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VALORAÇÃO AMBIENTAL DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever as origens do mercado de carbono. > Definir o mercado de carbono. > Reconhecer a realidade do mercado de carbono no Brasil e no mundo. Introdução Os problemas ambientais mundiais que vêm ocorrendo desde a Revolução Indus- trial, entre eles o aquecimento global, têm mobilizado as sociedades de todos os países a discutir em conferências, encontros e outros eventos para minimizar os impactos da ação humana na natureza. Desde a década de 1990, intensificou-se a preocupação com mudanças no clima, entre outras alterações no meio ambiente, e foram criados mecanismos para lidar com essas transformações, entre eles o mercado de carbono. Neste capítulo, você vai conhecer as origens do mercado de carbono, a definição e o funcionamento dessas transações e a realidade de mercado de créditos de carbono no Brasil e no mundo. Histórico de discussões e programas mundiais de combate às mudanças climáticas Em geral, as discussões sobre o modelo de desenvolvimento dos países na busca de equilíbrio entre a proteção dos sistemas naturais, o modo de produção e a qualidade de vida da sociedade iniciaram na década de 1970. Desde então, têm havido diversos eventos, debates, acordos e legislações a Mercado do carbono Claudia Elisa Alves Ferreira respeito da temática de mudanças climáticas e suas consequências para o meio ambiente e a sobrevivência humana. Nesse sentido, um dos primeiros eventos importantes foi a Conferência de Estocolmo (Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano), realizada na Suécia, em 1972, onde foi criado o termo ecodesenvolvimento, precursor do desenvolvimento sustentável, que destacou a necessidade da sociedade preservar os recursos naturais e repensar seus modos de vida. Já a Primeira Conferência Mundial do Clima, em 1979, reuniu em Genebra, Suíça, cientistas e especialistas de 53 países e 24 organizações internacionais, com o objetivo de debater questões ambientais envolvendo agricultura, recursos hídricos, energia, economia e investigação dos impactos climáticos globais (QUADROS, 2017). Ao longo da década de 1980, persistiram os debates e foram realizadas conferências intergovernamentais sobre a temática da proteção ambiental. Em 1988, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o Painel Intergover- namental sobre Alterações Climáticas (IPCC), patrocinado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O IPCC é uma organização científico-política que tem produzido rela- tórios a respeito de alterações do clima nos últimos anos. Os dados observados em termos de temperaturas indicam uma tendência de aquecimento global por razões antrópicas, ou seja, causadas por ações humanas no meio ambiente (QUADROS, 2017). No ano de 1987, sob a coordenação da diplomata norueguesa Gro Brundtland, ocorreu a divulgação de um importante relatório, Nosso Futuro Comum, um marco fundamental para a discussão sobre os modelos de desenvolvimento. Na ocasião, foi definido o conceito de desenvolvimento sustentável como “Modelo de desenvolvimento que satisfaz as gerações presentes sem afetar a capacidade de gerações futuras de também satisfazer as suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 46). No Rio de Janeiro, em 1992, houve um dos eventos mais importantes sobre a temática ambiental: a II Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Representantes de 170 países elaboraram vários documentos relevantes, tais como a Agenda 21, a Convenção do Clima, a Convenção da Biodiversidade, entre outros acordos internacionais, em que as nações se comprometeram com uma série de medidas a serem efetivadas nos anos seguintes. Mercado do carbono2 Figura 1. Encontro durante a Rio-92. Fonte: Brasil (2017, documento on-line). O Protocolo de Kyoto, que foi delineado a partir da Rio-92 e entrou em vigor apenas em 2005, foi um acordo importante de redução das metas de emissão de gases tóxicos que causam o efeito estufa na atmosfera. No en- tanto, o Estados Unidos, um dos maiores poluidores do mundo, recusou-se a assiná-lo, afirmando que poderia comprometer o crescimento econômico do país, que é baseado na queima de combustíveis fósseis. Nesse documento, foram descritos os riscos de alterações climáticas glo- bais e foi proposta a busca de alternativas para estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera. Por meio de indicadores e metas, o Protocolo de Kyoto estabeleceu níveis para minimizar o efeito prejudicial da ação antrópica no sistema climático. Em seguida, houve outros acordos e eventos importantes destinados ao debate sobre o meio ambiente e os problemas relacionados ao ecossistema, biodiversidade e mudanças climáticas. No Brasil, foi lançado em 2008 o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, com o objetivo de criar condições para o enfrentamento de consequências sociais e econômicas das alterações do clima e definir medidas visando a mitigação e a adaptação a essas mudanças. O plano continha metas de redução do desmatamento na região amazônica e iniciativos para produção de biodiesel, etanol, energias de fontes renováveis e estímulo a ações de reciclagem. Nesse mesmo ano, o Brasil apresentou o Fundo Amazônia, a fim de captar recursos para projetos de combate ao desmatamento, uso sustentável e conservação da região. No ano de 2012, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), na cidade do Rio de Janeiro. O evento teve como temáticas a economia verde, questões socioambientais, tecnolo- Mercado do carbono 3 gias e energias limpas, a erradicação da pobreza, entre outras no contexto do desenvolvimento sustentável. O resultado foi a avaliação das políticas ambientais adotadas até então, incluindo aquelas voltadas às mudanças climáticas, e o documento final “O futuro que queremos”, que validou diversos compromissos (QUADROS, 2017). Em 2015, foi assinado o Acordo de Paris por 197 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Sua meta global é reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, com isso, limitar o aumento da temperatura da Terra em até 1,5° C até 2100. Na ocasião, 70 países se comprometeram a neutralizar seus impactos até 2050, ou seja, equilibrar suas emissões de carbono por meio da tecnologia ou por compensação ambiental, como reflorestamento. Outros itens importantes do Acordo de Paris são a oferta de apoio aos países subdesenvolvidos para adaptar suas emissões de gases de efeito estufa e a definição de metas e acompanhamento dos resultados. A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil foi apresentada em 2015, em Paris, e é um compromisso internacional do nosso país na área de mudança climática. Ele reafirma o objetivo de reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa em 37% em 2025, e assume oficialmente a meta de reduzir em 43% as emissões brasileiras até 2030. A NDC também enuncia o objetivo indicativo de atingirmos a neutrali- dade climática — ou seja, emissões líquidas nulas — em 2060. Esse objetivo a longo prazo poderá ser revisto no futuro, a depender do funcionamento dos mecanismos de mercado do Acordo de Paris, não estando descartada a possibilidade de adoção de estratégia a longo prazo ainda mais ambiciosa (MENDES, 2018). Para que o Acordo de Paris seja implementado, é preciso reorganizar as economias das nações, com a promoção do desenvolvimento sustentável e a criação de uma economia de baixo carbono a longo prazo. Além disso, é preciso construir instrumentos de financiamento para captar os recursos necessários, além de incentivar a geração de energia limpa, a diminuição do desmatamento e a agricultura sustentável como prioridades. Desde os anos de 1990, tem sido organizadas diversas Conferências das Partes da Convenção-Quadrodas Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COPs), em que líderes mundiais se reúnem anualmente para discutir as questões climáticas. As convenções são eventos internacionais sobre o aque- Mercado do carbono4 cimento global, e a primeira delas ocorreu em 1995 (COP1-Berlim) e a mais recente a COP-25 ocorreu em Madri, em dezembro de 2019. “O mercado de créditos de carbono atualmente funciona somente a partir de acordos entre empresas e governos, pois o sistema ainda não foi comple- tamente implementado” (COMEÇA..., 2019, documento on-line). Esses e outros pontos importantes foram discutidos na COP 25, que teve como objetivo estabelecer os requisitos necessários para apoiar o Acordo de Paris (2015) no combate às mudanças climáticas. Tais requisitos devem ser efetivados no período entre 2020 e 2021. O mercado de carbono foi criado em 1997, por meio do Protocolo de Kyoto (na COP-3), mas naquela ocasião somente os países desenvolvidos eram obri- gados a cumprir metas de emissão de gases poluentes, podendo comercializar créditos de carbono com os países em desenvolvimento, para compensar suas emissões excedentes. O Acordo de Paris propôs novas medidas, como o Mecanismo de Desenvol- vimento Sustentável (MDS), que inclui todos os países com metas de diminui- ção de gases e exige um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Assim, por meio do mercado de carbono, o comércio de emissões de gases de efeito estufa deve ocorrer de forma global, com a real transferência de créditos decorrente da mitigação das emissões, permitindo escalas maiores de trocas e abrindo uma janela de oportunidades. Após três anos discutindo os termos do acordo, em 2018 foi elaborado o Livro de Regras do Acordo de Paris, em Katowice, na Polônia, para que o documento seja colocado em prática. As diretrizes apresentadas contêm processos e regras para que os países trabalhem juntos na concretização dos objetivos coletivos. Como o livro de regras para o mercado de carbono acabou não sendo definido na COP-25, especialistas acreditam que o Fundo Verde para o Clima (GFC, na sigla em inglês) deve ser afetado, perdendo contribuições financeiras importantes. Ratificado na COP-16 — realizada em 2010, no México — o GFC conta hoje com US$ 10 bilhões doados por 43 países e visa promover projetos que ajudem os países em desenvolvimento a combater a emergência climática, mas novamente as nego- ciações vão se arrastar para o ano seguinte (SANTELLI, 2020, documento on-line). A efetivação das estratégias propostas nos documentos das conferências citadas promoverá ações globais de mitigação e adaptação de mudanças climáticas, e serão beneficiadas diversas populações, especialmente as mais vulneráveis. Mercado do carbono 5 O que é o mercado de carbono Da conferência realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Rio-92) emergiram do- cumentos identificando que as principais fontes de poluição ambiental eram decorrentes principalmente dos padrões de produção e consumo dos países desenvolvidos. A Convenção do Clima, um dos tratados da Rio-92, definiu então metas de emissões para os países industrializados, a fim de estabilizar suas concentrações de gases de efeito de estufa em níveis que não implicassem alterações climáticas perigosas, de forma a permitir uma adaptação natural e progressiva dos ecossistemas às alterações climáticas. Para ajudar os países desenvolvidos a cumprir suas metas compulsórias de redução de emissão dos gases de efeito estufa, o Protocolo de Kyoto — uma atualização da Convenção do Clima — estabeleceu os chamados mecanismos de flexibilização, entre eles o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), uma iniciativa brasileira. O MDL representa a cooperação entre países que não possuem obri- gatoriedade (nações em desenvolvimento) de redução das emissões de gases de efeito estufa e os que têm essa imposição, que seriam os países desenvolvidos. Por esse mecanismo, uma empresa num país em desenvol- vimento pode oferecer créditos de carbono para outra que esteja em um país desenvolvido, para que cumpra sua meta de redução. O cálculo é feito assim: um crédito de carbono representa a não emissão de uma tonelada de carbono na atmosfera. Portanto, esses mecanismos de flexibilização do Protocolo de Kyoto criaram o mercado de carbono, que confere valor monetário ao “[...] serviço prestado por uma empresa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, em nome de outra empresa ou país. Esse mercado movimentou em 2009 cerca de 140 milhões de dólares” (ROCHA, 2012, p. 138). O mercado de carbono vem sendo utilizado para reduzir os custos de mitigação do efeito estufa e é um importante instrumento no regime climático global. No Brasil, está descrito na Política Nacional sobre Mudança do Clima. Em 29 de dezembro de 2009, o governo brasileiro deu um passo histó- rico ao instituir a Política Nacional de Mudança do Clima por meio da Lei Federal nº 12.187. Essa lei continha os seguintes planos setoriais: redução de 80% do desmatamento na Amazônia; redução de 40% do desmatamento no bioma cerrado; ações para o setor de energia, agricultura, pecuária e indústria. Entre as iniciativas previstas, estava o mercado de créditos de carbono. Entretanto, problemas como falta de transparência e efetividade na organização dos fundos para o clima, contingenciamento e má gestão dos recursos, inação governamental Mercado do carbono6 e recessão econômica desafiaram a confiabilidade da aplicação, interferiram no interesse privado em empréstimos de baixo carbono e descontinuaram os processos, levando ao insucesso da aplicação da lei. Mesmo fora do Protocolo de Kyoto ocorrem transações de créditos de carbono, no chamado mercado voluntário, que são iniciativas voluntárias de empresas e instituições que não têm obrigações de reduzir emissões, mas que desejam compensá-las mediante a aquisição de créditos de carbono em um mercado alheio a Kyoto (INSTITUTO ECOLÓGICA, [2020?]). Existem duas principais corretoras que realizam transações no mercado voluntário: Chicago Climate Exchange (norte-americana) e European Climate Exchange (europeia). Os créditos de carbono podem ser gerados em qualquer lugar do mundo e são auditados por uma entidade independente do sistema das Nações Unidas. Os créditos obtidos nos mercados voluntários apresentam operações menos burocráticas, mas não valem como redução de metas dos países. Podem entrar nesse sistema projetos que tenham estruturas não reconhecidas pelo mercado regulado (RETTMANN, [2020]). O mercado voluntário de créditos de carbono apresenta maior potencial para contribuição do desenvolvimento sustentável localmente em comparação com o mercado regulado, devido à sua maior flexibilidade, à diversidade de atores e à exigência da demonstração dos benefícios declarados (GOMES; SILVA; CARVALHO, 2017). O principal mecanismo de crédito nesse segmento vo- luntário é a Redução de Emissões Proveniente de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD), em que as empresas financiam projetos de preservação de florestas, manejo florestal sustentável e aumento dos estoques de carbono em áreas de floresta. Esses créditos servem para manter, implementar ou melhorar reservas florestais, reservas de povos tradicionais e propriedades privadas com biomas preservados. As empresas, por sua vez, são reconhecidas como ambiental- mente corretas. No mercado voluntário de créditos de carbono, os projetos de REDD estão tendo uma aceitação positiva e gerando negócios. No Brasil, foi criado o Fundo Amazônia pelo decreto nº 6.527/2008, com o intuito de apoiar as ações de REDD mediante doações dos países ricos, parceiros internacionais e do próprio governo federal (CHAVES, 2015). Há muitos projetos interessantes de inovação e inclusão social no mer- cado voluntário. Já o mercado regulado apresenta mais comumente projetos de grande escala, envolvendo geração de energia, tratamento de resíduos urbanos e industriais, etc. O Quadro 3 mostra as respectivas vantagense desvantagens dos mercados de crédito de carbono regulado e voluntário. Mercado do carbono 7 Quadro 1. Mercado de carbono regulado versus mercado voluntário Mercado de carbono Regulado Voluntário Prós � Estrutura já reconhecida pelo mercado � Maior retorno com a comercialização dos créditos � Estrutura mais flexível � Não está limitado aos prazos do Protocolo de Kyoto � Viabilidade de projetos de pequeno porte Contras � Limitações impostas pelo Protocolo de Kyoto � Projetos com custos mais elevados � Ausência de uma padronização definitiva e universal Preço (ton./CO2 eq.) � US$ 15,00 – US$25,00 � US$ 2,30 – US$ 4,00 Fonte: Adaptado de Alves, Oliveira e Lopes (2013). As organizações podem ter diferentes objetivos ao participar do mercado de créditos de carbono. Algumas, apesar de não terem obrigatoriedade de redução de emissão de gases de efeito estufa, realizam essas ações para gerar créditos e obter receitas, além de melhorar sua imagem junto ao público e agregar valor aos seus produtos, por ficarem vinculadas à sustentabilidade. Esse tipo de empresa vislumbra a redução de emissões como investimento e oportunidade e não como custo. Enquanto isso, outras, por terem a imposição legal de redução de emissões, contam com os mecanismos do mercado de carbono, que ajuda a minimizar seus custos. Os projetos de (MDL) das empresas podem se concentrar em criar novas fontes de energia, tornar mais eficientes seus processos produtivos ou substituir combustíveis fósseis por outros de fontes renováveis. Dessa forma, contribuem com a redução de emissões de gases. Um modo de gerar créditos de carbono é pela substituição de combustíveis não renováveis em fábricas, como lenha obtida de desmatamento, por bio- massas renováveis, que emitem menos gases de efeito estufa e contribuem para diminuir a derrubada de florestas. Dessa forma, é calculado quanto de carbono deixou de ser emitido devido à substituição do combustível, e o equivalente se reverte em créditos de carbono. Mercado do carbono8 As empresas que compensam seu alto nível de emissões comprando créditos nesse mercado ajudam indiretamente a manter projetos de recupe- ração de áreas degradadas e de reflorestamento, bem como projetos sociais e educacionais de comunidades vulneráveis, entre outros. Um exemplo de projeto é o da unidade da Usina Coruripe Açúcar e Álcool, localizada em Campo Florido (MG). Como ação estratégica de gestão ambiental, a empresa passou a gerar eletricidade a partir da queima de bagaço de cana, que é fonte renovável de energia. Esse projeto ajudou a reduzir em 7 mil toneladas as emissões de gases de efeito estufa entre 2007 e 2008. O mercado de carbono no Brasil e no mundo O Protocolo de Kyoto obriga os países desenvolvidos a diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Se não cumprirem essas metas estabelecidas, precisam comprar certificados comercializados no mercado de carbono. Essa transação pode ocorrer na Bolsa de Valores ou por outras formas. Para obter o Certificado de Redução de Emissões, é preciso comprovar a redução de poluentes no país emergente ou empresa. Alves, Oliveira e Lopes (2013, documento on-line) mencionam que: O ambiente eletrônico de negociação viabiliza de forma ágil, segura e transparente o fechamento de negócios com créditos gerados por projetos de [...] MDL e no âm- bito do mercado voluntário. [...] As operações são realizadas por meio de leilões eletrônicos, via web, e agendados pela BM&FBovespa a pedido de entidades — pú- blicas ou privadas — que desejem ofertar seus créditos de carbono no mercado: 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. As indústrias lançam mais de 35,5 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera por ano. A BM&FBovespa fornece aos participantes do mercado de carbono um banco de projetos de MDL e utiliza o sistema eletrônico de leilões para a negociação de redução de emissões de gases de efeito estufa. Os leilões são modelados conforme as características específicas da oferta e as regras de cada leilão são divulgadas por meio de anúncios públicos ou editais. De acordo com Chaves (2015, documento on-line) “[...] o primeiro leilão realizado no Brasil foi feito pela prefeitura de São Paulo em setembro de 2007. O leilão vendeu um lote de 808.450 certificados do Projeto Bandeirantes, Mercado do carbono 9 gerando uma receita de R$ 34,05 milhões”. Esse projeto se encontra entre os cinco maiores programas de MDLs aprovados para o controle de emissões de gases de efeito estufa via gerenciamento de resíduos. Os recursos obtidos a partir dessa negociação foram destinados a projetos ambientais nas áreas próximas ao aterro. O aterro Bandeirantes, um dos maiores aterros sanitários do mundo, era localizado na Rodovia dos Bandeirantes, zona norte de São Paulo, e tinha capacidade máxima de aproximadamente 25 milhões de toneladas de lixo. Foi desativado em 2005 após atingir este limite. O metano produzido era transportado por tubulação subterrânea e queimado em fornalhas. O gás metano é um dos gases de efeito estufa que aumentam o aquecimento global. O projeto de gerenciamento de resíduos desse aterro foi capaz de gerar 2,8 milhões de unidades de certificados de redução de emissões (CREs), por meio do MDL, e os recursos financeiros foram investidos na região. Foram inauguradas duas praças de lazer no bairro de Perús, próximo ao aterro, com playgrounds, bancos e árvores frutíferas plantadas pelos residentes locais e preservadas pela prefeitura, além de pista de caminhadas e espaço para atividades comunitárias. Outros benefícios desse projeto foram a reurbanização de uma área de ocupação ilegal e a regularização das moradias, a promoção de um programa de educação ambiental e a construção de um parque linear para conter a água das chuvas e reduzir a ocorrência de enchentes na região (SÃO PAULO, 2012). O mercado de créditos de carbono está em expansão em todo o mundo, e o Brasil tem participado amplamente dele com inúmeros projetos. Energias renováveis, agricultura de baixo carbono e recuperação de florestas são algumas das áreas que representam oportunidades para uma participação ativa do Brasil no mercado de carbono. A projeção de um cenário favorável abre caminho para a restauração de áreas degradadas, que engloba terras abando- nadas, subutilizadas, ambientalmente prejudicadas ou em processo de erosão [...] O potencial de reflorestamento é uma das frentes para que se possa gerar créditos de carbono de reflorestamento de áreas degradadas (SANTELLI, 2020, documento on-line). O Brasil possui 50 milhões de hectares de áreas degradadas, que têm potencial para se tornarem terras produtivas com a implantação de sistemas agroflorestais (Figura 2), gerando créditos de carbono e atraindo investimentos estrangeiros. Mercado do carbono10 Figura 2. Exemplo de sistema agroflorestal. Fonte: Rosa (2018, documento on-line). De acordo com Santelli (2020, documento on-line), “[...] a resiliência da agricultura brasileira no século XXI depende de práticas de baixo carbono, de restauração e da conservação do meio ambiente”. Essas ações contribuem para o sistema de chuvas, o equilíbrio do clima e a disseminação de sementes por polinizadores. O maior mercado de carbono do mundo é o europeu, em que há parti- cipação de todos os países vinculados às metas do Protocolo de Kyoto. O sistema funciona estabelecendo um teto de emissões para cada empresa, ou seja, com a distribuição de um número limitado de permissões de emissão de gases de efeito estufa a partir das metas estipuladas no protocolo. Se determinada empresa conseguir reduzir as emissões de gases e não atingir esse limite, ela pode negociar as permissões que sobraram com empresas que ultrapassaram suas metas. A partir de 2013, houve uma atualização do Protocolo de Kyoto, e o mercado europeu reduziu a comercialização de créditos de carbono com os países em desenvolvimento, incentivando mercadosmenores e voluntários. O Acordo de Paris, assinado em 2015, foi previsto para ser colocado em prática nos anos seguintes à sua criação e propunha um mercado global, com a parti- cipação ampla de todos os países signatários, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Há, porém, algumas críticas aos mecanismos de créditos de carbono, como que eles não cumprem o objetivo de preservação ambiental e até au- torizam emissões de gases nos países desenvolvidos, sem que os benefícios Mercado do carbono 11 de contrapartida sejam efetivamente realizados. Outros pontos de debate são problemas técnicos e de mensuração de dados em projetos. Além disso, critica-se o deslocamento de um problema ambiental para outro local, como um projeto criado pelos créditos de carbono que preserva uma área, mas derruba árvores em outro lugar. Há também questões de falta de fiscalização e durabilidade dos projetos, que não criaram impacto permanente de redução de gases, pois o desmatamento era retomado após alguns anos. O Brasil é considerado uma das maiores potências mundiais em carbono, devido às suas riquezas naturais. No entanto, é preciso regular o mercado, como fizeram alguns estados norte-americanos, a União Europeia e a China, para que o país possa participar do mercado global de carbono. “Na última COP, no entanto, o Brasil foi considerado o maior vilão da conferência, por assumir uma posição dissonante em relação aos principais blocos econômicos” (CAETANO, 2020, documento on-line). De qualquer forma, créditos de carbono criam um mercado promissor para a redução de emissão de gases do efeito estufa, atribuindo um valor monetário à redução da poluição e colaborando para minimizar alguns pro- blemas ambientais que afetam a sociedade mundial. Referências ALVES, R. S.; OLIVEIRA, L. A. de; LOPES, P. de L. Crédito de carbono: o mercado de crédito de carbono no Brasil. In: SEGET — SIMPÓSIO EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA / GESTÃO E TECNOLOGIA PARA A COMPETITIVIDADE, 2013. Anais eletrônicos... Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/2018412.pdf. Acesso em: 3 jan. 2021. BRASIL. Senado Federal. Senado realiza sessão temática sobre 25 anos da Rio 92 e da Convenção do Clima. Brasília: Senado Federal, 2017. Disponível em: https://www12.se- nado.leg.br/noticias/materias/2017/06/08/senado-realiza-sessao-tematica-sobre-25- -anos-da-rio-92-e-da-convencao-do-clima. Acesso em: 3 jan. 2021. CAETANO, R. 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