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Cirrose Hepática Mirelle Santos 2023/2 1. ANATOMIA/FISIOLOGIA · Lóbulo Hepático - Unidade funcional hepática (polígono), ou seja, menor unidade de função do fígado, composto a partir de um conjunto de hepatócitos. Entremeados por sinusóides. Veia Centrolobular (centro do polígono) Espaço Porta (vértices) Essas estruturas anatômicas se dispõem assim pois o sangue chega ao fígado através dos espaços porta (vértices do polígono), sendo 80% da veia porta e 20% da arteríola que vem da artéria hepática, passa por todos os sinusóides e alimenta os hepatócitos para eles determinarem suas funções, o sangue é encaminhado para a veia centrolobular e deságua na veia supra hepática, veia cava e circulação sanguínea. O fluxo de sangue vai então do vértice para o centro do polígono banhando todos os hepatócitos. · Células que compõem o parênquima hepático: * Hepatócitos: 60% das células do fígado e tem a função de conjugação da bilirrubina e formação da bile, produção de proteínas. Tem microvilosidades para facilitar a captação de nutrientes e substâncias. *Células endoteliais ou sinusóides hepáticos: são células que recobrem os capilares hepáticos, elas são fenestradas entre as células para facilitar a passagem do sangue e dos nutrientes em direção ao hepatócito. Há o espaço de Disse que é um espaço de tecido conjuntivo que facilita a passagem de nutrientes dos hepatócitos para o sangue e do sangue para os hepatócitos. *Células fagocitárias (células de Kupffer): correspondem a 15% das células hepáticas e estão intra sinusoidais (dentro dos sinusóides hepáticos) , mais especificamente no espaço centrolobular próximo a veia centrolobular. Essas células fagocitárias têm a função de proteção do fígado. *Células estreladas ou células ITO: estão localizadas no espaço de Disse e são 1,5 % de todas as células do fígado. Tem a função de metabolização e excreção de vitamina E. Em situações de estresse crônico repentino essas células estreladas se transformam em miofibroblastos e passam a produzir colágeno. O início da fibrose excessiva do fígado característica da cirrose começa nas células estreladas. Essa imagem mostra o lóbulo hepático do fígado, tem a tríade portal que é um vértice e tem a veia centrolobular que está entremeando os hepatócitos · Suprimento Sanguíneo A imagem mostra como o sangue é alimentado para os hepatócitos, primeiro da zona 1 periportal, depois zona 2 intermediária, zona 3 perivenular, chega a veia centrolobular, passa pela veia sublobular, veia suprahepática e veia cava inferior. Sendo o fluxo do vértice para o centro banhando todos os hepatócitos. O sistema biliar também terá atuação. A bile é produzida pelos hepatócitos e pelos canalículos biliares mas segue um fluxo contrário ao do sangue sendo do centro para a periferia. · Funções do Fígado: São funções hepáticas estabelecidas por: Fenômeno de Primeira Passagem e Hepatócito. 1) FENÔMENO DE PRIMEIRA PASSAGEM (VEIA PORTA): Pela localização anatômica do fígado, ele tem a função de “filtrar tudo” (alimentos, medicamentos..). O fígado faz metabolização, eliminação e inativação, e funciona como um soldado de frente. A) Eliminação de toxinas (inativação - P450) Converte Amônia em Ureia. A Amônia é proveniente da metabolização de proteínas animais, mas é extremamente tóxica para o corpo e principalmente SNC. Logo, o fígado converte a amônia em ureia que é menos tóxica e pode ser eliminada pela urina e bile, pois é hidrossolúvel, sem ter grandes problemas. B) Metabolismo intermediário - AA, CHO, Lipídios e Vitaminas. O fígado é o maestro do metabolismo intermediário e recebe tudo isso para auxiliar no metabolismo. - Aminoácidos para fazer novas proteínas, hormônios.. - Glicogenólise/Gliconeogênese -Ácidos graxos (TGS) Logo, por exemplo, se é necessário o corpo ter mais glicose, ele vai fazer glicogenólise e gliconeogênese para que isso ocorra, atuando como um intermediário na maioria dos processos metabólicos do nosso corpo. 2) HEPATÓCITO - Atua no metabolismo da Bilirrubina e na formação da bile (ácidos biliares + BB + pigmentos biliares). Conjuga bilirrubina indireta em direta e agrega a bilirrubina direta a ácidos e pigmentos biliares formando a bile. - Atua na produção de proteínas plasmáticas. A) Síntese de Proteínas A maior parte das proteínas encontradas no plasma são sintetizadas/produzidas no fígado, exceto imunoglobulinas que são produzidas pelos linfócitos B. Então o fígado vai produzir: albumina, fatores de coagulação, carreadores e armazenadores de Fe (transferrina/ferritina), proteína C reativa, Alfa 1 antitripsina. E, o paciente cirrótico vai ter insuficiência de todas essas funções Pois a cirrose significa insuficiência hepática crônica. · Sistema Porta No sistema de circulação normal o sangue chega oxigenado, passa pelas arteriolas, irriga os orgãos pelos capilares e sai, desoxigenado, pelas vênulas. No sistema porta, após a primeira rede de capilares tem um vaso calibroso (Veia Porta) que se conecta a uma segunda rede de capilares que são os sinusóides. Temos o sistema porta hipotalâmico-hipofisário para produzir hormônios em maior quantidade. O que importa para nós é o sistema porta hepático. A) Sistema Porta Hepático A veia porta é formada pela junção da veia mesentérica superior com a veia esplênica. A veia mesentérica superior tem uma rede de capilares que se conecta com o delgado e leva para a porta e se conecta à segunda rede de capilares (sinusóides hepáticos). 2. HIPERTENSÃO PORTAL A hipertensão portal existe quando há obstrução do seu fluxo em algum ponto. A principal causa da hipertensão portal é a cirrose. Ex: fígado cirrótico causa uma obstrução devido sua parede grossa, o que aumenta resistência, aumenta o hiperfluxo compensatório, aumenta as substâncias vasodilatadoras e aumenta a pressão no leito portal. · Obstrução (resistência aumentada). · Hiperfluxo (vasodilatação esplâncnica). Aumento do fluxo sanguíneo portal. Aumenta a liberação de substâncias vasodilatadoras como NO, prostaciclinas. · A pressão normal é 3 - 5 mmHg e a Hipertensão Portal é maior ou igual a 5mmHg. · Consequências da Hipertensão Portal: - Esplenomegalia; - Varizes de esôfago e gástricas.; - Circulação colateral (Recanalização da Veia Umbilical); - Hemorróidas; - Ascite (fenestras dos sinusóides). O fluxo normal do fígado é o hepatopetal, porém quando o paciente tem cirrose, por exemplo, o fluxo vira hepatofugal, ou seja, fugindo do fígado. O fluxo hepatofugal faz o sangue fugir do fígado pela veia esplênica causando esplenomegalia. Também pode ocorrer que essa fuga seja pela veia gástrica esquerda que irriga grande parte do esôfago causando varizes de esôfago e pelas veias gástricas curtas formando as varizes gástricas. As hemorróidas é quando volta pela mesentérica inferior. Ascite é devido a alta pressão e fluxo que passa nos sinusóides hepáticos, é filtrado pelo espaço de disse e é levado para o hepatócito apenas o plasma, por isso a grande quantidade de líquido. Por isso o primeiro evento cirrótico do paciente com ascite é hipertensão portal. Varizes: Circulação Colateral: Ascite: · Diagnóstico de Hipertensão Portal Para diagnosticar a Hipertensão Portal poderia fazer isso mas não faz pois são métodos invasivos: Logo, para diagnosticar a Hipertensão Portal é necessário observar as complicações da hipertensão portal pela anamnese e fecha diagnóstico com exames de imagem. Anamnese (Varizes de esôfago; esplenomegalia; circulação colateral abdominal; ascite) + exames de imagem = fecha o diagnóstico de hipertensão portal ➢ USG com Doppler (identifica a direção e velocidade do fluxo). Mostra: -> Fluxo Hepatofugal -> Aumento diâmetro porta -> Não identifica a pressão intra-porta (Somente com GVHP) ➢ Endoscopia digestiva alta Mostra: Varizes de esôfago / gástricas: sela diagnóstico de HP. Sempre indicado na suspeita ou após diagnóstico de Hipertensão portal. ➢ Rnm de abdome (delinear osistema porta/ acurácia para trombose da veia porta) Obs: varizes de esôfago não precisam de exames complementares. · Etiologia da Hipertensão Portal Divisão didática de acordo com local de obstrução, nos ajuda a identificar as possíveis complicações ▪ 1) Pré- Hepática ▪ 2) Intra-hepática ( 95% dos casos) - Pré-sinusoidal - Pós-sinusoidal ▪ 3) Pós hepática * Cirrose hepática é causa mais comum de hipertensão portal . Se desenvolve em mais de 60% dos cirróticos . Acometimento intra-hepático e é tanto pré quanto pós sinusoidal (manifestações gerais da HP). Onde é a obstrução anatomicamente nos leva a pensar nas manifestações clínicas: * Pré- Sinusoidal geralmente não causa ascite porque ascite é causada nos sinusóides, geralmente causa esplenomegalia, varizes de esôfago, HDA. *Pós- Sinusoidal predomínio de ascite volumosa. *Sinusoidal (Cirrose): tudo. Ascite + esplenomegalia, varizes de esôfago, circulação colateral. 3. CIRROSE HEPÁTICA Conceito: Lesão irreversível. Resposta do parênquima hepático a qualquer estímulo lesivo PERSISTENTE, gerando inflamação e necrose hepatocitária. Fisiologia: A Fisiopatologia da cirrose é demarcada pelo rearranjo da arquitetura lobular e é um ciclo vicioso. Quando ocorrem estímulos lesivos, o fígado irá se regenerar. Porém, o fígado é o órgão que mais se regenera do nosso corpo e, por sucessivas regenerações, isso causa fibrose. Para ter cirrose na biópsia precisa ter duas coisas: fibrose hepática e nódulo de regeneração. A fibrose destrói a arquitetura lobular e causa os nódulos de regeneração que são justamente o rearranjo da arquitetura lobular. As células ITO/ estreladas produzem mais colágeno e produzem miofibroblastos, que se contraem em volta dos sinusóides e aumentam a pressão capilar, aumentando a pressão portal. A menor captação de substâncias pelos hepatócitos faz com que aumente a pressão portal e o fígado fique disfuncionante. Macroscopicamente dá para ver os nódulos de regeneração, o lobo direito fica menor, lobo esquerdo e lobo caudado ficam maiores e as bordas do fígado ficam rombas. TC: fígado cirrótico com textura heterogênea, líquido ascítico em volta, lobo direito diminuído e lobo esquerdo aumentado. · Consequências da Cirrose Hepática ➢ Insuficiência hepática Consequência das traves fibróticas e nódulos de regeneração que desorganizam a arquitetura hepática dos lóbulos hepáticos e hepatócitos ( hepatócitos desfuncionantes) ➢ Hipertensão portal Consequência da fibrose que aumenta a pressão nos sinusóides hepáticos (obliteração das fenestras) – Manifestações pré e pós sinusoidal. Etiologia: Alcoolismo, Hepatites Crônicas, MALFD (MALFD = NASH = Esteatose Hepática) e Outras Causas · Cirrose Hepática - Etiologia Alcóolica (DHA) ➢Fatores de risco : 1) Quantidade e duração de ingestão alcoólica - Limite para desenvolvimento para DHA em 10 anos: - Homem: 40-80g/dia - Mulher: 20-40g/dia (* teor alcoólico) 2) Sexo -Mulheres mais suscetíveis, maiores níveis sanguíneos de etanol comparado ao homem (porém a dependência maior é em homens DHA 3:1 H:M) 3) Fatores nutricionais (Obesidade/NASH associado) 4) Associação com hepatite B e C (10 x maior) *Normal, Esteatose Alcoólica e Hepatite Alcoólica nesse caso, reverte tudo menos cirrose. · Cirrose Hepática - Hepatites Virais Vai descobrir por exames de antígenos. · Cirrose Hepática - Anamnese e Exame Físico - Hipertensão portal - Insuficiência hepatocelular ▪ Fases iniciais : Oligoassintomáticos – só sente fadiga. ▪ Fase compensada: Insuficiência hepatocelular: Sinais relacionados aos distúrbios endócrinos do complexo hiperestrogenismo/ Hipoandrogenismo. - Hiperestrogenismo: Eritema palmar e telangiectasias (aranhas vasculares) - Hipoandrogenismo : Redução massa muscular - Hipo e hiper : Ginecomastia - Sinais de alcoolismo ▪ Fase avançada : Insuf. Hepatocelular / hipertensão portal - Varizes esôfago/ HDA/ encefalopatia hepática/ Ascite/ circulação colateral.... · Alterações Laboratoriais da Cirrose Hepática: IMPORTANTE! 1. Lesão Hepática: - Transaminases TGO/TGP representam lesão hepatocelular, dos hepatócitos, mas não tem relação boa com grau de lesão e por isso não estimam a gravidade, por isso não se usa muito para avaliar a cirrose. -Fosfatases e Gama GT se encontram em lesão de canalículos biliares e estão relacionados à cirrose por lesão colestática, mas tirando esse caso não estão muito associadas a cirrose. 2. Função Hepática: Vão tá alterados na cirrose pois agem nos hepatócitos e a cirrose nada mais é do que uma insuficiência hepática crônica. - Albumina: Diminui. Hipoalbuminemia. -Bilirrubina: aumento de bilirrubina total, principalmente a direta, mas a indireta também aumenta. - Fatores de Coagulação (Tempo de ação da protrombina - Tap): descreve como está a coagulação do paciente. Diminui a produção das proteínas da cascata de coagulação, o tempo de sangramento aumenta e logo o tempo de ação da protrombina fica alargado. 3. Alterações secundárias à hipertensão portal: Destruição das células do hemograma pelo baço. A plaquetopenia é o primeiro achado de cirrose. A anemia do cirrotico não é só por isso e sim multifatorial. · Exames Complementares O mais importante é lembrar que fibrose e nódulos de regeneração indicam cirrose. · Diagnóstico Dado pelo conjunto de alterações abaixo: · Estadiamento da Função Hepática B: Bilirrubina E: Encefalopatias A: Ascite T: TAP curto A: Albumina