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FILOSOFIA POLÍTICA
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Filosofia Política – Prof. Dr. Daniel Arruda Nascimento
Daniel Arruda Nascimento é Bacharel em Direito pela 
Universidade Federal Fluminense, Mestre em Filosofia pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Doutor 
em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas. 
Atualmente, é professor do Mestrado em Ética e Epistemologia 
da Universidade Federal do Piauí, na linha de pesquisa Ética e 
Filosofia Política. De 2007 a 2009, contribuiu para o curso de 
Licenciatura em Filosofia do Centro Universitário Claretiano 
sendo professor convidado, tendo atuado em diversos polos e 
elaborado o material didático de Filosofia Política que ora se 
inicia.
e-mail: danielnascimento@voila.fr
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
FILOSOFIA POLÍTICA
Caderno de Referência de Conteúdo
Daniel Arruda Nascimento
Batatais
Claretiano
2013
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
© Ação Educacional Claretiana, 2011 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
 
 
320.01 N193f
 Nascimento, Daniel Arruda
Filosofia política / Daniel Arruda Nascimento – Batatais, SP : Claretiano, 2013.
116 p.
 ISBN: 978-85-67425-62-7
 
 1. História da Filosofia Política. 2. Conceitos, períodos e representantes da filosofia 
 política. 3. Introdução à discussão e exame das contribuições filosóficas de alguns
 expoentes. 4. Filosofia política na Antiguidade: Platão e Aristóteles. 5. Filosofia política 
 na Idade Média: Agostinho e Tomás de Aquino. 6. Filosofia política e a teoria do pacto 
 social: Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau. 7. Filosofia política na modernidade: 
 Kant e Hegel. 8. Filosofia política contemporânea: Arendt, Foucault e Habermas.
 I. Filosofia política.
 
 
 CDD 320.01
 
 
 
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação 
Aline de Fátima Guedes
Camila Maria Nardi Matos 
Carolina de Andrade Baviera
Cátia Aparecida Ribeiro
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Martins
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza
Patrícia Alves Veronez Montera
Rita Cristina Bartolomeu 
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Simone Rodrigues de Oliveira
Bibliotecária 
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão
Cecília Beatriz Alves Teixeira
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa 
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai 
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi 
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer 
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na 
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do 
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Claretiano - Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
SUMÁRIO
CADERNO DE REfERêNCIA DE CONTEúDO
1 iNTRODUçãO ................................................................................................... 9
2 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO ...................................................................... 11
3 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 24
UNiDADE 1 – iNTRóiTO
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 25
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 25
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 25
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 26
5 EM TORNO DO CONCEiTO DE POLíTiCA ......................................................... 28
6 POLíTiCA E ORGANiZAçãO DO PODER .......................................................... 29
7 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ........................................................................ 33
8 CONSiDERAçÕES .............................................................................................. 34
9 E-REFERêNCiA .................................................................................................. 34
10 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 34
UNiDADE 2 – FiLOSOFiA POLíTiCA NA ANTiGUiDADE
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 35
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 35
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 35
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 36
5 CONCEiTO DE POLíTiCA E ExPERiêNCiA DA DEMOCRACiA .......................... 37
6 PLATãO E A CiDADE JUSTA ............................................................................... 38
7 ARiSTóTELES E O BEM COMUM COMO FiNALiDADE DA ViDA POLíTiCA ... 43
8 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ........................................................................ 46
9 CONSiDERAçÕES .............................................................................................. 47
10 E-REFERêNCiAS ................................................................................................ 47
11 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 47
UNiDADE 3 – FiLOSOFiA POLíTiCA NA iDADE MÉDiA
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 49
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 49
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 49
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 50
5 AGOSTiNHO E A CiDADE DE DEUS .................................................................. 52
6 TOMáS DE AqUiNO E A PEDAGOGiA DA LEi DiViNA .................................... 54
7 TExTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 57
8 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ........................................................................ 59
9 CONSiDERAçÕES .............................................................................................. 59
10 E-REFERêNCiAS ................................................................................................ 59
11 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS .....................................................................60
UNiDADE 4 – FiLOSOFiA POLíTiCA E A TEORiA DO PACTO SOCiAL
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 61
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 61
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 62
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 62
5 NiCOLAU MAqUiAVEL E O ESTADO FORTE .................................................... 65
6 THOMAS HOBBES E O PACTO SOCiAL............................................................. 68
7 JOHN LOCkE E A TEORiA LiBERAL ................................................................... 71
8 JEAN-JACqUES ROUSSEAU E O CONTRATO SOCiAL ...................................... 74
9 TExTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 77
10 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ....................................................................... 79
11 CONSiDERAçÕES ............................................................................................. 79
12 E-REFERêNCiAS ................................................................................................ 80
13 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 80
UNiDADE 5 – FiLOSOFiA POLíTiCA NA MODERNiDADE
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 83
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 83
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 83
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 84
5 iMMANUEL kANT E A PAZ PERPÉTUA ............................................................ 87
6 FRiEDRiCH HEGEL E A REALiZAçãO DA RAZãO UNiVERSAL ......................... 91
7 TExTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 94
8 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ........................................................................ 96
9 CONSiDERAçÕES .............................................................................................. 97
10 E-REFERêNCiAS ................................................................................................ 97
11 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 97
UNiDADE 6 – FiLOSOFiA POLíTiCA CONTEMPORâNEA
1 OBJETiVOS ........................................................................................................ 99
2 CONTEúDOS ..................................................................................................... 99
3 ORiENTAçÕES PARA O ESTUDO DA UNiDADE ............................................... 100
4 iNTRODUçãO à UNiDADE ............................................................................... 100
5 HANNAH ARENDT ............................................................................................ 102
6 MiCHEL FOUCAULT .......................................................................................... 105
7 JüRGEN HABERMAS ........................................................................................ 108
8 TExTOS COMPLEMENTARES ............................................................................ 111
9 qUESTÕES AUTOAVALiATiVAS ........................................................................ 113
10 CONSiDERAçÕES FiNAiS ................................................................................. 113
11 E-REFERêNCiAS ................................................................................................ 114
12 REFERêNCiAS BiBLiOGRáFiCAS ..................................................................... 114
EA
D
CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
Ementa –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
História da Filosofia Política. Conceitos, períodos e representantes da Filosofia 
Política. Introdução à discussão e exame das contribuições filosóficas de alguns 
expoentes. Filosofia Política na Antiguidade: Platão e Aristóteles. Filosofia Polí-
tica na Idade Média: Agostinho e Tomás de Aquino. Filosofia Política e a teoria 
do pacto social: Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau. Filosofia Política na mo-
dernidade: Kant e Hegel. Filosofia Política contemporânea: Arendt, Foucault e 
Habermas. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Prezado aluno, iniciaremos o estudo do Caderno de Referên-
cia de Conteúdo Filosofia Política, que compõe os Cursos de Gra-
duação. No Caderno de Referência de Conteúdos, você encontrará 
as seis unidades básicas que o ajudará a percorrer o longo cami-
nho da história do pensamento político.
Observe que o CRC que se inicia cumpre a sua finalidade de 
ser apenas um instrumento de orientação para que o aluno bus-
© Filosofia Política10
que por si mesmo aprofundar seus conhecimentos. A construção 
de um Caderno de Referência de Conteúdo sobre a história da fi-
losofia política exige um enorme recorte. Se o CRC intitulado Filo-
sofia Política possui como objeto específico de análise a vida em 
comunidade, ela se debruça sobre um objeto que não pode ser 
medido nem no tempo nem no espaço. Por motivos óbvios, seria 
impossível abarcar toda a história do pensamento dedicado à con-
cepção e à organização da vida comum.
Todo sistema filosófico corre o risco de cometer injustiças 
irreparáveis, na medida em que faz escolhas diante de um incon-
tornável. O que você tem nas mãos não é um compêndio universal 
de Filosofia Política, nem muito menos um tratado sobre política. 
Podemos dizer que agora se inicia um CRC "vazado": entre uma 
unidade e outra poderiam ser incluídas muitas outras. Logo, a lei-
tura de cada unidade precisa ser aprofundada com a pesquisa às 
fontes primárias e secundárias. Aprender a desconfiar do que lê, 
mesmo que seja um conteúdo orientador, é tarefa do aluno atento 
e já comprometido com a atitude filosófica fundamental.
As unidades que se seguem estão dispostas de modo a faci-
litar a compreensão da história da Filosofia Política. Apresentamos 
aqui um panorama dos principais representantes do pensamento 
ocidental no que se refere à política e sua investigação filosófica. 
A Unidade 1 traz apenas uma introdução ao estudo. A 
Unidade 2 é dedicada à Filosofia Política na Antiguidade, com 
capítulos referentes a Platão e a Aristóteles. A Unidade 3 aborda 
a Filosofia Política na idade Média e nela reservamos espaço 
para Agostinho e Tomás de Aquino. A Unidade 4 tem como tema 
a relação entre a Filosofia Política e as teorias do pacto social: 
Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau aparecerão aí como os 
autores principais. A Unidade 5 cuida da Filosofia Política na 
modernidade e nela priorizamos os estudos de kant e Hegel. A 
Unidade 6 trata da Filosofia Política contemporânea. Esboçamos, 
nessa última unidade, uma breve apresentação de alguns dos 
Claretiano - Centro Universitário
11© Caderno de Referência de Conteúdo
filósofos mais importantes da nossa atualidade no que diz respeito 
à Filosofia Política: Arendt, Foucault e Habermas.
Tendo em vista a natureza de um conteúdo introdutório, 
atento à finalidade didática capaz de colocá-lo em contato com os 
textos das fontes primordiais, abusamos das citações. Criar essa 
proximidade será vital se quisermos atingir nossos objetivos. Para 
deixar falar os principais representantes da história da Filosofia Po-
lítica, cada pequena unidade aparecerá recheada com textos reti-
rados das obras respectivas. Ao final de cada unidade, a leitura de 
um ou dois textos complementares poderá ser sugerida. 
Bom estudo!
2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO
Abordagem Geral
Prof. Dr. Daniel Arruda Nascimento
Nestetópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-
tudado neste CRC. Aqui, você entrará em contato com os assuntos 
principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportu-
nidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. 
Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conheci-
mento básico necessário a partir do qual você possa construir um 
referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para 
que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com com-
petência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos come-
çar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios 
básicos que fundamentam este CRC.
Uma apresentação prefacial merece ser escrita por alguém 
que tem diante de si uma considerável distância do objeto de es-
tudo do que deve apresentar. Se é certo que a distância não pode 
ser de tal magnitude que impeça o contato cognitivo, parece ser 
também de conhecimento científico geral que o espaço que sepa-
© Filosofia Política12
ra observador e observado evite o embaraço entre os dois, ainda 
que oriente uma influência saliente demais. Mais ou menos como 
dessas coisas que acontecem nas tramas literárias de operação po-
licial, nas quais o detetive se mantém em perseguição em margem 
segura quanto ao suspeito, sem perder o contato visual, tendo de 
preferência o cuidado de interpor entre si e o perseguido tantos 
postes e esquinas quanto forem necessários. Esta apresentação 
que inaugura o caderno que o aluno tem em mãos não é, con-
tudo, inteiramente coerente a si. Ela se afastou do corpo do tex-
to no tempo, no espaço, nas condições fisiológicas e no espírito, 
mas quem a escreve se sente profundamente inserido no olho do 
furacão da política. Temos diante de nós uma segunda versão da 
disciplina de Filosofia Política. 
O que esperar de um caderno de Filosofia Política além de, 
em flagrante duplicação ambivalente da mirada da apresentação 
sobre o corpo do texto, um olhar filosófico lançado sobre a políti-
ca? Ou, no mínimo, de uma narrativa história topicalizada que tra-
ga consigo companheiros de viagem, pontos de vista alimentados 
pela matriz filosófica de fina estampa, outros olhares de membros 
da comunidade humana que ousaram pensar sobre política ou so-
bre o melhor modo de se fazer política? Esperaríamos saber ao fi-
nal o que vem a ser política ou ficaríamos com impressões diversas 
que não chegam a tocar o fundo do tacho? 
Uma concepção bem próxima das origens do que adotou o 
nome de "política" seria aquela segundo a qual política designa 
doutrina da moral e do direito. isto porque as questões atinen-
tes às relações humanas de primeira ordem e aos limites a serem 
impostos ao comportamento de cada um dos envolvidos no con-
vívio humano, tais questões, presentes desde sempre, caíram no 
colo dos humanos. Um homem se apresenta a outro sabendo que 
seus gestos e suas palavras o cativam ou geram desgosto, sabendo 
que atos possuem efeitos como resultado, que ações e reações 
constituirão uma cadeia intrincada sem fim, cujo desenvolvimento 
será de qualquer maneira determinante para o seu próprio futuro 
Claretiano - Centro Universitário
13© Caderno de Referência de Conteúdo
e bem-estar. inclui-se aí toda investigação acerca do que deve ser 
o bem e do que pode ser o bem comum, o bem que pertence a 
todos. Desta cepa pertence a escolha de princípios e valores, cons-
ciente ou não, e, tal como uma necessidade siamesa, a constitui-
ção de regras e a fixação da relevância e do alcance dessas regras.
Outra concepção, também bastante original, vincularia a po-
lítica à arte ou à ciência do bom governo, ou seja, perguntaria pelo 
modo de governar que melhor satisfaz os ideais de uma comuni-
dade humana. Nesta hipótese, não interessa apenas analisar as 
diferentes formas de governo que obtiveram realidade ao longo 
da história, distinguindo-as e avaliando-as segundo critérios de 
nascimento, força, permanência ou legitimidade. Nem mesmo os 
diferentes governantes. interessa inquirir, para além inclusive da 
satisfação dos ideais humanos, se há uma ciência do governo e de 
quais atributos ela se ocupa. A política, então, evolveria saberes: 
saber o que é política, saber conduzir-se nos meios políticos, sa-
ber governar, saber guiar uma comunidade ao seu destino político. 
Político é o governante, políticos são os governados naquilo que 
cooperam com o governante. 
Uma terceira concepção geral e originária expande suas ra-
ízes até as teorias das instituições de organização e direção, mais 
ou menos burocráticas, o que podemos provisoriamente chamar de 
"Estado". Política enquanto teoria do Estado. Aufere-se o que é Es-
tado e por que ele se torna necessário politicamente, quais as suas 
condições de existência, quais os elementos que o compõem, qual o 
melhor tipo de Estado, qual a sua melhor estrutura, quais as circuns-
tâncias históricas que determinam o surgimento de um tipo esta-
tal e quais tipos se adequariam melhor a certas geografias, a certas 
épocas e a certos povos. Recentemente, infere-se se é possível so-
ciedade sem Estado, tal o desgaste sofrido pela palavra, tal o amargo 
paladar que na boca nos restou depois de tantos infortúnios. 
Uma quarta concepção, posterior, identifica política e ciên-
cia da sociedade humana. Recebendo de vez a beca de uma área 
© Filosofia Política14
científica de conhecimento ou de uma disciplina, terá como objeto 
a política, os fatos e fenômenos sociais, compreendendo as suas 
leis de surgimento, sucessão e funcionamento, as suas tendências 
e possibilidades de influência. De modo complementar, engloba 
o estudo das relações intersubjetivas e o seu reflexo no contexto 
maior da comunidade política. Nesse âmbito, todavia, a política, 
ou a Filosofia Política, não estará mais sozinha: ela contará com 
interlocutores da Sociologia, da Psicologia, da Antropologia, da Te-
ologia e do Direito.
Vistas assim de uma visão panorâmica, as diversas concep-
ções gerais de política permitem notar, talvez muito pouco, o que 
implica o jogo da definição de política. Definir o que seja política 
significa, desde cedo, assumir um determinado posicionamento 
sobre as responsabilidades da política. Se assevero que política é 
assunto exclusivamente de governo, posso estar querendo dizer 
com isso que a política não diz respeito a ninguém que não es-
teja efetivamente no exercício de um cargo institucionalizado. Se 
defendo que toda política tem como finalidade necessária o bem 
de todos e a justiça social, posso estar esquecendo o quanto de 
ilusões já nos fizeram perder o caminho da paz. quando Otto von 
Bismarck, um dos líderes nacionais mais destacados do século 19, 
se refere à política como "arte do possível", pode estar insinuando 
tanto que ao representante político cabe lidar com as possibilida-
des que lhe estão à mão quanto que, na política, tudo é possível, 
dependendo da competência do agente político. De qualquer ma-
neira, argumentar a favor da imparcialidade, mesmo científica, é 
pretender guardar pedras em saco furado.
Em nossos dias, os debates que mais concernem à Filoso-
fia Política se estendem desde a preocupação com a definição do 
que é propriamente político em distinção a todo o resto, e com o 
resgate da dignidade da política, às críticas que recaem sobre a 
notória despolitização do cidadão comum, daquele que se ausenta 
do espaço público, refugiando-se nos interesses particulares sem 
consideração aos interesses públicos (ainda que não esteja atento 
Claretiano - Centro Universitário
15© Caderno de Referência de Conteúdo
a quanto de público tem seus interesses privados e quanto a reali-
zação do público interfere na fruição do privado), ou, o que é pior, 
daquele que envereda pela profissionalização política a reboque 
de uma má intenção. Muito resta aos estudantes de Filosofia in-
vestigar.
Cumpre ressaltar, porém, que a discussão sobre o que se in-
sere no âmbito da política e o que está fora de seu campo de ação 
perdeu, por um lado, todaa inocência, se é que alguma ainda a 
possuía, e, por outro, todo apelo de extensão restrita. Os proble-
mas enfrentados hoje pela comunidade política planetária já não 
se referem somente à organização da vida comum. Estamos hoje a 
bordo de um planeta no qual, diante de novos distúrbios naturais 
de grandes proporções e de conquistas tecnológicas nunca vistas, 
uma decisão política precipitada pode ameaçar a vida da espécie 
humana, causando tanto a sua destruição quanto o seu flagelo.
Um último parágrafo introdutório antes de começarmos 
propriamente a estudar os conteúdos: embora tenhamos ficado, 
quase unanimemente, nas páginas que se seguem, com a história 
do pensamento político ocidental, é possível, e até provável, que 
outras obras, de outros pastos, de outras inspirações, literárias e 
artísticas, tenham mais a dizer de política e experiências políticas 
que as que foram consultadas e arroladas à bibliografia. Para dar 
apenas um exemplo, citamos o Ensaio sobre a lucidez de José Sara-
mago. imaginemos que, em uma comunidade política, as pessoas 
manifestassem, através da participação política, que não querem 
mais participar do modo habitual. imaginemos que, em uma de-
mocracia, os eleitores votassem maciçamente em branco, 83% 
dos eleitores votassem em branco, mostrando que não estavam 
contentes com nenhuma das alternativas dadas e impossibilitando 
a escolha de novos representantes. Suponhamos que este tenha 
sido já o resultado final depois da repetição de eleições realizadas 
uma semana antes e canceladas pelo mesmo motivo. Este é o en-
redo do romance. Ele é, por si só, bastante político, ou bastante 
próximo dos temas políticos mais conhecidos. Mas o que nos inte-
© Filosofia Política16
ressa vem agora. Ao chegar ao meio do livro (precisamente ao dé-
cimo primeiro capítulo), o autor tinha que escolher como o levaria 
ao fim. Até então, tudo indicava que ele daria um fim diferente, 
pautado em uma concepção de mundo muito diferente, do ante-
rior Ensaio sobre a cegueira, no qual não esconde sua percepção 
da realidade ao transformar homens, homens e mulheres repen-
tinamente cegas, em novamente animais, entregues sem pudor à 
satisfação da fome, dos instintos de sexo e da agressividade. No 
Ensaio sobre a lucidez, Saramago parece nutrir uma esperança no 
gênero humano desde as primeiras páginas, parece comovido com 
uma nova utopia e o livro parecia destinado a converter-se numa 
parábola da resistência política. A comunidade política criada pelo 
autor respondia às provocações, perseguições e ataques dissimu-
lados dos antigos governantes com tranquilidade, inteligência e 
heroísmo, num ambiente de profunda fé na lucidez humana. O 
leitor encontrava-se com a experiência excepcional de superação 
do egoísmo. Ao chegar ao meio do livro, todavia, perde-se o fio da 
meada. Saramago transverte o seu livro em um suspense policial, 
resgatando a antiga história da cegueira branca, mudando os mo-
dos da narrativa e abandonando a feliz história da resistência da 
cidade. Político é o romance, política é a decisão do autor. Estaria 
ele transmitindo a mensagem de que já havia dito tudo que era 
preciso sobre a experiência de resistência? Ou teria ele chegado à 
conclusão de que a experiência não era possível?
Mesmo uma inscrição aparentemente inofensiva nas paredes 
de uma academia de ginástica podem revelar mensagens de cunho 
político. Vejamos esta que encontrei há pouco: "Nós da Academia x 
estamos aqui para promover um ambiente agradável e descontraí-
do, onde todos possamos desenvolver um estilo de vida ativo e sau-
dável, sem pressão ou constrangimento. Nós somos um meio e não 
um fim. Somos um instrumento para você tornar sua vida melhor. 
Buscamos manter nosso ambiente seguro e estimulante, onde você 
possa se sentir aceito e respeitado. Nós não estamos aqui para te 
bajular, mas podemos te dar um empurrãozinho se for isso que você 
Claretiano - Centro Universitário
17© Caderno de Referência de Conteúdo
precisar. Acreditamos que o mundo não seria o mesmo sem você, 
por isso, precisamos de você. FAçA PARTE!" O texto termina com 
uma expressão imperativa dirigida ao consumidor, como não devia 
deixar de ser. Traz, todavia, em dois movimentos complementares, 
uma intenção bem definida: espera contribuir para a construção de 
um pequeno ambiente, que se comunique com outros ambientes 
maiores, em que as pessoas não se sintam socialmente pressiona-
das a ter um corpo perfeito, segundo o modelo atual, nem se sintam 
constrangidas porque não o possuem ou, fatalmente, nunca virão a 
possuí-lo. A academia tem a intenção, portanto, de contribuir para 
alguma transformação do mundo, cujo estilo de vida ativo e sau-
dável compartilhe uma vida melhor para todos sem discriminação 
(apesar da penúltima frase, um tanto contraditória). Política é a ins-
crição na parede, política é a filosofia da academia. 
Fiquemos, adiante, com nossos companheiros de viagem. De-
pois de uma breve introdução ao estudo, vejamos o que nos têm a 
dizer Platão e Aristóteles, Agostinho e Tomás de Aquino, Maquiavel, 
Hobbes, Locke e Rousseau, kant e Hegel, Arendt, Foucault e Haber-
mas.
Glossário de Conceitos 
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um 
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de 
conhecimento dos temas tratados no CRC Filosofia Política. Veja, 
a seguir, a definição de alguns dos principais conceitos deste CRC 
(elaborados com escólio nos dicionários de política de Bobbio, 
Matteucci e Pasquino e de análise política de Roberts, citados no 
tópico Referências Bibliográficas):
1) Bem comum: princípio operativo da edificação da socie-
dade humana e fim para o qual ela deve se orientar, com 
vistas à obtenção da felicidade para todos.
2) Contratualismo: teoria que pretende explicar a for-
mação e a legitimidade do poder estatal evocando sua 
© Filosofia Política18
instituição por meio de um contrato social, no qual a 
constituição de um soberano ocorre em função da trans-
ferência de direitos associados a um estado de natureza 
logicamente anterior. 
3) Democracia: sistema político baseado nos princípios de 
liberdade, igualdade e autogestão, no qual todo poder 
emana do povo e por ele é exercido, seja diretamente, 
seja através de representantes escolhidos para tal fim.
4) Direito: conjunto harmônico de princípios declaratórios 
de direitos fundamentais e obrigações, normas de condu-
ta e de organização, dotado de heteronomia e coercitivi-
dade, instituído com a finalidade de regular as relações 
sociais, na manutenção da ordem, da paz e da justiça.
5) Estado: organização que compreende extensão territo-
rial, população e governo soberano, cuja coesão é garan-
tida pelo monopólio legítimo da força. 
6) Ética: ciência que estuda o comportamento humano e 
seus valores.
7) filosofia: em termos muito gerais, seria o estudo que 
visa ampliar a compreensão da realidade e dos diferen-
tes sentidos de mundo.
8) Governo: organismo institucional responsável pela ge-
rência de uma comunidade política, no que diz respeito 
à tomada de decisões e condução dos negócios públicos.
9) Guerra: período de conflito armado no qual as leis co-
muns são suspensas e grupos políticos rivais buscam 
atingir objetivos específicos ou impedir que outros os 
atinjam.
10) Igualdade: em termos políticos, a igualdade se diz dos 
que possuem as mesmas características ou necessida-
des pessoais, dos que merecem mesmo tratamento e 
para fins de distribuição de direitos e bens.
11) Justiça: noção ética fundamental, compreendida classi-
camente como o ato de dar a cada um o que é seu, se-
gundo seu grau, habilidade e necessidade. 
12) Liberdade: em termos políticos, refere-se à interação 
entre pessoas, grupos e poderes e à relativa força dos 
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19© Caderno de Referência de Conteúdo
obstáculos que divisam as ações e omissões em socie-
dade.
13) Monarquia: forma de governoem que há um único che-
fe de Estado, cujo título é transmitido hereditariamente 
e cuja atividade envolve funções de governo e, comu-
mente, funções religiosas e simbólicas. 
14) Moral: ética contextualizada no tempo e no espaço, re-
lativa a definições de condutas e hábitos julgados válidos 
para determinada pessoa ou grupo.
15) Paz: situação política de concórdia, tranquilidade públi-
ca e cessação das hostilidades. 
16) Poder: capacidade de agir por si ou de afetar, com ou 
sem o emprego da força, a opinião e o comportamento 
dos outros, envolvendo, no âmbito estrito da política, 
questões de autoridade e de distribuição.
17) Política: processo pelo qual os princípios e objetivos de 
um grupo social são escolhidos, ordenados, executados 
e garantidos, compreendendo atividades de diversos ti-
pos e relevâncias.
18) República: forma de governo de surgimento histórico 
contrário à monarquia, onde o chefe de Estado é esco-
lhido por eleição ou nomeação, geralmente através da 
participação popular.
19) Soberania: poder político que encarna e decide o desti-
no de um povo, vinculado às suas instituições de coman-
do e oponível contra todos os outros.
Esquema dos Conceitos-chave 
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais 
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um 
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você 
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o 
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o 
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas 
próprias percepções. 
© Filosofia Política20
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais 
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você 
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de 
ensino. 
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em 
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem. 
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem 
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure 
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais 
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos 
devem ser potencialmente significativos para os alunos e as alu-
nas, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes 
estruturas cognitivas, outros serão também relembrados. 
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você 
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por 
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas 
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
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21© Caderno de Referência de Conteúdo
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com 
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do 
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Filosofia 
Política. 
© Filosofia Política22
Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como 
dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, citados no glossário anterior. Ao segui-lo, 
será possível transitar entre os principais conceitos deste CRC e 
descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-
-aprendizagem. Por exemplo, o conceito de política depende de 
como a filosofia age sobre o seu objeto de estudo e do modo como 
antes foi afetada pelos conceitos de ética, moral e direito. Outro 
exemplo: os conceitos república, democracia e contratualismo, 
decorrentes da evolução do conceito de poder, majorado pela in-
cidência da filosofia sobre a política, desembocam em teorias que 
precisam definir e compatibilizar liberdade e igualdade. 
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de 
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente 
virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles 
relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen-
cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se 
da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. 
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser 
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. 
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como re-
lacioná-las com a prática do ensino de Filosofia pode ser uma forma 
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de 
questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando 
para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma 
maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir 
uma formação sólida para a sua prática profissional. 
As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-
ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por 
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos 
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23© Caderno de Referência de Conteúdo
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, 
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, 
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. 
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus 
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no 
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos do CRC, pois relacionar aquilo que está no campo visual 
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. 
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. 
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas 
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem 
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se 
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a 
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, 
uma capacidade que nos impele à maturidade. 
Você, como aluno ou aluna dos Cursos de Graduação na mo-
dalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e con-
sistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, 
do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. 
© Filosofia Política24Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as ativi-
dades nas datas estipuladas. 
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu 
caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser 
utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta 
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. 
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
este CRC, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para 
ajudar você. 
3. REfERêNCIAS BIBLIOGRÁfICAS 
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo: Martins 
Fontes, 2007. 
BOBBiO, N., MATTEUCCi, N.; PASqUiNO, G. Dicionário de política. Tradução de Carmen C. 
Varrialle et al. Brasília: Ed. da UNB, 1991.
DELACAMPAGNE, C. A filosofia política hoje: idéias, debates, questões. Tradução de Lucy 
Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
ROBERTS, G. k. Dicionário de análise política. Tradução de Leônidas Gontijo de Carvalho. 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
SARAMAGO, J. Ensaio sobre a lucidez. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
1
EA
D
Intróito
1. OBJETIVOS
• Compreender o contexto da Filosofia Política.
• Ambientar-se nas discussões que envolvem a disciplina.
2. CONTEúDOS
• Em torno do conceito de política.
• Política e organização do poder.
• Uma folha antiga.
• Glosa.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
© Filosofia Política26
1) Lembre-se de que há muitos conceitos possíveis para 
a palavra política. As questões autoavaliativas que se-
guem ao final das unidades são abertas e têm a preten-
são de ajudá-lo na compreensão das polissemias aqui 
presentes.
2) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli-
citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de 
Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades 
deste CRC. isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu 
desempenho.
3) Lembre-se de que, embora o ato de aprender seja soli-
tário, a interação com os seus colegas pode ser de fun-
damental importância para a troca de informações, para 
a familiarização com a linguagem filosófica pertinente e 
com o método filosófico argumentativo.
4) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am-
plie seus horizontes teóricos, cotejando-os com o mate-
rial didático apresentado.
5) Antes de iniciar os estudos de cada unidade, pode ser 
interessante conhecer um pouco dos dados históricos 
da época e da bibliografia dos pensadores em questão. 
Ainda que sites de caráter genérico, tais como os enci-
clopédicos, estejam muito aquém de suas necessidades, 
eles podem auxiliar neste aspecto. 
4. INTRODUÇÃO à UNIDADE
Por que estudar Filosofia Política?
qual a relação que existe entre política e Filosofia?
Nada escapa à reflexão filosófica. Se a Filosofia for apenas 
uma intensidade ou ritmo do pensamento, seu campo de abran-
gência não pode ser limitado pela definição de um objeto específi-
co. Coisas como desigualdade e poluição, taxas de juros e potência 
dos motores de veículos são também objetos da reflexão filosófi-
ca. A política, como parte relevante da constituição do mundo em 
que vivemos, não poderia ficar excluída do olhar crítico do filósofo. 
Claretiano - Centro Universitário
27© U1 - Intróito
Além disso, quando a Filosofia reflete sobre o exercício da 
política, reflete sobre as próprias condições do filosofar. Ainda que 
alguns filósofos tenham escrito importantes obras em situações 
extremamente adversas, como é o caso de Franz Rosenzweig ou 
Walter Benjamin, persiste como condição primaz do pensamento 
o ócio criativo.
Mesmo o nascimento da Filosofia na Grécia Antiga não pa-
rece estar isolado da prosperidade política e econômica das cida-
des gregas a partir do século 7º a.C. O surgimento de uma robusta 
classe comerciante e o crescimento no uso da força de trabalho es-
cravo auxiliam na liberação da aristocracia agrária para a contem-
plação, para o investimento nas ciências e nas artes. Além disso, ao 
lado das novidades trazidas pelas navegações e de novos métodos 
de medição do tempo, do espaço e das riquezas, um fator determi-
nante para o nascimento da filosofia helênica teria sido justamen-
te o aparecimento da Cidade-Estado e a consequente substituição 
de certas figuras e instituições da tradição mitológica. A Filosofia 
nasce num ambiente político de fértil diálogo, forjado pelo exercí-
cio do pensamento e pela troca de opiniões. 
Tratar a política como se fosse um objeto estranho à Filosofia 
seria, então, no mínimo arbitrário. A Filosofia não se deixa domi-
nar nem por uma área do conhecimento nem por grupos que se 
pretendem titulares do filosofar. 
à filosofia encastelada também se aplica a advertência atri-
buída a Bertolt Brecht, num pequeno texto que espanta pela sua 
simplicidade e clareza. O texto chama-se O analfabeto político:
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, 
nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o 
custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, 
do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O anal-
fabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo 
que odeia a política. Não sabe que da sua ignorância política nasce 
a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos 
que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e os exploradores do 
povo (LiGóRiO, 2012). 
© Filosofia Política28
Vamos enfrentar o desafio de estudar e refletir sobre a po-
lítica!
5. EM TORNO DO CONCEITO DE POLíTICA
O que vem a ser política?
A política é uma referência permanente em todas as dimensões do 
nosso cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida 
em sociedade. 
[...] A política surge junto com a própria história, com o dinamismo 
de uma realidade em constante transformação que continuamente 
se revela insuficiente e insatisfatória e que não é fruto do acaso, 
mas resulta da atividade dos próprios homens vivendo em socie-
dade. 
[...] Entre o voto e a força das armas está uma gama variada de 
formas de ação desenvolvidas historicamente visando resolver con-
flitos de interesses, configurando assim a atividade política em sua 
questão fundamental: sua relação com o poder (MAAR, 1994, p. 
7-9). 
Por ser a política o resultado de uma construção histórica 
dinâmica, ao definir um significado geral para embrutecer o seu 
conceito, corre-se o risco de fazer tábula rasa das figuras distintas 
que se apresentam na sua gênese. Podemos, não obstante, en-
tender a política simplesmente como meio de organização da vida 
comunitária, e como tal ela poderia levar uma conotação genérica 
ou específica de um determinado grupo já inserido no conjunto do 
corpo social, no tempo e no espaço.
A política exige a sabedoria de dosar e coordenar os inte-
resses individuais e coletivos para tornar possível a vida comum; 
exige a análise meticulosa da realidade que cerca os viventes e a 
esperança de modificá-la, requisita a intervenção propositiva, cria-
tiva e ativa.
Um sentido mais rasteiro e sensibilizado com o que há de vis-
ceral na superfície da terra permite compreender a política como 
via para a realização humana. Todos nós participamos da política 
ainda que não o façamos no modo do engajamento voluntário.Claretiano - Centro Universitário
29© U1 - Intróito
6. POLíTICA E ORGANIZAÇÃO DO PODER
Está para nascer uma comunidade sem organização política, 
sem um mínimo de determinação das modalidades de poder. Mes-
mo o mais acalorado dos intelectuais com tendências anarquistas 
há de convir que não existe, nem nunca existiu, comunidade que 
não possuísse governo ou pelo menos alguma forma de organiza-
ção do poder. 
Desde que o homem vive em comunidade, desde que se re-
laciona e convive com outros homens dentro de um mesmo espa-
ço público, latente se torna a definição do exercício de liderança 
e do poder de decidir. Seja o processo de escolha consciente ou 
não, sejam quais forem os critérios de escolha (força física, grau 
de sabedoria, inteligência, origem familiar, antiguidade, motivação 
religiosa, contagem de votos etc.), a própria existência da comu-
nidade acarreta a necessidade de eleição. às vezes, toda a coisa 
acontece de forma muito sutil. quando se vive em comunidade, 
alguma instituição precisa estar disponível para escutar os demais, 
aglutinar desejos e ideias, construir uma visão de conjunto, tomar 
decisões, incentivar mudanças de atitude. 
Ao longo da história da humanidade, algumas tentativas 
foram feitas. Algumas obtiveram maior sucesso, outras amarga-
ram um prematuro fracasso. De todas as tentativas, a expressão 
da organização do poder mais próxima a nós é sem dúvida o Es-
tado Moderno, surgido como estrutura conceitual no século 16, 
sobrevivente quase que incólume até os dias atuais. O Estado re-
siste às mudanças do tempo – continua a ser o principal modo de 
organização das sociedades, embora diferentes épocas da história 
tenham lhe emprestado diferentes rostos.
Todavia, não vamos nos adiantar. Precisamos antes percor-
rer a história do pensamento para lá colher contribuições que per-
mitam visualizar o conjunto de uma Filosofia Política. 
© Filosofia Política30
Ainda como elemento de introdução, sugerimos a leitura de 
um pequeno conto de Franz kafka e da glosa que a ele se segue. 
Ambos aparecem aqui com a dupla intenção de provocar e mo-
tivar uma reflexão preliminar sobre o objeto de nosso estudo. O 
conto, intitulado Uma folha antiga, integra o corpo de Um médico 
rural: pequenas narrativas, livro publicado pelo autor em 1919, 
numa época de intensos conflitos e desamparo político, e narra a 
história de um sapateiro inserido no miolo de uma situação políti-
ca dramática. 
Uma folha antiga ––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 
É como se muita coisa tivesse sido negligenciada na defesa da nossa pátria. 
Até então não havíamos nos importado com isso, entregues como estávamos 
ao nosso trabalho; mas os acontecimentos dos últimos tempos nos causam pre-
ocupações.
Tenho uma oficina de sapateiro na praça em frente ao palácio imperial. Mal abro 
a porta no crepúsculo da manhã e já vejo ocupado por homens armados as en-
tradas de todas as ruas que confluem para cá. Mas não são soldados nossos e 
sim nômades vindos evidentemente do norte. De uma maneira incompreensível 
para mim eles penetraram até a capital, que, no entanto, fica muito distante da 
fronteira. Seja como for já estão aí; parece que a cada manhã se tornam mais 
numerosos.
Seguindo sua natureza eles acampam a céu aberto, pois abominam as casas. 
Ocupam-se em afiar as espadas, aguçam as lanças e praticam exercícios a ca-
valo. Fizeram desta praça tranqüila, mantida sempre escrupulosamente limpa, 
uma autêntica estrebaria. É verdade que nós tentamos às vezes sair às pressas 
das nossas lojas para retirar pelo menos o grosso da sujeira, mas isso ocorre 
com uma freqüência cada vez menor, pois o esforço é inútil e, além disso, corre-
mos o perigo de cair sob as patas dos cavalos selvagens e de ser feridos pelos 
chicotes. 
Com os nômades não se pode falar. Eles não conhecem a nossa língua, na 
realidade quase não têm um idioma próprio. Entendem-se entre si de um modo 
semelhante ao de gralhas. Para eles nossa maneira de viver, nossas institui-
ções são tão incompreensíveis quanto indiferentes. Conseqüentemente recusam 
qualquer linguagem de sinais. Você pode deslocar as mandíbulas e destroncar 
as mãos que eles não o compreendem nem nunca irão compreender. Muitas ve-
zes fazem caretas; mostram então o branco dos olhos e a baba cresce na boca, 
mas com isso não querem dizer alguma coisa nem assustar ninguém; fazem-no 
porque é essa a sua maneira de ser. Aquilo de que precisam eles pegam. Não se 
pode afirmar que empreguem a violência. Ante a sua intervenção as pessoas se 
põem de lado e deixam tudo para eles.
Também das minhas provisões eles levaram uma boa parte. Mas não posso me 
queixar quando vejo, por exemplo, o que acontece ao açougueiro em frente. Mal 
ele traz as suas mercadorias, tudo já lhe foi tirado e engolido pelos nômades. Os 
cavalos deles também comem carne; muitas vezes um cavaleiro fica ao lado do 
Claretiano - Centro Universitário
31© U1 - Intróito
seu cavalo e os dois se alimentam da mesma posta de carne, cada qual por uma 
extremidade. O açougueiro é medroso e não ousa acabar com o fornecimento. 
Mas nós entendemos o que se passa, recolhemos dinheiro e o ajudamos. Se os 
nômades não recebessem carne, quem é que sabe o que lhes ocorreria fazer? 
De qualquer maneira quem é que sabe o que lhes vai ocorrer, ainda que recebam 
carne diariamente?
Não faz muito o açougueiro pensou que podia ao menos se poupar do esforço do 
abate e uma manhã trouxe um boi vivo. Isso não deve se repetir. Fiquei bem uma 
hora estendido no fundo da oficina com todas as roupas, cobertas e almofadas 
empilhadas em cima de mim para não ouvir os mugidos do boi que os nômades 
atacavam de todos os lados para arrancar com os dentes pedaços de sua carne 
quente. Quando me atrevi a sair já fazia silêncio há muito tempo; como bêbados 
em torno de um barril de vinho, eles estavam deitados mortos de cansaço em 
torno dos restos do boi.
Justamente nessa época acreditei ter visto o imperador em pessoa numa janela 
do palácio; em geral ele nunca vem a esses aposentos externos, vive sempre 
no mais interno dos jardins; mas desta vez, pelo menos assim me pareceu, ele 
estava em pé junto a uma das janelas olhando de cabeça baixa o movimento 
diante do seu castelo. 
– O que irá acontecer? – todos nós nos perguntamos. – Quanto tempo vamos 
suportar esse peso e tormento? O palácio imperial atraiu os nômades mas não 
é capaz de expulsá-los. Os portões permanecem fechados; a guarda, que antes 
entrava e saía marchando festivamente, mantém-se atrás de janelas gradeadas. 
A nós, artesãos e comerciantes, foi confiada a salvação da pátria; mas não esta-
mos à altura de uma tarefa dessas, nem jamais nos vangloriamos de estar. É um 
equívoco e por causa dele vamos nos arruinar (KAFKA, 1999, p. 24-26). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Glosa
O pequeno conto transcrito, um exemplar típico do universo 
de kafka, apresenta a situação fictícia protótipo da situação real. 
Se pudéssemos distender o arquivo da história de modo a deixar 
sobressair os gritos não ouvidos, as vozes roucas e abafadas, ve-
rificaríamos sem muito esforço que ao longo dos séculos muitos 
oprimidos repetiram a pergunta final do conto do escritor tcheco: 
"até quando vamos suportar?". 
O narrador de Uma folha antiga vive o cotidiano de uma ci-
dade dominada por gente estrangeira, desconhecida, despropor-
cional. Não que isso fosse de se notar a princípio. O trabalho co-
tidiano dos moradores da cidade deve seguir o seu ritmo normal, 
não há dúvida quanto a isso. O incômodo somente toma corpo 
quando já não é mais possível ignorar a invasão dada a sujeira e o 
© Filosofia Política32
cheiro da praça principal cheia de estrume. Fossem os estrangeiros 
pouco mais discretos, talvez nem fossem notados. Mas o estarda-
lhaço dos cavalos a galope unido ao alvoroço de seus cavaleiros, 
que afiam espadas e bradam chicotes, não deixa passar desperce-
bida a presença infortuna. 
Logo de início, o conto deixa entrever a distância que se in-
terpõeentre os moradores da cidade e o novo governo instaurado 
pelos nômades. impossível qualquer comunicação ou mesmo con-
tato. impossível resistir à sua força. A experiência tem demonstra-
do que nesses casos o melhor a se fazer é aceitar o mais rápido a 
nova situação, sem perder tempo com perguntas inúteis, sem se 
deixar levar por sentimentos arredios, e procurar se adaptar ao 
novo estilo de vida. questões e pulsões, de fato, só resultam em 
depressão ou castigo, desperdício que é melhor evitar. A gente 
aguenta, a vida ainda vale a pena.
O conto traz à tona uma relação de poder capilar em que do-
minação e opressão reclinam virgens em lados opostos. No novo 
ambiente da cidade, nenhuma organização política tem lugar. Uma 
única tentativa tem em vista ajudar um morador que possui ainda 
maior má sorte. A situação do açougueiro comove, provoca a mo-
bilização dos demais comerciantes da praça, mas se obtém desta-
que a sua desgraça, isso ocorre por efeito de uma função didática: 
demonstrar que a situação de um morador da cidade pode sempre 
piorar. Em todo caso, uma ajudinha sempre é bem-vinda, espe-
cialmente se colaborar com o fornecimento de carne e com a paz 
social.
Os nômades comem carne. Os cavalos também. Comem no 
mesmo prato, dividindo às vezes uma mesma posta de carne viva 
ou morta. isto não pode ser ignorado. quem devora um boi vivo 
por que não iria comer um morador desavisado que atravessasse 
a praça no momento errado? Aproximar-se de alguém que pode 
assim engolir assusta até aos mais destemidos. Chicotes e patas 
de cavalo exercem o fascínio que mantém a distância, mas nem 
sempre os instrumentos de poder são tão visíveis. Ameaça e as-
Claretiano - Centro Universitário
33© U1 - Intróito
sédio moral assustam as almas mais sensíveis e se encaixam como 
peças acessórias e móveis nos radicais livres das estruturas que 
engrossam o poder. quem ousaria desafiar os estrangeiros? quem 
ousaria levantar a voz? Escutariam, os nômades, algum conselho, 
pessoas simples, um açougueiro, um sapateiro, um lixeiro? Aí cabe 
só um tipo de política manca: resignação.
Se os estrangeiros, todavia, quiserem se perpetuar no gover-
no da cidade por um período longo de tempo devem ser mais es-
pertos e aprender a falar a língua do povo, de modo a discursarem 
e convencerem que o seu domínio é necessário. Não custa nada 
lembrar a lição de Hobbes: mesmo os mais fortes podem sucumbir 
diante dos mais fracos se estes são capazes de atacar os primei-
ros num momento de desatenção ou fragilidade (Leviatã, Primeira 
Parte, capítulos xiii e xiV). A garantia de conservação do poder de-
pende da sagacidade dos nômades, que devem até chegar ao cú-
mulo de incentivar a participação popular nos negócios públicos, 
quiçá através do sufrágio. Assim, os moradores se sentirão úteis e 
reconhecerão na dominação o reflexo de sua vontade soberana. 
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar 
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta 
unidade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para 
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em 
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-
dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que 
você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-
cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma 
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-
bertas com os seus colegas.
© Filosofia Política34
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu 
desempenho no estudo desta unidade:
1) O que é política?
2) qual a diferença entre política e politicagem?
8. CONSIDERAÇÕES
Procuramos, nesta unidade, introduzir nosso tema. Na pró-
xima unidade, ficaremos com a Filosofia Política na Antiguidade. 
Conheceremos os pensamentos de Sócrates, Platão e Aristóteles a 
respeito da política.
9. e-referênCia
LiGóRiO, S. Eleição é coisa séria. Disponível em: <http://www.vidaempoesia.com.br/
linguagemeleicao.htm>. Acesso em: 28 mar. 2012.
10. REfERêNCIAS BIBLIOGRÁfICAS
CHAUí, M. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002.
CORBiSiER, R. Filosofia política e liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
DALLARi, D. A. O que é participação política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
kAFkA, F. Um médico rural: pequenas narrativas. Tradução de Modesto Carone. São 
Paulo: Companhia das Letras, 1999.
MAAR, W. L. O que é política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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