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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 2 LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................. 3 3 DESENVOLVIMENTO, NEUROCIÊNCIA E ALFABETIZAÇÃO ................. 8 4 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM; OS MECANISMOS BIOLÓGICOS DA LINGUAGEM ............................................................................... 12 4.1 A aquisição da linguagem .................................................................. 14 4.2 Compreendendo a linguagem ............................................................ 15 5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL ....................................... 18 5.1 Habilidades metalinguísticas e o sistema de escrita alfabética .......... 19 5.2 Concepção e desenvolvimento da Linguagem das crianças .............. 20 5.3 O desenvolvimento da oralidade na perspectiva Vigotskiana vs. Piagetiana 21 6 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA ................................. 28 6.1 A criança e a escrita ........................................................................... 30 6.2 A aquisição da escrita no processo de Alfabetização ........................ 32 6.3 Consciência fonológica....................................................................... 34 6.4 A memória de trabalho fonológico ...................................................... 35 6.5 A aquisição no desenvolvimento da leitura ........................................ 37 7 CONSCIÊNCIA MORFOSINTÁTICA ........................................................ 38 8 A AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES METALINGUÍSTICAS E DE LEITURA 47 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 48 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 50 11 SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 51 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 LÍNGUA E LINGUAGEM Fonte:diferenca.com/fala-lingua-e-linguagem Considerando a língua como um meio de comunicação de todos os falantes do mundo, é necessário estabelecer certas considerações sobre ela, pois esta, vai muito além de ser apenas um objeto de uso dos falantes, ela é, também, um objeto de poder. Olhando à primeira vista parece difícil definirmos ou chegarmos a um conceito sobre o que seja língua. Existem vários estudos a respeito da língua, pois, trata-se de um assunto de considerável complexidade. Cabe aqui apenas estabelecer conceitos básicos que possam mostrar os modos diferentes de se conceber a língua e perceber como o gênero propaganda a concebe. Para isso, será feita uma breve retomada de alguns conceitos sobre Língua e Linguagem, para que o foco desse estudo seja melhor compreendido. Mas o que é língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; a cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo 4 tempo física, fisiológica e psíquica (...). (Saussure, 1970, apud SOLTES, 2011, p. 4 e 5). Língua, segundo Saussure é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande vantagem para seu estudo. A língua é um sistema de signos um conjunto de unidades, ocorrendo uma relação entre significante (imagem acústica) e o significado (conceito). A língua existe na coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos. Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles, embora seja comum a todos e independa da vontade dos depositários (Saussure, 1970, apud SOLTES,2011, p. 5). Logo, essa coletividade sob a forma de uma soma de sinais depositados em cada cérebro, manifesta-se em duas formas: na fala e escrita. Através da fala e da escrita é possível notar a dimensão histórica da língua, por meio do seu caráter social. A língua existe desde os primórdios, nascemos com ela já imposta, já feita e muito bem definida por seus usuários, ela é comum a todos os seres humanos e é através da língua que podemos nos comunicar com diversas pessoas, de diversos países, continentes e hemisférios. Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objetivo linguístico não se define pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; essa última, por si só, constitui tal objeto. Mas a palavra escrita se mistura tão intimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar importância à representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos que, para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto (Saussure 1970, apud SOLTES,2011, p. 5) Para esclarecer a idéia do que seria língua, na perspectiva estruturalista, pode se dizer que a língua é um sistema de signos que exprimem ideias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., etc. ela é apenas o principal desses sistemas. Ao contrário da língua, a linguagem, na visão estruturalista, sofre modificações; surgem ou modificam-se ano a ano, novas palavras, novas expressões. A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro. Na linguagem, é possível ocorrer modificações, pois a linguagem modifica-se pelo 5 constante uso da língua através de seus interlocutores que a utilizam como meio de comunicação em diversas épocas e situações. A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante, ela é uma instituição atual e um produto do passado. Parece fácil, à primeira vista, distinguir entre esses sistemas e sua história, entre aquilo que ele é e o que foi; na realidade, a relação que une ambas as coisas são tão íntimas que se faz difícil separá-las (Saussure, 1970, apud SOLTES, 2011, p. 7) É simplesmente notável a evolução da língua. Já se passaram vários anos após os estudos realizados por Saussure e surgiram muitos aspectos em relação à língua que tornam impossível dizer que a mesma permanece intacta, ou que ela é homogênea e autônoma e, diante de tantas evoluções sociais e históricas ocorridas, não pode mais ser vista apenas como um objeto de estudo isolado, sem que se considerem as suas condições de uso. Com efeito, a compreensão do fenômeno linguístico como atividade, como um dos fazeres dohomem, puxou os estudos da língua para a consideração das intenções sociocomunicativas que põem os interlocutores em interação; acendeu, além disso, o interesse pelos efeitos de sentido que os interlocutores pretendem conseguir com as palavras em suas atividades de interlocução, trouxe para a cena dos estudos mais relevantes o discurso e texto, desdobrados nas suas relações com os sujeitos atuantes, com as práticas sociais e com as diferentes propriedades que asseguram seu estatuto de macrounidade da interação verbal (ANTUNES, 2009, apud SOLTES, 2011, p. 7). Assim, a língua passa a ser vista e estudada em seus contextos de uso, o que implica dizer nas manifestações linguísticas – produção e expressão – de cada comunidade de falantes, deixando de ser vista apenas como um signo contido de significante e significado, e até mesmo um conjunto de regras gramaticais. Passa a ser uma ponte na qual nos interligamos a outras culturas, pessoas, histórias, pois está inserida na vida de todos os falantes. O que nos une a todas as outras comunidades linguísticas é a língua. O interessante de tudo isso é que a língua contém características próprias e peculiares e, sendo assim, passa a ser como todos nós, seres humanos, que acompanhamos a evolução, o caminhar da humanidade. Diante de tantas mudanças não se pode imaginar uma língua intacta, imóvel, inflexível. A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar e nosso 6 grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo (ANTUNES, 2009, apud SOLTES, 2011, p. 7). Refletindo sobre a língua, é possível defini-la através de conceitos apresentados por grandes autores como Marcuschi e Bagno: a) A língua apresenta uma organização interna sistemática que pode ser estudada cientificamente, mas ela não se reduz a um conjunto de regras de boa- formação que podem ser determinadas de uma vez por todas como se fosse possível fazer cálculos de previsão infalível. As línguas naturais são dificilmente formalizáveis. b) A língua tem aspectos estáveis e instáveis, ou seja, ela é um sistema variável, indeterminado e não fixo. Portanto, a língua a apresenta sistematicidade e variação a um só tempo. c) A língua se determina por valores imanentes e transcendentes de modo que não pode ser estudada de forma autônoma, mas deve-se recorrer ao entorno e à situação nos mais variados contextos de uso. A língua é, pois, situada. d) A língua se constrói com símbolos convencionais, parcialmente motivados, não aleatórios, mas arbitrários. A língua não é um fenômeno natural nem pode ser reduzida à realidade neurofisiológica. e) A língua não pode ser tida como um simples instrumento de representação do mundo como se dele fosse um espelho, pois ela é constitutiva da realidade. É muito mais um guia do que um espelho da realidade. f) A língua é uma atividade de natureza sociocognitivas, histórica e situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana. g) A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em gêneros textuais para uso das situações concretas. h) A língua não é transparente, mas opaca, o que permite a variabilidade de interpretação nos textos e faz da compreensão um fenômeno especial na relação entre os seres humanos. i) Linguagem, cultura, sociedade e experiência interagem de maneira intensa e variada não se podendo postular uma visão universal para as línguas particulares. Desta forma, pode-se concluir que a língua é versátil e impossível de ser estudada isoladamente, já que se trata de uma ferramenta de comunicação e 7 interação a todos os seres falantes. Na verdade, a língua que falamos deixa ver quem somos. De certa forma ela nos apresenta aos outros. Mostra a que grupo pertencemos. É uma espécie de atestado de nossas identidades. A linguagem é realmente o nosso meio de interação social. É impossível, portanto, conceber a linguagem como independente da língua, como se afirmava nos estudos estruturalistas. Língua e linguagem caminham juntas, evoluem juntas, são indissociáveis, as duas são influenciadas pelo meio social e histórico, uma só se realiza com a outra. Linguagem, língua e cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis. Tendo em vista que, assim como a língua, a linguagem também está perpassada por aspectos sociais, políticos, históricos entre outros, não se pode falar de sistema autônomo, fechado em si mesmo e homogêneo. Ao passar a definir língua como um fenômeno social, como uma prática de atuação interativa dependente da cultura de seus usuários, esta passa a ser entendida em seu caráter político, histórico e sociocultural. A linguagem vista, assim, em sua heterogeneidade, exerce várias funções, mas tem como papel principal, a interação social, a comunicação entre os seres humanos. Através da linguagem torna-se possível a exposição de tudo aquilo que pensamos. Considerando a linguagem como forma de ação entre homens, adentra-se nos campos da persuasão e do convencimento, porque a linguagem como meio de interação social é dotada de intencionalidade; seu fundamento está, pois, na argumentação que procura persuadir e convencer alguém a agir de determinada forma. A par disso, entende-se que a função básica da linguagem é a argumentação, uma vez que o sujeito enunciador sempre tem em vista persuadir e convencer seu interlocutor (SITYA, 1995, apud SOLTES, 2011, p. 9). Estabelece assim que a linguagem, como meio de comunicação, interação social, estabelece relações e comportamentos entre os interlocutores. Além disso, sua função básica não é só comunicar, mas persuadir e convencer, o que significa desejo de interferir na opinião dos outros, modificando suas convicções e julgamentos. A linguagem pode ser nomeada como um mecanismo da língua, o qual todos os falantes utilizam nos mais variados contextos e em seus variados gêneros e do modo como eles desejam, conforme as suas intenções. A linguagem passa a ser encarada como forma de ação, ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade (KOCH, 1996 apud SOLTES, 2011, p. 9). 8 Assim, pode-se dizer que a linguagem é constituída totalmente de caráter argumentativo, pois com ela podemos estabelecer relações, opiniões, comportamentos, interagir na sociedade e atuar sobre ela. Língua e linguagem tornam-se assim uma ferramenta, as quais usamos e abusamos a nosso favor (ou não), forma de ação, ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade. Isso significa que, quando utilizamos a linguagem queremos não só expressar algo, mas, fazer algo, provocar no outro alguma reação. Nesse sentido, fica claro que todo o nosso dizer é constituído de uma intenção. 3 DESENVOLVIMENTO, NEUROCIÊNCIA E ALFABETIZAÇÃO Fonte:novaescola.org.br Neurociências parece ser a palavra da vez e está no vocabulário de todos, desde pesquisadores renomados até pessoas menos estudadas, que entram em contato com o conceito através dos meios de comunicação. A popularização do termo explica-se devido ao avanço dos estudos sobre o cérebro, propiciados pela evolução tecnológica dos instrumentos de pesquisa. Se antes da década de 1990 os estudiosos podiam estudar somente cérebros dos indivíduos mortos, a partir da década de 1990, a tecnologia de mapeamento cerebral evoluiu de maneira a possibilitar o estudo de cérebros em funcionamento, o que explica a amplitude de descobertas na área. 9 Em relação ao campo da educação, as neurociências contribuem à medida que possibilitam maior conhecimentosobre os processos biológicos envolvidos na aprendizagem e no desenvolvimento dos seres humanos. Esse conhecimento precisa ser incorporado aos programas de formação de professores e às práticas docentes. Com relação à alfabetização, são várias as contribuições que podem favorecer os processos de aprendizagem da leitura e da escrita. A escrita e a leitura, mesmo tendo relações, são processos distintos. No cérebro, as partes envolvidas na leitura são diferentes das partes envolvidas na escrita. Assim sendo, não é possível determinar uma única região cerebral como sendo a área responsável pela linguagem, uma vez que várias áreas do cérebro estão ligadas à atividade linguística. Essa, por sua vez, não se restringe às habilidades de leitura e de escrita, englobando, também, a comunicação oral, gestual e gráfica. Ao realizarem pesquisas sobre as hipóteses de escrita, estudiosos identificaram que o fracasso escolar estava associado a deficiências paralelas. Da mesma forma, o bom rendimento nas atividades acadêmicas estava acompanhado de êxito em outros domínios, tais como o esquema corporal, orientação espacial e temporal, lateralização, entre outros. Diante disso, os aspectos linguísticos e não linguísticos estão relacionados à capacidade de ler e escrever. Existiria, assim, uma maturação necessária para a aprendizagem. No entanto, os chamados exercícios de prontidão, nos quais as crianças são estimuladas a repetir bolinhas e traços que lhes permitiriam treinar sua motricidade fina, a fim de obter sucesso no traçado das letras. Parece que a maturação vai muito além da motricidade, não sendo possível treinar através de atividades maçantes e descontextualizadas. Para que a criança consiga se alfabetizar, é importante que o seu cérebro esteja maduro. Sabe-se hoje que, antes e durante o período de alfabetização, o cérebro da criança sofre importantes modificações, que permitirão que ela possa construir as bases do nosso sistema de escrita. “[...] nesta faixa etária (entre 3 e 6 anos) há um importantíssimo crescimento do córtex frontal que cria as condições neuroanatômicas (estruturas e ligações sinápticas) para a realização do mapeamento metafonológico, assim possibilitando a descoberta do princípio alfabético”. (ROSSA, 2011, apud GRANDO, 2013, p. 27). Para que essa maturação aconteça de forma saudável, é importante que a criança tenha acesso a uma boa alimentação, sono de qualidade e a estímulos que a 10 desafiem. É durante o sono que as aprendizagens se consolidam, o que é essencial para que se transformem em memórias de longa duração. Em relação à alimentação, está comprovado que problemas nutricionais nos primeiros anos de vida podem reduzir significativamente as possibilidades cognitivas das crianças. O ambiente em que a criança se desenvolve também é um importante fator para a sua aprendizagem. O homem necessita explorar o ambiente em que se encontra, interagindo com ele. Assim se dá a aprendizagem, a partir da experiência do homem com o meio. Somos seres “configurados” para experiência, todo o nosso organismo (corpo e cérebro) nos impulsiona para explorar o meio ambiente e dele extrair o que a qualidade de nossas interações permitir. Há uma constante influência dos estímulos do ambiente, e o que nosso organismo consegue fazer desses estímulos depende intrinsecamente da resposta de nosso organismo à frequência (repetição e constância) e à quantidade e qualidade dos estímulos (ROSSA, 2011, apud GRANDO, 2013, p. 27). Podemos pensar, a partir dessa informação, que a qualidade e a quantidade de estímulos recebidos pelo meio determinam a aprendizagem. No entanto, é preciso ter cuidado para que os estímulos oferecidos às crianças não sejam descontextualizados, tais como o ensino de sílabas soltas e o uso de textos artificiais, evitando os métodos sintéticos de alfabetização, nos quais imperam a visão de que a aprendizagem da leitura e da escrita é uma atividade eminentemente mecânica. Em relação à alfabetização, portanto, é necessário que as crianças recebam estímulos variados e frequentes e que esses sejam contextualizados e significativos, pois deles depende a ativação de circuitos neuronais importantes para a aprendizagem como um todo. Mesmo crianças que não tiveram a oportunidade de crescer em um ambiente rico em estímulos, ao ingressar na escola e encontrar um ambiente alfabetizador bem estruturado, podem obter sucesso nas primeiras etapas de escolarização devido a uma importantíssima propriedade do cérebro: a plasticidade cerebral. A plasticidade cerebral poderia ser definida como as adaptações que o sistema nervoso experimenta diante de mudanças em seu meio externo ou interno. A ideia de que as estruturas cerebrais, após sua formação, são imutáveis está sendo substituída pela descoberta da plasticidade cerebral. A plasticidade cerebral ocorre em todas as etapas da vida, sendo mais frequente na infância. Sendo essa como uma das mais importantes descobertas recentes: plasticidade dos neurônios para se reciclar para novas aprendizagens. Em outras palavras, diante de determinados desafios ou estímulos, o cérebro possui a capacidade de adaptar-se e modificar sua estrutura. 11 Isso acontece quando há a necessidade de regeneração por motivo de lesões cerebrais e quando se aprende algo novo. As aprendizagens constituem-se como uma forma de plasticidade, já que geram mudanças morfológicas, como o desenvolvimento de ramificações neurais, por exemplo. Um problema que pode tornar complexa a aprendizagem da escrita e da leitura é o fato de existirem várias maneiras de registrar uma mesma letra. Essas maneiras correspondem ao problema da invariância perceptiva. “[...] dezenas de imagens diferentes podem corresponder à mesma palavra, conforme esteja escrita em minúscula ou maiúscula, traçada à mão ou impressa [...]. É preciso, pois, atingir um reconhecimento invariante, apesar da grande variedade de formas de superfície que as palavras podem assumir. ” (DEHAENE, 2012, apud GRANDO, 2013, p. 28). Esse reconhecimento constitui uma etapa indispensável para a efetiva alfabetização, uma vez que é necessário realizar correspondências entre as múltiplas formas de grafar uma mesma letra. Ainda refletindo sobre o problema da invariância perceptiva, pode-se afirmar que: [...] no curso da aprendizagem da leitura, devemos aprender não somente que as letras representam os fonemas da língua, mas também que as múltiplas formas sem ligação especial entre elas podem representar uma mesma letra. Esse conhecimento abstrato resulta provavelmente da existência de detectores de letras, de neurônios capazes de recuperar a identidade das letras por detrás das formas de superfície muito diferentes (DEHAENE, 2012, apud GRANDO, 2013, p. 28). Leitores experientes reconhecem a variedade do tamanho das letras, posição das palavras e formas dos caracteres sem que essa variedade comprometa a sua leitura. Isso é possível porque diferenças muito pequenas são perceptíveis ao sistema visual, como o traço que diferencia uma letra de outra, por exemplo. O reconhecimento desses pequenos detalhes garante a identificação de palavras muito semelhantes visualmente, tais como “bela” e “bala”. A criança em fase inicial de alfabetização nem sempre reconhece e distingue essas variações. É preciso que o professor chame a atenção para as semelhanças e diferenças entre os caracteres e trabalhe com diferentes tipos de letras. Outro importante achado das neurociências aponta para a ideia de que o cérebro é recursivo, ou seja, que as aprendizagens são realizadas a partir daquilo que os indivíduos já sabem. O cérebro trabalha mobilizando saberes já existentes. Para que uma nova aprendizagem aconteça, é preciso que a informação ou o 12 conhecimento novo tenha ligação com algum conhecimento já consolidado. Para isso, o professor necessita conhecerseus alunos e fazer relações entre os conteúdos estudados. A noção de que o cérebro é recursivo, ou seja, que utiliza os conhecimentos construídos pela criança como patamar para as novas aprendizagens, já era defendida por Vigotsky. Ainda que o principal representante da teoria sociointeracionista não utilizasse a expressão “cérebro recursivo”, seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal tem como premissa a ideia de que as aprendizagens acontecem a partir do conhecimento prévio da criança. Em relação à alfabetização, é preciso reconhecer que, antes de ingressar no Ensino Fundamental, as crianças interagem com a escrita nos contextos em que vivem, portanto chegam à escola com conhecimentos e hipóteses sobre a escrita. Logo o professor não pode considerar a criança uma tábula rasa, pelo contrário, deve reconhecer seus saberes através de atividades diagnósticas e valorizá-los. Assim sendo, partir do conhecimento do aluno constitui-se uma ferramenta imprescindível para a alfabetização e para a construção de aprendizagens significativas em relação aos usos da escrita e da leitura. Uma forte bandeira erguida por alguns estudiosos em educação confirma-se através dos estudos sobre o cérebro: a aprendizagem e a memória estão intimamente ligadas à emoção. O sistema límbico, responsável por controlar o comportamento emocional e motivacional, é ativado de forma positiva quando a aprendizagem está ligada a boas sensações, tais como a alegria, a descontração e o prazer, fazendo com que as aprendizagens sejam consolidadas e o sistema cerebral de recompensa seja ativado, o que gera a vontade de repetir a boa experiência. No entanto, quando a aprendizagem está ligada a sensações desagradáveis, tais como o medo e o tédio, os conhecimentos não são consolidados da mesma forma e o sistema de recompensa não é ativado, fazendo com que os sujeitos não tenham vontade de repetir a experiência. Reconhecendo o fato de que somente é aprendido o que possui algum conteúdo emocional significativo. 4 O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM; OS MECANISMOS BIOLÓGICOS DA LINGUAGEM 13 No hemisfério esquerdo do cérebro, se localiza a área conhecida como fissura de Sílvio que é responsável pelo desenvolvimento de diversas habilidades de linguagem; as áreas posteriores da fissura são responsáveis pela compreensão da linguagem e a anterior, pela linguagem expressiva. O hemisfério direito é responsável pelos aspectos emocionais da comunicação que são transmitidos através da prosódia vocal, gestos e expressões faciais, mas ambos os hemisférios contribuem para a comunicação humana normal. A linguagem é o principal meio de comunicação e devemos dominar os diversos sistemas linguísticos para sermos comunicadores eficazes. A partir de 18 meses da criança, novos fatos podem ser observados, principalmente pelo aparecimento da possibilidade de evocar e reconstruir ações passadas, por meio da linguagem, embora dependa ainda da presença de alguns objetos que permitem a evocação, da formulação de perguntas ou comentários feitos pelos adultos. A partir de 21 meses, as crianças começam a substituir vocalizações não verbais por palavras ocasionais. A maioria das crianças aprendem a linguagem auditiva oral sem treinamento formal. Sua experiência com múltiplas interações entre cuidadores e outros nos primeiros 5 anos de vida, em geral, é suficiente para capacitá-la a entender a fala dos outros e falar. Quer parecer que existe uma prontidão biológica que capacita o bebê e a criança pequena a adquirirem linguagem auditivo oral com uma velocidade surpreendente, de modo um tanto independentemente de qualquer necessidade de treinamento formal. As habilidades comunicativas de ler e escrever, contudo, são obviamente habilidades que elas devem adquirir numa situação de aprendizagem mais formal. (BOONE. 1994, apud MORGADO, 2013, p. 23). Ao final dos dois anos a linguagem torna-se mais evidente, a criança passa a representar por meio de uso de símbolos ou palavras, objetos e diversas situações. Há diferentes funções linguísticas para mostrar o quanto a linguagem transcende os limites de uma situação: 1º Linguagem simpráxia: a linguagem não se diferencia da ação direta, limitando-se a acompanhá-la: a) petições, desejos e opiniões; b) indicações e descrições; c) perguntas relativas à atividade. 2º Linguagem planificadora: antecipa e orienta a ação: a) dentro dos limites de uma situação; b) antecipatória (transcende, efetivamente, os limites de uma situação). 14 3º Linguagem narrativa: a) ligada a uma situação presente; b) não ligada a uma situação presente (transcende efetivamente, os limites de uma situação). Assim a linguagem se torna representativa, desvinculando-se da ação; durante toda a infância a criança vai adquirindo essa capacidade; progressivamente passa a reconstituir fatos acontecidos e a antecipar os fatos não ocorridos. Fonte: pensaraeducacao.com.br 4.1 A aquisição da linguagem No desenvolvimento global da criança, a linguagem é muito importante. Estudos recentes evidenciaram que a linguagem está contida em uma capacidade comunicativa e cognitiva mais ampla e se desenvolve até os três anos de idade. Se por um lado, a linguagem constrói conceitos, por outro, condiciona a construção dos próprios conceitos. A linguagem é um meio de comunicação que proporciona conhecimentos para construir uma representação do mundo, com a mediação do adulto. A emergência da linguagem verbal, de um agir comunicacional, vai regular a atividade da criança pelo estabelecimento, por parte dos parceiros, de um acordo sobre os objetivos e as formas de ação, que podem ser então 15 planejadas e avaliadas, tornando-se mais complexos. A aquisição de um sistema lingüístico dá forma ao pensamento e reorganiza as funções psicológicas da criança, sua atenção, memória e imaginação. (VYGOTSKY, 1934, apud OLIVEIRA, 2008, p.129). O choro, o sorriso, as vocalizações são os primeiros sinais comunicativos das crianças; é quando elas entram no mundo de relações com a verbalização. Pesquisa realizada em creche sobre a comunicação não verbal evidenciou na criança, o aparecimento precoce de uma mímica de chamamento e a presença de estruturas coerentes constituídas por comportamentos comunicativos. O desenvolvimento da linguagem apoia-se em forte motivação para se comunicar verbalmente com outra pessoa, motivação parcialmente inata, mas enriquecida durante o primeiro ano de vida nas experiências interpessoais com a mãe, pai, irmãos e outros educadores. (OLIVEIRA, 2008, apud MORGADO, 2013, p. 25) A relação entre criança e adultos se constitui a partir de muitos sinais, os quais a criança irá buscar para atrair a atenção. Aos 3-4 meses a criança se comunica com o olhar, 5-6 meses, com vocalização, através do contato adulto-criança, que permanecerá também nos meses posteriores, com olhar, sorriso e contato, objetivando a comunicação. Aos 9-10 meses a introdução da linguagem ocorre com as sinalizações, com o uso de sinais gestuais e vocais, não só nos pedidos, mas também nas tentativas de dividir com o adulto eventos interessantes. Inicia- se as primeiras palavras para a comunicação. Diversos autores já sugeriram a existência de uma ligação entre o desenvolvimento gestual e o aparecimento da linguagem, analisando as relações em crianças de 9 a 13 meses, através de dois modelos: a) substituição das primeiras formas de comunicação por comportam comportamentos posteriores b) a expansão do repertório comunicativo da criança que, graças a frequentes usos dos sinais mais simples e primitivos, conseguirem utilizar os mais elaborados. 4.2 Compreendendo a linguagem A aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e social, ou seja, de um bom desenvolvimento de todas as estruturas cerebrais, de um parto sem intercorrências e da interação socialda criança desde sua concepção. Em outras palavras, apesar de longas discussões sobre o fato de a linguagem ser inata ou 16 aprendida, hoje a maior parte dos estudiosos concorda que há uma interação entre o que a criança traz, em termos biológicos, e o que vai adquirindo no meio em que ela vive. Na aquisição e no desenvolvimento da linguagem oral deve-se considerar dois aspectos: a linguagem e a cognição e a linguagem e a comunicação: Linguagem e cognição: pensa-se bastante por meio da linguagem depois que desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção podem ter ganhos qualitativos com ela. Ela também ajuda na regulação do comportamento. Na infância, podemos observar o desenvolvimento da linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em média, principalmente por meio da forma como a criança brinca. Linguagem e comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos comunicar de diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos, da fala, entre outros. A estrutura da linguagem nos permite lançar mão de recursos mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas possibilidades da comunicação. (MOUSINHO, 2008, apud MORGADO, 2013, p. 26) As habilidades de linguagem podem ser descritas em termos de forma, de conteúdo e de uso. A forma inclui a produção dos sons da fala, como se emite o fonema e também a estrutura da frase; o conteúdo, os significados, que podem estar na palavra, na frase ou no discurso mais amplo - nível semântico e o uso referem-se ao uso social da língua. Mais que emitir sons, estruturar uma frase e saber o significado tem que se adequar tudo ao contexto em que está sendo pregado - nível pragmático. É a interação entre forma, conteúdo e uso, que constitui a linguagem normal. A pragmática da linguagem é a linguagem em uso - o que as pessoas fazem com as palavras e como elas adaptam o que dizem às necessidades de diferentes ouvintes e situações. A linguagem é adaptada para diferentes situações, durante as conversas, deve haver um revezamento de falas por parte de cada falante e de cada ouvinte. A compreensão é o reconhecimento de palavras, orações e locuções, associado à capacidade de evocar os objetos, atos e relações que as palavras, locuções e orações representam. (OLIVEIRA, 2008 apud Zorzi. 2004, p. 31). O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir sons da fala é o precursor mais direto da linguagem. Os bebês logo discriminam sons são sensíveis a entonações, passam seletivamente a reagir a sons próprios de sua língua materna, enquanto esquecem os outros. Tal desenvolvimento vai se enriquecer com a formação da capacidade tanto de categorização de objetos, que será a base da denominação e da referência, como de imitação e memória, 17 necessárias para reproduzir padrões vocais e gestuais. Este trabalho formativo se prolongará por toda a vida, especialmente por meio da educação escolar e garantirá a aquisição, reprodução e transformação das significações sociais culturalmente construídos. As crianças ouvem a língua que é falada ao seu redor e organizam o que ouvem. Com um ano e dez meses as crianças são capazes de responder cumprimentos, seu nome, dar respostas motoras simples, utilizando objetos do seu meio. Com dois anos de idade, a linguagem oral já é adquirida e as crianças são capazes de entender e construir linguagens mais longas, de acordo com o seu cotidiano. Elas começam a usar as regras da gramática, unindo dois as três palavras de forma sequencial para serem entendida pelo ouvinte. Aos três anos começam as perguntas que são reformuladas quando recebem as respostas. O tipo de resposta que a criança irá produzir dependerá de seu grau de desenvolvimento: quanto mais baixo for o nível de desenvolvimento, mais limitadas serão as capacidades de respostas da criança, especialmente do ponto de vista da confiabilidade. O nível de desenvolvimento influi também no tipo de tarefa que será utilizado. Distintas tarefas significam distintas exigências para a criança. (ZORZI, 2004, apud MORGADO, 2013, p.28) As respostas dadas pelas crianças vão indicar o seu grau de desenvolvimento linguístico. Nas conversações naturais, as respostas podem ser: um olhar, pegar, dar, mover-se na direção, indicando que compreendeu a pergunta. [...] O conhecimento que a criança tem da linguagem (competência linguística) começa a aparecer pelo uso real da linguagem (desempenho linguístico). Embora muitos sustentem que a criança já está revelando competência e desempenho em linguagem, (por exemplo, seguindo instruções faladas) durante muitos meses antes da chegada das primeiras palavras, tal evento em geral é anunciado pelos linguistas (os que estudam a natureza e a estrutura da linguagem) como verdadeiro início do período linguístico do desenvolvimento. (BOONE, apud MORGADO, 2013, p.28) Antes de aprender a falar as crianças comunicam-se através de expressões faciais e gestos, isso é interpretado pelos que estão ao seu redor como uma forma de comunicação, e que logo se transformará em vocalizações verbais. 18 5 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ORAL Fonte: https:play.fisher-price.com Para compreender a aprendizagem do sistema alfabético, é preciso saber com exatidão o que é o alfabeto, como ele se tornou apto a representar a linguagem no nível dos fonemas, que capacidades são necessárias para aprender esta relação e como a representação alfabética pode ser modulada por convenções ortográficas. Aprender o alfabeto é também aprender um código de fala; portanto, para aprender a ler é crucial aprender o código alfabético e automatizar o processo de conversão grafofonológica. Para que haja compreensão do princípio alfabético da correspondência grafofonêmica, a criança necessita entender que as letras correspondem a segmentos sonoros sem significados. A linguagem escrita tem, assim, estreita relação com a oral. A criança que aprende a ler necessita resolver o problema de segmentação, isto é, descobrir que os elementos da fala contínua correspondem aos elementos discretos da escrita alfabética. Estes elementos discretos, os fonemas, existem na fala, mas em nível abstrato e estão aglutinados e integrados em uma corrente contínua de som, existindo como unidades separadas somente na mente do falante. Todos os falantes de uma língua percebem a cadeia da fala como um continuum (Esta palavra é diretamente derivada do latim continuum, que pode ser 19 traduzido literalmente como "contínuo".), não existindo, nas pistas acústicas, limites contrastivos entre as palavras e entre suas partes, os morfemas, sílabas ou, o que é mais importante num sistema alfabético, os fonemas. Assim, na aprendizagem dos princípios de um sistema alfabético, é necessário refazer a percepção que o indivíduo tem da cadeia de fala como um continuum. Para isso, é necessário que a criança desenvolva suas capacidades metalinguísticas, ou seja, que ela passe a refletir sobre sua linguagem. Esta reflexão envolve a atenção aos aspectos da linguagem (níveis fonológico, morfológico e sintático) e não apenas ao seu conteúdo (nível semântico). A capacidade metalinguística, em seu nível fonológico, faz com que a criança reflita sobre o sistema sonoro da língua, tendo consciência de frases, palavras, sílabas e fonemas como unidades menores. As habilidades linguísticas e cognitivas básicas, necessárias para que a aprendizagem possa ocorrer, são numerosas e complexas, assim sendo, um conjunto de competências e habilidades anteriores torna-se fundamental no processo de alfabetização, contribuindo para auxiliar a criança nesta nova aquisição. 5.1 Habilidades metalinguísticas e o sistema de escrita alfabética A habilidade metalinguística refere-se à capacidade de pensar a própria língua; que incluem as habilidades metalinguísticas sintática, semântica e fonológica. Os processoscognitivos envolvidos na leitura e na escrita estão relacionados ao processamento fonológico, incluindo memória e consciência fonológica. Estudo prévio constatou a existência de forte relação entre as habilidades de processamento fonológico, mais especificamente a consciência fonológica e a habilidade de leitura de palavras, com os resultados indicando o papel relevante da consciência fonológica no desempenho da leitura, particularmente na decodificação de palavras. Existe consenso entre os pesquisadores de que a habilidade fonológica é importante para a aquisição da leitura e que a maioria dos indivíduos com atraso em leitura, dislexia ou distúrbio de aprendizagem apresentam alterações nessas habilidades. A hipótese do déficit fonológico tem sido sustentada por vários trabalhos, que têm identificado atrasos quanto à sensibilidade à rima, à aliteração e à segmentação fonêmica durante o desenvolvimento da leitura. 20 5.2 Concepção e desenvolvimento da Linguagem das crianças As crianças desde que nascem dispõem de uma inteligência própria que orienta suas ações no mundo, inteligência esta que vai se modificando a partir das interações estabelecidas com o outro. Este que dá significados as suas expressões, gestos, sons, fazendo com que tenham uma participação ativa no mundo. A partir dessa interação e do diálogo com outras pessoas, a criança desenvolve uma inteligência denominada verbal, essa inteligência é guiada pela linguagem agindo sobre as ideias. A criança começa a comparar, classificar, inferir, deduzir etc., criando modalidades de memória e imaginação indicando situações de desejo e objetos do mundo externo, as crianças utilizam palavras que especifica características próprias, servindo de instrumento para o diálogo e para o pensamento discursivo. A interação da criança desde o nascimento, quando ela se comunica, dialoga com a mãe transforma-se interiormente possibilitando uma nova forma de pensar. As crianças são frequentemente colocadas em um mundo de diálogos, e a maneira como se dirigem a outras pessoas é seguindo uma estrutura de diálogos já vivenciados. Muito cedo, os bebês emitem sons articulados que lhes dão prazer e que revelam seu esforço para comunicar-se com os outros. Os adultos e crianças mais velhas interpretam essa linguagem peculiar, dando sentido a comunicação dos bebês. A construção da linguagem oral implica, portanto, na verbalização e na negociação de sentidos estabelecidos entre pessoas que buscam comunicar-se. Ao falar com os bebês, os adultos, principalmente, tendem a usar uma linguagem simples, breve e repetitiva, que facilita o desenvolvimento da linguagem e da comunicação (BRASIL, 1998, apud SANTOS 2015, P.115). A criança pequena tem dificuldades de separar o seu papel do papel de uma pessoa na qual esteja interagindo. Por exemplo, ela põe o dedo na tomada elétrica doméstica e diz não! Em tom repreensivo balança a cabeça para os lados. Podemos observar que nessa situação a criança está exercendo os dois papeis o da criança curiosa e o do adulto repreendendo-lhe. A criança com suas experiências e vivencias aprende a olhar de diferentes maneiras as situações ocorridas no cotidiano, e o outro tem papel significativo indicando certas ações e a criança deverá considera-las. Ao observarmos a interação da criança com o adulto na etapa da Educação Infantil, temos um exemplo de que a criança já aponta diferenciações de papeis colocando-se no lugar do outro. O seu pensamento torna-se mais complexo à medida que ela interage com seu meio, ampliando seus recursos de linguagem e de 21 coordenação de suas ações com as de seus parceiros. A criança vai construindo significados atribuído a uma situação sendo assim registrado, e ela vai adquirindo experiências gradativamente, por exemplo, um cheiro que esteja relacionado à comida, ou quando o cuidador se direciona a criança com a mamadeira ela coloca-se de pé no berço. Após várias experiências em diversas situações, de interação com outras pessoas as crianças vão tornando-se capazes de distanciar-se da realidade e criar símbolos para substituir outras realidades, por exemplo, utilizar uma boneca como se fosse um bebê. Tais aquisições possibilitam a criança, novas formas de trabalhar com símbolos, até que pode usar signos para representar o objeto ou a situação. O processo de construção de símbolo está intrinsicamente associado à aquisição da linguagem e o jogo de representações de situações. 5.3 O desenvolvimento da oralidade na perspectiva Vigotskiana vs. Piagetiana A linguagem oral é o sistema pelo qual o homem comunica seus sentimentos e ideias, acontece através da fala, não é um processo inato, é uma habilidade que se constrói no âmbito social, ou seja, a criança nasce com a capacidade para desenvolvê- la, e a figura materna torna-se uma das principais fontes de colaboração nesse processo. Toda comunicação se faz na interação, é impossível pensar em palavras, linguagem, sem ser na interação com o outro. As palavras possuem seus significados, não sendo o mesmo para todas as pessoas, o sentido se dá a partir da interação do sujeito como seu interlocutor nos diferentes discursos. Tratando o desenvolvimento da oralidade na perspectiva Vigotskiana, nesta perspectiva, a relação do ser humano com o mundo é estabelecida por meio da linguagem. O contato da criança com a linguagem é através da relação com o outro. Quando a mãe trata de maneira significativa os balbucios das crianças conversando com elas, ela transmite como funciona o discurso em nossa língua, e torna a criança um sujeito falante. A aquisição da língua não é um processo apenas natural, para aprender a falar é preciso compreender a linguagem, a mediação do adulto é fundamental nesse processo, é como se fosse um ponto de referência para a compreensão da linguagem. Nesse sentido pode-se dizer que o adulto é a instância da língua constituída. Dessa forma, o papel do adulto é essencial na mediação dos 22 discursos infantis, então ao conversar, o professor encontra ali um sujeito com características próprias de pensamento o professor faz-se entender e as crianças pensam o mundo com os seus recursos com o que lhes são próprios. Na concepção sociointeracionista a interação que o indivíduo estabelece com o meio, em especial com outros indivíduos em situações sócio determinadas é essencial para a formação do pensamento e da personalidade. Quando as pessoas são questionadas sobre algo se tem a necessidade de pensar a respeito, fazemos isso através de um diálogo interior, mentalmente questionamo-nos sobre o assunto. É um processo que depende de um tipo de fala, a fala interna, originada de um pensamento, o pensamento discursivo, podendo ser notado em várias situações, por exemplo: no planejamento de uma ação, quando analisamos um conceito etc. O diálogo interior é produzido através das oportunidades que o indivíduo tem de dialogar com outras pessoas que tentam coordenar suas ideias, argumentos e significações. Dessa forma, se o indivíduo não tiver oportunidade de dialogar, ele não estará preparado para pensar. Vigotski trabalha com duas funções básicas da linguagem a primeira conhecida como Intercâmbio Social: é através dos sistemas de linguagem criados e utilizados pelo homem para comunicarem-se entre seus semelhantes. Essa função de comunicação pode ser observada no comportamento dos bebês, que mesmo não falando convencionalmente e nem compreendendo o significado das palavras se expressam através de gestos e sons suas necessidades e desejos. Para que ocorra comunicação entre os indivíduos é necessário à utilização de signos para traduzir pensamentos, ideias e vontades de forma precisa. A palavra cachorro, por exemplo, tem um significado preciso, compartilhado pelos usuários da língua portuguesa. Independente dos cachorros concretos que um indivíduo conheça, oudo medo de cachorro que alguém possa ter, a palavra cachorro denomina um certo conjunto de elementos do mundo real. (OLIVEIRA, 2003, apud SANTOS 2015, p.118) É a partir desse fenômeno que ocorre a segunda função de linguagem: pensamento generalizante essa função torna a linguagem um instrumento de pensamento é através da linguagem que ocorre a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. A relação entre o pensamento e a fala passa por várias mudanças ao longo da vida do indivíduo, mesmo sendo distintos o pensamento e a fala encontram-se originando um pensamento psicológico mais sofisticado. A aquisição da 23 linguagem é um fator marcante no desenvolvimento do homem, a linguagem, capacidade tipicamente humana faz com que as crianças se utilizem de instrumentos que as auxiliam na resolução de situações difíceis planejando soluções para seus problemas, as palavras e signos são para elas um meio de contato social com outras pessoas. Tanto nas crianças como os adultos, a função primordial da fala é o contato social, a comunicação, isto quer dizer que o desenvolvimento da linguagem é impulsionado pela necessidade de comunicação. O choro, o balbucio, são formas de expressões manifestadas pelos bebês em seus primeiros meses de vida, apesar de não indicar significado específico podem ser sinal de desconforto ou prazer, essas expressões também são uma forma do bebê estabelecer contato com as pessoas de seu meio. Vigotski, chama essa fase de estágio pré-intelectual do desenvolvimento da fala. As crianças antes de começarem a falar demonstram uma inteligência prática que é a capacidade de resolução de problemas práticos em seu ambiente, com o auxílio de algum instrumento (por exemplo, ela é capaz de subir em um banquinho para alcançar um brinquedo que está no alto) essa ação realizada pela criança não é mediada pela linguagem, o autor denomina esse estágio como pré-linguístico do pensamento. Diante disso, as possibilidades de diálogo que a criança encontra em seu meio e do significado que o adulto atribui aos seus gestos e expressões elas aprendem a utilizar a linguagem como meio de comunicação e instrumento de pensamento. Nesse momento, o pensamento e a linguagem interligam-se, o pensamento passa a ser verbal e a fala racional. Há dois níveis de desenvolvimento, sendo eles zona de desenvolvimento real e zona de desenvolvimento potencial. Zona de desenvolvimento real é determinada pelas ações das crianças sem a ajuda do outro, já a zona de desenvolvimento potencial constitui-se por ações que a criança realiza com a ajuda do outro, e que depois poderá realizar sozinha. Partindo desse pressuposto, observa-se que a aquisição da linguagem oral é um processo de apropriação que se dá através da aproximação com a fala do outro, seja ela da mãe, do pai, do professor, dos amigos ou aquelas ouvidas na televisão e no rádio, é a partir dessa interação que as crianças começam a falar ampliando assim seu vocabulário. Essa ampliação da capacidade de comunicação oral acontece gradativamente, por um processo de idas e vindas e as crianças tem ritmos próprios na conquista da 24 capacidade linguística e acontece em tempos diferentes de uma criança para a outra. Ao longo da evolução do pensamento e da fala tem início uma conexão entre ambos, que depois se modifica e se desenvolve, partindo dessa perspectiva podemos observar que na complexidade do desenvolvimento da linguagem oral cabe ao professor proporcionar ao aluno um ambiente propício a fim de estimula-lo para que ele possa se expressar em suas diversas modalidades. A representação da criança em situações imaginária permite que ela dirija seu comportamento não apenas pela percepção imediata dos objetos mais também pelo significado da situação, regras e papéis representados. Mesmo as crianças não nomeando os objetos utilizados em suas ações, pode-se perceber e identificar a partir do significado que ela atribui à situação. A criança vai construindo conhecimento a partir da relação estabelecida com o mundo, envolvendo aspectos da realidade, interagindo com outras pessoas e assim modificando sua forma de agir, pensar e sentir. Em segundo lugar, vamos tratar o desenvolvimento da oralidade na perspectiva Piagetiana. Nesse sentido, a oralidade é imprescindível na vida do ser humano, é uma habilidade construída socialmente é ensaiada pelas crianças desde os primeiros momentos de suas vidas. No primeiro ano a comunicação ocorre a partir de troca de experiências interpessoais com a família e professores. A construção da linguagem oral implica, portanto, na verbalização e na negociação de sentidos estabelecidos entre pessoas que buscam comunicar-se. As crianças desde muito cedo utilizam principalmente a oralidade para comunicar-se mesmo antes de falarem fluentemente, para diversos meios: perguntar, pedir, solicitar objetos, etc., mesmo não sabendo falar entendem os adultos conversando com elas. Podemos considerar que a fala se dá a partir da interação estabelecida pelas crianças desde que nascem, as situações cotidianas em que os adultos falam com ou perto delas fazem com que as mesmas conheçam e apropriem- se do mundo discursivo e dos contextos em que a linguagem oral é produzida. Nesse sentido a capacidade de uso da língua oral que as crianças possuem ao ingressar na escola foi adquirida no espaço privado: contextos comunicativos, informais, coloquiais, familiares. Nessa perspectiva a escola em suas práticas deve ensinar aos alunos o significado e a importância da fala, os professores devem apresentar as crianças várias formas de se comunicarem, conversando com elas e levando-as a se 25 expressarem. É importante que os adultos ao falarem com as crianças tenham cuidado com a própria fala pois são para elas modelo de falantes, falar de forma clara sem imitar o jeito que elas falam, sem infantilizações. As diversas possibilidades e situações comunicativas e expressivas irá desenvolver as capacidades linguísticas das crianças. Uma das tarefas da educação infantil é ampliar, integrar e ser continente da fala das crianças em contextos comunicativos para que ela se torne competente como falante. Isso significa que o professor deve ampliar as condições da criança de manter-se no próprio texto falado. Para tanto, deve escutar a fala da criança, deixando-se envolver por ela, ressignificando-a e resgatando-a sempre que necessário (BRASIL, 1998, apud SANTOS 2015, p.120,121). Esta ampliação do repertório linguístico da criança poderá acontecer de situações como dar recados, pedir informações, buscar algum material o professor oportuniza ao aluno fazer o uso contextualizado da linguagem, com significado e de formas comuns iniciando as conversações. O professor deve possibilitar a todos os alunos a participação em momentos de fala incentivando-os a falar. A participação das crianças nestas atividades envolvendo a oralidade possibilitará o desenvolvimento de competências como, ler e escrever. A escola deve expor os alunos a uma diversidade de usos da fala, estimulando-os a falar pois é através do exercício da fala que eles irão aperfeiçoando-se e descobrindo a função social que ela possui. Por falta de técnicas e objetivos o trabalho com a oralidade torna-se rotineiro na sala de aula, sem finalidade e conteúdo. O professor tem que criar um ambiente tranquilo a fim de estimular os alunos levando-os a comunicar suas ideias. Espontaneamente as crianças utilizam de suas relações interpessoais fazendo uso das palavras em várias circunstancias percebendo com maior facilidade a função social da linguagem desenvolvendo diferentes habilidades, construindo hábitos de relacionar-se socialmente e vencendo a timidez. Em um ambiente propício as crianças terão a possibilidade de discutir, falar, manifestar-se livremente. Um dos principais objetivos de se trabalhar a oralidadeé desenvolver nas crianças as capacidades linguísticas, falando e escutando. Embora a linguagem oral esteja presente no cotidiano das instituições de educação infantil, nem sempre é tratada como algo a ser intencionalmente trabalhado com as crianças. É muito comum que se pense que o desenvolvimento da fala é natural, portanto não exige do professor uma atenção especial. (AUGUSTO, 2011, apud SANTOS 2015, p.121). 26 É importante entender a diversidade de possibilidades a serem trabalhadas com as crianças, no desenvolvimento oral delas, compreendendo como elas aprendem a se comunicar A linguagem oral é um dos aspectos fundamentais de nossa vida, pois é por meio dela que nos socializamos, construímos conhecimentos, organizamos nossos pensamentos e experiências, ingressamos no mundo. Assim, ela amplia nossas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais. (CHAER, 2012, apud SANTOS 2015, p. 122). Portanto, deve-se reconhecer que a fala é básica na vida e essencial para o ser humano. É essencial ensinar as crianças a utilizarem corretamente a linguagem em instâncias públicas fazendo com que o uso da mesma se torne cada vez mais competente. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil afirma que: O desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno depende consideravelmente de a escola construir-se num ambiente que respeite e acolha a vez e a voz, a diferença e a diversidades. Mas, sobretudo, depende de a escola ensinar-lhe os usos da língua adequados a diferentes situações comunicativas. (BRASIL, 1998, apud SANTOS 2015, p. 122) Será que as práticas educativas valorizam o ensino da oralidade fazendo com que as crianças desenvolvam suas capacidades de expressões orais? O trabalho com a oralidade em sala de aula é de extrema importância, a fala é essencial na vida do indivíduo, deve-se considerar que o desenvolvimento oral se dá a partir das vivências envolvendo o uso das práticas linguísticas, os professores de educação infantil devem planejar e em suas ações pedagógicas conter atividades cotidianas envolvendo a fala, e a reflexão sobre a língua. Dessa forma, por meio da expressão oral as crianças ampliam seus universos de comunicação, expressando opiniões e ideias, sentimentos e emoções, argumentam, comunicando-se com maior facilidade. Partindo do exposto a oralidade é uma habilidade imprescindível para o convívio social em diversas práticas, o professor deve considerar a oralidade como fator essencial fazendo com que os alunos se tornem sujeitos falantes, participantes da sociedade. Observando a curiosidade que os pais e os adultos têm sobre o que fazer com as crianças ou o que realizar junto com elas quando elas ainda não sabem falar, é como se a fala fosse a única forma de interação entre o adulto e a criança. Os pais questionam frequentemente sobre o desenvolvimento da fala de seus filhos: “Quando 27 é que ela vai começar a falar? ”, “Posso contar histórias para ele mesmo ele não sabendo falar? ”, “Mesmo ele não falando entende o que eu falo? ”. São perguntas que trazem uma equivocada hipótese de que a fala se dará naturalmente. Assim, os diversos barulhos e sons que os bebês escutam, ou quando observam alguém chamando outra pessoa pelo nome ou nomeando coisas e objetos, trazem para eles de forma significativa o papel dos sons e da oralidade em suas vidas e no mundo, contribuindo para o desenvolvimento da linguagem oral, onde poderão interagir com outras pessoas e também a composição de um vasto repertorio sonoro. O desenvolvimento oral das crianças ao contrário de que muitos pensam não ocorre naturalmente, mas sim na relação que ela estabelece com o adulto e também com outras crianças. Se imaginar um berçário com um grupo de crianças de 3 meses, se a educadora não promover o desenvolvimento dessas crianças com exercícios motores, massageando-as, elas não terão a oportunidade de virar-se, engatinhar, sentar-se, caminhar etc. Com a linguagem oral ocorre da mesma maneira, se os adultos não estimularem esse processo conversando com elas, elogiando-os, questionando-os intencionalmente sobre coisas de interesse delas, elas serão privadas de modelos de conversas de falantes e falas que são linguagens significativas na interação não apenas no ambiente escolar mas no mundo. Quando a criança está na faixa de dois anos a três anos e meio o professor pode mediar o início de um diálogo fazendo com que elas utilizem a linguagem oral de forma significativa. A situação remete-nos a observar o significado da oralidade na vida das crianças e elas acabam descobrindo que nem sempre a linguagem, a conversa é a solução para os problemas e sim um recurso valioso, podendo pensar em uma possibilidade para a resolução. Crianças com até dois anos e meio de idade utilizam-se muito de gestos e também do próprio corpo para apontarem ou fazerem entender o que desejam, essas gesticulações substituem a utilização da voz privando o desenvolvimento da linguagem. Talvez não seja uma dificuldade de falar mais sim uma acomodação, um jogo de manipulação, ou ela não está sendo estimulada oralmente, para que possa perceber o sentido da utilização da linguagem. O adulto deve observar a si mesmo, avaliando a sua interlocução, pois serve como modelo de falante para a criança. O trabalho com a oralidade assume um importante papel no processo educativo. O 28 processo educativo torna-se eficaz quando propiciam situações que os alunos possam desenvolver e explorar suas capacidades comunicativas e sociais. O professor deverá criar situações, promover atividades como conversas, discussões, poesia, dramatizações, fantoches, leitura de histórias, entrevistas, musicas, reconto de histórias, trava- língua, debates, exposições orais, de forma a possibilitar que a criança se torne mais comunicativa e tenha uma interação maior com o grupo. (CHAER, 2012, apud SANTOS 2015, p. 124) O ambiente também deve propiciar o desenvolvimento oral das crianças fazendo com que elas se comuniquem. O trabalho com a linguagem deve acontecer através de atividades significativas. 6 DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA Fonte: ceert.org.br Dentre os sistemas de comunicação desenvolvidos pelos seres humanos, temos a escrita, que é uma notação da língua falada por meio e signos gráficos. A escrita da humanidade (alfabética ou não) utilizou símbolos que foram evoluindo com o passar do tempo. De objetos com valores simbólicos, desenhos representando fatos da natureza até a escrita alfabética, o trajeto foi muito longo. Historicamente, parece que o primeiro uso da escrita surgiu da necessidade de se controlar quantidades (rebanho ou colheita), isso feito através de impressões em argila ou talhos em cajados. 29 Supomos que a necessidade de superar as limitações próprias da intercomunicação oral e a necessidade de transformar a comunicação duradoura no tempo e no espaço foram os fatores, dentre vários, que levaram à invenção dos sistemas de escrita. Entretanto, o mais importante desses fatores foi a leitura. Ela deve ter dado origem à escrita e impulsionado o seu desenvolvimento. A necessidade de explicar a mensagem contida nos desenhos gerou o primeiro ato de leitura. E foi a partir daí que o desenho deixou de ser uma simples figura gráfica para se tomar uma representação da linguagem. Desde então, com o propósito de facilitar a leitura, os sistemas de escrita foram evoluindo. O uso de símbolos, que expressavam um fato do mundo exterior, pode ser considerado como a mais antiga manifestação de escrita, produzida com a intenção de leitura. Atualmente, nas sociedades letradas, as crianças desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que as crianças descobrem o aspecto funcional da comunicação escrita,desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem. Sabe-se que para aprender a escrever a criança terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da língua — o que a escrita representa e como — e o das características da linguagem que se usa para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsecamente associada ao contato com textos diversos, para que as crianças possam constituir sua capacidade de ler, e às práticas de escrita, para que possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente. Sabe-se, também, que as hipóteses elaboradas pelas crianças em seu processo de construção de conhecimento não são idênticas em uma mesma faixa etária, porque dependem do grau de letramento de seu ambiente social, ou seja, da importância que tem a escrita no meio em que vivem e das práticas sociais de leitura e escrita que podem presenciar e participar. No processo de construção dessa aprendizagem as crianças cometem erros. Os erros, nessa perspectiva, não são vistos como faltas ou, equívocos, eles são esperados, pois se referem a um momento evolutivo no processo de aprendizagem das crianças. Eles têm um importante papel no processo de ensino, porque informam o adulto sobre o modo próprio de as crianças pensarem naquele momento. E escrever, mesmo com esses erros, permite às crianças avançarem, uma 30 vez que só escrevendo é possível enfrentar certas contradições tão presentes e tão frequentes na nossa língua. Vygotsky enfatizou o papel fundamental do professor ou mediador na condução do desenvolvimento da criança. Segundo ele, é por essa mediação que a criança é capaz de transformar a atividade externa em atividade interna e, portanto, em compreensão, ou seja, a linguagem escrita, só fará sentido para a criança, na medida em que os cuidados forem internalizados, transferidos do plano social (interacional) para o plano individual (interno). “Quando os adultos ajudam as crianças a realizarem coisas que são incapazes de conseguirem sozinhas, estão estimulando o desenvolvimento do conhecimento e da aptidão... a partir dessa perspectiva, que coloca a instrução no cerne do desenvolvimento, o potencial de aprendizagem de uma criança é revelado e, de fato, freqüentemente concretizado em interações com pessoas mais instruídas”. (Wood, 1998, apud YOTUI, 2009, p. 27). 6.1 A criança e a escrita A criança não aprende a escrita, complexo sistema de signos, através de atividades mecânicas e externas aprendidas apenas na escola. O seu domínio da escrita resulta de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas, no qual participa e atua e que leva para a sala de aula. Da mesma forma que, a criança já elaborou uma concepção acerca da escrita muito antes de receber instrução formal escolar. Desse modo, não é preciso ser pesquisador para notar que a escrita é uma atividade que atrai a atenção da criança desde muito cedo. Esse precoce interesse pelo lápis e papel fez com que, aos dois ou três anos de idade, ela queira manuseá-los, especialmente, se ver alguém, por perto, fazendo o mesmo. Se lhe der material, sem dúvida alguma, ela rabiscará descontinuamente e, se questionada, dirá que está escrevendo. “Essas primeiras manifestações gráficas como precursores da escrita. Na verdade, para esse autor tanto esses rabiscos como brincadeiras de faz de conta e os desenhos “devem ser vistos como momentos diferentes de um processo essencialmente unificado de desenvolvimento da linguagem escrita” (VYGOTSKY, 1984, apud YOTUI, 2009, p. 28). O gesto é o signo visual inicial que contém a futura escrita da criança, ou seja, o reconhecimento e a utilização do gesto como valor simbólico são um marco precursor para a compreensão dos signos escritos. Os objetos utilizados nos jogos e 31 brincadeiras de faz-de-conta das crianças adquirem vários significados de acordo com o gesto representativo. Por exemplo, os gestos da criança transformam um pedaço de pau em cavalinho, uma trouxa em bebê, tornando-se um signo e dando um significado ao objeto. E as crianças, com certa frequência dramatizam através de gestos e expressões orais aquilo que tencionavam mostrar nos desenhos. Assim, os primeiros rabiscos e desenhos são vistos como gestos, ou seja, eles constituem um suplemento e essa representação gestual. A criança faz uma linha curva fechada semelhante a um círculo e diz que desenhou uma lata cilíndrica. Ela representa o essencial, nesse caso, a forma circular. Por outro lado, quando a representação pede conceitos complexos e abstratos, ela faz simplesmente uma indicação e o seu lápis se encarrega de fixam o gesto indicativo. Esse sistema particular de linguagem, implícito no desenho e nas brincadeiras simbólicas de faz de conta que as crianças interpretam no seu dia a dia, deve contribuir para a sua percepção da escrita, uma vez que, a convivência com esse tipo de linguagem poderá levá-la a entender, mais facilmente, talvez, o simbolismo da linguagem escrita. Sabemos que, ao manusear o lápis e o papel nesse percurso, além de desenhar, a criança, muitas vezes, produz linhas sinuosas continuas ou uma série de círculos pequenos ou linhas verticais que imitam a escrita do adulto. Abordada sobre tal atividade, afirmará ser essa a sua escrita, dando-lhe até uma interpretação. É certo, porém, que nessa brincadeira de faz de conta, ela deixa para a imaginação do leitor a tarefa de encontrar para os seus rabiscos uma relação com aquilo que pretendeu representar. E, sem dúvida, o seu conceito simbólico de sinal escrito se desenvolve, na medida em que percebe a escrita como uma disposição gráfica representativa de uma palavra, uma idéia ou mensagem. O estímulo para o desenvolvimento desse conceito ocorre em ambientes onde a criança tem a oportunidade de presenciar atos de escrita ou de leitura, ou seja, pessoas lendo e escrevendo para ela ou à sua volta. Entretanto, isso não quer dizer que ele só é desenvolvido por crianças que recebam esse estímulo, uma vez que, em nossa sociedade, é muito grande a carga de anúncios e propagandas através de jornais, revistas, televisão e outdoors que levam a criança a reconhecer e ligar o sinal gráfico ao objeto representado. É fácil notar que, ao aprender o sistema alfabético, a criança tende, em vários momentos, a representar os sons da fala. Isso decorre de seu desconhecimento das 32 convenções ortográficas que regulamentam o uso alfabético dos símbolos. No entanto, no transcorrer desse processo de construção, acreditamos que, para a criança, a escrita passa a ser mais complexa do que uma simples transcrição da fala. O nosso corpo possui um número relativamente grande de dados que evidenciam isso. Nele, além de representações gráficas baseadas, provavelmente, na percepção da pronúncia de unidades da linguagem oral, é possível identificar a presença de elementos que pressupõem a incorporação de modelos convencionais escritos. É possível notar que a criança não adquire a escrita passivamente. Esta resulta de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas do qual a criança participa. Sem dúvida, as diferenças de personalidade e de classe social devem ser levadas em conta, por fazerem com que uma criança aborde escrita diferentemente de outra. Entretanto, acredita-se que todas as crianças têm condições de propor a sua própria ortografia para as palavras ou mensagens que tencionam escrever, desde que, vivam em ambientes onde a escrita seja usada significativamente e, elas sejam encorajadas a participar dessa atividade. Desse modo, sua confiança e iniciativa serão estimuladas e elas acabarão, finalmente, expressando-se através da escrita, embora muitas vezes, a sua maneira. 6.2 A aquisição da escrita no processo de Alfabetização A importância de se pensar a alfabetização, passapela necessidade de conhecer como ocorre a aquisição da linguagem escrita. Sabemos que o conhecimento e as experiências que a criança possui em relação linguagem escrita iniciam-se antes de seu ingresso na escola. Desde muito cedo, a escrita é uma atividade que a atrai, toda criança gosta de manusear lápis e papel, brincar de escrever e imitar o adulto. Assim, em seu processo de construção de conhecimento, a aquisição da escrita desempenha um papel importante no curso do desenvolvimento infantil. A aquisição da escrita se constitui num processo de mediação. É na relação com o outro, que a criança percebe a utilidade e o significado da mesma. Esse significado consiste no objetivo da escrita de dizer alguma coisa para alguém ou simplesmente ser uma forma do autor expressar seus pensamentos. Desse modo, o outro desempenha papel preponderante na construção da linguagem escrita, no 33 sentido de que essa aquisição acontece no curso de interações discursivas significativas, interativas entre os homens, como um processo sócio histórico. “... cada pessoa que entra em contato com uma criança é um professor que incessantemente lhe descreve o mundo, até o momento em que a criança é capaz de perceber o mundo tal como foi descrito”. (Castañeda, 1972, apud YOTUI, 2009, p. 32) Assim, de acordo com essa visão — que considera o contexto social e a mediação pelo outro — o processo de alfabetização não acontece de forma mecânica e inicia-se antes mesmo da escolarização. A criança passa por um processo natural de evolução da escrita. Pode-se concluir que a criança não aprende esse complexo sistema de signos, através das atividades mecânicas executadas pela escola, como se sua relação e convivência com a linguagem escrita, iniciasse apenas após o seu ingresso na vida escolar. Após ingressarem no processo formal de alfabetização, não conseguem adquirir e dominar esse processo. Essa incapacidade em compreender a linguagem ensinada pela escola, faz com que essas crianças fracassem no período de alfabetização e, depois de anos de referência nas series iniciais, são rotuladas de deficientes, como já abordamos anteriormente, sendo encaminhadas para um psicólogo e a seguir para uma escola ou classe especial, cuja, atenção é possibilitar um maior atendimento em relação aos seus distúrbios de aprendizagem. A questão do fracasso escolar sempre esteve estreitamente ligada ao processo de Ensino Especial. Esse fato ocorre, uma vez que, a escola não consegue entender porque algumas crianças não conseguem adquirir o processo da linguagem escrita e, apressadamente rotula-se como portadoras de algum tipo de deficiência, eximindo-se da responsabilidade de possibilitar a essas crianças, o sucesso na aquisição da linguagem escrita. Dessa forma, o que a escola busca na verdade, é um tipo de educação ideal, onde a aprendizagem ocorre de maneira uniforme e harmoniosa, e que vem a ser uma utopia, todavia as práticas escolares, insistem em transformar em realidade, fechando os olhos para os altos e alarmantes índices de evasão e repetência. Outro aspecto dessa questão é que, o fracasso escolar, bem como a teoria dos distúrbios de aprendizagem, sempre esteve ligado às crianças das classes populares. Esta situação sempre ocorreu, uma vez que, o fracasso escolar tornou-se um grave problema educacional, após uma pretensa democratização do ensino, que aumentou 34 consideravelmente o número de vagas nas escolas, dando espaço para o ingresso escolar de crianças provenientes da classe operária. Assim, com o ingresso das camadas populares a uma instituição que não foi criada para atender aos seus interesses, a criança dessa classe tende a fracassar, em um ensino que não valoriza a sua língua e nem o seu contexto social. Na verdade, o que sempre ocorreu é que, a escola nunca esteve preparada para ministrar um ensino que atenda as diferenças existentes na sociedade capitalista. O ensino que a escola insiste em oferecer, apesar do grande índice de fracasso escolar, e um ensino baseado na homogeneização, onde todos aprendem o mesmo conteúdo, através do mesmo processo. 6.3 Consciência fonológica A consciência fonológica é uma parte integrante da consciência metalinguística, está relacionada à habilidade de refletir e manipular os segmentos da fala, abrangendo, além da capacidade de reflexão (consultar e comparar), a capacidade de operar com rimas, aliteração, sílabas e fonemas (contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor). A consciência linguística não emerge repentinamente, desenvolve-se em um contínuo de etapas evolutivas sucessivas, não necessariamente lineares. Resulta do desenvolvimento e do amadurecimento biológico em constantes trocas com o meio ou contexto, e é favorecida pelas complexas tarefas linguísticas a que é submetido, inclusive o aprendizado da leitura. A sensibilidade fonológica é considerada como um contínuo que vai de uma sensibilidade superficial de unidades fonológicas maiores para uma sensibilidade profunda de pequenas unidades fonológicas. Esta definição inclui habilidades fonológicas que envolvem manipulação e julgamentos de qualquer unidade da estrutura de palavra. A sensibilidade fonológica é considerada, ainda, como uma habilidade única que assume formas diferentes durante seu curso de desenvolvimento. Em fases anteriores, a sensibilidade fonológica é manifestada pela detecção de unidades fonológicas maiores, tais como palavras, sílabas, aliteração e rimas. Em fases posteriores, é manifestada pela manipulação de fonemas. 35 A correlação entre a consciência fonológica e o desempenho em atividades de leitura e de escrita foi descrita em diversos estudos que veem uma relação de reciprocidade entre estas habilidades. Os autores destes estudos explicam que os estágios iniciais da consciência fonológica contribuem para o estabelecimento dos estágios iniciais do processo de leitura e estes, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento de habilidades fonológicas mais complexas. Desta forma, enquanto a consciência de alguns segmentos sonoros (suprafonêmicos) parecem se desenvolver naturalmente, a consciência fonêmica parece exigir experiência específica em atividades que possibilitam a identificação da correspondência entre os elementos fonêmicos da fala e os elementos grafêmicos da escrita. Esse processo de associação grafema-fonema exige um desenvolvimento de análise e síntese de fonemas. Para se chegar à descoberta do fonema, é necessário adquirir e desenvolver a consciência fonológica, competência metalinguística, que possibilita o acesso consciente ao nível fonológico da fala e a manipulação cognitiva das representações neste nível; o contato com a linguagem escrita possibilita o desenvolvimento desta capacidade, assim como esse desenvolvimento auxilia nos níveis mais avançados de leitura e escrita. Muitos autores têm defendido que o déficit fonológico é um dos fatores que pode explicar os problemas de leitura no distúrbio de aprendizagem. Para esses pesquisadores, as crianças com esse diagnóstico apresentam dificuldades no uso da rota sublexical para a leitura, ou seja, no uso do mecanismo de conversão grafema-fonema em atividades que exigem habilidades fonológicas, como na leitura de palavras inventadas ou na categorização de palavras quanto aos sons. Em trabalho de intervenção com escolares disléxicos, foi comprovado que a abordagem interventiva no processamento fonológico tem influência direta na melhora da habilidade de leitura. 6.4 A memória de trabalho fonológico A memória é definida como a capacidade de fixar, conservar e reproduzir, sob a forma de lembranças, impressões e sensações obtidas ou vividas pelo indivíduo anteriormente. Por meio desta capacidade, é possível adquirir, reter e recuperar informações de forma consciente ou inconsciente, quando necessário.
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