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Vômitos em Crianças Profª. Marcia Favaretto Conceitos ❤ Náusea Sensação desagradável, subjetiva associada ao desejo de vomitar ❤ Vômito É a expulsão do conteúdo gástrico, acompanhado da contração dos músculos abdominais, rebaixamento do diafragma e abertura do cárdia. ➺ Pode ser precedido e/ou acompanhado por náuseas, palidez, sudorese e sialorréia. ➺ Relação do centro do vômito e receptores ❤ Regurgitação Expulsão involuntária e sem esforço do conteúdo gástrico através da boca, que não é precedido por náusea, esforço abdominal ou reflexo emético. ❤ Refluxo Gastroesofágico Retorno do conteúdo gástrico para esôfago, atingindo, algumas vezes, a faringe, a boca e as vias aéreas superiores ❤ Critérios de Roma Os Critérios de Roma referem-se a sistematização dos diferentes distúrbios gastroenterológicos que têm em comum o fato de serem ricos do ponto de vista sintomático mas inexpressivos em alterações anatomopatológicas ou bioquímicas. Uniformização de conceitos e de classificação de distúrbios funcionais gastrointestinais. Abordagem inicial Ao atender uma criança ou adolescente com queixa de “vômito” deve-se analisar as características da queixa, para identificar a etiologia. • Idade do paciente · RN: até 28 dias · Lactente: do 28º dia aos 2 anos • Idade de início dos sintomas • Frequência dos sintomas • Características dos sintomas: regurgitações e vômitos ? • Sinais de alerta ou não? • Dados da evolução clínica • Alimentação atual e pregressa • Aceitação da alimentação • DNPM e nutricional • Exame físico : alguma alteração? Refluxo Gastroesofágico Fisiológico O Refluxo Gastroesofágico consiste na passagem do conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem regurgitação e/ou vômito. Pode ser um processo considerado normal, fisiológico, que ocorre várias vezes ao dia, após as refeições, quando ocasiona poucos ou nenhum sintoma. ➺ Distúrbio gastrointestinal funcional, transitório e dependente da imaturidade funcional do aparelho digestivo no primeiro ano de vida (critérios Roma IV) ➺ Nos lactentes, é um evento fisiológico normal, que se inicia entre a primeira semana de vida e o sexto mês, e se resolve espontaneamente até os dois anos de idade, na maioria dos casos. ❤ Fisiopatologia ➺ Dieta líquida e volumosa, em posição horizontal ➺ Esôfago abdominal curto ➺ Menor razão dos volumes esofágico/gástrico ➺ Relaxamento do esfíncter superior do esôfago durante os episódios de refluxo ➺ Menor clareamento esofágico em prematuros: esvaziamento gástrico lento e menor complacência gástrica, de forma que a distensão gástrica é induzida por pequenos volumes, favorecendo o relaxamento do EEI ❤ Critérios de Roma IV Obrigatória a presença das duas seguintes condições em lactentes sadios (3 semanas a 12 meses): 1. Dois ou mais episódios de regurgitação por pelos menos 3 semanas; e 2. Ausência de náuseas, hematêmese, aspiração, apneia, déficit de ganho ponderal, dificuldade para alimentação ou deglutição, postura cervical anormal . ❤ Características ➺ Padrão de regurgitações e vômitos há 2 meses sem piora ➺ Início ao redor 1o mês de vida ➺ Ausência de irritabilidade pós regurgitações ➺ Episódios pós mamadas ➺ Ausência de irritabilidade ➺ Bom ganho ponderal ➺ DNPM adequado para a idade ➺ Ausência de antecedente de atopia ❤ Evolução A evolução esperada é a redução progressiva dos episódios de regurgitações após 4 meses, com resolução em 90- 95 % dos lactentes até 12 meses de vida. ❤ Conduta ➺ Tranquilizar os pais quanto a evolução natural do RGE ➺ Acompanhar a evolução natural com resolução dos sintomas até 12 meses ➺ Orientar manter o bebê elevado, no colo, após as mamadas, por 20-30 minutos · Posição vertical ➺ Modificar o decúbito no berço, de lateral direito para posição supina com elevação acima do quadril (30 a 40º) ➺ Não há necessidade de medicação ➺ Alimentação · Se aleitamento materno exclusivo: manter, sem a necessidade de substituir por fórmula láctea. Rever a técnica de amamentação, reduzindo a possibilidade de ingestão de ar excessiva · Se uso de fórmula: utilização de fórmula espessada (anti-regurgitação) e fracionamento da dieta Obs: a fórmula espessada possui amido de milho, arroz ou batata, que tornam-se viscosos em pH ácido. Mas em hipótese alguma, deve ser substituida por amido de milho do mercado. ➺ Evitar exposição passiva ao fumo, pois esta reduz o tônus basal do EEI Doença do Refluxo Gastroesofágico Refluxo gastroesofágico que causa sintomas ou complicações, podendo ser associada a morbidade importante ❤ Fisiopatologia ➺ Os mecanismos anti RGE, anatômicos ou não, estão prejudicados, favorecendo a ocorrência do relaxamento transitório do EEI ❤ Quadro Clínico ➺ Lactente · Regurgitações · Vômitos de intensidade variável · Dificuldades na mamadas · Deficit de ganho de peso · Choro e irritabilidade · Alteração na posição cervical · Diagnóstico diferencial APLV · Anomalias congênitas ➺ Crianças e adolescentes · Azia · Dor retroesternal · Dor epigástrica ➺ Esofagite de refluxo · Dor epigástrica · Dor precordial · Queimação retroesternal · Choro excessivo · Irritabilidade · Sono agitado · Hematêmese · Melena · Anemia · Disfagia ➺ Manifestações extra esofágicas - Sinais de Alarme · Rouquidão · Tosse crônica · Sibilância · Estridor laríngeo · Soluços frequentes · Crises de apneia · Pneumonia ❤ Investigação A investigação diagnóstica não possui exame padrão-ouro, variando o pedido de acordo com as queixas e suspeitas ➺ Raio-X Contrastado (EED) · Deve ser solicitado para excluir anormalidades anatômicas do trato digestório alto · Avalia apenas o refluxo pós-prandial imediato, sem quantificar os episódios, ou seja, não diferencia o fisiológico da doença Obs: nessa imagem, analisa-se um episódio de refluxo em um esôfago anatomicamente normal, seguido de clareamento ➺ Endoscopia Digestiva Alta com Biópsia · Solicitada na suspeita de complicações: esofagite, estenose péptica, esôfago de Barrett · Importante para orientação terapêutica ➺ pHmetria esofágica prolongada de 24h · Identifica apenas os episódios de refluxo ácido · Quantifica a frequência dos episódios de refluxo ácido e sua duração no esôfago distal · Permite avaliar se existe associação do registro dos episódios de refluxo ácido com sintomas digestivos e extra digestivos · IR índice de refluxo é parâmetro mais importante · IR<10% no 1o ano de vida · IR <7% crianças maiores ❤ Conduta Lactente • Manejo Clínico ➺ Orientar manter o bebê elevado, no colo, após as mamadas, por 20-30 minutos · Posição vertical ➺ Modificar o decúbito no berço, de lateral direito para posição supina com elevação acima do quadril (30 a 40º) ➺ Não há necessidade de medicação ➺ Alimentação · Se aleitamento materno exclusivo: manter, sem a necessidade de substituir por fórmula láctea. Rever a técnica de amamentação, reduzindo a possibilidade de ingestão de ar excessiva · Se uso de fórmula: utilização de fórmula espessada (anti-regurgitação) e fracionamento da dieta Obs: a fórmula espessada possui amido de milho, arroz ou batata, que tornam-se viscosos em pH ácido. Mas em hipótese alguma, deve ser substituida por amido de milho do mercado. ➺ Evitar exposição passiva ao fumo, pois esta reduz o tônus basal do EEI • Manejo Medicamentoso ➺ Antiácidos de contato Apenas como sintomático ou para diminuir a acidez noturna ➺ Inibidores da bomba de prótons Reservado para lactentes com doença induzida pelo ácido e documentada esofagite erosiva . · Melhor resposta em relação ao uso de inibidor de receptor H2 Formulações MUPS · Omeprazol dose 0,7 a 3,5 mg/Kg/dia ➺ Procinéticos: Não usado A proposta é melhorar a depuração esofágica e o esvaziamento gástrico, mas não é eficaz em diminuir a frequência dos RTEEI ➺ Inibidores ou neutralizadores da secreção ácida: Não usado Antagonistas dos receptores de histamina (ARH2s): Ranitidina (retirado do mercado) ❤ Associado a APLV Se possibilidade de alergia alimentar - exclusão da proteína do leite de vaca ➺ Se aleitamento materno exclusivo: Exclusão PLV da dieta materna ➺ Se fórmula: Fórmula extensamente hidrolisada ou à base de aminoácidos❤ Conduta: Crianças e Adolescentes • Dietético ➺ Se condição de sobrepeso ou obesidade – recomendação de perda de peso ➺ Elevação de decúbito durante o sono ➺ Evitar alimentar-se antes de deitar ( mínimo de 2 horas) ➺ Evitar alimentos ácidos - chocolates , frituras, café e bebidas cafeinadas, refrigerantes, apimentados , alimentos ácidos, a base de tomate ➺ Evitar consumo cigarro, álcool • Medicamentoso ➺ Antiácidos de contato: apenas como sintomático ou diminuir a acidez noturna ➺ Procinéticos - aumenta tônus do EEI · Melhora depuração esofágica e o esvaziamento gástrico · NÃO eficaz em diminuir a frequência dos RTEEI · Atualmente não há evidência suficiente para o uso rotineiro dos procinéticos ➺ Inibidores ou neutralizadores da secreção ácida: · Antagonistas dos receptores de histamina (ARH2s): Ranitidina (retirado do mercado) ➺ Inibidores da bomba de prótons (IBPs) - esofagite erosiva, esofagite péptica, esôfago de Barrett . · Melhor resposta em relação ao uso de inibidor de receptor H2 Formulações MUPS · Omeprazol dose 0,7 a 3,5 mg/Kg/dia Anomalias Obstrutivas do RN ➺ Atresia intestinal ➺ Volvo ➺ Má rotação ➺ Estenose hipertrófica de piloro: Cirurgia Ped - Estenose Hipertrófica do Piloro ➺ Doença de Hirschsprung: Cirurgia Ped - Megacólon Congênito ➺ Ileo meconial ➺ Anomalias anorretais: Cirurgia Ped - Anomalias Anorretais ➺ Membrana gástrica ➺ Atresia duodenal: Distensão gástrica + ausência de ar nas demais alças intestinais ➺ Estenose duodenal: Sub oclusão alta - distensão gástrica, ausência de ar nas demais alças intestinais · Após EED: Redução de calibre da 1a porção duodenal, caracterizando área de estenose ➺ Invaginação intestinal Outras causas ❤ Recém-nascido ➺ Infecciosas: sepse, ITU, meningite ➺ Neurológicas: edema cerebral, hematoma subdural, kernicterus ➺ Metabólicas e endocrinológicas: hiperplasia de suprarenal, erros inatos do metabolismo e acidose tubular renal ❤ Lactentes ➺ Regurgitação do lactente ➺ Doença do refluxo gastroesofágico ➺ Alergia alimentar ➺ Síndromes obstrutivas · Estenose hipertrófica do piloro · Invaginação intestinal · Hérnia encarcerada · Doença de Hirschsprung ➺ Infecciosas: diarreia aguda; sepse; meningite; otite média aguda; infecção urinária; infecções respiratórias ➺ Metabólicas e endocrinológicas: hiperplasia de suprarrenal; erros inatos do metabolismo; acidose tubular renal ❤ Pré-Escolar e Escolar ➺ Infecciosas: gastroenterite, infecções respiratórias, meningite,hepatite ➺ Doenças gastrointestinais: úlcera péptica, apendicite, pancreatite ➺ Síndromes obstrutivas: estenose esofágica adquirida, invaginação intestinal, hérnia encarcerada, aderências pós cirurgia ➺ Neurológicas: hipertensão intracraniana Referências Bibliográficas • Sinais e sintomas associados com o desenvolvimento do trato digestivo J Pediatr (Rio J). 2016;92(3 Suppl 1):S46-S56):56-62. • https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788520448 274/pageid/113 • Fisiopatologia doença do refluxo gastroesofágico • Refluxo gastroesofágico https://www.spsp.org.br/site/asp/boletins/AtualizeA3N6.pdf Sociedade Brasileira de Pediatria - Refluxo e Doença do Refluxo Gastroesofágico em Pediatria • Guia Prático de Orientação Departamento Científico de Gastroenterologia (2019- 2021) No 8, 27 de Outubro 2021 • https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/23224c-GPO- Refluxo_e_Doenca_RefluxoGastroesof_em_Pediatria.pdf • Documento Científico Departamento Científico de Gastroenterologia Evidências para o manejo de náusea e vômitos em pediatria No 4, Junho de 2018 https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_Gastro_-_no4_-_20860c_-_DC_-_Evidencias_manejo_de_nausea_e_vomito_em_pediatr.pdf
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