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Organização do trabalho docente 39 Dado o novo cenário da educação superior, em que as universidades interagem mais ativamente com a sociedade, estas, ao mesmo tempo em que inluenciam os processos produtivos e o mercado de trabalho, também são inluenciadas, o que requer a adequação de seus processos ormativos. Logo, torna-se preciso avançar em relação aos obstáculos elencados, e a principal estratégia para esse avanço é a ormação docente. Formar melhor o corpo docente, qualiicando sua prática e os processos didáticos nos cursos superiores, é o caminho para que o ensino resulte em aprendizagem e, consequentemente, em prois- sionais melhor ormados, o que traz impactos na sociedade, assim como na própria estrutura das instituições de ensino superior, as quais passam a ser, de ato, um espaço de aprender e conhecer, tanto para os alunos quanto para os proessores. 3.2 O planejamento e seus componentes no ensino superior Videoaula Cada componente didático apresenta sua especiicidade e sua unção dentro do processo de ensino e aprendizagem. Contudo, esses componentes, isoladamente, não coniguram um caminho didático, isto é, não tornam possível orientar a ação docente em direção ao aprendizado. Portanto, na perspectiva de omentar os caminhos para o aprender, é preciso entrelaçar o conjunto de elementos que compõe a prática di- dática, preservando a natureza de cada um, visto que é a soma desses elementos que direciona o olhar do proessor para o seu propósito ormativo, considerando conteúdos, objetivos, perl do estudante, a necessidade de se estabelecer uma relação com o aluno, a escolha das metodologias e a maneira como irá avaliar o aprendizado. Organizar esses elementos de modo que essa organização per- mita ao proessor conduzir e, principalmente, ter o controle sobre o processo constitui parte essencial da didática e de um dos seus undamentais componentes: o planejamento. Para compreender a importância do planejamento na didática do ensino superior, é preciso primeiramente que compreendamos também o seu conceito, podendo levantar questões como: o que é 40 Didática do ensino superior um planejamento? Ele diz respeito à instituição? À sala de aula? Ao conteúdo especiicamente de uma aula? O planejamento é de um proessor, ou é de todos? Todos esses questionamentos indicam que o planejamento ocupa um importante espaço dentro do processo educativo. Dessa orma, torna-se importante abordar as suas particularidades. O planejamento tem em suas raízes o sentido de antever, prever e, diante dessa previsão, selecionar quais estratégias e recursos pode- rão contribuir para a construção dos saberes propostos e, ainda, quais conteúdos deverão ser selecionados para atender o objetivo didático estabelecido. Assim, o planejamento diz respeito ao caminho didáti- co escolhido pelo proessor para ensinar, tendo como perspectiva o aprender do aluno. Sendo assim, planejar implica tomar decisões com vista ao ensino e à aprendizagem (SANT’ANNA, 1998). O planejamento, como elemento didático, atende a dierentes obje- tivos e perspectivas, logo ele é amplo e se desdobra de modo a atender as particularidades de cada etapa do processo, apresentando dieren- tes dimensões, mas, ainda, mantendo sua natureza organizativa. Figura 1 Dimensões do planejamento Plano institucional Plano de ensino Plano de aula Fonte: Elaborada pela autora com base em Sant´Anna, 1998. Organização do trabalho docente 41 O ponto de partida para as dierentes dimensões do planejamento é o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, que deve pautar o objetivo ormativo e as concepções de ensino, de homem e de socieda- de a nortear esse objetivo. Assim, o plano institucional parte do que propõe o PPP como ormação e constitui uma construção coletiva, realizada pela comu- nidade universitária, com o objetivo de delinear os caminhos didá- ticos a serem seguidos pelo corpo docente, buscando uniormizar procedimentos, sem, contudo, deixar de considerar a autonomia e a individualidade do trabalho de cada proessor. O objetivo do plano institucional é o de alinhar as ações, visando ao processo ormativo denido, sem ragmentar ou perder de vista os elementos estabeleci- dos no Projeto Pedagógico. Compondo o plano institucional, temos o plano de ensino, o qual re- mete aos elementos ormativos denidos no PPP, porém considerando as particularidades de cada área do conhecimento, de modo que todos os cursos da instituição tenham uma identidade própria que se alinha ao plano institucional, mas que, ao mesmo tempo, preserva as necessi- dades e os contextos ormativos de cada área. Como exemplo, podemos remeter ao curso de Pedagogia, que deve estar alinhado ao projeto institucional para ormar um peda- gogo crítico, relexivo e com condições de orientar dierentes práti- cas pedagógicas e analisá-las por meio das dierentes concepções ou tendências pedagógicas. Esse é o preceito global para a ormação de um pedagogo, entre- tanto as coordenações e os colegiados de cursos devem discutir e de- cidir quais são os conteúdos necessários para ormar as competências necessárias a esse uturo prossional, ou seja, quais disciplinas devem constar na grade curricular do curso. Assim, o plano de ensino trata das escolhas para o curso e diz respeito à orma com que cada disciplina irá incidir sobre os objetivos denidos na proposta ormativa do curso. Convergindo com os planos institucional e de ensino, mas em uma dimensão menor, temos o plano de aula, que trata especicamente da abordagem de cada conteúdo e de como este será didaticamente trabalhado em sala de aula, na perspectiva de atender ao objetivo pro- posto na disciplina. Esse objetivo, por sua vez, deve se somar às demais disciplinas do curso, com vistas à ormação desejada. Atividade 2 Considerando as diferentes dimensões do planejamento, de que forma as ações do professor são detalhadas com base nas características, necessidades formativas e nos objetivos esta- belecidos para um determinado curso? 42 Didática do ensino superior O plano de aula envolve a denição de estratégias metodológicas que possibilitam compreender o conteúdo em seus dierentes vieses e a sua relação com os demais assuntos do curso. Deve-se considerar, para isso, o perl do aluno, englobando também a escolha dos recur- sos didáticos a serem utilizados, os tipos de atividade e a avaliação, tendo como reerência o plano de ensino. Assim, o plano de aula é um detalhamento do plano de ensino (LIBÂNEO, 1993). O planejamento, em suas dierentes dimensões, é o alicerce da ação didática. Por meio dele se organizam os elementos didáticos, tornan- do possível ao proessor, ao compreender os objetivos estabelecidos, denir as estratégias mais adequadas, de modo que desse processo resulte a aprendizagem. Para isso, o proessor precisa ter clareza de sua unção e da especi- cidade da ação docente, entendendo que a ação didática é inerente a esse processo. É necessário, ainda, que o educador aproprie-se dessa ação como parte da prossionalidade docente, entendendo que o papel do proessor universitário vai além da pesquisa e reside, também, na construção de outros prossionais, o que requer ormação pedagógica. A ormação pedagógica implica assumir para si a identidade docente e, a partir dessa escolha, buscar elementos que subsidiem a sua práti- ca pedagógica, o que torna necessário conhecer a didática e seus ele- mentos, entre os quais destacam-se as metodologias, que podem ser potencializadas por meio de dierentes componentes de inovação, espe- cialmente com o uso de tecnologias. Quer saber mais sobre o uso de tecnologias no ensino superior? Vamos lá! 3.3 O uso de tecnologias na educação superior Videoaula Ao longo da história da humanidade, a ciência e a tecnologia têm transormado os dierentes modos de vida e construído novas ormas culturais, mudando diversos processos sociais e, principalmente, im- pactando no trabalho, lazer, saúde e ormas de relacionamentos, isto é, em todas as dimensõesda vida humana (KENSKI, 2013). Trata-se da instituição de uma dierente percepção do cotidiano so- cial que se instala irreversivelmente nas relações humanas, permeada por avanços em que a tecnologia se impõe como aspecto undamental, No livro Práticas de ensi- no-aprendizagem no en- sino superior, os autores relatam resultados de estudos de caso e pes- quisas na aplicação de metodologias inovadoras em salas de aula do ní- vel superior, explanando ainda a importância de as instituições e os profes- sores atualizarem a sua prática pedagógica. CARVALHO, F. F. O.; CHING, H. Y. Rio de Janeiro: Alta Books, 2016. Livro Organização do trabalho docente 43 em particular na orma como nos relacionamos com o conhecimento. Dessa relação, derivam-se a construção de novos saberes e as novas ormas de compreender e apreender o mundo e a sociedade. Resultante de inúmeros processos históricos, a tecnologia passa a constituir a orça motriz da sociedade, assentada essencialmente nas bases econômicas, rutos da Revolução Industrial, e a determinar no- vas ormas de comunicação e novos entendimentos sobre o papel da inormação na sociedade, imprimindo, assim, uma dinamicidade e ve- locidade extrema nas transormações sociais. Essa velocidade nas transormações sociais irá acarretar mudanças cada vez mais eminentes quanto ao preparo do homem para atuar na sociedade, pois o conhecimento torna-se volátil. O que era antes consi- derado verdade e ensinado há 10 ou 20 anos passa a ser questionado e, até mesmo, reutado. Emerge, então, a necessidade de se ormar um indivíduo mais críti- co, com capacidade de questionar e interagir com os contextos atuais e, ainda, com domínio das erramentas tecnológicas, visto que estas movimentam todas as relações na atual sociedade, que tem na ciência e na tecnologia o seu eixo norteador para o desenvolvimento. Considerando esse cenário, a universidade, instituição ormadora dos uturos prossionais e cidadãos, se vê na responsabilidade de trans- ormar o seu processo ormativo, que ultrapassa o conjunto de conheci- mentos especícos da prossão e se insere na perspectiva de construção social. A partir disso, cabe a ela a responsabilidade de ormar para que o estudante tenha condições de transitar qualitativamente pelos elemen- tos sociais que surgem por meio do conhecimento e da tecnologia. Dessa orma, é importante que as instituições ensinem com e para a tecnologia, propiciando ao estudante condições de manusear erra- mentas tecnológicas no exercício prossional e no dia a dia, pois “não dominar a linguagem legitimada pela sociedade, desconhecer as tecno- logias, a linguagem e a língua que dão suporte ou não saber azer uso delas signica, automaticamente, exclusão do grupo beneciado pelas tecnologias digitais” (MILL; JORGE, 2013, p. 45). Para que isso seja possível, o proessor universitário precisa estar preparado para o uso de tecnologias, de modo a propiciar a integração das tecnologias na sala de aula como orma de contextualizar e ressig- nicar os conhecimentos socialmente produzidos.
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