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Doença do refluxo gastroesofágico Refluxo gastroesofágico: retorno do conteúdo gástrico através do esfíncter esofagiano inferior. Fisiológico: casual, de curta duração (durante as refeições), assintomático. Patológico: interprandial recorrente, de longa duração, costuma originar sintomas (pirose e regurgitação) que resultam da agressão à mucosa esofágica promovida pelo material refluído. Epidemiologia: prevalência aumenta com a idade, predomina em lactentes desaparecendo aos 2 anos devido a imaturidade do EEI, sintomas mais frequentes na obesidade e gestação. Fisiopatologia Realaxamento do EEI (esofagite leve): reflexo vagovagal anômalo. Hipotonia do EEI (esofagite grave): própria esofagite erosiva é capaz de reduzir o tônus (agressões repetidas resultam em fibrose e atrofia da musculatura), gerando um ciclo vicioso. Hormônios (colecistocinina e secretina) também reduzem. Outras condições: tabagismo, gestação. Hérnia de hiato: EEI passa a não contar mais com a ajuda da musculatura diafragmática como reforço mecânico à sua função de barreira. Manifestações clínicas Sintomas típicos (esofagianos) Pirose (queimação retroesternal): é o principal sintoma, ocorrendo nas primeiras 3h após as refeições e ao deitar. Regurgitação: percepção de um fluido salgado ou ácido na boca. Disfagia: sugere ocorrência de complicações como estenose péptica ou adenocarcinoma. Reforçam a hipótese de câncer o caráter rapidamente progressivo da disfagia e a coexistência de outros sinais de alarme (perda ponderal, sangue oculto nas fezes e anemia). Dor precordial: DD com angina pectoris. Sintomas atípicos (extraesofagianos) Relacionados ao refluxo ácido para: Boca: erosão do esmalte dentário. Faringe: irritação da garganta, sensação de globus. Laringe: rouquidão, granuloma de corda vocal. Cavidade nasal: sinusite crônica, otite média. Árvore traqueobrônquica (tosse crônica, broncoespasmo, pneumonite aspirativa): o esfíncter esofágico superior é encarregado de proteger o trato respiratório do refluxo, nesses casos, há também uma incompetência desse esfíncter. Anemia ferropriva: por perda crônica de sangue. Diagnóstico Clinico (pirose pelo menos 1x\semana, por um período mínimo de 4-8 semanas) + resposta à prova terapêutica (redução sintomática >50% após 1-2 semanas de uso de IBP) é considerado confirmatório. EDA: identifica as complicações, geralmente é normal e não descarta existência de doença. Esofagite de refluxo Grau A: 1 ou + erosões <5mm de extensão, restritas ao fundo das dobras da mucosa. Grau B: Pelo menos 1 erosão >5mm de extensão, sendo todas restritas ao fundo das dobras da mucosa. Grau C: erosões continuas que cruzam ao longo das dobras da mucosa, acometendo <75% da circunferência luminal. Grau D: erosões continuas que acometem 75% ou mais da circunferência do esôfago. Obs: Devem ser coletadas biópsias da mucosa esofágica. Indicações de EDA Presença de sinais de alarme: disfagia, emagrecimento, odinofagia, sangramento gastrointestinal e anemia. Sintomas refratários ao tratamento História prolongada de pirose (> 5-10 anos): maior risco de esôfago de Barrett Idade > 45-55 anos Presença de náuseas e vômitos, HF de câncer e sintomas intensos ou noturnos devem levar o médico a considerar a realização de EDA. pHmetria de 24h (padrão-ouro) Índice de refluxo (Índice de De Meester): através de uma fórmula matemática, calcula-se este índice que sintetiza num único parâmetro todas as anormalidades encontradas. O diagnóstico é estabelecido quando o índice>14,7 ou demonstrando que o pH intraesofagiano permanece <4,0 por mais do que 7% do tempo de exame. Indicações Sintomas refratários ao tratamento clínico. Avaliação de sintomas atípicos Documentação da real existência de DRGE antes de uma cirurgia antirrefluxo. Reavaliação de pacientes ainda sintomáticos após a cirurgia antirrefluxo Esofagomanometria Auxiliar no planejamento cirúrgico, ajudando a selecionar o tipo de fundoplicatura que deverá ser realizada Indicações Localizar o EEI de modo a permitir o correto posicionamento do cateter de pHmetria. Antes da cirurgia antirrefluxo, com o objetivo de avaliar a competência motora do esôfago e determinar o tipo de fundoplicatura a ser realizada. Suspeita de algum distúrbio motor associado Esofagografia baritada Caracterização das hérnias de hiato. Complicações Estenose péptica do esôfago: cicatrização intensamente fibrótica das lesões. Disfagia por obstrução mecânica, pirose costuma diminuir ou desaparecer. Ulcera esofágica: esofagite de refluxo pode complicar com a formação de úlceras. Odinofagia e HD oculta (anemia ferropriva). Asma relacionada à DRGE: Asma de difícil controle. Crises asmáticas que predominam no período pós-prandial. Coexistência de sintomas típicos de DRGE (pirose, regurgitação e/ou disfagia). Tratamento Medidas antirrefluxo Elevação da cabeceira do leito (15-20cm). Reduzir a ingestão de alimentos que relaxam o EEI ou que têm efeito irritante para o esôfago: gorduras, cítricos, café, bebidas alcoólicas e gasosas, menta, hortelã, molho de tomate, chocolate, condimentos em excesso. Evitar deitar após as refeições, devendo-se esperar de 2-3h. Evitar refeições copiosas, fracionar a dieta. Suspensão do fumo. Evitar líquidos às refeições. Evitar atitudes que aumentem a pressão intra- abdominal (agachar, fazer abdominais, usar roupas e cintos apertados). Redução de peso em obesos. Evitar as drogas que relaxam o EEI (antagonistas do cálcio, nitratos, derivados da morfina, anticolinérgicos, progesterona, diazepam, barbitúricos, teofilina). IBPs (droga de escolha, omeprazol, pantoprazol) Inibem a H+/K+ATPase (bomba de prótons) bloqueando a via final para a secreção de ácido pelas células parietais. Efeitos adversos Agudos: cefaleia, sialorreia e dor abdominal. Crônicos: Maior risco de enterocolite infecciosa Maior risco de pneumonia (gram-negativos que passam a colonizar a mucosa gástrica e podem ser aspirados) Má absorção intestinal de ferro, cálcio, magnésio e vitamina B12, provocando anemia (ferropriva e/ou megaloblástica), hipomagnesemia e fraturas osteoporóticas, especialmente fraturas de quadril. Mais propensos a desenvolver pólipos gástricos fúndicos Bloqueadores H2 (Ranitidina, cimetidina) Bloqueiam os receptores H2 de histamina nas células parietais gástricas, inibindo, desse modo, uma das três vias de estímulo neuroendócrino à secreção ácida (as outras 2 são mediadas por Ach e gastrina) Antiácidos (hidróxido de alumínio e/ou magnésio) Neutralizam diretamente a acidez do suco gástrico, sem interferir na secreção cloridropéptica das células parietais. Efeito de curta duração Procinéticos: podem ser prescritos para pacientes que, além dos sintomas típicos de refluxo, apresentam outras queixas dispépticas sugestivas de gastroparesia associada (ex. náuseas, saciedade precoce, plenitude pós-prandial). Cirurgia antirrefluxo É essencialmente reservada para os casos refratários ou com complicações. Visa restabelecer a competência do EEI. Indicações de cirurgia Refratariedade ao tratamento clínico (principalmente quando existe persistência da regurgitação e/ou hérnia de hiato). Pacientes impossibilitados de utilizar IBP em longo prazo (problemas financeiros, alergia medicamentosa, opção pessoal). Estratégia terapêutica Sintomas leves e intermitentes: medidas antirrefluxo + antiácidos ou BH2(30min antes da refeição) sob demanda. Sintomas graves e frequentes: IBP em dose padrão (1x\ dia), por 4-8 semanas. Se o pct não melhorar deve-se dobrar a dose empiricamente (2x\dia). Ausência de resposta autoriza a realização de exames complementares.Se pct diagnósticado já com complicações iniciar dose dobrada. Considerações na pediatria Diagnostico: só é confirmado se história de refluxo intenso, incomodo e associado a complicações (déficit ponderal ou estatural, irritabilidade, PNM de repetição) e resposta positiva a prova terapêutica. Tratamento Aumentar a frequência das mamadas, diminuindo o volume em cada mamada individual Manter a criança em posição ereta após a alimentação Engrossar a fórmula de amamentação Droga de escolha: Bloqueadores do receptor H2 de histamina (ranitidina). IBP: são controversos em crianças, e não foram validados para pacientes com <1ano de vida. Complicações Esôfago de Barret O refluxo gastroesofágico é acompanhado por esofagite erosiva, a cicatrização das áreas lesadas pode se dar pela substituição do epitélio escamoso normal por um epitélio colunar de padrão intestinal, altamente resistente ao pH ácido (metaplasia intestinal). Epidemiologia: prevalência em homens brancos, aumenta com a idade, pico 45-60 anos. FR: obesidade. Fator de proteção: vinho, infecção por H. pilory e raça negra. Manifestações clínicas: sintomas da DRGE, podem ser atenuados pelo epitélio colunar. Diagnóstico: EDA + biópsia (identificação de células caliciformes). Risco para adenocarcinoma de esôfago: risco 40x> que a população em geral Tratamento IBPs Ausência de displasia: EDA com biópsias pode ser repetida a cada 3-5 anos. Displasia de baixo grau: EDA anual ou Terapia endoscópica. Displasia de alto grau (carcinoma in situ): terapia endoscópica (ressecção da mucosa ou ablação com ondas de radiofrequencia) ou esofagectomia. Obs: H. pylori não causa diretamente DRGE.
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