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Autoras: Profa. Maria Luiza Mazzieri Profa. Camila Luzeiro Profa. Helga Harumi Kabutomori Rosa Colaboradoras: Profa. Renata Guzzo Souza Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Tópicos de Atuação Profissional – Enfermagem Professoras conteudistas: Maria Luiza Mazzieri / Camila Luzeiro / Helga Harumi Kabutomori Rosa Maria Luiza Mazzieri Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Guarulhos (1994) e especialização em Administração Hospitalar pela Universidade de Ribeirão Preto (1995), Enfermagem em Cardiologia no Instituto de Cardiologia (InCor) pela Universidade de São Paulo (1996) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Cidade de São Paulo (2009). É mestre em Ciências da Saúde na área de Concentração em Enfermagem pela Universidade Guarulhos (2003). Profissional com experiência na área clínica e educacional, com atividade clínica na terapia intensiva de adultos em hospitais públicos. Possui vivência acadêmica em escolas técnicas e universidade, atuando na coordenação e na área pedagógica. Também é professora adjunta da Universidade Paulista no curso de Enfermagem. Atualmente, estuda as temáticas de instrumentos básicos de enfermagem e educação em saúde. Camila Luzeiro Graduou-se como enfermeira pela Universidade Paulista (2010) e é mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (2017), é especialista em Enfermagem do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo (2012). Atuou como enfermeira assistencial e, atualmente, é professora adjunta da Universidade Paulista, lecionando disciplinas de Saúde do Adulto, Atenção à Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco e Prevenção e Controle das Infecções em Instituições de Saúde. Helga Harumi Kabutomori Rosa Graduou-se em Enfermagem pela Universidade Paulista (2013) e é mestre em Ciência e Tecnologia da Saúde pela Universidade de Mogi das Cruzes (2018). Atuou como professora do curso técnico Gerência em saúde pelo Programa do Governo Pronatec na Universidade Paulista, como coordenadora do curso Técnico de Enfermagem (Pronatec) pela Universidade Paulista e atualmente é professora adjunta da mesma universidade no curso de Enfermagem, lecionando disciplinas de Políticas de Saúde, Atenção à Saúde da Família e Pessoa em Situação de Risco, Prevenção e Controle das Infecções em Instituições de Saúde, Ética Aplicada a Enfermagem, Bioestatística Aplicada a Enfermagem e Auditoria, entre outras. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M477t Mazzieri, Maria Luiza. Tópicos de Atuação Profissional – Enfermagem / Maria Luiza Mazzieri et al. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Política nacional de atenção básica. 2. Política nacional de saúde. 3. Política nacional de atenção hospitalar. I. Luzeiro, Camila. II. Rosa, Helga Harumi Kabutomori. III. Título. CDU 616.08 W505.39 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Jaci Albuquerque Sumário Tópicos de Atuação Profissional - Enfermagem APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB) ..............................................................................9 1.1 Novas diretrizes da PNAB ................................................................................................................. 13 2 ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA CRÔNICA ....................................... 15 2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica .............. 20 2.1.1 Novas diretrizes para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica ............................ 24 2.2 Cuidado para a pessoa com doença crônica: diabetes melito ........................................... 27 3 CONTROLE DA TUBERCULOSE NO BRASIL ............................................................................................ 37 4 ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: SÍFILIS ..................................................................................................... 48 4.1 Transmissão da sífilis ........................................................................................................................... 48 4.2 Manifestações clínicas da sífilis ...................................................................................................... 49 4.2.1 Sífilis primária .......................................................................................................................................... 49 4.2.2 Sífilis secundária ..................................................................................................................................... 49 4.2.3 Sífilis latente ............................................................................................................................................. 50 4.2.4 Sífilis terciária ........................................................................................................................................... 50 4.2.5 Sífilis em gestante e a sífilis congênita.......................................................................................... 50 4.3 Diagnóstico da sífilis ........................................................................................................................... 50 4.4 Tratamento e monitoramento da sífilis ....................................................................................... 52 4.5 Prevenção e redução da sífilis ......................................................................................................... 53 Unidade II 5 ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA ........................................................................................................ 63 5.1 Conceitos e atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família ...................................... 63 5.2 Composição, territorialização e atividades básicas da equipe de Estratégia Saúde da Família .................................................................................................................... 64 5.3 Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) .............................................................................. 67 5.4 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) ....................................................................................... 68 6 SAÚDE MENTAL ................................................................................................................................................ 68 6.1 Estratégia de redução de danos ..................................................................................................... 71 6.2 Síndrome de burnout .........................................................................................................................73 6.3 Suicídio e depressão na contemporaneidade ........................................................................... 75 7 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE ................................................................................................................ 79 7.1 Política nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista .............................................................................................................. 79 7.1.1 Histórico ..................................................................................................................................................... 79 7.1.2 Lei n. 12.764 .............................................................................................................................................. 81 7.2 Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa .............................................................................. 83 7.3 Política Nacional de Saúde Integral da População Negra ................................................... 93 7.3.1 A situação de saúde da população negra no Brasil e seus determinantes sociais ...... 94 7.4 Política Nacional de Saúde Integral da População Indígena .............................................. 98 8 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO HOSPITALAR ..............................................................................108 7 APRESENTAÇÃO O presente livro-texto tem como meta a imersão do leitor na sustentação teórica para a realização da leitura, interpretação e conhecimento de temas vinculados ao conhecimento geral, específico e contemporâneo na área da saúde. Além disso, almeja suscitar a reflexão sobre a importância da construção do conhecimento de temas contemporâneos da área com a análise crítica das informações, projetando ações de intervenção e solução de situações-problemas. A disciplina trabalha leitura, interpretação e conhecimento de temas vinculados ao conhecimento geral, específico e contemporâneo do egresso, envolvendo as políticas públicas, educação, responsabilidade social no setor público e privado, relações de trabalho, relações de gênero e tecnologia de informação e comunicação, objetivando capacitar o aluno na construção do conhecimento de temas contemporâneos da área por meio de uma análise crítica das informações, projetando ainda ações de intervenção e solução de situações-problema sobre a atuação profissional pautada na bioética. Esperamos que, ao final de nosso percurso de ensino/aprendizagem, seja compreensível a relação indissociável entre conhecimento específico e atuação ética, para uma prática cada vez mais consciente e efetiva de cuidado com o outro. Os objetivos da disciplina são: • ler e interpretar textos; • analisar e criticar informações; • conhecer temas vinculados ao conhecimento geral, específico e contemporâneo da área; • projetar ações de intervenção; • propor soluções para situações-problema; • construir perspectivas integradoras e interprofissionais; • refletir sobre a atuação profissional com base na bioética. 8 INTRODUÇÃO Quando pensamos no profissional dessa área, muitas vezes pensamos no quanto ele necessita de um olhar ético e globalizado nas suas ações, pois seu campo está comprometido com a saúde e com a qualidade de vida da pessoa, da família e da coletividade. Esse profissional atua na promoção, na prevenção, na recuperação e na reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. Dentro de suas atribuições, participa como integrante da equipe de saúde, promovendo ações que visem a satisfazer as necessidades de saúde da população. Também participa da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e políticas públicas ambientais que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, à integralidade da assistência, à resolutividade, à preservação da autonomia das pessoas, à participação da comunidade, à hierarquização e à descentralização político-administrativa dos serviços de saúde e respeito à vida, à dignidade e aos direitos humanos em todas as suas dimensões. Exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano em sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética, atuando nos cuidados à pessoa, à família e à comunidade. Neste livro-texto abordaremos sua atuação na Atenção Básica/Saúde da Família, nas ações voltadas às doenças crônico degenerativas (diabetes melito e hipertensão arterial sistêmica), às doenças infecciosas (tuberculose e sífilis), aos problemas de saúde mentais (síndrome de burnout, depressão e suicídio), além de seu envolvimento direto nas ações de políticas públicas de saúde voltadas à redução de danos, à saúde do idoso, aos indígenas, aos negros, aos indivíduos classificados no espectro da síndrome do autismo. Isso tudo junto a uma equipe multidisciplinar, nos aspectos assistenciais e gerenciais, avançando cada vez mais na articulação multidisciplinar das equipes de saúde e viabilizando a gestão administrativa das unidades de serviços de saúde em que atuam. 9 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Unidade I 1 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA (PNAB) Na Atenção Básica (AB), a universalidade é o eixo estrutural da atenção à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Considerando a pessoa em sua singularidade social e cultural, proporciona a ela uma atenção integral, além de incorporar as ações de vigilância em saúde, num processo contínuo e sistemático de coleta, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde. Isso se dá visando ao planejamento e à implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população, além da prevenção e da redução de riscos, agravos e doenças (BRASIL, 2011b; BRASIL, 2017a). A Atenção Básica é caracterizada por ser a porta de entrada preferencial do SUS, relacionando-se ao cuidado das pessoas e a um papel estratégico na rede de atenção à saúde (servindo como base para a integralidade da saúde). Dentro das estratégias do cuidar, o Programa Saúde da Família, criado em 1994, amplia a cobertura de saúde, sendo voltado à população em situação social mais vulnerável e, ao longo dos anos, organizando o processo de trabalho com equipe multiprofissional, base territorial e responsabilidade sanitária. Ampliando suas ações de saúde para a população e com a Rede de Atenção à Saúde (RAS), melhorou os índices de resolutividade, cuidado clínico, cuidado terapêutico e diagnóstico necessários para a Atenção Básica. Diante de todas as necessidades, percebeu-se a indispensabilidade de políticas públicas voltadas a essa situação de saúde e, em 2006, foi promulgada a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), inserida no contexto do Pacto da Saúde. Ela ainda teve uma segunda edição em 2011, com a Portaria n. 2.488 (BRASIL, 2011b), estabelecendo diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e para o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). Sua terceira edição data de 2017 (BRASIL, 2011b). A PNAB é resultado da experiência e da consolidação do SUS com movimentos sociais populares, trabalhadores e gestores das três esferas de governo. Essa portaria, conforme normatização vigente no SUS, define a organização em Redes de Atenção à Saúde como uma estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, além de destacar a Atenção Básica como o primeiro ponto de atenção e a porta de entrada preferencial do SUS, devendo ordenar os fluxos e contrafluxos de pessoas, produtos e informações em todos os pontos de atenção à saúde (BRASIL, 2011b). O Decreto n. 7.508, de 28 de julho de 2011, que regulamenta a Lei n. 8.080/90, define que “o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada” (BRASIL, 2011b). 10 Unidade I A RAS se caracteriza por apresentar arranjos quecontribuem para a atenção continuada das necessidades de serviços de saúde integral e com qualidade à população assistida. A atenção primária é primordial para a continuidade da assistência à saúde dos que necessitam de um cuidado maior. Por exemplo, os casos de pacientes crônicos não podem simplesmente ser resolvidos apenas por um sistema de saúde fragmentado por meio de equipamentos de pronto atendimento ambulatorial e hospitalar, demandando também ações de cuidado (como hospitais, pronto atendimento e serviço de atendimento móvel de urgência – Samu), promoção da saúde (campanhas de educação em saúde, ESF e Unidades Básicas de Saúde – UBS), acompanhamento (UBS e ESF) e continuidade (hospitais, melhor em casa) no atendimento de saúde prestado à população (COSTA; RAMIRES, 2014). Figura 1 – Exemplo de pontos de atenção secundários e terciários que compõem uma Rede de Atenção à Saúde Tendo em vista uma melhor articulação, a PNAB rege princípios e diretrizes que caracterizam a relação de serviços ofertados na Atenção Básica e são orientadores para a sua organização nos municípios, conforme descrito a seguir. 11 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Quadro 1 – Princípios do SUS na Atenção Básica Universalidade Possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados como a porta de entrada e preferencial da RAS (primeiro contato), acolhendo as pessoas e promovendo a vinculação e a corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde. Equidade Ofertar o cuidado reconhecendo as diferenças nas condições de vida e de saúde de acordo com as necessidades de cada pessoa. Considerar que o direito à saúde passa pelas diferenciações sociais e deve atender à diversidade, ficando proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, cor, crença, nacionalidade, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade e limitação física, intelectual ou funcional, entre outras. Integralidade É o conjunto de serviços executados pela equipe de saúde que atendem às necessidades da população adscrita nas necessidades biológicas, psicológicas, ambientais e sociais causadoras das doenças, da promoção e manutenção da saúde, da prevenção de doenças e agravos, da cura, da reabilitação, da redução de danos e dos cuidados paliativos. Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a). As diretrizes que regem o SUS, a serem operacionalizadas na Atenção Básica, são descritas a seguir. Quadro 2 – Diretrizes da Atenção Básica Regionalização e hierarquização É a Atenção Básica como ponto de comunicação entre a RAS, considerando-se regiões de saúde um recorte espacial estratégico para fins de planejamento, organização e gestão de redes de ações e serviços de saúde. Territorialização e adstrição Permite a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e interssetoriais com foco em um território específico, obtendo impacto na situação, nos condicionantes e nos determinantes da saúde das pessoas e das coletividades que constituem aquele espaço e estão, portanto, adstritos a ele. População adscrita Trata-se da população que está presente no território da UBS. O objetivo é estimular o desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado, a fim de se tornar referência para o seu cuidado. Cuidado centrado na pessoa Aponta para o desenvolvimento de ações de cuidado de forma singularizada que auxilie as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, as aptidões, as competências e a confiança necessária para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado de saúde de forma mais efetiva. Resolutividade Refere-se à importância de a Atenção Básica ser resolutiva utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, centrada na pessoa e na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e dos grupos sociais. Longitudinalidade do cuidado Pressupõe a continuidade da relação de cuidado, com construção de vínculo e a responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo permanente e consistente, acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida das pessoas, evitando, assim, a perda de referências. Coordenação do cuidado Trata-se de elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS articulando também as outras estruturas das redes de saúde e interssetoriais, públicas, comunitárias e sociais. Ordenação das redes Significa reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando tais necessidades em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que o planejamento das ações, assim como a programação dos serviços de saúde, parta das necessidades de saúde das pessoas. Participação da comunidade Refere-se a estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território. Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a). 12 Unidade I Modelo de saúde Sistema de governança Pontos de atenção terciários Pontos de atenção secundários Sistema de apoio Centro comunicador (APS) Sistema logístico População RAS Figura 2 – Elementos constitutivos da Rede de Atenção à Saúde As ações da equipe de saúde devem buscar a integralidade da atenção de modo a superar a assistência fragmentada. É essencial uma abordagem integral ao usuário, compreendendo-o como ser singular em suas diferentes dimensões biológicas, psicológicas, econômicas, sociais e culturais, além de todos os pontos de atenção para dar vazão às suas necessidades de saúde, e essas ações empreendidas devem ser de fato resolutivas (BRASIL, 2011b; COSTA; RAMIRES, 2014). Entre as atribuições dos profissionais das equipes de atenção básica, as atividades devem seguir as referidas disposições legais que regulamentam o exercício de cada uma das profissões. Assim, trataremos agora das atividades específicas do enfermeiro, destacando a seguir suas obrigações (BRASIL, 2017a). • Realizar atenção à saúde aos indivíduos e famílias vinculadas às equipes e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas e associações, entre outras), em todos os ciclos de vida. • Realizar consulta de enfermagem, procedimentos, solicitar exames complementares, prescrever medicações conforme protocolos, diretrizes clínicas e terapêuticas ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão. • Realizar e/ou supervisionar acolhimento com escuta qualificada e classificação de risco de acordo com protocolos estabelecidos. • Realizar estratificação de risco e elaborar, como os demais membros da equipe, um plano de cuidados para as pessoas que possuem condições crônicas no território. 13 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM • Realizar atividades em grupo e encaminhar, quando necessário, os usuários a outros serviços, conforme fluxo estabelecido pela rede local. • Planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvidas por técnicos, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate às endemias (ACE) em conjunto com os outros membros da equipe. • Supervisionar as ações de técnico, auxiliar de enfermagem e ACS. • Implementar e manter atualizados rotinas, protocolos e fluxos relacionados a sua área de competência na UBS. • Exercer outras atribuições, conforme legislação profissional,que sejam de responsabilidade na sua área de atuação. 1.1 Novas diretrizes da PNAB A Portaria n. 2.436 (BRASIL, 2017a), do Ministério da Saúde, aprovou a PNAB no Brasil, que revisou as diretrizes para a organização da Atenção Básica no âmbito do SUS. Essa portaria define a Atenção Básica, ou Atenção Primária em Saúde, como um conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem a promoção, a prevenção, a proteção, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos, os cuidados paliativos e a vigilância em saúde. Esse conjunto de ações deve ser desenvolvido por meio de práticas de cuidado integrado e de gestão qualificada, realizadas por uma equipe multiprofissional e dirigidas à população em território definido (BRASIL, 2017a). Com as novas diretrizes, a PNAB permite que o gestor trabalhe a sua equipe de acordo com as suas especificidades e necessidades. Ela também traz novidades em relação ao financiamento da Atenção Básica com o reconhecimento de novos modelos de atenção e consequente ampliação do número de equipes que receberão recursos do Ministério da Saúde. Essa regra permite ao gestor municipal compor suas equipes de Atenção Básica de acordo com as características e as necessidades locais, com a presença de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e/ou técnicos de enfermagem (BRASIL, 2017a). Além disso, a portaria define a organização em Redes de Atenção à Saúde como a estratégia para o cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, com destaque para a Atenção Básica como o primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema de saúde no Brasil (BRASIL, 2017a). Para atualização dos referenciais da PNAB, as principais mudanças dos princípios e diretrizes que regem o SUS a serem operacionalizados na Atenção Básica estão descritas no quadro a seguir (BRASIL, 2017a). 14 Unidade I Quadro 3 – Principais mudanças na Política Nacional da Atenção Básica (PNAB 2011/2017) Principais mudanças PNAB 2011 PNAB 2017 Integração, Atenção Básica e vigilância ACE não compunha ESF, não tendo atribuições a eles, processo de trabalho e território diferentes e sem atribuições relacionadas à Vigilância. ACE pode ser membro da ESF/EAB, o território é considerado único e há o planejamento integrado das ações e a incorporação das atribuições do ACE conforme Lei 11.350. Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) Nasf era somente ESF e tinha atuação no matriciamento. Nasf‐AB pode se vincular às ESF e EAB, complementar as ações das equipes e tem maior resolutividade. Oferta de serviços e ações essenciais e ampliados da atenção básica Processo iniciado pelo Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da qualidade de Atenção Básica (PMAQ). Criação de uma relação de ações e serviços que devem ser disponibilizados pelas UBS, ampliando o atendimento. Territorialização/vínculo Usuário só podia se vincular a uma UBS. Usuário pode se vincular a mais de uma UBS, através de negociação entre gestão e equipes mantendo a informação com a equipe de referência. Regulação Aparece de forma superficial. Atribui aos membros da equipe a função de participar e contribuir com os processos de regulação do acesso a partir da AB, sinaliza o Telessaúde e a utilização de protocolos como ferramentas de apoio e aperfeiçoamento do processo de regulação. Saúde bucal Equipe de Saúde Bucal (ESB) vinculada somente às equipes de saúde da família ou equipes parametrizadas pelo PMAQ. Possibilidade de comporem as equipes de Saúde da Família e Atenção Básica. Formação e educação na saúde Educação Permanente não versava sobre formação em saúde (ensino na saúde). Reforça o papel da UBS como espaço de formação da força de trabalho para a Atenção Básica (formação técnica, graduação e residência em saúde). Incorpora a temática do ensino na saúde (integração, ensino, serviço), destacando o papel da AB como locus de formação na graduação e na residência, de pesquisa e extensão. Pontos de apoio Não reconhecia os pontos de apoio. Reconhece os pontos de apoio como estrutura física que compõe a AB/SUS para atendimento às populações dispersas e destaca que os pontos de apoio devem respeitar as normas gerais de segurança sanitária e acolhimento humanizado para a população. Credenciamento de equipes Não tratava do credenciamento das equipes. Incluiu-se no regramento de credenciamento o prazo de 4 meses para implantação, após publicação no DOU, sob pena de descredenciamento Composição das equipes: equipe de Saúde da Família (eSF) e equipe de Atenção Básica (eAB) eSF mínima com médico, enfermeiro, técnico/auxiliar de enfermagem, ACS, complementar com saúde bucal e não havia padrão mínimo, o município podia definir composição e carga horária. eSF mínima com médico, enfermeiro, técnico/auxiliar de enfermagem, ACS. eSF complementar com saúde bucal, ACE, carga horária mínima semanal definida (40 h), assim como a composição das equipes (máximo de três profissionais por categoria pelo mínimo de 10 h). Gerente de Atenção Básica Não era recomendado. Reconhece o papel do gerente de UBS a depender da necessidade local. Necessita ter nível superior, preferencialmente na área da saúde, e, caso seja enfermeiro, a UBS deverá ter outro enfermeiro para as ações de cunho clínico. Equipes de Atenção Básica (eAB) Não eram reconhecidas e não recebiam custeio estadual ou federal. É reconhecida, mas dispõe de um caráter transitório (em direção à eSF) e seu financiamento tem um valor inferior ao das eSF. Adaptado de: Brasil (2011b); Brasil (2017a). 15 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM 2 ESTRATÉGIAS PARA O CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA CRÔNICA Devido aos processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, a urbanização e o crescimento econômico e social contribuem para o maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas na população. As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são, globalmente, as principais causas de mortalidade. As doenças cardiovasculares, os cânceres, as doenças respiratórias crônicas e o diabetes melito configuram como as principais doenças crônicas não transmissíveis, tendo sido responsáveis, em 2015, por 51,6% do total de óbitos na população de 30 anos a 69 anos no Brasil (BRASIL, 2011c). No Brasil, as DCNT constituem o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 72% das causas de mortes. Assim como no cenário mundial, no país as DCNT atingem fortemente as camadas mais pobres da população e os grupos vulneráveis (BRASIL, 2011c). Suas principais causas incluem fatores de risco modificáveis, como tabagismo, consumo nocivo de bebida alcoólica, inatividade física e alimentação inadequada. Em termos de mortes atribuíveis às DCNT, os grandes fatores de risco globalmente conhecidos são: hipertensão (responsável por 13% das mortes no mundo), tabagismo (9%), hiperglicemia (6%), inatividade física (6%), sobrepeso e obesidade (5%). Vale destacar que as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas estão diminuindo, possivelmente como resultado do controle do tabagismo e do maior acesso à Atenção Primária, além da melhoria da assistência e da redução do tabagismo nas últimas duas décadas, que passou de 34,8% (1989) para 15,1% (BRASIL, 2011a; BRASIL, 2014). Entretanto, as taxas de mortalidade por diabetes e câncer aumentaram nesse mesmo período (BRASIL, 2011c). Saiba mais Acessando o documento a seguir, você pode conhecer melhor o plano de ações que o Ministério da Saúde traçou para as DCNT. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância de Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil: 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf. Acesso em: 20 nov. 2019.No país, os fatores de risco para as DCNT são monitorados por meio de diferentes inquéritos de saúde, com destaque para o monitoramento realizado pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Já a vigilância epidemiológica de DCNT é responsabilidade da Coordenação-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção da Saúde, pertencente à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Essa vigilância se configura como 16 Unidade I um conjunto de ações e processos que permitem conhecer a ocorrência, a magnitude e a distribuição das DCNT e de seus principais fatores de risco no país, bem como identificar seus determinantes e condicionantes econômicos, sociais e ambientais. Além disso, uma das ações da vigilância de DCNT é caracterizar a sua tendência temporal: por isso, tais ações são fundamentais para o planejamento, o monitoramento e a avaliação das ações de cuidado integral e das políticas públicas de prevenção e controle das DCNT no Brasil (BRASIL, 2014). Os três componentes essenciais da vigilância de DCNT são: • monitoramento dos fatores de risco; • monitoramento da morbidade e mortalidade das DCNT; • monitoramento e avaliação das ações de assistência e promoção da saúde. O instrumento norteador da Vigilância de DCNT é o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no Brasil: 2011-2022 (BRASIL, 2011c). Esse documento apresenta a vigilância de DCNT como um de seus eixos, sendo também detalhados os indicadores, as metas, os objetivos e as ações a serem desenvolvidas por essa vigilância. Entre as metas, podemos destacar: • redução de mortalidade prematura (de 30 anos a 69 anos) por DCNT em 2% ao ano; • redução da prevalência de tabagismo em 30%; • aumento dos índices de mamografia em mulheres de 50 anos a 69 anos para 70% em dois anos; • aumento dos índices de papanicolau em mulheres de 25 anos a 64 anos de idade para 85% em 3 anos; • aumento da prevalência da prática de atividade física no tempo livre em 10%; • contenção do crescimento da obesidade em adultos; • aumento do consumo recomendado de frutas e hortaliças em 10%; • redução do consumo abusivo de bebidas alcoólicas em 10%. Dessas metas, cinco estão sendo atingidas, como a redução da mortalidade prematura (30 anos a 69 anos) por DCNT, a redução da prevalência de tabagismo, o aumento do índice de mamografia em mulheres de 50 anos a 69 anos nos últimos dois anos, a elevação da prevalência da prática de atividade física no tempo livre e a ampliação do consumo recomendado de frutas e hortaliças (BRASIL, 2011c). 17 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM O plano aborda os quatro principais grupos de doenças crônicas não transmissíveis (circulatórias, câncer, respiratórias crônicas e diabetes) e seus fatores de risco em comum modificáveis (tabagismo, álcool, inatividade física, alimentação não saudável e obesidade). Define ainda diretrizes e ações em três eixos: • vigilância, informação, avaliação e monitoramento; • promoção da saúde; • cuidado integral. Quadro 4 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo vigilância, informação, avaliação e monitoramento Eixo Diretrizes Vigilância, informação, avaliação e monitoramento - Monitorar os fatores de risco. – Monitorar a morbidade e mortalidade específicas das doenças. – Avaliar as respostas dos sistemas de saúde (que também incluem gestão, políticas, planos, infraestrutura, recursos humanos e acesso a serviços de saúde essenciais, inclusive a medicamentos). Principais ações - Realizar, junto com o IBGE, a Pesquisa Nacional de Saúde, abordando temas como acesso aos serviços e sua utilização, morbidade, fatores de risco e proteção de doenças crônicas, saúde de idosos, mulheres e crianças, além de fazer medições antropométricas, de pressão arterial e coleta de material biológico. – Elaborar estudos sobre DCNT com análises de morbimortalidade e inquéritos com foco em desigualdades em saúde (populações vulneráveis como indígenas e quilombolas), intervenções em saúde e custos de DCNT. – Criar um portal na internet para monitorar e avaliar a implantação do Plano Nacional de Enfrentamento das DCNT, bem como desenvolver um sistema de gestão em DCNT. Fonte: Brasil (2011c). Quadro 5 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo promoção da saúde Eixo Diretrizes Promoção da saúde Compreendendo a importância das parcerias para superar os fatores determinantes do processo saúde-doença, foram definidas diferentes ações envolvendo diversos ministérios (Educação, Cidades, Esporte, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social, Meio Ambiente, Agricultura/Embrapa, Trabalho e Planejamento), a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a Secretaria de Segurança Pública, órgãos de trânsito e outros, além de organizações não governamentais, empresas e sociedade civil com o objetivo de viabilizar intervenções que impactem positivamente na redução dessas doenças e de seus fatores de risco, em especial para as populações em situação de vulnerabilidade. 18 Unidade I Eixo Diretrizes Principais ações Atividade física – Programa Academia da Saúde com construção de espaços saudáveis que desenvolvam ações de promoção da saúde e estimulem atividade física, práticas corporais, lazer e modos de vida saudáveis em articulação com a Atenção Básica em Saúde. – Programa Saúde na Escola propondo ações no âmbito de avaliação nutricional, avaliação antropométrica, detecção precoce de hipertensão arterial, sistêmica, promoção de atividades físicas e corporais, promoção da alimentação saudável e de segurança alimentar no ambiente escolar. – Praças do Programa de Aceleração do Crescimento com construção de praças, como uma forma de integrar atividades e serviços culturais, práticas esportivas e de lazer. – Reformulação de espaços urbanos saudáveis com a criação do Programa Nacional de Calçadas Saudáveis e construção e reativação de ciclovias, parques, praças e pistas de caminhadas. – Campanhas de comunicação que incentivem a prática de atividade física e hábitos saudáveis associadas a grandes eventos culturais e esportivos. Alimentação saudável – Promoção de ações de alimentação saudável por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar. – Aumento da oferta de alimentos saudáveis por meio do estabelecimento de parcerias e acordos com a sociedade civil (agricultores familiares, pequenas associações e outros) para o aumento da produção e da oferta de alimentos in natura. Apoio a iniciativas interssetoriais para o aumento da oferta de alimentos básicos e minimamente processados. – Regulação da composição nutricional dos alimentos processados por meio de acordos com o setor produtivo e parcerias com a sociedade civil com vistas à prevenção de DCNT e à promoção da saúde (redução do sal e do açúcar nos alimentos). – Redução dos preços dos alimentos saudáveis por meio de redução de impostos, taxas e subsídios, objetivando estimular seu consumo. – Implantação do Plano Interssetorial de Controle e Prevenção da Obesidade visando à redução da obesidade na infância e na adolescência e à detenção do crescimento da obesidade em adultos. – Regulamentação específica para a publicidade de alimentos, principalmente para crianças. Tabagismo e álcool – Adequação da legislação nacional que regula o ato de fumar em recintos coletivos. – Ampliação das ações de prevenção e de cessação do tabagismo, com atenção especial aos grupos mais vulneráveis (jovens, mulheres, população de menor renda e escolaridade, indígenas e quilombolas). – Fortalecimento da implementação da política de preços e de aumento de impostos dos produtos derivados de tabacoe álcool a fim de reduzir o consumo (conforme preconizado pela OMS). – Apoio à intensificação de ações fiscalizatórias em relação à venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. – Fortalecimento, no Programa Saúde na Escola (PSE), de ações educativas voltadas à prevenção e à redução do uso de álcool e tabaco. 19 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Eixo Diretrizes Principais ações – Apoio a iniciativas locais de legislação específica em relação ao controle de pontos de venda de álcool e horário noturno de fechamento de bares e outros pontos correlatos de comércio. Envelhecimento ativo – Implantação de um modelo de atenção integral ao envelhecimento ativo, favorecendo ações de promoção da saúde, prevenção e atenção integral. – Promoção do envelhecimento ativo e ações de saúde suplementar. – Incentivo aos idosos para a prática da atividade física regular no programa Academia da Saúde. – Capacitação das equipes de profissionais da Atenção Básica em Saúde para o atendimento, acolhimento e cuidado da pessoa idosa e de pessoas com condições crônicas. – Incentivar a ampliação da autonomia e independência para o autocuidado e o uso racional de medicamentos. – Criar programas para formação de cuidadores de pessoas idosas e de pessoas com condições crônicas na comunidade. Fonte: Brasil (2011c). Quadro 6 – Principais diretrizes e ações do plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no eixo cuidado integral Eixo Diretrizes Cuidado integral Realizar ações visando ao fortalecimento da capacidade de resposta do SUS e à ampliação de um conjunto de intervenções diversificadas capazes de uma abordagem integral da saúde com vistas à prevenção e ao controle das DCNT. Principais ações - Linha de cuidado de DCNT definindo e implementando protocolos e diretrizes clínicas das DCNT com base em evidências de custo- efetividade vinculando os portadores ao cuidador e à equipe da Atenção Básica, garantindo a referência e a contrarreferência para a rede de especialidades e a rede hospitalar, favorecendo a continuidade do cuidado e a integralidade na atenção. Outro fator de importância é desenvolver um sistema de informação de gerenciamento de DCNT. – Capacitação e telemedicina: capacitação das equipes da Atenção Básica em Saúde expandindo recursos de telemedicina, segunda opinião e cursos a distância, qualificando a resposta às DCNT. – Medicamentos gratuitos: ampliação do acesso gratuito aos medicamentos e insumos estratégicos previstos nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas das DCNT e tabagismo. – Câncer do colo do útero e de mama: fortalecer as ações de prevenção e qualificação do diagnóstico precoce e tratamento dos cânceres do colo de útero e de mama; garantir acesso ao exame preventivo e à mamografia de rastreamento de qualidade a todas as mulheres nas faixas etárias e periodicidade preconizadas, independentemente de renda, raça/cor, reduzindo desigualdades; garantir tratamento adequado às mulheres com diagnóstico de lesões precursoras; garantir avaliação diagnóstica dos casos de mamografia com resultado anormal; e garantir tratamento adequado aos casos de mulheres com diagnóstico confirmado de câncer de mama ou diagnóstico de lesões benignas. 20 Unidade I Eixo Diretrizes Principais ações – Saúde Toda Hora – Atenção às Urgências: fortalecimento do cuidado ao portador de DCNT na rede de urgência, integrando as unidades de promoção, prevenção e atendimento à saúde com o objetivo de ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência nos serviços de saúde de forma ágil e oportuna. – Atenção Domiciliar: ampliação do atendimento a pessoas com dificuldades de locomoção ou que precisem de cuidados regulares, mas não de hospitalização, por meio de um conjunto de ações de Promoção à Saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação prestadas em domicílio com garantia de continuidade de cuidados e integradas às Redes de Atenção à Saúde. – Linha do Cuidado do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e Acidente Vascular Encefálico (AVE) na Rede de Atenção às Urgências: qualificação e integração de todas as unidades de saúde da Rede de Atenção às Urgências para permitir que os pacientes com IAM e AVE sejam atendidos, diagnosticados e tratados rapidamente, com acesso às terapias estabelecidas nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, garantindo acesso e tratamento adequados em tempo hábil. Fonte: Brasil (2011c). Lembrete No Brasil, as DCNT correspondem ao problema de saúde de maior magnitude (72% das causas de morte). Assim como no cenário mundial, no país as DCNT atingem sobretudo as camadas mais pobres da população e grupos vulneráveis. 2.1 Cuidado para a pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica A hipertensão arterial (HA), no Brasil, atinge 36 milhões de indivíduos adultos, correspondente a 32,5% da população e mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doença cardiovascular (DCV). Associada à diabetes melito (DM), suas complicações cardíacas, renais e vasculares, como o acidente vascular encefálico, têm impacto elevado na perda da produtividade do trabalho e da renda familiar (MALACHIAS et al., 2016). A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares (DCV), sendo uma condição clínica associada à elevada mortalidade. Salienta-se ainda que cerca de 80% dos hipertensos possuem comorbidades como diabetes, dislipidemia, tabagismo ou histórico familiar de ateromatose (MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2013b). Acidente vascular encefálico (AVE); infarto agudo do miocárdio (IAM); insuficiência cardíaca (IC); doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC) são doenças relacionadas a HA que levam a agravos na saúde e até à morte súbita (MALACHIAS et al., 2016). 21 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Hipertensão/ morte súbita Acidente vascular encefálico Doença renal crônica Doença arterial periférico Infarto agudo do miocárdio Figura 3 – Agravos à saúde associados a HA que podem levar à morte súbita A HA é uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação nos níveis pressóricos (≥ 140 mmHg e/ou 90 mmHg). É frequentemente associada a distúrbios metabólicos e alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e DM (MALACHIAS et al., 2016; BRASIL, 2013b). A pré-hipertensão (PH) é uma condição caracterizada por pressão arterial sistólica (PAS) entre 121 mmHg e 139 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) entre 81 mmHg e 89 mmHg. Ela associa-se a um maior risco de desenvolvimento de HA e anormalidades cardíacas, pois cerca de um terço dos eventos cardiovasculares (CV) atribuíveis à elevação da pressão arterial (PA) ocorrem em indivíduos com PH. Metanálises do risco de incidência de DCV, doença isquêmica do coração (DIC) e AVE em indivíduos pré-hipertensos mostraram que o risco foi maior naqueles com PA entre 130 mmHg e 139 mmHg ou 85 mmHg e 89 mmHg do que naqueles com valores entre 120 mmHg e 129 mmHg ou 80 mmHg e 84 mmHg (MALACHIAS et al., 2016). A avaliação inicial de um usuário com HA deve incluir a confirmação do diagnóstico, a suspeição e a identificação de causa secundária, além da avaliação do risco CV. As lesões de órgão-alvo (LOA) e doenças associadas também devem ser investigadas. Faz parte também dessa avaliação a medição da PA: o exame físico e a investigação clínica e laboratorial. Propõem-se avaliações gerais dirigidas a todos e, em alguns casos, avaliações complementares apenas para grupos específicos (MALACHIAS et al., 2016). 22 Unidade I De forma geral, sugere-se uma periodicidade anual de acompanhamento dos exames. O profissional deverá estar atento ao acompanhamento individual de cada caso considerandosempre o risco cardiovascular, as metas de cuidado e as complicações existentes (BRASIL, 2013b). A consulta de enfermagem faz parte da estratégia dirigida a grupos de risco que propõe uma adequada intervenção educativa em indivíduos com valores de PA limítrofes (que estão mais predispostos à hipertensão). As medidas são equivalentes às propostas para tratamento não medicamentoso da HA (BRASIL, 2013b). Nesse contexto, a consulta de enfermagem objetiva promover a educação em saúde para a prevenção primária da doença por meio do estímulo à adoção de hábitos saudáveis de vida, além de avaliar e estratificar o risco para doenças cardiovasculares (BRASIL, 2013b). A prevenção primária da HA pode ser feita mediante controle de seus fatores de risco, como sobrecarga na ingestão de sal, excesso de adiposidade, especialmente na cintura abdominal, e abuso de álcool, entre outros. Duas estratégias de prevenção podem ser consideradas: uma visando à população em geral e outra dirigida especialmente aos grupos de risco. A primeira defende a redução da exposição populacional a fatores de risco, principalmente com relação ao consumo de sal. O profissional poderá atuar nessa estratégia por meio de ações educativas coletivas com a população em geral para orientar sobre a restrição à adição de sal na preparação de alimentos e sobre a identificação da quantidade de sal e/ou sódio presente nos alimentos industrializados, entre outros (BRASIL, 2013b). Nas consultas de enfermagem, para os usuários portadores de HA, o foco do processo educativo será também a orientação com relação às medidas que reduzem a pressão arterial (hábitos alimentares adequados; manutenção do peso e de um perfil lipídico desejável; estímulo à vida ativa e aos exercícios físicos regulares; redução do consumo de bebidas alcoólicas e do estresse; abandono do tabagismo) (BRASIL, 2013b). Quadro 7 – Principais medidas na consulta de enfermagem para acompanhamento da pessoa com HA Investigação Consulta de enfermagem Histórico Coleta de informações referente à pessoa, à família e à comunidade com o propósito de identificar necessidades, problemas, preocupações ou reações. – Realizar a identificação da pessoa (dados socioeconômicos, ocupação, moradia, trabalho, escolaridade, lazer, religião, rede familiar, vulnerabilidades e potencial para o autocuidado). – Anotar os antecedentes familiares e pessoais. – Registrar as queixas atuais, principalmente as indicativas de lesão de órgão-alvo, como tontura, cefaleia, alterações visuais, dor precordial, dispneia, paresia, parestesia, edema e lesões de membros inferiores. – Identificar a percepção da pessoa diante da patologia, do tratamento e do autocuidado. – Anotar as medicações em uso e a presença de efeitos colaterais. – Investigar os hábitos de vida (alimentação, sono, repouso, atividade física, higiene e funções fisiológicas). – Identificar os fatores de risco (diabetes, tabagismo, alcoolismo, obesidade, dislipidemia, sedentarismo e estresse). 23 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Investigação Consulta de enfermagem Histórico – Pesquisar a presença de lesões em órgãos-alvo ou doenças cardiovasculares. – Doenças cardíacas: hipertrofia de ventrículo esquerdo; angina ou infarto prévio do miocárdio; revascularização miocárdica prévia; insuficiência cardíaca. – Episódio isquêmico ou acidente vascular encefálico. – Nefropatia. – Doença vascular arterial periférica. – Retinopatia hipertensiva. Exame físico – Realizar medidas antropométricas (altura, peso, circunferência abdominal e IMC). – Aferir a pressão arterial com a pessoa sentada e deitada. – Mensurar as frequências cardíaca e respiratória. – Aferir os pulsos radial e carotídeo. – Investigar alterações na visão. – Inspecionar a pele (integridade, turgor, coloração e manchas). – Inspecionar a cavidade oral (dentes, prótese, queixas, dores, desconfortos e data do último exame odontológico). – Avaliar o tórax/abdômen e realizar a ausculta cardiopulmonar e abdominal. – Avaliar os membros superiores e inferiores: unhas, dor, edema, pulsos pediosos e lesões; articulações (capacidade de flexão, extensão, limitações de mobilidade e edemas); pés (bolhas, sensibilidade, ferimentos, calosidades e corte das unhas). Diagnóstico Realizar a interpretação e fazer as devidas conclusões quanto às necessidades, aos problemas e às preocupações da pessoa frente aos dados obtidos na anamnese para direcionar o plano assistencial. Planejamento Pontos importantes no planejamento da assistência para prevenir, minimizar ou corrigir os problemas identificados: – Orientar sobre os tópicos indicados a seguir: – doença e processo de envelhecimento; – motivação para modificar hábitos de vida não saudáveis (fumo, estresse, bebida alcoólica e sedentarismo); – percepção de presença de complicações; – medicamentos em uso (indicação, doses, horários, efeitos desejados e colaterais); – solicitação e avaliação dos exames previstos no protocolo assistencial local. – Quando pertinente, encaminhar aos outros profissionais. Implementação Deverá ocorrer de acordo com as necessidades e o grau de risco do usuário e da sua capacidade de adesão e motivação para o autocuidado, em cada consulta. Avaliação – Avaliar com a pessoa e a família o quanto as metas de cuidados foram alcançadas e o seu grau de satisfação em relação ao tratamento. Observar se ocorreu alguma mudança a cada retorno. – Avaliar a necessidade de mudança ou de adaptação no processo de cuidado e reestruturar o plano de acordo com essas necessidades. – Registrar em prontuário todo o processo de acompanhamento. Fonte: BRASIL (2013b). O intervalo das consultas deve ser determinado pelo grau de severidade da condição clínica e pela capacidade de autocuidado. A capacidade de autocuidado deve ser sistematicamente avaliada levando-se em consideração os aspectos socioeconômicos e culturais, além da capacidade do indivíduo e da família para o autocuidado. 24 Unidade I Confirmação do diagnóstico Avaliação do risco CV Suspeição e a identificação de causa secundária Lesões de órgão-alvo (LOA) ≥ 140 mmHG x 90 mmHG Medição da PA Exame físico Laboratorial Avaliação inicial do usuário com HA Figura 4 – Fluxo de atendimento na avaliação inicial do usuário com HA 2.1.1 Novas diretrizes para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) como uma condição clínica multifatorial caracterizada pela elevação sustentada dos níveis pressóricos arteriais, maiores ou iguais a 140 mmHg e/ou 90 mmHg. Frequentemente, está associada a distúrbios metabólicos e a alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (MALACHIAS et al., 2016). Associa-se, ainda, a eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal (MALACHIAS et al., 2016). A classificação da pressão arterial segundo a SBC está apresentada no quadro a seguir (MALACHIAS et al., 2016). Tabela 1 – Classificação da pressão arterial de acordo com a medição casual ou no consultório (a partir de 18 anos de idade) Classificação Pressão arterial sistólica (PAS) – mmHg Pressão arterial diastólica (PAD) – mmHg Normal ≤ 120 ≤ 80 Pré-hipertensão 121 – 139 81 – 89 Hipertensão estágio 1 140 – 159 90 – 99 Hipertensão estágio 2 160 – 179 100 – 109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Quando a PAS e a PAD situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da PA. Fonte: Malachias et al. (2016, p. 11). 25 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM A abordagem terapêutica da hipertensão arterial deve ser realizada com os objetivos de reduzir a pressão arterial,proteger os órgãos-alvo e prevenir desfechos cardiovasculares e renais, considerando as medidas não medicamentosas e o uso de fármacos anti-hipertensivos. A decisão terapêutica deve estar fundamentada na presença de fatores de risco, de lesão em órgão-alvo e/ou de doença cardiovascular, e não somente no nível da pressão (MALACHIAS et al., 2016). O tratamento não medicamentoso da HAS inclui a redução do peso corporal, a adoção de um plano alimentar saudável e sustentável, a prática de atividades físicas regulares, a cessação do tabagismo e o controle do estresse (BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016). De acordo com MALACHIAS et al. (2016), a escolha do medicamento a ser utilizado como monoterapia inicial para o tratamento medicamentoso da HAS deve basear-se na capacidade de o agente escolhido reduzir a morbimortalidade cardiovascular, no mecanismo fisiopatogênico predominante no paciente a ser tratado, nas características individuais, nas doenças associadas e nas condições socioeconômicas do paciente. Com base nesses critérios, as classes de anti-hipertensivos atualmente consideradas preferenciais pela SBC (MALACHIAS et al., 2016) para o controle da pressão arterial em monoterapia inicial são: diuréticos (preferência para os diuréticos tiazídicos como clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida, reservando os diuréticos de alça, como furosemida e bumetanida, aos casos de insuficiência renal); inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA); bloqueadores dos canais de cálcio (BCC); bloqueadores dos receptores da angiotensina II (BRA). Para o Ministério da Saúde e para a SBC, as evidências científicas demonstraram redução de morbidade e de mortalidade com a administração dessas classes de medicamentos (diuréticos, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas de receptores de angiotensina II e bloqueadores de canais de cálcio). No entanto, os benefícios obtidos com os betabloqueadores são menores quando comparados aos dos demais grupos, devendo ser reservados para situações específicas. Por isso, não se indica o uso de betabloqueadores como droga de primeira linha no tratamento da HAS (BRASIL, 2013b; MALACHIAS et al., 2016). A proteção observada não depende do tipo de fármaco empregado, mas fundamentalmente da redução da PA. Desse modo, todos os medicamentos anti-hipertensivos disponíveis podem ser utilizados, desde que sejam observadas as indicações e as contraindicações específicas. A preferência inicial será sempre por aqueles que, comprovadamente, reduzem os eventos cardiovasculares (MALACHIAS et al., 2016). Em 2017, o American College of Cardiology (ACC) e a American Heart Association (AHA) publicaram uma nova diretriz (ACC/AHA, 2017) com recomendações sobre a definição de hipertensão, diretriz que considera hipertensão arterial sistêmica a presença de pressão arterial sistólica (PAS) igual ou superior a 130 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) igual ou superior a 80 mmHg, conforme apresentado no quadro a seguir. 26 Unidade I Tabela 2 – Classificação da pressão arterial Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg) Normal ≤ 120 ≤ 80 Elevada 120 – 129 > 80 Hipertensão estágio 1 130 – 139 80 – 89 Adaptado de: ACC/AHA Hypertension Guideline Writing Committee (2017). A diretriz atualizada recomenda o início do tratamento medicamentoso (ACC/AHA, 2017) para pessoas com hipertensão em estágio 1 com risco cardiovascular ou com risco cardiovascular estimado em dez anos superior a 10% pelo cálculo do risco cardiovascular utilizando o escore global de Framingham, chamado ASCVD risk calculator. Para pessoas com hipertensão em estágio 2, recomenda-se o início da terapia medicamentosa combinada (dois anti-hipertensivos) nos casos de HAS estágio 2 e/ou se a PA medida estiver acima da meta em mais de 20/10 mmHg (sistólica/diastólica) (ACC/AHA, 2017). Os fármacos de primeira linha continuam os mesmos: tiazídico; inibidores do ECA ou bloqueadores dos receptores de angiotensina; e bloqueador de canal de cálcio. No entanto, na população negra, os tiazídicos e os bloqueadores dos canais de cálcio são mais eficazes (ACC/AHA, 2017). Outros anti-hipertensivos Betabloqueadores Bloqueadores dos canais de cálcio Bloqueadores dos receptores da angiotensina Inibidores da ECA Diuréticos tiazídicos Combinações preferenciais Combinações não recomendadas Combinações possíveis, mas menos testadas Figura 5 – Associações de fármacos recomendadas pela SBC 27 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Saiba mais Para obter mais informações sobre essas modificações, você pode fazer a leitura dessa nova diretriz, indicada a seguir. ACC/AHA HYPERTENSION GUIDELINE WRITING COMMITTEE. Prevention, detection, evaluation and management of high blood pressure in adults: synopsis of the 2017 American College of Cardiology/American Heart Association Hipertension Guideline. Disponível em: https://healthmetrics. heart.org/wp-content/uploads/2017/11/Highlights-from-the-2017- Guideline.pdf. Acesso em: 19 nov. 2019. 2.2 Cuidado para a pessoa com doença crônica: diabetes melito O termo diabetes melito (DM) refere-se a um transtorno metabólico de etiologias heterogêneas caracterizado por hiperglicemia e distúrbios no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, resultantes de defeitos da secreção e/ou da ação da insulina. A patologia vem aumentando nos últimos anos tornando-se um importante e crescente problema de saúde, estando sua prevalência habitualmente associada à dislipidemia, à hipertensão arterial e à disfunção endotelial. As evidências demonstram que o bom manejo desse problema na Atenção Básica evita hospitalizações e mortes por complicações cardiovasculares e cerebrovasculares, podendo melhorar também a qualidade de vida das pessoas acometidas pela doença (BRASIL, 2013c). Estima-se que glicemia elevada é o terceiro fator, em termos de importância, de causa de mortalidade prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco). Em 2015 calculou-se que 415 milhões de pessoas, entre 20 a 79 anos de idade, valor que correspondia a 8,8% da população mundial, vivia com diabetes. Projeta-se que, caso as tendências atuais persistam, em 2040, 642 milhões de pessoas serão portadoras de diabetes, estando cerca de 75% dos casos em países em desenvolvimento (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015). No Brasil, dados do Vigitel mostram que a prevalência autorreferida na população acima de 18 anos aumentou de 5,3% para 5,6% entre 2006 e 2011. Ao analisar esse dado de acordo com o gênero, apesar do aumento de casos entre os homens, que eram 4,4% em 2006 e passaram para 5,2% em 2011, as mulheres apresentaram uma maior proporção da doença, correspondendo a 6% dessa população (BRASIL, 2013c). As ocorrências de diabetes são mais comuns em pessoas com baixa escolaridade: os números indicam que 7,5% das pessoas que têm até oito anos de estudo possuem diabetes, contra 3,7% das pessoas com mais de 12 anos de estudo; ou seja, uma diferença de mais de 50%. O levantamento apontou, também, que o DM aumenta de acordo com a idade da população: 21,6% dos brasileiros com mais de 65 anos referiram a doença, um índice bem maior do que o observado entre pessoas na faixa etária de 18 a 24 anos, faixa em que apenas 0,6% estão com a doença. Estima-se que o país passe da 28 Unidade I oitava posição em 2000, com prevalência de 4,6%, para a sexta posição, com 11,3%, em 2030. Os fatores de risco relacionados aos hábitos alimentares e ao estilo de vida da população estão associados a esse incremento na carga de DM globalmente (BRASIL, 2013c). Um estudo realizado em Cuiabá (MT) descreveu as características epidemiológicas de 7.938 pessoas com DM atendidas na rede pública entre 2002 e 2006. Os principais fatores de risco cardiovasculares identificados foram sobrepeso, sedentarismo e antecedentes familiares cardiovasculares. Mais de 80% dessas pessoas também eram hipertensas. O infarto agudo do miocárdio(IAM) foi a complicação mais frequentemente observada. Outro resultado importante foi a identificação de que o usuário já chega na Atenção Básica com sinais de estágio avançado da doença, o que demonstra, entre outros fatores, as dificuldades de diagnóstico precoce e de ações de prevenção (BRASIL, 2013c). Dessa forma, com o atendimento tardio, as complicações agudas e crônicas da doença causam alta morbimortalidade, acarretando altos custos para os sistemas de saúde. Gastos relacionados ao diabetes mundialmente, em 2010, foram estimados em 11,6% do total dos gastos com atenção em saúde, e, em nosso país, os valores são semelhantes. Um estudo realizado pela OMS mostrou que os custos governamentais de atenção ao DM variam de 2,5% a 15% dos orçamentos anuais de saúde, e os custos de produção perdidos podem exceder, em até cinco vezes, os custos diretos de atenção à saúde (BRASIL, 2013c). Diante dos dados epidemiológicos, entender sobre a doença e sobre o manejo clínico prepara o profissional de saúde para um cuidado especializado com relação a DM, doença na qual a produção de insulina pelo pâncreas está ausente ou diminuída e/ou os receptores celulares de insulina tornaram-se incapazes de ligar-se a ela e, então, permitir a entrada de glicose na célula. A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que atua ligando-se a receptores especiais na superfície da célula que promovem a abertura dos canais responsáveis pela entrada da glicose na célula (LEWIS, 2013). A doença ocorre pela diminuição da produção da insulina e/ou a resistência à insulina, podendo ser classificada como tipo 1 ou tipo 2. No tipo 1, o processo de destruição da célula beta leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando sua administração (de insulina) é necessária para prevenir cetoacidose. Em geral, a manifestação inicial ocorre de forma abrupta, acometendo principalmente crianças e adolescentes sem excesso de peso. Na maioria dos casos, a hiperglicemia é acentuada, evoluindo rapidamente para a cetoacidose, especialmente na presença de infecção ou outra forma de estresse. Assim, o traço clínico que mais define o tipo 1 é a tendência à hiperglicemia grave e cetoacidose, acometendo aproximadamente 8% da população com a doença. Já no tipo 2, a deficiência relativa de insulina é menos intensa do que a observada no tipo 1, costumando ter um início insidioso e sintomas mais brandos. Manifesta-se, em geral, em adultos com longa história de excesso de peso e com história familiar de DM tipo 2. No entanto, com a epidemia de obesidade atingindo crianças, observa-se um aumento na incidência de diabetes em jovens, até mesmo em crianças e adolescentes. Após o diagnóstico, a doença pode evoluir por muitos anos antes de requerer insulina para controle. Seu uso, nesses casos, não visa evitar a cetoacidose, que é rara nessas situações e, quando presente, em geral é ocasionada por infecção ou estresse muito grave; o objetivo é manter o controle glicêmico. A hiperglicemia desenvolve-se lentamente, permanecendo assintomática por vários anos, 29 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM acometendo cerca de 90% dos casos na população e estando relacionada a diabetes gestacional (estado de hiperglicemia, menos severo que os tipos 1 e 2, detectado pela primeira vez na gravidez e que geralmente se resolve no período pós-parto, retornando, no entanto, frequentemente anos depois). Hiperglicemias detectadas na gestação que alcançam o critério de diabetes para adultos, em geral, são classificadas como diabetes na gravidez, independentemente do período gestacional e da sua resolução ou não após o parto. Sua detecção deve ser iniciada na primeira consulta de pré-natal (BRASIL, 2013c). Termo indica que o processo de destruição da célula beta leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina Deficiência relativa de insulina, que é menos intensa do que a observada no tipo 1, costuma ter início insidioso e sintomas mais brandos Estado de hiperglicemia, menos severo que os tipos 1 e 2, detectado pela primeira vez na gravidez geralmente se resolve no período pós- parto e pode frequentemente retornar anos depois Tipo 1 Tipo 2 Gestacional Figura 6 – Conceituação da classificação dos tipos de diabetes Diante desse cenário, é relevante realizar o diagnóstico precoce para o adequado tratamento, ou seja, antes que se instalem as complicações. Dessa forma, o rastreamento das pessoas com fatores de risco torna-se uma medida primordial na Atenção Básica. O diagnóstico baseia-se na detecção da hiperglicemia. Existem quatro tipos de exames que podem ser utilizados: glicemia casual, glicemia de jejum, teste de tolerância à glicose com sobrecarga de 75 g em duas horas (TTG) e, em alguns casos, hemoglobina glicada (HbA1c). Quando a pessoa requer diagnóstico imediato e o serviço dispõe de laboratório com determinação glicêmica imediata ou de glicosímetro e tiras reagentes, a glicemia casual é o primeiro exame a ser solicitado. Nesse caso, o ponto de corte indicativo de diabetes é maior ou igual a 200 mg/dL na presença de sintomas de hiperglicemia. Não havendo urgência, é preferível solicitar uma glicemia de jejum medida no plasma por laboratório. Pessoas com glicemia de jejum alterada, entre 110 mg/dL e 125 mg/dL, por apresentarem alta probabilidade de ter diabetes, podem requerer uma segunda avaliação por TTG-75 g. No TTG-75 g, o paciente recebe uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão. Uma glicemia de duas horas pós-sobrecarga maior ou igual a 200 mg/dL é indicativa de diabetes, e uma glicemia entre 140 mg/dL e 200 mg/dL indica tolerância à glicose diminuída (BRASIL, 2013c). A Sociedade Brasileira de Diabetes (2017) adotou valores laboratoriais de normoglicemia para indivíduos com glicose em jejum menor que 100 mg/dL, glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) menor que 140 mg/dL e HbA1c (%) menor que 5,7%. Ela também classificou, 30 Unidade I para pré-diabetes ou risco aumentado para DM, indivíduos com glicose em jejum maior que 100 mg/dL e menor que 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) maior que 140 mg/dL e menor que 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 5,7% e menor que 6,57%. Por fim, tomou como indivíduos com diabetes estabelecido aqueles com glicose em jejum maior ou igual a 126 mg/dL, índice de glicose após duas horas de sobrecarga com 75 g de glicose (mg/dL) maior ou igual a 200 mg/dL, glicose ao acaso maior ou igual a 200 mg/dL e HbA1c (%) maior ou igual a 6,5%. Para prevenção de doença cardiovascular, a estratificação de risco baseia-se em idade, presença dos fatores de risco tradicionais, existência de marcadores de aterosclerose subclínica e ocorrência de eventos cardiovasculares. Recomenda-se estratificar o risco em quatro categorias (baixo, intermediário, alto e muito alto), avaliando os fatores de risco como idade superior a 49 anos para homens e 56 anos para mulheres, diabetes melito com duração superior a 10 anos, história familiar prematura de doença cardiovascular, presença de síndrome metabólica, hipertensão arterial sistêmica tratada ou não, tabagismo, taxa de filtração glomerular estimada menor que 60 mL/min, albuminúria maior que 30 mg/g de creatinina, neuropatia autonômica cardiovascular e retinopatia diabética (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017). Quanto ao rastreamento e às ações ao usuário com diabetes, o enfermeiro deve tomar algumas condutas a fim de monitorar, controlar e educar o portador de DM, conforme indicado no quadro a seguir. Quadro 8 – Principais medidas a serem realizadas na consulta de enfermagem do usuário portador de DM Investigação Consulta de enfermagem Histórico - Realizar a identificação da pessoa: dados socioeconômicos, ocupação, moradia, trabalho, escolaridade, lazer, religião, rede familiar, vulnerabilidades e potencial para o autocuidado. – Registrar os antecedentes familiarese pessoais: história familiar de diabetes, hipertensão, doença renal, cardíaca e diabetes gestacional. – Registrar queixas atuais, história sobre o diagnóstico de DM, cuidados implementados e tratamento prévio. – Avaliar a percepção da pessoa com relação a doença, tratamento e autocuidado. – Medicamentos utilizados para DM e outros problemas de saúde, além da presença de efeitos colaterais. – Registrar os hábitos de vida: alimentação, sono, repouso, atividade física, higiene e funções fisiológicas. – Identificar os fatores de risco: tabagismo, alcoolismo, obesidade, dislipidemia e sedentarismo. Exame físico - Realizar medidas antropométricas (altura, peso, circunferência abdominal e IMC). – Aferir a pressão arterial com a pessoa sentada e deitada. – Identificar alterações de visão. – Realizar o exame da cavidade oral, com atenção para a presença de gengivite, problemas odontológicos e candidíase. – Medir a frequência cardíaca e respiratória, além de realizar a ausculta cardiopulmonar. 31 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Investigação Consulta de enfermagem Exame físico – Realizar a avaliação da pele quanto a integridade, turgor, coloração e manchas. – Inspecionar os membros inferiores: unhas, dor, edema, pulsos pediosos e lesões; articulações (capacidade de flexão, extensão, limitações de mobilidade, edemas); pés (bolhas, sensibilidade, ferimentos, calosidades e corte das unhas). – Durante a avaliação ginecológica, atentar-se à presença de Candida albicans. Diagnóstico - Quanto a dificuldades e déficit cognitivo, analfabetismo, prejuízo da acuidade visual e auditiva, problemas emocionais, sintomas depressivos e outras barreiras psicológicas como sentimento de fracasso pessoal, crença no aumento da severidade da doença e medos da perda da independência podem ser a causa de hipoglicemia, ganho de peso e alterações nas aplicações de insulina. – Quanto ao uso da insulina, se o usuário realiza a autoaplicação, se não realiza, quem faz para ele, atentando, nesse caso, aos motivos pelos quais ele precisa de ajuda. Averiguar sobre a presença de complicações e reações nos locais de aplicação, além da forma de conservação e transporte. – Quanto à automonitorização, é necessário identificar se o paciente consegue realizar a verificação da glicemia capilar e se apresenta dificuldades no manuseio do aparelho Planejamento - Esclarecer sobre os sinais de hipoglicemia e hiperglicemia e fornecer orientações sobre como agir diante dessas situações. – Estabelecer motivação para modificar hábitos de vida não saudáveis (fumo, estresse, bebida alcoólica e sedentarismo). – Atentar para a presença de complicações. – A doença e o processo de envelhecimento. – Uso de medicamentos prescritos (oral ou insulina), indicação, doses, horários, efeitos desejados e colaterais, controle da glicemia. – Estilo de vida. – Complicações da doença. – Uso da insulina e o modo correto de reutilizar agulhas; planejamento de rodízio dos locais de aplicação para evitar lipodistrofia. – Solicitar e avaliar os exames previstos no protocolo assistencial local. – Quando pertinente, encaminhar ao médico e, se necessário, a outros profissionais. Implementação Deverá ocorrer de acordo com as necessidades e o grau de risco da pessoa e da sua capacidade de adesão e motivação para o autocuidado, a cada consulta. – Pessoas com DM com dificuldade para o autocuidado precisam de mais suporte até que consigam ampliar as condições de se cuidar. – O apoio ao autocuidado poderá ser da equipe de Saúde ou de outros recursos, familiares ou comunitários, articulados para esse fim. Avaliação - Avaliar a pessoa e a família, se as metas de cuidados foram alcançadas e seu grau de satisfação em relação ao tratamento. – Observar se ocorreu alguma mudança a cada retorno à consulta. – Avaliar a necessidade de mudança ou adaptação no processo de cuidado e reestruturar o plano de acordo com essas necessidades. – Registrar no prontuário todo o processo de acompanhamento. Fonte: Brasil (2013c). 32 Unidade I Testar glicerina a cada 2 anos (grupo de risco) Consulta de enfermagem para MEV e reavaliação a cada ano Consulta médica Diabetes improvável ≤100 mg/dL ≥100 e ≥ 200 mg/dL Sinais/sintomas e condições de risco presentes Diabetes Consulta de enfermagem Glicemia capilar ≥ 126 mg/dL Glicemia de jejum Figura 7 – Fluxo de atendimento ao usuário portador de DM Entre as complicações crônicas do DM, as úlceras de pés e a amputação de extremidades são as mais graves e de maior impacto socioeconômico. As úlceras nos pés apresentam uma incidência anual de 2%, tendo a pessoa com diabetes um risco de 25% para desenvolver úlceras nos pés ao longo da vida. Estudos estimam que essa complicação é responsável por 40% a 70% das amputações não traumáticas de membros inferiores. Figura 8 – Deformidades nos pés/área de risco para ulceração em diabéticos 33 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL – ENFERMAGEM Aproximadamente 20% das internações de indivíduos com DM ocorrem por lesões nos membros inferiores. Quanto à amputação de membros inferiores na DM, 85% delas são precedidas de ulcerações, sendo os principais fatores associados a neuropatia periférica, deformidades no pé e traumatismos (BRASIL, 2013a). A figura a seguir ilustra o desenvolvimento de uma úlcera plantar em pés de diabéticos. Figura 9 – Úlcera plantar em pé diabético Observação A neuropatia sensitivo-motora e a autonômica são a causa mais importante das úlceras diabéticas. Os principais pontos a serem ressaltados para os portadores de DM quanto à avaliação dos seus pés são: o conhecimento sobre os cuidados com a região, inclusive unhas; o comportamento do paciente com relação aos seus pés; o apoio familiar no cuidado com a região e as condições dos calçados e das palmilhas (BRASIL, 2013c). A prevenção por meio do exame frequente dos pés de pessoas com DM, exame realizado pelo médico ou pelo enfermeiro em todas as consultas, é uma medida crucial para a redução das complicações. Quanto aos fatores de risco, o profissional deve atentar-se à necessidade de amputação prévia, úlceras nos pés no passado, neuropatia periférica, deformidade nos pés, doença vascular periférica, nefropatia diabética, mau controle glicêmico e tabagismo (BRASIL, 2013c). Portanto, o exame físico dos pés de portadores de DM deve ser minucioso, seguindo algumas etapas como a avaliação da pele, a avaliação musculoesquelética, a avaliação vascular e a avaliação neurológica. Na avaliação da pele, a inspeção deve ser ampla, observando ressecamento e descamação da pele, unhas espessadas ou onicomicose, intertrigo micótico, presença de bolhas, ulceração ou áreas de eritema, incluindo observação da higiene dos pés e corte das unhas. Na avaliação musculoesquelética, inspecionam-se deformidades nos pés e na avaliação vascular. A palpação dos pulsos pedioso e tibial posterior deve ser registrada como presente ou ausente, observando também temperatura e pelos, além do estado da pele e dos músculos (BRASIL, 2013c). As figuras a seguir são de instrumentos que devem ser utilizados na avaliação neurológica, caso do teste de sensibilidade com o uso de monofilamento, do reflexo aquileu e do diapasão. 34 Unidade I Figura 10 – Instrumentos que devem ser utilizados na avaliação neurológica No teste de sensibilidade com o uso do monofilamento, deve atentar-se às áreas de teste, aplicar o monofilamento de 10 g e solicitar ao cliente que diga “sim” ou “não” durante o toque nas áreas de teste (para confirmar a existência ou não de sensibilidade), aplicando força apenas o suficiente para curvar o monofilamento. Deve-se realizar uma aplicação simulada e uma aplicação concreta nas mesmas áreas para confirmar a identificação, pelo paciente, do local testado, e, se duas respostas estiverem corretas, descarta-se a perda de sensibilidade protetora. Da mesma forma, qualquer área insensível indica sensibilidade protetora alterada (SOCIEDADE
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