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EA
D
5
Filosofia Política na 
Modernidade
1. ObjetivOs
•	 Compreender	o	desenvolvimento	da	Filosofia	Política	na	
Modernidade.			
•	 Analisar	os	principais	pensamentos	filosóficos	do	período	
no	que	concerne	à	política.		
2. COnteúdOs
•	 Immanuel	Kant	e	a	paz	perpétua.
•	 Friedrich	Hegel	e	a	realização	da	razão	universal.
•	 Texto	complementar:	Alexis	de	Tocqueville.
•	 Texto	complementar:	Marx	e	Engels.
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Filosofia Política84
1)	 Lembre-se	de	que	há	muitas	maneiras	de	pensar	o	con-
ceito	 de	 política.	 As	 questões	 autoavaliativas	 que	 se-
guem	ao	final	das	unidades	são	abertas	e	querem	ajudar	
na	compreensão	das	polissemias	aí	presentes.
2)	 Lembre-se	de	que,	embora	o	ato	de	aprender	seja	soli-
tário,	a	interação	com	os	seus	colegas	pode	ser	de	fun-
damental	importância	para	a	troca	de	informações,	para	
a	familiarização	com	a	linguagem	filosófica	pertinente	e	
com	o	método	filosófico	argumentativo.
3)	 Leia	os	livros	da	bibliografia	indicada	para	que	você	am-
plie	seus	horizontes	teóricos,	cotejando-os	com	o	mate-
rial	didático	apresentado.
4)	 Antes	de	 iniciar	os	estudos	de	cada	unidade,	pode	ser	
interessante	 conhecer	 um	 pouco	 dos	 dados	 históricos	
da	época	e	da	bibliografia	dos	pensadores	em	questão.	
Ainda	que	sites	de	caráter	genérico,	tais	como	os	enci-
clopédicos,	estejam	muito	aquém	de	suas	necessidades,	
eles	podem	auxiliar	neste	aspecto.	
5)	 Uma	prática	reflexiva	integral,	englobando	leitura	aten-
ta,	pesquisa	bibliográfica	e	hábito	de	questionamento:	
estes	são	alguns	dos	atributos	que	você	precisa	adqui-
rir	e	cultivar.	Cabe	ressaltar	que	cada	exercício	 realiza-
do	representa	um	momento	em	que	você	exercita	o	seu	
poder	de	compreensão	e	análise	de	conceitos,	de	inter-
pretação	de	textos	e	de	síntese,	seu	senso	crítico,	suas	
habilidades	interpessoais.	
4. intrOduçãO à unidade
Na	 Unidade	 4,	 tratamos	 do	 desenvolvimento	 da	 Filosofia	
Política	no	Renascimento	e	na	era	das	revoluções	clássicas.	Ana-
lisamos	os	principais	pensamentos	filosóficos	no	que	concerne	à	
política:	Nicolau	Maquiavel	e	o	Estado	forte;	Thomas	Hobbes	e	o	
pacto	social;	John	Locke	e	a	teoria	liberal;	Jean-Jacques	Rousseau	
e	o	contrato	social.
Poucos	autores	influenciaram	tanto	a	história	do	pensamen-
to	como	Kant	e	Hegel.	Não	somente	por	suas	próprias	produções,	
Claretiano - Centro Universitário
85© U5 - Filosofia Política na Modernidade
extensas	e	de	grande	relevância,	mas	principalmente	pelo	desdo-
bramento	que	souberam	delas	auferir	um	notável	número	de	filó-
sofos,	historiadores	e	sociólogos,	entre	outros.	As	transformações	
que	advieram	ao	longo	do	fecundo	século	19,	sejam	elas	na	esfera	
do	pensamento,	sejam	na	esfera	da	realidade	prática,	devem	em	
boa	parte	à	 leitura	de	Kant	e	de	Hegel.	Nesta	unidade,	veremos	
como	são	expostas	as	filosofias	políticas	de	cada	um	deles.
Novamente,	precisamos	realizar	um	grande	recorte.	Há	uma	
série	de	pensadores	que	ocupam	o	cenário	multiforme	do	sécu-
lo	19.	Esquecer	deles	 seria	 ignorar	uma	 fundamental	parcela	da	
história	do	pensamento	político.	Não	poderíamos	desprezar,	por	
exemplo,	as	contribuições	do	início	do	século	oferecidas	por	Ben-
jamin	Constant	e	por	Alexis	de	Tocqueville.
Benjamin	Constant,	na	corrente	do	liberalismo	revisitado,	foi	
um	ardente	defensor	das	liberdades	individuais	e	da	limitação	da	
autoridade	do	conjunto,	tanto	quanto	à	autoridade	estatal,	quanto	
à	autoridade	dos	direitos	da	maioria	contra	os	da	minoria.	Nenhum	
poder	poderia	ser	ilimitado	–	mesmo	os	poderes	fundados	sob	o	
conceito	de	uma	soberania	popular	não	poderiam	violar	direitos	
que	existem	independentemente	de	qualquer	organização	social	
ou	política.	 Levando	às	últimas	consequências	a	 reflexão	 liberal,	
promovendo	a	cisão	definitiva	entre	o	público	e	o	privado,	Benja-
min	Constant	chegará	à	conclusão	de	que	um	único	princípio	deve	
conduzir	as	nações	novas	e	antigas:	liberdade	em	tudo,	na	religião,	
na	literatura,	na	filosofia,	na	indústria,	na	política;	o	direito	de	ser	
submetido	apenas	às	leis,	não	ser	preso	nem	morto	em	decorrên-
cia	de	qualquer	vontade	arbitrária,	o	direito	de	emitir	opinião,	de	
se	associar	a	outros	homens,	de	escolher	sua	indústria	e	exercê-la,	
de	dispor	da	propriedade,	o	direito	de	ir	e	vir	sem	precisar	prestar	
contas	de	seus	motivos.
A	Alexis	de	Tocqueville,	historiador	e	pensador	francês,	de-
vemos	um	dos	principais	registros	históricos	dos	períodos	que	su-
cederam	as	grandes	revoluções	do	século	anterior,	da	consolida-
ção	de	novos	regimes	de	governo	e	novas	convicções	políticas.	A	
© Filosofia Política86
observação	das	experiências	democráticas	na	América	e	na	Europa	
o	deixou	bem	 impressionado.	Mas,	a	partir	da	análise	de	dados	
concretos	de	tais	experiências,	ele	pode,	mesmo	oscilando	entre	
a	inocência	e	a	perspicácia,	enumerar	traços	de	avanço	e	contra-
dições,	percebendo	que	mesmo	altos	princípios	nutridos	de	um	
longo	processo	histórico	não	constituíam	impedimento	para	a	vio-
lência	e	a	submissão.	Tocqueville	estava	consciente	da	inevitabili-
dade	do	fenômeno	democrático	para	as	nações	do	Ocidente,	mas	
isso	não	o	impediu	de	explorar	os	elementos	conflituais	da	aliança	
entre	igualdade	e	liberdade	e	compreender	que	muitos	dos	princí-
pios	elencados	pelos	pensadores	políticos	da	época	não	passavam	
de	realidades	metafísicas	ou	falácias	da	argumentação.
Para	que	o	estudo	não	fique	demasiado	incompleto,	é	preciso	
que	você,	aluno	interessado,	busque	em	outras	fontes	uma	adequa-
da	referência	a	importantes	autores	que	deixaram	de	ser	aqui	con-
templados.	O	século	19	é	também	o	século	do	utilitarismo	de	John	
Stuart	Mill,	do	positivismo	de	Auguste	Comte,	da	teoria	crítica	de	
Karl	Marx	e	Friedrich	Engels	e	da	filosofia	crepuscular	de	Friedrich	
Nietzsche.
Ao	 final	 desta	 unidade,	 você	 encontrará	 um	 texto	
complementar	 retirado	da	Democracia na América, de	Alexis	de	
Tocqueville,	e	outro	do	Manifesto do Partido Comunista,	de	Marx	
e	Engels.	
Navegando	por	uma	corrente	contrária	ao	espírito	da	época,	
Marx	prevê	a	ruína	da	sociedade	capitalista.	Suas	análises	estão,	
contudo,	 longe	 de	 terem	um	 efeito	 exclusivamente	 diagnóstico.	
Os	notáveis	escritos	de	Marx	são	de	grande	contribuição	para	que	
possamos	 compreender	 conceitos	 como	materialismo	 histórico,	
dialética,	luta	de	classes,	divisão	do	trabalho,	alienação,	mercado-
ria	etc.	A	repercussão	da	atividade	intelectual	de	Marx,	tanto	na	
teoria,	quanto	na	prática,	não	só	influenciou	um	profícuo	número	
de	pensadores,	como	até	hoje	ocupa	uma	considerável	parcela	da	
tarefa	de	cientistas	políticos	e	economistas.
Claretiano - Centro Universitário
87© U5 - Filosofia Política na Modernidade
5. immanuel Kant e a paz perpétua
No	 contorno	 de	 toda	 produção	 intelec-
tual	de	Kant	–	um	filósofo	que	dispensa	apre-
sentações	 para	 todos	 aqueles	 que	 buscam	na	
modernidade	as	raízes	do	quadro	político	atual	
–	primazia	do	indivíduo	e	filosofia	moral	têm	ro-
bustas	 implicações	 políticas.	 Se	 compreender-
mos	bem	em	que	consiste	a	moralidade	e	a	sua	
relação	com	o	direito	na	obra	kantiana,	podere-
mos	daí	extrair	uma	série	de	consequências	te-
óricas	para	a	organização	do	Estado	e	para	a	vida	política	em	geral.	
Tomando	como	fundamento	o	 inato	direito	à	 liberdade	do	
homem,	esforçando-se	para	definir	a	esfera	 inviolável	da	consci-
ência	individual,	Kant	oferece	à	humanidade	um	peculiar	conceito	
de	moralidade:	moralidade	 pode	 ser	 entendida	 como	 a	 confor-
midade	com	a	norma	do	dever ser	dada	pelo	próprio	 indivíduo.	
Todo	homem	pode,	enquanto	ser	dotado	das	faculdades	da	razão,	
conhecer	e	ditar	normas	de	conduta	para	si	mesmo,	normas	que	
viabilizariam	tanto	a	vida	particular	quanto	a	vida	em	sociedade.
A	organização	do	direito	e	da	política	provêm	do	adequado	
uso	da	razão,	de	comandos	assumidos	a priori,	metafísicos	no	que	
concerne	à	experiência	concreta.	O	imperativo	categórico,defini-
do	por	Kant	na	Fundamentação da metafísica dos costumes	como	
o	agir	sempre	segundo	princípios	que	devem	ser	tomados	como	
lei	universal,	mostra-se	aqui	como	o	alicerce	de	todo	o	edifício	em	
construção.	 O	 homem	moral	 obedece	 ao	 imperativo	 categórico	
apreendido	de	modo	objetivo	e	universal.
Do	conceito	kantiano	de	moralidade,	subtraímos	duas	con-
sequências:	
Em	primeiro	 lugar,	 enquanto	 ser	moral,	 o	homem	só	obe-
dece	a	leis	dadas	por	ele	mesmo	–	nisso	consiste	a	dignidade	e	a	
liberdade	do	homem:	agir	 sempre	conforme	a	 sua	 razão.	O	que	
Figura	1	Immanuel Kant 
(1724-1804).
© Filosofia Política88
antes	havia	sido	definido	como	a	espontaneidade	que	extrapola	
as	relações	de	causalidade	presentes	na	natureza,	toma	na	filoso-
fia	moral	kantiana	uma	dupla	coloração	que	se	exprime	tanto	no	
conceito	negativo	de	liberdade,	manifesto	pela	ausência	de	limita-
ções	eternas	do	comportamento,	quanto	do	conceito	positivo	de	
liberdade,	materializado	 como	autonomia,	 isto	 é,	 a	propriedade	
de	legislar	para	si	próprio.
A	segunda	consequência	é	a	seguinte:	enquanto	ser	huma-
no,	o	homem	é	um	fim	em	si	mesmo,	sua	dignidade	não	depende	
de	qualquer	juízo	de	valor	utilitário,	não	depende	de	dados	cole-
tados	da	sensibilidade	empírica	e	auferidos	por	seja	lá	quem	for.
Qual,	então,	a	relação	entre	a	moralidade,	o	direito	e	a	po-
lítica?
Assim	como	os	princípios	da	moralidade,	os	princípios	do	di-
reito	devem	ser	conhecidos	de	modo	objetivo	e	universal.	Diz	um	
parágrafo	retirado	da	introdução	à	teoria	do	direito	de	Primeiros 
princípios metafísicos da doutrina do direito:
Que	é	o	Direito	em	si?	Esta	questão,	se	não	for	pra	mergulhar	numa	
tautologia	ou	referir-se	à	legislação	de	determinado	país	ou	tempo,	
em	lugar	de	dar	uma	solução	geral,	é	tão	grave	para	o	jurisconsulto	
como	o	é	para	o	lógico	a	questão	que	é	a	verdade?	Seguramente	
pode-se	dizer	que	é	o	direito,	isto	é,	que	prescrevem	ou	prescreve-
ram	as	leis	determinadas	do	lugar	ou	tempo.	Porém,	a	questão	de	
saber	se	o	que	prescrevem	essas	leis	é	justo,	a	questão	de	dar	por	
si	o	critério	geral	através	do	qual	possam	ser	reconhecidos	o	justo	e	
o	injusto	jamais	poderá	ser	resolvida	a	menos	que	se	deixe	à	parte	
esses	princípios	empíricos	e	se	busque	a	origem	desses	 juízos	na	
razão	somente	(ainda	que	essas	leis	possam	muito	bem	se	dirigir	a	
ela	nessa	investigação),	para	estabelecer	os	fundamentos	de	uma	
legislação	positiva	possível.
Se	a	 razão	controlasse	perfeitamente	as	paixões	humanas,	
haveria	sempre	conformidade	entre	as	 leis	morais	e	as	 leis	posi-
tivas	do	direito,	aquelas	de	obediência	sugerida,	estas	de	cumpri-
mento	exigido	coercitivamente.	Mas	tal	não	é	a	condição	humana:	
nem	sempre	os	homens	estão	aptos	a	escutarem	e	seguirem	os	
ditames	da	razão,	muitos	se	deixam	frequentemente	ser	arrasta-
Claretiano - Centro Universitário
89© U5 - Filosofia Política na Modernidade
dos	pelas	paixões.	 Por	 isso,	o	direito	precisa	 regular	 as	 relações	
externas	entre	os	indivíduos	de	modo	a	tornar	possível	a	vida	em	
sociedade	e	o	exercício	da	liberdade	por	cada	um.
A	fórmula	do	princípio	universal	do	direito	será	dada	nos	Pri-
meiros princípios metafísicos da doutrina do direito:	é	 justa	toda	
ação	ou	máxima	da	ação	que	permita	a	 liberdade	do	arbítrio	de	
cada	um	com	a	liberdade	do	outro	segundo	uma	lei	universal.	Sur-
ge	o	Estado	como	necessário	agente	regulador	das	liberdades	indi-
viduais.	A	seguir,	um	pequeno	trecho	do	suplemento	primeiro	de	
A paz perpétua:
O	problema	do	estabelecimento	do	Estado,	por	mais	áspero	que	
soe,	tem	solução,	inclusive	para	um	povo	de	demônios	(contanto	
que	tenham	entendimento),	e	formula-se	assim:	ordenar	uma	mul-
tidão	de	seres	racionais	que,	para	a	sua	conservação,	exigem	con-
juntamente	 leis	universais,	às	quais,	porém,	cada	um	é	 inclinado	
no	seu	interior	a	eximir-se,	e	estabelecer	a	sua	constituição	de	um	
modo	tal	que	estes,	embora	opondo-se	uns	aos	outros	nas	suas	dis-
posições	privadas,	se	contêm	no	entanto	reciprocamente,	de	modo	
que	o	resultado	da	conduta	pública	é	o	mesmo	que	se	não	tivessem	
essas	disposições	más.
A	 sociedade	 civil	 decorre	 do	 imperativo	moral	 e	 realiza	 a	
ideia	de	liberdade.
Quais	as	características	do	Estado	pensado	por	Kant?
O	Estado	kantiano	é	liberal	porque	garante	tão	somente	o	bem	
público:	a	manutenção	da	juridicidade	das	relações	interpessoais,	a	
constituição	que	permita	a	cada	um	exercer	sua	liberdade	sem	con-
trariar	a	lei.	Convém	a	cada	indivíduo	buscar	sua	felicidade	como	lhe	
aprouver	contanto	que	não	viole	os	direitos	dos	demais	membros	da	
sociedade.
A	fim	de	que	a	vontade	geral	não	seja	usurpada	pelas	von-
tades	particulares,	deve	o	poder	estatal	obedecer	à	já	consagrada	
tripartição	dos	poderes:	legislativo,	executivo	e	judiciário.
Kant	refere-se	ainda	à	constituição	de	um	contrato	originá-
rio	para	justificar	a	legitimidade	do	governo	político.	Mas,	ao	con-
trário	dos	expoentes	da	tradição	do	pacto	social,	a	sua	 intenção	
© Filosofia Política90
parece	estar	bem	definida	e	delimitada:	instituir	a	ideia	metafísica	
de	 fundamento	da	 sociedade	 civil,	 negando	qualquer	 direito	 de	
resistência	por	parte	dos	governados.	Não	estão	os	consorciados	
de	uma	sociedade	autorizados	nem	à	 resistência,	nem	à	 revolu-
ção	–	isso	geraria	uma	contradição	interna	insanável	no	corpo	da	
sociedade.	As	reformas	necessárias	ao	aperfeiçoamento	da	ordem	
constitucional	só	podem	ser	realizadas	pelo	próprio	poder	sobe-
rano,	 por	meio	 do	 legislativo.	Não	 podemos,	 todavia,	 confundir	
competência	com	participação:	segundo	o	filósofo	prussiano,	para	
que	a	vontade	geral	seja	melhor	conhecida,	a	publicidade	e	o	alar-
gamento	do	espaço	público	são	basilares	como	modo	de	assegurar	
a	liberdade	de	expressão	e	o	debate.	
Afeito	ao	culto	do	progresso,	Kant	alimentou	a	convicção	de	
que	há	na	história	da	humanidade	uma	evolução	 racional	 (Ideia 
de uma história universal a partir de um ponto de vista cosmopoli-
ta),	embora	parecesse	saber	que	a	forma	de	uma	sociedade	ideal	
permaneceria	sempre	distante	da	realização	concreta	na	história.	
Isso	não	o	impediu	de	contribuir	para	que	novos	caminhos	para	a	
paz	fossem	encontrados.	No	âmbito	do	direito	internacional,	a	paz	
deve	ser	estabelecida	porque	a	guerra	não	interessa	aos	Estados:	
este	é	também	um	princípio	da	razão.
Kant	foi	um	dos	primeiros	a	conceber	teoricamente	uma	liga	
das	nações	como	meio	de	favorecer	a	concórdia	entre	diferentes	
países.	Cabe	à	confederação	de	Estados,	enquanto	expressão	de	
vontades	livres,	a	manutenção	da	paz.	Lemos	no	Segundo artigo	
definitivo sobre a paz perpétua:
O	direito	das	 gentes	deve	 fundar-se	numa	 federação	de	Estados	
livres.	Os	povos	podem,	enquanto	Estados,	considerar-se	como	ho-
mens	singulares	que	no	seu	estado	de	natureza	(isto	é,	na	indepen-
dência	de	leis	externas)	se	prejudicam	uns	aos	outros	já	pela	sua	
simples	coexistência	e	cada	um,	em	vista	da	sua	segurança,	pode	
e	deve	exigir	do	outro	que	entre	com	ele	numa	constituição	seme-
lhante	à	constituição	civil,	na	qual	se	possa	garantir	a	cada	um	o	
seu	direito.	Isso	seria	uma	federação	de	povos	que,	no	entanto,	não	
deveria	ser	um	Estado	de	povos.	
Claretiano - Centro Universitário
91© U5 - Filosofia Política na Modernidade
6. FriedriCh hegel e a realizaçãO da razãO 
universal
Ao	final	de	sua	vida,	Hegel	publica	o	pro-
duto	de	seus	cursos	sobre	a	filosofia	do	direito	
ministrados	na	Universidade	de	Berlim	sob	o	tí-
tulo	Princípios da filosofia do direito	–	trata-se	
de	um	longo	e	vasto	estudo	que	viria	a	ser	con-
siderado	posteriormente	como	a	principal	refe-
rência	de	sua	obra	no	que	concerne	à	Filosofia	
Política.	Mas	não	é	fácil	entender	o	seu	pensa-
mento.	Se	por	um	lado	a	Filosofia	Política	hege-
liana	se	alimenta	de	conceitos	que	possuem	um	
elevado	grau	de	abstração,	por	outro	está	intimamente	atrelada	à	
sua	peculiar	acepção	de	história.	
Conhecer	 a	 intenção	 de	 Hegel	 com	 a	 publicação	 da	 obra	
que	viria	a	coroar	toda	a	sua	produção	filosófica	pode	nosauxiliar	
na	compreensão	do	seu	pensamento	político.	Com	Massimiliano	
Tomba,	em	Poder e constituição em Hegel,	poderíamos	começar	
dizendo	que:
A	leitura	do	Prefácio	aos	Lineamentos de filosofia do direito	permite	
perceber	que	o	objetivo	da	filosofia	política	hegeliana	é	a	compre-
ensão	da	racionalidade	do	Estado	como	forma	específica	do	Espíri-
to,	numa	época	determinada	(DUSO,	2005,	p.	305).	
O	Estado	aparece	então	como	a	realização	da	história	da	ra-
zão	universal,	do	saber	absoluto.	Não	se	pode	tomar	a	natureza	
humana	e	a	constituição	de	sua	organização	política	fora	do	desen-
volvimento	histórico,	o	que	segundo	o	filósofo	fariam	os	contratu-
alistas	clássicos.	A	base	do	Estado	não	reside	no	contrato,	mesmo	
que	auferido	de	modo	puramente	lógico,	mas	na	vontade	univer-
sal	e	no	seu	curso	histórico.	O	homem	é	fruto	do	seu	tempo	e	a	
sua	organização	política,	como	modo	de	expressão	do	seu	modo	
de	ser,	também	deve	ser	assim	compreendida.
Figura	2	Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel (1770-
1831).
© Filosofia Política92
Hegel	pensa	o	Estado	soberano	como	modo	de	organização	
necessário	à	existência	da	vida	social.	O	indivíduo	só	pode	se	de-
senvolver	plenamente	no	Estado.	O	sujeito	moral,	pela	mediação	
da	família	e	da	atividade	profissional	que	exerce,	reconhece	que	a	
sua	existência	depende	do	Estado.	
Lemos	nos	parágrafos	257	e	258	dos	Princípios da filosofia 
do direito:
O	Estado	é	a	 realidade	em	ato	da	 Idéia	moral	objetiva,	o	espírito	
como	vontade	substancial	revelada,	clara	para	si	mesma,	que	se	co-
nhece	e	se	pensa,	e	realiza	o	que	sabe	e	porque	sabe.	No	costume	
tem	o	Estado	a	sua	existência	imediata,	na	consciência	de	si,	no	saber	
e	na	atividade	do	indivíduo,	tem	a	sua	existência	mediata,	enquanto	
o	indivíduo	obtém	a	sua	liberdade	substancial	ligando-se	ao	Estado	
como	à	sua	essência,	como	ao	fim	e	ao	produto	da	sua	atividade.	[...]
O	Estado,	como	realidade	em	ato	da	vontade	substancial,	realidade	
que	esta	adquire	na	consciência	particular	de	si	universalizada,	é	o	ra-
cional	em	si	e	para	si:	esta	unidade	substancial	é	um	fim	próprio	abso-
luto,	imóvel,	nele	a	liberdade	obtém	o	seu	valor	supremo,	e	assim	este	
último	fim	possui	um	direito	soberano	perante	os	indivíduos	que	em	
serem	membros	do	Estado	têm	o	seu	mais	elevado	dever.	[...]
Se	o	Estado	é	o	espírito	objetivo,	então	só	como	membro	é	que	o	in-
divíduo	tem	objetividade,	verdade	e	moralidade.	A	associação	como	
tal	é	o	verdadeiro	conteúdo	e	o	verdadeiro	fim,	e	o	destino	dos	in-
divíduos	está	em	participar	de	uma	vida	coletiva;	quaisquer	outras	
satisfações,	atividades	e	modalidades	de	comportamento	têm	o	seu	
ponto	de	partida	e	o	seu	resultado	neste	ato	substancial	e	universal.		
Fiel	ao	conceito	de	história	como	um	movimento	de	negati-
vidade	e	reconciliação,	a	Filosofia	Política	de	Hegel	possui	também	
um	forte	apelo	dialético.	O	Estado	aparece	como	o	fruto	dialético	
entre	particularidade	e	universalidade,	na	procura	da	totalidade.	
O	Estado,	enquanto	realidade	que	extrapola	o	cenáculo	individual,	
constitui	o	limite	externo	e	formal	para	a	liberdade	do	indivíduo,	
mas	assume,	ao	mesmo	tempo,	a	própria	realização	do	seu	direito	
à	liberdade.	Diz	Hegel	no	parágrafo	260	subsequente:
É	o	Estado	a	realidade	em	ato	da	liberdade	concreta.	Ora,	a	liber-
dade	consiste	em	a	liberdade	pessoal,	com	os	seus	particulares,	de	
tal	modo	possuir	o	seu	pleno	desenvolvimento	e	o	reconhecimento	
dos	seus	direitos	para	si	 (nos	sistemas	da	 família	e	da	sociedade	
civil)	que,	em	parte,	se	integram	por	si	mesmos	no	interesse	univer-
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93© U5 - Filosofia Política na Modernidade
sal	e,	em	parte,	consciente	e	voluntariamente	o	reconhecem	como	
seu	particular	espírito	substancial	e	para	ele	elegem	como	seu	últi-
mo	fim.	(...)	O	princípio	dos	Estados	modernos	tem	esta	imensa	for-
ça	e	profundidade:	permitem	que	o	espírito	da	subjetividade	che-
gue	até	a	extrema	autonomia	da	particularidade	pessoal	ao	mesmo	
tempo	que	o	reconduz	à	unidade	substancial,	assim	mantendo	esta	
unidade	no	seu	próprio	princípio.	
Hegel	distingue	em	três	esferas	a	família,	a	sociedade	civil	e	
o	Estado.	
Do	ponto	de	vista	teórico,	o	Hegel	da	Filosofia do direito	é	o	primei-
ro	–	e	não	Marx	–	a	fixar	o	conceito	de	sociedade	civil	como	algo	
distinto	e	separado	do	Estado	político	(...).	A	sociedade	civil	é	de-
finida	como	um	sistema	de	carecimentos,	estrutura	de	dependên-
cias	recíprocas	onde	os	indivíduos	satisfazem	as	suas	necessidades	
através	do	trabalho,	da	divisão	do	trabalho	e	da	troca;	e	asseguram	
a	defesa	de	suas	liberdades,	propriedades	e	interesses	através	da	
administração	da	justiça	e	das	corporações.	Trata-se	da	esfera	dos	
interesses	privados,	 econômico-corporativos	 e	 antagônicos	 entre	
si.	A	ela	se	contrapõe	o	Estado	político,	isto	é,	a	esfera	dos	interes-
ses	públicos	e	universais,	na	qual	aquelas	contradições	estão	me-
diatizadas	e	superadas	(BRANDÃO in	WEFFORT,	2002,	p.	105-106).	
A	rigor,	não	há	liberdade	fora	do	Estado,	porque	não	há	povo	
se	desprovido	de	constituição	–	antes	da	organização	estatal	temos	
apenas	uma	multiplicidade	inorgânica	de	indivíduos.	A	instituição	
da	constituição	 representa	e	 realiza	a	unidade.	 Se	o	movimento	
dialético	faz	da	história	a	expressão	da	superação	e	absorção	das	
formas	políticas,	devem	as	fases	históricas	anteriores	à	instituição	
da	constituição	estatal	serem	entendidas	apenas	como	fases.
Hegel	extrai	dos	seus	próprios	conceitos	algumas	conclusões	
de	notória	relevância	e	implicações	práticas.	Vamos	a	elas.
As	distinções	clássicas	quanto	aos	tipos	de	governo	–	monar-
quia,	aristocracia,	democracia	–	são	assumidas	como	momentos	
da	articulação	do	Estado.
A	divisão	dos	poderes	de	um	Estado	político	deve	compre-
ender	o	poder	legislativo,	responsável	pela	determinação	do	uni-
versal,	o	poder	de	governo,	capaz	de	absorver	o	particular	no	uni-
versal,	e	o	poder	do	príncipe,	ao	qual	cumpre	a	decisão	última	e	a	
© Filosofia Política94
reunificação	dos	poderes	na	unidade	individual,	concebida	como	a	
cúpula	e	o	início	do	todo	que	constitui	a	monarquia	constitucional	
–	esta,	por	sua	vez,	o	aperfeiçoamento	do	Estado	na	forma	infinita	
da	ideia	(cf.	Princípios da filosofia do direito,	parágrafo	273).
Se	a	última	palavra	compete	ao	monarca,	sua	decisão	não	
é	arbitrária	porque	se	encontra	subordinada	à	unidade	da	consti-
tuição.	A	soberania	não	transcende	à	articulação	dos	poderes.	O	
monarca	dá	racionalidade	à	constituição,	mas	é	menos	que	uma	
figura	do	poder	absolutista	e	mais	que	uma	figura	supérflua	que	
apenas	encena.	
Hegel	defende	a	participação	popular	no	governo	e	os	prin-
cípios	da	publicidade.	Os	integrantes	dos	poderes	públicos	devem	
ser	recrutados	em	função	de	sua	competência,	capacidade	de	ra-
cionalmente	calcular	as	 intervenções	necessárias	à	 vida	 civil	 e	à	
consciência	do	universal.	
Para	que	o	Estado	não	se	torne	uma	estrutura	engessada	e	
desprovida	de	sentido,	deve	estar	sempre	disponível	à	modifica-
ção,	de	modo	que	ao	desenvolvimento	do	Espírito	corresponda	o	
desenvolvimento	das	instituições.	Em	última	instância,	o	poder	le-
gislativo	absoluto	e	supremo	seria	a	história.
Embora	os	acontecimentos	que	o	cerquem	não	o	incentivem	a	
pensar	de	modo	 inteiramente	otimista,	Hegel	 ainda	acredita	que	os	
conflitos	mundiais	levarão	à	superação	dos	mesmos	conflitos	e	à	instau-
ração	de	um	Estado	universal,	como	realização	final	da	razão	universal.
7. textOs COmplementares
Texto 1 - Alexis de Tocqueville ––––––––––––––––––––––––––
Introdução de A democracia na América 
Dentre as coisas novas que, durante minha estada nos Estados Unidos, 
chamaram-me a atenção, nenhuma impressionou-me tão intensamente 
quanto a igualdade de condições. Descobri, sem dificuldades, a influência 
prodigiosa exercida por este fator na marcha da sociedade; dá ao espírito 
público certa direção; às leis, um ar especial; aos governantes, novos prin-
cípios, e aos governados, hábitos particulares. (...)
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Desse modo, à medida que estudava a sociedade americana, via, cada 
vez mais, na igualdade de condições o fato originário de que cada aspecto 
parecia provir e reencontrava-o, incessantemente, como o ponto central a 
que chegavam todas as minhas observações.
Levei, então, o pensamento ao nosso hemisfério e pareceu-me que aí en-
contrava algo semelhante ao espetáculo oferecido pelo Novo Mundo. Via 
igualdade de condições que, sem atingir, como nos Estados Unidos, seus 
limites extremos, aproximava-se deles cada dia mais; esta mesma demo-
cracia, que reinava nos Estados Unidos, pareceu-me avançar rapidamente 
em direção ao poder na Europa.
Desde este instante, concebi a idéia do livro que se vai ler.
Uma grande revolução democrática opera-se entre nós; todos a vêem, 
mas nem todos a julgam da mesma maneira. Uns consideram-na algo de 
novo e, tomando-a por coisa acidental, esperam poder ainda sustá-la, en-
quanto outros julgam-na irresistível, pois lhes parece o fato mais contínuo, 
mais antigo e mais permanente que se conhece na história. (...)
Não há povo na Europa em que a grande revolução social a que fiz alusão 
tenha feito progressos mais rápidos do que entre nós; mas a revolução, 
neste país, desenvolveu-se sempre ao acaso. Nunca os chefes de Es-
tado pensaram em preparar, previamente, o que quer que fosse em seu 
favor; fez-se apesar deles ou sem que tivessem conhecimento. As classes 
mais poderosas, mais inteligentes e mais honestas da nação não busca-
ram apoderar-se dessa revolução para dirigi-la. A democracia foi, portan-
to, abandonada a seus instintos selvagens; cresceu como essas crianças 
privadas dos cuidados paternos, que se criam sós nas ruas das cidades, 
que só conhecem da sociedade os vícios e as misérias. Parecia-se ignorar, 
ainda, a existência da revolução, quando apoderou-se, inopinadamente, 
do poder. Então, cada qual se submeteu servilmente a seus mínimos de-
sejos; adoraram-na como imagem da força; quando, depois, enfraqueceu 
por culpa de seus próprios excessos, os legisladores conceberam o projeto 
imprudente de destruí-la, ao invés de buscar instruí-la e corrigi-la e, sem 
pensar em ensiná-la a governar, só quiseram expulsá-la do governo.
O resultado foi que a revolução democrática operou-se no plano material 
da sociedade, sem que houvesse, nas leis, nas idéias, nos hábitos e cos-
tumes, a mudança que teria sido necessária para torná-la útil. Assim temos 
a democracia, menos o que deve atenuar seus vícios e realçar-lhe as van-
tagens naturais; já conhecendo os males que provoca, ignoramos os bens 
que pode proporcionar (1973). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Texto 2 - Marx e Engels ––––––––––––––––––––––––––––––––
Manifesto do Partido Comunista, capítulo I: 
Burgueses e proletários
A história de todas as sociedades até hoje é a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de cor-
poração e companheiro, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em cons-
tante antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, 
outras aberta – uma guerra que sempre terminou ou com a transformação revo-
lucionária de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta.
© Filosofia Política96
Nas épocas anteriores da história encontramos, quase por toda parte, uma 
completa estruturação da sociedade em estados ou ordens sociais, uma 
múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga, temos patrícios, 
cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassa-
los, mestres das corporações, aprendizes, servos e, além disso, gradações 
particulares no interior dessas classes.
A sociedade burguesa moderna, que surgiu do declínio da sociedade feu-
dal, não aboliu os antagonismos de classes. Limitou-se a estabelecer no-
vas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar 
das anteriores.
A nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, porém, por ter sim-
plificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade está se dividindo, 
cada vez mais, em dois grandes campos hostis, em duas grandes classes 
em confronto direto: a burguesia e o proletariado.
(...) As armas que a burguesia empregou para abater o feudalismo voltam-
-se hoje contra a própria burguesia.
Mas a burguesia não se limitou a forjar apenas as armas que lhe trarão a 
morte; produziu também os homens que empunharão essas armas – os 
operários modernos, os proletários.
(...) Todas as sociedades até hoje existentes assentaram, como vimos, 
no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas, para 
oprimir uma classe, é necessário assegurar-lhe ao menos as condições 
mínimas em que possa ir arrastando a sua existência servil. O servo da 
gleba, sem deixar de ser servo, chegou a membro da comuna, da mesma 
forma que o pequeno-burguês, sob o absolutismo feudal, chegou a grande 
burguês. O operário moderno, ao contrário, longe elevar-se com o desen-
volvimento da indústria, afunda-se cada vez mais, indo abaixo das condi-
ções de sua própria classe. O operário passa a indigente e a indigência 
cresce mais rapidamente que a população e a riqueza. Torna-se evidente 
que a burguesia é incapaz de continuar a ser por muito mais tempo a clas-
se dominante e impor à sociedade, como lei suprema, as condições de 
existência da sua classe.
(...) A condição essencial para a existência e o domínio da classe burgue-
sa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e a 
multiplicação do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O 
trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência entre os 
operários. O progresso da indústria, de que a burguesia é portadora indi-
ferente e involuntária, substitui o isolamento dos operários, resultante da 
concorrência, pela sua união revolucionária, resultante da associação. O 
desenvolvimento da grande indústria, assim, retira da burguesia a própria 
base sobre a qual assentou o seu regime de produção e apropriação. A 
burguesia produz, sobretudo, os seus próprios coveiros. A sua queda e a 
vitória do proletariado são igualmente inevitáveis (1998).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
8. questões autOavaliativas
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
Claretiano - Centro Universitário
97© U5 - Filosofia Política na Modernidade
1)	 Como	pensar	o	conceito	de	política	para	Kant?
2)	 Como	pensar	o	conceito	de	política	para	Hegel?
3)	 É	possível	conciliar	fim	da	história	e	estado	final	de	paz?
9. COnsiderações
Estudamos,	nesta	unidade,	a	Filosofia	Política	na	Moderni-
dade.	Na	próxima	unidade,	 ficaremos	com	a	Filosofia	Política	na	
Contemporaneidade,	quando	conheceremos	os	pensamentos	de	
Arendt,	Foucault	e	Habermas	a	respeito	da	política.
10. e-referências
lista de figuras
Figura 1	 Immanuel Kant (1724-1804).	 Disponível	 em:	 <http://www.substantivoplural.
com.br/bacterias-cameras-e-kant/>.	Acesso	em:	26	jun.	2012.		
Figura 2	Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).	 Disponível	 em:	 <http://ast-tok.
wikispaces.com/Biographical+Information>.	Acesso	em:	26	jun.	2012.		
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