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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇ A PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇ A Planejam ento Urbano e Regional - Unidade de Vizinhanç a Mariana Trevisan CamposMariana Trevisan Campos Felipe Corres Melachos Karen Cristina Oliveira Karen Cristina Oliveira Felipe Corres Melachos GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro Nessa disciplina, estudaremos em detalhes o Estatuto da Cidade e a elaboração de seu principal instrumento, o plano diretor. Também conheceremos suas premissas, relevâncias, diretrizes e a história dos primórdios do planejamento urbano e seus conceitos organizacionais e projetuais no Brasil. Além disso, estudaremos exemplos de grandes projetos urbanísticos que levaram como principal regra conceitual o planejamento urbano, como o plano de superquadras de Cerdá, na Espanha, que usa o conceito de quadras abertas, criando caminhos e grandes conexões. Veremos o planejamento urbano em suas dimensões ambientais, socioculturais, econômicas e políticas. Abordaremos a origem do conceito de unidade de vizinhança e os bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade jardim. Estudaremos o projeto de uma unidade de vizinhança completa e o dimensionamento dos seus respectivos equipamentos urbanos, públicos e/ou privados. Por � m, encerraremos nossos estudos com o projeto de uma área não residencial (comercial, industrial, institucional, de lazer, de uso misto etc.) adjacente à unidade de vizinhança. Bons estudos! SER_ARQURB_PURUV_CAPA.indd 1,3 04/10/2021 10:49:12 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Mariana Trevisan Campos e Felipe Corres Melachos Karen Cristina Oliveira DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 2 04/10/2021 10:45:25 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 3 04/10/2021 10:45:25 Unidade 1 - As dimensões do planejamento urbano Objetivos da unidade ........................................................................................................... 14 Planejamento urbano e suas dimensões ambientais, socioculturais, econômicas e políticas.................................................................................................................................. 15 Ministério das Cidades ................................................................................................... 17 Cidade Tiradentes ............................................................................................................ 18 Introdução às teorias que fundamentam a prática de planejamento urbano ........... 21 Ferramentas do plano diretor: habitação .................................................................... 21 Saneamento básico ........................................................................................................ 24 Mobilidade urbana .......................................................................................................... 27 Fases de elaboração do plano diretor ......................................................................... 29 Representação gráfica do plano diretor ..................................................................... 30 Implantação de novas ZEIS ........................................................................................... 33 Sintetizando ........................................................................................................................... 36 Referências bibliográficas ................................................................................................. 37 Sumário SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 4 04/10/2021 10:45:26 Sumário Unidade 2 - A origem e os desdobramentos iniciais do conceito de unidade de vizinhança Objetivos da unidade ........................................................................................................... 42 Origem do conceito de unidade de vizinhança: a unité de voisinage e o neighbourhood.....................................................................................................................43 Origens da proposta das unidades de vizinhança .................................................... 44 Conceituação: um modus operandi de vida comunitária ........................................ 47 Estudos de caso ............................................................................................................... 53 Os bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade-jardim ............................ 56 Conceituação: cidades-jardim ...................................................................................... 56 Os bairros-jardim do pós-guerra .................................................................................. 62 Sintetizando ........................................................................................................................... 67 Referências bibliográficas ................................................................................................. 69 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 5 04/10/2021 10:45:26 Sumário Unidade 3 - Projeto de uma unidade de vizinhança Objetivos da unidade ........................................................................................................... 73 Projeto de uma unidade de vizinhança completa .......................................................... 74 Conceito de uma unidade de vizinhança ..................................................................... 74 Os princípios básicos de uma unidade de vizinhança .............................................. 76 As unidades de vizinhança no Brasil ........................................................................... 78 Parâmetros de um projeto para uma unidade de vizinhança .................................. 83 Dimensionamento dos respectivos equipamentos urbanos, públicos e/ ou privados ... 87 Acessibilidade universal nas unidades de vizinhança ............................................. 92 Sintetizando ........................................................................................................................... 96 Referências bibliográficas ................................................................................................. 97 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 6 04/10/2021 10:45:26 Sumário Unidade 4 - Projeto do entorno de uma unidade de vizinhançaObjetivos da unidade ......................................................................................................... 100 Projeto de uma área não residencial adjacente à unidade de vizinhança ................. 101 Exemplo de organização de uma cidade com as unidades de vizinhança ..................104 A mobilidade urbana como fator projetual ............................................................... 108 O novo urbanismo .......................................................................................................... 110 O desenvolvimento urbano sustentável .................................................................... 113 Dimensionamento dos respectivos equipamentos ...................................................... 117 Sintetizando ......................................................................................................................... 122 Referências bibliográficas ............................................................................................... 123 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 7 04/10/2021 10:45:26 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 8 04/10/2021 10:45:26 Caro(a) aluno(a), nessa disciplina, estudaremos em detalhes o Estatuto da Cidade e a elaboração de seu principal instrumento, o plano diretor. Também conheceremos suas premissas, relevâncias, diretrizes e a história dos primórdios do planejamento urbano e seus conceitos organizacionais e projetuais no Brasil. Além disso, estudaremos exemplos de grandes projetos urbanísticos que levaram como principal regra conceitual o planejamento urbano, como o plano de superquadras de Cerdá, na Espanha, que usa o conceito de qua- dras abertas, criando caminhos e grandes conexões. Veremos o planejamento urbano em suas dimensões ambientais, so- cioculturais, econômicas e políticas. Abordaremos a origem do conceito de unidade de vizinhança e os bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade jardim. Estudaremos o projeto de uma unidade de vizinhança completa e o di- mensionamento dos seus respectivos equipamentos urbanos, públicos e/ ou privados. Por fim, encerraremos nossos estudos com o projeto de uma área não residencial (comercial, industrial, institucional, de lazer, de uso misto etc.) adjacente à unidade de vizinhança. Bons estudos! PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 9 Apresentação SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 9 04/10/2021 10:45:26 Dedico este conteúdo à minha mãe, a professora Roseli Trevisan Campos, por sempre me incentivar a lecionar. A professora Mariana Trevisan Cam- pos é pós-graduada em Gestão de Pro- jetos de Arquitetura (2014) e graduada em Arquitetura e Urbanismo (2012), am- bas as formações pelo Centro Universi- tário FIAM FAAM - FMU. Possui experiência em projetos corpo- rativos e gestão de obras comerciais e residenciais. Estagiou na prefeitura de São Paulo, e possui conhecimentos em gestão pública e urbanística. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8818394648753457 PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 10 A autora SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 10 04/10/2021 10:45:27 Dedico este trabalho, primeiramente, à minha família. Dedico também estes escritos aos familiares e às vítimas do COVID-19 nestes desafi adores anos de 2020 e 2021. O professor Felipe Corres Melachos é doutor em Arquitetura e Urbanis- mo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com dupla-titulação pela Università degli Studi di Ferrara (UNI- FE - 2020), possui Mestrado em Arqui- tetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (MACKENZIE - 2014) e é Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbi- teriana Mackenzie (MACKENZIE - 2011). Iniciada em 2011, sua prática profi ssio- nal é enriquecida por docência, pesqui- sas acadêmicas e publicações no âmbi- to dos Sistemas Estruturais e Projeto de Arquitetura e Urbanismo, nas quais se engaja desde 2014 de maneira compar- tilhada. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9240325806927160 PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 11 O autor SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 11 04/10/2021 10:45:27 À minha mãe, que nunca mediu esforços para que eu chegasse até aqui. A professora Karen Cristina Oliveira Arantes possui graduação em Arquite- tura e Urbanismo pela Universidade Po- sitivo e mestrado em Projeto e Patrimô- nio pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atuou na coordenação de proje- tos e obras de restauração de edifícios declarados Patrimônio da Humanidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4289219092707497 A autora PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 12 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 12 04/10/2021 10:45:30 AS DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO URBANO 1 UNIDADE SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 13 04/10/2021 10:45:39 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Apresentar a importância do Estatuto da Cidade; Apresentar a prática de políticas públicas; Apresentar o plano diretor. Planejamento urbano e suas dimensões ambientais, socioculturais, econômicas e políticas Ministério das Cidades Cidade Tiradentes Introdução às teorias que fundamentam a prática de planejamento urbano Ferramentas do plano diretor: habitação Saneamento básico Mobilidade urbana Fases de elaboração do plano diretor Representação gráfica do plano diretor Implantação de novas ZEIS PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 14 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 14 04/10/2021 10:45:39 Planejamento urbano e suas dimensões ambientais, socioculturais, econômicas e políticas Em 2001, foi aprovada e sancionada a Lei nº 10.257, chamada de Estatuto da Cidade. Ela defi ne as diretrizes de crescimento urbano de cidades e seus municí- pios. O Estatuto da Cidade tem como característica formular políticas de gestão pública e democrática e visa, principalmente, a regularização fundiária, que é a maior preocupação desta lei urbanística (CERON, 2012). O Estatuto da Cidade também determina instrumentos que devem ser usados pelos municípios para garantir aplicação e cumprimento de políticas urbanas. Dentre eles estão os planos nacionais, regionais e estaduais de orde- nação do território e de desenvolvimento econômico e social; planejamentos das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; planeja- mento municipal (plano diretor), que deve abranger zoneamento ambiental, planos de desenvolvimento econômico e social, diretrizes habitacionais etc.; revisões e implementações tributárias (IPTU); e estudo de impacto ambiental e de vizinhança. Dentre as principais políticas de gestão pública está o plano diretor, que tem como função organizar espaços e implementar políticas de desenvolvimento econômico e social de uma cidade. As reuniões e assembleias municipais são os principais meios de comunicação durante o desenvolvimento do plano diretor. Pequenos grupos são formados para o debate: comerciantes e líderes comuni- tários apontam problemas para discussão, até que diretrizes sejam aprovadas e, fi nalmente, implementadas. Com base na Lei nº 10.257, todo município com mais de 20 mil habitantes ou considerado patrimônio histórico deve ter um pla- no diretor (BRASIL, 2001). DICA Recomenda-se ao aluno que leia o Estatuto da Cidade e o tenha à mão para consulta. As bases de planejamento das cidades estabelecidas no Estatuto da Cidade podem ser consideradas marcos legais para o desenvolvimento das cidades, ao lado da Constituição de 1988. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 15 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 15 04/10/2021 10:45:40 Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce CURIOSIDADE Na Constituição de 1988 se originaram princípios e diretrizes fundamen- tais para o estabelecimento de normas de ordem pública e de interesse social que regulam o uso de propriedadesem prol da segurança e bem- -estar coletivo. No Quadro 1, podemos verifi car, de maneira resumida, o passo a passo da aplicação do Estatuto da Cidade: Planos Institutos a) Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; b) Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; c) Planejamento municipal: • Plano diretor; • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos setoriais; • Planos de desenvolvimento econômico e social. Institutos: 1 - Institutos tributários e fi nanceiros: a) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; b) Contribuição de melhoria; c) Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; 2 – Institutos jurídicos e políticos: a) Desapropriação; b) Servidão administrativa; c) Limitações administrativas; d) Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) Instituição de unidades de conservação; f) Instituição de zonas especiais de interesse social; g) Concessão de direito real de uso; h) Concessão de uso especial para fi ns de moradia; i) Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; j) Usucapião especial de imóvel urbano; l) Direito de superfície; m) Direito de preocupação; n) Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; o) Transferência do direito de construir; p) Operações urbanas consorciadas; q) Regularização fundiária; r) Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Estudos: a) Estudo prévio de impacto ambiental (EIA); b) Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). a) Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; b) Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; c) Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento econômico e social; Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planejamento municipal: • Plano diretor; • Disciplina ou leis de parcelamento, Planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e desenvolvimento Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planejamento municipal: • Plano diretor; • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; território e desenvolvimento Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planejamento municipal: • Plano diretor; • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; Planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planejamento municipal: • Plano diretor; • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregionais; Planejamento municipal: • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; Institutos: 1 - metropolitanas, aglomerações Planejamento municipal: • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos setoriais; Institutos: Institutos tributários e fi nanceiros: a) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; • Disciplina ou leis de parcelamento, uso e ocupação do solo; • Zoneamento ambiental; • Plano plurianual; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos setoriais; • Planos de desenvolvimento econômico e social. Institutos: Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; b) c) Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; • Disciplina ou leis de parcelamento, • Zoneamento ambiental; • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos setoriais; • Planos de desenvolvimento econômico e social. Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; 2 – Estudos: Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU; • Disciplina ou leis de parcelamento, • Diretrizes orçamentárias; • Orçamento anual; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos • Planos de desenvolvimento econômico e social. Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: a) Desapropriação; b) Estudos: a) ambiental (EIA); Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial • Disciplina ou leis de parcelamento, • Diretrizes orçamentárias; • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos • Planos de desenvolvimento econômico e social. Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Desapropriação; Servidão administrativa; c) Limitações administrativas; d) Estudos: Estudo prévio de impacto ambiental (EIA); b) Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos • Planos de desenvolvimento econômico e social. Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Desapropriação; Servidão administrativa; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; e) Estudo prévio de impacto ambiental (EIA); Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial • Gestão orçamentária participativa; • Planos, programas e projetos • Planos de desenvolvimento Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Desapropriação; Servidão administrativa; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; g) Estudo prévio de impacto ambiental (EIA); Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). Institutos tributários e fi nanceiros: Imposto sobre a propriedade predial e territorial • Gestão orçamentária participativa; • Planos de desenvolvimento Contribuição de melhoria; Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Desapropriação; Servidão administrativa; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; h) Concessão de uso especial para fi ns de moradia; i) Estudo prévio de impacto ambiental (EIA); Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). Institutos tributários e fi nanceiros:Imposto sobre a propriedade predial e territorial Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Servidão administrativa; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; j) Usucapião especial de imóvel urbano; Estudo prévio de impacto Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). Imposto sobre a propriedade predial e territorial Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Servidão administrativa; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; m) Estudo prévio de impacto Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV). Imposto sobre a propriedade predial e territorial Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Institutos jurídicos e políticos: Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; Direito de preocupação; n) Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; Estudo prévio de impacto de Imposto sobre a propriedade predial e territorial Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Limitações administrativas; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; Direito de preocupação; Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; o) Transferência do direito de construir; Estudo prévio de impacto de Imposto sobre a propriedade predial e territorial Incentivos e benefícios fi scais e fi nanceiros; Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; Direito de preocupação; Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; q) Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; Direito de preocupação; Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; r) Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de direito real de uso; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de superfície; Direito de preocupação; Outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de unidades de conservação; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Direito de preocupação; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Instituição de zonas especiais de interesse social; Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Usucapião especial de imóvel urbano; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Concessão de uso especial para fi ns de moradia; Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Regularização fundiária; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Parcelamento, edifi cação ou utilização compulsórios; Outorga onerosa do direito de construir e de Transferência do direito de construir; Operações urbanas consorciadas; Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Outorga onerosa do direito de construir e de Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos. Assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidade e grupos sociais menos favorecidos.comunidade e grupos sociais menos favorecidos. QUADRO 1. RESUMO DA LEI Nº 10.257 Fonte: CERON, 2012, p. 19. De acordo com uma pesquisa realizada pelo do IBGE, em 2009, o Brasil vi- veu, à época, uma ascensão econômica. O PIB cresceu 3,27%, enquanto a po- pulação teve crescimento anual de 2,29%. Programas socioeconômicos foram criados e direcionados à população de baixa renda, com o objetivo de tirá-los da linha da pobreza, sendo um exemplo desses programas o Bolsa Família. Também foram aplicados programas político-sociais de incentivo à economia e PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 16 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 16 04/10/2021 10:45:40 Asus Realce Asus Realce ao empreendedorismo, com apoio de grandes bancos, como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Minha Casa Minha Vida, um planodo go- verno federal que teve como principal objetivo fornecer moradia à população supracitada (ROLNIK; KLINK, 2011). Esses programas deram relativo poder de compra ao cidadão, o que possi- bilitou a movimentação da economia. Apesar dos planos citados, as periferias das grandes cidades brasileiras continuam sofrendo com falta de infraestrutu- ra urbana, saneamento básico, saúde e educação. Nesse contexto, apesar da existência de políticas públicas, a abrangência delas ainda encontra barreiras de implantação por diversos problemas re- correntes no cotidiano da população, tais como serviços de saúde precários, hospitais e ambulatórios insufi cientes e bairros sem pavimentação, iluminação pública e saneamento básico. Os problemas socioculturais acontecem de forma repetitiva nas grandes cidades do Brasil. Um exemplo é o da população quilombola, que vive em re- giões periféricas não planejadas, graças aos impactos históricos relacionados à escravidão. Ministério das Cidades O Ministério das Cidades foi criado em janeiro de 2003 com o objetivo de combater a desigualdade social no País, transformando as cidades em espaços humanizados, por meio de ampliação de transpor- te público, saneamento básico e moradia. O Ministério passou a integrar a cúpula administrativa do governo, auxiliando o Poder Executivo. Sua au- tonomia técnica, financeira e admi- nistrativa passou a possibilitar o estabelecimento de estratégias e diretrizes na aplicação dos re- cursos públicos, criar normas e avaliar programas federais. Suas competências eram: a políti- ca de desenvolvimento urbano; políti- PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 17 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 17 04/10/2021 10:45:40 Asus Realce Asus Realce Asus Realce Asus Realce cas de habitação, saneamento básico e meio ambiente; transporte urbano e trânsito; articulação com as diversas esferas de governo, com o setor privado e organizações não governamentais ligadas a ações e programas de urbaniza- ção; política de subsídio à habitação popular; planejamento, regulação, nor- matização e gestão da aplicação de recursos em políticas de desenvolvimento urbano; e formulação das diretrizes gerais para conservação dos sistemas hí- dricos e gestão do saneamento. Sua missão era a de melhorar as cidades, tornando-as mais humanas, além de mais justas social e economicamente. A proposta ainda abrangia que as cidades fossem ambientalmente sustentáveis. Esses objetivos deveriam ser atingidos por meio de uma gestão democrática e integrada das políticas pú- blicas de planejamento urbano, habitação, saneamento, mobilidade urbana, acessibilidade e trânsito. Em 2019, o Ministério das Cidades foi extinto e suas atribuições foram direcio- nadas ao Ministério do Desenvolvimento Regional, que exerce as mesmas funções. Cidade Tiradentes Nesse contexto, podemos usar como exemplo o distrito de Cidade Tiradentes, localizado na Zona Leste de São Paulo. CONTEXTUALIZANDO Historicamente, Cidade Tiradentes abriga o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, com cerca de 40 mil unidades de mora- dias formais, a maior parte construídas na década de 1980 pela COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), a CDHU (Compa- nhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e grandes empreiteiras. Esses projetos foram fi nanciados pelo extinto BNH (Banco Nacional da Habitação). No fi nal da década de 1970, o poder público iniciou o processo de compra de uma gleba de terras formadas por plantações de eucaliptos e trechos de Mata Atlântica, conhecida como Fazenda Santa Etelvina. Grandes prédios residen- ciais foram construídos para atender a famílias que aguardavam na fi la de uma casa própria das companhias habitacionais. As famílias eram cadastradas e as unidades eram distribuídas por sorteios. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 18 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 18 04/10/2021 10:45:40 Asus Realce Asus Realce Figura 1. Cidade Tiradentes na década de 1970. Fonte: OLIVEIRA, 2021. Além dos inúmeros conjuntos habitacionais, existem, também, moradias informais entrelaçadas, que deram forma a favelas e loteamentos clandestinos e irregulares em meio às áreas privadas. A área que foi planejada para ser um grande bairro dormitório, com o passar dos anos, se tornou um organismo vivo. Inúmeros comércios, pequenas fábricas e produtores rurais movimentam a economia local. Com a construção do Rodoanel, o bairro tornou-se rota co- mercial, e mesmo com uma infraestrutura consolidada, o bairro ainda sofre com a violência e a falta de mobilidade urbana e recursos básicos. Mesmo com o comércio local, os índices econômicos da região são baixos quan- do se trata de emprego formal. São 0,2 postos de trabalho para cada dez habitantes. Aqueles que se deslocam ao centro da cidade reclamam da demora no percurso, que chega a três horas. Em 2007, o governo do estado, em parceria com as subpre- feituras, iniciou o projeto do monotrilho que conectaria o centro a um terminal no bairro, por meio da Linha 15-Prata, porém, em 2020, a obra foi suspensa. Em números, o bairro possui uma população de cerca de 211.501 habitantes. Considerada uma área superpopulosa, com concentração de 14.100 habitantes por quilômetro quadrado, é também umas das maiores taxas de crescimento popula- cional da cidade. Segundo um levantamento feito pela prefeitura regional de Cidade Tiradentes, 8064 famílias encontram-se em situação de vulnerabilidade muito alta. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 19 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 19 04/10/2021 10:45:41 Mesmo com tantos problemas socioculturais e infraestrutura urbana sensível, o bairro conta com o Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, um equi- pamento cultural importante para o desenvolvimento do local. O centro oferece atividades artísticas, esportivas e de lazer, além de cursos profissionalizantes. Figura 2. Vista do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. Fonte: Homify. Acesso em: 10/05/2021. Figura 3. Projeto de implantação do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes. Fonte: Homify. Acesso em: 10/05/2021. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 20 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 20 04/10/2021 10:45:42 A implantação do Centro de Formação Cultural Cidade Tiraden- tes é um dos instrumentos previstos no plano diretor. Sua fun- ção é integrar a sociedade, a educação e o lazer, proporcionando qualidade de vida a uma área de grande vulnerabilidade. Introdução às teorias que fundamentam a prática de planejamento urbano O planejamento urbano é a ferramenta mais importante quando se fala em organizar uma cidade. Nele, estudamos o crescimento e planejamento de uma cidade já consolidada ou em formação. Seu principal objetivo é pro- porcionar melhor qualidade de vida coletiva por meio de políticas urbanas, ambientais e sociais. Sua aplicação se dá pelo plano diretor, um instrumento essencial para que uma cidade cresça de forma equilibrada, com diretrizes política-urbanísticas. É o plano diretor quem determina, dentro do interesse coletivo, a organiza- ção do espaço destinados a equipamentos urbanos, como hospitais, escolas, centros comerciais e áreas de lazer, e a infraestrutura urbana, como organização a viária (estradas, ruas e avenidas), os terminais de ônibus e o saneamento bá- sico (água e esgoto). Além disso, defi ne áreas de adensamento urbano e preser- vação ambiental. Ferramentas do plano diretor: habitação O plano diretor deve ser acordado entre as partes cabíveis, e isso pode variar de município para município. Alguns conceitos básicos apontados pelo Estatuto da Cidade devem ser aplicados. Por exemplo: • Parcelamento, edifi cação e utilização compulsória: imóveis e terrenos em zonas urbanas desocupadas permanentemente ou parcialmente (imóveis para aluguel) podem ser usados pelo município,que indica um coefi ciente de habi- tação e, a partir dele, obriga os proprietários a implantarem esses coefi cientes usando parcelamento ou desmembramento de lotes para construção de novas edifi cações ou a utilização do imóvel existente com a uma atividade permitida no zoneamento em que ele está localizado; PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 21 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 21 04/10/2021 10:45:42 Asus Realce • Direito de preempção: é determinado pelo município, por meio do plano di- retor, a delimitação de zonas especiais, sobre as quais o poder público terá prefe- rência de compra nos próximos cinco anos, caso ele venha a utilizar aquela área para construir uma habitação popular ou para qualquer outro fim de interesse da coletividade. No artigo 2º do Estatuto da Cidade, estabelece-se que “a política urba- na tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana” (BRASIL, 2001). Isso significa que, mesmo sendo privada, a propriedade deve ter uma função social. Assim, se for melhor para a comunidade, um terreno que está em uma zona residencial pode ser obrigado, pela prefeitura, a só ser utilizado para a construção de moradias; • Direito de outorga onerosa do direito de construir: todo lote possui uma área máxima que pode ser construída, chamada de coeficiente de aproveitamento básico. A outorga onerosa é uma taxa paga pelo proprietário ao município para que ele seja autorizado a construir além do limite permitido, por exemplo, se em uma determinada área é possível construir um prédio de apenas cinco andares, mas a iniciativa privada quer construir um prédio de dez andares; • Direito de alterar onerosamente o uso do solo: o proprietário de determina- das áreas da cidade tem direito a alterar o uso da propriedade, desde que seja paga uma taxa. O município define as áreas que serão contempladas com esse direito e o valor a ser pago; • Direito de transferir o direito de construir: é previsto, no plano diretor, que o proprietário de um imóvel em zona urbana pode exercer o direito de construir em outro lugar quando considerado necessário para os seguintes fins: implantação de equipamentos urbanos e comunitários, preservação patrimônio histórico e imple- mentação de programas de HIS (habitação de interesse social). Em meados de 2009, os municípios com mais de 20 mil habitantes já tinham seus planos diretores em elaboração, conforme estabelecido no Estatuto da Ci- dade. Nos municípios em que o plano diretor já estava em vigor, foi feita uma avaliação (pelo Ministério das Cidades). Nessa avaliação, foram levantadas falhas de execução relevantes: • Habitação: o problema citado em mais de 80% dos casos foi a impossibilidade da criação de ZEIS (zonas especiais de interesse social), por falta de re- cursos financeiros; PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 22 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 22 04/10/2021 10:45:43 • Saneamento: nesse caso, quando faltam estratégias claras para o crescimen- to dos municípios, consequentemente, há prejuízo na logística de crescimento do abastecimento de água tratada e esgoto; • Mobilidade urbana: os municípios priorizam meios de transportes motoriza- dos. Mesmo que o uso da bicicleta, nos últimos tempos, tenha aumentado, ela ainda é vista apenas como uma alternativa ligada à questão ambiental e não como meio de transporte alternativo. O município de São Paulo, por exemplo, implantou ciclofaixas em rotas que inter- ligam parques e áreas de lazer, assim como em vias comerciais, como nas avenidas Paulista, Brigadeiro Faria Lima e Berrini. Figura 4. Ciclofaixa na avenida Paulista. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/05/2021. Ainda há controvérsias sobre o uso de bicicletas devido à falta de planeja- mento adequado para a implantação das ciclofaixas e de sinalização que garanta segurança no trânsito, além da topografia não adequada para uso de bicicletas em algumas regiões. São mais de 534 km de ciclofaixas implantadas em locais ermos, muitas delas em vias de trânsito rápido, sem qualquer preparo do local. O primeiro plano diretor implantado na cidade São Paulo, em 2006, foi critica- do por não estabelecer metas e cronogramas para a implantação das novas po- líticas. Em 2014, foi sancionado um novo plano, válido para os próximos 16 anos. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 23 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 23 04/10/2021 10:45:43 O não cumprimento do plano prevê cassação de mandato do prefeito da cidade por improbidade administrativa, conforme o previsto no Estatuto da Cidade. Saneamento básico A realidade do saneamento básico no Brasil é delicada. Moradores que vivem em situação de pobreza culpam o poder público pela situação péssima no saneamento. A disponibilidade dos serviços é insufi ciente, principalmente quando se trata de co- leta e tratamento de esgoto. Figura 5. Retrato da falta de saneamento. Fonte: POMPÊO, 2020. Um levantamento recente feito pelo SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) aponta que 51,9 % dos 5570 municípios brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto. O crescimento populacional evidencia a falta de pla- nejamento das cidades e se refl ete na implantação de saneamento básico. A falta de saneamento adequado e seus impactos na higiene da população têm refl exos diretos na saúde, podendo ocasionar doenças como diarreia, cólera, infec- ção intestinal, entre outras. A Lei nº 11.455 estabelece normas para o saneamento básico. Ela propõe me- lhorias na gestão e prestação de serviços para implementação de projetos de sa- neamento para todo o Brasil. Essa lei também pode ser apresentada na forma de decretos municipais, estaduais e federais, ou como plano de saneamento básico, e seu objetivo é proporcionar o acesso aos serviços básicos, maximizando sua efi ciên- cia (BRASIL, 2007). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 24 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 24 04/10/2021 10:45:44 É de suma importância salientar que o saneamento básico deve ser tratado como um grupo de serviços: abastecimento de água potável, esgoto tratado, reco- lhimento e manejo de lixos sólidos e aproveitamento correto de águas pluviais. De acordo com o Ranking do Saneamento Básico 2019 (obtido com base nos da- dos cedidos pelo Ministério do Desenvolvimento Regional), no Brasil, existem apro- ximadamente 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada e 100 milhões sem coleta de esgoto (esse número representa 47,6% da população, sedo que apenas 46% do esgoto produzido no Brasil é tratado). Por isso, a alta taxa de poluição de rios e mananciais brasileiros por descarte de esgotos clandestinos. Ainda sobre o ranking, de 100 cidades brasileiras estudadas, 90 possuem mais de 80% da população com acesso à água tratada, enquanto apenas 46 desses muni- cípios têm mais de 80% da população com acesso à coleta de esgoto. Sobre o trata- mento de esgoto, apenas 22 municípios tratam mais de 80% do esgoto produzido. O dado mais preocupante é que 80% das grandes cidades brasileiras têm mais de 30% de perda de água potável dentro do sistema de distribuição. Analisando os dados, conseguimos entender a dificuldade em colocar em prá- tica as diretrizes do plano diretor. A lei de saneamento determina a importância da elaboração do Plano Municipal de Saneamento Básico. Com ele, é determinado quais municípios receberão recursos federais para investir em saneamento. Essa medida foi criada para alcançar o uso consciente dos recursos por meio de planeja- mento (BRASIL, 2007). O PMSB serve como um diagnóstico. Com ele, é possível identificar as deficiên- cias e necessidades de cada município. Com esse diagnóstico, é possível estabele- cer e planejar metas para implantação de serviços básicos. Em suma, o plano serve como ferramenta de gestão estratégica para as prefeituras e empresas responsá- veis pelos serviços. Outroponto importante é que as áreas rurais também fazem parte do PMSB, considerando o seu baixo índice de acesso ao saneamento. O PMSB deve interagir com o plano diretor municipal e contar com a participação da população para que seja apresentado o real cenário acerca do saneamento e possibilitar a elaboração de propostas efetivas para a solução dos problemas. Um plano bem elaborado ajuda a promover a segurança hídrica, comba- ter doenças causadas pela falta de saneamento, reduzir acidentes ambientais, preservar o meio ambiente e auxiliar o desenvolvimento econômico e social do município, reduzindo a desigualdade social. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 25 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 25 04/10/2021 10:45:44 O estado de São Paulo, por meio da SIMA (Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente), elaborou o 1º Plano Estadual de Saneamento Básico do Esta- do de São Paulo, contemplando os quatro serviços de saneamento básico. O plano será instituído em forma de lei e estabelecerá diretrizes e ações no setor, respeitando as características de cada local. Foram realizados diagnósticos e prognósticos em 645 municípios, organizados nas 22 bacias hidrográficas. Es- sas diretrizes serão planejadas e executadas ao longo de 20 anos, sofrendo possíveis revisões a cada quatro anos. No ano de 2020, o plano passou por uma revisão. O objetivo foi permitir programar e executar atividades capazes de transformar a situação atual em uma condição desejada e realizável, aumentando a eficácia da gestão e o ge- renciamento de resíduos sólidos em todo o estado. O documento trouxe novas diretrizes, incorporando captação de lixo do mar, economia circular e a atuali- zação das diretrizes existentes. No Quadro 2, é retratado, de forma simplificada, o processo do ciclo de saneamento básico, desde o tratamento da água potável até seu retorno em forma de esgoto: 1 – Tratamento de água Todas as casas devem receber água tratada e de qualidade. Ela pode ser retirada de rios, mananciais ou poços subterrâneos. Na estação de tratamento, processos físicos e químicos retiram toda a areia e os poluentes, garantindo que a água esteja limpa e pronta para o consumo humano. 2 – Abastecimento A água precisa ser fornecida regularmente, sem racionamento, na qualidade necessária para higiene e alimentação de todas as pessoas que moram em uma residência. Segundo especialistas, poços artesianos devem ser evitados, pois a água sai com muita concentração de ferro. Ciclo completo de saneamento 1 2 3 4 5 6 7 QUADRO 2. CICLO COMPLETO DE SANEAMENTO PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 26 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 26 04/10/2021 10:45:45 3 – Coleta de esgoto Todo o esgoto produzido nas residências tem que ser afastado por meio de tubulação subterrânea, garantindo que crianças e adultos não entrem em contato com a sujeira. A céu aberto, o esgoto vira foco de contaminação, principalmente para crianças. 4 – Coleta de lixo O recolhimento e destinação fi nal dos resíduos sólidos é responsabilidade das prefeituras, que não podem deixar que o lixo acabe chegando aos cursos d’água. O chorume é um dos maiores poluentes de rios e mananciais. 5 – Drenagem urbana A água da chuva deve ser escoada em direção aos cursos d’água, para que siga seu curso natural e não cause inundações e alagamentos. As entradas das galerias precisam estar protegidas por grades. 6 – Tratamento de esgoto A lei de saneamento determina que todo o esgoto coletado em uma cidade deve receber tratamento apropriado antes de ser devolvido à natureza. Geralmente, do esgoto que sai da sua casa, 99,8% é água. 7 – Participação social O modo como o saneamento será oferecido tem como ser amplamente discutido e fi scalizado pela sociedade. A lei estabelece a criação de agências reguladoras e conselhos populares para acompanhar de perto as ações de saneamento. Mobilidade urbana A mobilidade urbana pode ser definida como a condição de desloca- mento de pessoas dentro de uma cidade. Tem como objetivo desenvolver relações socioeconômicas dentro de uma sociedade. Metrô, ônibus, trem e outros tipos de transportes coletivos são instrumentos da mobilidade. Para avaliar a mobilidade urbana de determinado local, é preciso le- var em conta três fatores importantes: organização do território, fluxo de transporte versus pessoas/mercadorias e transportes utilizados. Devido ao grande aumento populacional em algumas cidades brasilei- ras, a mobilidade urbana se tornou um grande desafio para a gestão públi- ca. Uma pesquisa feita em 2016 pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) mos- tra que o aumento da frota chegou a 400%. Já a construção de transportes coletivos alternativos (como o monotrilho) não apresentou o mesmo índice de aumento no mesmo período. Atualmente, as cidades que mais sofrem com aumento no trânsito são: São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Em São Paulo, em média, 5 milhões de pessoas usam ônibus, 4 milhões usam o metrô e 7 milhões usam veículos privados. A alternativa implanta- da pela gestão pública foi o rodízio de veículos, determinado pelo número da placa do carro e pelo dia da semana, porém, essa alternativa não se Fonte: ARSESP, 2020. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 27 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 27 04/10/2021 10:45:45 tornou eficaz, já que as pessoas compram mais de um carro com placas diferentes a fim de continuar usando o transporte privado. A cidade conti- nua investindo no aumento da malha metroviária, na tentativa de diminuir o trânsito caótico. No Rio de Janeiro, são 3 milhões de usuários de ônibus e 780 mil usuá- rios de metrô. Na época da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, muitos projetos de mobilidade finalmente saíram do papel, bene- ficiando a população. Um deles foi a implantação de metrôs de superfície, que levam passageiros do centro da cidade a lugares mais afastados, pro- porcionando agilidade no deslocamento. O grande desafio a ser vencido no Rio de Janeiro é a integração com os municípios que fazem parte do chamado Grande Rio, localizados do outro lado da ponte Rio-Niterói. Em Curitiba, se utiliza grandes malhas de corredores de ônibus. A ci- dade não conta com metrô. Ainda assim, é um exemplo mundial, por sua implantação e funcionalidade. A mobilidade urbana é infraestrutura e é transporte público e privado, e tem que ser pensada como um conjunto. A Lei nº 12.587, aprovada em 2012, veio com objetivo de corrigir e insti- tuir diretrizes para organização e implantação de mobilidade nas cidades brasileiras. Cada cidade deve criar um plano de mobilidade urbana e com- patibilizá-lo com o plano diretor em até seis anos de sua implementação (BRASIL, 2012). De acordo com o artigo 24 da Lei nº 12.587, o plano de mobilidade ur- bana deve contemplar: I - os serviços de transporte público coletivo; II - a circulação viária; III - as infraestruturas do sistema de mobilidade urbana, incluindo as ciclovias e ciclofaixas; IV - a acessibilidade para pes- soas com deficiência e restrição de mobilidade; V - a integra- ção dos modos de transporte público e destes com os privados e os não motorizados; VI - a operação e o disciplinamento do transporte de carga na infraestrutura viária; VII - os polos ge- radores de viagens; VIII - as áreas de estacionamentos públicos e privados, gratuitos ou onerosos; IX - as áreas e horários de acesso e circulação restrita ou controlada; X - os mecanismos e PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 28 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 28 04/10/2021 10:45:45 instrumentos de fi nanciamento do transporte público coletivo e da infraestrutura de mobilidade urbana; XI - a sistemática de avaliação, revisão e atualização periódica do plano de mobilida- de urbana em prazo não superior a dez anos (BRASIL, 2012). Os municípios que desrespeitassem o prazo de elaboração do plano de mobilidade (até 2019) fi cariam impedidos dereceber repasses federais desti- nado à mobilidade urbana. Sendo assim, a mobilidade urbana é, sem dúvida, muito importante, mas como facilitar os trajetos considerando os impactos ambientais? Uma alternativa apresentada para esse problema é a im- plementação de sistemas de energia limpa, como transportes sobre trilhos, bondes, metrôs, ônibus elétricos ou a diesel e VLTs (veículos leves sobre trilhos). Unidos a isso, temos a integração de ci- clovias com alta capacidade, a fim de comportar um grande volume de pessoas e bicicletas. Fases de elaboração do plano diretor Para a elaboração de um plano diretor, o Ministério das Cidades publi- cou um guia base que estabelece uma série de etapas e prioriza a parti- cipação da comunidade em todo o processo. Ele começa estabelecendo um núcleo gestor com participação de líderes de diferentes esferas da so- ciedade (governo, empresas, sindicatos e movimentos sociais da região). O plano é discutido por meio de assembleias municipais e depois levado para a provação na câmara municipal. Nesse processo, podemos apontar dois aspectos centrais do plano di- retor. O primeiro aspecto é o político. É necessário equilibrar os aspectos técnicos e políticos, pois planejamento é política. Um plano tecnicamente bem elaborado pode ser politicamente inviável, e um plano politicamente bem embasado pode ser impraticável. O segundo aspecto é o democrá- tico. O plano se estabelece como um instrumento democrático, uma vez que para sua elaboração precisa ser colocado em audiências públicas para discussão, com ampla participação da população. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 29 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 29 04/10/2021 10:45:45 As instâncias de participação popular são mecanismos de interação entre os cidadãos e o poder público, para promover a participação da população nos processos decisórios do desenvolvimento urbano da cidade: Conferência municipal da cidade de São Paulo • Avaliar e propor diretrizes para a política de desenvolvimento urbano; • Sugerir alterações na lei do PDE e legislação urbanística complementar; • Realizada, no mínimo, a cada três anos, como etapa preparatória para conferências estaduais e federais sobre desenvolvimento urbano. Conselho municipal de política urbana • Acompanha a formulação e implementação da política de desenvolvimento urbano; • Composto por 60 membros, sendo 3 representantes da sociedade civil eleitos de forma direta. Comissão de proteção à paisagem urbana • Delibera sobre o plano municipal de ordenamento da paisagem urbana e fi scaliza sua implementação; • Aprecia e delibera sobre projetos, anúncios, mobiliário urbano, infraestrutura, inserção e remoção de elementos na paisagem urbana. Câmara técnica de legislação urbanística • Analisa casos não previstos; • Debate e apresenta sugestões ao PDE e a lei de zoneamento; • 50% de representantes do Executivo e 50% da sociedade civil. Conselhos participativos Avalia e propõe diretrizes para a política urbana. Discutem temáticas locais Indica representantes Propõe diretrizes Apoia tecnicamente e encaminha propostas Acompanha: FUNDURB Planos de bairro Projetos de lei Conselhos setoriais AIU/OUC Programas de metasPDE QUADRO 3. INSTÂNCIAS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR Fonte: SÃO PAULO, s.d.(b). Representação gráfica do plano diretor O plano diretor é representado por mapas, quadros ou tabelas e seu texto base, que explica de maneira detalhada cada diretriz apresentada. Este material fi ca disponível para consulta no site ofi cial da respectiva prefeitura estudada. Ele deve ser sempre consultado a cada projeto executado. Na Figura 6 e nos Quadros 4 e 5, temos exemplos gráfi cos do plano diretor de Cidade Tiradentes: Estas ações vão de encontro com o Esta- tuto da Cidade, que incentiva a gestão de- mocrática com participação da população e associações comunitárias locais, que acompanham a formulação e execução das diretrizes a serem implementadas. Como dito anteriormente, cabe ao plano di- retor promover uma cidade inclusiva, equilibrada e susten- tável, promovendo qualidade de vida aos seus cidadãos, re- duzindo o crescimento descontrolado e distribuindo, de forma igualitária, os custos e benefícios da urbanização. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 30 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 30 04/10/2021 10:45:45 ZEU ZCOR-1 ZEIS-1 ZPR MAPA 1 MAPA 1 SUBPREFEITURA CIDADE TIRADENTES SUBPREFEITURA CIDADE TIRADENTES Base cartográfica: PMSP. Mapa digital de São Paulo, 2004. Projeção UTM/235. Datum horizontal SAD69. Elaboração: Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Base cartográfica: PMSP. Mapa digital de São Paulo, 2004. Projeção UTM/235. Datum horizontal SAD69. Elaboração: Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. 0 0 0.25 0.25 0.50 0.50 0.75km 0.75km N Lei de parcelamento, uso e ocupação do solo // Mapa auxiliar à Lei 16.402/2016 Lei de parcelamento, uso e ocupação do solo // Mapa auxiliar à Lei 16.402/2016 ZEIS-2 ZER-1 ZEUa ZCOR-2 ZEIS-3 ZER-2 ZEUP ZCOR-3 ZEIS-4 ZERa ZEIS-5 ZPDS ZEUPa ZCORa ZDE-1 ZPDSr ZC-ZEIS ZMISa ZOE AC-2 ZEMP ZM ZDE-2 ZEPAM ZC ZMa ZPI-1 ZEP ZCa ZMIS ZPI-2 AC-1 ZEM Perímetro vetado Limite subprefeitura Macroárea de estruturação metropolitana Área de proteção e recuperação de mananciais Praças e canteiros Estação de trem existente Estação de metrô existente Terminal de ônibus existente Hidrografia Logradouro Rodoanel Figura 6. Mapa de zoneamento da Cidade Tiradentes. Fonte: SÃO PAULO, s.d.(a). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 31 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 31 04/10/2021 10:45:49 TIPO DE ZONA ZONA DIMENSÕES MÍNIMAS DE LOTE DIMENSÕES MÁXIMAS DE LOTE Frente mínima (m) Área mínima (m²) Frente máxima (m) Área máxima (m²) TR A N SF O R M A Ç Ã O ZEU ZEU 20 1000 150 20.000 ZEUa ZEUP 20 1000 150 20.000 ZEUPa ZEM ZEM 20 1000 150 20.000 ZEMP Q U A LI FI C A Ç Ã O ZC ZC 5 125 150 20.000ZCa ZC-ZEIS ZCOR ZCOR-1 10 250 100 10.000 ZCOR-Z ZCOR-3 ZCORa ZM ZM 5 125 150 20.000 ZMa ZMIS ZMlsa ZEIS ZEIS-1 5 125 150 20.000 ZEIS-2 ZEIS-3 ZEIS-4 ZEIS-5 ZDE ZDE-1 5 125 20 ZDE-1 ZDE-2 10 1000 150 20.000 (a) ZPI ZPl-1 10 1000 150 20.000 (a) ZPI-2 20 5000 150 20.000 (a) PR ES ER VA Ç Ã O ZPR ZPR 5 125 100 10.000 ZER ZER-1 10 250 100 10.000 ZER-2 5 125 100 10.000 ZERa 10 500 100 10.000 ZPDS ZPDS 20 1.000 NA NA ZPOSr NA 20.000 NA NA ZEPAM ZEPAM 20 5.000 (b) NA NA QUADRO 4. PARÂMETROS DE PARCELAMENTO DO SOLO (DIMENSÕES DO LOTE) POR ZONA Notas: NA = não se aplica. // (a) se aplica apenas aos usos que não se enquadrem nas subcategorias Ind-1a, Ind-1b e Ind-2. // (b) nas ZEPAMs localizadas nas macroáreas de contenção urbana, uso sustentável e de preservação dos ecossistemas naturais, a área do lote mínimo será de 20.000 m2. Fonte: SÃO PAULO, s.d.(c). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 32 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 32 04/10/2021 10:45:49 Área do lote ou gleba (m²) Maior que 20.000 m² e menor ou igual a 40.000 m². Maior que 20.000 m² e menor ou igual a 40.000 m². Percentual mínimo de área verde (%) 5 10 Percentual mínimo de área institucional (%) 5 5 Percentual mínimo de sistema viário (%) N/A 15 Percentual mínimo de área sem afetação previamente defi nida 20 10 Total do percentual mínimo de destinação de área pública (%) 30 40 QUADRO 5. PERCENTUAIS DE DESTINAÇÃO DE ÁREA PÚBLICA Implantação de novas ZEIS As ZEIS (zonas especiais de interesse social) são áreas destinadas à moradia popular advindas de melhorias urbanísticas, recuperação ambiental, regulariza- ção fundiária para assentamentos irregulares e implantação de novas HIS (habi- tações de interesse social) e HMP (habitações de mercado popular), dotadas de equipamentos sociais, infraestruturas,áreas verdes, comércios e serviços locais, e situadas na zona urbana. Com a nova lei de zoneamento, foram implantadas mais duas novas zonas: a ZMIS (zona mista de interesse social) e a ZC-ZEIS (zona de centralidades). O objetivo dessas zonas é proporcionar a promoção de atividades econômicas em territórios com pouca oferta de empregos em proporção à moradia ZEIS1. Notas: Lotes ou glebas com áreas superiores a 40.000 m² deverão ser obrigatoriamente loteados nos termos do §2º do artigo 44 dessa Lei. Fonte: SÃO PAULO, s.d.(d). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 33 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 33 04/10/2021 10:45:49 É importante ressaltar que as ZMIS foram demarcadas somente em períme- tros de ZEIS 1 que permitem, apenas, conjuntos habitacionais que foram regulari- zados e urbanizados, e as ZC-ZEIS foram demarcadas somente em lotes lindeiros às vias internas às ZEIS1 que articulam bairros e regiões da cidade. O Quadro 6 sintetiza os tipos de ZEIS implantadas na cidade de São Paulo e cada tipo de habitação permitida: ZEIS 1 Áreas caracterizadas pela presença de favelas e loteamentos irregulares, e habitadas, predominantemente, por população de baixa renda. Áreas caracterizadas por glebas ou lotes não edificados ou subutilizados, adequados à urbanização. Áreas com ocorrência de imóveis ociosos, subutilizados, não utilizados, encortiçados ou deteriorados, em regiões dotadas de serviços, equipamentos e infraestrutura. Áreas caracterizadas por glebas ou lotes não edificados, adequados à urbanização e à edificação, e situados nas áreas de proteção e recuperação de mananciais. Lotes ou conjuntos de lotes, preferencialmente vazios ou subutilizados, situados em áreas dotadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas. ZEIS 2 ZEIS 3 ZEIS 4 ZEIS 5 Zona especial de interesse social (ZEIS): tipos de zonas As áreas demarcadas como ZEIS são porções de território destinadas, predominantemente, à promoção de moradia digna para população de baixa renda. Foram definidos cinco tipos de ZEIS: QUADRO 6. TIPOS DE ZEIS Fonte: SÃO PAULO, s.d.(b). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 34 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 34 04/10/2021 10:45:53 Figura 7. Modelos de ZEIS. Fonte: SÃO PAULO, s.d.(f). A Figura 7 mostra fotos de ZEIS: PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 35 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 35 04/10/2021 10:45:53 Sintetizando Essa unidade abordou a aprovação do Estatuto da Cidade, que possibi- litou que fossem aplicadas diretrizes para organização de políticas públi- cas no Brasil. Foram apontados programas de desenvolvimento social para alavancar a economia, associados a planos urbanísticos de implantação de moradias populares. Por meio desses programas, famílias de baixa renda tiveram acesso à tão sonhada casa própria. Esses programas sociais também foram direcionados a empreendedores, com intuito de alavancar a economia, provendo aumen- to de empregos. Conhecemos, brevemente, o Ministério das Cidades, hoje extinto. Tive- mos uma introdução às teorias que fundamentam a prática de planejamen- to urbano, abordando tópicos como o saneamento básico e a mobilidade urbana. Também estudamos sobre o caso da Cidade Tiradentes, caótico em diversos aspectos. Outro tópico de estudo foi o papel do plano diretor, que tem como prin- cipal objetivo promover diretrizes sociais e econômicas para implantação de áreas comerciais e de habitação, assim como equipamentos urbanos. Essas diretrizes são capazes de mudar a qualidade de vida da cidade. Por fim, abordamos as ZEIS, áreas destinadas à moradia popular advin- das de melhorias urbanísticas, recuperação ambiental e regularização fun- diária para assentamentos irregulares e implantação de novas HIS e HMP. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 36 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 36 04/10/2021 10:45:53 Referências bibliográficas ARSEP. O que é saneamento básico. [s.l.], 09 out. 2020. Disponível em: <ht- tps://arsepbarcarena.com.br/2020/10/09/o-que-e-saneamento-basico/>. Acesso em: 10 mai. 2021. BLOG BRK AMBIENTAL. Saneamento básico no Brasil: conheça os números das regiões do país. [s.l.], [s.d.]. Disponível em: <https://blog.brkambiental. com.br/saneamento-basico-no-brasil>. 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Disponível em: <https://www.visaopiaui.com.br/noticia/4074/audien- cia-publica-debate-plano-diretor-de-barras>. Acesso em: 10 mai. 2021. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 40 SER_ARQURB_PURUV_UNID1.indd 40 04/10/2021 10:45:53 A ORIGEM E OS DESDOBRAMENTOS INICIAIS DO CONCEITO DE UNIDADE DE VIZINHANÇA 2 UNIDADE SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 41 04/10/2021 11:01:00 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Examinar a origem do conceito de unidade de vizinhança associado aos tópicos correlatos de unité de voisinage e neighbourhood; Compreender o conceito de cidade-jardim; Analisar a origem dos bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade- jardim. Origem do conceito de unidade de vizinhança: a unité de voisinage e o neighbourhood Origens da proposta das unidades de vizinhança Conceituação: um modus operandi de vida comunitária Estudos de caso Os bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade- -jardim Conceituação: cidades-jardim Os bairros-jardim do pós-guerra PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 42 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 42 04/10/2021 11:01:00 Origem do conceito de unidade de vizinhança: a unité de voisinage e o neighbourhood Inicialmente, nos debruçaremos sobre as origens, a conceituação e exem- plos de aplicação de uma das estratégias mais disseminadas de projeto urba- no moderno: a unidade de vizinhança. Embora tenha surgido nas primeiras décadas do século XX, este conceito de desenho urbano passou por adap- tações no pós-guerra, na pós-moder- nidade e na contemporaneidade, sen- do ainda implementado a partir de variantes distintas. Portanto, para melhor explorar estes preceitos, nosso estudo será estruturado a partir das seguintes te- máticas: as origens da proposta das unidades de vizinhança; um modus operandi de vida comunitária; e estu- dos de caso. Na primeira, serão expostos os preceitos históricos, sociológicos, arquitetônicos e urbanísticos que contextualizam o surgimento deste ferra- mental urbanístico tão importante até os dias de hoje. Já no que diz respeito ao modus operandi de vida comunitária, colocam-se os parâmetros conceituais que embasam as bases projetuais das unidades de vizinhança propriamente ditas. Nesta seção, analisaremos principalmente os desenhos que explicitam as premissas teórico-projetuais dos intelectuais insa- tisfeitos com as transformações vivenciadas nos tecidos urbanos das primeiras décadas do século XX. Por fi m, o subtópico que discorre sobre os estudos de caso visa demonstrar aplicações notáveis dos preceitos projetuais das unidades de vizinhança. Estes olhares são empregados a partir de um local crítico e refl exivo, levando em conta os elementos de contextualização histórica e a conceituação já abordada anteriormente, de maneira a maturar e explicitar estes conceitos em condições climatogeográfi cas e socioculturais distintas. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 43 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 43 04/10/2021 11:01:11 Origens da proposta das unidades de vizinhança As cidades ora são consideradas a maior, ora a pior invenção do homem. Cultura, paisagens, transporte, escolas e equipamentos de saúde são elemen- tos que podem ser tanto harmônicos e onipresentes quanto escassos e insalu- bres. Crises econômicas são fortes momentos de refl exão sobre esta dualida- de, assim como épocas de transição tecnológica e sociocultural, como ocorreu nas primeiras décadas do século XX. O período entre o fi nal do século XIX e o início do século XX testemunhou o advento da industrialização em porções mais longínquas e coadjuvantes do mundo de então, como, por exemplo, as ex-colônias americanas. O êxodo rural e os fl uxos migratórios nacionais e internacionais incharam as populações de grandes cidades mundo afora; assim, cidades superlotadas se viram diante de problemas de higiene que fatalmente chegaram aos mais abastados e que, so- mente assim, culminaram em soluções nem sempre balanceadas. Logo, criou-se o paradigma da cidade saudável (COHEN, 2013), o qual impac- ta a legislação urbana até os dias atuais e visa índices mínimos de ventilação e insolação das construções, assim como parâmetros salubres de densidade habitacional. Estas preocupações fi cam evidenciadas na Figura 1, uma vez que estas questões relativas à salubridade estiveram em pauta nos Congressos In- ternacionais da Arquitetura Moderna (também conhecidos pela sigla CIAM), na primeira metade do século XX. Figura 1. Capa do livro do urbanista espanhol José Luís Sert cujo título pode ser traduzido como Nossas cidades podem sobre- viver? Um ABC dos problemas urbanos, suas análises, suas soluções a partir das propostas formuladas pelo C.I.A.M. (1942), o qual explicita a realidade insalubredas cidades nas primeiras décadas do século XX. Fonte: ROLDAN, 2019, p. 139. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 44 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 44 04/10/2021 11:01:13 A problemática da preservação da vida nas cidades industrializadas do co- meço do século XX ganhou um agravante considerável no período: a popula- rização crescente do automóvel. Esta preocupação com o caos crescente no trânsito da cidade e o perigo de atropelamentos instigaram a consolidação de uma série de modelos de urbanização para núcleos residenciais. Todavia, pou- cos ganharam tanta notoriedade como as unidades de vizinhança. ASSISTA O vídeo apresenta um trecho do filme Speedy, filmado em 1928. Nele, há uma paródia com o advento do automó- vel no cotidiano nova-iorquino, que acelerou seu ritmo de vida se comparado com os tempos das carruagens. Mesmo em meio aos exageros cômicos do filme, é pos- sível verificar cenas do cotidiano que evidenciam a falta de sinalização no trânsito, assim como a demarcação de áreas claras para pedestres e automóveis. Não restam dúvidas que, nesta nova era, os pedestres e os passagei- ros dos automóveis estavam em perigo. O modelo de projeto urbano das unidades de vizinhança foi oficialmente divulgado pelo norte-americano Clarence Arthur Perry (Figura 2a), em 1929, no Neighborhood and Community Planning do Regional Plan of New York and its Environs (AMERICAN SOCIETY OF PLANNING OFICIALS, 1960). O documento geral no qual os escritos de Perry estavam contidos, por sua vez, foi um documento marcante na história do urbanismo moderno e contem- porâneo. Este argumento deve ser ressaltado uma vez que o Regional Plan of New York and its Environs (1929) auxiliou a estabelecer as bases para o plane- jamento regional ao pensar Nova Iorque não apenas como cidade, mas como região metropolitana (Figura 2b) em conjunto com os crescentes e adjacentes aglomerados urbanos de Nova Jersey e Connecticut. Outro ponto importante do documento foi o refletir sistêmico so- bre as novas matrizes de infraestrutura e mobilidade urbana na primeira metade do século XX, de modo que elementos posteriores de ordenamento urbano e territorial (tanto nos Estados Unidos quanto mundo afora) agora seriam instiga- dos a demonstrar possíveis soluções para estas questões. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 45 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 45 04/10/2021 11:01:13 Arcada ArcadaArcada ArcadaAvenida Avenida Autopista de quatro pistas Autopista de quatro pistas Expresso ExpressoTrânsito rápido suburbano e estação expressa Estação local e expressa Estação local e expressa Proposta de desenvolvimento da Segunda Avenida em Manhattan, cidade de N.Y. Passagem de pedestres nas estações e pas- sagem de serviços nas ruas Galeria para utilitários subterrâneos Galeria para utilitários subterrâneos A B Figura 2. (a) Clarence Arthur Perry, o criador do conceito de “unidade de vizinhança”; (b) perspectiva da região me- tropolitana de Nova Iorque no Plano Regional de Nova Iorque e suas Redondezas (1929) e (c) tentativas posteriores de conciliar os diversos patamares de infraestrutura urbana na primeira metade do século XX através de legislação urbana. Fonte: (a) LAWHON, 2014, p. 4335; (b,c) RPA; [s.d.], n.p. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 46 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 46 04/10/2021 11:01:18 Conceituação: um modus operandi de vida comunitária A Figura 3 indica o modelo projetual para as unidades de vizinhança pro- posto por Clarence A. Perry. A American Society of Planning Offi cials, em 1960, realizou uma releitura dos escritos originais de Perry de 1929 e disse- cou o conceito de unidade de vizinhança em seis pontos principais: 1. Artérias principais periféricas; 2. Ruas internas curvas; 3. A população interna deve ser equivalente à demanda de sua escola; 4. Escola primária como ponto central; 5. O raio da unidade de vizinhança deve ser no máximo de um quarto de milha; 6. Distritos comerciais locados nos limites da comunidade. A primeira premissa projetual tem como objetivo fazer com que as princi- pais vias de tráfego rodoviário não atravessem as áreas residenciais, evitando atropelamentos e livrando os moradores da poluição sonora dos grandes centros urbanos. Estas artérias periféricas, denominadas na Figura 3 como highway (autopista) e arterial street (via arterial), também servem como limite para a comunidade projetada. O segundo ponto elencado traz a proposta de, mais uma vez, promover a segurança do trânsito nas áreas residenciais. Na con- temporaneidade, esta preocupação continua uma constante no desenho urbano de nossas cidades e não é à toa que o conceito de traffi c calming vem ganhando cada vez mais força. Outra prerro- gativa por trás deste traçado mais orgânico das ruas internas da comunidade é a criação de uma paisagem urbana entendida pelos contemporâneos de Perry como residencial. EXPLICANDO O conceito de traffi c calming consiste em uma derivação contemporânea das preocupações projetuais do conceito de unidade de vizinhança em pre- servar os pedestres, especialmente as crianças, do perigo dos automóveis em áreas residenciais. Cidades europeias como Amsterdam, inclusive, estão cada vez mais restringindo a entrada de veículos em seus centros. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 47 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 47 04/10/2021 11:01:18 Área em desenvolvimento aberto, com preferencialmente 160 hectares. De qualquer maneira, deve abrigar pessoas suficientes para exigir uma escola primária. A forma exata não é essencial, mas recomenda-se que todos os lados sejam razoavelmente equidistantes do centro Um distrito comercial pode ser substituído por um local de igreja Apenas instituições de bairro no Centro Comunitário Dez por cento da área para recreação e espaços de parque Ruas interiores não devem ser mais largas do que o necessário para uso específico e fornecer fácil acesso a lojas e ao centro comunitário Para o centro de negócios Rua arterial Junção de tráfego Pa ra o ce nt ro cí vi co Rod ovia prin cipa l Ro do vi a pr in cip al Distritos comerciais na periferia em cruzamentos de tráfego e de preferência agrupados em forma Figura 3. Diagrama que evidencia o conceito de unidade de vizinhança. Fonte: AMERICAN SOCIETY OF PLANNING OFICIALS, 1960, p. 2. O terceiro, quarto e quinto pontos projetuais de Perry indicam que o con- ceito de unidade de vizinhança não é apenas um modelo projetual, mas sim um modelo comunitário associado à educação e à vida comunal. Assim, o centro da comunidade está alocado para instituições comuniais como as es- colas e o centro comunitário. Da mesma maneira, a Figura 3 indica que o comércio está todo alocado na periferia, a fim de evitar que o tráfego viário externo circule no interior da comunidade, o que está diretamente ligado à sexta premissa conceitual. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 48 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 48 04/10/2021 11:01:18 Ademais, a Figura 3 indica distâncias de 1/4 de milha (aproximadamente 400 m) para o centro da unidade de vizinhança, o que demonstra a preocupação com a caminhada de pais e filhos até a escola e os equipamentos comunitários, evitando o risco de atropelamentos e cansaço excessivo. Da mesma maneira, a área e a popu- lação da unidade de vizinhança devem ser condizentes com a capacidade da escola, segundo o projeto de Perry. O diagrama das unidades de vizinhança também indica uma área de 160 acres como apropriada para 1929, o que equivale a aproximadamente 65 hecta- res. Neste mesmo período, a American Society of Planning Officials (1960) indica que uma unidade de vizinhança deveria abrigar algo em torno de 5000 pessoas. Frisando este modus operandi comunitário proposto pelas unidades de vi- zinhança, que, de acordo com Roldan (2019), evidenciaria inclusiveas necessi- dades das crianças e dos pais deste agrupamento, a população de cada comu- nidade poderia utilizar as instalações das escolas nos momentos em que não houvesse aulas. Destaca-se também que o equivalente a 10% da área da comunidade seria destinado a áreas verdes e espaços abertos para a interação e recreação dos moradores. Inclusive, Perry, em suas premissas conceituais originais, dispõe o item cinco como intitulado: “espaços abertos – deve ser projetado um sistema de pequenos parques e espaços recreacionais, planejados para atender as necessi- dades particulares de cada comunidade” (PERRY, 1929, p. 34). Tal como evidenciado por Roldan (2019), o conceito de unidade de vizinhança foi colocado em debate, difundido e adaptado. Isto colocou à prova as diver- sas variantes tipológicas que Perry (1929) já havia lançado, como por exemplo a adaptação do conceito de unidade de vizinhança voltado para a reabilitação de bairros urbanos degradados (Figura 4). Neste exemplo, Perry (1929) utiliza quarteirões típicos subutilizados de Manhattan que seriam redimensionados, ganhariam insolação com amplos pátios internos e teriam seus pavimentos inferiores ajardi- nados e equipados com instalações esportivas comuni- tárias. Destaca-se ainda um limite de altura que subi- ria de maneira escalonada chegando a trinta andares, o que poderia comprometer as premissas de insola- ção natural objetivadas inicialmente. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 49 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 49 04/10/2021 11:01:18 Desenvolvimento de apartamentos de cinco blocos Figura 4. Adaptação do modelo de unidade de vizinhança matriz de Perry para bairros urbanos degradados. Fonte: PERRY, 1929, p. 43. Um elemento chave na difusão mundial do conceito de unidade de vizi- nhança foi sua aplicação no Reino Unido, o qual foi devastado pelos bom- bardeios alemães durante a Segunda Guerra Mundial. De acordo com Cohen (2013), em Plymouth, Patrick Abercrombie e J. Paton Watson instituíram uma rede de 18 unidades de vizinhanças. Já no Plano do Condado de Londres, de 1943, Abercrombie e J. H. Forshaw teriam adaptado o conceito ao tecido urbano existente na capital inglesa: A forma de Londres do futuro não resultava da imposição de uma malha viária totalmente nova, mas seria fruto de um ajuste da trama urbana já existente, na qual as centralidades históricas são confi r- madas e as novas vias expressas, inseridas. Na escala dos bairros, unidades de vizinhança de 6 a 10 mil habitantes constituíram o mó- dulo base para a distribuição dos equipamentos coletivos, como es- colas e lojas (COHEN, 2013, p. 303). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 50 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 50 04/10/2021 11:01:22 O Plano do Condado de Londres foi publicado em periódicos de prestí- gio, como a Architectural Review, e por teóricos aclamados, como Lewis Mum- ford. Neste sentido, antes de prosseguirmos é importante estabelecer que o conceito de unidade de vizinhança é conhecido internacionalmente como neighbourhood unit ao invés de neighborhood justamente pelo termo ser uti- lizado com a letra “u” no inglês britânico. Assim, estas publicações difundiram a maneira com a qual os ideais de Perry foram adaptados nas cidades ingle- sas durante a Segunda Guerra Mundial, visando criar redes de comunidades, ou neighbourhoods independentes. Já nas publicações francesas, o conceito de unidade de vizinhança apare- ce retratado pelo termo unité de voisinage, sendo divulgado principalmente pelo urbanista Gaston Bardet. De acordo com Roldan (2019), houve ainda a promoção de equipamentos religiosos como o foco das comunidades (Figura 6c) e do conceito de escalonamento comunitário. Dentro das premissas de Bardet, os escalões comunitários, denominados unités de voisinages, também seriam agrupados e formariam redes maiores, mas mantendo a autossufi- ciência das comunidades de menor porte (Figura 6b). Figura 5. Plano do Condado de Londres de 1943. Fonte: UCL, 2017, n.p. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 51 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 51 04/10/2021 11:01:24 De acordo com Pereira (2019), Bardet demonstrava preferência por aglo- merações urbanas que se expandissem de maneira gradativa e orgânica (Fi- gura 6b) ao invés dos modelos radiais (Figura 6a) ou mesmo da organização suburbana de unidades de vizinhança em torno das metrópoles norte-ameri- canas, como é o caso de Forest Hill Gardens em Nova Iorque ou Radburn em Nova Jersey (Figura 7). a b c Figura 6. (a) Figura que demonstra a confrontação das organizações comunitárias concêntricas antagonizadas por Bardet e sua verdadeira preferência: (b) redes escalonadas e integradas organicamente. A última imagem (c) demonstra o terceiro escalão do modelo urbanístico de Bardet, o escalão paroquial, equivalente às unidades de vizinhança de Perry. Fonte: (a, b) PEREIRA, 2019, p. 152; (c) PEREIRA, 2019, p. 155. Os escalões de Bardet eram primariamente constituídos por 5-15 famílias pró- ximas que se auxiliavam em uma base quasi-familiar, e secundariamente por 50- 150 famílias que mantinham uma relação comunal. O terceiro escalado de Bardet diz respeito a bairros de 500 a 1500 famílias, condizentes com a unidade de vi- zinhança, ao redor de edifícios institucionais focais preferencialmente religiosos (Figura 6c), enfatizando assim as tradições da comunidade (PEREIRA, 2019). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 52 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 52 04/10/2021 11:01:25 A B Figura 7. (a) Projeto para uma das unidades de vizinhanças de Radburn, em Nova Jersey (EUA, 1929), e (b) sua vista aérea em 1998. Fonte: (a) PATRICIOS, 2002, p. 73; (b) POLONI, 2020, n.p. Estudos de caso O Brasil pode não ser um país cujas cidades foram devastadas por um confl ito tão brutal como a Segunda Guerra Mundial, mas provou-se um palco louvável para a arquitetura e o urbanismo moderno devido a suas dimensões continentais. É possível dirigir por dez horas e ainda não sair de um estado brasileiro, ao passo que a área continental da Espanha cabe aproximadamen- te no estado de Minas Gerais. Não à toa, o Brasil, e a América Latina como um todo, foram palcos de experimentações de urbanistas modernos, embora seja o Brasil quem deu à luz a talvez mais famosa das cidades modernas: Brasília, em 1960. Curio- samente, em 1961, estavam sendo tecidas ferrenhas críticas às tendências racionalistas de planejamento urbano através dos escritos da jornalista nor- te-americana Jane Jacobs. Em Brasília, Lúcio Costa propôs superquadras (Figura 8) que são enquadradas como unidades de vizinhança em uma série de publicações pe- riódicas. Estas superquadras abrigariam blo- cos habitacionais erguidos sobre pilotis com seis pavimentos, que alocariam algo em torno de doze mil pessoas (REGO, 2017). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 53 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 53 04/10/2021 11:01:28 A Figura 8 demonstra como o conceito de criação de áreas verdes e comunais foi extensivamente aplicado por Lúcio Costa a partir de seu Plano Piloto de 1957. Dessa maneira, as diversas possibilidades de implanta- ção dos blocos residenciais sugerem um dinamismo e uma variação paisagística visados por Perry em seus escritos originais, embora destoantes do organicismo almejado em seus traços iniciais. Assim como nos ideais originais das unidades de vizinhança de Perry, o Plano Piloto de Lúcio Costa também previa uma série de usos compatíveis com a autonomia almejada para as vizinhanças. Todavia, a Figura 9 indica que os equipamentos comunitários do conjunto de superquadras estão si- tuados nas bordas ao invés de preferencialmente nos centros das quadras, aspecto que demonstra um distanciamento das premissas projetuais origi- nais de Perry. Todavia, a mesma figura indica que, apesar de existirem outros equipa- mentos institucionais nasbordas, a escola e o parque central encontram-se, de fato, no centro da unidade de vizinhança de Lúcio Costa. Este aspecto, por sua vez, demonstra uma consonância com as premissas projetuais ori- ginais de Perry. Também é importante ressaltar que um conjunto de 4 superquadras são necessárias para formular uma unidade de vizinhança em Brasília. Se cada superquadra possui 280 m de comprimento (ESKINAZI, 2014), a premissa de um quarto de milha (400 m) de distância do limite ao centro da unidade de vizinhança de Perry se fez cumprir em Brasília. Diferentemente de Perry, que buscava reservar 10% de suas neighbourhood units para áreas verdes e comunais, Lúcio Costa dedicou incríveis 85% (REGO, 2017) para espaços livres, crian- do caminhos e mais caminhos para seus ocupan- tes. Pode-se concluir que, ao invés de criar um senso de comunidade, as superquadras po- dem fazer seus moradores se perderem entre elas. Ademais, sua monumentalidade pode criar uma sensação desagradável ao andar a pé nestes quarteirões. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 54 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 54 04/10/2021 11:01:28 Figura 8. (a) Panorama geral das superquadras e (b) vista isolada do bloco habitacional das superquadras. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 05/07/2021. Figura 9. Maquetes e desenho da unidade de vizinhança de Brasília formada pelas superquadras 107, 108, 307 e 308. Fonte: ESKINAZI, 2014, p. 14. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 55 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 55 04/10/2021 11:01:38 Os bairros do pós-guerra inspirados no ideário de cidade-jardim A seguir, serão abordadas as transformações nos tecidos urbanos do pós-guer- ra a partir da escassez econômica em diversos graus de intensidade, além da situa- ção na Europa, marcada por instâncias de destruição devido ao confl ito armado. Examinaremos também como estes bairros foram fortemente inspirados no con- ceito de cidade-jardim. De modo a melhor embasar este conteúdo, daremos prosseguimento em nos- sos estudos a partir das seguintes temáticas: a conceituação das cidades-jardim e os bairros-jardim do pós-guerra. Inicialmente, almeja-se estabelecer as premissas conceituais e originarias das cidades-jardim, levando em conta suas transforma- ções até o pós-guerra. Em seguida, ao discorrer sobre os bairros-jardim do pós- -guerra, objetivamos tecer um histórico das principais prerrogativas urbanísticas em voga após o principal confl ito armado do século XX. Esta seção também pretende auxiliar na compreensão da maneira com a qual as premissas conceituais das cidades-jardim foram aplicadas em alguns de seus contextos mais icônicos. Por fi m, verifi caremos as aplicações práticas destas pre- missas projetuais em exemplos icônicos, analisando seus principais desdobramen- tos espaciais, tanto positivos quanto negativos, para a comunidade resultante. Conceituação: cidades-jardim No Brasil temos a graduação em Arquitetura e Urbanismo, mas nem sempre foi assim, e ainda há variações ao redor do planeta. Nos Estados Unidos, por exemplo, há o bacharelado em Landscape Architecture desde o início do século XX, que engloba “apenas” as macro disciplinas de urbanismo e paisagismo. O conceito de cidade-jardim está justamente associado a estas macro dis- ciplinas, a partir de um anseio em trazer mais verde aos tecidos urbanos das primeiras décadas do século XX. Se no século XIX as grandes cidades euro- peias e americanas já tinham que conviver com o ruído e fumaça das fábricas e ferrovias, o que seria de seus moradores no século XX com o advento do ainda mais barulhento e perigoso automóvel? PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 56 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 56 04/10/2021 11:01:38 Nem mesmo as criações do pai da landscape architecture (ou arquitetu- ra paisagista), Frederick Law Olmsted, que distribuiu parques pelas cidades norte-americanas, foram consideradas fontes suficientes de ar puro (COHEN, 2013). Assim, uma solução aceita entre a comunidade de pensadores atuan- tes na construção das premissas do urbanismo moderno no início do século XX veio do britânico Ebenezer Howard (1850–1828), que é considerado o fun- dador do conceito de cidade-jardim em sua célebre publicação To-Morrow: a peaceful path to real reform, de 1898. OS TRÊS IMÃS CID AD E Afa sta me nto da na tur eza , o po rtu nid ad es soc iais , is ola me nto da s mu ltid ões , lo cai s d e e ntr ete nim en to, di stâ nci a d o t rab alh o, alt os sal ári os mo ne tár ios , a lug ué is e pr eço s a lto s, op ort un ida de s d e e mp reg o, jor na da ex ces siv a d e t rab alh o, exé rcit o d e d ese mp reg ad os, ne voe iro s e se ca, dr en age m cus tos a, ar pe stil en to e c éu so mb rio , ru as be m ilu mi na da s, cor tiço s e ba res , e dif ício s p ala cia no s. CAMPO Falta de vida social, beleza da natureza, desemprego, terra ociosa, matas, bosques, campinas, florestas, jornada longa/ salários baixos, ar fresco – aluguéis baixos, falta de drenagem, abundância de água, falta de entretenimento, sol brilhante, falta de espírito público, carência de reformas, casas superlotadas, aldeias desertas. CIDADE-JARDIM Beleza da natureza, oportunidades sociais, campos e parques de fácil acesso, aluguéis baixos, muito o que fazer, preços baixos, nenhuma exploração, oportunidades para empreendimentos, afluxo de capital, ar e água puros, boa drenagem, residências e jardins esplêndidos, ausência de fumaça e de cortiços, liberdade, cooperação. PESSOAS Para onde elas irão? Figura 10. O diagrama dos três imãs de Ebenezer Howard. Fonte: SABOYA, 2009, n.p. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 57 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 57 04/10/2021 11:01:38 Através do conceito de cidade-jardim, Ebenezer visou equilibrar o que ha- via de melhor no campo e na cidade, também poupando seus moradores dos malefícios de ambas as esferas. A Figura 10 ilustra esta relação a partir do diagrama dos ímãs das cidades, do campo e da cidade-jardim. Nela, o ímã da cidade seria marcado por preços altos de aluguel, jornadas excessivas de trabalho, poluição, cortiços e distância da natureza, entre outros. A mesma figura indica que o imã do campo sugere a falta de opções de entretenimento do ambiente urbano, assim como sua infraestrutura, casas superlotadas e salários baixos por longas horas de trabalho, entre outros. Já o imã da cidade-jardim surge como um elemento conciliador, oferecen- do altos salários e baixos aluguéis com preços diminutos e muitas ofertas, e assim por diante. Howard apud Cohen (2013) coloca as cidades-jardim como um programa que visa trocar as metrópoles industriais insalubres da primei- ra metade do século XX por uma rede de cidades-jardins, as quais poderiam ser satélites de uma cidade principal e estarem interconectadas entre si por estradas de ferro e rodovias. Estas comunidades seriam autônomas e finan- ciadas por cooperativas ou doadores mais abastados, além de contarem com uma configuração radial. No diagrama número 7 de Howard (Figura 11), fica evidente a lógica ra- dial das cidades-jardins iniciais, em que cada comunidade seria envolta por cinturões verdes e conteria áreas de uso residencial, industrial e agrícola. A mesma figura indica ainda que estas comunidades teriam idealmente algo em torno de 32.000 pessoas, ao passo que a cida- de central teria 58.000 habitantes. Ao atingir seu con- tingente máximo, outra comunidade equivalente seria construída na mesma rede, em loteamento vizinho, a fim de zelar pela salubridade de seus habitantes. CITANDO Eduardo Corona e Carlos Lemos, em seu célebre Dicionário da arquitetura brasileira, utilizam o conceito de cinturões verdes para definir o impor- tante conceito urbanístico de cidade-jardim como “uma cidade planejada para uma vidasaudável e de tamanho não maior do que aquele necessário a uma vida associativa perfeita, rodeada por uma cinta rural, sendo todo o terreno da cidade propriedade pública” (1972, p. 128). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 58 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 58 04/10/2021 11:01:38 Figura 11. Diagrama n. 7 de Ebenezer Howard, o qual demonstra a relação de várias cidades-jardins para com sua respectiva cidade-central. Fonte: SDOUTZ, 2009, n.p. Tal qual explicitado na Figura 11, o diagrama número 7 possuía como obje- tivo criar comunidades que seriam slumless, isto é, sem habitações precárias, em tradução livre, e smokeless, ou seja, sem fumaça e poluição, também em tradução livre. Este diagrama indica ainda que as cidades-jardins ideais de- veriam ocupar áreas de aproximadamente 9000 acres, o que corresponde a aproximadamente 3642,17 hectares. Os espaços intersticiais entre as cida- des-jardins satélites e a cidade-central seriam ocupados por fazendas, flores- tas, reservatórios, equipamentos de saúde pública e mesmo vilas operarias bucólicas, tudo acompanhado de muito verde. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 59 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 59 04/10/2021 11:01:39 Ribeiro e Gonçalves (2015) destacam que as cidades-jardins adotavam uma premissa de tábula rasa, carimbando seu modelo e adotando preceitos higienistas de escoamento hídrico e manejo de resíduos para fora do te- cido urbano, ou seja: remanejavam os resíduos apenas para além dos domí- nios da utopia verde das cidades-jar- dins. As autoras ainda apontam como estas estratégias eram acompanha- das por preceitos de retificação e ca- nalização de córregos e instalações de aterros de consideráveis propor- ções, assim como pela incorporação de espécies de vegetação exótica para fins estéticos. Assim sendo, não havia uma preocupação com a per- meabilidade do solo, com a preservação de espécies nativas ou com o manejo adequado de esgoto. Outro ponto importante, agora demonstrado no diagrama número 2 (Fi- gura 12), é a presença de seis amplos bulevares ra- diais que culminavam em um amplo jardim cen- tral. Nesta área central, amplamente arborizada, encontravam-se os equipamentos institucio- nais da comunidade, circundados por um gran- de parque central. Este parque, por sua vez, era envolto por um cinturão comercial estreito, demar- cado em azul na Figura 12. EXEMPLIFICANDO O termo bulevar é definido como uma “rua ou avenida larga, geralmente ladeada de arvores” pelo Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Mi- chaelis (2021) e conta com notáveis exemplos no Brasil, como as avenidas Rio Branco e São João em São Paulo. Ainda na capital paulistana, pode-se destacar a Avenida Paulista, que, apesar de não contar com tanto verde, certamente é larga. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 60 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 60 04/10/2021 11:01:40 Área residencial Áreas verdes Área comercial Edifi cações institucionais Nota: Esquemático O projeto não pode ser defi nido antes da escolha do local Área industrial Grande avenida Figura 12. Diagrama n. 2 de Ebenezer Howard demonstrando um projeto genérico de uma cidade-jardim. Fonte: TOLEDO, 2013, p. 9. Assim, as áreas residenciais são alocadas juntamente com áreas ver- des, dando origem ao nome cidade-jardim, e são bipartidas por uma aveni- da central. Esta espessa camada residencial é envolta por uma cinta indus- trial, a qual, por sua vez, é também envolta por um rodoanel ferroviário. A presença deste uso industrial é importante no conceito de cidade-jardim, uma vez que é justamente isto que o distingue do conceito de subúrbio- -jardim, que constitui uma comunidade satélite em que não há uso indus- trial presente. A primeira cidade-jardim inglesa construída foi Letchworth (Figura 13) em 1903 e contou com o apoio financeiro do próprio Ebenezer Howard (COHEN, 2013), constituindo um embate inicial entre os preceitos iniciais de Howard e as condicionantes climato-geográficas de um local real de projeção. Este embate provou-se recorrente nas demais cidades-jardins subsequentes e o projeto foi desenvolvido pelos urbanistas Raymond Un- win e Richard Barry Parker. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 61 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 61 04/10/2021 11:01:42 A. Avenida principal B. Estação de mercadorias e ramais C. Praça central D. Local para salão público, instituto, museu, etc E. Local para escola ou outro edifício educacional F. Local para espaço de culto H. Local para hotel K. espaços abertos, verdes ou parques L. Local para correio M. local para edifícios municipais Edifícios existentes Parques e espaços abertos Locais de fábrica Água Estradas existentes Primeiras novas estradas a serem feitas Edifícios futuros Canteiros de obras e jardins privados Figura 13. Projeto original para a cidade-jardim de Letchworth em sua versão de 1904. Fonte: LEWIS, 2014, p. 156. Os bairros-jardim do pós-guerra A Segunda Guerra Mundial abalou quase todo o planeta e fez com que algumas cidades fossem virtualmente obliteradas, como ocorreu no caso dos bombardeios de Conventry (Reino Unido), em 1940, e de Dresden (Alemanha), em 1945. Assim, aviões, tanques e artilharia pesada devastaram paisagens urbanas e rurais. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 62 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 62 04/10/2021 11:01:45 Isto sem mencionar as hecatombes atômicas de Hiroshima e Nagasaki no Japão, em 1945, que talvez tenham içado as cortinas para a posterior Guerra Fria. Foi esta última o verdadeiro catalisador para a reconstrução de uma Europa de- vastada, uma vez que Estados Unidos e União Soviética necessitavam de aliados europeus operantes em ambos os lados da recém criada cortina de ferro no caso de um eventual conflito armado. De acordo com Cohen (2013), entre 1948 e 1951 o equivalente a 13 bilhões de dólares (de acordo com os parâmetros de inflação de 2010) foi injetado na Europa Ocidental através do Plano Marshall. Com este nível de investimento em mãos, foram muitos os ideais evidenciados nas pranchetas dos urbanistas durante e após a Segunda Grande Guerra. No Plano para o Condado de Londres de 1943, por exemplo, houve grande influência tanto do conceito das unidades de vizinhança quanto do ideário da cidade-jardim. Hall (1988) inclusive ressalta o fato de a Inglaterra ter sido um dos locais em que o ideário de cidade-jardim mais floresceu no pós-guerra, re- cebendo 13 novas cidades enquadradas nestas premissas até 1950. Destas 13 cidades, vale a pena ressaltar que 8 configuravam-se como satélites de Londres, sua cidade-principal. Hall ainda aponta que “quatro das oito cidades londrinas ficavam num único condado, Hertfordshire; e três delas foram um grupo ao longo da Great North Road e da principal linha norte [...] de Londres” (1988, p. 154). Isto é: estas comu- nidades estavam arranjadas dentro do ideário da cidade-jardim justamente por estarem interligadas a uma grande rede de células e conectadas a uma cidade- -central por malhas ferroviárias que, em pouco tempo, levariam seus residentes do caos ruidoso e esfumaçado às calmarias verdejantes das novas cidades. Dentre estas cidades-jardins britânicas junto a Londres, é importante des- tacar Stevenage e Welwyn (Figura 14), que compunham uma sobreposição de cidades-jardins adjacentes em rede. Welwyn é um caso especial: foi fundada em 1920 pelo próprio Ebenezer Howard, mas promovida a município em 1948 após as reformula- ções urbanísticas britânicas do pós-guerra, sendo então gerenciada e financiada pelo poder público ao invés dos filantropos e companhias privadas, tal como idealizado por Howard. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 63 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 63 04/10/2021 11:01:45 Dentre as reformulações empregadas, Hall reforça que é muito importan- te citar a Lei das NovasCidades de 1946, uma vez que esta permitiu que as cidades-jardim pudessem sair da prancheta “sem esperar pela idade de Matu- salém” (1988, p. 153), permitindo tamanha produção de cidades e assentamen- tos, como mencionado. Todavia, este aceleramento valia apenas para cidades e assentamentos urbanos desenhados e dimensionados dentro de preceitos muito próximos do ideário da cidade-jardim e localizados no campo. O padrão das moradias acabou sendo elevado de tal forma que, embora o ajardinamento e o ar bucólico idealizados por Howard estivessem presentes nestas vizinhanças, elas certamente não abrigariam todas as classes sociais. Ademais, as margens de Londres no pós-guerra faziam com que o translado entre cidades-jardins satélites e a cidade-central não fosse tão rodeado de pai- sagens bucólicas quanto idealizado por Howard. Corporação de desenvolvimento de Welwyn Garden City: Desenvolvimento existente e proposto Figura 14. Os planos de Welwyn Garden City a partir de sua promoção como nova cidade. Fonte: WGC HERITAGE TRUST, [s.d.], n.p. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 64 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 64 04/10/2021 11:01:46 Os planos das companhias urbanas estatais (Figura 14) mapearam os ele- mentos pré-existentes nas cidades-jardins, e promoveram mudanças visando áreas que concentrassem usos únicos. Pode-se afirmar que as cidades-jar- dins certamente tiveram um papel importante na consolidação dos princípios e discussões acerca do zoneamento urbano no pós-guerra. Isso posto, estes planos ainda indicam uma concentração de escolas e comércio em centrali- dades da comunidade, ao invés de uma disposição radial pura conforme pre- ceituava Howard. Existiram outras instâncias, como no caso de algumas propostas de Le Corbusier nas quais houve grande influência do conceito de cidade-jardim. Cohen (2013) lembra que o plano de Le Corbusier para a cidade francesa bom- bardeada denominada Saint-Dié envolvia preponderantemente os princípios da tábula rasa. Isto é: a trama antiga do plano urbano que restou dos bom- bardeios seria eliminada e daria vazão a unidades de habitação repletas de aeração, insolação e vistas para amplas áreas verdes. EXPLICANDO O arquiteto e urbanista Le Corbusier é um dos principais disseminadores dos preceitos racionalistas de desenho urbano através das premissas da tábula rasa. Assim sendo, estas premissas previam a demolição e poste- rior reconstrução dos centros urbanos das grandes cidades. A questão da tábula rasa já vinha sido pregada em tratados de urbanis- mo progressistas como a Ville Radieuse, do próprio Le Corbusier, em 1930, que propunha uma sistematização de edifícios residenciais perfeitamente alinhados com as premissas da indústria da construção da época. Entretan- to, Roldan (2019) reforça que Le Corbusier propôs também um impulso para variantes de cidades-jardim verticalizadas na forma de um de seus projetos mais icônicos: a Unité d’ Habitation de Marselha, projetada em 1947. Neste projeto, Roldan (2019) evidencia um programa de 337 habitações, cooperativas de abastecimento, equipa- mentos de serviços comunitários, comércio, esta- belecimentos gastronômicos, áreas de lazer na cobertura e até educacionais que, se planificados, ocupariam uma área muito maior (Figura 15a). PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 65 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 65 04/10/2021 11:01:46 a b Figura 15. (a) Comparação entre a Unité d’ Habitation de Marselha e uma cidade-jardim horizontal e (b) corte de tipologia duplex do edifício (d). Fonte: (a) ROLDAN, 2019, p. 109; (b) CRUZ et al., 2016, p. 192. Por fi m, a Unité d’ Habitation de Marselha constitui um marco em muitas disciplinas de Arquitetura e Urbanismo, mas não é isenta de críticas. Seu pa- vimento muitas vezes é considerado demasiadamente alongado e sua loca- lização pode ser considerada isolada do centro vibrante de Marseille. Mas esta descentralização era justamente uma das premissas da cidade-jardim, assim como a autonomia em termos de abastecimento e a salubridade em termos de insolação e ventilação. As lições a serem retiradas deste projeto são inúmeras, especialmente a partir de suas variações tipológicas evidencia- das nos cortes de suas unidades habitacionais (Figura 15b), exploradas exaus- tivamente na academia até os dias atuais. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 66 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 66 04/10/2021 11:01:46 Sintetizando Nesta unidade, vimos como tanto o conceito de unidade de vizinhança quanto o conceito de cidade-jardim surgiram justamente das transformações ocorridas no tecido e vida urbana das primeiras décadas do século XX, as quais se deram devido à rápida industrialização e à necessidade de reconstrução de- rivada da Segunda Guerra Mundial. Essas transformações promoveram preocupações acerca da salubridade das cidades, assim como da segurança dos indivíduos em função da ainda nova interação entre automóveis e pedestres. Diante disto, surgiu o conceito de unidade de vizinhança: a concepção original de Clarence Arthur Perry pre- via comunidades autônomas e autocentradas com a escola como ponto focal geográfico e cívico. Suas vias principais seriam na periferia, assim como seu comércio, e suas dimensões seriam moldadas de acordo com a capacidade da escola, tanto em termos de população quanto em termos de extensão. A disseminação das unidades de vizinhança no mundo se deu principal- mente por sua adoção no Reino Unido com o Plano do Condado de Londres, de 1943, em que o conceito passou a ser alcunhado de neighbourhood unit e as comunidades de neighbourhoods. As publicações francesas também auxiliaram bastante nesta divulgação, chamando o conceito de unité de Voisinage. Nas ex- plorações francesas, a igreja costumava ser o centro da comunidade. O conceito de unidade de vizinhança também teve adesões notáveis em território nacional, como no caso das superquadras de Lúcio Costa em Brasília. Estas tipologias urbanísticas não seguiram à risca todos os preceitos de Perry, alocando equipamentos comunais nas periferias e seguindo uma lógica carte- siana de arruamento, mas asseguraram o verde e o conforto ambiental interno e externo de seus moradores. Já a concepção da cidade-jardim teve origem direta no Reino Unido com Ebenezer Howard, que visava conciliar as melhores qualidades da cidade e do campo em redes de comunidades autônomas. Estas cidades seriam satélites de uma cidade central principal e conectadas radial- mente por anéis e eixos ferroviários em meio a paisagens verdejantes, as quais serviriam como uma barreira peran- te os males da poluição e ruídos da metrópole. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 67 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 67 04/10/2021 11:01:46 As cidades-jardim também seriam radiais em si e circundadas por anéis verdes, anéis ferroviários e áreas industriais. Seu centro seria destinado a parques e áreas comerciais e institucionais. As áreas residenciais ficariam jus- tamente na camada intermediária e em meio a amplo ajardinamento estético e paisagístico. Nem sempre as novas propostas que surgiram ou foram reformuladas, como no caso de Welwyn, tiveram um perfeito alinhamento com as premis- sas de Howard. Houve inclusive manifestações na Europa Continental com variantes adensadas e verticalizadas da cidade-jardim, como é o caso da Unité d’ Habitation de Marselha, de Le Corbusier. PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 68 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 68 04/10/2021 11:01:46 Referências bibliográficas AMERICAN SOCIETY OF PLANNING OFICIALS. Neighborhood boundaries. 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PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 71 SER_ARQURB_PURUV_UNID2.indd 71 04/10/2021 11:01:46 PROJETO DE UMA UNIDADE DE VIZINHANÇA 3 UNIDADE SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 72 04/10/2021 11:57:08 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Perceber como se configura uma unidade de vizinhança; Entender os parâmetros de projeto para uma unidade de vizinhança; Descobrir como se dimensionam os equipamentos urbanos de uma unidade de vizinhança. Projeto de uma unidade de vizinhança completa Conceito de uma unidade de vizinhança Os princípios básicos de uma unidade de vizinhança As unidades de vizinhança no Brasil Parâmetros de um projeto para uma unidade de vizinhança Dimensionamento dos respec- tivos equipamentos urbanos, públicos e/ ou privados Acessibilidade universal nas unidades de vizinhança PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 73 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 73 04/10/2021 11:57:08 Projeto de uma unidade de vizinhança completa As grandes intervenções urbanas residenciais, realizadas na Europa (depois da Segunda Guerra Mundial) e na América Latina (em um contexto de desen- volvimento e expansão urbana), con- duziram a materialização de uma es- cala de associação intermediária entre as moradias e a cidade. Tal escala ba- seava-se nos conjuntos habitacionais que transcendiam a uma mera soma- tória de residências, e que colocavam em questão os valores de um bairro. Assim, foram criadas as unidades de vizinhança (UV) como uma peça urbana planejada, que tinha como objetivo, solucionar a relação entre a vivenda e a cidade. Nesse contexto, o modelo de UV se defi ne como um componente urbano básico, fundado com as relações sociais e funcionais primárias da cidade mo- derna, podendo chegar a ser uma síntese dela. Uma UV, na verdade, surge como um conjunto relativamente autossufi - ciente de moradias, com serviços de uso comum e extensões consideráveis de área livre para uso comunitário. Conceitualmente, busca-se a integração da edifi cação habitacional na cidade, mediante a distribuição de habitações e a sua relação com o espaço público. Dessa maneira, o modelo de unidade de vizinhança defi ne o conjunto residencial como o componente fundamental da conformação da cidade moderna. Conceito de uma unidade de vizinhança O conceito de unidade de vizinhança foi concebido em 1923 pelo urbanista Clarence Perry, através de um Plano Regional para a cidade de Nova York, que infl uenciou no planejamento para o desenvolvimento residencial em áreas me- tropolitanas de muitas cidades americanas. Esse conceito foi desenhado para atuar como um marco para os bairros funcionais, completos e desejáveis para as cidades industrializadas. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA74 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 74 04/10/2021 11:57:11 Dessa forma, em um período no qual houve um incremento no uso do au- tomóvel e as ruas e avenidas ainda não tinham a estrutura como temos atual- mente, as ferramentas que agora usamos para lidar com os conflitos urbanos ocasionados pelo tráfego de veículos não existiam ou não eram tão comuns, como as rampas de pedestres, os semáforos e a sinalização urbana. Sendo assim, Perry concebeu as UV como ilhas bloqueadas, em meio ao crescente tráfego de veículos, criando um importante obstáculo que permitia o desloca- mento de forma segura dos pedestres aos equipamentos urbanos e a outros elementos próximos, apenas caminhando. Perry, então, buscou interpretar as necessidades de uma família e projetou as UV conforme requerimentos e funções universais de um bairro residencial: desde o ponto de vista organizador, planejou um modelo de comunidade que se entende como parte de uma entidade maior, mas que possui uma identida- de própria e autônoma. Nesse sentido, ele definiu quais seriam as principais funções a serem oferecidas por uma UV, e uma delas seria a educação, com a instalação de uma escola primária; outra função seria a recreação, mediante a criação de jardins e áreas verdes; além da possibilidade de contar com comér- cio e serviços. Por outro lado, Perry determinou quais seriam os principais critérios a ser aplicado no momento de planejar uma unidade de vizinhança, buscando res- guardar a qualidade ambiental e a segurança do pedestre. Assim, o planeja- mento das dimensões das áreas residenciais se calcularia conforme a popu- lação que necessitasse de uma escola primária, por exemplo, e essa estaria limitada por todos os lados, com vias estruturais suficientemente amplas para assumir a demanda de tráfego requerida. Dessa maneira, é possível associar uma UV a um dispositivo que permite a descentralização da cidade como alternativa a tradicional concentração dos equipamentos urbanos, operando mediante a aparição de módulos, com uma maior autossuficiência no seu funcionamento, sabendo que os objetivos de descentralizar e expandir são duas intenções relacionadas e codependentes, que eram parte do progresso e do crescimento para atender a novas dinâmicas das cidades do século XX, que se consolidavam pelo forte processo migratório do campo para a cidade, em busca das oportunidades que os centros urbanos ofereciam. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 75 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 75 04/10/2021 11:57:11 As intenções das UVs derivam também de uma conceitualização híbrida e de um ajuste contextual, seguindo alguns preceitos do Congresso Internacio- nal de Arquitetura Moderna – CIAM, sobre o uso racional do solo e o debate entre a descentralização e a densifi cação da cidade, assim como a dissolução das quadras, a incorporação de lógicas econômicas como determinante for- mal, a construção de novo módulo de crescimento urbano, uma nova forma de abordagem da relação entre o individual e o coletivo, além de novas experiên- cias com as formas de edifi car, já que o intuito de uma UV não era ser apenas um conjunto habitacional com equipamentos de serviços, mas sim que fosse entendido como um espaço social integrado. Dessa forma, a arquitetura mo- derna toma partido das unidades de vizinhança e defi ne importantes fatores para a sua implantação, como a relação entre os tipos de serviços e a quanti- dade de habitantes, bem como a densidade e a dimensão de referência a partir da escala da cidade. EXPLICANDO O Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM foi uma or- ganização na qual se reuniram vários arquitetos contemporâneos para discutir, redigir e unifi car parâmetros sobre habitação, urbanização das cidades e sistemas construtivos, com o objetivo de utilizar a arquitetura como ferramenta econômica e política para melhorar o mundo, mediante os desenhos dos edifícios e do urbanismo. Esse conceito de UV também teve um propósito mais amplo, que era o de disponibilizar uma identida- de para pequenos bairros e oferecer aos urbanistas a oportunidade de difundir a cidade em pequenas subáreas. Os princípios básicos de uma unidade de vizinhança A unidade de vizinhança, defi nida pelo urbanista Clarence Perry, eleva o conceito de cidade jardim ao sugerir uma maior vinculação e identifi cação de cada família com seu lugar de residência. Roldan (2019), no entanto, descreve que os princípios básicos de uma da unidade de vizinhança (UV), de acordo a Clarence Perry, eram: PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 76 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 76 04/10/2021 11:57:11 • Necessidade de uma escola de ensino básico para uma população de mil a dois mil habitantes, localizada no centro para que a distância a ser percorrida até a escola não fosse superior a 800 metros; • O território não deveria exceder 64 hectares e seus limites deveriam ser vias de trânsito que permitissem a comunicação com o restante da cidade; • Os espaços livres deveriam interagir com os espaços livres do resto da cidade; • Os edifícios comerciais deveriam estar na periferia das unidades, para aten- der a mais de uma UV ao mesmo tempo, e os edifícios institucionais deveriam estar localizados no centro das unidades; • Necessidade de se evitar o trânsito de veículos no interior, prevendo uma separação das vias de circulação, onde as vias veiculares permitissem o acesso de veículos até os edifícios, através de vias de penetração que terminariam em “cul- -de-sac”, gerando trilhas de pedestres para comunicar os edifícios habitacionais. Assim, no perímetro de uma UV circulariam os automóveis e no interior estariam as vias de pedestres que se relacionariam com todos os espaços comuns, como escolas e zonas de áreas verdes, evitando possíveis acidentes; • O território deveria ser um local pensado para uma população de cinco a seis mil habitantes, não tendo densidade habitacional superior a 25 famílias por hectare. EXPLICANDO A expressão “cul-de-sac” é de origem francesa e esse termo é utilizado para as ruas sem saída, que possuem um raio de curvatura ao final da via para que o veículo possa fazer um retorno. Seus princípios na arquitetura moderna tinham como base os ideais de Claren- ce Perry, mas contavam com outros elementos. Com relação ao tamanho, uma UV deveria proporcionar moradias a todos os integrantes locais, e os equipamentos para a educação básica e a sua área real dependeria da densidade da população. Sendo assim, os limites de uma UV deveriam ser restritos por todos os lados, com ruas principais suficientemente amplas para facilitar a mobilidade dos usuários, contando com um sistema de pequenos parques e lugares de recreação, planejados de acordo com as necessidades básicas de cada unidade. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 77 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 77 04/10/2021 11:57:11 Percebe-se que seria necessário prever vias internas, projetadas a partir de um sistema de ruas especiais, de maneira que cada uma fosse proporcional a sua carga de tráfego e desenhada para facilitar a circulação, além de contar com equi- pamentos urbanos (equipamentos religiosos, creches, escolas primárias, quadras de esportes, mercado e comércio) distribuídos em função do seu uso específi co e do fl uxo espacial que produzem. Assim, os usos comerciais deveriam estar pró- ximos a vias principais, enquanto os equipamentos comunitários e educativos precisariam estar entre as áreas de parque e a zona residencial de maior densi- dade, distribuindo de forma homogênea a volumetria para atender aos preceitos de ventilação e iluminação, agrupados e próximos a um ponto em comum, faci- litando rapidamente o acesso a todos. Ademais, seria necessário estabelecer os comércios dentro das UV, de preferência, em pontos de fácil acesso de veículos, da população e para os moradores dos bairrosadjacentes às unidades. Seguindo essas premissas, as unidades de vizinhança poderiam se caracterizar por diversas circunstâncias, como casas isoladas, casas multifamiliares, aparta- mentos multifamiliares ou áreas reurbanizadas nos centros urbanos. As unidades de vizinhança no Brasil No Brasil, um exemplo de projeto de cidade moderna, com base nos pre- ceitos do CIAM e idealizada com uni- dades de vizinhança, foi a Cidade dos Motores, projetada em 1945 e que se localizaria junto à Fábrica Nacio- nal dos Motores, no estado do Rio de Janeiro. Dessa forma, a Cidade dos Motores se organizaria em quatro UV, com um zoneamento simplifi cado, contando com um centro cívico, es- colas, serviços básicos e áreas de re- creação e lazer, além de uma via prin- cipal, que conectaria a área industrial à área residencial, e as promenades, para conectar as áreas de uso comum e dos equipamentos urbanos com a zona residencial, próximos a um raio de 500 metros. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 78 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 78 04/10/2021 11:57:12 A tipologia residencial das UV na Cidade dos Motores estava defi nida de acordo com os fatores climáticos da área que receberia o projeto, levando em consideração a ventilação e a proteção solar, conforme os aspectos populacionais, assim como as tipologias habitacionais, que também estavam separadas em edifícios que variavam de 3 a 8 pavimentos, com confi gurações abrigando, desde uma família com muitos membros, até espaços individuais para os solteiros. Outra característica das áreas residenciais era que os edifícios estavam separados entre eles, para promover am- plos espaços abertos, como mostra a Figura 1. 1 9 9 4 2 10 10 11 11 118 8 5 6 6 11 11 12 12 11 1112 12 12 12 12 10 5 6 7 6 2 3 4 5 6 700 1. Estádio 2. Centro civil 3. Teatro 4. Fábrica de comida 5. Escolas 6. Creches 8. Igreja 9. Moradias individuais 10. Residências de 9 andares para pessoas solteiras 11. Prédios de apartamentos de 3 andares; 12. Prédios de apartamentos de 8 andares. Figura 1. Plano Geral da Cidade dos Motores, 1945, onde é possível analisar a disposição dos edifícios habitacionais, identifi cados com o número 9, 10, 11 e 12, e como os edifícios estão distantes entre si e cercados por áreas verdes. Fonte: ROLDAN, 2019, p. 150. EXPLICANDO Promenades são os percursos arquitetônicos que foram o objetivo comum de muitos arquitetos do movimento moderno, que buscavam uma espacialidade fl uida e contínua, criando surpresas e emoções como exaltação de uma experiência estética, originada durante o percurso até os edifícios de vivendas. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 79 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 79 04/10/2021 11:57:13 O projeto da Cidade dos Motores não foi desenvolvido por causa da privatiza- ção da Fábrica Nacional de Motores e pelo desinteresse nos novos proprietários em dar continuidade a ele, que previa uma moderna solução arquitetônica para as habitações naquela época. O Plano Piloto de Brasília, projetado por Lúcio Costa, é outro exemplo de uni- dade de vizinhança no Brasil: Quando projetou Brasília, Lúcio Costa estruturou a Escala Residencial nas Asas Sul e Norte da cidade a partir das unidades de vizinhança. O plano consistia em conferir serviços básicos a cada conjunto de quatro superquadras, a fi m de atender aos blocos residenciais com comércio, lazer, instituições educacionais, religiosas, desportivas e culturais. Deste modo, além de fornecer todos os serviços necessários à vida cotidiana, confi gurariam pontos de encontro. A ideia era promover a sociabilidade a partir das relações de vizinhança, onde os moradores se conhecem, compartilham dos mesmos espaços e necessidades (IPHAN, 2011, n.p.). O modelo da UV de Lúcio Costa estaria setorizado, como mostra a Figura 2, com blocos de apartamento distribuídos entre áreas verdes, um templo religioso ao centro, elementos educacionais próximos aos blocos habitacionais e cercados de serviço e comércio. Blocos de apartamento; habitação coletiva Serviço e comércio Templo religioso Educacional (Anísio Teixeira) (Escola Parque/Escola Classe/Jardim de Infância); Lazer e esporte (Clube de Vizinhança/ Biblioteca/Área de Esporte/ Cinema/Espaço de Cultura) Figura 2. Modelo da unidade de vizinhança de Brasília. Fonte: IPHAN, 2009, p. 90. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 80 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 80 04/10/2021 11:57:15 Dessa forma, Lúcio Costa projetou edifícios residenciais unifamiliares e com- postos de quatro superquadras, com um traçado regular, simétrico e uniforme, e cada uma com formato quadrado, contando com 280 metros de cada lado, e contornada por um cinturão verde, como é possível notar na Figura 3. Figura 3. As superquadras e as unidades de vizinhança de Brasília, em desenho de Lúcio Costa. Fonte: CAMPOS FILHO, 2010, p. 72. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 81 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 81 04/10/2021 11:57:16 As superquadras foram pensadas para terem uma maior densidade, já que abrigariam uma população de 10 a 12 mil habitantes, com áreas verdes e livres, to- talizando 85% da área da UV, contando com equipamentos urbanos, como igreja, escola e centro comunitário no centro das superquadras, além dos equipamentos de comércio e serviços no perímetro das UV, fusionando os conceitos de Perry e de Le Corbusier. Dentro das superquadras, os blocos residenciais estão dispostos de formas variadas, porém obedecem a dois princípios estipulados por Lúcio Cos- ta: o primeiro refere-se à escala uniforme dos edifícios, que deveriam seguir um gabarito de até seis pavimentos, em que o primeiro estaria apoiado sobre pilotis; e o segundo corresponde à separação das vias de veículos, que deveriam estar do lado externo às UV, e à circulação de pedestres, no interior das quadras, como mostra a Figura 4. Figura 4. Esboço das unidades de vizinhança e das superquadras projetadas por Lúcio Costa e foto das superquadras em 1973. Fonte: IPHAN, 2015, p. 55. (Adaptado). Com a construção de Brasília, apenas as superquadras 107, 108, 307 e 308 (na Asa Sul) foram construídas com os equipamentos urbanos previstos no Plano Pi- loto e que possuíam cinema, escolas, parque, biblioteca, capela, hospital e clube de vizinhança. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 82 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 82 04/10/2021 11:57:17 O Plano Piloto de Brasília, incluindo as unidades de vizinhança projetadas por Lúcio Costa, é Patrimônio Mundial reconhecido pela UNESCO desde 1987. Sendo assim, toda volumetria e a área projetada de 15% deverão ser respei- tadas e, por mais que os espaços livres tenham sofrido pressões para serem transformados pelo setor imobiliário, contidas pelo tombamento histórico, mantendo as características das UV pensadas pelo arquiteto. Rego (2017) descreve que, apesar de três cidades brasileiras terem posto em prática a ideia da UV seguindo as características europeias e norte-ame- ricanas, em contextos e períodos diferentes, ambas tiveram modifi cações na disposição e no funcionamento das UV, decorrente do uso e da apropriação dos espaços livres. Desse modo, a observação da ocupação dessas unidades de vizi- nhança revela a rejeição a certos valores culturais estrangeiros por parte da comunidade local, a incapacidade do urbanismo moderno para tratar a complexidade urbana e a pretensão utópica de se re- formar a sociedade por meio do urbanismo (REGO, 2017, n. p.). Parâmetros de um projeto para uma unidade de vizinhança As premissas de um projeto para uma unidade de vizinhança seguem al- guns parâmetros citados na Carta de Atenas de 1933, elaborada no Congres- so Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM, exemplifi cando que o urba- nismo deve ter a função fundamental de habitar, trabalhar, recrear e circular. Assim, entende-se queas construções deveriam estar próximas ao seu entorno natural, com a disposição dos edifícios orientados em norte e sul, para cumprir com fatores corretos de iluminação e ventilação, os quais são necessários ao ser humano, com luz, ar e zonas verdes nas proximidades. Dessa forma, todas as áreas residenciais deveriam contar com espaço aberto sufi ciente para satisfazer as necessidades essenciais de recreação e de es- portes para crianças, adolescentes e adultos, aproveitando ao máximo as ca- racterísticas naturais existentes no entorno, como rios, bosques, montanhas, lagos, etc. Outra premissa de projeto para uma UV era que a distância entre o lugar de trabalho e os lugares de moradias deveria ser reduzida ao mínimo possível, evitando grandes deslocamentos dentro da cidade. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 83 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 83 04/10/2021 11:57:17 Segundo Mano e colaboradores (2019), a população de uma unidade de vizinhança está em uma classifi cação de, no mínimo, 3 mil habitantes e, no máximo, 15 mil, devendo abranger uma área onde o raio da UV não ultrapas- se um círculo de 800 metros, considerando o contexto específi co do local de desenvolvimento do projeto. Para Santos (1988), um conjunto de nove quarteirões confi gura uma UV, considerando que oito quadras deveriam ser de propriedade privada e a nona deveria ser destinada à implantação de praças, escola, creche e postos de saúde, como observamos na Figura 5. Vizinhança Um quarteirão para uso público; os outros parcelados Figura 5. Disposição das unidades de vizinhança no formato de grelhas. Fonte: SANTOS, 1988, p. 118. Dessa forma, a soma de quatro conjuntos de unidade de vizinhança for- maria um bairro, com uma confi guração correta dos quarteirões, uma vez que “quando as 36 quadras resultantes são postas juntas já se arma uma confi guração hierárquica. A cada três ruas, uma se destaca por ser mais importante” (SANTOS, 1988, p. 118) e, com essa confi gura- ção, a falta de uniformidade é positiva, já que garante a diversidade de ocupações e usos, os quais difi cultam a formação de guetos e áreas segregadas, facilitando a expansão da ci- dade, como podemos ver na Figura 6. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 84 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 84 04/10/2021 11:57:18 Lote de 20 a 48 lotes: quarteirão 9 quarteirões: vizinhança 36 quarteirões: bairro Cidade em expansão Figura 6. Exemplo de como a confi guração das unidades de vizinhança pode favorecer a expansão de uma cidade, atendendo de forma completa todas as UV e a população. Fonte: SANTOS, 1988, p. 123. As unidades de vizinhança também garantem as premissas da certifi cação LEED para a formação de bairros sustentáveis, que recomenda que as escolas devam estar locadas de forma que atendam pelo menos 50% das unidades de moradias existentes e que estejam a uma distância de 800 metros cami- nhando, contemplando o controle de tráfego próximo às escolas, a criação de calçadas e ciclovias, capazes de promover a mobilidade, assim como a im- plantação de equipamentos urbanos para atender a população. CURIOSIDADE LEED é a sigla em inglês de Leadership in Energy and Environmental Design e é um sistema de certifi cação criado para avaliar o grau de sustentabilidade dos edifícios, bairros e cidades, além de medir critérios, como sustentabilidade, água, energia, materiais e recursos, e qualidade ambiental. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 85 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 85 04/10/2021 11:57:20 Um exemplo contemporâneo de unidades de vizinhança que engloba as premissas da sustentabilidade é o projeto denominado Sheltainer dos arquitetos, radicados nos Emirados Árabes, Mouaz Abouzaid, Bassel Omara e Ahmed Hammad, que propõe uma solução de moradias para as famílias de baixa ren- da na cidade do Cairo e que utilizam containers para formar habitações para famílias pequenas, estruturando oito ca- sas rodeadas por um pátio verde e, entre os grupos de casas, também há espaços para ativi- dades, como mercados, áreas de lazer e outros equipamentos urbanos, conforme é apresenta- do na Figura 7. Figura 7. Proposta do projeto Sheltainer, em Cairo, no Egito. Fonte: DEZEEN, 2019, n.p. Os equipamentos urbanos comunitários são parte também da sustenta- bilidade urbana, já que promovem relações sociais que contribuem para a qualidade do espaço urbano, bem como para a redução dos deslocamentos, favorecendo assim a diminuição do consumo de energia e promovendo a au- tonomia aos setores da cidade. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 86 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 86 04/10/2021 11:57:21 Dimensionamento dos respectivos equipamentos urbanos, públicos e/ou privados Os equipamentos urbanos são um conjunto de edifi cações e espaços, de uso público ou privado, nos quais se realizam atividades complementares às de habitar e trabalhar, proporcionando à população serviços de bem-estar social e de apoio às atividades econômicas. Funcionalmente, as atividades e serviços específi cos a que correspondem classifi cam-se em: equipamen- tos para a saúde, educação, comércio e abastecimento; cultura, recreação e esporte; administração, segurança e serviços públicos, como infraestrutura. Sendo assim, os equipamentos urbanos podem ser classifi cados em: • Elementos de estruturação da via pública: pavimentação, meio fi o, boca de lobo, etc.; • Elementos para conforto urbano: mobiliário urbano, bancos, lixeiras, fontes, pontos de ônibus, quiosques, toldos, canteiros, etc.; • Elementos de sistemas e redes urbanas: sinalizações de transporte cole- tivo, sinalização de trânsito, de pontos de ônibus, acessos de concessionárias de rede de água, luz, gás e esgoto; • Elementos de informação e publicidade: totens e postes; • Elementos de iluminação: que abrangem todas as formas de iluminação pública; • Equipamentos públicos ou privados: de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante a autorização do poder público, em espaços públicos e privados. No planejamento urbano, é válido considerar que o termo equipamento urbano está relacionado ao uso do solo para fi ns coletivos ou institucionais, podendo ser públicos ou privados. Sua implantação está diretamente asso- ciada ao desenvolvimento social e refl ete a qualidade de vida da cidade e de sua população. Entre as categorias de equipamentos urbanos, temos: • Os equipamentos de administração pública, onde se encontram os vários edifícios construídos ou habilitados para o funcio- namento de diversos órgãos do estado, como as sedes dos poderes executivos, legislativos e judiciário; PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 87 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 87 04/10/2021 11:57:21 • Os equipamentos de segurança pública e proteção, que correspondem aos edifícios, os quais têm a função de proteger o livre exercício do direito e da liberdade das pessoas, além de manter e estabelecer uma ordem pública, como os edifícios do corpo de bombeiros, delegacia, instalações militares e posto policial; • Os equipamentos de saúde, como as Unidades de Saúde Básica e as Uni- dades de Pronto Atendimento; • Os equipamentos de educação, com instalações adequadas para abrigar os serviços educativos em todos os níveis educacionais; • Os equipamentos de cultura, com instalações para reunião e comunicação na cidade, como teatros, salas de concerto, museus, bibliotecas, jardim botânico, templos, concha acústicas, zoológico ou centros culturais e edifícios religiosos; • Os equipamentos de esporte, como os autódromos, as pistas de esporte, os estádios, os parques, assim como os equipamentos e espaços de lazer, a exemplos de áreas verdes, predominando a vegetação e englobando as praças, jardins públicos e os parques urbanos, bem como os canteiroscentrais das ave- nidas das vias públicas ou parques urbanos com a função ecológica, estética e de ócio, apresentando extensão maior que das praças e jardins públicos; • Os equipamentos de assistência social, com edifícios destinados a garantir assistência às pessoas com menos recursos ou que se encontram em situação de risco, como crianças e idosos, podendo envolver asilos, centro social ou co- munitário, centro de triagem, creche, orfanato e penitenciária; • Os equipamentos de abastecimento, como os armazéns, central de abas- tecimento, supermercado e postos de gasolina; • Os equipamentos de circulação e transporte que inclui os estacionamen- tos, os logradouros públicos, as vias especiais, os terminais de transporte, as vias e os espaços públicos e privados; • Os equipamentos de infraestrutura que estão divididos em sistema de comunicação (com correios, rádio, televisão, telefonia e internet), sistema de energia (com o abastecimento de energia elétrica ou combustível doméstico canalizado), sistema de saneamento (com o abastecimento de água, esgota- mentos sanitário e pluvial, limpeza urbana) e os sistemas de produção e dis- tribuição de água a população, além dos serviços de saneamento de redes de esgoto, que envolve coleta e tratamento final do esgoto, e iluminação. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 88 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 88 04/10/2021 11:57:21 Os equipamentos urbanos necessários para o funcionamento de uma uni- dade de vizinhança podem ser definidos com a escola primária, que deve estar localizada próxima às unidades habitacionais, em um raio de 800 metros, e com capacidade adequada para atender a população; com equipamentos de comércio e serviço, que devem estar acessíveis para ir a pé; e com praças ou espaços para contemplação, recreação e lazer, próximos às áreas residenciais. Para Santos (1998), os equipamentos públicos que atendem as UV devem estar distribuídos com maior regularidade, como é o caso das creches, das es- colas, das praças e dos postos de saúde, que devem estar situados no raio da área de moradia, diferente dos outros equipamentos que servem ao conjunto da cidade, como os parques, os cemitérios, as rodoviárias, aeroportos, etc., onde a sua localização não deve estar vinculada com o raio de moradias. Alguns padrões urbanísticos definidos por Santos (1998) são que as creches devem estar localizadas na vizinhança imediata às áreas de moradias, aten- dendo um raio de influência máximo de 300 metros, e próximos a praças e áreas verdes, evitando vias principais e obedecendo ao dimensionamento de estarem em um terreno de 6 m² por criança, em um edifício projetado para considerar 4 m² por criança, com capacidade limitada de 40 crianças. As edificações de jardim de infância devem estar localizadas na vizinhança imediata às áreas de habitações, em um raio de influência máximo de 300 m para atender a faixa etária de quatro a seis anos de idade e ter a capacidade de turmas limitadas a 20 crianças, seguindo o mesmo dimensionamento por m² das creches. As escolas que atendem ao ensino básico devem estar localizadas na vizi- nhança imediata de habitações, com um raio de influência máximo de 1500 m para a faixa etária de 7 a 14 anos de idade, onde o edifício deve estar implantado em um terreno com área supe- rior a 1000 m², considerando 3,2 m² de área por aluno e contemplando uma área de ampliação. As escolas de ensino médio devem atender os bairros ou, se foram especializadas, devem aten- der também a cidade, com um raio de influência máximo de 3000 metros, cumprindo o dimensio- namento das escolas de ensino básico. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 89 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 89 04/10/2021 11:57:21 Os centros de ação social devem estar localizados em áreas onde seja ne- cessário o desenvolvimento social de populações carentes, visando a atender toda a cidade, sendo dimensionado em função dos serviços prestados. Os postos de saúde e hospitais devem servir aos bairros e estarem im- plantados em um terreno com área mínima de 1000 m² e uma área construí- da de, no mínimo, 200 m², considerando um raio de influência para os postos de saúde com 1000 m, enquanto os centros de saúde devem cobrir um raio de influência de 5000 m e os hospitais com um raio de influência máximo a regional. Os hospitais e os postos de saúde devem servir toda cidade, necessitando ser dimensionado para que possa haver quatro leitos para cada 1000 habitan- tes e 40 m² de área construída por leito. As praças e as áreas verdes podem ser pequenas, servindo a grupos de vizinhança ou quarteirões, com dimensão de 4 m² por habitante e com um raio de influência de no máximo 600 m, para parques e praças de vizinhança, e no máximo de 2400 m para parques de bairros, que podem ser lineares e esta- rem interligando atividades recreativas, como escolas, igrejas, mercados, restaurantes, etc., podendo ainda estar em faixas lineares ar- borizadas no eixo dos rios e córregos. Por fim, é importante lembrar que deve ser previsto nas praças e nas áreas verdes, es- tacionamento para automóveis e bicicletas, além de conexões sinalizadas com o sistema viário, para que se aproveitem os bosques e as áreas arboriza- das existentes. CURIOSIDADE A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um índice de, no mínimo, 12 m² de áreas verdes por habitante na área urbana, mas muitos citam que o ideal é de, pelo menos, três árvores ou 36 m² de área verde por habitante. Dessa forma, a distribuição dos equipamentos e a relação com o seu entor- no, como sugere Santos (1988), deve estar de acordo com a Tabela 1. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 90 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 90 04/10/2021 11:57:21 Fonte: SANTOS, 1988, p. 162. TABELA 1. EXEMPLO DA DISTRIBUIÇÃO DESEJÁVEL DOS EQUIPAMENTOS URBANOS DENTRO DE UMA UNIDADE DE VIZINHANÇA Creche Pré-escola Escola de 1o grau Equipamentos de saúde Parques Reserva fl orestal Reserva fl orestal Mercado Matadouro Corpo de bombeiros Posto policial Posto telêfonico Correios e telégrafos Templos Habitação Terminais de transportes Edifícios públicos adm. Instal. de infra-estrutura Vizinhança pouco desejável Vizinhança +- desejável Vizinhança desejável Vizinhança indiferente Vizinhança incompatível Equipamentos de saúde Centro de ação social Escola de 2o grau Cre che Pré -es col ar Esc ola de 1 o gr au Esc ola de 2 o gr au Cen tro de aç ão so cia l Equ ipa me nto s d e s aú de Equ ipa me nto s d e s aú de Par qu es Re ser va fl o res tal Re ser va fl o res tal Me rca do Ma tad ou ro Co rpo de bo mb eir os Po sto po lici al Po sto te lêf on ico Co rre ios e t elé gra fos Tem plo s Ter mi na is d e t ran spo rte Edi fíci os pú bli cos ad m. Ha bit açã o Ins tal . d e in fra -es tru tur a Mano e colaboradores (2019) descrevem que, para o correto dimensiona- mento dos equipamentos urbanos em uma unidade de vizinhança, deverão ser conhecidos os usuários e os equipamentos necessários para as atividades de um grupo de pessoas em específi co. Uma forma de saber o perfi l das pessoas é por meio de uma série de perguntas, tais como: Quem são as pessoas que irão utilizar esse equipamento? Como são as suas casas? Quais são as suas festas comemorativas? E como são as suas festas? Há associação de moradores, grupo de mães, agremiações ou quais- quer tipos de grupo organizado? Quais são eles? O que gostam de fazer no tempo livre? Quais são os jogos e as brincadeiras? PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 91 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 91 04/10/2021 11:57:22 Onde se encontram? E como são os espaços? Quantas são? Quantas são crianças? Quantos são adultos? Há pessoas com defi ciência? Quantos são idosos? Têm todos os tipos de serviços públicos disponíveis (escola, postode saúde, biblioteca, serviços de documentos etc.)? (MANO e colabora- dores, 2019, p. 53). Assim, com o resultado desse questionário, será mais fácil conhecer o usuá- rio, dimensionar e escolher o equipamento público necessário e útil para esse grupo de pessoas. Segundo a Caixa Econômica Federal (2010): [...] O planejamento destas áreas deve levar em consideração as neces- sidades inerentes a cada uma das atividades ali propostas, prevendo o sombreamento ou a necessidade de insolação, a proteção acústica de forma a evitar ruídos excessivos aos vizinhos, dimensões adequadas dos equipamentos e o tipo de moradores previstos (CAIXA, 2010 p. 76). Para o dimensionamento de um equipamento urbano, será necessário tam- bém seguir as leis e normas que correspondem a cada tipo de equipamento urbano, consultando ainda o Plano Diretor do município onde estão sendo im- plantados os equipamentos, bem como o zoneamento e o código de obras. Nesse contexto, as legislações que incidem nos equipamentos urbanos serão sempre as legislações federal e estatal; as instruções técnicas, decretos e leis do corpo de bombeiros; assim como a NBR 9050/2020, que corresponde à nor- ma brasileira de acessibilidade. Acessibilidade universal nas unidades de vizinhança Sabemos que a acessibilidade universal é a condição que deve existir obriga- toriamente em todos os espaços públicos e privados, entornos e equipamentos urbanos, permitindo a todas as pessoas o acesso, a compreensão, a utilização e o desfrute do espaço de maneira autônoma, cômoda, segura e efi ciente. A NBR 9050/2020 defi ne como acessibilidade a: PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 92 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 92 04/10/2021 11:57:22 [...] possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliá- rios, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida (ABNT, 2020, p. 2). Existem diversas técnicas e elementos para contribuir e equiparar os espaços para todas as pessoas, o que permite a um espaço acessível receber toda classe de pessoa, sem que exista qualquer tipo de seleção ou complicação. As rampas, elevadores, alfabeto em braile e os sinais auditivos são algumas dessas ajudas técnicas. Uma UV planejada corretamente deve contemplar a acessibilidade universal, promovendo espaços para todos, conforme determina o Decreto 5296/2004: Art. 15. No planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logra- douros, parques e demais espaços de uso público, deverão ser cum- pridas as exigências dispostas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT. § 1o Incluem-se na condição estabelecida no caput: I - a construção de calçadas para circulação de pedestres ou a adap- tação de situações consolidadas; II - o rebaixamento de calçadas com rampa acessível ou elevação da via para travessia de pedestre em nível; III - a instalação de piso tátil direcional e de alerta (BRASIL, 2004, n.p.). Dessa maneira, além de evitar obstáculos na via pública, como degraus e ram- pas irregulares, mudanças bruscas nos pisos, elementos mal posicionados (plan- tas, postes e mobiliários urbanos), inclinação inadequada das calçadas, elementos e equipamentos não sinalizados, etc., é possível utilizar materiais que propiciem uma superfície contínua e antiderrapante, prevendo inclinações adequadas que facilitem e assegurem a locomoção, bem como a localização e setorização do pas- seio, separando o mobiliário urbano, como postes, lixeiras, canteiros em uma faixa do passeio, deixando uma faixa livre para a circulação de pedestres, de modo a favorecer a clareza do percurso e a utilização correta das sinalizações sonoras e táteis, como mostra a Figura 8. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 93 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 93 04/10/2021 11:57:22 1.20 (mínimo) 1.20 0.8 0 Fa ixa liv re (p ara ci rcu laç ão ) Figura 8. Exemplo de setorização do mobiliário urbano no passeio e da faixa sem obstáculos na circulação de pedestres. Fonte: MONTENEGRO; SANTIAGO; DE SOUZA, 2009, p. 36. Figura 9. Exemplo de setorização do mobiliário urbano no passeio e da faixa sem obstáculos na circulação de pedestres. Fonte: MONTENEGRO; SANTIAGO; DE SOUZA, 2009, p. 73. Os parques, as praças e os espaços públicos também devem oferecer condições de acessibilidade, garantindo a rota livre de obstáculos e a sinalização de mobiliários urbanos, como chafariz, fontes, esculturas e hidrante, para evitar acidentes. Contu- do, nos espaços urbanos que possuem bancos, deverá ser previsto espaços para a acomodação de cadeiras de rodas, como é possível notar na Figura 9. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 94 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 94 04/10/2021 11:57:26 A Lei 12.587/2012 estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana e fun- damenta os princípios da acessibilidade universal, do desenvolvimento sustentável das cidades, da eficiência do transporte urbano, da segurança do deslocamento da população, da equidade do uso dos transportes e da circulação, entre as vias e entre outros pontos. Sendo assim, o conceito da mobilidade urbana considera a relação entre as redes de conexão urbana e o planejamento espacial, além da relação físico- -espacial que possui. A mobilidade urbana busca reduzir as desigualdades e promover a inclusão so- cial, o acesso da população aos equipamentos sociais e serviços básicos, além de complementar os meios de transporte, com a gestão eficaz do espaço público e do transporte sustentável, dando a cada meio de transporte o seu espaço na via públi- ca, transformando em um transporte sustentável. Dessa forma, a inclusão do conceito de mobilidade urbana no planejamento de uma unidade de vizinhança é parte da acessibilidade universal e de uma eficiente infraestrutura pública, que promove vias acessíveis, com estacionamentos para bicicletas, ciclovias, passeios, bem como integração ao sistema de transporte e distribuição correta dos equipamentos para encurtar os des- locamentos. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 95 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 95 04/10/2021 11:57:26 Sintetizando Vimos que o conceito de unidade de vizinhança (UV) foi criado por Claren- ce Perry para planejar bairros funcionais e completos nas cidades que esta- vam sendo urbanizadas pela industrialização. Dessa forma, entende-se que a configuração de uma UV é determinada pelo seu tamanho e depende da densidade da população, considerando que os limites das unidades são determinados pelas vias principais e, dentro de- les, deve existir um sistema de parques, com lugares de recreação e lazer, assim como um sistema de circulação interno, facilitando a conexão entre as vias de veículos e os conjuntos de moradias, que podem ter o percurso feito a pé pelos pedestres, até os equipamentos urbanos, como escolas e comércios, diminuindo assim o deslocamento a outras partes da cidade. No Brasil, o Plano Piloto de Brasília, criado pelo arquiteto Lúcio Costa, fu- sionou os parâmetros de Clarence Perry com os do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM, proporcionando superquadras com espa- ços de moradias e equipamentos urbanos, rodeados por uma área verde, de modo a facilitar a ventilação e a iluminação dos edifícios habitacionais. Por fim, é importante ressaltar que percebemos que os equipamentos ur- banos, apesar de possuírem raios de abrangência determinados na prática por alguns urbanistas, devem ser dimensionados de acordo com o Plano Di- retor dos municípios, bem como o zoneamento e o código de obras, seguindo também as normas de acessibilidade e mobilidadeurbana. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 96 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 96 04/10/2021 11:57:26 Referências bibliográficas ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibi- lidade de Pessoas Portadoras de Deficiências a Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamento Urbano. Rio de Janeiro: ABNT, 2020. Disponível em: <https:// www.caurn.gov.br/wp-content/uploads/2020/08/ABNT-NBR-9050-15-Acessi- bilidade-emenda-1_-03-08-2020.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2021. BRASIL. Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 dez. 2004. 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SANTOS, C. N. F. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo: Projeto, 1988. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 98 SER_ARQURB_PURUV_UNID3.indd 98 04/10/2021 11:57:26 PROJETO DO ENTORNO DE UMA UNIDADE DE VIZINHANÇA 4 UNIDADE SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 99 04/10/2021 11:55:05 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Entender como a unidade de vizinhança se vincula com o seu entorno; Compreender a importância dos equipamentos urbanos para o desenvolvimento sustentável; Entender como a falta ou a insuficiência dos equipamentos urbanos pode prejudicar uma unidade de vizinhança ou um bairro. Projeto de uma área não residencial adjacente à unidade de vizinhança Exemplo de organização de uma cidade com as unidades de vizinhança A mobilidade urbana como fator projetual O novo urbanismo O desenvolvimento urbano sustentável Dimensionamento dos respectivos equipamentos PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 100 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 100 04/10/2021 11:55:05 Projeto de uma área não residencial adjacente à unidade de vizinhança Como já visto em unidades anteriores, o conceito de unidade de vizinhança (UV) foi concebido em 1923 pelo urbanista Clarence Perry, e é defi nido como um compo- nente urbano básico e autossufi ciente de moradias, com serviços de uso comum e extensões consideráveis de área livre para uso comunitário. No conceito de Clarence, as principais funções que deveriam oferecer uma unidade de vizinhança seriam: a educação, por meio da instalação de uma escola primária; a recreação, mediante a criação de jardins e áreas verdes; e a possibilidade de contar com comércio e serviços. Essa concepção inicial foi sendo aperfeiçoada e se transformou em uma peça urbana planejada, que tem como objetivo solucionar a relação entre a moradia e a cidade. Dessa forma, as UV, além das áreas habitacionais e de um sistema de or- ganização das vias, no qual as vias de pedestres e de veículos são hierarquizadas, possuem também equipamentos urbanos, que precisam atender aos parâmetros determinados pelo Plano Diretor do município, que determinará quais equipamen- tos urbanos são fundamentais para determinada região. Assim, os projetos não re- sidenciais, como os comerciais, industriais, institucionais, de uso misto e de lazer devem estar dimensionados e distribuídos de forma a favorecer o desenvolvimento urbano e a integração social da comunidade. O projeto de uma UV e das áreas não residenciais adjacentes está determina- do também pelo parcelamento do solo urbano, que está regido pela Lei Federal 6766/79, que estabelece o dimensionamento dos equipamentos urbanos, determi- nando que a porcentagem das áreas públicas em uma gleba não poderá ser inferior a 35% da área destinada ao loteamento, como mostra a Figura 1. Figura 1. Disposição das unidades de vizinhança no formato de grelhas. Fonte: SANTOS, 1988, p. 117. (Adaptado). Área edifi cável Equipamentos Vias de circulação 62,60% 7,82% 28,58% Lei Federal 6766 35% PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 101 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 101 04/10/2021 11:55:05 Sendo assim: as áreas destinadas a sistemas de circulação, a implantação de equipamento urbano e comunitário, bem como a espaços livres de uso público, serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em que se situem (BRASIL, 1979). EXPLICANDO Gleba é todo pedaço de terra que não foi parcelada ou desmembrada, que não possui regulamentação ou tenha seu loteamento aprovado pelo município. O dimensionamento dos equipa- mentos urbanos dentro de uma uni- dade de vizinhança deverá levar em consideração a área do terreno e o raio de abrangência, considerando a sua localização em relação à malha urbana existente. A localização de um equipamento urbano é recomendada em função da distância do trajeto para chegar ao equipamento, de forma que não exceda a distância de 400 metros. O dimensionamento e a localização de uma área não residencial, adjacen- te a uma UV, deverão obedecer ao zoneamento do município em que será im- plantado, já que as áreas para usos industriais, comerciais e institucionais estão definidas por regras de parcelamento e usos do solo, com base na organizaçãoda ocupação do território, minimizando conflitos de usos, protegendo áreas ina- dequadas à ocupação, controlando o tráfego e o crescimento urbano da cidade. Para Mano et al. (2019), os espaços comerciais e de serviços estimulam inte- rações e a sociabilidade entre vizinhos e podem estar localizados próximos às áreas residenciais, promovendo o deslocamento sem automóvel, e é estimado que 5% da área total de uma gleba deve ser destinada ao comércio e ao uso misto, como mostra a Figura 2. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 102 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 102 04/10/2021 11:55:05 Figura 2. Forma da disposição do uso misto na cidade de São Paulo, equilibrando a oferta de habitação e de emprego. Fonte: Prefeitura de São Paulo, [s.d.]. (Adaptado). O uso misto favorece o aproveitamento da infraestrutura urbana existente durante várias horas do dia, evitando, assim, espaços inseguros pela falta de uso e proporcionando a maximização e a racionalidade da utilização dos ser- viços urbanos. As indústrias também devem ser contempladas, ocupando 5% da área to- tal de uma gleba, porém, devem seguir o zoneamento do município para que estejam localizadas em uma área segura para os habitantes e para o meio ambiente. Outro fator que este tipo de uso deve atender é ao Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança, que é um instrumento do planejamento urbano que favorece o: [...] controle urbano e subsídio à decisão do Poder Público para aprovação de projeto, emissão de autorização ou licença para implantação, construção, ampliação ou funcionamento de em- preendimentos e atividades públicos ou privados, em área urba- na ou rural, que possam colocar em risco a qualidade de vida da população, a ordenação urbanística do solo e o meio ambiente, causar-lhes dano ou exercer impacto sobre eles (SEDUH, [s.d.]). Dessa forma, o zoneamento, o Estatuto da Cidade e o Estudo Prévio de Im- pacto de Vizinhança garantem o direito a cidades sustentáveis. Uso residencial Uso não residencial USO MISTO Eixos de estruturação da transformação urbana PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 103 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 103 04/10/2021 11:55:06 Os espaços de lazer como as áreas de parques, praças e áreas verdes, de- vem contemplar 30% da área total de uma gleba e a abrangência de uma área de lazer deve ser próxima a 600 metros e localizada longe das vias de tráfego intenso. O seu dimensionamento dependerá dos equipamentos urbanos que serão nele instalados (MANO et al., 2019). Figura 3. Espaço de lazer com equipamentos de recreação e mobiliário para relaxamento. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 14/09/2021. Os usos institucionais, como as escolas, deverão ser dimensionados de acordo com a população que utiliza tal equipamento e a sua localização deve estar próxima da área habitacional. Os equipamentos institucionais como as unidades de saúde, os equipamentos comunitários, entre outros, devem ser dimensionados e localiza- dos contemplando os demais equipamentos próximos às UV, a fi m de atender de forma correta, o raio de abrangência para a população. Exemplo de organização de uma cidade com as unidades de vizinhança As UV surgem com o objetivo de descentralizar a cidade, operando mediante a aparição de módulos, com uma maior autossufi ciência no seu funcionamento, nas quais os objetivos de descentralizar e expandir, eram duas intenções rela- cionadas e codependentes, que formavam parte do progresso e do crescimento para atender a novas dinâmicas das cidades do século XX. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 104 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 104 04/10/2021 11:55:07 Essas intenções, bem como os preceitos do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), que reunia vários arquitetos contemporâneos para discutir, redigir e unificar os parâmetros sobre habitação, urbanização das cidades e sistemas construtivos, com a idealização de resol- ver e melhorar a cidade apenas com a construção de edifícios e da organização da cidade pelo urbanismo, resultaram em vários exemplos de ci- dades construídas e idealizadas com unidades de vizinhança. Nelas, é possível analisar como foram projetadas as áreas não residenciais nas adjacências das unidades. Um exemplo é o Plano Diretor de Brasília, proje- tado pelo arquiteto Lúcio Costa, e a cidade de Chandigarh, na Índia, projetada pelo arquiteto Le Corbusier com os preceitos do CIAM, que também foi criada do zero, assim como o projeto de Lúcio Costa. O plano piloto para a cidade de Chandigarh foi elaborado entre 1951 e 1953, concebido para uma cidade de 500.000 habitantes e seu traçado baseado em um formato de grelha retangular, que se adapta às condições do terreno, como mostra a Figura 4. Figura 4. Mapa da cidade de Chandigarh, à esquerda, e imagem aérea da cidade, na qual é possível observar as quatro quadras que formam uma unidade de vizinhança. Fonte: Print retirado do aplicativo Google Earth. Dessa forma, a unidade básica de Chandigarh era o setor concebido como autossuficiente e introvertido, subdividido em unidades de vizinhança que aco- modavam aproximadamente 150 famílias. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 105 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 105 04/10/2021 11:55:09 Esses setores estavam unidos por uma trama de ruas, denominadas “7VS”, que correspondiam às vias organizadas hierarquicamente, de acordo com a intensidade do fluxo veicular que cada via suportava. Sendo assim, as vias esta- vam divididas em V1, que correspondia às vias nacionais; V2, que correspondia às vias de serviços públicos especiais; V3, que são avenidas de alta velocidade que cruzam a cidade; V4, as vias que conduzem aos equipamentos locais; V5, as vias dos bairros; V6, as vias de acesso doméstico; e V7, as vias de pedestres. Dessa forma, Le Corbusier projetou cada setor da cidade de forma que es- tivesse vinculada com uma via de alta velocidade V2 ou V3, e que estas fossem atravessadas de Leste a Oeste, por uma rua comercial V4 e que se conectaria a outros setores adjacentes e por uma via de bairro de Norte a Sul, onde as vias de pedestres se conectam com as áreas de parques e as áreas verdes. Sendo assim, o Plano Diretor de Chandigarh se baseia nos princípios da arquitetura moderna ao abrigar as quatro funções do urbanismo: morar, tra- balhar, circular e manter o corpo e o espírito. Dessa maneira, a cidade está distribuída como um corpo humano, onde a cabeça é um Capitólio (Palácio da Assembleia), caracterizado pelo centro cívico e constitui a zona monumental e os edifícios mais representativos da cidade. Figura 5. Vista do Palácio da Assembleia, principal edifício da cidade de Chandigarh, projetada pelo arquiteto Le Corbusier. Fonte: CHAKRAVARTHI; BHARDWAJ, 2020. O coração da cidade é a área central, os pulmões correspondem à área dos parques e às áreas verdes, o cérebro corresponde à área das universidades e das escolas, o sistema circulatório corresponde aos sete tipos de vias, e o siste- ma digestivo, é representado pelas indústrias. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 106 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 106 04/10/2021 11:55:10 Chandigarh, onde hoje habitam 1 milhão de pessoas, está dividida em se- tores que vão do 1 ao 60, com exceção do setor 13 que não existe. Eles medem 800 por 1200 metros e cada setor funciona como uma cidade independente com suas próprias infraestruturas de escola, lojas, mercados, unidades de saú- de, lugares de recreação e de culto e que estão situados sempre a menos de 10 minutos andando a qualquer um dos pontos. Toda a cidade está rodeada por um cinturão verde de 16 quilômetros de largura, de forma a evitar construções urbanas nas imediações, e o setor 17 é considerado o centro da cidade, comer- cial, sem áreas residenciais. O Plano Diretor de Chandigarh e os demais projetos urbanos de Le Corbu- sier, sempre garantiua densificação das cidades, por meio de grandes edifícios habitacionais, como o projeto Unité d’Habitation em Marselha, na França, que foi construído entre 1947 e 1952, e é um exemplo de uma unidade habitacional com capacidade para 1600 habitantes, distribuídos em 18 pavimentos e que foi desenhado como uma unidade autônoma, com os mesmos equipamentos e características de um bairro tradicional, como mostra a Figura 6. Figura 6. A Unité d’Habitation, de Le Corbusier, é um importante projeto de habitação e de convívio, abrigando equi- pamentos como pista de atletismo, creche, ginásio e piscina. Nas proximidades do edifício estão localizados comércios locais, centro médico e até um pequeno hotel. Fonte: Lecorbusier – World Heritage, [s.d.]. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 107 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 107 04/10/2021 11:55:10 A Unité d’Habitation foi projetada como um conjunto de edifícios com as mesmas características, em que os edifícios estariam separados por grandes parques, com circulação de pedestres separados de fl uxo veicular e amplos espaços iluminados, como citado na Carta de Atenas de 1933. Contudo, apenas um edifício do conjunto foi construído, mas é um exemplo de como foram idea- lizadas as virtudes dos conjuntos residenciais densifi cados, com grandes torres que infl uenciaram defi nitivamente o desenvolvimento urbano habitacional da segunda metade do século XX. A mobilidade urbana como fator projetual A mobilidade urbana é defi nida como o conjunto de deslocamentos no en- torno urbano, que se produz em uma cidade para que as pessoas percorram uma distância que separa um lugar do outro, seja para trabalhar, estudar ou ir a lugares de lazer e cultura. Ao projetar, dimensionar e implantar corretamente os equipamentos urba- nos que compõem os usos não residenciais adjacentes a uma unidade de vizi- nhança, é possível reduzir os tempos de viagem nos deslocamentos, melhorar os serviços de transporte urbano, as condições de acessibilidade, aprimorar a qualidade do meio ambiente urbano, diminuir congestionamentos, ruídos, acidentes e o consumo de energias renováveis. Ao favorecer a mobilidade urbana, é possível otimizar os meios de transpor- te mais efi cientes social e ambientalmente, como o transporte coletivo, o uso de bicicletas e fl uxo de pedestres. Para atender à demanda da mobilidade urbana e resolver o problema do transporte nas cidades e dos grandes deslocamentos, pode ser utilizada a es- tratégia de planejamento determinado pelo DOTS - Desenvolvimento Orienta- do ao Transporte Sustentável, que pode ser defi nida como: [...] uma estratégia de planejamento que integra o planejamento do uso do solo à mobilidade urbana com o objetivo de promover cidades compactas, conectadas e coordenadas. Incluir o DOTS como estratégia no plano diretor permite que a cidade priorize a transformação urbana junto aos eixos de transporte (EVERS et al., 2018). PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 108 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 108 04/10/2021 11:55:10 Essas estratégias são compostas por elementos que contribuem para o de- senvolvimento e construção de cidades mais sustentáveis, por meio de proje- tos urbanísticos que promovem a equidade social, a sustentabilidade ambien- tal e o desenvolvimento econômico. De acordo com o Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável no planejamento urbano, as estratégias DOTS nos Pla- nos Diretores (EVERS et al., 2018) são definidas para serem adotadas na escala da cidade e em algumas ações que deverão ser realizadas no entorno de esta- ções de transporte. Assim, as estratégias têm como objetivo orientar o desenvolvimento da ci- dade de forma compacta, conectada e coordenada. A cidade compacta trata do adensamento no entorno das infraestruturas de transporte, combatendo os va- zios urbanos, o controle do perímetro urbano e a diversificação do padrão social. Figura 7. Uma das diretrizes para o crescimento urbano compacto é definir o perímetro, promover o adensamento populacional, combater os vazios urbanos, bem como controlar o crescimento horizontal e prever usos mistos. Fonte: EVERS et al., 2018. (Adaptado). Outra estratégia é a conectividade do território, que pode ser alcançada utilizando de forma eficiente as infraestruturas, com a redução dos desloca- mentos motorizados, promovendo a variedade de usos do solo, a ampla oferta de espaços livres públicos e a criação de diversas centralidades. Definir estrategicamente o perímetro urbano Combater vazios urbanos Promover o crescimento vertical nas áreas com disponibilidade de infraestrutura Controlar o crescimento horizontal Planejar a infraestrutura, prever usos mistos e adensamento adequado nas áreas/macrozonas de expansão urbana PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 109 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 109 04/10/2021 11:55:11 Determinar parâmetros de incomodidade Defi nir os eixos para a adoção do DOTS Promover as centralidades conectadas à infraestrutura urbana Estabelecer a dimensão máxima de quarteirões, proporcionando maior conectividade e facilitando o deslocamento para o transporte ativo Promover o uso misto na cidade, evitando zoneamento monofuncionais 250m 2 Figura 8. Uma das diretrizes para a centralidade e infraestruturas conectadas é estabelecer a dimensão máxima dos quarteirões, promovendo o uso misto, viabilizando centralidades conectadas à infraestrutura urbana e otimizando o uso do solo. Fonte: EVERS et al., 2018. (Adaptado). O Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS) também determina a gestão coordenada que ocorre por meio de normativas de valo- rização da terra, aumento da densidade populacional e construtiva (EVERS et al., 2018). O novo urbanismo O novo urbanismo nasce como uma forma de reação à expansão das cida- des nos anos 1970 e 1980, que promoveram os corredores urbanos, os estacio- namentos, os conjuntos habitacionais fora de escala, os espaços desumanos e a criação de subúrbios. Desse modo, o novo urbanismo consiste na ideologia desenvolvida por Ro- bert S. Davies, em 1979, na qual determinava que deveriam ser de- senvolvidos espaços com um uso compacto ou misto do solo, prio- rizando a mobilidade massiva e não motorizada, como o transporte público, as bicicletas e os transportes alter- nativos, proporcionando a proximidade dos locais de trabalho, de comércio, de educação e de recreação (MACEDO, 2007). PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 110 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 110 04/10/2021 11:55:12 Essa ideologia resultou nas 10 linhas de ação do novo urbanismo: 1. Enfocam no desenvolvimento de infraestrutura para priorizar o pedes- tre, em que a maioria dos equipamentos deve estar a, no máximo, 10 minutos caminhando, promovendo, assim, o desenho das calçadas amigáveis para o pedestre, com arborização, acessibilidade etc.; 2. Tem como objetivo a criação de uma cidade diversificada, sem priorizar um estrato social, distribuindo uma variedade de habitações, preços e tamanhos, para manter a ideia da comunidade, promovendo conexões entre as pessoas por meio dos parques, espaços abertos e praças de unidades de vizinhança; 3. Dá preferência ao uso misto, com a coexistência de três ou mais tipos, eli- minando as barreiras do zoneamento e adotando usos compatíveis, que podem gerar benefícios sociais, já que o uso misto melhora a acessibilidade aos serviços e aos equipamentos urbanos para um segmento mais amplo da população. Além disso, incrementa as opções de moradias mediante tipologias variadas, melhora a percepção da segurança da área, por meio do aumento do número de pessoas nas ruas. Promove, também, benefícios econômicos, aumentando o potencial do comércio e dos negócios, uma vez que gera dinamismo entre diversas ativida- des, o que atrai mais clientes durante mais horas do dia, gera benefíciospara a infraestrutura, já que o uso misto atenua a demanda geral do transporte, encur- tando as distâncias médias dos deslocamentos e reduzindo o uso do automóvel; 4. Promove a sustentabilidade, fazendo com que as cidades poluam me- nos, proporcionando o mínimo impacto ambiental no desenvolvimento urbano e nas suas operações, por meio da utilização de tecnologias que respeitam o meio ambiente, com a promoção da eficiência energética, com a diminuição dos combustíveis poluentes, com uma maior produção local e promovendo o menor uso de transporte motorizado; 5. Favorece a acessibilidade, promovendo uma cidade mais eficiente e inclusiva; 6. Busca a qualidade de desenho, promovendo cidades e espaços com con- forto humano, com sentido de lugar e que gerem símbolos e significados para a comunidade; 7. Incrementa a estrutura pública de bairro, na qual deve ser construído e reconstruído constantemente o espaço público, sem perder a identidade da zona que está sendo alterada e gerando um sentido de identidade em cada entorno urbano; PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 111 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 111 04/10/2021 11:55:12 8. Promove a cidade compacta, dando espaço para que a cidade se den- sifique e cresça para cima, evitando crescer em extensão, definindo bordas e limites da cidade. Desse modo, ao promover uma cidade compacta, as distâncias são diminuídas e o transporte público é menos utilizado; 9. Permite a mobilidade, implementando um transporte coletivo de for- ma eficaz e favorece o maior uso de bicicletas e vias funcionais como o meio de transporte principal; 10. Favorece o desenho participativo, por meio do trabalho coletivo, in- terdisciplinar, no qual todos os profissionais envolvidos no planejamento ur- bano se unem para definir ideias que favoreçam o usuário tanto nos fatores estéticos, como econômico, político e ambiental, simultaneamente. A primeira cidade projetada, seguindo os conceitos do novo urbanismo, foi a cidade de Seaside, na Flórida, Estados Unidos, desenhada em 1981 em um terreno de 80 hectares, de forma irregular e que está delimitada pela praia e rodeada por uma densa vegetação. Figura 9. Vista aérea da cidade Seaside, na qual é possível observar os detalhes do desenho das vias e a centralização dos equipamentos. Fonte: Print retirado do aplicativo Google Earth. Sendo assim, o Plano Diretor de Seaside conta com critérios de dese- nho, em que a UV tem um centro definido, a maioria das habitações está a cinco minutos a pé do centro, existe uma variedade de tipos de moradias, as lojas e escritórios estão na borda da unidade de vizinhança e as escolas estão próximas às moradias, para que as crianças possam chegar cami- nhando. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 112 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 112 04/10/2021 11:55:12 Seaside também preserva pequenos espaços que promovem áreas de jo- gos e de convívio e onde as ruas das unidades de vizinhança devem conformar um sistema conectado. As ruas são estreitas e escuras, os edifícios do centro das unidades de vizinhança devem estar próximos à calçada, os estacionamen- tos dos edifícios habitacionais devem estar na parte traseira das edifi cações e devem ser acessados por caminhos e os edifícios cívicos devem estar localiza- dos no centro das UV. O desenvolvimento urbano sustentável O projeto de UV e das áreas não residenciais é uma forma de planejamento urbano sustentável, já que controlar a expansão e a dispersão urbana é uma medida importante para alcançar esse desenvolvimento sustentável. Para tanto, é importante a criação de cidades compactas e densas, que oferecem variedade de atividades e serviços, que proporcionam um entorno agradável, seguro e cômodo para pedestres e ciclistas, além de oferecer um espaço públi- co de qualidade. A ONU tem um apelo global com 17 objetivos para o desenvolvimento sus- tentável, que somam 169 metas que devem ser alcançadas até 2030, com a fi nalidade de acabar com a pobreza, promovendo o bem-estar de todos, prote- gendo o meio ambiente e combatendo as alterações climáticas. Figura 10. Os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável estão agrupados, envolvendo a biosfera, a sociedade e a economia. Fonte: Agenda 2030, [s.d.]. ECONOMIA SOCIEDADE BIOSFERA PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 113 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 113 04/10/2021 11:55:13 Entre os objetivos da ONU estão a erradicação da pobreza e da fome, com a agricultura sustentável, a saúde e o bem-estar, a educação de qualidade, a igualdade de gênero, o acesso à água potável e ao saneamento, a energia acessível e limpa, o trabalho decente e crescimento econômico, a indústria, inovação e a infraestrutura, a redução das desigualdades, as cidades e as comunidades sustentáveis, o consumo e a produção responsáveis, a ação contra a mudança do clima, vida na água, vida terrestre, paz justiça e instituições eficazes, e parcerias e meios de implementação. CONTEXTUALIZANDO Para cumprir os 17 objetivos propostos pela ONU, foi criado o Decreto n. 8892, de 27 de outubro de 2016, para internalizar, difundir e dar transparência ao processo de implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a partir da elaboração de um plano de ação, propondo estratégias, acompanhando e mo- nitorando o desenvolvimento dos objetivos e articulando com os órgãos públicos. O objetivo 11, que corresponde a Cidades e Comunidades Sustentáveis, tem como meta tornar as cidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Algumas já são exemplos do desenvolvimento sustentável, entre elas a cidade de Lahti, na Finlândia, que já baixou 70% da emissão de carbono e antecipou a meta de ser uma cidade sustentável em 2030 para 2025. Uma das estratégias adotadas pela cidade de Lahti para diminuir a emissão de gases do efeito estufa foi por meio do modelo de transporte, que premia os cidadãos por reduzir as emissões derivadas do transporte, substituindo 20 km da condução do automóvel, pela utilização do transporte público, a pé ou de bicicleta. Figura 11. A cidade de Lahti, na Finlândia, foi eleita a capital verde da Europa, devido a sua iniciativa de sustentabilida- de e preservação do meio ambiente. Fonte: Scandinavian Way, 2019. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 114 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 114 04/10/2021 11:55:14 A cidade de Nova York também possui um Plano Diretor para tornar a cida- de sustentável até 2030, por meio da criação de moradias para a população, tornando os bairros mais acessíveis e sustentáveis, expandindo a infraestrutu- ra e o sistema dos transportes, reduzindo o consumo de energia e tornando os sistemas mais limpos, garantindo que todos os moradores vivam próximos a uma área verde, que deve estar a 10 minutos de distância, caminhando. A cidade de Portland é outro exemplo de cidade sustentável e que promove bairros atrativos e voltados para os pedestres, um circuito de ciclovia que aten- de a toda a cidade, rede de transporte público eficiente e um grande número de parques urbanos por habitante. Em Portland, metade da energia vem de fontes renováveis, além de limitar o crescimento da cidade com a criação de cinturões de vegetação. Dessa ma- neira, a cidade será densificada e terá um crescimento inteligente, com a cria- ção de bairros compactos, com diferentes tipos de moradias e equipamentos, como escola, locais de trabalho, lojas, áreas verdes, sendo assim, a primeira cidade compacta dos Estados Unidos. Portland também criou um extenso parque linear que conecta o centro da cidade com várias outras partes da região. Dessa forma, melhora o acesso dos usuários e conecta atrações regionais, instituições culturais, centros de emprego e distritos comerciais, tornando a cidade inclusiva ao dar a oportunidade para que todas as pessoas como residentes, turistas, trabalhadores e estudantes, dasmais variadas idades e classes sociais possam aceder ao mesmo benefício. Figura 12. Equipamento urbano de lazer em Portland, no qual é possível ver o tratamento dos espaços públicos, pro- movendo o convívio e ambientes de lazer. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 15/09/2021. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 115 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 115 04/10/2021 11:55:15 Figura 13. O parque linear, denominado Green Loop, faz parte do Plano Diretor da cidade de Portland até 2035, conec- tando a cidade aos demais distritos e melhorando o acesso de toda a população. Fonte: Portland.gov., 2021. Figura 14. Os jardins de chuva formam parte da revitalização das ruas de Portland, nos Estados Unidos, pois seguem os padrões de sustentabilidade e facilitam o escoamento da água na época das chuvas. Fonte: Solução para cidades, [s.d.]. A cidade de Portland também promove o Green Streets Program, que facilita a acessibilidade das vias de pedestres e das ciclovias até mesmo nos dias chu- vosos e em lugares com risco de inundação. Sendo assim, o programa integra o controle do gerenciamento das águas pluviais dentro da faixa de domínio, a fim de auxiliar no escoamento da água. Dessa forma, ao utilizar os jardins de chuva, os pavimentos permeáveis das calçadas permanecem sendo utilizáveis e seguros para seus usuários, além de contribuir para a diminuição da temperatura no verão e minimizar os efeitos causados pelas mudanças climáticas. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 116 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 116 04/10/2021 11:55:16 DICA Os jardins de chuva também são conhecidos como sistemas de biorreten- ção e funcionam como um fi ltro de água, armazenando água da chuva e alimentando o lençol freático. Saiba mais sobre o assunto lendo o Projeto técnico: jardins de chuva, indicado nas referências. Também é uma meta para as cidades a criação dos bairros sustentáveis, uma vez que estes são socialmente coesos e diversos, com uma mistura de tipos de moradias e oportunidades de emprego, priorizando as caminha- das, o ciclismo e o transporte público, incentivando a efi ciência energética, promovendo o uso efi ciente dos recursos e localizando as áreas residenciais próximas às áreas de lazer, de recreação e de serviços, com conexões para pedestres e ciclistas. Dimensionamento dos respectivos equipamentos Os equipamentos urbanos são um conjunto de bens imóveis, como cons- truções, instalações e mobiliário, utilizados para fornecer serviços urbanos à população e desenvolver as atividades econômicas. Esses equipamentos constituem um sistema que possui uma grande in- cidência na funcionalidade urbana e territorial, e podem estar distribuídos para suprir as necessidades de uma comunidade que está próxima, ou abran- ger todo o conjunto de uma cidade. Os equipamentos urbanos que conectam várias unidades de vizinhança articulam um território e propiciam as ativida- des necessárias para o desenvolvimento, como promover lugares de encon- tro, integrados e inclusivos, proporcionando, assim, a convivência e tornando o lugar cuidado e preservado pela população. Para a localização dos equipamentos urbanos deverá ser leva- da em consideração uma estratégia urbana prevendo a centrali- zação dos equipamentos principais. Ela deve favore- cer a acessibilidade, para que o pedestre não leve mais do que 15 minutos para chegar caminhan- do até o equipamento, ou para que o ponto de transporte coletivo não esteja distante mais de 1000 metros. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 117 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 117 04/10/2021 11:55:16 Os equipamentos de um bairro ou um grupo de UV deve ser caracterizado também, por edifícios com espa- ços polivalentes a serviço do cidadão e deve ser adap- tável para diversos usos e funções. Dessa forma, ao projetar um edifício e dimensioná-lo para atender à certa população, é importante condicioná-lo para que tenha a capacidade de abrigar diferentes atividades, prevendo uma versatilidade de usos, sem perder a qualidade. O espaço público e os equipamentos urbanos são elementos de suma im- portância para a construção da coletividade urbana, já que criam e consoli- dam espaços de encontro, ócio e demais atividades, que possuem a função de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Assim, os espaços e os equipa- mentos cumprem também a função de demarcação de um lugar e dão pauta para que uma cidade seja estruturada de forma ordenada em volta desses elementos. Atualmente, os espaços públicos apresentam problemas de redundância, com excesso de espaços livres em relação à densidade de uso e de usuários. Dessa forma, perdem sentido e significação em tecidos urbanos monofuncio- nais ao não produzirem condições de densidade, complexidade morfológica, funcional, social e simbólica. Outro problema é a especialização de um espaço, com a crescente tendên- cia de configuração com apenas um uso e destinados à mobilidade automati- zada e mecânica. A privatização também é uma tendência na configuração de zonas urbanas, nas quais os espaços livres já não possuem um caráter público, mas sim, restrito. Além disso, ocorre também a elitização, que é quando o projeto do espaço público é tratado de forma única e não integrado aos espaços públicos do seu entorno. O espaço público, mais do que uma categoria de projeto, é uma necessi- dade estrutural, ambiental e social inquestionável. O equipamento urbano determina os deslocamentos de muitas atividades cotidianas e semanais da população e sua localização estratégica é de maior importância para diminuir esses deslocamentos, especialmente a mobilidade urbana desde a moradia até os equipamentos educacionais. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 118 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 118 04/10/2021 11:55:16 Praticamente todas as necessidades cidadãs são atendidas pelos equipa- mentos urbanos públicos ou privados, sejam elas educativas, comerciais, es- portivas, recreativas, cívicas, culturais, religiosas, administrativas, ou relativas à saúde, ao transporte e à infraestrutura. Esse atendimento se dá por meio de instalações cuja cercania aos usuários é determinada em função do tipo e da frequência do seu uso e do número de usuários requeridos para seu eficiente funcionamento. O ambiente necessário para o desenvolvimento social cidadão acontece, principalmente, nos espaços urbanos públicos e em áreas de convivência ur- bana por excelência, pois nesses locais que são construídas as relações de vi- zinhança, que geram consciência cidadã sobre um bem comum, ao identificar âmbitos urbanos que conjugam seus interesses individuais com os do grupo. As consequências da insuficiência de equipamentos urbanos, no nível de uma unidade de vizinhança ou de um bairro, podem incrementar o fluxo de transporte veicular para aceder a um equipamento inexistente no raio de al- cance, principalmente quando são equipamentos educacionais, que repercu- tem em maiores gastos para um grupo familiar, menos tempo de convivência com a família e cansaço desnecessário. Na proporção do bairro e de uma cida- de, a inexistência desse equipamento repercute na obrigação de ter maiores gastos para a ampliação e a manutenção das vias e com o manejo do trânsito. A deficiência de equipamentos esportivos e recreativos favorece crianças e jovens a se envolverem com vandalismo e delinquência, proporcionando à UV ou ao bairro, insegurança, gastos com policiamento e com equipamentos, como centro de menor infrator. A deficiência de equipamentos cívicos e cultu- rais, como praças ou centros culturais, dificulta a convivência da vizinhança e a integração da comunidade em torno do bem comum, assim como a partici- pação cidadã. A dispersão dos equipamentos, no lugar da sua agrupação racional de acordo com a complementaridade dos serviços que prestam, gera uma ima- gem de desordem e desarticulação urbana,e leva a uma série de traslados desnecessários. As recomendações para o desenvolvimento adequado do equipamento, de forma que atendam a economia e a organização urbana, consideram cinco as- pectos: PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 119 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 119 04/10/2021 11:55:16 • A sufi ciência para o tipo de necessidade e população que atende; • A agrupação e a distribuição dos equipamentos das UV e na cidade; • A precisão nos planos de planejamento para o desenvolvimento urbano; • A obrigatoriedade legal aplicando normativas e indicando locais com oportunidades adequadas, para a implantação de equipamentos; • A implementação econômica criativa. De acordo com Santos (1988), a distribuição dos equi- pamentos urbanos deve seguir as escalas urbanas que estão divididas em UV, bairro e cidade, como mostra o Quadro 1. Distribuição dos equipamentos segundo escalas urbanas e agentes de implantação Agente Equipamentos Escalas urbanas Privado Público Vizinhança Bairro Cidade P M E F Creche P M E F Pré-escolar P M E Escola de 1º grau P M E F Escola de 2º grau P M E F Centro de ação social P M E F Postos de saúde e hospital M Praças e áreas verdes M E Parques M E F Reserva fl orestal P M Cemitério P M Mercado P M E Matadouro E Corpo de bombeiros E Posto policial E Posto telefônico F Correios e telégrafos P M E Rodoviária M E F Edifícios públicos adm. M E Instal. de infraestrutura P privado; M municipal; E estadual; F Federal QUADRO 1. DISTRIBUIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS PRIVADO, MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL NAS ESCALAS URBANAS DE VIZINHANÇA, BAIRRO E CIDADE M M P M P E M P E M E M E M E P Creche Pré-escolar F P Creche Pré-escolar Escola de 1º grau F E Pré-escolar Escola de 1º grau Escola de 2º grau Centro de ação social Postos de saúde e hospital E M Pré-escolar Escola de 1º grau Escola de 2º grau Centro de ação social Postos de saúde e hospital M Escola de 1º grau Escola de 2º grau Centro de ação social Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes F M Escola de 1º grau Escola de 2º grau Centro de ação social Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Escola de 2º grau Centro de ação social Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Centro de ação social Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Parques Reserva fl orestal Centro de ação social Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Parques Reserva fl orestal Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Parques Reserva fl orestal Cemitério Postos de saúde e hospital Praças e áreas verdes Reserva fl orestal Cemitério Mercado Reserva fl orestal Cemitério Mercado Matadouro Mercado MatadouroMatadouroMatadouro P E E M M Corpo de bombeiros E M Corpo de bombeiros E Corpo de bombeiros Posto policial E Corpo de bombeiros Posto policial Posto telefônico Correios e telégrafos F Corpo de bombeiros Posto policial Posto telefônico Correios e telégrafos Corpo de bombeiros Posto policial Posto telefônico Correios e telégrafos Edifícios públicos adm. Posto telefônico Correios e telégrafos Rodoviária Edifícios públicos adm. Instal. de infraestrutura Posto telefônico Correios e telégrafos Rodoviária Edifícios públicos adm. Instal. de infraestrutura Correios e telégrafos Rodoviária Edifícios públicos adm. Instal. de infraestrutura Correios e telégrafos Edifícios públicos adm. Instal. de infraestrutura Edifícios públicos adm. Instal. de infraestrutura Edifícios públicos adm. Instal. de infraestruturaInstal. de infraestrutura Fonte: SANTOS, 1988, p. 161. (Adaptado). PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 120 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 120 04/10/2021 11:55:17 A agrupação ou a distribuição de um equipamento ur- bano deverá ser quantificada e dimensionada de acordo com as necessidades da população. Dessa forma, deve levar em conta a população e a extensão da área que o equipamento atenderá, podendo ser uma UV, um bairro, um con- junto de bairros, um grande setor urbano ou toda a cidade. Para fins de mobilidade urbana, deverá ser considerada, além da área de serviço de cada equipamento, a sua frequência e a intensidade de uso. Os equipamentos de um bairro devem ter uma área de influência de pou- ca extensão, constituídos de praça, uma escola primária e uma secundária, várias creches, uma unidade de saúde, campos esportivos, um pequeno centro comercial e um centro de serviços com algumas instituições com- plementares, bem como pequenos comércios dispersos entre as áreas re- sidenciais. Este agrupamento em um bairro é um dos maiores fatores para o desenvolvimento de uma vida comunitária saudável, assim como para o apoio da economia familiar, ao evitar deslocamentos desnecessários. Para que um equipamento cumpra seu papel de ser estruturador das áreas urbanas periféricas, e ser base para o desenvolvimento integrado, o planejamento urbano deve indicar claramente sua localização e a exten- são das áreas para os diferentes centros de equipamentos, em função da população usuária estimada. Deve incorporar, também, um Plano Diretor para cada bairro, dada a sua importância como espaço privilegiado de con- vivência e cidadania. A cidade de São Paulo tem um projeto de lei que prevê a obrigatorie- dade de um Plano de Desenvolvimento do Bairro, que garanta a gestão democrática, com a participação da população nas etapas de elaboração, por meio de metodologias que identificam as demandas sociais, ambien- tais e urbanas. CURIOSIDADE O Plano de Desenvolvimento do Bairro é um projeto de lei (PL 688/13), que prevê a melhoria e complementação do sistema de mobilidade com a integração entre os sistemas de transporte coletivo, viário, cicloviário e de circulação de pedestres dotando-o de condições adequadas de acessibili- dade universal e sinalização (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014). PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 121 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 121 04/10/2021 11:55:17 Sintetizando O conceito de uma UV surge com a ideia de criar um conjunto autossuficiente tanto de moradias como de equipamentos, valorizando os pedestres e a mobi- lidade urbana, contribuindo para a densificação dos lugares e não para a sua expansão. Os equipamentos urbanos formam parte de um sistema que contribui para a funcionalidade urbana e territorial, sendo assim, sua distribuição e localização favorece o desenvolvimento sustentável, que a ONU determina que as cidades cumpram até o ano de 2030, visto que propicia a integração da população, prio- riza a mobilidade e favorece a sustentabilidade. Muitas cidades já colocaram em prática esses objetivos e, dessa forma, servem de exemplo para o dimensiona- mento de equipamentos e de pequenas ações que contribuem tanto para uma UV, como para um bairro. Os equipamentos urbanos, apesar de possuírem raios de abrangência deter- minados na prática por alguns urbanistas, devem ser dimensionados de acordo ao Plano Diretor dos municípios, bem como o zoneamento e o código de obras. Porém, é importante entender como a insuficiência dos equipamentos, a sua dispersão ou a instalação de um equipamento que não condiz com a realidade de uma comunidade, pode surtir efeitos negativos ao bairro e à população. PLANEJAMENTO URBANOS E REGIONAL - UNIDADE DE VIZINHANÇA 122 SER_ARQURB_PURUV_UNID4.indd 122 04/10/2021 11:55:17 Referências bibliográficas AGENDA 2030. A agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Plata- forma Agenda 2030, [s.d.]. Disponível em: <http://www.agenda2030.org.br/so- bre/>. Acesso em: 15 set. 2021. AGENDA 2030. A integração dos ODS. Plataforma Agenda 2030, [s.d.]. Dispo- nível em: <http://www.agenda2030.org.br/os_ods/>. Acesso em: 15 set. 2021. BRASIL. Decreto n. 8.892, de 27 de outubro de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, 31 out. 2016. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/decreto/d8892.htm>.Acesso em: 15 set. 2021. BRASIL. Lei n. 6.766, de 19 de dezembro de 1979. 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