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GESTÃO AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento econômico sus- tentável. > Reconhecer as principais vertentes econômicas que abordam os problemas ambientais. > Identificar as características principais do ambientalismo e do ambienta- lismo radical. Introdução O objetivo geral da gestão ambiental em empresas é fazer com que cada uma delas obtenha lucros, mas evitando ou mitigando os impactos ao meio ambiente, otimizando o uso de matérias-primas e reduzindo os resíduos gerados. Dessa forma, as empresas buscam promover o desenvolvimento sustentável, pelo qual obtêm crescimento econômico, mas sem comprometer a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social, fazendo com que as gerações futuras tenham acesso a um ambiente equilibrado. O primeiro passo para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado é reconhecer que os recursos naturais são finitos. Neste capítulo, você conhecerá as condições necessárias para um crescimento econômico sustentável, bem como as ferramentas e conhecimentos de que as empresas dispõem para colocá-lo em prática e ainda assim garantir seus lucros. Por fim, verá a importância do ambientalismo e suas diversas formas de manifestação. Desenvolvimento sustentável Ronei Tiago Stein Crescimento econômico versus desenvolvimento econômico sustentável O aumento da população mundial ao longo da história exige áreas cada vez maiores para a produção de alimentos, bem como técnicas de cultivo que aumentem a produtividade da terra. Florestas cedem lugar a lavouras e criações, espécies animais e vegetais são domesticadas, muitas extintas e outras, ao perderem seus predadores naturais, multiplicam-se acelerada- mente, afetando toda a cadeia alimentar (ALMEIDA, 2007). Há séculos, o ser humano vem retirando matérias-primas do ambiente, para promover seu sustento e desenvolvimento. Em troca, ele devolve poluição, contaminação e degradação ao ambiente, provocando enormes impactos. Conforme ressalta Schwanke (2013), esse modelo é denominado sistema aberto, e está baseado nas seguintes premissas: � suprimento inesgotável de energia; � suprimento inesgotáveĺ de matéria; � capacidade infinita do meio de reciclar matéria e absorver energia. Infelizmente, muitas pessoas, empresas e alguns governos ainda possuem essa errônea ideia de que a energia e a matéria são inesgotáveis. Sob essa premissa, o ambiente acaba sendo deixado totalmente de lado, havendo apenas e unicamente a preocupação com o crescimento da economia. Esses agentes não estão preocupados com a causa ambiental, fazendo apenas o estritamente necessário em relação ao ambiente. Ou seja, o lucro é o único objetivo do crescimento econômico, não importando como exatamente será obtido, quais as consequências ambientais para obtê-lo e quais efeitos que a sociedade irá enfrentar. Por outro lado, Schwanke (2013) menciona que cada vez mais a questão ambiental vem se tornando uma realidade para os diversos setores da so- ciedade (indústrias, governos, população), com a conscientização de que o acúmulo de resíduos, desmatamentos, queimadas e outras formas de degradação ambiental podem trazer graves consequências para a saúde, para a qualidade ambiental e para a própria imagem dos agentes envolvidos. No setor produtivo, esses valores foram gradativamente incorporados com ações no sentido da utilização racional dos recursos naturais e do controle dos impactos negativos ao meio ambiente, originando uma nova percepção ambiental. Dessa forma, surgiu o modelo de desenvolvimento sustentável, que foi conceituado em 1987, pela Comissão Mundial de Desenvolvimento e Desenvolvimento sustentável2 Meio Ambiente, formada originalmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1984. De maneira geral, o desenvolvimento sustentável busca atender três aspectos básicos: o econômico, o ambiental e o social. Cabe mencionar que esses três aspectos devem estar em total integração para que a sustenta- bilidade realmente se mantenha. Qualquer atividade econômica, seja ela para produção ou consumo, envolve a utilização de ambiente natural. Logo, quando uma empresa deseja otimizar insumos e gerar menos poluentes, além do próprio ambiente sair ganhando, a empresa economiza dinheiro e a população de modo geral sai ganhando em qualidade de vida, pois menos poluentes são gerados. Para uma empresa ser considerada sustentável, deve contemplar as cinco dimensões de sustentabilidade, descritas a seguir (CAMPOS, 2001): � Sustentabilidade social — entendida como a criação de um processo de desenvolvimento sustentado por uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. � Sustentabilidade econômica — deve ser alcançada mediante o ge- renciamento e a alocação mais eficientes dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados. � Sustentabilidade ecológica — pode ser alcançada por meio do aumento da capacidade de utilização dos recursos, limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos que são facil- mente esgotáveis, redução da geração de resíduos e poluição, tudo isso mediante conservação de energia e recursos e da reciclagem. � Sustentabilidade espacial — voltada à obtenção de uma configuração rural–urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. � Sustentabilidade cultural — inclui a procura por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitem a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área. Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016) mencionam que a gestão da produção, com foco na sustentabilidade, deve considerar não apenas a eficiência do processo em termos de perda de matéria-prima, uso de energia, qualidade dos produtos e serviços, tecnologia e capacidade de inovação, responsabilidade social e ecológica, mas também a recuperação, reutilização ou reciclagem, Desenvolvimento sustentável 3 a conservação dos recursos naturais e os impactos ocasionados pelo ciclo de vida dos produtos. Dessa forma, princípios de prevenção e precaução ambiental tornam-se parte do processo de produção. Dentre os benefícios que uma empresa pode obter ao implantar uma produção mais sustentável, Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016) destacam: � desenvolvimento de produtos com ecodesign e potencialização do valor percebido pelo cliente; � integração dos sistemas de gestão para tornar o uso de informações mais objetivo; � relação de parceria com os clientes e fornecedores para adequar a produção e produzir somente o que for necessário; � otimização do esforço produtivo pelo desperdício zero, para gerar menor número de ações e resíduos; � menor consumo de energia e recursos; � seleção de matérias-primas e insumos ambientalmente adequados; � locais de trabalho mais limpos e seguros. A Figura 1 resume alguns propósitos dos modelos de produção sustentáveis. Figura 1. Elementos vinculados aos modelos de produção sustentável. Fonte: Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2016, p. 154). Desenvolvimento sustentável4 Segundo Haddad (2015), nos últimos tempos têm surgido iniciativas do governo federal estimulando o desenvolvimento mais sustentável por meio de alguns incentivos fiscais. Algum exemplos são destacados a seguir. � Ecocrédito municipal: mecanismo econômico de mercado sob a forma de incentivo fiscal que visa estimular, dentro das propriedades ru- rais nos limites geográficos de um município, a formação de áreas de preservação ambiental destinadas à conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos. � ICMS ecológico: denominação para qualquer critério ou conjunto de critérios de caráter ambiental utilizados para o cálculo do valor que cada município de um estado tem direito a receber do repasse de25% dos recursos financeiros do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), decididos autonomamente por lei estadual. Quanto maior a participação do ICMS ecológico nesse valor, maiores serão os incentivos fiscais para que os municípios implementem projetos de preservação ambiental, incluindo os ecossistemas de bacias hidrográficas e a sua biodiversidade. � Impostos verdes e taxas ambientais: representam basicamente a imposição de um ônus financeiro sobre a poluição ou degradação ambiental. Seria pago pelas empresas que, nas fases de implantação, de operação e de manutenção de seus empreendimentos, provocas- sem danos ambientais, descarregando e emitindo resíduos no meio ambiente, sendo que suas alíquotas diferenciadas seriam calibradas de acordo com o dano que a poluição do empreendimento provoca. Inversamente, pode-se pensar no imposto verde positivo (ou benefício) para empresas e consumidores, como o Imposto de Renda Ecológico, um tipo de Lei Rouanet para o patrimônio natural. � Financiamentos incentivados: abertura ou uso de linhas especiais de financiamento para projetos de investimento que tenham por objetivo a conservação e a preservação dos recursos ambientais, assim como a introdução de critérios ambientais na avaliação de projetos de inves- timentos de infraestrutura econômica e de projetos de investimento diretamente produtivos. Sendo assim, existe uma grande diferente entre o desenvolvimento eco- nômico e o desenvolvimento econômico sustentável. Obviamente, a economia de uma nação ou empresa é fundamental, mas o crescimento precisa trazer Desenvolvimento sustentável 5 bem-estar social e respeitar o ambiente. Os lucros são importantes, mas devem estar baseados em uma economia que vise encontrar formas de reduzir ou diminuir os impactos ambientais. Soluções econômicas para problemas ambientais Algumas correntes de economistas têm procurado desenvolver conceitos, métodos e técnicas que objetivam calcular os valores econômicos detidos pelo ambiente. Dessa forma, ao longo da história, foram surgindo diferentes linhas de pensamento/vertentes econômicas. Logo, quando mencionamos vertentes econômicas que abordam as questões ambientais, estamos falando de formas de promover um crescimento que respeite o ambiente. Cabe res- saltar que esses pensamentos foram evoluindo à medida que o ser humano obteve mais informações/conhecimentos sobre as questões ambientais. Dentre as principais linhas de pensamento nessa área, Portugal, Portugal Júnior e Brito (2012) mencionam: � malthusiana; � neoclássica; � economia ecológica; � economia do desenvolvimento sustentável (ecodesenvolvimento). Cada linha de pensamento citada apresenta diferentes vertentes econômicas, ou seja, características específicas, seja em relação ao surgimento ou à evolução. Além disso, apresentam diferentes contribuições para o entendimento da problemática ambiental no âmbito econômico mundial. A linha de pensamento malthusiana tem origem na teoria do economista inglês Thomas Robert Malthus (1766–1834), cuja doutrina relacionava a evolução da população e a capacidade produtiva da economia. Conforme mencionam Barbieri e Feijó (2014), Malthus ligou a questão da sobrevivência humana com o crescimento populacional e a competição por recursos naturais. A quantidade de alimentos e outros recursos disponíveis para o consumo humano representava para ele um freio ou um estímulo, de- pendendo de sua escassez relativa, para o crescimento demográfico. Ou seja, afirmava que a população cresceria até o ponto em que seria Desenvolvimento sustentável6 simplesmente impossível produzir alimentos suficientes para o grande número de pessoas que existentes no planeta. De acordo com Portugal, Portugal Júnior e Brito (2012, documento on-line), Malthus afirmava: Que a população crescia em uma progressão geométrica enquanto que a produção, principalmente de alimentos, tinha seu crescimento em progressão aritmética. Isso levaria a um grave problema de baixo abastecimento de um mercado com demanda em franca expansão. Na época de Malthus, não havia, nas mais diferentes áreas, tecnologias e conhecimentos científicos como nos dias atuais. Por isso, ele imaginava que esse “colapso alimentar” ocorreria em um futuro muito breve. Passados mais de 190 anos de sua morte, tal colapso alimentar ainda não chegou, apesar de algumas nações, principalmente as mais pobres, apresentarem graves problemas de fome. Por sua vez, a linha de pensamento neoclássica defende que o mercado ga- rante o equilíbrio entre a disponibilidade e a demanda de recursos básicos, como de água, por exemplo, sendo que a cobrança altera o comportamento dos agentes para melhor (GODOY, 2011). A economia neoclássica surgiu no fim do século XIX e início do século XX, pelos estudos do austríaco Carl Menger (1840–1921), do inglês William Stanley Jevons (1835–1882) e do francês Léon Walras (1834–1910). Cabe mencionar que houve outros autores/estudiosos que compuseram as bases da economia neoclássica, mas estes três foram os que mais se destacaram. A economia neoclássica nasceu em diversos países, sob culturas econô- micas diferentes, quase ao mesmo tempo, tendo o “[...] objetivo central de mostrar como um mercado funciona quando tais átomos sociais dançam, por assim dizer, a música dos preços” (PRADO, 2001, p. 11). Ou seja, a eco- nomia neoclássica estuda a formação dos preços, a produção e a distribui- ção da renda por meio do mecanismo de oferta e demanda dos mercados. Atualmente, predomina no cenário mundial a economia neoclássica, sendo que existem diferentes versões em uso na área da economia. Prado (2001) menciona que há uma versão macroeconômica, que se caracteriza por empregar variáveis agregadas como produto nacional, consumo, renda, quantidade de moeda, etc., em especial a noção de função de produção agregada, na qual entram, grosso modo, os fatores de produção de capital, trabalho e terra. Há também uma versão microeconômica, em que os fatores de produção são considerados, um a um, como quantidades homogêneas, e os consumidores e as firmas são agentes que tomam decisões individualmente. Desenvolvimento sustentável 7 Porém, principalmente após a década de 1960, no período pós-guerra, empresas, governos e indivíduos começaram a se preocupar mais com as questões ambientais. Dessa forma, surgiu a economia ecológica (também chamada de economia verde em algumas bibliografias), que está baseada em um desenvolvimento mais sustentável, que inicialmente era denominado de ecodesenvolvimento. A economia ecológica representa uma crítica direta ao sistema econômico clássico, o qual não insere os custos ambientais na abordagem econômica. O ponto de vista ecológico na economia implica uma mudança fundamental na percepção dos problemas de alocação de recursos e de como devem ser tratados, postulando uma revisão da dinâmica do crescimento econômico (CAVALCANTI, 2003). Conforme Romeiro (2012), para algo ser considerado sustentável, o desen- volvimento deve ser economicamente sustentado (ou eficiente), socialmente desejável (ou includente) e ecologicamente prudente (ou equilibrado). O autor ainda menciona que a proposição conciliadora dos ecodesenvolvi- mentistas se baseia num conceito normativo sobre como pode e deve ser o desenvolvimento. A intenção é manter um crescimento econômico eficiente (sustentado) a longo prazo, acompanhado da melhoria das condições sociais (distribuindo renda) e respeitando o meio ambiente. De modo análogo, os ecodesenvolvimentistas propõem um conjunto de políticas ambientais ca- pazes de levar em conta o risco ambiental, havendo um equilíbrio entre o crescimento econômico e meio ambiente. Atualmente, existem diferentes maneiras de promover o desenvolvimento mais sustentável em empresas e garantir uma economia mais ecológica. Como exemplos, podemos citara Análise do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos, a Produção mais Limpa (P+L), o ecodesign e a logística reversa. Chehebe (1997) menciona que a ACV dos produtos é uma técnica que busca avaliar os aspectos e os impactos potenciais associados a um determinado pro- duto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias- -primas elementares que entram no sistema produtivo até o descarte do produto final. Logo, a ACV é a parte da gestão ambiental que avalia produtos e processos. A partir da ACV, empresas podem identificar e prever falhas na questão ambiental, para então encontrar soluções que busquem minimizar ou eliminar essas falhas, bem como eventuais impactos ambientais, e até mesmo diminuir a quantidade de materiais/rejeitos gerados. Com isso, o próprio consumidor/ cliente poderá escolher produtos mais sustentáveis. Já a P+L consiste em realizar ajustes no processo produtivo, a fim de reduzir a emissão e geração de resíduos sólidos. Segundo Lemos, Mello e Desenvolvimento sustentável8 Nascimento (2008), esses ajustes podem envolver pequenas reparações na situação atual da planta empresarial, compra de novas tecnologias (simples ou complexas) ou a troca de todo o sistema de produção. Essa escolha varia de empresa para empresa, sendo preciso avaliar o processo produtivo de cada uma de forma isolada. Por sua vez, o ecodesign busca evitar o uso de determinados materiais, tendo em vista a dificuldade em relação aos seus processos de reciclagem e descarte final de forma isolada. O ecodesign deve prever que os objetos/ produtos serão reciclados e, para isso, precisam ser desmontados. É im- portante facilitar o reconhecimento dos materiais, de modo que todos os componentes, mesmo os constituídos por diferentes materiais, possam ser reciclados e reutilizados. Assim, o ecodesign promove o uso de materiais renováveis. Carvalho e Mano (2018) descrevem que os processos e métodos dos materiais renováveis partem do descarte de um material ou de partes de um produto. Quanto mais fácil for a desmontagem e a extensão de vida desses materiais, maiores serão as possibilidades de renovação de novos materiais. Por fim, as atividades da logística reversa estão relacionadas com o des- tino adequado de produtos e embalagens, de forma que respeitem o meio ambiente. Leite (2009) e Pereira et al. (2012) mencionam que a logística reversa em empresas tem como vantagens: � aumento da competitividade; � promoção da limpeza de estoque; � garantia do respeito às legislações em vigor; � valorização econômica; � garantia da recuperação de ativos. Logo, percebe-se que diferentes linhas econômicas foram responsáveis pelos conhecimentos do atual modelo econômico em uso. Mais recentemente, devido à conscientização quanto aos impactos ambientais que veem sendo causados, o ser humano vem cada vez mais se preocupando com a questão ambiental e buscando uma economia mais limpa e ambientalmente mais eficiente. Tipos de ambientalismo De acordo com Pereira (2018), atualmente é comum as pessoas (ou até mesmo as empresas) se declarem ambientalistas, mesmo que não participem de um grupo da sociedade civil dedicado à proteção ambiental. Desenvolvimento sustentável 9 De modo geral, o ambientalismo é um movimento construído historica- mente, estando disperso em diversas vertentes, dedicando-se a proteção e conservação do ambiente. Philippi Jr. (2014) descreve que, ao longo das décadas de 1950 e 1960, várias questões sociais e políticas criaram um intenso ativismo público, que acabou instigando a formação de um movimento ambientalista mais amplo. No Brasil, durante a década de 1960 foram produzidas importantes legislações voltadas à proteção ambiental, como o novo Código Florestal e a nova Lei de Proteção aos Animais. Alguns fatores desempenharam um papel decisivo na formação dos mo- vimentos ambientalistas, dentre os quais podemos destacar os seguintes (PHILIPPI JR., 2014): � tomada de consciência a respeito dos efeitos da afluência no pós-guerra e das consequências dos testes atômicos; � ampla divulgação de uma série de desastres ambientais; � avanços no conhecimento científico no tocante à temática ambiental; � publicação de estudos antropológicos a respeito dos valores e do estilo de vida dos povos tradicionais e a influência de outros movimentos sociais. No âmbito mundial, o ambientalismo vem mostrando uma crescente integração com outros movimentos sociais, pois cada vez mais as pessoas estão percebendo que, por trás das crescentes disparidades sociais, da de- gradação ambiental e dos abusos aos direitos humanos, estão as estruturas econômicas globalizadas, o que exige, portanto, uma estratégia política de enfrentamento global para garantir a construção e a consolidação das sociedades sustentáveis (PHILIPPI JR., 2014). O ambientalismo está comprometido não apenas com um ambiente em que prepondera e preocupa a questão da poluição decorrente da industria- lização, mas também com fatores subjacentes à vida das espécies presentes no planeta (GOMES; BRANDALISE, 2017). Em termos gerais, podemos distinguir tipos diferentes ambientalismo. O primeiro deles pode ser chamado de ambientalismo conservacionista, que busca a compensação por uma atividade extrativa, como a mineração ou a extração de petróleo. A compensação busca proteger determinado fragmento de paisagem natural da ocupação e uso extrativista pelo ser humano. Por Desenvolvimento sustentável10 isso, seus representantes buscam criar zonas de amortecimento e zonas de proteção, seja da vegetação nativa, fauna ou corpos d'água, a fim de que não haja atividades antrópicas extrativistas nessas áreas. Há também o chamado de ambientalismo populista, aquele que busca promover a nacionalização das atividades extrativas e estimular a indústria nacional. Ou seja, seu objetivo é transferir o impacto ambiental causado por empresas para o Estado, já que as empresas geram impostos e empregos. Dessa forma, esse tipo de ambientalismo apresenta a ideia de que o Estado é responsável por encontrar formas de evitar e mitigar os impactos ambientais. Tamos ainda o que poderíamos chamar de ambientalismo das formas de vida, cuja ideia central é que as empresas possam praticar a atividade extrativa, desde que contribuam para a melhoria da qualidade de vida e o crescimento econômico da população afetada e/ou que se encontre próxima ao empreendimento. Ou seja, esse tipo de ambientalismo busca compensar a atividade extrativista por meio do apoio à população. Já o chamado ambientalismo de justiça socioambiental critica o modelo econômico vigente, que discrimina certos grupos da sociedade, principalmente quem apresenta menores condições financeiras. Dessa forma, busca a justiça social e vê a desigualdade social como algo inaceitável. Dentre as práticas adotadas por esse tipo de ambientalismo, destacam-se o consentimento livre, prévio e informado, o zoneamento ecológico socioeconômico, a plena participação da população nas decisões que a afetam e a regulamentação estrita das indústrias extrativas para garantir que os direitos da população envolvida não sejam violados. Por fim, temos o ambientalismo radical (também chamado de profundo), que encara a natureza como portadora de direitos semelhantes aos possu- ídos pelas pessoas. Dessa forma, nenhuma atividade extrativista pode ser praticada, uma vez que a terra seria um ser vivo, assim como as plantas e os animais. Todos teriam o mesmo direito de não serem violados, e isso inclui o ambiente como um todo. Tampouco busca qualquer tipo de compensação da empresa extrativista, apenas a manutenção de ambientes sem qualquer interferência externa. Frente ao que prega o ambientalismo radical, parece impossível imagi- narmos o desenvolvimento da economia e da própria humanidade sem haver interferências e impactos ambientais. Obviamente, precisamos encontrar formas de produzir e promover o desenvolvimento econômico, mas de forma mais sustentável.Todos esses tipos de ambientalismo surgiram principalmente após a década de 1960, quando emergiu uma maior preocupação com as questões Desenvolvimento sustentável 11 ambientais, dando origem à chamada economia verde. Mesmo que o ser humano venha causando grandes impactos ambientais, não podemos ser radicais a ponto de proibir toda e qualquer prática extrativista ou que vise o desenvolvimento econômico. Para haver desenvolvimento, a humanidade depende dos recursos naturais. Caso as atividades extrativistas fossem proibidas, haveria consequências sociais enormes, pois muitos iriam morrer de fome, principalmente nações e pessoas com piores condições financeiras. Por outro lado, é necessário repensarmos como o planeta vem sendo alte- rado pelo ser humano, pois já não está mais dando conta de tanta exploração e retirada de recursos. Com uma população mundial estimada em mais de 7,5 bilhões de pessoas, o desenvolvimento sustentável precisa ser colocado em prática imediatamente, nos mais diferentes setores da economia. Referências ALIGLERI, L.; ALIGLERI, L. A.; KRUGLIANSKAS, I. Gestão industrial e produção sustentável. São Paulo: Saraiva, 2016. ALMEIDA, D. H. C. Mudanças climáticas: premissas e situação futura. São Paulo: LCTE, 2007. BARBIERI, F.; FEIJÓ, R. L. C. Metodologia do pensamento econômico: o modo de fazer ciência dos economistas. São Paulo: Atlas, 2014. CAMPOS, L. M. S. SGADA: sistema de gestão e avaliação de desempenho ambiental: uma proposta de implementação. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) — Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. 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No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Desenvolvimento sustentável 13
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