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DESCRIÇÃO Parâmetros e conceitos fundamentais sobre o desenvolvimento psicomotor e as mudanças, tanto físicas como psicossociais, que ocorrem ao longo da vida com uma proposta de intervenção psicomotora feita pelo profissional de Educação Física. PROPÓSITO Compreender o desenvolvimento psicomotor humano e as modificações importantes em suas características físicas, hormonais e decorrentes do processo de envelhecimento, para uma correta intervenção do profissional de Educação Física no desenvolvimento de habilidades motoras e manutenção da autonomia de bebês, crianças e idosos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os principais aspectos psicomotores interferentes no desenvolvimento das crianças do nascimento aos 6 anos MÓDULO 2 Relacionar aspectos psicomotores da primeira infância com influência na segunda de crianças entre 7 e 12 anos e a adolescência MÓDULO 3 Reconhecer os elementos psicomotores nos processos de maturação e envelhecimento, na distinção das melhores formas de intervenção INTRODUÇÃO Neste tema, vamos conhecer o desenvolvimento motor e psicomotor desde o nascimento até a velhice. Teremos a perspectiva desse processo considerando a percepção de alguns autores como Wallon, Piaget e Fonseca, dentre outros, de que forma os aspectos motores, cognitivos e afetivos se comportam em cada fase do desenvolvimento. Falaremos sobre a predominância de cada um desses aspectos de acordo com a idade e a fase psicomotora. Um ponto de atenção que será apresentado aqui refere-se à importância do trabalho psicomotor aplicado aos idosos. Veremos que essa idade precisa de atendimento para prevenir ou atenuar comorbidades específicas do envelhecimento e o profissional de Educação Física poderá se beneficiar desse conhecimento, garantindo melhor intervenção a essa população e ampliando as possibilidades de manutenção de sua autonomia aliada à saúde física, mental, psíquica e emocional. MÓDULO 1 Identificar os principais aspectos psicomotores interferentes no desenvolvimento das crianças do nascimento aos 6 anos CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO DESENVOLVIMENTO DE 0 A 3 ANOS O desenvolvimento é um processo contínuo e envolve todos os aspectos do comportamento humano que se inicia na concepção e cessa com a morte. Diversas áreas do conhecimento, como Anatomia e Fisiologia humana, Medicina (Neurologia), Psicologia, Sociologia e seus especialistas, buscam compreender a influência de fatores intrínsecos (biológicos) e extrínsecos (ambientais) nas etapas do desenvolvimento motor que ocorrem ao longo da vida. Cada gesto motor envolve fatores físicos e mecânicos que utilizam um conjunto de habilidades que envolvem: Hereditariedade Experiência Aprendizado Esse processo se inicia com a concepção e engloba o/a: Crescimento físico Maturação neurológica Desenvolvimento comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem Relações socioafetivas Entenderemos o desenvolvimento infantil como um processo multidimensional e integral, onde a criança se torna capaz de atender suas próprias necessidades e as do seu meio, considerando seu contexto de vida. ATENÇÃO Importante que o profissional tenha conhecimento do desenvolvimento infantil, de suas fases e características, pois essas serão muitas vezes a base para observação e identificação se há ou não alguma alteração psicomotora ou a possibilidade de transtornos no desenvolvimento da criança. Esse olhar atento será, em muitos casos, desenvolvido pelo profissional de Educação Física, contribuindo assim para uma intervenção cada vez mais ajustada. O desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos se caracteriza pela fase em que corpo e psiquismo estão juntos e se integram nesse processo. Espera-se que a criança fale na primeira pessoa, “eu”, desenvolvendo a noção de que não apenas está viva nesse mundo, mas exerce um papel importante. Precisa ser reconhecida como alguém que tem suas carências, que demanda atenção total “do outro” e que precisa desse convívio para se estruturar enquanto pessoa. O início de sua sociabilização será marcado pelas relações humanas, pela interdependência e dependência do humano a outro humano, envolvidos pelo desejo de se integrar a partir do olhar, dos gestos, da palavra, ou seja, socializar. Quanto ao sistema nervoso, apresenta a capacidade de se reorganizar e adaptar suas redes neuronais de acordo com as necessidades ambientais e externas ou orgânicas e internas. Isso significa que nesta fase de 0 a 3 anos observamos maior “plasticidade cerebral”, sendo um período importantíssimo para o desenvolvimento. SAIBA MAIS Essa importância é devido a capacidade aumentada do cérebro para se remodelar, partindo das experiências vividas pela criança com o ambiente e com o outro, que desenvolvem a maioria dos processos cognitivos, incluindo a interação afetiva e a cooperação entre os neurônios e suas conexões. As áreas cerebrais, que correspondem ao controle do movimento, da sensibilidade e da emoção, são agrupadas em áreas de associação. Nessas áreas, é onde temos o desenvolvimento neuropsicomotor, que depende de etapas a serem cumpridas e estímulos adequados a cada faixa etária. Veremos agora alguns aspectos importantes relacionados ao desenvolvimento de alguns sentidos! DESENVOLVIMENTO AUDITIVO Esta função sensorial permite que, de uma forma natural, e digamos “normal”, a criança desenvolva e adquira a linguagem oral e a produção da fala. Essa habilidade auditiva se amplia com o desenvolvimento neuromotor da criança e, naturalmente, a partir de todas as suas experiências vividas. Algumas etapas são importantes nesse processo e, partindo dessas aquisições, o desenvolvimento se dá. A primeira etapa ocorre com a percepção de presença ou ausência de som, a qual chamaremos de detecção auditiva. Posteriormente, essa percepção se amplia e permite que a criança identifique, de acordo com a frequência e intensidade, a diferença entre dois ou mais sons. A esta etapa damos o nome de discriminação auditiva. A última etapa desse processo é quando a criança identifica o som e consegue repetir ou apontar o estímulo, sendo capaz de classificá-lo ou nomeá-lo, o que chamamos de reconhecimento auditivo. O profissional de Educação Física, em sua intervenção, poderá auxiliar a organização de processos neuropsicológicos, simbólicos, orgânicos e afetivos nos primeiros anos de vida, promovendo atividades que estimulem a função sonora. Com a diversidade de estímulos, quantidade e qualidade que serão captados e, por ser um período de maior plasticidade cerebral, esse sistema se encontra mais permeável às modificações, o que favorece a maturação das vias auditivas a nível cortical. DESENVOLVIMENTO VISUAL A visão é um sentido desenvolvido desde a vida intrauterina e permanecerá nesse processo de desenvolvimento mesmo depois do nascimento. Fatores ambientais e neurológicos envolvem e interferem no desenvolvimento dessa função, tanto no nível ocular como de SNC, que ainda estará imatura ao nascimento. A partir de suas experiências visuais, esse sistema se desenvolverá, fortalecendo e formando conexões responsáveis pela visão. O período de maior plasticidade cerebral vai de 0 a 2 anos, idade em que muitas crianças praticam atividades como natação ou estimulação motora, e muitas já estão inseridas no ambiente de creche ou escola. javascript:void(0) javascript:void(0) SAIBA MAIS A integridade das estruturas oculares, das radiações ópticas de diferentes áreas corticais e subcorticais, interfere diretamente no adequado desenvolvimento desse sistema, sendo o cérebro humano responsável por interpretar e analisar as informações captadas pelos nossos olhos. É preciso atentar para caso haja algum evento nocivo durante o período de desenvolvimento, que afete as estruturas neurológicas ou oculares da visão, este poderá gerar prejuízos que serão observados na capacidade da criança realizar suas tarefas cotidianas, tendo em vista que, com a função prejudicada, dificuldadese limitações poderão ocorrer. Como possível consequência dessas limitações, podemos apontar um certo grau de interferência no processo de aprendizagem, pois a visão integra as informações que são recebidas por outros sentidos, mediando e influenciando o desenvolvimento motor, cognitivo e psicossocial. Ou seja, bebês com alterações visuais poderão sofrer com problemas sociais, de integração, alterações em sua autoestima, dificuldades para ampliar e desenvolver sua independência. O profissional de Educação Física poderá intervir, considerando todo o processo de simbolização da criança, entendendo que essa compreensão e esse olhar são perspectivas da Psicomotricidade. Nesse sentido, podem e devem utilizar a exploração tátil, promovendo: Maior atenção a uma determinada tarefa. Ampliando a sensibilidade, percepção e interpretação. ATENÇÃO A criança utiliza todos os seus recursos como um órgão sensorial, isso significa que pés, mãos, boca e demais segmentos devem ser utilizados e considerados no processo de estimulação. DESENVOLVIMENTO MOTOR De acordo com o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC), as funções reflexas aparecem e desaparecem no primeiro ano de vida e pouco a pouco os movimentos voluntários e mais complexos vão se estabelecendo. Redes neurais são formadas a partir de sinapses estabelecidas e reorganizadas a partir das experiências sensório-motoras, organizando o desenvolvimento motor em etapas que se complementam e se estabelecem, servindo de base para a etapa a seguir. VOCÊ SABIA A forma como as aquisições motoras se apresenta segue uma hierarquia funcional, sendo interdependente e, mesmo que a criança consiga andar antes de engatinhar, ou “pule” essa fase, isso não significa que houve um avanço específico para aquela criança e isso mudará o processo de desenvolvimento. O profissional de Educação Física irá observar e acompanhar o desenvolvimento das aquisições motoras da criança, partindo de sua motricidade espontânea, dirigida ou provocada, considerando os movimentos esperados e possíveis alterações em seus elementos psicomotores como tônus, equilíbrio e suas reações aos estímulos. A observação do movimento busca organizar e encontrar um padrão simétrico, harmônico e controlado na motricidade da criança, oferecendo atividades motoras que considerem os aspectos sensoriais e sejam coerentes com as necessidades de cada indivíduo. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E DE LINGUAGEM O surgimento da capacidade de compreender, pensar e decidir como agir no mundo é o que caracteriza o nosso desenvolvimento cognitivo. Processos mentais que envolvem memória, atenção, percepção e imaginação se integram construindo forma de resolução de problemas. As funções descritas abaixo permitirão um desenvolvimento cognitivo normal, desde que esses processos ocorram de forma satisfatória: SENSORIAL PERCEPTIVA MOTORA LINGUÍSTICA INTELECTUAL PSICOLÓGICA Além desses aspectos, as etapas do desenvolvimento maturacional precisam ser ajustadas. ATENÇÃO Quando neste processo ocorre uma escassez ou presença de estímulos em momentos não adaptados, poderemos ter uma alteração importante no desenvolvimento. Os seres humanos se apropriam da linguagem porque desde sempre aprendem a se comunicar com os outros: falam, conversam e cantam, organizando suas experiências que nomearão o mundo, construindo e expressando suas ideias e opiniões. RESUMINDO Podemos dizer então que a percepção, a fala e o afeto apoiarão o desenvolvimento da comunicação e cognição, refletindo na linguagem da criança toda a sua intercomunicação. Dessa forma, a criança aprende porque interage, sendo um ser social construído a partir de sua cultura e necessariamente a partir da interação e mediação de outro ser humano. A saúde física e mental da criança poderá ser imensamente beneficiada com a promoção de uma intervenção profissional estimulante e estável emocionalmente, garantindo que os benefícios alcançados sejam permanentes e favoráveis à aprendizagem. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DO DESENVOLVIMENTO DE 3 A 6 ANOS Esta etapa será o momento em que a criança, após adquirir habilidades motoras voluntárias de estabilidade, locomoção e manipulação, poderá refinar esses movimentos e dar início aos padrões motores fundamentais ou habilidades motoras fundamentais (HMF). ATENÇÃO Importante destacar que, embora as crianças entrem nessa fase por volta dos 3 anos de idade, não é o momento para priorizar o desenvolvimento de habilidades mais precisas, buscando-se eficiência, como se um estímulo desse iniciado precocemente fosse capaz de “antecipar” uma performance motora espetacular. Não se enganem, isso não acontece. O que o profissional deverá priorizar é a diversidade de experiências e vivências motoras, uma vez que uma mecânica corporal eficiente e variada, adaptada a uma ampla variedade de habilidades e situações motoras, será fundamental na infância e por toda a idade adulta, interferindo na “qualidade” de execução de uma determinada tarefa motora. Durante a infância, vários fatores podem interferir no desempenho e desenvolvimento motor, tanto em aspectos ESTRUTURAIS & FUNCIONAIS Newell (1986) explica quer os fatores que podem interferir na qualidade de execução de alguma habilidade podem ser agrupados em demandas da tarefa, do ambiente e do indivíduo. Assim, podemos, por exemplo, observar que, na medida em que as crianças crescem, modificações em seu peso e altura poderão influenciar sua condição física e de saúde, interferindo, portanto, em sua força e dificuldade ou facilidade motora. Segundo Wallon, dos três aos seis anos, a criança encontra-se no Estágio do Personalismo, onde inicia seu processo de diferenciação de outra pessoa, constituindo-se a partir de sua subjetividade, utilizando-se de atividades em que se opõem ao outro e, ao mesmo tempo, seduzem ou imitam. Outro aspecto importante é que o desenvolvimento será resultado da integração de novas funções e aquisições às anteriores, acumulando várias funções quantitativamente que permitirão uma maneira diferente de integrar as dimensões: PERSONALISMO O personalismo é caracterizado pela discriminação que a criança faz entre ela e o outro, revelando-se no uso das expressões eu, meu, não, entre outras. javascript:void(0) MOTORA COGNITIVA AFETIVA Essa integração será o resultado de uma nova organização dessas dimensões, preponderando e alternando de maneira diversa da fase ou etapa anterior que a criança se encontra. Ou seja, o desenvolvimento ocorre de forma não linear ou contínua, mas será resultante de uma integração plástica e dinâmica que supera a oposição de um conhecimento sobre o outro. SAIBA MAIS Segundo Wallon, a integração não será entendida como o resultado de um processo, mas é o que definirá o equilíbrio e a condição de plasticidade de uma pessoa em seu desenvolvimento. Ainda segundo suas teorias, o processo de desenvolvimento de uma criança, por toda sua infância até que alcance uma vida adulta, será regulado por três leis as quais denominou: A LEI DA ALTERNÂNCIA FUNCIONAL Caracteriza-se pela alternância entre duas direções opostas; uma centrípeta, voltada para a construção do eu, onde o predomínio é a dimensão afetiva e a outra centrífuga, voltada para a elaboração da realidade externa e do universo que a rodeia, predominando a dimensão cognitiva. Essas duas direções se manifestam, alternadamente, constituindo o ciclo da atividade funcional. A LEI DA SUCESSÃO DA PREPONDERÂNCIA FUNCIONAL Na qual as três dimensões ou subconjuntos preponderam, alternadamente, ao longo do desenvolvimento do homem: motora, afetiva e cognitiva. A função motora predomina nos primeiros meses de vida da criança, enquanto as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o desenvolvimento, ora visando a formação do eu (predominância afetiva), ora visando o conhecimento do mundo exterior (predominância cognitiva). A LEI DA DIFERENCIAÇÃO E INTEGRAÇÃO FUNCIONAL Dizrespeito às novas possibilidades que não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos estágios anteriores, mas, pelo contrário, integram-se a elas no estágio subsequente. O desenvolvimento integrará esses subconjuntos funcionais que são motor, afetivo e cognitivo, sendo responsáveis por constituir o quarto subconjunto funcional que Wallon denomina pessoa. PESSOA Neste conceito, em qualquer etapa do desenvolvimento ou em qualquer momento, a “pessoa” sempre será uma pessoa completa, constituindo-se a partir de elementos díspares, onde ideias, sentimentos e movimentos são vividos de forma ampla, por hora confusos, mas, em busca de uma capacidade de atender às demandas do dia a dia, da vida, das emoções de forma cada vez mais específica nas mais variadas situações. Somos seres sociais, já sabemos disso, mas somos seres de emoção também. Por toda a infância, as emoções e a afetividade influenciam e interferem no desenvolvimento e no comportamento social. A afetividade será, então, exteriorizada a partir das emoções geradas javascript:void(0) por componentes fisiológicos humorais e motores, mas também pela necessidade do ser humano em se adaptar ao seu meio através do seu comportamento. Nessa adaptação entre o homem e seu meio, estabelece-se uma relação em que os meios de expressão se tornam instrumentos da socialização, partindo de exercícios sociais, relacionais, que pouco a pouco se especializarão a cada situação (WALLON, 1955 apud GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A emoção se dá de forma instantânea, é uma descarga pulsional, sobrepondo-se ao raciocínio e ao conhecimento. Assim, será a forma inicial de expressão e linguagem do recém-nascido para se relacionar com o mundo, estabelecendo uma conexão que evolui para comportamentos mais complexos, de forma que as emoções se tornem sentimentos e estes serão a base de uma estruturação intelectual. SAIBA MAIS A ação motora será mobilizada pela afetividade, como resultado de algo que a impulsionou, enquanto os esquemas disponíveis no momento da ação motora serão estruturados pela inteligência. Isso significa que a emoção é anterior à conduta motora, que é o movimento intencional com a utilização da cognição. O que Wallon explica é que a afetividade não será permanente, mas evoluirá de acordo com a maturidade de cada indivíduo, sendo interpretadas e sentidas de formas diferentes, significando e representando algo baseado em tudo o que o indivíduo adquire a partir de sua cultura, de seu meio e das experiências que teve. Uma emoção intensa poderá impulsionar uma resposta motora, que, ativada pela consciência, irá se sobrepor à razão, dando ênfase a alterações proprioceptivas que prejudicarão a percepção do exterior. Isso significa que, para que se possa desenvolver a “pessoa”, não é possível separar aspectos afetivos do movimento e nem da cognição, já que a capacidade cognitiva se reflete no afeto e no movimento. A AFETIVIDADE E A PSICOMOTRICIDADE VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Relacionar aspectos psicomotores da primeira infância com influência na segunda de crianças entre 7 e 12 anos e a adolescência A CRIANÇA DOS 7 AOS 12 ANOS Na fase que compreende a idade dos 7 aos 12 anos, as aquisições funcionais serão ampliadas e será possível observar melhora no controle e domínio motor: Os gestos utilizados em movimentos voluntários, apraxiatorna-se mais eficiente e será capaz de coordenar as ações motoras pensando antecipadamente. Melhora sensível da motricidade fina e controle tônico, além de melhor percepção do tempo e do espaço, ajustando-se corporalmente. Capaz de compreender e participar de jogos cooperativos e com regras, o que reflete sua evolução sócio cognitiva, onde destacamos ametacognição. Destaca-se também ametamemória, que será desenvolvida e melhorada com a idade. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PRAXIA A praxia é a função que permite a realização de gestos coordenados. METACOGNIÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) A metacognição é a capacidade de compreender e prever o próprio comportamento e das pessoas que estão ao redor, é um processo cognitivo. METAMEMÓRIA A metamemória é o conhecimento sobre a memória. COMENTÁRIO Podemos observar que, de acordo com a maturação individual de cada criança, seu desenvolvimento funcional está mais estruturado (GONÇALVES, 2010). A maturação da criança evolui pareada com sua idade cronológica, dando forma e características próprias a cada etapa. Essas etapas serão classificadas por Le Boulch (1987) em três momentos: 1º MOMENTO Ao nascer e até por volta dos 3 anos de vida, momento em que a criança se encontra na fase reflexa e as experiências vividas trarão maior controle do corpo. Inicialmente, o bebê sente que o ambiente externo faz parte do seu próprio corpo, mas, na medida que amadurece, amplia suas experiências sensoriais e seu sistema nervoso, iniciando a diferenciação entre seu corpo e o ambiente. Essa etapa, que corresponde à inteligência sensório-motora de Piaget, Le Boulch denominou corpo vivido. 2º MOMENTO Corresponderá a idade entre 3 e 7 anos. A criança passará a tomar consciência do seu próprio corpo, direcionando sua atenção, que era voltada exclusivamente para o ambiente, para a sua interiorização. Essa etapa será denominada corpo percebido. A diferença entre o corpo vivido e o corpo percebido é que, na primeira etapa, a criança apresenta movimentos espontâneos, iniciado nos reflexos dos bebês, que evoluem gradativamente. Na segunda etapa, onde temos o corpo percebido, existe uma evolução nesse processo em que a criança passa de um ajustamento espontâneo para um ajustamento controlado, com melhor domínio corporal, ampliando a capacidade de dissociar os movimentos. Dissociar significa suavizar a movimentação do corpo “em blocos”, tornando-o mais ajustado e otimizado em suas funções. A consequência disso será a criança melhorar sua coordenação dentro de um tempo determinado, identificando sua dominância lateral, iniciando a utilização do corpo como uma referência para se organizar e se situar no tempo e no espaço. As noções espaciais e os conceitos, como “dentro”, “fora”, “aqui”, “embaixo”, “em cima”, entre outros, são assimilados. 3º MOMENTO Entre os 7 e os 12 anos será o corpo representado, onde o esquema corporal começa a se estruturar e a imagem mental desse corpo será ainda “estática”, ou seja, apenas uma imagem mais simples, mas que “imagina” um formato de corpo. Somente por volta dos 10 aos 12 anos é que será possível construir uma representação mental de um corpo em movimento. Essa construção, então, indicará que se alcançou uma representação mental de uma sucessão motora, associando-a à noção de tempo que, na fase anterior, iniciou o processo de percepção temporal na criança. COMENTÁRIO As funções cognitivas evoluem de uma forma que corresponde ao que Piaget chama de “operações concretas”. Essa evolução mental é o que permitirá que o corpo não apenas reproduza um movimento, mas que o faça a partir de uma antecipação mental de sua imagem corporal. Por isso, Le Boulch nomeia essa etapa como corpo representado, onde o sujeito cria ele mesmo referências externas ao seu corpo para se movimentar, sendo isso que irá orientá- lo, não tendo mais suas referências centradas apenas no próprio corpo. No período entre os 7 e 8 até os 12 anos, as crianças são naturalmente motivadas para a atividade motora. É bem verdade que enfrentamos um momento de excessiva exposição aos eletrônicos, sedentarismo e adoção de hábitos nada saudáveis, mas isso é algo adquirido culturalmente e torna ainda mais relevante a intervenção do profissional de Educação Física. Essa faixa etária caracteriza-se por maior disponibilidade da criança para a aprendizagem e aperfeiçoamento de formas básicas de movimento, como: CORRER PULAR SALTAR LANÇAR ROLAR ENTRE OUTROS RELEMBRANDO Seguimos uma hierarquização do desenvolvimentoneurológico e isso implica, como sempre, nas dimensões motoras, cognitivas e afetivas, sendo o desenvolvimento estruturado também por todos os elementos psicomotores já apresentados, como tônus, equilíbrio, lateralidade, noção corporal, noção espaço-temporal, motricidade ampla e fina, além do ritmo. ASPECTOS PSICOMOTORES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DA ADOLESCÊNCIA A adolescência é um período em que ocorrem várias mudanças, tanto físicas, como psicossociais; algumas alterações importantes são provenientes de uma explosão hormonal necessária para que as modificações se estabeleçam. O comportamento motor esperado é caracterizado pela fase de habilidades motoras especializadas e o indivíduo começa a tomar decisões conscientes a favor ou contra sua participação em certas atividades. RECOMENDAÇÃO Esta é a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados, atividades e liderança em esportes escolhidos. As alterações corporais decorrentes da maturação sexual geram: MODIFICAÇÕES FISIOLÓGICAS ALTERAÇÕES PSÍQUICAS ALTERAÇÕES AFETIVAS Segundo Wallon, por volta dos 12 anos, essa fase se inicia e o adolescente adquire uma nova percepção temporal. Inicia-se uma fase de intolerância a regras, ao controle e direcionamento dado pelos pais, em que precisam se encontrar, buscando sua própria consciência na figura de outro jovem, necessitando do “grupo” para se identificar como indivíduo; o meio social será relevante para que tenham um comportamento condicionado e que constitua sua personalidade. As modificações físicas nem sempre interferem de maneira positiva em sua imagem corporal. Isso deverá ser um ponto de atenção para o trabalho psicomotor, pois alterações nessa percepção podem levar a transtornos, como bulimia e anorexia. É uma fase conturbada, pois, ao mesmo tempo que precisam lidar com sua própria personalidade que se ajusta, vivenciam conflitos psicossociais, confrontam sua identidade versus confusão (BERGER, 2003). BULIMIA ANOREXIA A busca por sua identidade será o aspecto mais marcante na adolescência, um conflito que é gerado entre sua infância e sua futura vida adulta. Necessitam se autoafirmar como pessoas “mais velhas”, negam sua infância e infantilidade, mas precisam de suas experiências vividas para que se reestruturem, sendo a cultura e os valores influenciados por novos elos entre amigos, vizinhos, escola etc. Ou seja, buscam o novo, mas conservam o que já alcançaram, precisam assumir responsabilidades novas e viver novas experiências. Com isso, fica sempre a questão sobre “quem sou eu?”, acarretando em uma antítese na qual: É preciso que haja um distanciamento dos pais, gerando momentos de tensão e fragilidade nessa relação. Mas necessitam de um aconselhamento, alguém que seja capaz de se conectar com suas angústias e que seja uma referência paralela à família para seu desenvolvimento saudável. RESUMINDO Muitos aspectos interferem no seu desenvolvimento psicossocial, contudo, o equilíbrio entre seu corpo e sua emoção será fundamental para que mantenha saúde física e mental. Outro aspecto importante a ser considerado nesta fase é que, embora alguns jovens possam exteriorizar suas emoções, questionar seus valores e escolher qual direção darão as suas vidas, muitos não terão essa oportunidade pelo simples fato de serem atropelados pelas circunstâncias, necessitando entrar no mercado de trabalho para se sustentar ou contribuir para a manutenção de sua família. Percebemos, então, que as diversas formas que se estabelecem as relações entre o adolescente e seu meio social, seja ele composto por família ou amigos, interfere em sua comunicação com o mundo e afeta suas dimensões psicossociais e afetivas. O CORPO NA ADOLESCÊNCIA Todas as experiências e modificações vividas na adolescência podem ser consideradas estímulos que constroem e modificam a percepção que temos do nosso próprio corpo. Isso acontece porque as emoções são sentidas a partir de sensações captadas do meio externo e interno e, dessa forma, interferem na representação subjetiva que o imaginário elabora. As modificações que ocorrem fisicamente poderão interferir de maneira nem sempre positiva na construção da imagem corporal na adolescência. ATENÇÃO As experiências sensoriais internas ou externas organizam no intelecto a imagem corporal, que se constrói de forma inconsciente, a partir de aspectos corporais, anatômicos e fisiológicos. Isso significa que essa construção ou destruição da imagem corporal será influenciada pela busca de um “corpo ideal”, elaborado mentalmente, a partir de parâmetros subjetivos. A imagem corporal tem sua base na(o) EMOÇÃO CONFORTO DESCONFORTO Esses podem ser vividos e experimentados na satisfação e insatisfação que serão associados a nossa aparência. Podemos entender os aspectos que envolvem a aparência física e como ela é percebida, em relação ao seu tamanho corporal, peso, características, entre outros. Dessa percepção, construções subjetivas se formam a partir da relação do sujeito e sua aparência, o que resultará em um comportamento que poderá ser o de evitar situações que gerem desconforto. Percepção da aparência física Construções subjetivas a partir da relação sujeito e própria aparência Comportamento COMENTÁRIO Isso pode ocorrer a partir do momento em que este jovem passa a ter conhecimento de certos padrões impostos pela sociedade que, na impossibilidade de atendê-los, entra em conflito e passa a sofrer, afetando diretamente a sua individualidade, refletindo em seu comportamento. O adolescente estrutura sua personalidade para que possa existir, sendo subjetivo dentro de sua individualidade e sua pulsionalidade, que traduziremos como sua “vontade” ou “desejo”. Essa pulsão revela o que sente, deseja, seus valores e sonhos, que são expostos no meio interpessoal ou material, caracterizando-se por uma motricidade resultante da construção de sua imagem, emoções e corporeidade. Isso deverá ser um ponto de atenção para o trabalho psicomotor, pois alterações nessa percepção podem levar a transtornos como bulimia e anorexia, dificuldades de se relacionar, isolamento, agressividade e outros comportamentos característicos desta fase, que podem ser minimizados e modificados com uma intervenção psicomotora relacional. VOCÊ SABIA As dimensões psicossociais e afetivas ressaltam as diversas formas relacionais estabelecidas em seus diferentes grupos de pertinências, sendo campo fértil para uma intervenção psicomotora. O trabalho do profissional de Educação Física, na perspectiva psicomotora, pretende compreender os níveis de comunicação corporal que podem se estabelecer a partir do jogo espontâneo. De forma que as sutilezas permeiem as relações humanas e possam ser decodificadas na interpretação do desenvolvimento psicomotor, dando ênfase à observação de sua organização tônica, espontânea e involuntária, resultante de suas experiências efetivas e emocionais. Essa expressividade psicomotora é resultante da experiência vivida com o mundo através de seu corpo e suas pulsões oriundas de conflitos, proibições, afetos e emoções processadas no inconsciente. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Uma intervenção profissional deverá atender às necessidades de jovens em formação, constituindo seus aspectos psíquicos, motores, emocionais e relacionais para o desenvolvimento de sua personalidade. ALTERAÇÕES NA IMAGEM CORPORAL EM ADOLESCENTES VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Reconhecer os elementos psicomotores nos processos de maturação e envelhecimento, na distinção das melhores formas de intervenção ASPECTOS PSICOMOTORES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DO ADULTO A fase adulta é um momento do desenvolvimento humano em que possibilidades e dificuldades são experimentadas, desafiando o indivíduo a criar estratégias que o permitam desempenhar seu papel na sociedade em que estiver inserido, sem deixar de lado sua subjetividade. Você deve estar se perguntando,como seria isso? Como ser adulto e manter em dia a saúde física e mental, tendo que dar conta de tantas dificuldades reais que se atravessa na vida? Realmente não é uma tarefa nada fácil, mas dificuldade não significa impossibilidade. Os hábitos de vida podem influenciar na qualidade ou na dificuldade que esse adulto irá experimentar. RECOMENDAÇÃO É preciso que inicialmente, o profissional de Educação Física tenha um olhar voltado para a corporeidade do seu aluno adulto. Isso significa que cada um de nós vive influenciando e sendo influenciado por contextos de vida e pelas circunstâncias em que estamos inseridos. A vida adulta, em sua maioria, demanda responsabilidades e compromissos que podem dificultar a prática de atividades físicas e aumentar o nível de estresse. Essa combinação de maus hábitos, independente das razões que levaram até ela, podem dar início a um processo de deterioração da saúde e redução das capacidades funcionais. RELEMBRANDO A atividade física retomada seria por si só suficiente para garantir a melhora da saúde e das capacidades motoras, mas, assim como vimos em todo o processo de desenvolvimento humano, aspectos orgânicos, sociais, afetivos, motores e ambientais acompanham o indivíduo em toda sua existência. Isso significa que, para compreendermos essa fase, podemos considerar o aspecto cognitivo, psicossocial e físico (PAPALIA e OLDS, 2000). A cognição do adulto inclui: Aprendizagem e memória. Raciocínio e pensamento. Capacidade de comunicação que modifica a capacidade mental e interfere em sua percepção do mundo. O desenvolvimento social, decorrente das mudanças no modo de ser, no modo de reagir, no comportamento e na capacidade de relação de um adulto, será formado pela estruturação de sua personalidade e se enquadra no desenvolvimento psicossocial. O último aspecto relacionado ao desenvolvimento físico será constituído por: SUAS HABILIDADES MOTORAS & A CAPACIDADE DE SER SENSÍVEL A UM ESTÍMULO EXTERNO (PERCEPÇÃO SENSORIAL) Bem como o quanto que essa motricidade provoca alterações em sua mente, partindo da recepção de estímulos que são oferecidos a este indivíduo que está inserido em um contexto de aquisições reguladas pelo ambiente, pelas emoções e pelas carências de cada um. Fatores que interferem no desenvolvimento do adulto: Muitas mudanças ocorreram nas últimas décadas, os contingentes populacionais que vivem na periferia das grandes cidades aumentaram na mesma proporção e velocidade da urbanização. Essa situação aumenta ainda mais as comunidades desassistidas pelo poder público, aumentando a violência urbana. Outro fator de modificação nas últimas décadas foi a entrada das mulheres no mercado de trabalho, em grande escala, mas com as mesmas dificuldades de sempre: com pouco ou nenhum apoio em auxílios maternidade, creches, entre outras coisas que acarretam mudanças em toda estruturação familiar e social. As sucessivas crises econômicas vividas por muitas pessoas e a precarização do trabalho, entre outros, são apontados como fatores que interferem e afetam o estilo de vida do brasileiro, ampliando ainda mais a desigualdade e adversidade social. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Todos esses fatores se somam e constata-se que patamares elevados de adoecimento mental em adultos foram identificados em nosso país (IBGE, 2016). SAIBA MAIS Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2014), a saúde mental caracteriza-se como um estado de bem-estar, onde o indivíduo mostra-se capaz de lidar com os problemas e dificuldades do dia a dia, contribuindo para a sociedade na qual está inserido, desenvolvendo e realizando seu potencial. Nota-se que, atualmente, pode ser considerado como determinante do adoecer mental fatores como os descritos acima, que aumentam o nível de estresse físico, mental e emocional. Além disso, algumas alterações são cada vez mais frequentes e precisam ser considerados quando se pretende aplicar um trabalho psicomotor em indivíduos adultos. Algumas delas são: TRANSTORNOS DE ANSIEDADE PERTURBAÇÕES NO HUMOR DEPRESSÃO SÍNDROME DE BURNOUT A Síndrome de Burnout caracteriza-se como um distúrbio psíquico desencadeado pela exaustão extrema no trabalho. Todos esses fatores justificam a necessidade de fazermos uma reflexão sobre o papel do profissional de Educação Física, como agente promotor de saúde, que poderá intervir assumindo uma ação preventiva e eficiente com o objetivo de estimular psicomotoramente o adulto, promovendo melhoria das condições físicas, visando um reequilíbrio das alterações psicoafetivas e capacidade mental. ATENÇÃO Importante destacar que a “terapia psicomotora” é função do psicomotricista, profissional que tem formação diferente da Educação Física. Contudo, o profissional de Educação Física, de posse dos conceitos e perspectivas da Psicomotricidade, entendida como Ciência, poderá se munir de uma instrumentalização potente que contribuirá sobremaneira para sua prática profissional – naturalmente o que for permitido dentro de sua formação na área de Educação Física. Dentro das possibilidades de se desenvolver uma intervenção motora, o profissional de Educação Física poderá utilizar atividades motoras que promovam uma conscientização corporal e uma reeducação funcional. Elementos como tônus, equilíbrio, coordenação motora serão contemplados ao mesmo tempo que as vivências corporais. O objetivo será ampliar a capacidade de comunicação e expressão, recuperando o equilíbrio emocional com técnicas de alongamento e relaxamento, juntamente com a reeducação psicomotora. As atividades sensoriais deverão ser utilizadas para estimular áreas mentais que poderão estar “adormecidas” em meio ao estresse diário. Poderá ser utilizado ainda atividades: Ludoterapêuticas Recreação Grafomotoras Reeducação da postura Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal LUDOTERAPÊUTICAS Atividades ludoterapêuticas são aquelas que utilizam jogos, brincadeiras e comunicação entre os participantes, proporcionam sentimentos empatia, segurança, redução do estresse e expressão de sentimentos que podem ser compartilhados. javascript:void(0) COMENTÁRIO Todo esse processo amplia a percepção a partir de experiências sensório-motoras que facilitarão um ajuste em sua corporeidade e maior conscientização de suas ações. ASPECTOS PSICOMOTORES RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DO IDOSO O envelhecimento é um processo esperado que pode ser gradual e saudável ou cercado de enfermidades. A Psicomotricidade poder ser uma ferramenta eficaz para minimizar os efeitos prejudiciais desse processo. ATENÇÃO Os elementos psicomotores que foram desenvolvidos nos primeiros anos de vida são os mesmos que irão se degenerar ao longo do envelhecimento e assim deverão orientar as práticas corporais dessa população, para que se estabeleça um programa de treinamento para idosos. Iniciaremos nosso tema partindo da compreensão da evolução humana, que será descrita por Fonseca (1998) sob três perspectivas: A primeira é a filogênese que tem seus estudos direcionados para a evolução das espécies, desde os primórdios de sua existência. A segunda perspectiva trata da ontogênese que direciona sua atenção à evolução humana. Sabendo-se que o desenvolvimento humano é algo que se processa continuamente, tendo seu início na concepção humana, onde várias transformações ocorrem, já está iniciado o processo de envelhecimento. Várias mudanças ocorrem de forma sequencial e os estágios de desenvolvimento são pouco a pouco alcançados, até que termine esse ciclo com a morte. A retrogênese será compreendida, então, como o processo de involução do ser humano. Sabendo que a evolução se dá na direção céfalo-caudal, sendo do mais simples para o mais complexo, estamos confirmando a perspectiva da filogênese e da ontogênese. Esse processo evolutivo segue padrões motores que se iniciam na forma reflexa, como vimos nos bebês,mas estruturam-se e evoluem para uma forma automática, do automático para o voluntário, caracterizando uma organização vertical ascendente. Na medida em que vivemos as experiências sensório-motoras, estruturam-se a organização psíquica e cognitiva. Ou seja, a evolução humana contempla do nascimento até a morte e essa trajetória passa pela fase adulta e do idoso. Toda essa explicação é para que você possa compreender que, de forma inversa, acontecerá com o idoso. Haverá uma regressão em suas funções motoras, perceptivas, cognitivas e socioemocionais, seguindo uma desorganização vertical em direção descendente, ou seja, do córtex à medula, das atividades mais complexas às mais simples. Note que esse processo não é uma sentença, então, não podemos esquecer que muitos idosos terão um envelhecimento bem sucedido. A partir do conhecimento que o envelhecimento será um processo inevitável e contínuo, onde modificações funcionais importantes poderão comprometer nossas habilidades, é preciso entender e conhecer de que forma isso será refletido no corpo, onde o que perdemos será acelerado e o que ganhamos será mais reduzido. MUDANÇAS NA CAPACIDADE FUNCIONAL VARIAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS PERDA DA ELASTICIDADE ALTERAÇÕES FÍSICAS MUDANÇAS NA CAPACIDADE FUNCIONAL A dificuldade em fazer determinadas tarefas vai tomando o espaço do que antes era uma capacidade funcional, configurando um conjunto de processos que modificam sua capacidade de funcionamento. VARIAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS Suas características físicas, sociais e psíquicas são alteradas e sua posição no meio social é afetada. PERDA DA ELASTICIDADE Certas atividades não são mais realizadas, seus tendões se enrijecem, reduzindo sua elasticidade e predispondo o idoso a sofrer com torções e luxações. ALTERAÇÕES FÍSICAS Sua massa corporal é modificada, a força muscular fica comprometida e há maior propensão a quedas e fraturas. As alterações psíquicas e comportamentais refletem uma lentidão cognitiva que são efeitos retrogênicos. Entretanto, isso não deverá ser um fator que impeça o idoso de participar de programas de intervenção motora que estimulem seu corpo e sua mente, reintegrando-o no meio de convívio e equilibrando suas emoções. RECOMENDAÇÃO O profissional de Educação Física poderá elaborar propostas que contribuam para a melhora física e mental desse público, mas é importante destacar que não podemos infantilizar o idoso, isso seria prejudicial e invalidaria todo o trabalho. Antes de tudo, adotar uma postura de respeito e profissionalismo, observando e focando nas possibilidades motoras, nos ajustes que podem ser feitos e alcançados gradativamente, diminuindo as alterações que o incapacitam e ampliando aquelas que os capacitam. Quando o idoso não consegue mais ter controle sobre o equilíbrio corporal, é preciso observar e compreender vários aspectos: Sua força reduzida reflete a diminuição do tônus. Essa alteração afeta sua postura e manutenção de atividades que realizava com facilidade, sustentando a posição ereta, atuando contra a força da gravidade. Sua capacidade vai reduzindo e uma imobilidade maior passa a ocupar o tempo desse idoso. Um enfraquecimento ósseo é esperado nesse processo de envelhecimento, mas, quando associado à diminuição do tônus e do equilíbrio, torna a possibilidade de quedas com consequentes fraturas algo muito mais provável de acontecer. Nesse tipo de situação, não é incomum idosos que permaneçam um longo tempo imobilizados, precisando de cuidados de terceiros e agravando ainda mais as perdas funcionais. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Todo esse contexto poderá ser piorado se o idoso apresentar outras comorbidades ou doenças, situação essa que não é incomum, podendo, assim, alterar ainda mais sua já fragilizada autoestima e saúde psíquica. As reduções funcionais, alterações motoras e dificuldade de realizar suas tarefas básicas tem um efeito devastador na saúde emocional. O idoso perde a confiança em si e em sua capacidade de realizar tarefas. Esse cenário poderá agravar, caso haja a necessidade de hospitalização e dependência permanente de cuidados. Os aspectos econômicos também podem impactar a saúde do idoso, tanto pela falta de recursos para cuidados e medicações diárias, como pela necessidade de contribuir para compor o orçamento familiar, cuidando financeiramente, inclusive, de filhos e netos. A Psicomotricidade poderá contribuir para a elaboração de um programa motor onde capacidades funcionais e psicológicas, além de aspectos sociais e cognitivos sejam contemplados. O corpo precisa do movimento, mas o cérebro precisa de estímulos positivos, descontraídos e diversificados para que o idoso reintegre sua imagem corporal e desenvolva todas as funções psicomotoras, como tônus, equilíbrio, coordenação motora ampla e fina e os demais aspectos, ao mesmo tempo que exercite sua: ATENÇÃO MEMÓRIA CONDIÇÃO SENSORIAL RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Com atividade física, o idoso poderá sentir-se mais útil, com mais autonomia, tanto psíquica, quanto física. A atividade física é fundamental para qualquer idade e essencial para a terceira idade, sendo uma condição para a recuperação em situações de doenças e acidentes. As atividades motoras em idosos aumentam sua massa muscular. Isso poderá ser feito de forma ainda mais relevante quando o treinamento de força está associado a uma estimulação proprioceptiva, que ativa sensorialmente áreas corticais que se comunicam entre si e exercitam a correlação de estímulos sensoriais a motores. A estimulação motora do idoso poderá ser planejada considerando: MOVIMENTOS RÍTMICOS AUTOMÁTICOS MOVIMENTOS ESPONTÂNEOS AÇÃO DE REFLEXOS MOTORES ATENÇÃO Importante lembrar que as reduções na força e na massa muscular interferem na contração e no relaxamento adequados entre músculos, que estão unidos nas funções que revezam como agonista, antagonista e sinergista. Nesse caso, o profissional de Educação Física deverá elaborar um programa motor individualizado e que considere as bases para um treinamento. O IDOSO ATIVO VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento humano contempla dimensões físicas, motoras, emocionais e cognitivas que se interconectam e estruturam a personalidade humana. Mais do que aspectos que se relacionam, o ser humano torna-se “humano” a partir das interações que podem e devem ser valorizadas na prática do profissional de Educação Física. As interações corporais, sociais e afetivas serão elementos básicos para o desenvolvimento motor se inserir no desenvolvimento psicomotor. Nas teorias de Wallon, este princípio da inter-relação é apontado como as experiências tônicas e afetivas que traduzem e expressam a personalidade e a cognição da criança. As relações sociais são apresentadas como vias de comunicação e desenvolvem a linguagem, sendo importantes para inteligência e atividades mentais. Em todos os momentos do desenvolvimento humano, passamos por diversas relações em ambientes e contextos que agradam e desagradam. Em todos os cenários, o corpo é o meio que instrumentaliza e representa a alma, as pulsões de vida que se constituem da subjetividade humana. Em todos esses momentos, inserimos uma possibilidade de intervenção profissional, considerando a perspectiva da Psicomotricidade como base que sustenta e acolhe a motricidade humana. Isso é possível porque, as relações humanas ocupam lugar de destaque na promoção do desenvolvimento e da conquista de uma corporeidade autônoma, afetiva e feliz. PODCAST Veja agora de que forma a Psicomotricidade pode ser trabalhada para melhorar a saúde do idoso no contexto brasileiro. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BERGER, K. S. O Desenvolvimento da Pessoa – da infância à adolescência. 5. ed. São Paulo: LTC, 2003. FONSECA, V. DA. Gerontopsicomotricidade: uma abordagem ao conceito da retrogênese psicomotora. In : Fonseca V. Psicomotricidade:filogênese, ontogênese e retrogênese. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998. GONÇALVES, F. Psicomotricidade e educação física: quem quer brincar põe o dedo aqui. São Paulo: Cultural RBL, 2010. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. (Estudos e Pesquisas. Informação Demográfica e Socioeconômica, 36). Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016. LE BOULCH, J. Educação Psicomotora: psicocinética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2000. NEWELL, K. Constraints on the development of coordination. In : M. G. Wade e H. T. Whiting (Eds), Motor development in children: Aspects of coordination and control. Amsterdam: The Netherlands, 1986. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Calouste Gulbenkian Foundation. Social determinants of mental health. Geneva: World Health Organization, 2014. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, leia: Sobre o desenvolvimento infantil e do adolescente, na publicação Desenvolvimento da criança e do adolescente - Evidências Científicas e Considerações Teóricas-Práticas. Editora Científica. Sobre a estimulação de 0 a 3 anos: Diretrizes de estimulação precoce crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, do Ministério da Saúde. CONTEUDISTA Marina Guedes de Oliveira Lopes CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); javascript:void(0);
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