeitarem a lei do valor (na qual todas as mercadorias se trocam pelo seu valor, ou seja, a troca é sempre de equivalentes), pode ocorrer uma situação em que os agentes envolvidos na transação enriqueçam. Não ocorre geração de riqueza excedentária no sistema. A massa de riqueza que existia antes da transação é igual à massa de riqueza existente após a transação, havendo apenas uma redistribuição da riqueza a favor de um agente monopolista. Mesmo com a lei do valor estando vigente não há como entender a geração de riqueza excedente no sistema.
10) Marx diferencia o conceito de trabalho do conceito de força de trabalho. Qual a importância deste fato para a construção de sua teoria acerca da natureza do excedente no capitalismo? 
R:	É sobre a confusão entre os conceitos de trabalho e força de trabalho que repousa mais uma crítica de Marx à Economia Política clássica de Smith e Ricardo. A força de trabalho é a capacidade que o trabalhador tem para realizar um trabalho. Portanto, é trabalho não materializado. Por outro lado, o trabalho é a ativação, a realização desta capacidade de trabalhar. A mercadoria que o trabalhador oferta no mercado é a sua força de trabalho, e não o seu trabalho. O trabalho é o valor de uso da mercadoria força de trabalho. A força de trabalho enquanto mercadoria não é valor de uso para o trabalhador e, por isso, ela é alienada no mercado, muda de mãos, não pertence mais ao trabalhador, mas sim ao capitalista. O salário jamais poderá ser o valor do trabalho, pois o trabalho a ser realizado já não pertence ao trabalhador.
	A teoria acerca da natureza do excedente no capitalismo está ligada a utilização da força de trabalho como uma mercadoria especial. O capitalista, ao comprar a força de trabalho, obtém o direito a uso da mesma. O capitalista está interessado no valor de uso da força trabalho, fonte da riqueza excedentária. Ao ser consumida a força de trabalho, ou seja, ao utilizar-se trabalho, pode-se gerar uma massa de riqueza superior à necessária à sua reprodução. Assim, a diferença entre o valor gerado pelo consumo da fora de trabalho e o valor da força de trabalho dará origem ao excedente e à mais-valia.
11) Com base na leitura do Cap. IV do Livro I de O Capital, discuta a afirmação que se segue:
“... Marx procura mostrar que o capitalismo combina leis mercantis (igualdade) com expropriação, o que permite estabelecer uma peculiar simbiose entre exclusão social de fato e preservação da ideologia da igualdade humana.” (Coutinho, M.) 
R:	Sempre existiu historicamente uma classe social com controle de acesso aos meios de produção, tornando possível a ocorrência de exploração, ou seja, da extração do excedente da força de trabalho (mais-valia), que é possibilitada pelo monopólio dos meios de produção. Foi assim no escravismo, no feudalismo e o é no capitalismo. Na sociedade pré-capitalista, no entanto, a exploração é clara e visível e não era maquiada por uma lei, não havia igualdade jurídica. O servo e o subordinado não têm os mesmos direitos que os donos dos meios de produção, ele não é livre, o trabalho é compulsório. Já na sociedade capitalista, ocorre uma exploração indireta, mediada pelo mercado, pela compra e venda de força de trabalho. Ocorrem transações livres e equivalentes, não há coerção extra econômica. A troca entre capital e trabalho (capitalista-trabalhador) engloba, por um lado, uma troca de equivalentes e, por outro, uma troca de não equivalentes, de forma simultânea. A troca de equivalentes é dada pela compra e venda da força de trabalho ao seu valor,respeitando a lei do valor. Há liberdade e igualdade na troca, na circulação. A troca de não equivalentes ocorre porque o trabalhador entrega uma massa de valor superior ao equivalente do pagamento dos capitalistas. O valor gerado pela força de trabalho é maior que o valor pago pelo seu direito de uso. Todos são iguais perante a lei, a relação de exploração não está inscrita nas condições de existência jurídica dos outros, ela é mascarada. Só é descoberta através de uma análise, não é clara e visível devido ao fetichismo.
12) A troca entre capital e trabalho é, do ponto de vista de Marx, ao mesmo tempo uma troca de equivalentes e uma troca de não equivalentes. Comentar.
R:	A relação capital-trabalho surge, a princípio, como uma relação entre dois agentes livres, iguais e independentes, que se encontram na esfera do mercado. O salário é a categoria que faz a mediação estritamente monetária entre os dois lados envolvidos na troca. Segundo Marx, “Na superfície da sociedade burguesa, o salário do trabalhador aparece como preço do trabalho, como um quantum determinado de trabalho.” O salário enquanto valor do trabalho, como mediação monetária, desperta no trabalhador a ilusão de que o pagamento que ele recebe é o quantum determinante pago pela sua jornada de trabalho.
	Essa mistificação cria a ilusão de que o trabalho é a mercadoria que o operário aliena no mercado, quando na verdade este papel é desempenhado pela força de trabalho. O salário aparece nessa relação como a categoria que determina o respeito à troca de equivalentes, na qual os dois valores se defrontam e se equivalem. Portanto, o salário forja uma ilusão na qual a troca entre não equivalentes pareça uma troca entre equivalentes, fundamentando os princípios da igualdade entre trabalhador e capitalista.
	Toda essa mistificação da forma salário vela pela igualdade na medida em que encobre a exploração do capitalista sobre o trabalhador. O salário esconde e oculta a dualidade da jornada de trabalho, forjando uma aparência de que a troca entre operário e patrão se fundamenta numa troca entre equivalentes. Dessa maneira, o fetiche da forma salário cria, para a consciência imediata e alienada do trabalhador, uma falsa noção de igualdade na relação com o capital. É pela forma salário que a extração de mais-valia é ocultada ao trabalhador, encobrindo a apropriação de trabalho sem equivalência.
13) Nos quatro primeiros capítulos do Livro I de O Capital Marx se contrapõe a concepção (Smith e Ricardo) de que a produção capitalista visa à obtenção de valores de uso (consumo). Em que passagens é possível identificar essa controvérsia?
R:	Fica evidente no livro I de O Capital que a produção capitalista não visa valores de uso. Somente em sociedades mercantis simples se verifica M-D-M. Este modelo se inicia com a venda de uma mercadoria, sendo o dinheiro o mediador deste processo. Vende-se a mercadoria, transformando-a em dinheiro e utiliza-se esse dinheiro para comprar outra mercadoria que pode ter o mesmo valor da primeira que fora vendida. O dinheiro aqui, além de mediar o processo, é gasto em função da outra mercadoria e, assim, o ciclo termina. Sua finalidade é o consumo, portanto, o valor de uso da mercadoria trocada, ou seja, a finalidade, se encontra fora da esfera da circulação: se encontra na esfera de consumo. O sistema capitalista não cria algo qu’ on aime pour lui même (que se ama por si mesmo), ou seja, cria-se valores de uso somente porque em seu substrato material há valores de troca. 
14) Em que questões (presentes nos quatro primeiros capítulos) Marx apresenta elementos que constituem uma primeira aproximação à refutação da Lei de Say?
R:	Para Marx, diferentemente da visão clássica onde o importante era descobrir o valor das mercadorias, o importante é saber por quê as mercadorias têm valor. Um forte elemento para a construção de uma crítica da Lei de Say é o espaço intertemporal entre a compra e a venda através do surgimento do crédito, permitindo que a mercadoria circule sem a existência do dinheiro em sua forma integralmente líquida. Outro elemento é a não necessidade do gasto imediato, levando a variação de estoques na economia que passa a não ser determinada pela oferta, e sim pela demanda. A possibilidade de produção de um excedente pela força de trabalho, devido a um aumento da jornada de trabalho, que será maior que o custo de reprodução da força de trabalho (cesta dos trabalhadores), demonstra que a sociedade não opera em pleno emprego, e sim abaixo dele. Outra crítica se dá pela informação não ser completa e perfeita, uma vez que os trabalhadores não têm livre acesso de informação sobre todos os níveis de preço, não podendo negociar salários em termos reais, e sim nominais, através de barganha com o auxílio de sindicatos, sendo estes alguns dos custos que influenciarão na decisão de produzir dos empresários, que não necessariamente se refletirá na decisão de consumo dos indivíduos.
15) Para Marx o trabalho é fonte de valor. A afirmação anterior é falsa ou verdadeira? Justifique a resposta.
R:	 O trabalho não é valor, mas sim seu fundamento, é o valor de uso da força de trabalho, a validação desta. Para Marx, é a força de trabalho que é fonte de valor e de valor, sendo alienada no mercado pelos capitalistas. Esta pode ser apontada como uma divergência entre ele e os economistas clássicos, que consideram o trabalho fonte de valor.
19) Em que consiste a lei do desenvolvimento das forças produtivas que Marx associa à natureza do capitalismo? De que forma tal lei se relaciona à concepção marxista de que processos intrínsecos ao modo de produção capitalista refletem as relações de produção que lhe são subjacentes?
R:	Para entender a lei do desenvolvimento das forças produtivas, é necessário antes entender as formas de mais valia apontadas por Marx. A primeira forma é a mais valia absoluta, que se refere ao excedente alcançado através do aumento da jornada de trabalho para além do custo de reprodução da força de trabalho (CRFT). A mais valia relativa é aquela que pode ser alcançada através da redução do valor da força de trabalho ou, em outras palavras, do custo de produção da força de trabalho. Isto ocorre principalmente quando são reduzidos os valores dos bens salários (bens essenciais, representam a cesta de consumo do trabalhador), que supõe um aumento na produtividade nos ramos diretamente ligados direta ou indiretamente à produção de bens-salários. É importante observar que não se trata de uma redução do salário real do trabalhador, e sim do barateamento da CRFT. Por fim, há a mais valia extra, que introduz o conceito de concorrência entre os capitalistas. A mais valia extra é alcançada quando um capitalista de determinado setor introduz uma inovação que aumenta a produtividade de sua empresa, é a chamada concorrência ativa. Este capitalista é chamado de inovador. Quando o capitalista inovador decide não competir em preços, ele vende a mercadoria ao preço de mercado e aumenta sua taxa de mais valia em relação à concorrência. Quando ele decide competir em preços, ele vende sua mercadoria a preços abaixo dos preços de mercado, devido à sua produtividade alta, fazendo com que os capitalistas concorrentes aumentem suas produtividades na mesma medida ou sejam expulsos do mercado, dando início a uma tendência monopolista. Os capitalistas concorrentes que pretendem continuar no mercado praticam a concorrência defensiva, visando aumentar sua produtividade. Quando a totalidade das empresas conseguir enfim aumentar a produtividade, a mais valia extra do capitalista inovador desaparece, pois ele não possui mais o monopólio da inovação. É, portanto, uma mais valia transitória. A lei da tendência, ou do desenvolvimento das forças produtivas, é, portanto, um processo que envolve a “inovação constante de constantes desigualdades.” A busca da mais valia extra e a defesa dos demais capitalistas contribuem pro processo de desenvolvimento das forças produtivas. É importante uma atenção especial ao fato de que se esse desenvolvimento daprodução se dá nos setores que produzem bens-salários, o preço desses bens diminuem, fazendo cair também a CRFT e aumentando a taxa de mais valia relativa.
20) Quais as principais interpretações existentes a respeito da lei marxista da miséria crescente? Qual a relação entre essa lei e o conceito de mais valia?
R:	A tese da miséria analisa a relação entre o desenvolvimento do capitalismo e a “sorte da classe trabalhadora”. Há duas principais interpretações para esse conceito. A primeira é a de miséria crescente como miséria absoluta, interpretação adotada pelos críticos de Marx. Segundo essa interpretação, o salário real dos trabalhadores tenderia, no longo prazo, a ficar constante ou mesmo reduzir-se. Dessa forma, os trabalhadores pouco se beneficiariam do desenvolvimento das forças produtivas próprias do capitalismo. A evidência que refuta a tese de Marx, segundo esta interpretação, é a elevação do padrão de vida dos trabalhadores, principalmente nas economias capitalistas mais desenvolvidas. A segunda interpretação é a de miséria crescente como miséria relativa, adotada pelos defensores de Marx. Segundo essa tese, o salário real dos trabalhadores, a longo prazo, pode sim aumentar. Porém, este aumento ocorrerá à taxas inferiores ao crescimento da riqueza capitalista.

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