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AULA 4 ORGANIZAÇÕES E TRABALHO Prof.ª Laira Gonçalves Adversi A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 2 Esta aula tem o objetivo de apresentar os principais problemas das organizações convencionais de trabalho na atualidade. As organizações convencionais de trabalho apresentam um repertório de contradições e problemas, porém, nesta aula, serão explicitadas algumas delas. Posto isto, esta aula, a fim de discorrer sobre as organizações convencionais de trabalho, divide-se em cinco temas: 1. os indicativos de contradições e problemas das organizações convencionais de trabalho; 2. a burocracia como controle, poder e alienação 3; as contradições presentes nas organizações gerencialistas; 4. os problemas das organizações orientadas exclusivamente para o crescimento econômico; 5. a violência nas relações de trabalho em organizações convencionais. Ao retomar o conteúdo abordado anteriormente, relembramos que as organizações convencionais de trabalho são burocráticas, gerencialistas, orientadas exclusivamente para o crescimento econômico, entre outras características. Algumas dessas características são mencionadas nesta aula, porém dando ênfase às contradições e aos problemas dessas organizações que acompanham essas caracterizações. TEMA 1 – INDICATIVOS DE CONTRADIÇÕES E PROBLEMAS DAS ORGANIZAÇÕES CONVENCIONAIS DE TRABALHO Há estudos que denunciam as consequências que o modelo convencional de organização de trabalho causa às composições humanas. A organização do trabalho é instrumento propulsor de adoecimento e patologias mentais, entre elas a depressão (Dejours; Mello Neto, 2012). O ambiente de trabalho é marcado pela cultura da urgência e por pressões por eficácia. A competição permanente é produtora de ansiedades e de patologias psíquicas (Serva, 1997). A busca por produtividade promove diminuição dos empregos e rejeição de trabalhadores com desempenho insuficiente (Gaulejac, 2007). Para Guerreiro Ramos, a razão instrumental orientadora das organizações produtivas centradas no mercado é responsável pela insegurança psicológica e pela degradação do planeta, além de produzir uma teoria organizacional incapaz de ensejar espaços sociais gratificantes aos indivíduos (Serva, 1997). Na esfera individual, os estudos sobre violência nas organizações de trabalho (Faria; Meneghetti, 2007), assédio moral e sexual no trabalho (Freitas, 2001), saúde mental no trabalho (Dejours, 2012), entre outros, revelam as A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 3 consequências dessa forma de organização às composições humanas. As violências, o sofrimento patogênico e o assédio moral que envolvem os trabalhadores nas organizações de trabalho são resultados das formas organizacionais modernas funcionalistas, racionalistas, positivistas e utilitárias que, para atender as demandas de mercado e do crescimento econômico, trata os seres humanos como recursos a serem explorados ao máximo (Adversi, 2018). Para isso, até mesmo o domínio do simbólico é instituído a fim de impor essa lógica dominante aos indivíduos (Faria; Schmitt; Meneghetti, 2007). Os resultados para os seres humanos e para a natureza dessa forma de organizar são calamitosos. O modo hegemônico de organização na sociedade atual, desde a esfera individual até o âmbito empresarial, apresenta-se insustentável tanto no nível humano quanto no nível planetário e ambiental. Basta olhar ao redor para constatar o desequilíbrio que tomou conta do sistema terra e do sistema sociedade (Boff, 2012). TEMA 2 – A BUROCRACIA COMO CONTROLE, PODER E ALIENAÇÃO A burocracia caracteriza as organizações convencionais de trabalho. Assim, as organizações modernas de trabalho são chamadas de organizações burocráticas e apresentam formatos de controle, poder e alienação (Motta, 1991), por isso são contraditórias e têm problemas. A burocracia representa controle, pois todos os processos, ferramentas, pessoas são controlados a fim de obter maximização (Adversi, 2018). Por meio das características da burocracia, é possível observar seu caráter de controle funcionando como uma máquina de poder que mantém tudo e todos no “eixo”, tratando as pessoas da mesma forma como são tratadas as máquinas e os processos (Adversi, 2018). A estrutura burocrática representa poder, pois concentra os meios materiais de administração nas mãos das elites detentoras do capital, mediante o desenvolvimento das grandes empresas capitalistas. Esse tipo de estrutura, quando se estabelece completamente, situa-se entre as estruturas sociais mais difíceis de serem desfeitas, formando um meio de transformar ação comum em ação societária, racionalmente ordenada. Dessa forma, constitui-se um instrumento de poder e dominação, pois nada pode ser superior à estrutura burocrática de uma sociedade (Faria; Meneghetti, 2011). A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 4 As organizações burocráticas são alienantes, pois, devido à divisão social do trabalho, ou seja, a divisão entre as pessoas que pensam e as que executam, cria-se, por mecanismos de divisão e separação, uma situação de alienação social. A alienação diz respeito a uma situação em que as pessoas não falam em seu nome, não têm domínio de seu próprio destino, não são incluídas no processo de decisão, mas são faladas pelos dirigentes (Motta, 1991). A distinção pensamento-execução pode ser resumida na ideia de que os que dirigem sabem e podem pensar, ao passo que os dirigidos não sabem e devem executar. Na realidade, essa separação permite a institucionalização da relação de submissão sob o fetiche da autoridade necessária. Assim, tenta-se exprimir a autoridade, mascarando o poder sob a fantasia de que a organização burocrática satisfaça a todos. Além disso, essas organizações se caracterizam pela separação no tempo da atividade de trabalho. O tempo é um dado quantificado dividido e regulador da conduta (Motta, 1991). A alienação nas organizações burocráticas se expressa também por meio da separação entre dirigente e dirigidos. Além do mais, há a fragmentação em que se delimita o território, por meio da separação entre os membros da organização em departamentos. Assim, cada um se concentra em sua tarefa, sem se ocupar da do outro. Ademais, o trabalhador não pode definir sua atividade de trabalho. Deve executar sua função seguindo suas normas definidoras presentes em sua descrição (Motta, 1991). Essas diversas separações mostram um mundo em que o trabalho desemboca na produção de objetos e de relações que não remetem a um processo criador. Assim, em qualquer burocracia, existe uma profunda desconfiança com relação à palavra livre, criadora. Ademais, a burocracia dita que os indivíduos não possam se inserir na sociedade de acordo com suas necessidades e seu bem-estar pessoal. Daí a relação decisiva entre burocracia e alienação (Motta, 1991). As contradições e os problemas nas organizações convencionais de trabalho são notáveis, pois “a burocracia é o oposto de autonomia, tanto individual como coletiva (Faria; Meneghetti, 2011, p. 5). As pessoas não possuem autonomia, mas são impelidas a agir como autômatos, completamente dependentes do sistema burocrático que as dominam. O modo de pensar burocrático é incorporado de tal forma pelas pessoas que elas passam a praticar e reproduzir de forma automática os mecanismos intrínsecos da burocracia em todas as áreas de suas vidas. Isso traz consequências, pois na burocracia não é A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 5 permitido à pessoa expressar sua verdadeira humanidade, mas é reduzidaà posição de máquina ou peça de uma engrenagem. Essas consequências, na maioria das vezes, são resultantes de uma adesão e reprodução não conscientes. (Adversi, 2011) Cabe destacar que há organizações que na atualidade denominam-se como burocracias flexíveis ou pós-burocráticas, porém não se verifica que essas organizações apresentam novidades quanto à burocracia tradicional, pois são a antiga burocracia adaptada às novas realidades e contextos socioambientais da modernidade (Paula, 2002). A suposta ideia da organização flexível como “nova forma organizacional”, na realidade, mostra os velhos moldes travestidos de uma nova roupagem, pois reproduzem a mesma lógica de organizar da burocracia convencional (Paula, 2002). O que ocorre é que, com a evolução do capitalismo e do modo capitalista de produção, as formas de controle e dominação foram se aprimorando. Na era atual, da acumulação flexível, a burocracia também se flexibiliza, mas conserva sua finalidade essencial: manutenção do sistema social vigente e articulação de poder e controle sobre a classe dominada (Paula, 2002), porém buscando obter adesão voluntária e inquestionável das pessoas. TEMA 3 – CONTRADIÇÕES E PROBLEMAS DAS ORGANIZAÇÕES GERENCIALISTAS O gerencialismo é uma característica das organizações convencionais de trabalho. Assim, as organizações modernas de trabalho são chamadas de organizações gerencialistas. Antes de apresentar os problemas das organizações gerencialistas, cabe mencionar que a gestão não é um mal em si. É totalmente legítimo organizar o mundo, racionalizar a produção e preocupar-se com a rentabilidade, mas desde que tais preocupações melhorem as relações humanas e a vida social (Gaulejac, 2007). O que ocorre na atualidade é que a gestão se tornou uma doença social perceptível por meio dos paradoxos do gerencialismo e do acobertamento da violência simbólica pelas novas regras do trabalho flexível, ocasionando degradação das relações humanas e da vida social. Além disso, os problemas sociais e os conflitos são transferidos para o plano individual e são tratados como distúrbios pessoais. A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 6 Algumas contradições e problemas das organizações gerencialistas podem ser percebidas. Por exemplo, o desejo de reconhecimento dos indivíduos é projetado nas empresas pela adesão do discurso de que o crescimento pessoal do indivíduo corresponde ao crescimento da corporação, porém as contradições são notórias, pois “a lógica qualitativa do discurso choca-se com a lógica quantitativa da prática”. Pede-se “autonomia em um mundo hipercoercitivo”, pede- se criatividade “em um mundo hiper-racional”. Além disso, pede-se compromisso intenso com os projetos da empresa e flexibilidade para desligar-se a qualquer instante. Assim, o indivíduo é livre para, enfim, seguir um programa imposto de qualidade máxima (Gaulejac, 2007). Outro exemplo se refere à autonomia, exigida pelas organizações gerencialistas. Essa autonomia diz respeito a uma identificação do indivíduo com a empresa, ou seja, uma “autonomia controlada” que gera uma forma de dependência psíquica, pois, para ser reconhecido como produtivo e excelente, o indivíduo deve se submeter a critérios de qualidade que não são estabelecidos por ele. Além disso, em muitos casos, a adesão total aos princípios e às regras das empresas ocorre apenas “de fachada” pelos trabalhadores. Em grande parte dos casos, os indivíduos se “fragmentam internamente” ou submergem na hiperatividade para não refletir a situação da qual não têm escapatória (Gaulejac, 2007). A ideologia gerencialista introduz a instabilidade, a ruptura, a precariedade e a insegurança no mundo do trabalho e é marcada pela doença da quantofrenia, em que traduz as ocorrências humanas e sociais em linguagem matemática. Assim, “a ideologia gerencialista edifica o crescimento como dogma e invalida os debates sobre seu conteúdo” (Gaulejac, 2007, p. 269). O método de quantificação da qualidade opera pela desqualificação do que é humano, pela ameaça de avaliação negativa, culpabilizando os desempregados, os precarizados e os assalariados por sua insuficiência e inaptidão para alcançar metas inacessíveis (Gaulejac, 2007). A gestão gerencialista apresenta uma crise profunda da ordem simbólica, isto é, do conjunto dos referentes que dão sentido à ação coletiva. Além do que, a crise simbólica resulta em um fenômeno da perda progressiva de sentido, pois os símbolos estão nas bases das regras, das culturas e dos valores necessários para “fazer sociedade”. Ademais, os modos de legitimação e regulação do modo de gestão convencional também estão em crise, a qual tem como causas o A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 7 pensamento utilitarista e a prevalência do direcionamento econômico sobre o simbólico. “A crise é constantemente evocada por meio do crescimento, do desemprego, dos déficits públicos, dos encargos, das variações da Bolsa” (Gaulejac, 2007, p. 298). TEMA 4 – PROBLEMAS DAS ORGANIZAÇÕES ORIENTADAS EXCLUSIVAMENTE PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO A orientação exclusiva para o crescimento econômico é uma característica das organizações convencionais de trabalho. Entre os principais problemas do crescimento econômico estão: as questões ambientais, ou seja, a exaustão de serviços ecossistêmicos, a impossibilidade de florescimento individual e, por último, as desigualdades sociais. Quanto às questões ambientais, a discussão sobre a temática dos limites ao crescimento econômico iniciou-se por meio de um estudo realizado em 1972 pelo Clube de Roma. A pesquisa utilizou sistemas de informática para simular a interação do homem com o meio ambiente, levando em consideração o aumento populacional e o esgotamento dos recursos naturais. O estudo deu origem ao relatório limites ao crescimento. A conclusão a que se chegou foi que se a humanidade continuasse a consumir os recursos naturais como na época, por consequência da industrialização, eles se esgotariam em menos de 100 anos. Assim, justificou-se a impossibilidade de crescimento infinito de qualquer subsistema que integre um sistema finito (Adversi, 2018). De acordo com Jackson (2013), a prosperidade individual não está na posse de riqueza, mas, sim, no florescimento, ou seja, a capacidade de o indivíduo florescer. Para o autor, o florescimento é a possibilidade de o indivíduo alcançar: bom relacionamento com familiares e amigos, segurança de si e das pessoas a quem quer bem, possibilidade de realizar coisas pelas quais se sinta gratificado, manutenção de um emprego decente com renda suficiente para a manutenção de uma vida digna e sentimento de pertencimento a uma comunidade da qual possa participar de forma ativa. Uma renda digna, não riqueza, é um elemento considerado (Adversi, 2018). Quanto às desigualdades sociais, de acordo com Schumacher (1977), a economia convencional deixa de lado os pobres, aquelas pessoas justamente para quem é preciso o desenvolvimento. Para o autor, a economia do gigantismo e da automação é um remanescente das condições e do pensamento do século A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 8 XIX e é totalmente incapaz de resolver problemas reais de hoje. Assim, segundo Schumacher (1977), há a necessidade de um sistema de pensamento inteiramente novo, baseado na atenção pelas pessoas, e não primordialmente nos bens (Adversi, 2018). De acordo com Abromovay (2017), a sociedade em que o PIB cresce, mas está mal distribuído não está se desenvolvendo, pois a maioria da população não participa das benesses do crescimento econômico. Para Jackson (2013), ao considerar o crescer ou o decrescer, é necessário que as pessoas consigam vivernum ambiente de fraternidade, trabalhando com renda digna, realizando o que gostam de fazer e com segurança, ou seja, florescendo em sua condição de ser humano. Logo, cabe considerar que, em casos ausência de crescimento ou decrescimento, a concentração de riqueza pode continuar em poucas mãos e, assim, os mais pobres podem novamente ser prejudicados (Adversi, 2018). TEMA 5 – VIOLÊNCIAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO EM ORGANIZAÇÕES CONVENCIONAIS A violência, segundo Faria (2003), é a pratica de ações de não questionamento da realidade com o intuito de reproduzi-la. Essas ações de não questionamento são voltadas para preservar interesses específicos por meio de instrumentos coercitivos explícitos ou sutis de qualquer natureza em contraste aos mais legítimos interesses e direitos coletivos, desqualificando, assim, a práxis democrática, crítica e reflexiva (Faria; Meneghetti, 2007). O estudo sobre violência nas organizações de trabalho de Faria e Meneghetti (2007) argumenta que a violência nas relações de trabalho se manifesta de forma física, psíquica, social, estrutural e econômica. A violência física é percebida visivelmente no corpo físico dos trabalhadores. São as dores crônicas por esforços repetitivos, a perda do reflexo pelo grande tempo na linha de produção, os baixos salários que levam às diversas formas de escassez, entre outros. Esse tipo de violência é ocasionado por meio de intensificação do ritmo de trabalho, rotinização das tarefas, acumulo de horas de trabalho, entre outros, causando dores crônicas (Faria; Meneghetti, 2007). Na história da administração, o modelo administrativo do taylorismo expressa diretamente esse tipo de violência. Na atualidade, o toyotismo pode ser citado como exemplo, pois o discurso de horizontalidade e trabalho em equipe A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 9 desse modelo administrativo impede o reconhecimento imediato da violência física (Faria; Meneghetti, 2007). A violência psíquica é a exploração dos aspectos psicológicos do trabalhador em favor da organização. Pode ser observada no medo da demissão, no sofrimento em realizar bem as tarefas, na frustração de não ser valorizado pelo trabalho desenvolvido, entre outros (Dejours, 2000). Os fatores provenientes do psiquismo humano são explorados como forma de aumentar a produtividade. Percebe-se esse tipo de violência quando os trabalhadores adquirem doenças psicossomáticas, tais como estresse, depressão, neuroses e obsessões diversas que resultam em doenças físicas, por exemplo úlceras, nervosismo, enxaquecas e crises de ansiedade. Devido à impossibilidade de associar diretamente essas doenças com a tarefa de trabalho desempenhada pelos trabalhadores, as organizações desviam as responsabilidades para a esfera particular da vida do indivíduo (Faria; Meneghetti, 2007). O controle psicológico pode ser observado nas relações de trabalho quando “o indivíduo se sujeita aos fetiches das recompensas da organização, ou projeta sua grandiosidade na grandiosidade idealizada da organização em que trabalha” (Faria; Meneghetti, 2007, p. 288). A violência social refere-se à reprodução sem questionamentos das práticas sociais nas relações de trabalho. São os costumes, os enquadramentos e os compartilhamentos sociais (Faria; Meneghetti, 2007). Nesse tipo de violência, “a derrota do protesto é o principal fator que faz com que as esperanças de mudanças sejam engessadas em um futuro breve” (Faria; Meneghetti, 2007, p. 288). A violência social se expressa, dentre outras formas, por meio do não questionamento do consumismo e do individualismo como incorporação do valor moral compartilhado, o costume do jeitinho, o sucesso como sinônimo de posses materiais (Faria; Meneghetti, 2007), além da aceitação da derrota como tabu moderno (Sennet, 1999). A violência estrutural baseia-se na ação racional-legal. É forma de dominação expressa por meio da Burocracia (Arendt,1970). Segundo Arendt (1994, p. 59), “quanto maior é a burocratização da vida pública maior será a atração pela violência”. De acordo com Faria e Meneghetti (2007), a violência estrutural também se expressa por meio da incorporação dos conhecimentos científicos (sistemas de produção, formas de gerenciamentos, técnicas que qualificam os indivíduos como A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com 10 recursos humanos etc.) sem questionamento. Conhecimentos são transmitidos sem serem questionados e conteúdos educacionais são consumidos passivamente, assim como também são ingeridas soluções para os problemas administrativos. “Os indivíduos são meros consumidores das novas técnicas, impossibilitados de questionar e de criticar as técnicas que os estão aprisionando” (Faria; Meneghetti, 2007, p. 289). A violência simbólica e a imaginária referem-se à manipulação do simbólico em favorecimentos particulares entre os trabalhadores. São os benefícios e as garantias baseados nas expectativas internas dos indivíduos. Um exemplo é o quadro dos funcionários do mês. Estes, na medida em que são apontados como os melhores funcionários, declaram aos demais quais são as normas de condutas que devem seguir. É a política gerencial de estímulo à competição entre pares. O objetivo é motivar o trabalhador, mesmo que ilusoriamente, a intensificar seu trabalho na esperança imaginaria de ser reconhecido como o melhor e se sentir especial. Esse tipo de violência pode ser identificado em favorecimentos individuais para ganhar o apoio dos funcionários, intimidade com o superior hierárquico, promessa do benefício extra para o melhor trabalhador, premiações tornadas armadilhas de captura dos afetos (Faria; Meneghetti, 2007). A violência econômica relaciona-se a sujeição às retribuições salariais incompatíveis com a natureza e as condições de trabalho, com a qualificação exigida. Esse tipo de violência remete a desemprego, subemprego e subtrabalho, informalidade, terceirização, desamparo previdenciário e de saúde, condições desumanas de vida no ambiente social urbano ou social (Boff, 2012; Antunes, 2009; Faria; Meneghetti, 2007). Posto isso, é possível verificar que nas relações de trabalho em organizações convencionais as “pequenas” violências (intensificação do trabalho, rotinizacão dos processos, salários baixos) passam a ser toleradas, em detrimento da não concretização do medo constante da demissão. A essência da banalidade do mal reside na perda do pensamento crítico e na incapacidade de organização coletiva: o mal ganha espaço pela perda da consciência e da capacidade de questionamento das realidades vivenciadas (Faria; Meneghetti, 2007). A luno: A N G É LIC A C A P R ILE S S A N T O S E m ail: a.capriles@ hotm ail.com REFERÊNCIAS ADVERSI, L. G. Organizações não convencionais: um estudo comparativo de casos. 173 f. 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