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FilPol-U3 Claretiano

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EA
D
3
Filosofia Política na Idade 
Média
1. ObjetivOs
•	 Compreender	o	desenvolvimento	da	Filosofia	Política	na	
Idade	Média.			
•	 Analisar	os	principais	pensamentos	filosóficos	do	período	
no	que	concerne	à	política.		
2. COnteúdOs
•	 Agostinho	e	a	Cidade	de	Deus.
•	 Tomás	de	Aquino	e	a	pedagogia	da	lei	divina.
•	 Texto	complementar:	Agostinho.
•	 Texto	complementar:	Tomás	de	Aquino.
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Filosofia Política50
1)	 Lembre-se	de	que	há	muitas	maneiras	de	pensar	o	con-
ceito	 de	 política.	 As	 questões	 autoavaliativas	 que	 se-
guem	ao	final	das	unidades	são	abertas	e	querem	ajudar	
na	compreensão	das	polissemias	aí	presentes.
2)	 Lembre-se	de	que,	embora	o	ato	de	aprender	seja	soli-
tário,	a	interação	com	os	seus	colegas	pode	ser	de	fun-
damental	importância	para	a	troca	de	informações,	para	
a	familiarização	com	a	linguagem	filosófica	pertinente	e	
com	o	método	filosófico	argumentativo.
3)	 Leia	os	livros	da	bibliografia	indicada	para	que	você	am-
plie	seus	horizontes	teóricos,	cotejando-os	com	o	mate-
rial	didático	apresentado.
4)	 Antes	de	 iniciar	os	estudos	de	cada	unidade,	pode	ser	
interessante	 conhecer	 um	 pouco	 dos	 dados	 históricos	
da	época	e	da	bibliografia	dos	pensadores	em	questão.	
Ainda	que	sites	de	caráter	genérico,	tais	como	os	enci-
clopédicos,	estejam	muito	aquém	de	suas	necessidades,	
eles	podem	auxiliar	neste	aspecto.	
5)	 Uma	prática	reflexiva	integral,	englobando	leitura	aten-
ta,	 pesquisa	 bibliográfica	 e	 hábito	 de	 questionamento	
são	alguns	dos	atributos	que	você	precisa	adquirir	e	cul-
tivar	para	que	possa	expandir	seus	conhecimentos.	Cabe	
ressaltarmos	que	cada	exercício	realizado	representa	um	
momento	em	que	você	exercita	o	seu	poder	de	compre-
ensão	e	análise	de	conceitos,	de	interpretação	de	textos	
e	de	síntese,	seu	senso	crítico	e	suas	habilidades	inter-
pessoais.	
4. intrOduçãO à unidade
Na	 unidade	 anterior,	 pudemos	 compreender	 as	 condições	
de	nascimento	da	Filosofia	Política	e	o	 seu	estatuto.	Discutimos	
o	conceito	de	política	e	a	experiência	da	democracia.	Analisamos	
também	do	ponto	de	vista	político	os	principais	pensamentos	filo-
sóficos	do	período:	a	cidade	justa	(Platão)	e	o	bem	comum	como	
finalidade	da	vida	política	(Aristóteles).	
Claretiano - Centro Universitário
51© U3 - Filosofia Política na Idade Média
Vamos,	agora,	iniciar	o	estudo	da	Filosofia	Política	no	perío-
do	medieval	da	história.	Mas	por	que	dedicar	uma	unidade	à	filo-
sofia	medieval?	Não	é	ela	toda	obscura,	fundada	sob	uma	metafí-
sica	improvável,	dominada	pelos	interesses	do	poder	eclesiástico?	
Àqueles	que	possuem	uma	tendência	a	suprimi-la	uma	advertên-
cia	se	faz	oportuna:	é	estupidez	tratar	toda	a	Idade	Média	como	
uma	grande	vala	da	história,	ou	acreditar	que	todos	os	pensadores	
do	seu	período	disseram	o	mesmo.
Adiante!	 Vamos	 ver	 como	 dois	 dos	 principais	 filósofos	 da	
Idade	Média	pensaram	a	política.	Embora	suas	teorias	pouco	se-
jam	utilizadas	pelos	filósofos	que	atualmente	se	dedicam	aos	pro-
blemas	da	política	contemporânea,	veremos	como	foram	impor-
tantes	na	história	do	pensamento	ocidental.
Ao	 final	 da	 unidade,	 você	 encontrará	 dois	 textos	 comple-
mentares.	Sugerimos	a	leitura	de	ambos.	
Trata	o	primeiro	texto	de	um	capítulo	retirado	do	livro	A ci-
dade de Deus,	de	Agostinho.	O	filósofo	refere-se	à	ética	enquanto	
condição	e	fundamento	de	uma	cidade	perfeita,	à	busca	do	bem	e	
à	relação	entre	filosofia	e	felicidade.	Notemos	como	Agostinho	se	
utiliza	da	obra	platônica	para	os	seus	próprios	fins,	e	como	a	filo-
sofia	ainda	aparece	atrelada	à	procura	da	felicidade.	
O	 segundo	 texto	 complementar	 reproduz	 um	 trecho	 de	
Suma Teológica	de	Tomás	de	Aquino.	Por	ele,	podemos	visualizar	o	
método	pedagógico	do	filósofo	e	compreender	a	utilidade	das	leis	
humanas	para	organização	do	espaço	coletivo.	Notemos	aí	como	a	
política	já	está	efetivamente	dominada	pelo	jurídico	e	pela	prima-
zia	da	confecção	das	leis.
© Filosofia Política52
5. agOstinhO e a Cidade de deus
A	influência	do	pensamento	de	Agostinho	
não	 pode	 ser	 desmerecida.	 Poucos	 escritores	
marcaram	de	modo	tão	decisivo	a	história	e	a	cul-
tura	de	uma	época.	A	sua	imensa	obra	intitulada	
A cidade de Deus	foi,	durante	um	longo	período,	
durante	séculos,	uma	referência	inescusável	não	
somente	quanto	a	pontos	controversos	da	teo-
logia,	mas,	também,	quanto	à	compreensão	da	
história	universal	e	da	Filosofia	Política.
Agostinho	 preocupa-se	menos	 com	 a	 constituição	 política	
das	cidades	onde	viviam	os	homens	e	mais	com	estabelecer	dis-
tinções	entre	as	realidades	materiais	e	espirituais.	No	prefácio	de	
A cidade de Deus,	capítulo	que	pretende	definir	o	motivo	e	o	ar-
gumento	da	obra,	 lemos	o	anúncio	da	existência	de	uma	cidade	
diversa	da	cidade	fundada	pelos	homens:
A	gloriosíssima	Cidade	de	Deus	–	que	no	presente	decurso	do	tem-
po,	vivendo	da	fé,	faz	sua	peregrinação	no	meio	dos	 ímpios,	que	
agora	espera	a	estabilidade	da	eterna	morada	com	paciência	até	
o	dia	em	que	será	julgada	com	justiça,	e	que	graças	à	sua	santida-
de,	possuirá	então,	por	uma	suprema	vitória,	a	paz	perfeita	–	tal	é,	
Marcelino,	meu	caríssimo	filho,	o	objeto	desta	obra.	
Todos	os	homens	vivem	numa	realidade	temporal	e	terrena,	
mas	há	alguns	que	se	destacam	por	um	vínculo	especial	e	formam	
assim	uma	cidade	eterna	e	celeste.	
Os	homens	que	amam	a	Deus	são	unidos	pelo	amor	que	têm	
por	ele	e	unidos	entre	si	pelo	vínculo	do	mesmo	amor,	indepen-
dentemente	 das	 fronteiras	 criadas	 pelos	 povos	 e	 línguas.	 Assim	
como	os	homens	unidos	pelo	vínculo	civil	se	organizam	em	cida-
des	tendo	em	vista	um	mesmo	bem,	os	bens	necessários	à	vida	e	
a	paz,	os	homens	unidos	pela	busca	de	um	mesmo	bem	superior,	
o	amor	divino	e	a	beatitude,	sejam	eles	do	tempo	presente,	passa-
do	ou	futuro,	formam	uma	cidade	diversa,	cidade	que	receberá	o	
nome	de	Cidade de Deus.	
Figura	 1	 Agostinho de 
Hipona (354-430).	
Claretiano - Centro Universitário
53© U3 - Filosofia Política na Idade Média
Para	melhor	compreender	o	que	quer	dizer	Agostinho	com	a	
expressão	que	dá	o	título	da	obra,	vejamos	alguns	trechos	do	Livro	
XI,	capítulo	I:
Chamamos	Cidade	de	Deus	àquela	de	que	dá	testemunho	a	Escritu-
ra	que,	não	devido	a	movimentos	fortuitos	dos	ânimos,	mas	antes	
devido	a	uma	disposição	da	Suma	Providência,	ultrapassando	pela	
sua	divina	autoridade	todas	as	literaturas	de	todos	os	povos,	aca-
bou	por	subjugar	toda	espécie	de	humanos	engenhosos.	(...)
Com	estes	testemunhos	e	outros	que	tais,	que	seria	longo	citar,	sa-
bemos	que	há	uma	Cidade	de	Deus	da	qual	aspiramos	ser	cidadãos	
movidos	pelo	amor	que	o	seu	fundador	 infundiu	em	nós.	A	este	
fundador	da	cidade	santa	preferem	os	cidadãos	da	Cidade	Terrestre	
os	seus	próprios	deuses	(...).	
Vou	tratar	de	expor	a	origem,	o	desenvolvimento	e	os	fins	destas	
duas	cidades,	a	terrena	e	a	celeste,	que	estão,	como	disse,	interliga-
das	e	de	certo	modo	misturadas	uma	na	outra	no	século	presente.	
A	história	da	humanidade	é	a	história	das	relações	entre	as	
duas	cidades.	Os	grandes	acontecimentos	aparecem	aí	como	fa-
ses	de	um	longo	percurso	conduzido	por	um	plano	de	Deus	com	
vistas	à	plenitude	dos	tempos.	Toda	a	história	é	atravessada	por	
um	mistério	 insondável,	 reflexo	de	uma	atuação	 ininterrupta	da	
Providência	Divina.
Embora	 as	 duas	 cidades	 permaneçam	mescladas,	 há	 uma	
realidade	 espiritual	 que	 as	 distingue.	 Aqueles	 que	 se	 entregam	
ao	amor	divino	vivem	como	eleitos	no	seio	da	sociedade	terrena.	
Segundo	Agostinho,	as	duas	cidades	permanecem	juntas	e	serão	
separadas	e	distintamente	constituídas	no	dia	do	Juízo	Final.
Aqueles	que	pertencem	à	cidade	divina	são	unidos	por	um	
sentimento	que	possui	uma	força	capaz	de	criar	 laços	comunitá-
rios:	o	amor.	Um	amor	dirigido	antes	de	tudo	a	Deus,	expressão	
do	renunciar	ao	egoísmo	que	o	pode	contaminar.	Diz	o	Livro	XIV,	
capítulo	XXVIII,	da	mesma	obra:Dois	amores	fizeram	as	duas	cidades:	o	amor	de	si	até	o	desprezo	
de	Deus	–	a	 terrestre;	o	amor	de	Deus	até	o	desprezo	de	 si	 –	a	
celeste.	
© Filosofia Política54
Os	homens	foram	criados	por	Deus	e	possuem	uma	vital	ca-
pacidade	de	amar.	Os	vícios,	frutos	de	uma	vontade	corrompida,	
são	contrários	à	natureza	boa	do	homem.	Por	 isso,	todos	os	ho-
mens	podem	encontrar	em	si	os	fundamentos	do	amor	e	perten-
cer	à	cidade	celeste.	Para	que	se	tornem	cidadãos	de	uma	cidade	
magistral,	precisam	descobrir	o	amor	que	há	em	si	e	dirigi-lo	para	
a	fonte	do	bem.
Agostinho	sabe,	contudo,	que	as	exigências	do	amor	não	são	
fáceis	de	acolher.	O	amor	dirigido	a	Deus	é	também	o	que	une	os	
homens	no	 século.	Ninguém	pode	utilizar	 o	 amor	 a	Deus	 como	
desculpa	para	negligenciar	a	relação	com	aquele	que	está	ao	seu	
lado	como	membro	de	uma	mesma	comunidade	humana	e,	por	
que	não	dizer,	política.	Amar	a	Deus	é	amar	aos	homens	e	o	Deus	
que	neles	habita.
6. tOmás de aquinO e a pedagOgia da lei divina
Tomás	de	Aquino	quer	basear	sua	Filoso-
fia	Política	em	princípios	de	 legalidade.	Há	di-
versidade	de	leis	e	a	relação	entre	leis	de	natu-
rezas	distintas	deve	estabelecer	os	parâmetros	
da	vida	política	e	social.	
Seguindo	o	rastro	da	metafísica	aristotéli-
ca,	Tomás	de	Aquino	pensará	a	ética	do	homem	
tendo	como	premissa	que	todo	ser	 traz	em	si	
uma	causa	final,	toda	forma	possui	um	apetite	
natural	que	a	direciona	para	determinado	fim.	Observando	os	mo-
vimentos	da	natureza,	o	filósofo	acredita	numa	ordenação	univer-
sal	e	racional:	todo	ser	criado	possui	uma	finalidade.
Tal	acontece	com	o	homem.	O	objeto	necessário	de	sua	von-
tade	é	o	bem.	Todo	homem	deseja	o	bem,	todos	os	homens	são	
iguais	no	desejo	do	fim	último:	a	beatitude.	Há,	porém,	uma	ca-
racterística	humana	que	o	distingue	dos	outros	seres.	O	homem	
Figura	 2	 Tomás de 
Aquino (1225-1274).
Claretiano - Centro Universitário
55© U3 - Filosofia Política na Idade Média
possui	uma	vontade	livre,	podendo	escolher	livremente	os	meios	
que	conduzam	àquele	fim.
Ocorre	que	o	homem,	na	procura	do	bem	que	concretize	seu	
fim	beatífico,	pode	escolher	meios	inadequados.	Sendo	imperfeito,	
o	homem	pode	escolher	voluntariamente	um	mau	caminho	ou	pode	
errar	quanto	à	escolha	do	melhor	caminho,	desviando-o	de	sua	fina-
lidade.	Essa	é	a	dinâmica	da	vida	humana.	Há	vícios	que	corrompem	
tanto	a	inteligibilidade	quanto	a	fidelidade	da	vontade.
Aí	vemos	mais	uma	vez	como	a	confiança	na	razão	marca	a	
história	do	pensamento	ocidental.	Na	dinâmica	da	vida	humana,	a	
virtude	primordial	seria	a	disposição	para	o	agir	conforme	a	razão.	
Pelo	uso	da	razão,	o	homem	chega	ao	caminho	das	virtudes	e	sua	
liberdade,	antes	de	dificultar	o	seu	acesso	à	beatitude,	o	auxilia.	
Inteligência	e	vontade	obedecem	à	reta	finalidade	e	aprendem	das	
três	virtudes	morais	basilares:	justiça,	temperança	e	fortaleza.	Elas	
devem	regular	toda	conduta	humana,	seja	ela	interna	ou	externa.
Como	entender,	então,	o	papel	das	leis	humanas?	Segundo	
Tomás	de	Aquino,	as	leis	cumprem	uma	relevante	função	na	me-
dida	em	que	visam	nortear	a	vida	externa	do	homem	que	vive	em	
comunidade.	 Uma	 comunidade	 sem	 leis	 seria	 uma	 comunidade	
caótica,	fadada	ao	fracasso.	Frutos	da	razão,	as	leis	devem	tornar	a	
terra	habitável.	Tendo	como	finalidade	uma	comunidade	perfeita,	
as	leis	devem	servir	ao	bem	comum:	a	felicidade	e	o	bem-estar	de	
toda	a	 coletividade.	Mas	ainda	que	exista	um	 fundo	 comum	no	
qual	se	apóiem	todas	as	leis,	elas	devem	emanar	de	cada	comuni-
dade	distinta	ou	de	uma	pessoa	que	legitimamente	a	represente.	
Cada	comunidade	possui	características	próprias	que	não	podem	
ser	desprezadas	na	elaboração	das	leis.
Dito	isso,	poderíamos	perguntar:	o	que	vem	a	ser	esse	fundo	
comum	de	toda	lei	humana?	Como	defini-lo?	O	rosto	da	filosofia	
de	Tomás	de	Aquino	 somente	aparecerá	na	 resposta	à	questão:	
sendo	Deus	o	governador	da	primeira	e	maior	das	comunidades,	
há	uma	lei	eterna	da	qual	devem	emanar	todas	as	leis	humanas.	
© Filosofia Política56
Há	uma	lei	eterna	proveniente	de	Deus	e	essa	lei	se	manifes-
ta	na	natureza	humana	de	um	modo	particular.	O	homem,	dota-
do	de	consciência,	participa	da	razão	divina	pelo	que	conhecemos	
como	lei	natural.	Todo	homem	possui	em	si	uma	inscrição	da	lei	
eterna	conhecida	como	lei	natural.
Vejamos	como	a	 tese	aparece	na	Suma Teológica,	Parte	 II,	
Questão	91,	Artigos	1	e	2:
Suposto	que	o	mundo	seja	regido	pela	providência	divina,	como	se	
mostrou	na	Parte	I,	é	manifesto	que	toda	a	comunidade	do	univer-
so	é	governada	pela	razão	divina.	E	assim,	a	própria	razão	do	go-
verno	das	coisas	em	Deus,	como	existindo	no	príncipe	do	universo,	
tem	razão	de	lei.
[...]	Como	acima	foi	dito,	a	 lei,	dado	que	é	regra	e	medida,	pode	
estar	duplamente	em	algo:	de	um	modo,	 como	no	que	 regula	e	
mede,	 de	outro,	 como	no	 regulado	e	medido,	 porque	enquanto	
participa	algo	da	regra	e	medida,	assim	é	regulado	e	medido.	Por	
isso,	como	todas	as	coisas	que	estão	sujeitas	à	providência	divina,	
são	reguladas	e	medidas	pela	lei	eterna,	como	se	evidencia	do	que	
foi	dito,	é	manifesto	que	todas	participam,	de	algum	modo,	da	lei	
eterna,	enquanto	por	impressão	dessa	têm	inclinações	para	os	atos	
e	fins	próprios.	Entre	as	demais,	a	criatura	racional	está	sujeita	à	
providência	divina	de	um	modo	mais	excelente,	enquanto	a	mes-
ma	se	torna	participante	da	providência,	promovendo	a	si	mesma	
e	aos	outros.	Portanto,	nela	mesma	é	participada	a	razão	eterna,	
por	meio	da	qual	tem	a	inclinação	natural	ao	devido	ato	e	fim.	E	tal	
participação	da	lei	eterna	na	criatura	racional	se	chama	lei	natural.	
Todas	as	leis	derivam	de	uma	mesma	fonte:	a	lei	eterna.	As	
leis	humanas	devem,	na	medida	do	possível,	refluir	da	lei	natural	
inscrita	no	coração	do	homem	por	Deus.	Assim	teremos	uma	so-
ciedade	humana	organizada	conforme	o	seu	fim.	Como	lei	natural	
suprema,	temos	aquela	que	determina	simplesmente:	faz	o	bem	
e	evita	o	mal	–	de	uma	regra	assim	constituída	decorre	o	dever	da	
autoconservação	e	da	conservação	da	humanidade.
Quanto	à	necessidade	de	uma	lei	eterna	e	divina,	Tomás	de	
Aquino	conclui	na	sua	Suma Teológica,	Parte	II,	Questão	91,	Artigo	4:
Além	da	lei	natural	e	da	lei	humana,	foi	necessário	para	a	direção	da	
vida	humana	ter	a	lei	divina.	E	isso	por	quatro	razões.	Em	primeiro	
lugar,	porque	pela	lei	é	dirigido	o	homem	aos	atos	próprios	em	or-
dem	ao	fim	último	(...).	
Claretiano - Centro Universitário
57© U3 - Filosofia Política na Idade Média
Em	segundo	lugar,	porque,	em	razão	da	incerteza	do	juízo	humano,	
precipuamente	sobre	as	coisas	contingentes	e	particulares,	aconte-
ceu	haver	a	respeito	dos	diversos	atos	humanos	juízos	diversos,	dos	
quais	também	procedem	leis	diversas	e	contrárias	(...).	
Em	terceiro	lugar,	porque	o	homem	pode	legislar	sobre	aquelas	coi-
sas	das	quais	pode	julgar.	O	juízo	do	homem,	com	efeito,	não	pode	
ser	sobre	movimentos	 interiores,	que	estão	ocultos,	mas	apenas	
sobre	os	atos	exteriores,	que	aparecem	(...).	
Em	quarto	lugar,	como	diz	Agostinho,	a	lei	humana	não	pode	punir	
ou	proibir	todas	as	coisas	que	se	praticam	mal	(...).	
Os	argumentos	do	filósofo	são	claros.	Uma	lei	divina	é	neces-
sária	porque	possui	o	homem	um	fim	último	e	o	seu	fim	excede	a	
sua	potencialidade	humana;	para	que	o	homem	possa	conhecer	com	
segurança	os	melhores	caminhos;	para	que	não	somente	os	atos	ex-
teriores,	mas	os	atos	humanos	interiores	também	sejam	ordenados	
pela	retidão;	porque	não	seria	possível	à	lei	humana	prever	todos	os	
casos	possíveis	de	males	sem	prejudicar	a	prática	de	atos	bons.	
Na	visão	de	Tomás	de	Aquino,	para	que	tenhamos	uma	co-
munidade	política	ideal,	basta	que	os	homens	aprendam	a	escutar	
as	leis	naturais	inscritas	em	sua	razão	e	que	as	leis	humanas	sai-
bam	exaurir	sua	força	da	lei	divina.
7. textOs COmplementares
Texto 1 – Agostinho –––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Cidade de Deus, Livro VIII, capítulo VIII:
Também na filosofia moral os platônicos têm a primazia
Resta a parte moral, a Ética, como se diz emgrego, que trata do Bem 
supremo: a ele referimos tudo o que fazemos; apetecêmo-lo não por ou-
tro, mas por si mesmo, pela sua posse termina toda a busca posterior de 
felicidade. É por isso que também se chama fim porque é para ele que 
queremos os outros bens, mas àquele queremo-lo por si mesmo.
Este bem beatífico, uns dizem que vem ao homem do corpo, outros da 
alma e outros dos dois conjuntamente. Como viam que o homem é forma-
do de corpo e alma, julgavam que quer o corpo, quer a alma, quer os dois 
conjuntamente é que podiam ser a origem do seu bem, dum bem definitivo, 
princípio da felicidade ao qual se reportava tudo o que faziam – e não tive-
ram que buscar outra coisa a que referi-lo.
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Aqueles pois que, diz-se, acrescentaram uma terceira categoria de bens 
chamados extrínsecos, como a honra, a glória, o dinheiro e outros que tais, 
não se propunham de forma alguma fazer deles um bem final, isto é, de-
sejável por si próprio, mas sim um bem desejado na mira de outro; e assim 
este gênero de bens seria bom para os bons e mau para os maus. Desta 
forma este bem do homem que uns exigem da alma, outros do corpo, ou-
tros do corpo e da alma, todos eles pensaram que haveria de procurá-lo 
unicamente no homem. Os que o esperavam do corpo, esperavam-no da 
parte menos nobre; os que o esperavam da alma, esperavam-no da parte 
melhor; os que o esperavam do corpo e da alma conjuntamente, espera-
vam-no do homem todo. Mas quer seja duma parte ou do todo, é apenas 
do homem que o esperam. Estas diferenças, embora sejam três, não de-
ram origem a três, mas a muitos sistemas ou seitas filosóficas – porque 
acerca do bem do corpo, acerca do bem da alma, acerca do bem dos dois 
conjuntamente, diversos filósofos emitiram diversas opiniões.
Cedam, portanto, todos estes filósofos que disseram que feliz não é o ho-
mem que goza do seu corpo, que feliz não é o que goza da sua alma, mas 
feliz é o que goza de Deus – não como o espírito goza do seu corpo ou 
de si próprio, nem como um amigo goza de um amigo, mas como o olhar 
goza da luz (se é que entre estas coisas alguma semelhança pode existir): 
qual seja a sua natureza, ver-se-á em outro lugar na medida em que, com 
a ajuda de Deus, nos for possível. Basta por agora recordar que, segun-
do Platão, o bem supremo consiste em viver conforme a virtude – o que 
só pode ser alcançado por quem tem o conhecimento de Deus e procura 
imitá-lo: não há outra causa que possa torná-lo feliz. Também não hesita 
em dizer que filosofar é amar a Deus, cuja natureza é incorpórea. Donde se 
segue que o desejoso de sabedoria (que o mesmo é que dizer: o filósofo) 
só se torna feliz quando começa a gozar de Deus. Certamente que se não 
é feliz pelo simples fato de que goza do que se ama, (muitos de fato são 
infelizes por amarem o que não deviam amar e mais infelizes ainda por 
dele gozarem). Todavia ninguém é feliz se não goza do que ama. Mesmo 
aqueles que amam o que não deve ser amado não se julgam felizes por 
amarem, mas por gozarem. Portanto, quem goza daquele que ama e ama 
o verdadeiro e supremo bem – quem senão o mais desgraçado negará que 
esse é feliz? A esse verdadeiro e supremo bem dá Platão o nome de Deus. 
Por isso é que diz que o filósofo é o que ama a Deus; e porque a filosofia 
tende para a vida feliz, é gozando de Deus que quem o ama é feliz (1993).
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Texto 2 – Tomás de Aquino ––––––––––––––––––––––––––––
Suma teológica, Parte II, Questão 95, Artigo I:
Foi útil que algumas leis tenham sido impostas pelos homens?
Respondo. Como fica claro pelo que foi dito, está presente no homem, natu-
ralmente, a aptidão para a virtude; ora, é necessário que a própria aptidão da 
virtude sobrevenha ao homem por meio de alguma disciplina. Assim como 
vemos que o homem recorre a alguma indústria em suas necessidades, por 
exemplo, no alimento e no vestir, cujos inícios tem ele por natureza, a saber, 
a razão e as mãos, mas não o próprio complemento, como os demais ani-
mais, aos quais a natureza deu suficientemente cobertura e alimento. Para 
essa disciplina, porém, o homem não se acha por si mesmo suficiente, com 
Claretiano - Centro Universitário
59© U3 - Filosofia Política na Idade Média
facilidade. Porque a perfeição da virtude consiste principalmente em afas-
tar o homem dos prazeres indevidos, aos quais os homens são inclinados 
principalmente e maximamente os jovens em relação aos quais a disciplina 
é mais eficaz. E assim é necessário que os homens obtenham tal disciplina 
por outro, por meio da qual se chega à virtude. E certamente quanto àqueles 
jovens inclinados aos atos da virtude em razão de uma boa disposição da 
natureza, do costume ou, mais ainda, do dom divino, é suficiente a discipli-
na paterna, que se faz mediante os conselhos. Mas, porque se encontram 
alguns imprudentes e inclinados ao vício, os quais não podem ser movidos 
facilmente com palavras, foi necessário que pela força e pelo medo fossem 
coibidos do mal, de modo que, ao menos desistindo assim de fazer o mal, 
aos outros tornassem tranqüila a vida, e os mesmos, por fim, por força de 
tal costume, fossem conduzidos a fazer voluntariamente o que antes cum-
priam por medo, e assim se tornassem virtuosos. Tal disciplina, obrigando 
por medo da pena, é a disciplina das leis. Portanto, foi necessário que as leis 
fossem impostas para a paz dos homens e a virtude (2005). 
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8. questões autOavaliativas
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Como	pensar	o	conceito	de	política	para	Agostinho?
2)	 Como	pensar	o	conceito	de	política	para	Tomás	de	Aquino?
3)	 Qual	a	atualidade	dos	problemas	levantados	pela	Filosofia	Política	medieval?
9. COnsiderações
Nesta	unidade,	trabalhamos	com	a	Filosofia	Política	na	Idade	
Média.	Na	próxima	unidade,	ficaremos	com	a	teoria	do	pacto	social	
e	conheceremos	os	pensamentos	de	Maquiavel,	Hobbes,	Locke	e	
Rousseau	a	respeito	da	política.
10. e-referências
lista de figuras
figura 1	Agostinho de Hipona (354-430).	Disponível	em:	<http://investigacao-filosofica.
blogspot.com.br/2012/01/deus-homem-mundo-em-agostinho-de-hipona.html>.	
Acesso	em:	26	jun.	2012.
© Filosofia Política60
figura 2	 Tomás de Aquino (1225-1274).	 Disponível	 em:	 <http://cesaraugustoliveira.
blogspot.com.br/2012/01/santo-tomas-de-aquino.html>.	Acesso	em:	26	jun.	2012.
11. referências bibliográficas
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AQUINO,	T.	Suma teológica:	a	bem-aventurança,	os	atos	humanos,	as	paixões	da	alma.		
Tradução	de	Aldo	Vannucchi	e	outros.	São	Paulo:	Loyola,	2003.	v.	3.
______.	Suma teológica:	os	hábitos	e	as	virtudes,	os	dons	do	Espírito	Santo,	os	vícios	e	os	
pecados,	a	pedagogia	divina	pela	lei,	a	lei	antiga	e	a	lei	nova,	a	graça.	Tradução	de	Aldo	
Vannucchi	e	outros.	São	Paulo:	Loyola,	2005.	v.	5.
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