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2017 DiDátiCA e metoDoLoGiA Do ensino DA inFormátiCA Prof.ª Danice Betania de Almeida Copyright © UNIASSELVI 2017 Elaboração: Prof.ª Danice Betania de Almeida. Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 004.04 A447d Almeida, Danice Betania de Didática e metodologia do ensino de informática / Danice Betania de Almeida. Indaial: UNIASSELVI, 2017. 245 p. : il. ISBN 978-85-515-0137-5 1.Informática – Estudo e Ensino. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Impresso por: III ApresentAção Estamos iniciando o estudo da disciplina Didática e Metodologia do Ensino da Informática. Esta disciplina tem como objetivo proporcionar uma aprendizagem autônoma sobre a didática e os métodos para ensinar a Informática. Pensamos que estudar didática não representa unicamente apurar informações técnicas sobre o processo ensino-aprendizagem, mas sim, aprimorar a capacidade de questionar, refletir e de experimentação com relação a essas informações. O livro está dividido em três unidades de estudo. No decorrer das unidades de estudos, além de apresentarmos uma série de alternativas e conceitos para a realização da atividade docente, apresentamos também elementos de reflexão sobre sua atuação, para ajudar o futuro professor licenciado em informática a escolher ferramentas adequadas para cada situação nos diferentes contextos. Buscando viabilizar a melhor aquisição dos conhecimentos, esta produção determinará o andamento de seus estudos. Prof.ª Danice Betania de Almeida IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII sumário UNIDADE 1 – DIDÁTICA E EDUCAÇÃO ..................................................................................... 1 TÓPICO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA ....................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 FALANDO SOBRE DIDÁTICA ...................................................................................................... 4 2.1 JAN AMOS COMENIUS – PAI DA DIDÁTICA MODERNA................................... 5 2.2 CONTRIBUIÇÃO DE OUTROS EDUCADORES ......................................................... 6 2.2.1 Movimento da reforma escolar ......................................................................................... 7 2.3 COMPREENDENDO A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA DIDÁTICA ................. 11 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 13 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – PERCEBENDO DIFERENÇAS .................................................................................... 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 DIDÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIA ................................................................................ 24 3 MODELOS EDUCACIONAIS ...................................................................................................... 25 3.1 A ABORDAGEM INSTRUCIONISTA ............................................................................. 27 3.2 A ABORDAGEM CONSTRUCIONISTA ........................................................................ 30 3.3 O CICLO DESCRIÇÃO – EXECUÇÃO – REFLEXÃO – DEPURAÇÃO – DESCRIÇÃO ....... 34 3.4 AS PERSPECTIVAS PARA O USO DO COMPUTADOR NA ESCOLA: ELOS POSSÍVEIS ...................................................................................................................... 38 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 41 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 46 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 48 TÓPICO 3 – DISCUTINDO SOBRE EDUCAÇÃO ........................................................................ 51 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 51 2 TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO................................................................................................... 52 2.1 SERÁ QUE O VINHO VELHO PODE AINDA SER UM VINHO BOM?.............. 55 3 EDUCAÇÃO – PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA .................. 57 3.1 PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ....................................................................... 60 3.2 RELAÇÃO EDUCANDO/EDUCADOR............................................................................ 64 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 66 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 70 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 72 UNIDADE 2 – MOTIVAÇÃO E INCENTIVO PARA A APRENDIZAGEM DO ENSINO DE INFORMÁTICA ................................................................................. 75 TÓPICO 1 – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL .......................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................77 2 EDUCAÇÃO BÁSICA ...................................................................................................................... 77 2.1 REFORMA DO ENSINO MÉDIO ....................................................................................... 79 VIII 3 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........................................................................................... 85 3.1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ......................................................... 85 3.1.1 O que são os Parâmetros Curriculares Nacionais? ......................................................... 87 3.1.2 Como estão organizados? .................................................................................................. 87 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 88 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 92 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94 TÓPICO 2 – APRENDENDO SOBRE PROJETOS ......................................................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO – PPP .............................................................................. 96 2.1 RELAÇÃO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO, CURRÍCULO E DIDÁTICA .................................................................................................................................. 98 2.2 TRABALHANDO DE FORMA INTERDISCIPLINAR COM PROJETOS .......... 100 2.3 CONHECENDO FORMATO DE UM PROJETO .......................................................... 102 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 106 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 110 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 112 TÓPICO 3 – PLANEJAMENTO E SUA IMPORTÂNCIA ............................................................ 115 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 115 2 PLANEJAR É ESTUDAR, É ASSUMIR UMA POSTURA SÉRIA E CURIOSA DIANTE DE UM PROBLEMA ........................................................................................................ 116 2.1 INSTRUMENTO IMPULSIONAR DA PRÁTICA PEDAGÓGICA ....................... 117 2.2 O PLANO DE AULA EXISTE PARA O PROFESSOR, E NÃO O PROFESSOR PARA O PLANO DE AULA ................................................................................................. 119 3 REPOSITÓRIOS EDUCACIONAIS ............................................................................................. 123 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 129 TÓPICO 4 – EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA ............. 133 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 133 2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ............................... 134 2.1 SEMINÁRIO NACIONAL DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ....................... 136 2.2 PROJETO EDUCOM ............................................................................................................... 137 2.3 PROGRAMA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ......................................................... 139 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 143 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 148 UNIDADE 3 – COMPUTADORES COMO RECURSO DIDÁTICO ......................................... 151 TÓPICO 1 – INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ............................................................................ 153 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 153 2 EVOLUÇÃO DOS COMPUTADORES ......................................................................................... 154 2.1 OS COMPUTADORES NO CONTEXTO DO ENSINO ..............................159 2.2 A IMPORTÂNCIA DO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM ................................................................ 162 2.2.1 Espaço privilegiado - ponto de partida e de chegada .................................................... 163 2.2.2 As dificuldades a serem superadas na utilização do laboratório de informática ...... 166 IX 3 DISCUTINDO FORMAÇÃO INICIAL: PROFESSOR DE INFORMÁTICA ....................... 167 3.1 AS VISÕES CÉTICAS E OTIMISTAS DA INFORMÁTICA EM EDUCAÇÃO ..... 169 3.2 A VISÃO CÉTICA ..................................................................................................................... 172 3.3 A VISÃO OTIMISTA ............................................................................................................... 172 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 173 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 175 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 178 TÓPICO 2 – FALANDO SOBRE SOFTWARE ................................................................................. 181 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 181 2 SOFTWARE LIVRE ...................................................................................................................... 182 2.1 INDICAÇÕES DE SOFTWARES ........................................................................................ 183 3 SOFTWARES EDUCATIVOS .......................................................................................................... 183 3.1 CATEGORIZANDO OS SOFTWARE EDUCATIVOS ................................................. 187 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 193 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 197 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 199 TÓPICO 3 – PERSPECTIVAS DA UTILIZAÇÃO DO COMPUTADOR NA EDUCAÇÃO....... 203 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 203 2 O COMPUTADOR COMO FERRAMENTA ...................................................................... 204 2.1 APLICATIVOS .......................................................................................................................... 204 2.2 UTILIZAÇÃO DE EDITORES DE TEXTO ......................................................................205 2.2.1 Processadores de texto ....................................................................................................... 206 3 O COMPUTADOR COMO MÁQUINA DE ENSINAR ............................................................ 206 3.1 JOGOS COMPUTADORIZADOS ..................................................................................... 206 3.2 JOGO NO PROCESSO EDUCATIVO ............................................................................... 207 3.3 EXERCÍCIO E PRÁTICA ....................................................................................................... 209 3.4 TUTORIAL .................................................................................................................................. 210 3.5 MULTIMÍDIA ............................................................................................................................ 212 3.6 SIMULAÇÃO .............................................................................................................................. 213 4 O COMPUTADOR-APRENDIZ NA SOLUÇÃO DE PROBLEMAS ........................ 214 4.1 SOFTWARES DE AUTORIA ................................................................................................ 214 4.1.1 Software Hotpotatoes .......................................................................................................... 216 4.2 LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO ............................................................................... 217 4.3 A LINGUAGEM LOGO.......................................................................................................... 217 4.4 ROBÓTICA PEDAGÓGICA ................................................................................................. 218 5 O COMPUTADOR C O M O COMUNICADOR ................................................................ 219 5.1 CONSTRUÇÃO DE MULTIMÍDIA .................................................................................... 221 5.2 INTERNET .................................................................................................................................. 221 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 224 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 231 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 234 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 237 X 1 UNIDADE 1 DIDÁTICA E EDUCAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: • contextualizar a didática no tempo e na história da humanidade; • compreender diferenças dos conceitos que tratam a didática, método e metodologia; • discutir sobre os principais modelos educacionais; • perceber conceitos que envolvem a educação. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA TÓPICO 2 – PERCEBENDO DIFERENÇAS TÓPICO 3 – DISCUTINDO SOBRE EDUCAÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 1 INTRODUÇÃO Ninguém constrói nada sozinho! Por este motivo, caro acadêmico, o convidamos a fazer uma viagem pela história da didática. Vamos descobrir quando ela surgiu, o que é didática, de que assunto ela trata e qual é a sua contribuição para o processo de ensino. Para iniciar nosso aprendizado, vamos devanear brevemente sobre a história da didática. O aprendizado desta trajetória vai nos ajudar a compreender as raízes e as novas possibilidades dessa disciplina na formação do professor, com subsídios para a implantação de uma nova e relevante prática pedagógica. Estudar didática não significa apenas acumular informações técnicas sobre o processo de ensino-aprendizagem. Significa, antes de qualquer coisa, desenvolver a capacidade de questionamento e de experimentação em relação a essas informações. É uma disciplina de intervenção que age tanto no individual como no social e tem como finalidade a melhoria do ensino e da aprendizagem. Para que o professor não se torne escravo do instrumental didático deve saber questioná-lo e avaliá-lo a partir da realidade em que atua. Nesse sentido, é importante que tenha uma visão ampla e profunda do contexto em que desenvolve sua atividade docente. É importante, também, que aprenda a refletir ao escolher a carreira profissional da docência. Um profissional reflexivo deve sempre se propor a responder a novas problemáticas e questões desafiantes, produzindo novos saberes, novas técnicas e métodos a partir do meio em que se encontra. Um importante ingrediente para amadurecer nossa reflexão é a compreensão do contexto, que significa buscar referências históricas, assim como compreender o movimento da reforma escolar e por que grandes temas e grandes figuras ficaram associados a esse movimento. Esperamos que essa leitura seja uma viagem de aprendizagem para você! Que todos sintam a necessidade de refletir e renovar expectativas e de manter iluminados valores conquistados com o conhecimento. UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 4 2 FALANDO SOBRE DIDÁTICA O foco de estudo da didática é a investigação da elaboração dos saberes docentes e como estes são cultivados no cotidiano da escola, tem como desígnio racionalizar o processo de transmissão dos saberes. A didática, na conjectura pedagógica, estuda e ensina como transformar o saber escolar, o processo de pedagogização do saber científico (MELO; URBANETZ, 2008). [...] através dessa aparente e simples concepção, percebemos a complexidade do campo didático, pois no ato de ensinar encontram- se sintetizados os elementos e os sujeitos componentes de todo o processo educativo: professores, alunos, conteúdos, métodos, objetivos educacionais, projeto político, projeto de homem a ser formado pela educação, demandas externas para o processo educativo, formação profissional para a atuação em sala de aula, condições materiais do professor, condições físicas da escola, realidade material dos estudantes, com os quais convive o professor e a quem se destina o ensino, a necessária relação do ensino com a aprendizagem do aluno, o que, além dos elementos acima, implica o entendimento do funcionamento dos mecanismos de aprendizagem, no sentido que lhe dá a psicologia da educação etc. (MELO; URBANETZ, 2008, p.15). Os autores conceituam a didática como teoria pedagógica de caráter prático, ou seja, ensinamento que procura prover respostas a questões apresentadas pelo coletivo da área pedagógica, orienta sobre o desenvolvimento prático no dia a dia da sala de aula, por meio de princípios estabelecidos sobre a realidade concreta dessa prática, abarcando saber tecnológico que sugira técnicas e regras sobre como ensinar. As tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de espaço e de tempo, estabelecendo novas relações entre ensinar e aprender. Neste sentido, a didática configura-se com a finalidade de compreensão da prática pedagógica e a elaboração de maneiras de nela intervir, que beneficiem a formação de educadores reflexivos, críticos e envolvidos com a educação para todos buscarem avalizar a apropriação, por parte da sociedade, do conhecimento transmitido pela escola. É importante saber que a palavra didática tem sua origem no verbo grego “didasko” que expressava a arte de transmitir conhecimentos, como já mencionamos na introdução deste tópico. Seu uso alastrou-se graças à atuação de dois educadores, Ratíquio e Comênio, ambos eram naturais da Europa Central, num momento histórico em que se havia instalada a Reforma Protestante (MELO; URBANETZ, 2008). Para estudarmos a história da didática,precisamos conhecer quem foi o “pai da didática”. Você sabe quem ele foi? TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 5 2.1 JAN AMOS COMENIUS – PAI DA DIDÁTICA MODERNA O educador tcheco Jan Amos Comenius viveu entre os séculos XVI e XVII, um período de transição entre o medievo e a modernidade, apresentava um pensamento impregnado de religiosidade, como também constituído no ideário da nova ciência moderna, e preocupava-se com a valorização da infância e da família (CASTRO, 2001). Esse pensamento impulsionou Comenius a escrever, entre outras obras, “Didática magna”, designando a nova disciplina como "arte de ensinar tudo a todos". FIGURA 1 – O EDUCADOR JAN AMOS COMENIUS (1592-1670) FONTE: <http://educarparacrescer.abril.com.br/pensadores-da-educacao/comenio.shtm>. Acesso em: 19 fev. 2017. Segundo Castro (2001), não há fronteiras entre educação e ensino, pois o objeto da didática abrange o ensino de conhecimentos, atitudes e sentimentos. Um dos maiores educadores de todos os tempos afirmou que todos os homens devem ampliar a capacidade de pensar, do falar e do agir, de uma maneira que esses três dons se harmonizem entre si. Em 1632, Comenius publicou a obra “A Didática Magna”, para nós, acadêmicos e futuros educadores, recomenda-se como leitura obrigatória, visto que nesse livro estão contidos os pressupostos básicos da educação. Entre muitas das leituras que você já realizou no decorrer deste curso sobre o tema educação, “Didática magna” aponta orientações doutrinárias concisas sobre como educar. De acordo com Comenius, por meio da educação atingiríamos a plenitude de aperfeiçoamento da sociedade e, para atingir esse objetivo, a educação teria de alcançar todos os povos, nações, religiões e ensinar tudo a todos (COMÊNIO, 1632 apud PIMENTA, 2002). Na obra Didática magna é possível perceber as bases para o ensino, delineadas a partir do simples para o complexo, desenvolver cada etapa a seu tempo e partir da crença de que todo fruto amadurece, salienta, mas para que isso aconteça é preciso desenvolver condições adequadas. O educador, mesmo vivendo em uma época em que o latim dominava, propunha iniciar o ensino pela língua materna e por meio de livros ilustrados. UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 6 A maior contribuição de Comenius para a educação nos dias de hoje é: "trazer a realidade social para a sala de aula, fazendo uso dos meios tecnológicos mais avançados à disposição" (COMÊNIO, 1632 apud PIMENTA, 2002 p. 39). De tão fascinado pela invenção da imprensa e pela possibilidade de disseminação de conhecimento que ela representava, Comenius criou a expressão "didacografia" para designar o método universal de ensino que ele pretendia inaugurar. Nos dias de hoje, a tecnologia da informação seria capaz de realizar essa revolução? Qual é sua opinião? Qual seria o conceito de Didática para Comênio? Um processo cauteloso e arrebatador de estabelecer em todos os grupos de qualquer reino cristão, cidades, aldeias, escolas, sem excluir ninguém em parte alguma. Que todos os jovens possam se aperfeiçoar nos estudos, que tenham a oportunidade de serem educados nos bons costumes, impregnados de piedade, e que desta maneira possam ser, nos anos da puberdade, instruídos em tudo o que diz respeito à vida presente e futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez (COMÊNIO, 1632 apud PIMENTA, 2002). DICAS Assista ao vídeo “Resumindo a vida de Comenius” e saiba mais sobre este importante nome da história da Educação. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=rj--81Tvhgk&list=QL&feature=BF>. Acesso em: 20 jul. 2017. 2.2 CONTRIBUIÇÃO DE OUTROS EDUCADORES Até o final do século XIX a didática encontrou seu embasamento quase que unicamente na Filosofia. Isso pode ser averiguado não apenas nos trabalhos de Comenius, mas também nos de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), Johann Friedrich Herbart (1777-1841) e outros pedagogos desse período. As obras desses, no entanto, mostraram-se bastante avançadas em relação às percepções psicológicas e ideológicas dominantes de seu tempo. No Quadro 1, temos a síntese das principais ideias desses pensadores no que tange à educação. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 7 A obra de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) deu origem a um novo conceito de infância. O objetivo é não só planejar uma educação com vistas à formação futura, mas também propiciar felicidade à criança enquanto ela ainda é criança. Rousseau intuiu na infância várias fases de desenvolvimento, sobretudo cognitivo. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) dá dimensões sociais à problemática educacional. A metodologia da didática destina-se ao desenvolvimento do aluno, afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. Johann Friedrich Herbart (1776-1841) defende a idade da “Educação pela Instrução”. Os fundamentos de suas propostas foram criticados pelos precursores da Escola Nova. John Dewey (1859-1952) criou uma escola-laboratório para testar métodos pedagógicos. Foi um dos primeiros a chamar a atenção para a capacidade de pensar dos alunos. O objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a viver o mundo. Educar, portanto, é incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo. QUADRO 1 – AUTORES DA EDUCAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA FONTE: <https://www.google.com.br/search?hl=pt>. Acesso em: 14 mar. 2017. 2.2.1 Movimento da reforma escolar Rousseau é o autor da segunda grande revolução didática. Nasceu como o criador de um novo conceito de infância, ao ressaltar o ensino como um processo natural, exercitado no tempo e na velocidade da criança e sem livros. Rousseau, revolucionário para sua época, tinha como objetivo não só planejar educação almejando uma formação futura, a qual fosse desfrutada somente na fase adulta, mas desejava também a felicidade da criança enquanto ela ainda é criança. Para Rousseau, esta devia ser educada, sobretudo em liberdade, para viver cada fase da infância com plenitude de seus sentidos, justamente por UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 8 entender que a criança até os 12 anos de idade é praticamente só sentidos, emoções e corpo físico, enquanto a razão ainda está em processo de formação, após o que poder-se-ia dar início à fase denominada pelo psicólogo Piaget como “operações formais”, etapa em que se inicia a sua razão lógica (MELO; URBANETZ, 2008). Para Rousseau, o jovem se tratava de uma pessoa completa, e não uma pessoa incompleta. Assim, sistemática e intuitivamente, designou para a infância várias fases de desenvolvimento, sobretudo no aspecto cognitivo. Foi, portanto, um precursor da pedagogia de Maria Montessori (1870-1952) e de John Dewey (1859-1952). "Rousseau sistematizou toda uma nova concepção de educação, depois chamada de ‘Escola Nova’” (PISSARA, 2005, p. 22). Quase um século mais tarde, Pestalozzi fez uso das ideias de Rousseau na forma de princípios, e não de regras, focalizando as categorias do desenvolvimento do aluno. Segundo afirma Castro (1991, p. 17), “enquanto Comênio, ao seguir as ‘pegadas da natureza’, pensava em ‘domar as paixões das crianças’, Rousseau foca a ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade", o que o faz notificar a ideologia que precedeu a Revolução Francesa. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) Antecipando concepções do movimento da Escola Nova, que só surgiria na virada do século XIX para o XX, Pestalozzi afirmava que a função principal do ensino é levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas. "Segundo ele, o amor deflagra o processo de autoeducação", diz a escritora Dora Incontri (1997), uma das poucas estudiosas de Pestalozzi no Brasil. O processo educativo deveria englobar três dimensões humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração. O objetivo final do aprendizado deveria ser uma formaçãotambém tripla: intelectual, física e moral. E o método de estudo deveria reduzir-se a seus três elementos mais simples: som, forma e número. Só depois da percepção viria a linguagem. Com os instrumentos adquiridos desse modo, o estudante teria condições de encontrar em si mesmo liberdade e autonomia moral. Como alcançar esse objetivo dependia de uma trajetória íntima, Pestalozzi não acreditava em julgamento externo, por isso em suas escolas não havia notas ou provas, castigos ou recompensas. QUADRO 2 – PENSAMENTO DE JOHANN HEINRICH PESTALOZZI FONTE: <http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/grandes_pensadores_educacao. pdf>. Acesso em: 12 mar. 2017. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 9 João Frederico Herbart tinha como ideia fundamental que o fim da educação é a moralidade alcançada por meio da instrução dada pelas metodologias de ensino – método dos passos formais. Herbart parte do princípio de que a alma é uma tábula rasa que precisa ser preenchida com experiências sucessivas. Seu sistema educacional fundamentou-se no intelectualismo, na obtenção de conhecimentos e no cultivo do espírito (MELO; URBANETZ, 2008). Dentro da pedagogia herbartiana, o objetivo está na formação moral do estudante em detrimento ao acúmulo de informações. Considerando a criança um ser moldado intelectualmente e psiquicamente por forças externas, Herbart enfatiza o conceito de instrução, pois a criança é o instrumento pelo qual se alcançam os objetivos almejados pela educação. O processo primordial desta corrente pedagógica é relacionar o novo conteúdo a conhecimentos ou lembranças preexistentes na mente do aluno, para que ele adquira interesse na matéria. Em seguida vem a apresentação ou exposição do conteúdo, para só então dar início à terceira fase, que é a associação, em que a assimilação do assunto se completa por meio de comparações minuciosas com conteúdo prévio. O quarto passo do processo, a generalização, utiliza parte do conteúdo recém-aprendido para a formulação de regras globais; é de suma importância para desenvolver a mente além da percepção imediata. A etapa da aplicação, como o próprio nome já diz, trata da quinta etapa e é a que tem como objetivo mostrar utilidade para o que se aprendeu (CASTRO, 1991). Um dos mais importantes teóricos da escola nova, o filósofo norte- americano John Dewey, elaborou uma filosofia educacional baseada na experiência empírica, a qual sustentou a aplicação do método científico em situações de aprendizagem que se distinguem por um “continuum experiencial”, ou seja, a obtenção do saber é parte da reflexão sobre a experiência, representada ou renovada (MELO; URBANETZ, 2008). A fim de que se tenha uma aprendizagem significativa, tanto para o educando como para o educador, é imprescindível construir este aprendizado com alicerces na experiência da criação ou experimentação, ou seja, o método empírico de constatar o mundo em experiências, motivando os educandos a sentir prazer em aprender. Toda experiência em desenvolvimento faz uso de experimentos passados e influi nas experiências futuras (ALMEIDA, 2000). A utilização do método empírico pode ser proposta como uma dinâmica que engloba as seguintes etapas: • Ação – a experiência sobre um objeto físico. • Testagem – a reflexão que encontrar outros elementos ou objetos, fornecendo um meio para testar hipóteses inicialmente levantadas. • Depuração – a comparação dos resultados obtidos com os resultados esperados, retornando à experiência de modo a depurar as ideias, corrigindo os possíveis erros ou confirmando as observações iniciais. • Generalização – a observação de novas experiências com o objetivo de transferir os resultados a outras situações (ALMEIDA, 2000, p. 5). UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 10 O início do conjunto foi posto por Dewey no sentido de que toda experiência é situada a partir das experiências anteriores do indivíduo, que, por sua vez, constrói o novo conhecimento situando conexões com conhecimentos adquiridos no passado. Para Dewey, toda experiência humana é social e provém de interações, em que estão enredadas condições externas, ou objetivas, e condições internas. A interação é decorrente da harmonia entre esses dois fatores (MELO; URBANETZ, 2008). Vamos aprofundar esse estudo no Tópico 2, quando explicarmos a abordagem construtivista, mas é interessante observarmos que Papert retoma de Dewey a importância dada ao conhecimento significativo para a criação de um ambiente de aprendizagem e descoberta, no qual alunos e educadores se engajem no trabalho de investigação científica, em que ocorre o processo cíclico ação-testagem-depuração-generalização, o autodomínio na representação e o estabelecimento de conexões entre os conhecimentos que o aluno possui, ou seja, a junção do velho conhecimento na elaboração e/ou construção de um novo conhecimento. Ao analisar como critério básico que os conhecimentos trabalhados no computador sejam “apropriáveis”, segundo os princípios da continuidade, do poder e da ressonância cultural, Papert assume o pensamento de Dewey (MELO; URBANETZ, 2008). O conhecimento em elaboração deve ter uma relação de continuidade com os conhecimentos que o aluno apreende, que são ativados na construção de projetos de importância para o aluno, projetos expressivos em sua conjuntura social. DICAS Para aprofundar os estudos CANDAU, Vera Maria (Org.). A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 2003, 23ª edição. Além de reconstruir a história da didática no Brasil, este livro nos proporciona uma reflexão sobre os desafios postos para a superação da dicotomia entre processo e produto na atividade de ensino-aprendizagem. Os autores propõem que a didática se situa na perspectiva da multidimensionalidade que articula as diferentes dimensões do processo de ensino-aprendizagem. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 11 2.3 COMPREENDENDO A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA DIDÁTICA Do início da década de 1950 até o fim da década de 1970, o ensino da didática deu preferência aos métodos e técnicas de ensino com o objetivo de garantir a eficiência da aprendizagem dos alunos e a conservação de sua neutralidade científica. Para Aranha (1996), o tecnicismo passou a admitir uma posição essencial no discurso educacional e, por conseguinte, no ensino da didática. Observe as principais características da escola tecnicista: [...] adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica; o conteúdo, de natureza científica, a ser transmitido se baseia em informações objetivas que permitirão a adequação do indivíduo ao trabalho; a transmissão do conhecimento é taylorista, isto é, baseia-se na divisão de tarefas planejadas por técnicos do ensino e executadas pelos professores. Desta forma, as disciplinas tendem a serem ministradas sempre da mesma forma, independentemente do estilo professor; as aulas são minuciosamente preparadas, com objetivos claros e bem definidas. Evita-se, assim, a possibilidade de interpretações diferentes das oficiais; a avaliação dos trabalhos é objetiva e pode-se acompanhar passo a passo o desempenho esperado dos estudantes; e valoriza-se os meios didáticos, como filmes, máquinas de ensinar, ensino a distância, computadores etc. (ARANHA, 1996, p. 174-178). No meio acadêmico, a disciplina de didática passou a valorizar a elaboração de planos de ensino, a definição de objetivos tecnicistas, a escolha de conteúdos, as técnicas de exposição e de condução de tarefas em grupo e o emprego de tecnologias a serviço da eficiência das atividades educativas. A didática começou a ser compreendida como um conjunto de estratégias para proporcionar o alcance dos objetivos educacionais, confundindo-se, muitas vezes, com a metodologia de ensino. Tinha como propósito “fornecer subsídios metodológicos aos professores para ensinar bem, sem questionar, ou melhor, refletir a serviço do que e de quem se ensina” (OLIVEIRA; ANDRÉ, 2000, p. 13). Essa tendênciafoi revitalizada com a adoção das políticas com foco desenvolvimentista aplicado pelo governo militar que se instalou em 1964, o qual enfatizava a formação de mão de obra como referencial da educação. A partir de 1974, com a abertura gradual do regime ditatorial e a crítica contra a educação tecnicista, a didática segue o discurso das teorias crítico- reprodutivistas: almeja desmistificar e confirmar o conteúdo ideológico do ensino; percebe a educação no contexto social, mas nega a particularidade da didática como sua dimensão técnica e o destaque incide na dimensão política; prevalece o formalismo social; aponta a falsa neutralidade do técnico, ao negar a especificidade didático-pedagógica; e destaca a dimensão política, deixando de lado os vínculos da relação professor e aluno (VEIGA, 2004). UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 12 Na década de 1980, alguns conceitos são questionados quando se trata da didática e inicia-se o movimento em torno da revisão da disciplina. Percebendo o homem como ser concreto, produto da sociedade, a educação é identificada com o processo de hominização e está comprometida com os interesses das camadas economicamente desfavorecidas; a escola é reconhecida como o espaço de negação da dominação. Para Veiga (2004), no contexto de democratização da sociedade, a reflexão parte do compromisso com a transformação social. A didática auxilia o processo de politização do futuro professor: clarifica o papel socioeconômico, vai além de métodos e técnicas, trabalha relações, conteúdo e forma, técnica e política, ensino e pesquisa. Foi a partir dos anos 1980 que o estudo da didática se tornou mais significativo, e essa discussão nos permitirá compreender qual é seu objeto no contexto educacional: o processo de ensino. Em certos momentos da história o ensino foi entendido como modelagem ou armazenamento, em outros, como ampliação ou nascimento. Assim, novos modelos de interpretar o ensino desencadeiam novos nomes para denominá-lo, como, por exemplo, direção da aprendizagem, por conseguinte, vão surgindo novos adjetivos para a disciplina que dele se ocupa: a didática (CANDAU, 2003). Libâneo (1994) critica o conceito de ensino quando visto apenas sob o prisma de transmitir matéria aos alunos, com foco na realização de exercícios repetitivos, memorização de definições e fórmulas. Segundo o autor, devemos entender o processo de ensino como: “o conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, visando alcançar determinados resultados, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento mental dos alunos” (LIBÂNEO, 1994, p. 79). Neste sentido, caro acadêmico, é importante pensar que o ensino é culturalmente relevante quando as experiências dos alunos e suas vivências são utilizadas não só como uma forma de manter sua cultura, mas também como uma forma de se aprender a superar os efeitos negativos da cultura dominante. Deve- se perceber que a especificidade do trabalho do professor é combinar a atividade didática entre ensino e aprendizagem, mediante o processo de ensino. Assim, a didática é uma matéria de estudo que integra e articula conhecimentos teóricos e práticos, visando à formação integral do futuro docente (você), que, depois de formado, passará a exercer funções de extrema responsabilidade. Lembre-se: os professores que problematizam os conteúdos de ensino na sua prática pedagógica revelam sua opção de trabalho numa perspectiva intercultural crítica. Para que isso aconteça, ao organizar o processo de ensino, é preciso articular com clareza os seguintes elementos: objetivos; conteúdos; métodos e avaliação. Neste movimento, deve-se estar atento ao grande desafio do momento, que é “a superação de uma didática exclusivamente instrumental e a construção de uma didática fundamental” (CANDAU, 2003, p. 21). TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 13 LEITURA COMPLEMENTAR Comenius: a universalização da educação Juan Amós KOMENSKY, mais conhecido como COMENIUS, nasceu na Morávia, na Tchecoslováquia, no final do século XVI e notabilizou-se por seu interesse pela educação, exercendo grande influência no desenvolvimento da pedagogia. Atacava o sistema escolástico de ensino, ainda vigente na maioria das regiões na Europa onde havia influência da Igreja Católica, no século XVII. Lutando contra o feudalismo, a favor do nacionalismo, professando o protestantismo, este pensador concentrou em seus estudos muitas das exigências da nova era. A escolha de Comenius (1592-1670) para nosso trabalho, portanto não é sem razão. Ele nos servirá para dimensionar a prática dos jesuítas. As recomendações pedagógicas de Comenius nos servirão para avaliar as práticas encaminhadas por nossos primeiros educadores. Como já dissemos, nossa hipótese é de que os jesuítas foram modernos, ou melhor, estavam comprometidos com comportamentos, hábitos e atitudes que não iriam reproduzir o modelo de vida religioso de caráter conservador ou reacionário que o próprio Comenius criticava. O exame de sua obra foi determinado, assim, pela vontade de estabelecer comparações entre algumas propostas feitas na Didática Magna e algumas atividades desenvolvidas pelos missionários da Cia. de Jesus no Brasil. Comenius não foi o primeiro que se preocupou em escrever sobre a arte de ensinar e aprender; antes dele muitos outros já haviam se debruçado sobre este tema, porém, com ele, esta arte de ensinar (eficientemente), denominada didática, adquire uma dimensão peculiar que faz com que se diferencie de todos os outros estudos. A sua peculiaridade está contida especificamente no conteúdo que veicula, pois este expressa as necessidades e exigências da época na qual Comenius está inserido, isto é, da transição da sociedade feudal para a socie dade capitalista. Neste sentido, podemos afirmar que a sua “Didática Magna” é muito rica, porque revela, de modo coerente, as preocupações e contradições que caracterizam a passagem de uma sociedade para a outra. Devido a essas circunstâncias, em Comenius, o velho e o novo, muitas vezes, se mesclam. Sua concepção de mundo, de homem, de educação, enfim, todos os seus valores trazem feições tanto de uma como de outra época. Passado e presente se intercambiam, porém não há dúvida de que os conteúdos que valoriza são os do período histórico que está nascendo. Neste sentido, podemos afirmar que sua obra nos fornece as exigências e inquietudes da modernidade, o que contribui, decididamente, para a construção de um novo tempo. Como afirmamos anteriormente, falar em didática na época de Comenius não era novidade, nem sua obra se limita ao mero objetivo de encontrar os UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 14 métodos mais breves para ensinar, mais rapidamente, esta ou aquela ciência. A questão que funda e unifica a preocupação dos pensadores desse período de transição é a certeza de que o homem, por sua atividade criadora, pode interferir no mundo, mas em Comenius existe algo diferente que é o fato dele trabalhar com a ideia de universalização sob o ponto de vista mais social e menos religioso, concepção muito diferente daquela da Idade Média. Na concepção comeniana, a ideia de universal, de univer salização, está ligada a uma vontade de resolver problemas humanos a partir de qualidades ou virtudes comuns dos homens. É como ele diz: Não deve fazer-nos obstáculo o fato de vermos que alguns são rudes e estúpidos por natureza, pois isso ainda mais recomenda e torna mais urgente esta universal cultura dos espíritos. Com efeito, quanto mais alguém é de natureza lenta ou rude, tanto mais tem necessidade de ser ajudado, para que, quanto possível, se liberte de sua debilidade e da sua estupidez brutal. Não é possível encon trar um espírito tão infeliz, a que a cultura não possa trazer alguma melhoria. O momento histórico, colonialista e mercantilista ao qual o autor pertence lhe possibilita interpretar e direcionar para o campo pedagógicoa noção de universalidade. Comenius considera que todos os homens, indepen dentemente de sexo ou de sua categoria social (ricos, nobres, plebeus, pobres), até os débeis mentais, rudes, estúpidos são educáveis (são capazes de trocas). A cultura pode ser repartida entre todos, pois não há pessoas privilegiadas perante Deus. Todos podem, sem exceção, adquirir o conhecimento das coisas, porque já nascem com o desejo de saber dentro de si. Está implantado no homem o desejo de conhecer, e não apenas o desejo de repetir coisas desinteressantes para ele. A aptidão para saber é inata no homem. O homem é um animal educável. Diz ele: Aristóteles comparou a alma humana a uma tábua rasa, onde nada está escrito e onde se pode escrever tudo. [...] compara-se também, com razão, o nosso cérebro, oficina dos pensamentos à cera, onde ou se imprime um selo, ou de que se fazem estatuetas. [...] o cérebro, prestando-se a receber as imagens de todas as coisas, recebe em si tudo o que o universo contém. De acordo com essa ideia sobre a mente do homem, Comenius pôde pensar em um método universal de ensi nar tudo a todos. Ele mesmo explica o que quer dizer a arte universal de ensinar tudo a todos. Um processo seguro e excelente de instituir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades e aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo, sem exceptuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser, nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez. TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 15 Todos devem receber instrução, porque todos têm as mesmas faculdades e porque a arte de ensinar tudo a todos sai de um único lugar: da escola da natureza. Todos devem ser instruídos em conjunto para que do próprio cole- tivo emane o encorajamento, a animação, o estímulo, a concórdia e o serviço mútuo. Não devem ser separados uns dos outros. Todos devem ser ligados uns aos outros. Devem mover-se juntos, cantar juntos, recitar poesias juntos e, juntos aprender coisas práticas, com domínio da língua nacional, sem esquecer que o guia do ensino está na natureza, que dispensa palavras ocas, palavras de vento e linguagem de papagaio. Para fugir dos discursos prolixos e confusos, a primeira regra, segundo Comenius, é principiar os ensinamentos pelos sentidos, porque: A verdade e a certeza da ciência também não dependem senão do testemunho dos sentidos [...]. E porque os sentidos são o mais fiel despenseiro da memória, essa demonstração sensível de todas as coisas tem por efeito que, tudo o que se sabe através dela, se sabe para sempre. Daqui a máxima: a observação ocular faz as vezes da demonstração. Era o tempo da observação, e não da tradição ou da superstição. Por isso dizia ele: “Deve, portanto, desde cedo, abrir-se os sentidos do homem para a observação das coisas, pois, durante toda a sua vida, ele deve conhecer, experimentar e executar muitas coisas”. A orientação pedagógica de Comenius sobre a importância da observação é tirada do próprio desenvolvimento da sociedade. Nesse período, onde tudo se transforma, os velhos conhecimentos estão desempenhando um papel menos importante do que as novas descobertas. A observação é necessária porque é útil para a vida, para melhorar as ações humanas, coerente com o seu tempo, que já salienta a utilidade como critério para as ações humanas, Comenius expressa para o campo educativo a necessidade de se ensinar somente aquilo que os indivíduos pudessem utilizar em sua vida prática: “Aumentar-se-á ao estudante a facilidade da aprendizagem, se lhe mostra a utilidade que, na vida cotidiana, terá tudo o que se lhe ensina. E isso deve verificar-se em todas as matérias. Portanto, não se ensine senão aquilo que se apresenta como imediatamente útil”. Importante na educação é associar o ensinamento a sua utilidade imediata. Utilidade e facilidade são duas exi gências do ensino eficiente. O professor sempre deve procurar a facilidade, deve tornar as coisas fáceis, deve tornar as operações e os produtos acessíveis ao entendimento e à confecção. Nesse sentido, Comenius en fatiza que a escola deveria preocupar-se com o essencial, ensinando somente o fundamental, não prolongando exageradamente o tempo de preparação dos jovens para a vida. Para educar os costumes dentro dos critérios de utilidade e facilidade, o tempo não pode ser desperdiçado em coisas inúteis, mas aproveitado com inteligência. A racionalidade na administração do trabalho humano, das atividades, é fundamental para o homem moderno, por isso diz Comenius: UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 16 Conhecer a arte de ensinar tudo a todos implica em saber dividir o tempo, dividir as atividades, escalonar tarefas, fazendo com que a aprendizagem e/ou trabalho seja visto com menor sacrifício e esforço. Esta arte de bem en caminhar o ensino também já era consequência da observação da natureza obtida pela comparação do desen volvimento de uma árvore com o desenvolvimento de uma criança até a idade adulta. Reconhecer as diferentes fases de crescimento com suas características e possibilidades era criar, com sucesso, nos estudantes, hábitos de coisas importantes. A cada etapa da vida correspondiam exigências e atividades definidas para que quando o homem tivesse uns 25 anos pudesse dar frutos. A arte didática exige planejamento; exige precisão e disciplina. Diz Comenius: Finalmente, aquilo que para os tipógrafos faz o prelo, nas escolas só a disciplina o consegue realizar, a qual não dá a ninguém a possibilidade de não receber a cultura ministrada. Portanto, assim como na imprensa qualquer papel, que deve transformar-se em livro, não pode fugir ao prelo (embora o papel mais forte seja apertado mais fortemente, e o mais delicado mais delicadamente), assim também quem vai à escola para se instruir deve sujeitar-se à disciplina comum. Isso tudo faz com que o mestre, na perspectiva de Comenius, seja um agente, um estudioso, um curioso. Colo cando todos os homens como atores, põe nos mestres a obrigação de ensinar e de aprender e tira o dogmatismo, de mão única, que exige apenas a memorização. O intercâmbio como uma atividade legítima entra para a pedagogia. Há uma obrigação para quem ensina de abrir-se para conhecer o mundo além daquele tradicional comportamento de disseminar o saber pronto sobre as coisas. O professor eficiente precisa aprender, precisa examinar o assunto, procurar as causas, conhecer como se dão os processos, conhecer a natureza dos homens, a natureza das coisas para ter a arte de ensinar tudo a todos. O conhecimento da natureza é a base da Didática Magna. Segundo ela, o professor poderá preparar os jovens para a vida, tornando-se um criador de novos homens. Isto porque, tal como uma arvorezinha que se deixa plantar, transplantar, podar e dobrar, a criança pode ser modificada, pode abandonar os maus hábitos com maior facilidade do que os adultos. Diz Comenius: [...] não há coisa mais difícil que desabituar-se daquilo a que se estava habituado (com efeito, o hábito é uma segunda natureza, e a natureza, ainda que se expulse com a forma, volta sempre aparecer), daí resulta que não há coisa mais difícil que voltar a educar bem um homem que foi mal-educado. Por isso a educação na primeira idade é mais importante do que na maturidade; as crianças uma vez educadas cedo, na razão, tendem a fazer aquilo para o qual foram trabalhadas. A educação das crianças e dos jovens deve preocupar-se em habituar os alunos a proceder sempre em conformidade com a TÓPICO 1 | CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA 17 razão e nunca em conformidade com as inclinações. O homem para ser homem precisa educar sua vontade segundo a razão. Ao fornecer as causas das coisas, ao entender as coisas por suas causas ou pela razão, avontade segue a voz desse enten dimento. O homem é um ser educável pela razão, deve ser moldado e guiado pela razão, e não pelas inclinações ou paixões. Ele deve aprender a distinguir quais são as boas ações, porque as deve fazer e como as deve fazer, tornando-se, assim, verdadeiramente senhor dos seus próprios atos. Isto inclui cuidados e hábitos consigo mes mo como, por exemplo: o de observar a temperança no comer e no beber, no sono e na vigília, no trabalho e nos divertimentos, na palavra e no silêncio, durante todo o tempo de sua instrução e educação. Educar o homem é formá-lo todo, de modo a torná-lo igualmente apto para os negócios desta vida e para a eternidade. A educação dos jovens é o verdadeiro fundamento do Estado. Por isso Comenius diz aos go vernantes: Venho a vós, que em nome de Deus presidis às coisas humanas, ó dominadores dos povos e go vernantes; a vós principalmente se dirigem as nossas palavras, porque vós sois os Noés, a quem, para a conservação da semente santa, no meio de tão horrendo dilúvio de confusões mundanas, a divina providência encarregou de construir a Arca. (Gênesis, 6) [...] Vós sois os Davis e os Salomões que têm obrigação de chamar os arquitetos para construir o templo do Senhor, e de lhes fornecer, com abundância, os materiais necessários (Reis, I, 6; Crónicas, I, 29). Vós sois os centuriões, que Cristo amará, se vós amardes as suas criancinhas e para elas construirdes sina gogas (Lucas, 7,5). Comenius, como qualquer humanista, não abre mão da Bíblia. Só que essa Bíblia é lida, agora, sob o critério da utilidade. Uma religiosidade à moda antiga é mantida ao lado da moda nova de ver o homem em negócios terrenos. Diz ele: [...] as escolas, enquanto formam o homem, devem formá-lo todo, de modo a tornarem-no igual mente apto para os negócios desta vida e para a eternidade para a qual tendem todas as coisas que se fazem neste mundo. A perspectiva religiosa vai para a escola, para o campo da pedagogia. O religioso toma outro sentido, torna-se menos cumpridor de atos de fé e mais amante da filosofia e das boas obras. O religioso torna-se social. A escola assume o papel de formação religiosa. Diz Comenius: A verdadeira filosofia não consiste senão no verdadeiro conhecimento de Deus e das suas obras, e estas coisas não podem aprender-se em parte alguma com mais verdade do que da boca de Deus. Por isso, Santo Agostinho, tecendo louvores à Sagrada Escritura, afirma: “Aqui está a filosofia: porque todas as causas de todas as naturezas estão em Deus, seu criador. Aqui está a Ética: porque a vida equilibrada e honesta não pode formar-se de outro modo senão amando, juntamente com a vida, as coisas que se devem amar, e amando-as como se deve, isto é, Deus e o próximo. Aqui está a lógica: porque a verdade e a luz UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 18 da razão humana não é senão Deus. Aqui está também a mais louvável salvação do Estado: porque não se tutela da melhor maneira o bem- estar dos cidadãos, a não ser quando, o fundamento e com o vínculo da fé e de uma firma concórdia, se ama o bem comum, que é Deus, sumo e verdadeiro bem. Como pensador moderno, Comenius acredita na transformação da sociedade pela educação. Quer ver escolas em todos os lugares, em vilas e cidades. Alerta o governo para a importância de ensinar as crianças e os jovens e pede a ele que cuide desses serviços de tão grande utilidade social. Assegura que a educação, com fundamentação religiosa, dá solidez ao Estado, garante a ordem, a disciplina, o convívio harmonioso entre os homens, o bem-estar coletivo. Mostra que a ordem e a disciplina - condições para o ensino fácil, sólido e rápido - não são arbitrariedades, mas exigências da própria natureza para transformar o homem em sujeito ativo que colabora com a obra do criador. Acredita que a natureza humana tem dentro de si as sementes da instrução, da moral e da religião, as quais precisam ser alimentadas pelos educadores para que, inclusive os mais rudes, tornem-se homens livres das paixões, pela razão. FONTE: <www.fafijan.br/publicacoes/mathesis/arquivos/vol2/1/EDITORIAL.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2017. 19 Neste tópico, você aprendeu que: • O objeto de estudo da didática é o processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, ela busca descrever e explicar seus nexos e ligações. Investiga fatores determinantes desse processo, indica princípios, condições e meios de direção do ensino que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdo específico, tendo em vista a aprendizagem. • Os métodos de ensino são usados para ajudar a desenvolver e transferir competências específicas, que servem tanto para efeitos de desenvolvimento da aprendizagem quanto para sua aplicação. A técnica é a operacionalização do método. • As tecnologias específicas podem promover um método de ensino mais facilmente que outras, dependendo das características ou potencialidades dessa tecnologia. Professores que conhecem não somente uma grande variedade de métodos de ensino, mas também teorias de aprendizagem e seus fundamentos, estão em uma posição muito melhor para tomar as decisões adequadas sobre como ensinar em um contexto particular. Além disso, ter esse tipo de entendimento também facilitará a escolha adequada da tecnologia para cada tarefa ou contexto de aprendizagem. • Através do que lemos nesta unidade, por meio dos estudos trazidos por Melo e Urbanetz (2008), o grande teórico da educação Jean-Jacques Rousseau parte da ideia da bondade natural do homem, corrompido pela sociedade, o que o faz participar da ideologia que precedeu a Revolução Francesa. • Ainda percebemos que para esses mesmos autores Melo e Urbanetz (2008), Herbart entendia que era papel da escola e do professor serem os criadores da mente desse novo homem, ou seja, moldar as novas gerações adequadamente para o que a sociedade capitalista precisasse. Os autores descrevem que foi desenvolvido por Herbart cinco passos didáticos para atingir tais objetivos: ᵒ A preparação: o professor parte do que a criança já sabe, facilitando o trabalho com os conhecimentos necessários para aprender os conteúdos. ᵒ A apresentação: exposição do conteúdo pelo professor. ᵒ A assimilação: nesta etapa o aluno pode fazer relações entre o que já sabia e os conteúdos transmitidos pelo professor, levantando semelhanças e diferenças. ᵒ A generalização: do momento anterior, o aluno agora já pode abstrair, chegando a conceitos gerais, ou seja, do concreto chegou-se ao abstrato. ᵒ A aplicação: são exercícios e exemplos em que os alunos podem demonstrar o que aprenderam, dando sentido real ao processo de ensino-aprendizagem. RESUMO DO TÓPICO 1 20 • Nos estudos que elaboramos sobre Dewey, no decorrer desta unidade de estudos, percebemos como principal foco que esse tão importante teórico da educação elaborou o conceito de “continuum experiencial”, afirmando que uma experiência pode dar continuidade a outra, vinculando a experiência pessoal à educação desde que essa prática seja fundamentalmente educativa, favorecendo a continuidade das experiências. Seguindo esta concepção toda nova experiência torna algo da experiência passada e modifica as próximas experiências. 21 1 Levando em consideração a história da didática, é correto afirmar: I - A didática é uma disciplina neutra, mostrando-se com os mesmos elementos, a despeito da época histórica em que se situa. II - A didática mantém sua neutralidade, seja qual for o tempo ou a época, apenas os conteúdos é que se diferenciam. III - A didática tende a espelhar a concepção de educação, de ser humano e da escola de cada época. a) ( ) Somente a alternativa I está correta. b) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. c) ( ) Somente II e III estão corretas. d) ( ) Somente a alternativa III está correta. 2 Levando em consideração as características da didática de acordo com o autor ou a época em que vigorou e conforme o que estudamos nesta unidadede ensino, assinale a alternativa correta: I - A ideia de educação, para Rousseau, é pragmática e funcionalista, atendendo precipuamente a interesses imediatos do Estado. II - A proposta de didática que Comênio visava a uma formação universal do ser humano, em todos os aspectos, independentemente da classe social a que o aluno pertença, embora eivada de uma ideologia religiosa. III - A proposta em vigor durante a década de 1960 limita-se ao papel do tutor e do espaço lúdico utilizado, se comparada a períodos anteriores. a) ( ) Somente a alternativa II está correta. b) ( ) Nenhuma das alternativas está correta. c) ( ) Somente I e III estão corretas. d) ( ) Somente a alternativa III está correta. 3 O Tópico 1 abrange, de forma resumida, um longo período histórico. Podemos conhecer, em linhas gerais, nomes como Comênio, Rousseau, Pestazolli, Herbart, Dewey, além das principais modificações sofridas pela didática na contemporaneidade. Você conseguiria identificar alguma diferença entre os propósitos da educação, tal como entendida por Comênio, ao compará-la à concepção de educação vigente entre o período de 1970-1980? Quais? AUTOATIVIDADE 22 4 Por se tratar de épocas tão distintas, você julga que o pensamento dos autores apresentados no Tópico 1 carregaram consigo algo peculiar à época em que viveram? Você saberia apontar o quê em ao menos três deles? 5 Após ter refletivo sobre a questão anterior, considere a seguinte assertiva: “Do início da década de 1950 até o fim da década de 1970, o ensino da didática deu preferência aos métodos e técnicas de ensino com o objetivo de garantir a eficiência da aprendizagem dos alunos e a conservação de sua neutralidade científica”. Na sua concepção, após revisar as ideias dos diversos autores apresentados no Tópico 1, é possível sustentar a existência de neutralidade científica na didática ou mesmo na Educação? Entenda-se neutralidade como isenção de qualquer inclinação ideológica, política ou religiosa, enfim, um conhecimento “puro”. Justifique sua resposta. 6 Quais foram os principais pensadores da didática e quais foram suas colaborações? 23 TÓPICO 2 PERCEBENDO DIFERENÇAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO É fundamental o desenvolvimento de atividades que compreendam ações dos alunos orientados pelos procedimentos, no sentido de construir o caminho da aprendizagem. As atividades consistem em trabalho com o conhecimento em situações de reconstrução e aplicação desse conhecimento. Nesta conjuntura, as atividades, então, referem-se às ações, estas correspondem aos objetivos a serem alcançados. A metodologia didática liga-se ao conjunto de métodos e técnicas de ensino para a aprendizagem. No entanto, como veremos, nenhuma didática ou metodologia tem existência por si mesma. São sempre instrumentos a serviço de uma abordagem didática que, por sua vez, compreende determinada concepção de ensino e aprendizagem, de professor, de aluno e de mundo. O mesmo podemos dizer das tecnologias aplicadas à educação: isoladas, não conduzem a lugar nenhum. Tendo isso em vista, neste tópico abordaremos a relação existente entre esses elementos constitutivos do processo de ensino-aprendizagem e o tratamento que as abordagens pedagógicas lhes dão. Nesse percurso, traremos à luz diferentes tipos de modelos educacionais e suas interfaces com o emprego da tecnologia, que, como veremos, pode assumir feições de caráter distinto, nos quais a ênfase com as ferramentas tecnológicas pode ser tamanha que eles acabam se sobrepondo até mesmo à ação do professor ou, de outra feita, podem ser explorados de modo auxiliar, como facilitadores do processo de ensino- aprendizagem. Essa dinâmica se dá em razão do grande fascínio que a tecnologia exerce sobre o ser humano, assim como das expectativas que este deposita sobre as possibilidades dessas tecnologias para resolução de problemas. Porém, como teremos oportunidade de aprender, a despeito do caráter inovador atribuído ao emprego desses recursos, quando utilizados sob pressupostos equivocados, tendem a replicar velhas e conhecidas práticas de ensino, de caráter passivo e acrítico, apenas revestindo-as de uma roupagem nova. Esperamos que ao final deste tópico você tenha uma ideia clara das diversas abordagens pedagógicas pertinentes ao emprego de tecnologias a serviço da educação, a fim de poder sopesar, com a devida sensatez, as maneiras mais adequadas de utilizá-las, tendo em vista a maximização da aprendizagem, UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 24 sabendo desviar-se dos escolhos e dos recifes ao navegar neste oceano de infinitas possibilidades que a tecnologia oferece. 2 DIDÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIA O método é formado por técnicas de ensino organizadas, resultantes dos vários procedimentos, que quase sempre expressam diferentes realidades. Rangel (2017) explica que a etimologia da palavra método deriva do latim methodus, que, por sua vez, origina-se do grego meta, que significa meta, objetivo, e thodos, significa o caminho, o percurso, o trajeto, os meios para alcançá-lo. A palavra “método” é empregada em três sentidos distintos: quando trata do material de ensino que compreende livros, textos ou outros materiais elaborados pelo professor, ou então quando se compreende como o conjunto de procedimentos e técnicas de aula que buscam despertar no aluno um comportamento ou uma atividade determinada e, por último, está ligada ao conjunto coerente de procedimentos, técnicas e métodos que mostraram-se capazes, durante um período histórico, de gerar caminhos novos (PUREN, 1994). Recomenda-se, quando você estiver atuando em sala de aula ou no laboratório de informática, diversificar os métodos não só porque isso pode ampliar as alternativas de aprendizagem, mas também para expandir as possibilidades de realizar a atividade, superando assim possíveis dificuldades dos alunos. Lembre-se: a diversificação metodológica praticada na dinâmica das aulas alarga suas perspectivas, seu ritmo, suas motivações e os motivos para as ações, assim como seus encaminhamentos no sentido da aprendizagem. Para Rangel (2017), diferentes métodos de ensino provavelmente levam a diferentes tipos de resultados de aprendizagem. Por isso, é imprescindível que a escolha da metodologia de ensino e aprendizagem seja feita de acordo com o aluno, suas características cognitivas e escolares, com o conteúdo, sua natureza, sua lógica e com o contexto, ou seja, levando em consideração as circunstâncias e condições do aluno, do professor, da escola e da comunidade. Para tal conjuntura, é preciso atentar na escolha e na aplicação dos métodos e técnicas, tendo em conta as características do contexto e observando duas questões de fundo: o valor da autonomia docente e o propósito de ensino comprometido com a aprendizagem e com a aquisição do conhecimento, entendendo este último como um direito da vida cidadã, consciente de que o processamento do método recebe expressivas influências de fatores de contextos, como os socioeconômicos, os históricos e os culturais (PUREN, 1994). A didática, como a metodologia, observa os métodos de ensino. Há, no entanto, diferença na visão de cada uma. A metodologia estuda os métodos de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor. A didática, TÓPICO 2 | PERCEBENDO DIFERENÇAS 25 por sua vez, faz julgamentos, emite opinião ou crítica a respeito dos métodos de ensino (RANGEL, 2017). Para Puren (1994), a metodologia nos dá juízo de realidade, e a didática nos dá juízo de valor. Poderíamos nos arriscar a dizer que podemos ser metodologistas sem ser didáticos, mas não podemos ser didáticos sem ser metodologistas, haja vista não ser possível julgar sem antes conhecer. 3 MODELOS EDUCACIONAIS O conhecimento é um processo de natureza interdisciplinar “que pressupõe flexibilidade, interatividade, adequação, colaboração, parcerias e adesão”, “arranja-se o emprego pedagógico do computador na confluência de diferentesteorias, teorias transitórias e coerentes”, um portal de acesso à informação, à comunicação e à colaboração, sem fronteiras e atemporal (ALMEIDA, 1988, p. 23). Dessa forma, abrem-se as possibilidades de profunda alteração na pedagogia tradicional, o que não significa sua negação, mas um dimensionamento e uma mudança alicerçados no processo de questionar, de aceitar a provisoriedade do conhecimento, na abertura ao diálogo e na integração de novas ideias. A interdisciplinaridade permite que ocorra a interação e o desenvolvimento de novas práticas de pesquisas em várias disciplinas, viabilizando a integração e o diálogos entre elas. O ensino interdisciplinar poderá ser atingido por meio de projetos e conteúdos relacionados à realidade do aluno, e o professor será mediador das relações entre o aluno e seu meio, compartilhando novas descobertas, possibilitando a ação e expressão próprias do aluno. O ensino interdisciplinar colabora para o ensino contextualizado e significativo (JAPIASSU, 1976). Entende-se que falar em interdisciplinaridade não se restringe a buscar um tema gerador em torno do qual todas as áreas se voltam com finalidades particulares. É imprescindível a superação da fragmentação do conteúdo escolar e/ou o isolamento das disciplinas, ou seja, deve-se buscar a interação entre elas (JAPIASSU, 1976). Para Japiassu (1976, p. 54), a interdisciplinaridade “se afirma como uma reflexão epistemológica, sobre a divisão do saber em disciplinas para extrair suas reflexões de interdependência e de conexão recíproca”. A interdisciplinaridade se concretiza pela integração entre as disciplinas e pelo diálogo que se estabelece entre os sujeitos envolvidos nas ações desencadeadas pelos projetos, devolvendo a identidade às disciplinas e fortalecendo-as (ALMEIDA, 2000). Para Almeida (1988), procurar interação entre as diversas áreas de conhecimento é reconhecer a “provisoriedade do conhecimento”, pelo exercício da dúvida, pelo questionamento das próprias disposições e processos, pelo diálogo com as diferenças e pela procura do conjunto, ou melhor, da totalidade UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 26 do conhecimento, que “se constrói na ação do sujeito que concebe e registra suas ideias no computador, segundo o ciclo descrição – execução – reflexão – depuração” (ALMEIDA, 1988, p. 18). Desde o surgimento dos computadores no ensino, muitos foram os métodos discutidos na perspectiva de serem aplicados para melhorar a aprendizagem da informática. Nesta perspectiva, Morgado (2005) define quatro modelos educacionais, a saber: • o primeiro foi denominado aprender sobre computadores: este modelo não busca fazer mudanças na metodologia de ensino, antes, tenta agregar o computador e seus recursos ao contexto escolar, com a finalidade de fazer os alunos manusearem as ferramentas existentes. • o segundo modelo, aprender a partir dos computadores, é mais aproveitado nos dias de hoje, fundamentado numa prática do ensino tradicional. Esta prática se compara aos moldes de um “livro didático interativo”, porque representa o uso de software carregado de informação, aplicações multimídia, tutoriais e sistemas tutores inteligentes. Neste modelo é usada também a prática da tentativa e erro, que se fundamenta numa técnica de repetição e alteração de nível: caso o aluno acerte antes de três tentativas, por exemplo, aumenta-se o nível de dificuldade, ou então diminui-se, caso o aluno encontre dificuldades. • o terceiro modelo, aprender com computadores, baseia-se no princípio da utilização do computador como uma ferramenta de aprendizagem. A aprendizagem acontece no formato construtivista, no qual o professor facilita a construção mental e o desenvolvimento de conhecimentos por parte dos alunos. Neste exemplar, a máquina “computador” é utilizada também para o uso de simulações e jogos ricos em conteúdo expostos de uma forma interessante. • o quarto modelo, aprender como pensar com os computadores, é semelhante ao anterior, mas tem uma preocupação central em ajudar os alunos a melhorar o processo de ensino-aprendizagem. A programação de computadores é central neste quarto modelo, já que permite ao aluno ensinar os computadores e, ao encontrar e corrigir falhas na sua programação é instigado a (re)considerar o seu processo de raciocínio. O convívio com a prática de bugging produz uma concepção do erro como algo natural no processo pedagógico, mais especificamente na elaboração de programas. No ambiente não se pune por cometer erros, dificilmente dizemos que algo está errado. O que acontece é que o programa pode não sair como queríamos ou pensávamos, ele “não roda”. Portanto, o problema está na relação do nosso pensar com o uso da linguagem, dos limites que esta coloca ou então do nosso domínio sobre essa linguagem. Assim, o erro se constitui como parte integrante e natural do processo de construção do pensamento. É por isso que não se pune, mas se trabalha com o erro, tentando depurá-lo. Neste processo, o sujeito/aluno identifica os limites da máquina ao mesmo tempo que constrói formas próprias e alternativas de seu ato de pensar. O seu aparente erro serve como elemento de autoavaliação. TÓPICO 2 | PERCEBENDO DIFERENÇAS 27 Os quatro modelos integram-se nas duas grandes teorias metodológicas de ensino, o construcionismo, que defende o computador como uma ferramenta de aprendizagem; e o instrucionismo, que defende o computador como uma máquina de ensinar, sobre os quais falaremos logo adiante. 3.1 A ABORDAGEM INSTRUCIONISTA A inserção dos computadores na educação iniciou-se em 1924, quando Sidney Pressey arquitetou uma máquina para a correção de testes de múltipla escolha. Posteriormente, em 1950, Frederic Skinner propôs uma máquina de ensinar baseada na instrução programada (SOUZA; FINO, 2008). A instrução programada enfatiza a importância de uma definição precisa do que o aluno deverá aprender e a relevância de estruturar cuidadosamente os materiais a serem utilizados, para que o aluno aprenda exatamente o que se quer que ele aprenda. A técnica de instrução programada foi responsável pela ênfase que o processo de ensino-aprendizagem passou a dar aos seguintes elementos: • objetivos; • aprendizagem em ritmo próprio; • concentração da atenção do aluno numa quantidade limitada de material; • respostas dos alunos a cada momento; • feedback; • oportunidade para saltar partes do programa que o aluno já sabe e para repetir partes do programa em que tem mais dificuldades. Os princípios da técnica de instrução programada são os seguintes: • a matéria é desdobrada em pequenas informações; • cada informação apresentada ao aluno exige dele uma resposta; • o acerto ou erro de resposta do aluno é reconhecido por ele imediatamente; • cada informação deve estar perfeitamente ordenada, formando conjuntos ou programas com fins específicos. Por essa ótica, o conteúdo a ser ensinado deve ser subdividido em módulos estruturados de forma lógica, de acordo com a perspectiva pedagógica de quem planejou a elaboração do material instrucional. Em linhas gerais, essa máquina funcionava da seguinte forma: no final de cada módulo, o aluno deveria responder a uma pergunta, cuja resposta correta levaria ao módulo seguinte. Caso a resposta do aluno não fosse correta, ele deveria retornar aos módulos anteriores até obter sucesso. UNIDADE 1 | DIDÁTICA E EDUCAÇÃO 28 FONTE: Adaptado de Valente (1999) FIGURA 2 – DIAGRAMA DO INSTRUCIONISMO Informação Informação Pergunta Resposta É importante aprender que o instrucionismo está baseado no método tradicional de ensino, ou seja, tem suas raízes na aprendizagem tradicional, e como foco fundamental, o professor como fonte de orientação. Valente (1993) salienta que o mesmo acontece quando o computador ensina ao aluno: o computador assume o papel de máquina de ensinar, e a abordagem pedagógica é a instrução auxiliada por máquina, o instrucionismo. Nesta perspectiva, “o uso do computador como máquina
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