Buscar

Aula 3 - Texto Geografia Politica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GEOGRAFIA POLÍTICA 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Graziele Silotto 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula, falaremos sobre uma forma peculiar de exercício do poder por 
meio dos Estados, vinculada à ideia de Estados reivindicando soberania sobre 
territórios: o fenômeno do imperialismo, frequentemente usado como sinônimo 
de imperialismo econômico. Veremos como as interpretações sobre o fenômeno 
foram mudando ao longo do tempo. O objetivo é apresentar a você, aluno, como 
essas interpretações foram mudando ao longo do tempo, e quais as respostas 
que a ciência política e a teoria política têm a oferecer hoje sobre o imperialismo 
e o pós-imperialismo. 
TEMA 1 – O CAMPO DE ESTUDOS SOBRE O IMPERIALISMO 
Frequentemente, quando falamos de imperialismo, a primeira questão 
que nos vêm à cabeça é a divisão de grandes continentes feita por militares e 
governantes de países ricos. Imagens da “partilha” com esquadros, ou bolos 
sendo cortados, além da negociação de personagens militares sobre quem ficará 
com qual parte de cada país – no geral países pobres – são populares em livros 
escolares, e também, no imaginário da opinião pública quando se traz o termo 
ao debate. 
Além disso, associamos o termo, claro, às tenebrosas imagens dos 
horrores imperialistas. Na série History of Britain, da emissora de televisão 
britânica BBC, narrada e escrita pelo historiador Simon Schama, há quase um 
episódio inteiro dedicado aos horrores causados pela dominação do império 
britânico na Índia. Estima-se que a fome causada pelas políticas do Raj Britânico 
em meados de 1870 causaram a morte de mais de 10 milhões de indianos (Sen, 
1999). A associação, no caso, não acontece sem justificativa. 
 
 
 
3 
Figura 1 – Vítimas da fome na Índia, 1877 
 
Crédito: Volgi Archive/Alamy/Fotoarena. 
Mas o termo, que é relativamente recente, nem sempre teve conotação 
negativa. Primeiramente era utilizado para caracterizar políticas francesas 
adotadas por Luís Napoleão, entre 1852 e 1870 (Koebner; Schmidt, 1964). E, 
pouco tempo depois, para descrever a política externa de Benjamin Disraeli, 
primeiro ministro britânico, e seu ministro das relações exteriores, o Marquês de 
Salisbury (1874-1880), que estabeleceu governo e controle britânico sobre 
Cabul1, além da manutenção violenta da dominância política britânica sobre 
Estados da África. 
Nesse último caso, inclusive, o termo era empregado tanto como uma 
estratégia para evitar a secessão das colônias dos Estados independentes, 
quanto para explicar a atitude expansionista sobre os países pobres, “não 
civilizados”, da África, indo em direção ao Pacífico. Por promoverem a partilha 
da África e incentivarem o uso de recursos britânicos para a empreitada, Disraeli 
e Salisbury eram considerados políticos imperialistas, portanto. 
William E. Gladstone, principal nome da oposição ao governo de Disraeli, 
era, naturalmente, também o principal político anti-imperialista do Reino Unido. 
Mas não pelo motivo que imaginaríamos hoje. Longe de ser contrário às 
investidas imperialistas, Gladstone, como bom político de oposição, na verdade 
 
1 Resultado da vitória do país na segunda guerra Anglo-Afegã (1878-1880). 
 
 
4 
desprezava o “desperdício de dinheiro com a dominação britânica de territórios 
de pouca importância” (Fieldhouse, 1961, p. 188). Ou seja, ele se opunha à 
forma pela qual os conservadores Disraeli e Salisbury conduziam a questão. 
O anti-imperialista, então, não era aquele que se opunha à dominação 
imperialista, mas da forma pela qual ela era conduzida: a altos custos. Esses 
custos elevados da manutenção desse tipo de política (tanto em termos militares 
quanto burocráticos), entretanto, acenderam a faísca da desconfiança sobre 
quais eram os verdadeiros intuitos da investida imperialista britânica. A 
justificativa de “manter a grandeza do império britânico” perdeu espaço para as 
dúvidas sobre se os recursos públicos ingleses não estavam sendo, na verdade, 
usados para alimentar interesses financeiros de acumulação de recursos. 
Ao passo que essas dúvidas cresciam na opinião pública, floresciam 
também em fins do século XIX e início do século XX, as interpretações teóricas 
e econômicas ligadas ao marxismo. A saliência do débito imperialista despertou 
os ânimos no Quinto Congresso da Internacional Comunista, em 1900. O debate 
dá origem ao livro seminal do economista inglês J.A. Hobson em 1902, do qual 
falaremos adiante. 
1.1 O imperialismo de Hobson 
Influenciado pelos ânimos aflorados sobre o assunto, o Imperialismo – Um 
estudo (1902), escrito por Hobson, talvez seja o principal responsável pela 
conotação que o termo imperialismo tem para nós até hoje: uma política de 
expansão de mercados territoriais com vistas a obtenção de lucros. 
O imperialismo seria, na perspectiva do autor, um misto de orgulho 
nacional (sobre “a grandeza do Império”) para a opinião pública, que remontava 
o período colonialista, e o reflexo das necessidades de expansão de mercados 
do sistema capitalista. Para Hobson o ímpeto das empreitadas imperialistas era 
baseado nas pressões que capitalistas exerciam sobre governos para dar vazão 
ao suposto excesso da produção. 
Esse excedente era resultante dos avanços e desenvolvimentos da 
indústria (Hobson, 1902, p. 91). Com mais e melhor tecnologia, produzir se 
tornava mais barato e mais eficiente. Essa rapidez gerava um excedente que o 
mercado não dava conta de absorver – sobretudo considerando os baixos 
salários pagos aos trabalhadores frente aos lucros não vindos do trabalho. 
 
 
5 
Essa era a teoria de subconsumo de Hobson. A resposta podia vir de duas 
maneiras: aumentar o poder de compra dos trabalhadores (e diminuir 
desigualdades), ou sair em busca de novos mercados. A escolha do império 
britânico nós sabemos qual foi. Para Hobson, ela foi uma resposta a uma 
necessidade de mercado, sendo a política por trás dela um mero epifenômeno 
da esfera econômica. 
A teoria proposta por Hobson, por mais convincente que pareça à 
princípio, tem muitos pontos fracos. Tão convencido de sua própria explicação, 
o autor se permitiu ser pouco rigoroso em relação às evidências. Se, por um 
lado, afirmava que o imperialismo era a ação de capitalistas que tinham como 
intuito dar vazão ao excedente da produção e maximizar seus lucros, por outro 
tinha que lidar com o fato de que os “agentes” do imperialismo eram, eles 
mesmos, pessoas comuns: engenheiros, exploradores, missionários. Não os 
grandes empresários do restrito mundo industrial da época. A saída de Hobson 
foi apelar para a corrupção moral de todos os comuns: eram nada mais que 
fantoches, manipulados pelo sistema econômico (Hobson, 1902, p. 159), 
afirmava o autor. 
Além disso, os dados utilizados para evidenciar seu ponto, sabemos, têm 
muitos problemas. O autor mobiliza dados agregados e pouco informativos para 
fazer seus argumentos. Na crítica de Fieldhouse (1961, p. 190): “convencido da 
verdade sobre a sua teoria econômica [do subconsumo], ele ‘enganou seus 
olhos com um jogo de mãos2’, criando a ilusão de que dos dois conjuntos de 
dados que exibia, um era a causa do outro”. 
A solução proposta pelo autor era de que se o excedente não existisse, 
fosse ele distribuído na forma de maiores salários, de forma que trabalhadores 
tivessem renda para consumir a produção, o imperialismo cessaria quase que 
de forma automática. Hobson apostava, assim, numa proposta reformista para 
resolver o imbróglio: sindicatos socialistas deveriam se fortalecer e, junto a 
políticas estatais antitrustes e de livre mercado, a ordem econômica seria 
reordenada. 
Minando as bases econômicas do sistema, o imperialismo desapareceria 
porque, para o autor, não havia nenhuma possibilidade de coexistência entre um 
sistema imperialista e uma democracia socialista redistributiva (Nowell, 1999, 
 
2 A metáfora é a de um mágico, cujo trabalho é, justamente,enganar os olhos dos expectadores 
fazendo um truque com suas próprias mãos. 
 
 
6 
p. 91). E, como os custos de manter o império além-mar eram grandes, Hobson 
apostava que a balança de custo-benefício tornaria evidente que se tratava de 
um mau negócio. 
Ora, se era um mau negócio, por que grandes impérios resistiram por 
tanto tempo? “A única resposta possível era que os interesses econômicos da 
nação como um todo eram completamente subordinados aos interesses de um 
determinado setor. A forma mais comum de uma doença em um governo”, 
apontava Hobson (1902, p. 46), reforçando como o problema econômico se 
entrelaçava com o político. 
Longe de ser uma voz uníssona, Hobson inaugura uma agenda sobre o 
imperialismo. Seu trabalho é o chute inicial de uma série de propostas e 
argumentos que, como veremos adiante, é tanto tomada por vieses políticos, 
quanto por problemas frente às evidências empíricas e constatações perante a 
história. 
1.2 Rosa Luxemburgo 
Uma noção ainda persistente (por exemplo, em Harvey, 2003) sobre o 
imperialismo é a caracterização do capitalista como aquele que domina um 
“outro” não capitalista. Essa noção é central no trabalho de Rosa Luxemburgo 
(Luxemburg, 2003), para quem essa seria a base do processo de acumulação 
do capital: faz parte do processo de acumulação de capital a dominância de um 
sobre o outro. Nesse contexto, o imperialismo é – como em Hobson – uma 
consequência necessária do desenvolvimento capitalista, uma força empregada 
como arma de expansão do sistema econômico. O imperialismo, nesse contexto, 
é a expressão clara da política de acumulação da forma competitiva de 
capitalismo. 
A acumulação, para Luxemburgo, só era possível num sistema não 
plenamente capitalista, porque se baseia na venda e exploração de estratos não 
capitalistas. Essa exploração acontecia de forma violenta, em que um capitalista 
domina “o outro”, não capitalista. 
Como Hobson, Luxemburgo via na ação humana o possível fim dos 
horrores imperialistas. Mas, mais radical que seu antecessor, acreditava apenas 
que a revolução socialista era capaz de se apresentar como saída. A escolha, 
segundo ela, era entre “o triunfo do imperialismo e a destruição de toda cultura 
e, como na Roma antiga, o despovoamento, desolação, a degeneração e um 
 
 
7 
vasto cemitério; ou a vitória do socialismo, isto é, a luta consciente do 
proletariado internacional contra o imperialismo, contra seus métodos e contra a 
guerra” (Luxemburgo, 1916, p. 269). Veremos adiante como esse pensamento 
se devolveu na principal tríade marxista sobre o imperialismo. 
TEMA 2 – TEORIAS MARXISTAS CLÁSSICAS SOBRE O IMPERIALISMO 
Para a principal abordagem marxista sobre o imperialismo, Hilferding, 
Lenin e Bukharin dão o tom. Esses três autores são os responsáveis pelas 
contribuições mais clássicas que temos em relação ao imperialismo nesta chave 
teórica. Veremos, brevemente, as principais proposições teóricas deles sobre o 
imperialismo. 
2.1 Hilferding, Bukharin e Lenin 
Hilferding acreditava que era preciso dar continuidade à obra teórica de 
K. Marx e incluir em sua teoria o surgimento e a presença de monopólios no 
argumento. A principal contribuição do autor, assim, foi a de caracterizar o 
imperialismo como a fase final do estágio do desenvolvimento capitalista 
(Hilferding, 1910), distanciando-o do seu predecessor, o colonialismo. 
A essa fase é comum a presença de monopólios, segundo Hilferding, e 
seriam eles que viabilizariam a empreitada imperialista. Esses monopólios 
seriam o resultado da junção do capital bancário e industrial, e seu objetivo não 
é o livre-mercado, mas dominar mercados. O Estado, nessa explicação, deveria 
ser forte para garantir o sucesso da expansão de mercados e o processo de 
acumulação de capital. 
O capital financeiro teria a ânsia de conquistar novos mercados 
internacionais para o interesse dos monopólios garantindo apoio militar, 
econômico, e/ou ainda político, lançando mão de tarifas protecionistas e 
estratégias imperialistas. Portanto, o capital financeiro, interessado na expansão 
de mercados, usaria o Estado para tal. 
Para Bukharin, por outro lado, essa relação, na verdade, era invertida. Em 
sua explicação seria a concentração econômica do capital financeiro a fonte dos 
fenômenos. O imperialismo, nesse argumento, é a política que reproduz, em 
escala mundial, a competição capitalista pela expansão monopolista. E caberia 
ao Estado-nação, como implementador de tarifas protecionistas, possibilitar a 
 
 
8 
formação de carteis nacionais. Nesse movimento, Bukharin afirma que se 
formam dois blocos. De um lado, sob a tutela dos grandes capitalistas, grandes 
conglomerados que monopolizam os mercados nacionais; e, de outro, há a 
periferia dos países não desenvolvidos, cujos sistemas econômicos são agrários 
ou semi-agrários (Bukharin, 1915, p. 73). 
O trabalho de Bukharin é de grande valor para os marxistas, mas o de 
Lenin é o mais conhecido no campo. Diferentemente dos demais autores, Lenin 
editou um panfleto sobre o imperialismo, cujo intuito era de ter grande alcance, 
para o público em geral. O trabalho revelaria pouco a mais que as contribuições 
de Bukharin (Brewer, 2002), que fora assassinado por Stalin em 1938. 
Para Lenin, o capitalismo monopolista era a resposta que o sistema 
econômico teria encontrado para sair da grande depressão do final do século 
XIX (McDonough, 1995). É nela que o imperialismo surge no início do século XX, 
sendo caracterizado por cinco passos: a concentração da produção e do capital 
cria monopólios, surge o capital financeiro, a exportação do capital adquire 
importância pronunciada de forma que se formam associações capitalistas 
(trustes) que dividem o mundo entre si e há a divisão de todos os territórios do 
globo entre as maiores forças capitalistas estão completadas (Lenin, 1917, 
p. 232). O grande salto aqui é que, para Lenin, cartéis seriam fenômenos 
transitórios, até o início do século XX, a partir do qual passam a ser a fundação 
de toda a vida econômica. E seria nesse estágio, precisamente, que o 
capitalismo teria se tornado imperialista (Lenin, 1917, p. 181). 
Para ambos, Lenin e Bukharin, mais do que apenas uma forma de 
expansão do Estado-Nação, o imperialismo seria a expansão do capitalismo em 
seu maior estágio (a fase monopolista)3. Como Luxemburgo, ambos viam a 
revolução socialista como a única saída para o capitalismo e, portanto, para o 
imperialismo. 
 
 
3 Ainda que, é preciso ressaltar, a teoria seja ambígua sobre se “último estágio” significa estágio 
mais elevado ou estágio final. 
 
 
9 
TEMA 3 – O IMPERIALISMO ACABOU, O CAPITALISMO NÃO 
À exceção de Hobson, todos os autores prescreviam como única solução 
para os horrores do imperialismo a saída revolucionária socialista. Mas por quê? 
Como ressaltou Callinicos (2009), essa literatura ocupou, sobretudo, 
autores ativistas. A literatura sobre imperialismo é essencialmente não 
acadêmica. Isso era visto como um problema para alguns, como Hilferding, que 
se indagava sobre a exclusão destes autores das universidades, restando a eles 
o tempo de lazer para a produção teórica sobre o fenômeno. 
Há que se indagar, assim, se as conclusões, desenvolvidas por ativistas 
em suas horas vagas, não tinham também a finalidade de servir à sua causa 
política. Os autores não escondem que suas conclusões incitavam, todas, a ação 
política: seus resultados eram quase que planos do que deveria ser feito para 
combater os problemas que indicavam. 
Além disso, cabe notar como o argumento é essencialmente tautológico. 
O imperialismo seria fruto do avanço do capital financeiro monopolista, e 
caracterizaria uma fase do capitalismo: o imperialismo seria o capitalismo 
avançado. E, nesse sentido, o contrário também é verdadeiro: capitalismo 
avançado é sinônimo de imperialismo. Não há qualquer forma de fugir disso, 
senão a completa substituiçãodo sistema econômico, o que mais uma vez conta 
no argumento da militância política. 
Mais uma vez, somos conduzidos a confirmar esses argumentos – e por 
vezes até acreditar em suas propostas de solução – porque nos baseamos (ou 
somos levados a fazê-lo) no caráter violento das investidas imperialistas. A 
prescrição da teoria marxista sobre o fim do capitalismo (e, portanto, do 
imperialismo) esvazia toda e qualquer agência política ao redor do fenômeno, 
como se um sistema fosse responsável pelos horrores, e não os políticos. Da 
mesma forma, esvazia-se a agência do outro, a quem só cabe o papel de 
dominado. Países figuram nessas teorias como campos de batalha passivos, 
sob nenhum aspecto como participantes ativos (Brewer, 2002). Só há a 
dominância dos fortes, do capital financeiro monopolista do estágio mais alto, ou 
final, do capitalismo. 
Essas teorias apontam ainda para a suposição de que o imperialismo 
seria uma fase do capitalismo. Mas qual? A mais alta, ou a final? A história nos 
mostra como essas interpretações continham equívocos. O capitalismo floresceu 
 
 
10 
após o fim do imperialismo, como também já apontara Schumpeter (1919), para 
quem o imperialismo não era uma fase necessária – dado que a história não é 
um motor de eventos lineares – do desenvolvimento econômico capitalista, mas 
uma escolha política. 
Mas quais as outras explicações? 
TEMA 4 – ALTERNATIVAS E PÓS-IMPERIALISMO 
A interpretação sobre as proposições de Schumpeter era que o 
imperialismo funcionou como um período de transição do capitalismo, uma 
resposta temporária da fusão entre Estados em expansão e o livre mercado. O 
imperialismo era uma empreitada de altos custos, e fora substituído por uma 
alternativa mais barata, pacífica e eficaz: o capitalismo de livre mercado 
(Michaelides; Milios, 2015). 
Como sabemos, levou muito tempo para que esse “período de transição” 
se tornasse, de uma vez, livre mercado. As últimas colônias inglesas datam de 
1960, apesar da teoria de Schumpeter datar de 40 anos antes disso. Davis e 
Huttenback (1982) apontam para a ineficiência do imperialismo para a Grã-
Bretanha desde fins do século XIX. Mas, se havia uma alternativa melhor, mais 
barata, porque a demora em abandonar o negócio? 
Snyder (1991) argumenta que à medida que um novo eleitorado, 
prejudicado pelos custos do imperialismo, era incorporado pela expansão do 
sufrágio, a tendência foi de mudança de política, mas não de forma automática. 
A incorporação de grandes massas de eleitores pobres muda o equilíbrio de 
forças no jogo eleitoral e, consequentemente, na formulação de políticas. Mas 
isso, por si, não bastou. 
O autor faz o caso de que elites políticas, por meio de narrativas míticas, 
sustentavam as políticas por meio de um discurso retórico que conferia grandeza 
às investidas imperialistas. Apresentado como uma alternativa lucrativa, o 
imperialismo persistiu, inibindo o aprendizado sobre quando manter uma política 
vantajosa, ou descartar as custosas. 
Analisando casos típicos, como a Alemanha do século XX e o Reino Unido 
da era vitoriana, Snyder mostra que não foi um aprendizado histórico que mudou 
os rumos da expansão imperialista, mas crenças sobre essas estratégias foram 
construídas como forma de racionalizar interesses domésticos. A ambição 
internacional foi perdendo apoio (por falta de endosso legislativo), mas só foi 
 
 
11 
anulada por completo na medida em que a retórica política se tornou consciente 
e sensível à ameaça que políticas expansionistas representavam aos interesses 
domésticos (economia, política, entre outros, por exemplo, por conta do alto 
custo das guerras imperialistas). 
A questão do fim das guerras imperialistas como uma resposta à ameaça 
a interesses domésticos, sobretudo os econômicos, foi alvo de um extenso 
campo de estudo que vincula a paz à presença de outros dois fenômenos: 
democracia e capitalismo. 
A democracia e métodos democráticos de negociação transformaram a 
forma pela qual países passaram a trocar e enriquecer. Gartzke e Rohner (2011), 
testando uma série de hipóteses, apontam que o ímpeto imperialista cessa na 
medida países percebem ser mais vantajoso adotar o livre mercado ao invés da 
guerra. 
TEMA 5 – DEMOCRACIA, CAPITALISMO E PAZ 
A ideia de que o liberalismo traz paz às nações não é nova. O argumento 
é que a estrutura democrática restringiria países de endossarem guerras 
custosas, sobretudo contra outras democracias, e incentivaria os políticos a 
optarem por saídas diplomáticas e pacíficas (De Mesquita et al., 1999; Lake, 
1992). Haveria, além disso, um elemento normativo: nações perceberiam que 
(supostamente) têm valores parecidos, e também teriam a percepção que julgam 
como preferidas algumas formas de resolver conflitos e, ao adotar um governo 
liberal, se oporiam às guerras contra os Estados (Owen, 1994). 
Sabemos, hoje, que a relação entre democracia e paz é espúria. Mas, 
segundo Garztke e Rohner o mesmo não vale para capitalismo e paz. O 
capitalismo, segundo o autor, ao tirar a ênfase econômica sobre a terra e 
recursos minerais, é quem reduz o uso da força entre os Estados. Seu poder 
viria da condição de avanços na produtividade, e não da posse de matérias 
primas (Gartzke; Rohner, 2011). Além, é claro, de diminuir o peso da ação do 
Estado na economia (McDonald, 2010). Gartzke (2007) aponta que não seria 
necessariamente o arranjo democrático, nem mesmo sua filosofia liberal por si 
só, mas o livre mercado e o desenvolvimento econômico possibilitado por ele 
que trazem paz. 
Assim, se por um lado Schumpeter pareceu errar ao acreditar no breve 
fim do imperialismo (na década de 1920), por outro, pareceu correto ao apontar 
 
 
12 
que talvez o imperialismo pudesse ser lido como um momento de transição. 
Transição para um sistema econômico que possibilita e permite que o livre 
comércio entre os países, e que este viria a substituir o caro business do 
imperialismo. 
NA PRÁTICA 
Sugestão de série de TV: History of Britain 
A série History of Britain (“História da Grã-Bretanha”), da emissora de 
televisão britânica BBC, escrita e apresentada pelo historiador britânico Simon 
Schama, reconstrói os principais eventos da história do Reino Unido, até 
culminar em episódios dedicados a explicar e explorar contrapartidas políticas e 
econômicas das políticas imperialistas britânicas em relação à Índia. 
Especificamente sobre esse período, no episódio “O império das boas 
intenções” (The empire of good intentions, episódio 14), Schama fala da grande 
fome na Índia (1876-1878), trazendo imagens e dados chocantes sobre o 
desenvolvido das políticas inglesas que levaram a um desfecho sombrio, com 
mais de dez milhões de indianos mortos de fome por escolhas políticas inglesas. 
Sugestão de livro: Cadernos de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo 
Em Cadernos de memórias coloniais, Isabela Figueiredo narra o drama 
de sua história pessoal como filha de portugueses no final da dominação 
portuguesa em Moçambique. A autora conta como que para um diário, 
mesclando história, impressões e estranhamentos de sua infância e 
adolescência, sobre a vida com a mãe e o pai em Maputo entre os anos 1960 e 
meados de 1970, com foco na relação que tinha com seu pai, um eletricista 
português residente de Maputo. 
Por um lado, na narrativa fica claro como a vida dos “colonizadores” não 
era luxuosa ou glamorosa, desconstruindo o mito do grande capitalista 
dominador de Hilferding. Mas, por outro, a violência é um elemento constante 
evidente, subjugando populações africanas a mandos e desmandos sem 
cabimento e com pitadas de sadismo e alguma perversão. 
Na história, a paixão infantil, característica da relação entre pai e filha, se 
desnuda aos poucos até que cai por terra completamente. Isabela se dá conta 
de que seu pai é tanto o homem que a levava tomar sorvete aos sábados à tarde, 
 
 
13 
de quem ela se orgulhavade segurar na mão, como também é quem empunhava 
o chicote que fazia sangrar as costas dos pais das crianças com quem ela 
brincava nos tempos de menina. À medida que a violência do império se torna 
mais clara aos olhos de Isabela, sua relação com seu pai se rompe 
completamente. 
FINALIZANDO 
Ao longo desta aula vimos as principais interpretações sobre a expansão 
do Estado-nação sob o fenômeno do imperialismo. Como vimos, seus custos 
eram elevados, mas então por quê? O controle de um território conferia aos 
governantes a possibilidade de controle e extração de recursos desse local – 
mão de obra, taxação e matérias-primas –, o que compensaria os custos da 
guerra e da manutenção dos governos em territórios internacionais, e ainda 
permitiria que Estados e exploradores lucrassem com aquilo que extraíam 
desses territórios alhures. 
Essas motivações orientaram grande parte da literatura de história, 
geografia e ciência política ao tratar o imperialismo. Para a questão, são 
oferecidas pelo menos três interpretações sobre o imperialismo. A primeira delas 
uma explicação marxista, segundo a qual o imperialismo era uma fase do 
capitalismo. Desenvolvida por figuras da militância política, vimos como essa 
interpretação é inconsistente do ponto de vista dos dados e da história. 
Relativizamos sobre como essas interpretações eram uma jogada retórica em 
prol de um objetivo político: a revolução comunista/socialista. 
Uma segunda interpretação, encabeçada por Schumpeter e outros 
autores, segundo a qual o imperialismo era uma etapa do capitalismo. Essa 
etapa, consequência do passado violento, logo cessaria, dando lugar à uma nova 
forma de expansão de poder. Essa nova via não se daria por expansão territorial, 
mas pela expansão financeira baseada na troca. 
Como uma extensão dessa interpretação, vimos uma terceira, que aponta 
para o caráter econômico do business imperialista. A adoção e a suspensão do 
imperialismo teriam acontecido em função de elementos políticos (como a 
formação de maiorias legislativas para a aprovação de política a favor ou contra 
o imperialismo) e econômicos, como a diminuição do lucro extraído e o aumento 
dos custos. 
 
 
14 
À medida que foi se tornando obsoleto, o imperialismo cessa. Países 
desenvolvidos, hoje, têm baixo interesse em ocupar e administrar outros países. 
Mas o que possibilitou a paz, em substituição às guerras imperialistas? O 
argumento é que o fim das guerras imperialistas estaria relacionado à expansão 
do livre mercado, democracia e o desenvolvimento econômico. Juntos, estes 
seriam os responsáveis pela troca de uma política agressiva, violenta, custosa e 
cada vez menos lucrativa, para outra a partir da qual países puderam prosperar 
e estabelecer a paz frente ao seu ímpeto pelo lucro. 
A “alternativa comercial” depende de um equilíbrio fino, no qual Estados 
ficariam distantes da economia e o mercado se autorregularia, seguindo o 
argumento. É possível que esse equilíbrio nem sempre se mantenha. Mas, ao 
menos por ora, vimos que essa parece ser uma explicação plausível ao fim de 
uma era de subjugação, violência e atrocidades de alguns países sobre outros 
em nome do lucro e do poder. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BREWER, T. Marxist theories of imperialism: a critical survey. Routledge, 
2002. 
BUKHARIN, N. Imperialism and world economy. Alpha, 1915. 
CALLINICOS, A. Imperialism and global political economy. Polity, 2009. 
DAVIS, L. E.; HUTTENBACK, R. A. The political economy of british imperialism: 
measures of benefits and support. The Journal of Economic History, v. 42, n. 
1, p. 119–130, 1982. 
DE MESQUITA, B. B. et al. An institutional explanation of the democratic peace. 
The American Political Science Review, v. 93, n. 4, p. 791–807, 1999. 
FIELDHOUSE, D. K. Imperialism: an historiographical revision. The Economic 
History Review, v. 14, n. 2, p. 187–209, 1961. 
GARTZKE, E. The capitalist peace. American Journal of Political Science, 
v. 51, n. 1, p. 166–191, jan. 2007. 
GARTZKE, E.; ROHNER, D. The political economy of imperialism, decolonization 
and development. British Journal of Political Science, v. 41, n. 3, p. 525–556, 
2011. 
HARVEY, D. The new imperialism. Oxford: Oxford University Press, 2003. 
HILFERDING, R. Finance capital: a study in the latest phase of capitalist 
development. Routledge, 1910. 
HOBSON, J. A. Imperialism: a study. New York: James Pott and Company, 
1902. 
KOEBNER, R.; SCHMIDT, H. D. Imperialism: the story and significance of a 
political word, 1840-1960. Cambridge University Press, 1964. 
LENIN, V. Imperialism: the highest stage of capitalism. Penguin UK, 1917. 
LUXEMBURG, R. The accumulation of capital. London: Routledge, 2003. 
LUXEMBURGO, R. A crise da social-democracia. In: LOUREIRO, I. (Org.). Rosa 
Luxemburgo: textos escolhidos. São Paulo: Unesp, 2011[1916]. p. 15-144. v. 2 
MCDONALD, P. J. Capitalism, commitment, and peace. International 
Interactions, v. 36, n. 2, p. 146–168, mai. 2010. 
 
 
16 
MCDONOUGH, T. Lenin, imperialism, and the stages of capitalist development. 
Science & Society, v. 59, n. 3, p. 339–367, 1995. 
MICHAELIDES, P. G.; MILIOS, J. G. The Schumpeter–Hilferding nexus. Journal 
of Evolutionary Economics, v. 25, n. 1, p. 133–145, 1 jan. 2015. 
NOWELL, G. P. Hobson’s imperialism: its historical validity and contemporary 
relevance. In: CHILCOTE, R. M. (Org.). The political economy of imperialism: 
critical appraisals. Recent Economic Thought Series. Dordrecht: Springer 
Netherlands, 1999. p. 85–109. 
OWEN, J. M. How liberalism produces democratic peace. International 
Security, v. 19, n. 2, p. 87–125, 1994. 
SCHUMPETER, J. A. Imperialism and social classes: two essays. Ludwig von 
Mises Institute, 1919. 
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. Companhia das Letras, 1999. 
SNYDER, J. Myths of empire: domestic politics and international ambition. [S.l.]: 
Cornell University Press, 1991.

Outros materiais