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Eti-II-U1 Claretiano

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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
Ética ii
Telma Apparecida Donzelli possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências 
e Letras (Santa Úrsula) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC); mestrado 
(Diploma de Estudos Superiores) em Filosofia pela Faculté des Lettres et Sciences Humaines 
da Université de Paris e doutorado em Filosofia das Ciências Humanas também por essa 
universidade. Atualmente é aposentada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); tem experiência na área de Filosofia 
Contemporânea, atuando, principalmente, com Filosofia, Metafísica, Razão Mítica e Ética.
A professora Telma Apparecida Donzelli agradece ao ex-aluno Luis Henrique de Souza, licenciado 
em Filosofia (2010) e especialista em Filosofia e Ensino de Filosofia (2011), pelo apoio na seleção 
de textos, nas traduções das obras de Spinoza, Hume, Kant e Schopenhauer e pela elaboração das 
Questões Autoavaliativas desta obra.
Claretiano – Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
Telma Apparecida Donzelli
Batatais
Claretiano
2016
Ética ii
© Ação Educacional Claretiana, 2013 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma 
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o 
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação 
Educacional Claretiana.
CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia 
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori 
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia 
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone 
Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus 
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni 
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice 
Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • 
Tamires Botta Murakami
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote 
Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
 
 170 D742e 
 
Donzelli, Telma Apparecida 
 Ética II / Telma Apparecida Donzelli – Batatais, SP : Claretiano, 2016. 
 254 p. 
 
 ISBN: 978-85-8377-480-8 
 
 1. Ética. 2. Estudo da evolução do pensamento filosófico moderno. 3. A ética no seu 
 contexto histórico e epistêmico. 4. Ética: renascença, racionalismo, criticismo, empirismo 
 e a abertura para um pensamento contemporâneo. I. Ética II. 
 
 
 
 
 
 CDD 170 
 
 
 
 
 
 
 CDD 658.151 
INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Ética II 
Versão: fev./2016
Formato: 15x21 cm
Páginas: 254 páginas
SUMÁRiO
CADERNO DE REFERêNCIA DE CONTEÚDO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7
2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO ..................................................................... 8
3. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 41
Unidade 1 – A CONCEPÇÃO ÉTICA DO RENASCIMENTO
1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 43
2. CONTEÚDOS .................................................................................................... 43
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 43
4. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 45
5. Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494) ........................................ 47
6. Machiavel (1469-1527) ................................................................................. 52
7. PhilliPUs TheoPhrasTUs BoMBasTUs von hohenheiM – Paracelso 
(1493-1591) .............................................................................................................................62
8. Michel de MonTaiGne (1533-1592) ............................................................ 64
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 72
10. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 73
11. e-reFerÊncias ................................................................................................ 74
12. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 74
Unidade 2 – ÉTICA MODERNA: RACIONALISMO E EMPIRISMO
1. OBJETIVOS ....................................................................................................... 77
2. CONTEÚDOS .................................................................................................... 77
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 78
4. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 79
5. renÉ descarTes (1596-1650) e UMa "Moral de Provisão" .................. 81
6. BarUch sPinoZa (1632-1677) ....................................................................... 103
7. ThoMas hoBBes (1588-1679) ....................................................................... 124
8. John locke (1632-1704) ................................................................................ 130
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 136
10. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 138
11. e-reFerÊncia .................................................................................................. 139
12. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 139
Unidade 3 – ÉTICA MODERNA: HUME E KANT
1. OBJETIVOS .......................................................................................................141
2. CONTEÚDOS .................................................................................................... 141
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 141
4. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 142
5. david hUMe (1711-1776) ............................................................................... 146
6. iMManUel kanT (1724-1804) ....................................................................... 159
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 183
8. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 185
9. e-reFerÊncias ................................................................................................ 186
10. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 186
Unidade 4 – PriMórdios da Pós-Modernidade: 
SCHOPENHAUER E NIETzSCHE
1. OBJETIVO ......................................................................................................... 187
2. CONTEÚDOS .................................................................................................... 187
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 187
4. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 190
5. arThUr schoPenhaUer (1788-1860) .......................................................... 191
6. WilhelM Friedrich nieTZsche (1844-1900) .............................................. 220
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 247
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 251
9. e-reFerÊncia .................................................................................................. 253
10. REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 254
7
cadeRnO de RefeRência de 
cOnteúdO
Conteúdo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Estudo da evolução do pensamento filosófico moderno sobre a Ética no seu 
contexto histórico e epistêmico. Renascença e a perspectiva sob diferentes 
razões. Racionalismo de René Descartes, Baruch Spinoza, criticismo kantiano. 
Empirismo: Thomas Hobbes, John Locke, David Hume. Arthur Schopenhauer 
e Friedrich W. Nietszche e a abertura para um pensamento contemporâneo 
sobre a Ética.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Nesta obra, intitulada Ética II, teremos por objetivo o estu-
do da evolução do pensamento filosófico moderno sobre a Ética 
e a moral, em seu contexto histórico e epistêmico. Iremos da Re-
nascença (séculos 15 e 16) até fins do século 19, passando pelo 
pensamento do racionalismo e empirismo dos séculos 17 e 18 e 
os primórdios de uma pós-modernidade no século 19.
Na Renascença (séculos 15 e 16), mais precisamente, 
trabalharemos as posições e pensamentos sobre a questão 
ética e a questão moral a partir das perspectivas dos seguintes 
filósofos: Giovanni Pico Della Mirandola; Nicolau Machiavel; 
Phillipus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim e Michel de 
Montaigne.
No século 17, veremos as concepções de moral e Ética dos 
racionalistas (René Descartes e Baruch Spinoza) e dos empiristas 
(Thomas Hobbes e John Locke).
8 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
No século 18, analisaremos as obras de David Hume 
e Immanuel Kant, e, finalmente, no século 19, as de Arthur 
Schopenhauer e Friedrich Nietzsche.
Haverá, ainda, uma conclusão que versará sobre as impli-
cações e consequências das posições analisadas no universo do 
pensamento contemporâneo, do século 20 até nossos dias.
Bons estudos!
2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO
Abordagem Geral
Introdução
Neste tópico, apresentaremos uma visão geral do que será 
estudado nesta obra. Aqui, você entrará em contato com os as-
suntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a 
oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada 
unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe 
o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa 
construir um referencial teórico com base sólida – filosófica e 
cultural.
Vamos começar nossa aventura pela apresentação das 
ideias e dos princípios básicos que fundamentam esta obra.
Quando falamos em Ética, encontramos concepções as 
mais variadas e diferentes. E, não poucas vezes, o ético chega 
mesmo a ser identificado com o moral. O ético, porém, não é o 
moral. Por que, então, essa dificuldade em distingui-los?
9© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Muitos autores têm-se voltado para a origem etimológica 
da palavra grega "ethos". outros, como o professor ernst 
Tugendhat, em sua obra Lições sobre ética (2000, p. 41), afirma: 
"Portanto, não podemos tirar nenhuma conclusão para os termos 
'moral' e 'ética' a partir de sua origem".
Estamos, porém, convencidos de que o estudo etimológico 
da palavra grega "ethos", em suas duas formas – ethos com "e" 
longo (ήθος) e ethos com "e" breve (έθος) –, tem muito a nos 
esclarecer sobre o que funda propriamente o ético e o moral e 
os distingue essencialmente.
Em grego, essas duas formas da palavra ethos, tinham sen-
tidos muito diferentes. Ethos com "e" longo significava "maneira 
de ser interior", "modo de ser ou morada habitual", "caráter", 
diz respeito à interioridade do ato humano, àquilo que torna 
a ação propriamente humana; ethos com "e" breve significava 
"maneira exterior de proceder", "costumes" decorrentes do sen-
tido comunitário da ação e dos valores culturais.
consta que o termo grego "éthica" foi identificado, em seu 
sentido de "costume", à palavra "mores" do latim, que também 
significa "costume", pelo grande orador romano cícero. Talvez 
seja esta uma das razões da aproximação, e mesmo, por vezes, 
identificação, do ético com o moral.
Considerando as definições das duas formas do ethos, ve-
mos que se distinguem profundamente. O primeiro sentido de 
ethos se refere ao que é único, próprio e singular; o segundo sen-
tido diz respeito ao comportamento que se torna generalizado 
como hábito e que é o que entendemos por costume, fundado 
em valores e, como tal, passível de regras e normas.
Além disso, vale dizer que:
10 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
• José Ferrater Mora (1990) afirma que o termo "moral" 
tem usualmente uma significação mais ampla que o vo-
cábulo "ético". a moral é o que se submete a um valor;
• Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010) define a 
moral como um conjunto de regras e normas de condu-
ta consideradas válidas, seja em um determinado tem-
po e lugar, seja durante certos períodos de tempo.
O valor é uma determinação cultural. Por valores, temos 
entendido diferentes coisas ao longo dos tempos, o que faz com 
que a moral de um povo ou de uma civilização não só possa va-
riar com o tempo, mas possa ainda diferenciar-se da moral de 
outro povo ou civilização.
Sobre valores, diz Peter Kemp (professor de Filosofia na Univer-
sidade de Copenhague, nascido em 1937), em seu livro L'irremplaça-
ble – une éthique de la technologie (1997, p. 52, tradução nossa):
[...] o herói grego era temperamental e corajoso, o santo cristão 
da Idade Média, humilde e devotado, o homem do Renascimen-
to, liberal e repleto da alegria de viver, o burguês, econômico e 
consciente de sua classe, o pioneiro da indústria, empreende-
dor e infatigável, o socialista moderno cultiva a solidariedade e 
o técnico moderno, eficiência.
Há uma relatividade histórica no que diz respeito a bens e 
valores. Continuando, diz Peter Kemp, na mesma obra:
A Idade Média Cristã [...] rejeitou a noção aristotélica de que só 
se pode viver bem quando se é cercado de amigos. Substituiu 
pela ideia segundo a qual a Igreja é que faz da comunidadede 
fiéis um bem que permite viver na verdade. Os cristãos rejeita-
ram a ideia de Aristóteles de que a fortuna e o nascimento são 
necessários à felicidade. No lugar de tais valores, defendem a fé 
[...] como a coisa mais importante [...] O cristianismo suscitou 
igualmente a ideia de que a liberdade constitui um bem [...] 
(1997, p. 52, tradução nossa).
11© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Mas, frequentemente, quando se fala hoje em valores, 
pensa-se menos em uma qualidade própria do ser humano e 
mais na maneira pela qual ele desejaria verdadeiramente viver 
sua vida. E, como vivemos em uma época em que o equilíbrio 
ecológico é condição de sobrevivência de nosso planeta, não se 
fala somente em valores que condicionam nossa existência pes-
soal e social, mas também em valores que possam nos garantir 
uma natureza viva.
O filósofo americano Ian G. Barbour distinguiu estritamen-
te três níveis de valores diferentes: o nível material, o nível social 
e o nível ambiental.
Cita, como valores materiais, a sobrevivência, a saúde, o 
bem-estar material e o trabalho.
Os valores sociais são a justa repartição dos bens [...], a parti-
cipação do indivíduo nas decisões concernentes à sua própria 
existência [...], a comunidade fundada no reconhecimento recí-
proco e a possibilidade para cada um de crescer em um sentido 
pessoal [...].
Os valores ambientais são a utilização de recursos renováveis, a 
conservação de um ecossistema equilibrado, [...], e a proteção 
da natureza.
Certo número desses valores podem se opor entre eles, por 
exemplo, os valores do terceiro grupo podem se apresentar 
como dificilmente compatíveis com a exigência de crescimento 
pessoal dos indivíduos. Certos valores podem, mesmo depen-
dendo das situações, ser pura e simplesmente excluídos por ou-
tros (BARBOUR, 1971, p. 52-54, tradução nossa).
Já para o pensador francês Jean Baudrillard (1929-2007), 
na realidade, os valores hoje não possuem referencial definido. 
Em sua obra A transparência do mal – ensaios sobre fenômenos 
extremos, diz o seguinte:
12 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Após o estado natural, advém o estado de mercado e, em segui-
da, o estado estrutural e, finalmente, o estado fractal da noção 
de valor. Ao estado natural correspondia um referencial natural, 
a noção de valor tem como referência um uso natural do mun-
do. Ao estado de mercado correspondia um equivalente geral, 
a noção de valor se desenvolve segundo uma lógica da mer-
cadoria. No estado estrutural a noção de valor correspondia a 
um código, tendo como referência um conjunto de modelos. No 
estado fractal ou estado viral ou, ainda, estado de irradiação, 
não há mais nenhum referencial, a noção de valor se irradia em 
todas as direções, em todos os interstícios, sem relação com o 
que quer que seja, por pura contiguidade. Nesse estado fractal 
não há mais equivalência, nem natural, nem geral, não há mais, 
propriamente falando, lei do valor, há apenas uma espécie de 
"epidemia" do valor, uma metástase geral do valor, uma prolife-
ração e uma dispersão aleatória. Rigorosamente, não se deveria 
falar mais de valor, uma vez que tal multiplicação e reação em 
cadeia torna impossível toda avaliação. O que se dá é, mais uma 
vez, semelhante ao que se dá em microfísica: impossível avaliar 
em termos de belo ou de feio, de verdadeiro ou de falso, de 
bem ou de mal, da mesma maneira que é impossível calcular a 
velocidade e posição de uma partícula. O Bem não se encontra 
mais situado de maneira vertical com relação ao Mal, nada se 
posiciona mais à maneira de abscissas e ordenadas. Cada par-
tícula segue seu próprio movimento, cada valor ou fragmento 
de valor brilha por um instante no céu da simulação, depois de-
saparece no vazio, sob a forma de uma linha quebrada que só 
excepcionalmente encontra as dos outros. É o próprio esquema 
do fractal e é o esquema atual de nossa cultura (BAUDRILLARD, 
1990, p. 13-14, tradução nossa).
Observação: fractal é um neologismo que significa irregular, 
quebrado (do latim fractus) e que foi introduzido por Benoît 
Mandelbrot (1924-2010), matemático francês de origem 
polonesa.
13© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
O ético, diferentemente do moral, não advém desse sentido 
de valorização em comum, mas diz respeito à dimensão pessoal 
do ato humano, àquilo que gera uma ação genuinamente humana.
Para melhor expressar o que estamos querendo dizer, busca-
remos recursos na distinção feita pelo filósofo francês Henri Bergson 
(1859-1941), em sua obra As duas fontes da moral e da religião, entre 
o que chamou de "moral fechada" e "moral aberta", aplicando-as a 
um fato corriqueiro, a fim de ficar claro que o ético não se confunde 
com o moral e isso vale para acontecimentos do nosso dia a dia.
O fato aconteceu no Rio de Janeiro, em setembro de 1992, 
quando se encontrava internada, em estado grave, em uma clíni-
ca no bairro de Botafogo, a mãe do então presidente da Repúbli-
ca. O Jornal assim descrevia o acontecimento:
Excerto do Jornal ––––––––––––––––––––––––––––––––––
Logo após o esquema montado pela polícia ser desfeito, um grupo de 50 ma-
nifestantes começou a protestar em frente ao hospital. Já sem o aparato poli-
cial, estudantes de uma escola e outros manifestantes pediam a renúncia do 
Presidente. Houve apenas um princípio de tumulto quando uma enfermeira 
aposentada do INAMPS surgiu e dirigindo-se aos manifestantes, disse que 
era contra o protesto em frente ao hospital. Muitos não gostaram da crítica e 
partiram para cima da enfermeira, começando um bate-boca.
A enfermeira tentava explicar e justificar sua atitude: "– eu só estou dizendo 
que não é certo protestar em frente a um hospital", dizia ela, "onde há pessoas 
doentes que nada têm a ver com a crise econômica (motivo da manifestação) 
e uma mulher que está quase à morte".
Respondiam os manifestantes: "– por que a senhora não vai comprar remédios 
na farmácia para saber quanto custa? Vá ao hospital do INAMPS para saber se 
não há gente que morre por falta de atendimento ou de remédio".
Insistia a enfermeira: "– vocês não estão me entendendo. Só estou querendo dizer 
que a crise econômica não tem nada a ver com estas pessoas que estão doentes".
Mas, o bate-boca só terminou quando alguns policiais militares conseguiram 
acalmar os manifestantes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
14 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Temos aqui, podemos dizer, dois tipos de comportamen-
to: um que chamaríamos de "moral" e outro que entenderíamos 
como sendo "ético".
Bergson (1978), diz:
A sociedade é semelhante a um organismo cujas células, unidas 
por invisíveis ligações, subordinam-se umas às outras visando 
ao bem da totalidade, nem que para isso tenha que sacrificar 
a parte.
Em outras palavras, embora cada um de nós nos sintamos livres 
para seguir o nosso pensamento, gosto ou desejo, temos obri-
gações para com a sociedade de cultivar o nosso eu social. É o 
que a sociedade espera de nós. A obediência a tal dever social 
pode significar uma resistência àquilo que desejamos fazer, no 
entanto, é nossa "obrigação".
Não é exatamente essa a situação daqueles manifestantes 
diante da clínica? Ali temos: inclinação para o bem da totalidade, 
bem este que leva ao sacrifício da parte, ou seja, a senhora em 
coma e os demais doentes podem ser sacrificados, pois a gran-
de totalidade da população não pode sequer comprar remédios 
e não é atendida convenientemente nos hospitais. Sentimo-nos 
socialmente na obrigação de protestar, embora tenhamos que 
sacrificar a parte (a senhora em estado grave e os demais doen-
tes). Gostaríamos de considerar a situação daquela senhora e 
dos outros doentes, afinal poderiam ser um dos nossos, nossa 
mãe, nossos parentes, porém somos impelidos, por uma obri-
gação social, a nos manifestar em favor da maioria, mesmo que 
isso prejudique aquelas pessoas.
Pensamos que essa atitude é essencialmente racional, no 
entanto, diz Bergson, trata-se de um hábito e deum hábito po-
deroso, o hábito de proteger a sociedade. Mais precisamente, 
nossos deveres sociais visam à união social, à coesão social. Não 
15© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
se trata, na verdade, do bem da sociedade, diz Bergson, mas da 
sobrevivência da sociedade. E, observa que, em tempo de guer-
ra, o assassinato, a pilhagem, o roubo, a mentira tornam-se não 
só lícitos, permitidos, mas até meritórios, concluindo que, por 
mais que as sociedades progridam, complicando-se e espiritua-
lizando-se, esse seu comando permanecerá de maneira não só 
regular, mas intensa.
Podemos, pois, dizer que, à luz das considerações aqui fei-
tas, orientando-nos pelo pensamento de Bergson, o comporta-
mento dos manifestantes é um comportamento moral, porque 
se trata de defender o direito de todos, e isto é um comando da 
sociedade.
o "moral" é, pois, "fechado" (na expressão de Bergson). 
Fechado porque visa a uma sociedade fechada em si mesma:
• sacrifica a parte pelo todo;
• é uma exigência do hábito e não da razão; portanto, não 
se abre ao diálogo: o bate-boca só terminou com a in-
tervenção dos policiais;
• é fundado na impessoalidade do princípio, da regra e da 
norma: é preciso protestar, porque este é o nosso dever 
com a sociedade.
Analisemos, agora, o comportamento da enfermeira.
Enquanto os manifestantes se encontram absorvidos em 
uma mesma tarefa, voltados para si enquanto sociedade, em-
penhados na conservação de si mesmos e dos outros membros, 
na condição de membros dessa mesma sociedade, a enfermeira 
ocupa-se do "sentido" mesmo da situação vivida; ocupa-se do 
que é "singular", característico e único a esta, ajustando-se a 
ela. Uma atitude que não se conforma ao que é estabelecido pe-
16 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
los interesses gerais (o social, o cultural), mas atende à situação 
no seu caráter mais próprio.
Cremos poder dizer que a atitude da enfermeira enqua-
dra-se no que Bergson denominou de "moral aberta". aberta, 
porque concretiza o que dela diz o filósofo:
1) não consiste em um comando da sociedade, mas em 
um "apelo";
2) não implica, como no caso da atitude dos manifestan-
tes, escolha e exclusão (escolha de todos e exclusão de 
alguns);
3) não depende de nenhuma meta, não busca nada, não 
quer nada, a não ser expressar o que é adequado e 
justo àquela situação;
4) não depende de nenhuma ideia ou princípio geral, di-
ferentemente dos manifestantes, que se encontram 
sensibilizados por uma ideia ou imagem representada 
(a do bem de todos), quer apenas atender ao em si 
mesmo da situação.
Vemos, assim, que estamos diante de dois comporta-
mentos perfeitamente compreendidos como essencialmente 
diferentes.
Por que, então, repetimos, tanta dificuldade em distinguir 
o ético do moral?
A resposta, a nosso ver, está na natureza do tipo de saber 
que caracteriza nossa civilização ocidental.
O sentido de ethos (costume) encontrou um solo estrutu-
ral de saber favorável, com o surgimento de um tipo de saber 
denominado "conhecimento", saber que se caracteriza por con-
17© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
ceber todo universal como sendo o "geral", constituindo-se es-
sencialmente como uma busca de leis e regras gerais.
Tal saber estrutura-se à luz de noções derivadas da expe-
riência cultural e de uma postura universalista, sustentada pelo 
esforço e desenvolvimento de um universal-abstrato, caracterís-
tica do pensamento dito "moderno".
Quanto ao ethos (caráter), cujo fundamento é a dimensão 
"singular" de cada indivíduo, de cada ação, de cada situação, 
de cada comportamento, de cada época, dimensão essa que os 
caracteriza e os torna "únicos", manteve-se quase que inteira-
mente ignorado, pois um dos processos pelos quais se constrói 
o universal-geral, base do conhecimento, é o da "abstração" de 
toda singularidade (aristóteles). em outras palavras, o "singular" 
não é objeto de conhecimento.
Vimos, no entanto, que a busca dessa singularidade se en-
contra presente, no que diz respeito à Ética, nos pensamentos 
de Sócrates, Platão, Aristóteles, expressando-se principalmente 
na ideia fundamental da "justa medida" (dar o devido a algo ou 
alguém).
O desenvolvimento de um saber outro que não o do co-
nhecimento científico é uma tarefa de grande alcance filosófico, 
pois requer necessariamente uma posição crítica com relação ao 
paradigma filosófico, fundador do próprio conhecimento, requer 
um tomar distância do modo de pensar que estruturou o nosso 
mundo moderno.
Somente em fins do século 19, diante dos limites da ciên-
cia e da constatação de sua incapacidade não só de levar a hu-
manidade a uma realização plena e, principalmente, diante do 
apoio, sob a forma da tecnologia, que essa mesma ciência pro-
18 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
porcionou aos trágicos acontecimentos da Primeira Guerra Mun-
dial (1914-1918), à preparação do advento da Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945), vamos encontrar filosofias como as do 
alemão Edmund Husserl (1859-1939) e do francês Henri Bergson 
(1859-1941), ambos judeus, que buscam estruturar um novo sa-
ber baseado não mais na razão teórica (abstrata e geral), mas, na 
intuição e na compreensão.
Um novo paradigma de saber surge: o paradigma da 
"compreensão".
"compreender" não é "conhecer". conhecer é estabelecer 
causas e buscar resultados; compreender é captar razões, senti-
dos, direções, modos de ver, modos de ser, singularidades.
Sobre a ciência, diz Husserl (1976, p. 10, tradução nossa):
Nessa nossa vida infeliz, ouvimos em todo lugar que essa ciência 
nada tem a nos dizer. As questões que ela exclui, por princípio, 
são precisamente as questões mais importantes desta nossa 
época infeliz, para uma humanidade abandonada aos transtor-
nos do destino: são as questões que dizem respeito ao sentido 
ou à ausência de sentido de toda esta existência humana.
Para Husserl (1976), faz-se urgente e necessária uma re-
formulação da ideia de ciência. Propõe superar o universalismo 
abstrato do saber científico, apresentando um novo modelo de 
ciência, o qual denominou de "método fenomenológico", cuja 
meta é buscar o fundamento originário do "sentido" das coisas, 
dos comportamentos e situações, não por meio de conceitos e 
teorias, mas daquilo que nelas "se mostra em pessoa" (os fenô-
menos, do grego "phainomenon", o que se mostra). a razão teó-
rico-técnica e uma metafísica subordinada ao naturalismo levam 
a humanidade em direção a um vazio ético.
19© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Por sua vez, na França, o filósofo Henri Bergson afirma que 
a ciência ocultaria o vivido, pois, fruto da inteligência com sua 
abordagem matemática, vê o mundo à maneira de um mecanis-
mo que dá a ilusão de movimento a partir de instantâneos, como 
acontece em uma fita cinematográfica. A inteligência, base da 
ciência, pensa o tempo à maneira do espaço (tempo de relógio) 
e cai, assim, em um determinismo universal.
A intuição, de acordo com Bergson, diferentemente da in-
teligência, propicia uma abordagem qualitativa do mundo, uma 
vez que, graças a ela, temos acesso à compreensão da vida, ao 
sentimento de liberdade e à dimensão das possibilidades no que 
diz respeito tanto às ações quanto aos comportamentos. É den-
tro desse contexto que o filósofo francês distingue as duas for-
mas de "moral": a moral "fechada" e a moral "aberta", de que 
falamos anteriormente.
a moral "aberta", como foi visto, define o ético na medida 
em que corresponde à busca do "caráter" da situação conside-
rada, agindo na "justa medida", visando dar "o devido a algo ou 
alguém".
Será, pois, esta a orientação básica deste nosso estudo: 
queremos acompanhar, por meio das obras de alguns filósofos 
e pensadores representativos da Antiguidade grega até fins da 
Idade Média e do século 15 até fins do século 19, o desenvol-
vimento do pensamento ocidental em direção a um saber-co-
nhecimento cada vez mais dominante e a um fortalecimento da 
questão moral em detrimento da questão propriamenteética, 
que, no entanto, permanece timidamente como pano de fundo, 
suscitando, às vezes, reações conflitantes.
20 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um 
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área 
de conhecimento dos temas tratados em Ética II. Veja, a seguir, a 
definição dos principais conceitos:
1) Ágape: "Transliteração da palavra grega comumente 
traduzida em português por "aMor". Ágape, como 
uma preocupação ética reflete seu cognato hebraico, 
"hesed", no sentido de que representa o valor de auto-
negação própria da benevolência, como modo como se 
reflete no amor de deus pela criação" (GrenZ; sMiTh, 
2005, p. 9). É distinto de Eros, que representa o amor 
do desejo de união e de posse. Deve ser compreendi-
do como o amor que abre para, diferente do amor que 
atrai para. É, portanto, doação, caridade.
2) Angústia ética: "Um sentimento de desespero origina-
do pela necessidade de tomar decisões éticas ou mo-
rais. A angustia ética é um atributo necessário à for-
mação do CARáTER moral na SOCEIDADE ética. Søren 
Kierkegaard afirmava que a angustia era uma das 
marcas da verdadeira liberdade de escolha" (GrenZ; 
SMITH, 2005, p. 11). Heidegger, que foi fortemente in-
fluenciado pelo existêncialismo de Kierkegaard, vê na 
angustia uma das características essênciais do Ser-aí. É 
porque o homem é finito e se angustia com a finitude 
das possibilidades de ser que ele se abre para a possi-
bilidade mais fundamental de superar a inautênticida-
de e fazer uma escolha autêntica. Com isso, ele pode 
cuidar de si, cuidar do outro e cuidar do mundo.
21© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
3) Autonomia: "literalmente, 'lei de si mesmo' ou 'au-
togoverno' e, portanto, o exercício independente da 
VONTADE individual ou da comunidade, levando a rei-
vindicações morais consideradas como sendo determi-
nadas pelo indivíduo" (GrenZ; sMiTh, 2005, p. 45). a 
autonomia moral é "a crença de que a orientação mo-
ral é interior, vindo à luz a partir da ação de um prin-
cípio que habita o agente moral individual" (GrenZ; 
SMITH, 2005, p. 15). 
4) Bom, bem, bondade: "em sua forma de adjetivo e 
como um termo ético, bom significa, basicamente, 
algo de excelência moral. A bondade, por sua vez, sig-
nifica o estado ou a qualidade de ser bom. A natureza 
dessa excelência moral, contudo, foi uma das questões 
centrais exploradas pelos eticistas em toda a história. 
Enquanto o centro do debate na tradição filosófica gre-
ga envolveu o problema do que constitui um homem 
bom, a perspectiva bíblica começa com a excelência 
moral de deus" (GrenZ; sMiTh, 2005, p. 19-20). o 
bom na modernidade pode se referir a uma qualidade 
mais mecânica de adequação a um sistema matemáti-
co. A influência da Matemática será sentida mesmo na 
Ética, com Spinoza.
5) Justiça: "em geral, a ordem das relações humanas ou 
a conduta de quem se ajusta a essa ordem. Pode-se 
distinguir dois significados principais: 1º Justiça como 
conformidade da conduta a uma norma; 2º como efi-
ciência de uma norma (ou de um sistema de normas), 
entendendo-se eficiência de uma norma uma certa ca-
pacidade de possibilitar as relações entre os homens. 
No primeiro significado, esse conceito é empregado 
22 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
para julgar o comportamento humano ou a pessoa hu-
mana (esta última, com base em seu comportamen-
to). No segundo significado, é empregado para julgar 
as normas que regulam o próprio comportamento. A 
problemática histórica dos dois conceitos, ainda que 
freqüentemente interligada e confundida, é completa-
mente diferente.
1º [...] Justiça é a conformidade de um comportamen-
to [...] a uma norma. [...] Esta pode ser de fato a norma 
natural, a norma divina ou a norma positiva. Aristóte-
les diz: 'Uma vez que o transgressor da lei é injusto, en-
quanto é justo quem se conforma à lei, é evidente que 
tudo aquilo que se conforma à lei é de alguma forma 
justo: de fato, as coisas estabelecidas pelo poder legis-
lativo conformam-se à lei, e dizemos que cada uma de-
las é justa' (Et. nic., V, 1, 1129 b 11). [...], segundo Aris-
tóteles, a Justiça é a virtude integral e perfeita: integral 
porque compreende todas as outras; perfeita porque 
quem a possui pode utilizá-la não só em relação a si 
mesmo, mas também em relação aos outros [...].
2º No segundo conceito, a Justiça não se refere ao 
comportamento ou à pessoa, mas à norma; expressa a 
eficiência da norma, sua capacidade de possibilitar as 
relações humanas. Neste caso, obviamente, o objeto 
do juízo é a própria norma, e desse ponto de vista as 
diferentes teorias da Justiça são os diferentes concei-
tos de fim em relação ao qual se pretende medir a efi-
ciência da norma como regra para o comportamento 
intersubjetivo. Platão foi o primeiro a insistir na Justi-
ça como instrumento. Sócrates pergunta a Trasímaco: 
'Acreditas por acaso que uma cidade, um exército, um 
23© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
grupo de bandidos ou de ladrões, ou qualquer outro 
amontoado de pessoas que se ponha de acordo para 
fazer algo de injusto, poderia chegar a fazer alguma 
coisa se os seus integrantes cometessem injustiça uns 
para com os outros? – Não, de certo respondeu Trasí-
maco. – E se não cometessem injustiça, não seria me-
lhor? – Seguramente. – A razão disso Trasímaco, é que 
a injustiça dá origem a ódios e lutas entre os homens, 
enquanto a Justiça produz acordo e amizade' (Rep. 351 
c-d)" (aBBaGnano, 2007, p. 682-683).
6) Liberdade: "esse termo tem três significados funda-
mentais, correspondentes a três concepções que se 
sobrepuseram ao longo de sua história e que podem 
ser caracterizados da seguinte maneira: 1ª como au-
toterminação ou como autocausalidade, segundo a 
qual a Liberdade é ausência de condições e limites; 
2ª Liberdade como necessidade, a autodeterminação, 
mas atribuindo-a à totalidade a que o homem perten-
ce (Mundo, Substância, Estado); 3ª Liberdade como 
possibilidade ou escolha, segundo a qual a Liberdade é 
limitada e condicionada, isto é, finita. Não constituem 
conceitos diferentes as formas que a Liberdade assu-
me nos vários campos, como por exemplo Liberdade 
metafísica, Liberdade moral, Liberdade política, Liber-
dade econômica etc. As disputas metafísicas, morais, 
políticas, econômicas etc., em torno da Liberdade são 
dominadas pelos três conceitos em questão, aos quais 
portanto, podem ser remetidas as formas específicas 
de liberdade sobre as quais essas disputas versam" 
(ABBAGNANO, 2007, p. 699).
24 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
7) Moral e Ética: nesta obra, a moral será tomada como o 
conjunto de normas e costumes que regulamentam as 
relações humanas de certa comunidade. Nesse senti-
do, pode haver muitas morais; há uma moral aristocra-
ta, uma moral cristã, uma moral judaica etc. Já no caso 
da Ética, procura-se aquilo que deve preceder toda e 
qualquer moral. A vida é um valor ético, já a pena de 
morte ou o aborto são decisões de uma determinada 
moral. A moral geralmente se aplica de maneira ge-
neralizada a todos os indivíduos de uma sociedade. A 
Ética tem de levar em conta a singularidade de cada 
ato ou dado. Nesse sentido, o advogado de defesa e 
o promotor de justiça apreciam o processo de acordo 
com as normas e costumes de uma sociedade. Já o 
juiz tem de analisar o caso singular, irrepetível de cada 
ação particular. O advogado e o promotor cuidam da 
moral, o juiz, da Ética. Portanto, a Ética cuida do ser, 
enquanto a moral da obrigação. A moral é cultural, a 
Ética é ontológica e pode ser metafísica. A moral cuida 
do universal enquanto geral em relação ao particular; 
a Ética, do singular em relação ao universal. Para me-
lhor compreender a distinção, lembremos a passagem 
bíblica em que Jesus é convidado a decidir se Maria 
Madalena será ou não apedrejada. Segundo a Lei e os 
Costumes do povo,ela deveria ser condenada ao ape-
drejamento. Os acusadores falam em nome da moral, 
mas Jesus não a julga de acordo com a moral, mas com 
a Ética, e procura compreender a situação em si mes-
ma. Preservando a vida como valor, ele contrapõe va-
lores éticos a valores morais.
25© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Glossário por autores
Hobbes
1) Noção de direito: é a liberdade de fazer o que não for 
impedido por obstáculos exteriores. Todos têm um di-
reto natural a tudo o que for necessário para a conser-
vação de suas vidas. O contrato consiste em transferir 
esse direito ao Soberano, de acordo com o que pres-
creve a lei natural.
2) Noção de Estado: o estado é "uma pessoa civil", um 
produto do artifício humano, segundo o mecanismo 
contratual. O pacto social transforma a multidão dos 
homens em um corpo do Estado. O Estado represen-
ta cada um de nós; decide, age por cada um de nós e 
devemos nos reconhecer como autores de tudo o que 
ele faz.
3) Noção de estado de natureza: a expressão "estado de 
natureza" designa a situação dos homens na ausência 
do estado, isto é, uma situação de "guerra de uns con-
tra os outros".
4) Guerra: a guerra não consiste unicamente no fato de 
se bater. Basta haver disposição para o combate, reco-
nhecida durante um certo período, sem que seja pos-
sível o contrário, para se ter uma situação de guerra. É 
nesse sentido que o estado de natureza pode ser cha-
mado de um estado de guerra.
5) Liberdade: é a ausência de obstáculos exteriores. No 
estado de natureza, a liberdade de cada um se confun-
de com seu direito natural. As diversas liberdades se 
entrechocam e se paralisam. Com o Estado, os homens 
26 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
permanecem livres naqueles domínios sobre os quais 
a lei civil não se pronuncia, uma vez que a lei não pode 
abarcar todos os aspectos da vida. Domínios como o 
da opinião íntima, o da vida familiar e o de uma grande 
parte da vida econômica.
6) Lei: a lei se opõe ao direito pelo fato de obrigar. A lei 
da natureza é um imperativo ditado pela razão: obriga 
o homem a buscar a paz. Tal imperativo só pode ser 
realizado graças ao contrato. É, pois, a lei natural que 
nos ordena a obedecer às leis civis.
7) Marca (marks): marcas são símbolos que permitem ao 
homem e somente a ele dominar o tempo, lembrando 
o passado e tornando possível uma verdadeira ante-
cipação do futuro. os nomes são "marcas" arbitrárias 
por meio das quais notamos nossos pensamentos e 
graças às quais podemos calcular suas consequências. 
A linguagem humana é, assim, a fonte e o fundamento 
dos artifícios políticos (contrato, Estado).
8) Soberano: é o que é supremo e não passível de ser 
limitado por outra coisa. É o ser supremo, advindo do 
contrato, é um absoluto inviolável.
Descartes
1) Generosidade: a verdadeira generosidade implica um 
conhecimento justo de si mesmo, da própria liberda-
de, da disposição em utilizar o poder de julgar o que 
é melhor. Só será possível se saber responsável de si 
mesmo se o espírito se conhecer como espírito (no 
cogito).
27© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
2) Moral de provisão: é aquela especulação que nos con-
cede tempo suficiente para duvidar antes de encontrar 
a certeza, quando a ação exige uma solução que não 
pode esperar. Na ausência de princípios definitivos, 
temos que adotar as máximas que nos permitem nos 
conduzir de maneira resoluta, isto é, sem nos deixar 
dominar pelos acontecimentos, seguindo os costumes 
os mais moderados (primeira máxima), permanecen-
do constantes no que decidimos (segunda máxima) 
e sabendo encontrar alegria naquilo que depende de 
nós (terceira máxima).
Spinoza
1) Adequado: uma ideia adequada é uma verdadeira 
ideia, porque é conforme o seu objeto, isto é, nos traz 
integralmente seu objeto, de maneira que passamos a 
conhecê-lo como Deus o conhece. 
2) Afecção: ao nível psicológico, a "afecção" é o sentimen-
to daquilo que favorece ou prejudica a nossa potência 
de ser. Ao nível do corpo, é o que aumenta ou diminui 
o seu poder de agir. Quando a afecção é conhecida de 
maneira inadequada, é uma paixão que nos submete 
aos acontecimentos do mundo. 
3) Amor: "o amor é uma alegria que acompanha a ideia 
de uma causa exterior". Quando conhecido inadequa-
damente, o amor é uma paixão, pois, na paixão fica-
mos completamente submetidos a esta "causa exte-
rior". o amor nos permite igualmente compreender o 
amor de Deus, reconhecendo sua presença em toda 
28 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
"causa exterior", reconhecendo a presença de deus 
em toda "alegria".
4) Atributo: tradicionalmente, entende-se por "atributo" 
aquilo pelo qual uma substância pode ser conhecida. 
Esta definição supõe uma dimensão íntima, oculta, não 
passível de conhecimento da substância em si mesma.
Spinoza rompe radicalmente com esta suposição. Diz 
ele: "Por atributo entendo o que o entendimento per-
cebe da substância como constituindo sua essência", o 
que significa que o entendimento percebe a substân-
cia como ela é na realidade. Se nosso conhecimento de 
Deus não é completo, pois, conhecemos apenas dois 
de seus atributos (o Pensamento e a Extensão) tal co-
nhecimento, no entanto, é perfeito, não há lugar para 
uma qualidade oculta.
5) Causa: é preciso distinguir a causa imanente, que pro-
duz seu efeito em si mesmo, da causa transitiva que 
produz seu efeito fora de si mesmo. A Proposição 18 do 
livro i da Ética estabelece que "deus é causa imanente, 
mas não transitiva de todas as coisas". desta distinção 
advém outra: Deus é causa da essência das coisas na 
eternidade e de sua existência no tempo. Neste sen-
tido, as coisas são causas físicas produzindo-se umas 
às outras. Cada existência singular é desta maneira 
submetida a uma dupla determinação: é produzida 
por Deus sob a condição de ser determinada por outra 
existência singular que, por sua vez, é determinada por 
outra e assim até o infinito (Ética I. Proposição 28).
6) Ciência intuitiva: a ciência intuitiva (conhecimento do 
terceiro gênero) provem da ideia adequada da essência 
formal de alguns atributos de Deus ao conhecimento 
29© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
adequado da essência das coisas (Ética II, Proposição 
40, Comentário II). Trata-se para a alma individual de 
conhecer o "processamento" de sua essência a partir de 
Deus e não de se fundir com o infinito em uma espé-
cie de intuição inefável. Este conhecimento não pode se 
realizar senão através das demonstrações, cuja geome-
tria, graças ao seu método genético, fornece o modelo. 
a Ética, "demonstrada pela ordem geométrica", se situa 
ao nível do conhecimento do terceiro gênero. 
7) Essência: há em Deus, fora de meu pensamento, uma 
essência eterna do meu corpo distinta de sua exis-
tência, assim como há uma essência eterna de minha 
alma, precedendo sua existência.
8) Ideias Gerais: é preciso distinguir as ideias gerais ("ho-
mem", "ser", "coisa") das noções comuns (a "exten-
são", o "movimento", o "repouso"). o caráter univer-
sal das noções comuns nos permite pensar a riqueza 
do particular, pois o que é comum a todas as coisas 
se encontra paralelamente na parte e no todo. (Ética 
II, Proposição 37). Ao mesmo tempo, o conhecimen-
to das noções comuns (segundo gênero) é adequado, 
pois, é idêntico em nós e em deus. o caráter "univer-
sal" das ideias gerais não provêm senão de sua confu-
são: o corpo humano sendo limitado, não pode formar 
senão um certo número de imagens a cada vez; se este 
número for ultrapassado, as imagens se confundem e 
a alma imagina sem nenhuma distinção.
9) Liberdade: Spinoza distingue uma falsa ideia de li-
berdade que seria a ausência de necessidade de uma 
verdadeira ideia de liberdade que seria a ausência de 
constrangimento. A primeira é pura ilusão, não se apli-
30 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
ca a nada de real e é prova de nossa ignorância, isto 
é, de nossa servidão. A segunda se aplica a todo ser 
que "existe e age somente segundoa necessidade de 
sua natureza" sem sofrer necessariamente uma ação 
exterior. Somente Deus é livre por natureza. O homem 
pode se liberar através do conhecimento do segundo 
gênero que lhe permite realizar sua ação segundo a 
necessidade das coisas e também pelo conhecimento 
do terceiro gênero, que lhe permite viver interiormen-
te o ato pelo qual Deus o criou para a eternidade.
10) Modo: contrariamente ao uso tradicional (de Aristó-
teles até descartes), spinoza não vê o "modo" como 
uma maneira de ser da substância, mas como uma coi-
sa real, um efeito da substância. Chama as coisas reais 
"modos", porque estas coisas existem na substância, 
sendo esta sua causa imanente.
11) Superstição: noção central do Tratado teológico – po-
lítico, a superstição é a paixão de um espírito escravo 
das oscilações entre a esperança e o medo. Em relação 
à ilusão que nos apresenta deuses dirigindo a Natureza, 
a superstição representa um grau superior da alienação.
Locke
1) Confiança (trust): a autoridade do poder político não 
se baseia nem em um direito divino, nem em um poder 
natural, mas no consentimento do povo. O contrato 
social, expressão desse consentimento, é, ao mesmo 
tempo, um ato de confiança que os governados atri-
buem a seus governantes, após o seu consentimento 
à sociedade civil.
31© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
2) Propriedade (property): no vocabulário de Locke, a 
palavra "propriedade" não designa estritamente a pos-
se de bens materiais, mas tudo o que é próprio de cada 
um, ou seja, sua vida, sua liberdade, tudo o que cada 
um conseguiu com seu trabalho e que, por isso, torna-
se sua propriedade legítima.
3) Resistência: Locke se opõe radicalmente a Hobbes, ad-
mitindo o direito de resistência a opressão. Não se trata 
do direito de destruir o governo; o governo destrói a si 
mesmo quando trai sua missão e é essa autodestruição 
que legitima a oposição do povo. Não se trata também 
de um direito à ação terrorista; o direito à resistência 
não pertence aos indivíduos enquanto tais, mas ao povo 
soberano, ao qual compete julgar se o governo eleito 
por ele preenche corretamente sua missão.
Hume
1) Natureza humana: enquanto "natureza", a natureza 
humana obedece a leis constantes, a exemplo dos fe-
nômenos climáticos: as variações históricas e geográfi-
cas não impedem que haja uma natureza humana uni-
forme no tempo e no espaço. Pode se ver, na natureza 
humana, uma parte da natureza em geral, mas é mais 
pertinente, do ponto de vista filosófico, considerar a 
natureza humana como o centro, uma vez que as di-
ferentes ciências resultam do jogo das inclinações hu-
manas, devendo ser a ciência dessas inclinações uma 
ciência central. Essa ciência do homem como ciência 
central é o projeto inicial de Hume.
32 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
2) Senso moral: a ideia de "senso moral" tinha um pa-
pel fundamental no pensamento de alguns moralistas 
ingleses e escoceses, dentre os quais o mais impor-
tante foi Francis Hutcheson (1694-1747). Segundo es-
ses moralistas, o ser humano teria uma faculdade de 
percepção moral semelhante às nossas faculdades de 
percepção sensorial. Em nome dessa faculdade ime-
diata e desinteressada, que nos permitiria reconhecer 
o bem e o mal, rejeitavam a doutrina do egoísmo cal-
culador encontrada em Hobbes e Mandeville (Bernard 
de Mandeville, 1670-1733): tudo o que o homem faz 
pelo outro o faz calculando benefícios para si mesmo. 
retomando a expressão "senso moral", hume lhe con-
fere uma dimensão bem maior. Para ele, o senso moral 
testemunha a impotência de nossa razão, que jamais 
será capaz de nos dizer o que é o bem e o que é o mal.
3) Simpatia: a simpatia não é uma paixão específica, mas 
o princípio da comunicação das paixões. É graças a ela, 
por exemplo, que penetramos os sentimentos dos ri-
cos e dos pobres, participamos do prazer de alguns e 
do aborrecimento de outros, o que nos leva, pretende 
Hume, a respeitar o poder dos ricos e a desprezar a 
mediocridade dos pobres. A simpatia torna possíveis a 
compaixão e a benevolência e não se limita a isso. Ela 
me permite julgar a conduta moral do outro, em virtu-
de dessa capacidade que ela me dá de me identificar 
com os outros. É, porém, limitada no que concerne, 
observa Hume, ao julgamento do que é justo e do que 
é injusto.
33© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Kant
1) A priori: é o que não provem da experiência, que 
dela é absolutamente independente. Opõe-se, pois, 
ao "empírico" ou ao que vem da experiência (o "a 
posteriori"). enquanto a experiência só pode nos 
oferecer generalidades e contingência, o a priori 
caracteriza-se pela universalidade e pela necessidade.
2) Coisa-em-si: é o ente, enquanto existe independente-
mente de nosso conhecimento. kant denomina a "coisa
-em-si" de noumeno ou númeno (do grego noúmenon), 
em oposição ao "fenômeno". o númeno é o objeto do 
entendimento. O fenômeno é objeto dos sentidos. O nú-
meno não pode ser dado a uma intuição sensível, porque 
se encontra fora dos limites da experiência possível, por-
tanto, pode ser pensado, mas não pode ser conhecido, 
isto é, determinado em sua essência. O númeno ou a coi-
sa-em-si é causa da representação ou fenômeno, não no 
sentido de lhe ser exterior, mas de estar nele presente, 
constituindo-o. Ao nível da sensibilidade, designa o que 
há de conceitual: a existência. Do ponto de visa do enten-
dimento, a coisa-em-si é o objeto pensado. Corresponde 
ao conhecimento do fenômeno que teria o entendimen-
to divino, que não podemos conhecer, mas que podemos 
pensar.
3) Entendimento: faculdade dos conceitos. Kant distin-
gue os conceitos empíricos (os aspectos comuns a um 
grupo de objetos) dos conceitos puros e a priori, que 
definem a objetividade (os aspectos comuns a todos 
os objetos), isto é, as regras de acordo com as quais 
devemos associar os dados dos sentidos para construí
-los como objetos. O entendimento é uma faculdade 
34 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
ativa, um poder de síntese, porém um poder puramen-
te formal, ou seja, não produz de si mesmo nenhum 
conteúdo e pode funcionar perfeitamente na ausência 
dos dados da sensibilidade.
4) Razão: a noção de razão em Kant apresenta várias nuan-
ces, mas, em essência, podemos dizer que é o poder de 
síntese do entendimento, fora de todo dado sensível, 
produzindo os conceitos racionais ou ideias: o eu, o mun-
do, Deus, manifestando, assim, a pretensão a um tipo de 
conhecimento puramente inteligível (não sensível).
5) Representação: estado de consciência no qual encon-
tramo-nos em relação com algo que tornamos presen-
te a nós mesmos e que pensamos espontaneamente 
como existente.
6) Sensibilidade: é uma faculdade passiva e receptiva 
pela qual algo nos é dado (não produzido por nós). É a 
marca da finitude humana.
7) Transcendental em Kant: é o a priori, enquanto o que 
delineia a forma da objetividade, ou, ainda, é o conjunto 
das condições das possibilidades dos objetos enquanto 
objetos. Opõe-se evidentemente ao empírico, porém 
sobretudo ao "transcendente" (o que está fora dos limi-
tes da experiência), com o qual não deve ser confundido.
Nietzsche
1) Ativo/reativo: ativo é o que se afirma sem se opor, 
sem negar, sem destruir o que quer que seja; reativo, 
ao contrário, é o que só se coloca opondo-se, negando 
alguma coisa. A criação artística manifesta a ativida-
de enquanto aberta à multiplicidade das forças vitais, 
35© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
enquanto as pesquisas do cientista ou do filósofo são 
reativas, na medida em que rejeitam o erro e, portan-
to, negam uma parte da vida.
2) Genealogia: crítica que consiste a considerar todo jul-
gamento moral, científico, filosófico etc. como uma 
avaliação referente a um estado de relação entre as 
forças ativas e reativas, isto é, referente a um estado 
da vontade. A prática genealógica desvela, por trás de 
cada julgamento, uma interpretação que conseguiu se 
impor, recuperando a sua gênese.
3) Niilismo:segundo Nietzsche, toda posição que nega a vida. 
Tudo que é reativo é niilista, por exemplo, a vontade de 
verdade que exclui o erro. "Querer o verdadeiro é querer 
a morte". Toda a filosofia a partir de Platão é niilista, pois 
tal filosofia postulou constantemente valores superiores à 
vida (as ideias, o bem, o verdadeiro etc.). Em um sentido 
mais específico, o niilismo é também, em Nietzsche, o pen-
samento moderno advindo da Renascença e que atinge 
seu ponto culminante no século das Luzes, porque, em-
bora tal pensamento tenha combatido os valores superio-
res, a "morte" de deus, por ele decretada, aconteceu por 
vingança e ressentimento, ou seja, de maneira reativa. A 
vida, com o pensamento moderno, não foi enriquecida: 
reencontramo-nos sós, em um mundo sem valores e sem 
meta.
4) Sintoma: essa noção faz parte do arsenal genealógi-
co de Nietzsche e significa que todo julgamento é uma 
avaliação referente ao estado da vontade que o susten-
ta. Em outras palavras, trata-se de uma manifestação 
de certa relação entre forças ativas e reativas. Não tem 
o sentido da concepção médica clássica; aproxima-se 
36 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
do sentido freudiano de um significante que não se re-
fere a nenhum significado fixo.
5) Vida: é o conjunto das forças ativas e reativas que lu-
tam entre si. A vida é multiplicidade, diferenciação 
perpétua e se opõe à identidade e à estabilidade.
6) Vontade de poder: é o fundamento da vida e de toda rea-
lidade. Sendo a vida um jogo de forças, sua tendência mais 
profunda é essa pressão permanente para obter sempre 
mais poder, intensificando as forças que a constituem.
Observação: as informações constituintes deste Glossário por 
autor foram obtidas do "Glossaires par auteurs" da obra Les 
temps des philosophes (ROUX-LANIER, 1995).
Esquema dos Conceitos-chave
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais 
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um 
Esquema dos Conceitos-chave da obra. O mais aconselhável é 
que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até 
mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você 
construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a 
partir de suas próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações entre 
os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais com-
plexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na or-
denação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino.
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em 
37© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem esco-
lar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em 
Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia 
fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que 
a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de pro-
posições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e infor-
mações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem.
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configu-
re como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante 
considerar as entradas de conhecimento e organizar bem os ma-
teriais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos 
conceitos devem ser potencialmente significativos para o aluno, 
uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes es-
truturas cognitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é 
você o principal agente da construção do próprio conhecimen-
to, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações 
internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por 
objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando 
o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou 
seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou 
de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de 
mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.
br/edutools/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. 
Acesso em: 11 mar. 2010).
38 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
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Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da obra Ética II. (Desenhar esquema)
39© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais 
podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas 
dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a prática do ensino de Filosofia, pode ser uma 
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a 
resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você es-
tará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. 
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus 
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua práti-
ca profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um 
gabarito, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as 
questões autoavaliativas de múltipla escolha.
As questões de múltipla escolha são as que têm como res-
posta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se 
por questões abertas objetivas as que se referem aos conteú-
dos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determi-
nada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm 
por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; 
por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item 
Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor 
ou com seus colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas nãose prenda só a ela. Consulte, também, as bi-
bliografias complementares.
40 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Figuras (ilustrações, quadros...)
Nesta obra instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilus-
trativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados 
no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os 
conteúdos da obra, pois relacionar aquilo que está no campo vi-
sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais 
apurada, a Educação como processo de emancipação do ser hu-
mano. É importante que você se atente às explicações teóricas, 
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, 
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, 
permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprenden-
do a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Obser-
var é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Licenciatura em Filosofia na 
modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e 
consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a dis-
tância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus 
colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e reali-
ze as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas po-
derão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de pro-
duções científicas.
41© Ética ii
caderno de referência de conteúdo
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise 
sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram 
significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e 
construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes 
para o seu amadurecimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procuran-
do sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado 
a esta obra, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto 
para ajudar você.
3. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BARBOUR, I. G. Issues in science and religion. New York: Harper & Row, 1971.
BAUDRILLARD, J. La transparence du mal, essais sur les phénomènes extremes. Paris: 
Galilée, 1990.
BERGSON, H. As duas fontes da moral e da religião. Rio de Janeiro: zahar, 1978.
FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: 
Positivo, 2010.
GRENz, S. J.; SMITH, J. T. Dicionário de Ética: mais de 300 termos definidos de forma 
clara e concisa. São Paulo: Editora Vida, 2005.
HUSSERL, E. La crise des sciences européenes et la phénoménologie transcendantale. 
Paris: Gallimard, 1976.
KEMP, P. L'irremplaçable – une éthique de la technologie. Paris: Cerf, 1997.
42 © Ética ii
caderno de referência de conteúdo
MORA, J. F. Diccionario de Filosofia. 7. ed. Madrid: Alianza, 1990.
ROUX-LANIER, C. (Org.). Le temps des philosophes. Paris: Hatier, 1995.
TUGENDHAT, E. Lições sobre a Ética. Petrópolis: Vozes, 2000.
43
UNIDADE 1
a cOncepçãO Ética dO RenaSciMentO
1. OBJETIVOS
• Conhecer e compreender as características fundamen-
tais do pensamento filosófico da Renascença, a partir 
das mudanças relacionadas a uma visão do mundo e do 
homem.
• Conhecer as concepções sobre o ético e o moral de al-
guns importantes e representativos pensadores da épo-
ca renascentista.
2. CONTEÚDOS
• Giovanni Pico della Mirandola.
• Nicolau Machiavel.
• Paracelso.
• Michel de Montaigne.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
44 © Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
1) Antes de iniciar os estudos desta unidade, para mer-
gulhar na atmosfera da Renascença, seria interessante 
que você assistisse a filmes como:
• Da Vinci e a Renascença, 1987, Encyclopaedia Bri-
tannica – são dois filmes: Leonardo da Vinci e O es-
pírito da Renascença.
• O homem que não vendeu a alma, de 1966, com 
direção de Fred zinnemann. O filme trata sobre a 
vida de Thomas More ou Morus, mostrando o im-
pério das ideias humanistas e, ao mesmo tempo, a 
resistência às reformas protestantes.
• Giordano Bruno, de 1973, com direção de Giuliano 
Montaldo. Discute a tese de um universo infinito, 
contrariando a concepção aristotélica da finitude 
do universo, e a concepção de que o homem e a 
terra não são o centro do universo.
• O mercador de Veneza, de 2004, com direção de 
Michael Radford. Adaptação da peça homônima de 
William Shakespeare.
• Lutero (Luther, no original), de 2003, com direção 
de Eric Till.
• Documentários da BBC sobre Isaac Newton e outros 
filósofos.
2) Hermetismo, nesta unidade, significará doutrina esoté-
rica baseada nos escritos da época greco-romana que 
se considerava de inspiração do deus Hermes Trime-
gisto, personagem mítico da Antiguidade. Hermes é o 
deus grego, mensageiro dos deuses, denominado pelos 
romanos de Mercúrio e pelos egípcios de Thot, a quem 
se atribui a inspiração para um conjunto de textos cha-
45© Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
mado Hermética, constituído do Corpus Hermeticum e 
da Tábua Esmeralda. O Corpus Hermeticum consiste em 
tratados místico-filosóficos em grego, datando do perío-
do helenista (período que vai da conquista por Alexan-
dre, o Grande, de uma parte do mundo mediterrâneo e 
da ásia, até a dominação romana). A Tábua Esmeralda é 
um texto da literatura alquímica – prática da transmuta-
ção dos metais e de uma medicina universal, "panaceia" 
(nome que vem da deusa grega Panaceia, que trazia aos 
homens remédios originários de plantas) – composto 
de uma dúzia de fórmulas obscuras e alegóricas (que 
permitem expressar um ou mais sentidos além do li-
teral, como na fábula e na parábola). Nela se encontra 
a famosa correspondência entre o macrocosmo (visão 
do universo como um todo, cujas partes estão em cor-
respondência, visualização sob o modelo do organismo 
humano) e o microcosmo (o homem enquanto imagem 
reduzida do mundo). daí a célebre frase: "o que está em 
cima é igual ao que está em baixo e o que está em baixo 
é igual ao que está em cima".
4. INTRODUÇÃO
Iniciaremos o estudo desta unidade com um texto sobre 
o Renascimento, de Marilena Chauí (2015), intitulado Filosofia 
moderna:
[...] o historiador das idéias e das instituições européias, Michel 
Foucault, no livro As Palavras e as Coisas (Les Mots et les Choses), 
considera o Renascimento um período em que os conhecimen-
tos são regulados por um conceito fundamental: o conceito de 
Semelhança, graças ao qual são pensadas as relações entre se-
res que constituem toda a realidade, motivo pelo qual ciências 
46 © Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
como a medicina e a astronomia, disciplinas como a retórica e a 
história, teorias sobre a natureza humana, a sociedade, a política 
e a teologia empregam conceitos como os de simpatia e antipa-
tia (nas doenças e nos movimentos dos astros), de imitação ou 
emulação (entre os seres humanos, entre as coisas vivas, entre 
humanos e coisas, entre o visível e o invisível, como no caso da 
alquimia), conceitos que nada têm a ver com a "magia" como su-
perstição, mas com a magia como forma de revelação do oculto 
pelos poderes da mente humana, isto é, a Semelhança define um 
certo tipo de saber e um certo tipo de poder. Também écentral 
o conceito de amizade, como atração natural e espontânea dos 
iguais (animais, humanos) e que serve de referência para pensar-
-se a figura do tirano como inimigo do povo e criador de reinos 
regulados pela inimizade recíproca (forma de compreender as 
divisões sociais e os conflitos entre poder e sociedade).
A Natureza é pensada como um grande Todo Vivente, interna-
mente articulado e relacionado pelas formas variadas da Se-
melhança, indo dos minerais escondidos no fundo da terra ao 
brilho dos astros no firmamento, das coisas aos homens, dos 
homens a Deus.
Estamos, assim, diante de um naturalismo, em que todo 
ser, inclusive o ser humano, age à luz de princípios naturais e não 
sob o império da divindade.
Por sua vez, pela noção de "semelhança" dá-se igualmente 
a busca do conhecimento, caracterizando uma racionalidade que 
se manifesta predominantemente à maneira de uma razão subje-
tiva, a razão daquele que contempla e observa. Uma racionalidade 
que, baseando-se na noção de "semelhança", descreve e interpre-
ta, assumindo, por vezes, a dimensão de uma visão mágica das 
coisas, a criação de obras pelo simples prazer de criação do belo e 
da beleza. O resultado é uma época de grandes artistas, pintores, 
arquitetos como Leonardo da Vinci, Rafael, Michelangelo e outros.
47© Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
Desse modo, um antropocentrismo e um humanismo se 
impõem. O mundo passa a ser visto a partir do humano. Tudo 
pode ser explicado pela razão humana, tudo pode ser criado por 
mãos humanas, daí o desenvolvimento de técnicas.
Mas, certo vínculo se mantém com a visão do homem me-
dieval: salvaguarda-se a fé, isto é, para a mente renascentista, 
tudo pode ser explicado pela razão humana, porém alcançado 
pela fé. Não há, dessa maneira, um rompimento total com a tra-
dição medieval, embora dela se diferencie essencialmente, na 
medida em que se busca, ao contrário daquela, uma aproxima-
ção da Natureza com o Divino.
É dentro de um tal contexto que a dimensão moral do ca-
ráter racional e passional da alma humana se torna um dos prin-
cipais temas de reflexão.
É o que veremos ao trabalhar o pensamento de quatro re-
presentantes desta visão renascentista:
• Giovanni Pico della Mirandola;
• Nicolau Machiavel;
• Phillipus Theophrastus Bombastus von Hohenheim 
(Paracelso);
• Michel de Montaigne.
Seguiremos uma ordem cronológica, baseada nas datas de 
nascimento desses pensadores.
5. Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494)
O italiano Giovanni Pico della Mirandola foi discípulo de 
Marsílio Ficino (1433-1599) e de seu círculo neoplatônico, na 
Academia de Florença (Itália). O neoplatonismo, revivido na Re-
48 © Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
nascença italiana por, entre outros, Marsílio Ficino, é uma cor-
rente de pensamento iniciada no século 3º da nossa era, por 
Plotino (205-270 d.C.), grande filósofo grego de Alexandria. Ba-
seada, em princípio, nos ensinamentos de Platão, dos quais se 
diferencia bastante, foi reintroduzida no Ocidente por Plethon 
(1355-1452), um dos grandes pensadores de seu tempo, que, 
por sua vez, dizia ter recebido os ensinamentos de Amônio Sa-
cas (175-242), renomado filósofo grego de Alexandria. Segundo 
o neoplatonismo, o Uno refere-se a Deus, que é indivisível, e do 
Uno emanou uma sequência de seres menores. Os neoplatôni-
cos não acreditavam na existência do mal, que, para eles, seria 
a imperfeição. Veremos essa ideia permear todo o pensamento 
de Pico della Mirandola, na medida em que funda toda ética e 
moral na busca da perfeição.
Pico della Mirandola define o homem como meio de equi-
líbrio de todas as coisas criadas: pela força do espírito e do inte-
lecto, é o homem capaz de unir e harmonizar os elementos da 
natureza.
Apesar de ter falecido aos 31 anos de idade, Pico della Mi-
randola é um dos representantes mais significativos dessa visão, 
que coloca o homem como o centro do universo. Ao lado do 
papel preponderante do homem na Criação Divina e sua con-
sequente miséria com a "queda" advinda do "pecado original", 
tão lembrada e descrita na visão religiosa, há que se enfatizar, 
segundo ele, a dignidade que advém ao homem com o exercício 
da liberdade.
Esforçava-se Pico della Mirandola por estabelecer uma 
nova fé cristã fundamentada no desenvolvimento das capacida-
des humanas por meio de uma excelente formação intelectual 
pelo estudo de correntes as mais diversas e mesmo opostas. 
49© Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
O sincretismo, tendência a reunir doutrinas ou teorias diversas 
ensinadas como verdadeiras seja por um autor, seja por vários 
autores, é uma das características de sua obra. Propunha-se a 
estudar um tema sob o maior número de pontos de vista, ten-
tando chegar à visão ou ideia mais próxima possível da realidade 
observada.
Sendo por natureza um eclético, busca, em vários sistemas 
filosóficos e religiosos, o que mais lhe parecia conter elementos 
interessantes para compor um único sistema de explicação da 
realidade observada. Pico sintetizou as doutrinas filosóficas co-
nhecidas em sua época, principalmente o platonismo, os aristo-
telismos, a escolástica, os escritos hebraicos e talmúdicos (textos 
fundamentais do judaísmo rabínico, estruturados nos séculos 2º 
e 6º E.C. – Era Cristã – e reconhecidos como a norma do judaís-
mo), assim como os textos do hermetismo.
do ponto de vista de uma "Ética", a obra de Giovanni Pico 
della Mirandola representa o que Henri Gouhier (filósofo francês 
de inspiração cristã, historiador de Filosofia e crítica dramática, 
autor, entre outras obras, de L'Anti-humanisme du XVII siècle) 
denominou de "misticismo da nobreza humana". Trata-se de va-
lorizar o poder de escolha situado no íntimo de cada ser humano 
– nisso consistindo sua dignidade: "somos dignos porque somos 
livres". esse poder de escolha, a liberdade, seria uma potenciali-
dade do homem – potencialidade que o liberta do dogma deter-
minista religioso ou astrológico (a astrologia tinha grande auto-
ridade na época, no que concerne à determinação do destino de 
cada indivíduo) e que reduzia o homem a um mero instrumento 
de luta entre forças opostas. O poder de escolher torna-se um 
instrumento positivo de ação sobre a realidade. O ser humano 
é um ser imperfeito, mas cuja possibilidade de perfeição é ilimi-
50 © Ética ii
UNIDADE 1 – A CoNCEpção ÉtICA Do RENAsCImENto
tada, podendo alcançar o grau de moralidade e intelectualidade 
que desejar.
Sensível, para este humanista, o amor, fundamental na fé cristã, 
possui capacidade de superar divergências e promover a har-
monia e a paz. Giovanni é cônscio de que todo homem é um ser 
consciente, dotado de valor inestimável, e que é na dignidade 
que repousa a nobreza humana, pois, o que há de único nos se-
res humanos não é somente sua racionalidade (Aristóteles) ou 
sua imortalidade (cristianismo), mas a magnânima capacidade 
de autocriar-se livremente, podendo vir-a-ser sempre e muito 
mais do que já é por natureza (FÉLIX, 2015).
Leiamos o texto a seguir, extraído da obra de Giovanni Pico 
della Mirandola Da dignidade do homem, escrito em 1486:
Já Deus, Pai e arquiteto supremo, havia construído segundo 
as leis de uma sabedoria secreta esta morada do mundo que 
nós vemos, augusto templo de sua divindade: ele tinha ornado 
com espíritos a região supra-celeste, vivificado com almas eter-
nas os globos etéreos, preenchido com uma multidão de seres 
de todo gênero as partes fétidas e impuras do mundo inferior. 
Mas, uma vez sua obra terminada, o arquiteto desejava que 
houvesse alguém que pudesse avaliar o seu significado, amar 
sua beleza, admirar sua grandeza. Do mesmo modo, quando 
tudo estava terminado (como atestam Moisés e Timeu) pensou 
por último em criar o homem. Ora, não havia nos arquétipos 
nada com que criar uma nova raça, nem nos tesouros o que ofe-
recer como herança ao novo filho, nem havia no mundo inteiro 
o menor lugar onde o contemplador do universo pudesse se 
instalar.

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