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AULA 2 SISTEMAS SUPERVISÓRIOS Profª Ana Carolina Bueno Franco 02 CONVERSA INICIAL As Telas ou Interfaces Homem-Máquina (IHM) são responsáveis pela visualização de dados e alarmes de um processo. Ao longo dos anos, com recursos gráficos mais apurados, houve uma tendência de criar telas bastante realistas, porém, com excesso de objetos e informações. Estudos apontam que, na verdade, o ideal seria a adoção de conceitos simples, de forma a destacar apenas o que for mais relevante para o processo em questão. Os objetivos desta aula são: entender o conceito de Interface Homem-Máquina (IHM); conhecer os diferentes tipos de IHM; entender a construção de telas e objetos de telas; conhecer as normas existentes para desenvolvimento de telas; e compreender a metodologia de telas de alta performance. CONTEXTUALIZANDO Os sistemas supervisórios atuais disponibilizam vários recursos e objetos gráficos, com o intuito de facilitar o desenvolvimento de telas. Por alguns anos, acreditou-se que telas com o máximo de informações e objetos otimizariam a operação dos processos. Esta aula mostrará como o gestor de automação deve implementar ou customizar telas, bem como quais critérios devem ser adotados para isso. TEMA 1 – INTERFACE HOMEM-MÁQUINA (IHM) O termo “Interface Homem-Máquina” é utilizado na indústria para descrever as telas de um processo. Essas telas, ou interfaces, possibilitam a interação do homem com as máquinas e servem para descrever ou representar processos industriais ou instalações físicas. No início da automação, antes dos sistemas supervisórios, o controle dos processos era feito por painéis de controles analógicos. Controlar e supervisionar os processos eram tarefas desafiadoras para o operador, já que displays analógicos, diversos botões, alarmes sonoros e lâmpadas eram utilizados para representar o processo. Além de requerer um alto nível de atenção, esse tipo de supervisão era passível de erros, pois os dados eram anotados e havia pouca automatização. 03 Figura 1 – Painel de controle Fonte: Biasuz, 2017 Com o surgimento dos sistemas supervisórios e CLPs (Controladores Lógicos Programáveis), as telas passaram a representar o processo de forma mais simplificada, mas com muitas informações. Figura 2 – Tela de um sistema supervisório antigo Fonte: Biasuz, 2017. Ao longo dos anos, com a evolução dos sistemas supervisórios, as telas ganharam mais recursos e mais qualidade. Atualmente, é possível acessar as 04 telas do SCADA por meio da WEB e realizar a supervisão e controle de um processo a partir de qualquer local. No ambiente industrial, além do uso de computadores, é muito comum também o uso de uma IHM industrial. TEMA 2 – TIPOS DE INTERFACE HOMEM-MÁQUINA A interface homem-máquina não se restringe somente ao sistema supervisório. É muito comum, na indústria, o uso de IHMs industriais. Operator Interface Terminal (OIT) é a IHM usada para substituir botões, LEDs, chaves e dispositivos eletromecânicos (antes existentes em painéis, conforme Figura 1). Nesse caso, a IHM consegue representar visualmente todos os dispositivos e também consegue executar a função de controle. Em geral, são telas de LCD com recursos gráficos limitados e que possuem a função touchscreen. Com relação à comunicação, conseguem trocar dados com CLPs. São muito utilizadas em pequenas aplicações, pois sua capacidade de armazenamento é baixa. Figura 3 – Exemplo de IHM Fonte: Omega. Interfaces embarcadas: são muito utilizadas em aplicações que exigem monitoramento constante. Em geral, possuem um sistema operacional, como o Windows Embedded. Devido a essa característica, podem rodar sistemas supervisórios dedicados (que tenham compatibilidade com o sistema operacional). Oferecem mais possibilidades em relação às IHMs do tipo OIT. 05 Como são utilizadas em ambiente industrial, é preciso que tenham grau de proteção elevado (IP 67 ou IP 68), para que possam operar em ambientes agressivos (altas temperaturas, elevada umidade e poeira). As características das IHMs estão listadas na figura 4: Figura 4 – Características das IHMs Fonte: Silveira, 2017. TEMA 3 – TELAS A customização e especificação das telas, com o objetivo de representar o processo industrial, é de responsabilidade do cliente e da empresa de engenharia que desenvolverá o supervisório. A etapa de especificação das telas é extremamente importante, pois, além da representação do processo e das informações relevantes, deve considerar o conforto dos operadores e a segurança do processo. Telas muito poluídas, com informações em excesso, dificultam a operação do sistema. Para gerar as telas, são utilizados objetos de tela, tais como: Primitivas do editor gráfico (retas, círculos, retângulos, polígonos etc.). Controles ActiveX. Imagens (vetoriais e não vetoriais). Controles padrão do Windows. Grande parte dos fornecedores de SCADA disponibiliza o editor gráfico para facilitar a edição das telas. As telas criadas podem ser apresentadas de 06 dois modos: tela cheia (full screen) ou como tela modal (tamanho reduzido, isto é, janelada). Os controles ActiveX são pequenos programas, também chamados de complementos ou add-ons, que podem ser inseridos no supervisório. São desenvolvidos por terceiros, com finalidades específicas, tais como barra de ferramentas, barra de cotações de ações, vídeos etc. Já os objetos Microsoft Forms são componentes de software, baseados na tecnologia COM (Component Object Model). São utilizados para realizar diversas tarefas. Figura 5 – Controles Microsoft Fonte: Elipse Software, 2017. 07 Figura 6 – Ambiente de desenvolvimento do supervisório – construção de telas Fonte: Elipse Software, 2017. TEMA 4 – NORMAS ISO 9241-11 E ISA 101 O desenvolvimento e especificação de telas devem levar em conta os seguintes critérios: 1. A tela deve prover ao operador do processo apenas as informações relevantes. 2. O conforto visual dos operadores deve ser considerado. 3. As telas devem facilitar a interpretação do processo. Para atender a esses critérios, algumas normas foram elaboradas e servem de guias para os desenvolvedores de sistemas. A norma ISO 9241-11 trata da usabilidade de sistemas de software. De acordo com a norma, o conceito de usabilidade é definido como a “Medida na qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação, em um contexto específico de uso” (ISO, 2018). A usabilidade deve prever os seguintes objetivos: Facilitar o aprendizado. A utilização do sistema deve ser simples e requerer pouco treinamento. Facilitar a memorização. O usuário deve lembrar como utilizar a interface. 08 Aumentar a produtividade. A interface deve permitir que o usuário realize uma tarefa de forma rápida e eficiente. Minimizar a taxa de erros. Em caso de operações realizadas de forma incorreta, a interface deve alertar o usuário e permitir a correção de forma rápida e eficiente. Outra norma que trata da usabilidade e estabelece alguns padrões para o desenvolvimento de interfaces é a norma ANSI/ISA – 101. A norma tem como objetivos: estabelecer padrões para o desenvolvimento, manutenção e operação de interfaces homem-máquina, que resultem em operações mais seguras e eficientes; otimizar a habilidade do operador de detectar, diagnosticar e responder às situações de processo que estejam fora da normalidade. No escopo da norma, constam os seguintes itens: hierarquias em menus, convenções para a navegação entre telas, padrões para gráficos e cores, animação de objetos, convenções para sinalizar alarmes, fundos de telas, estilos de telas do tipo pop-up, telas de ajuda, entre outros (LEHMANN; WILKINS, 2015). 09 Figura 7 – Terminologias da norma ISA 101 Fonte: Lehmann; Wilkins, 2015. A norma ainda propõe um ciclo para o desenvolvimento de telas, de forma similar aos ciclos propostos em desenvolvimento de alarmes e segurança. Seu objetivo é servir como referência para o desenvolvimento de novas telas, bem como otimizar as existentes. Figura 8 – Ciclo proposto pela norma ISA 101 Fonte: Lehmann; Wilkins, 2015. 010 TEMA 5 – TELAS DE ALTA PERFORMANCE Atualmente, as interfaces de sistemas, em geral, têm por objetivo se tornarem mais intuitivas e de fácil operação. Cada vez mais os usuários dependem de sistemas para realizar tarefas simples: aplicativos de bancos, comparação de preços entre sites de compras, delivery de comida, entre outros. É importante que o usuário consiga navegar e realizar transações sem que necessite de ajuda. Com base nas normas já mencionas e em estudos nas áreas de design, psicologia e ciências cognitivas, foi desenvolvida uma metodologia para interfaces de alta performance, que vai além da questão estética. Ela tem por objetivo a prevenção de falhas e redução de erros na operação e proporciona maior conforto ao usuário, visando à facilidade de aprendizado e memorização. Outro ponto importante é que ela permite a visualização de informações detalhadas, em vez de apenas dados brutos. Alguns estudos comprovaram os benefícios da implementação, conforme a Figura 9. Figura 9 – Resultados dos testes com telas de alta performance Fonte: Elipse Software, 2017 Um fato importante apontado pelos estudos é que, usando interfaces de alta performance, o operador conseguiu detectar mais situações de anormalidades, antes da ocorrência de alarmes. Portanto, a grande justificativa para a sua implementação é a segurança. 011 Existem diversos relatos de acidentes em indústrias, causados por telas muito poluídas e com excesso de informações, como o acidente na refinaria BP Texas e o acidente com o voo da Indian Airlines, em 1990. Estes acidentes são exemplos de que não basta apenas que os dados estejam em exibição na tela. O operador precisa ter consciência da situação de modo geral e de tudo que se passa ao seu redor. Este conceito é chamado de “consciência situacional” e define como a situação é percebida pelo operador em uma situação real. A consciência situacional envolve três aspectos: percepção, compreensão e projeção. Figura 10 – Etapas da consciência situacional Fonte: Elipse Software, 2017. Ao desenvolver uma tela do processo, é preciso que o operador consiga identificar e perceber informações que estejam anormais. Após a percepção do fato, é preciso que ele compreenda como essas informações influenciam no processo. A terceira etapa é a projeção das consequências, isto é, a determinação de quais medidas devem ser tomadas. 012 Figura 11 – Etapas da consciência situacional Fonte: Elipse Software, 2017. Um bom exemplo de como os dados devem ser disponibilizados é mostrado na Figura 11. A informação da temperatura dá ao operador a percepção do valor, porém ela não indica se este valor está dentro da normalidade do processo ou próxima a um limiar de alarme. A compreensão de como esta temperatura se comporta é dada quando há a indicação de limite de alarmes, a fim de deixar claro ao operador qual é exatamente a faixa de operação em condições normais. Essa indicação de contexto pode ser exibida em objetos como gráficos ou barras. Nesta etapa, o operador não consegue projetar as consequências do comportamento da temperatura. Isso só é feito na etapa de projeção, quando há também um histórico da temperatura ao longo do tempo. A metodologia de telas de alta performance trata do design pré-atentivo, ou seja, a interface deve alertar o operador para o que realmente importa. O excesso de informações, cores e objetos, sobrecarrega o operador e tira a eficiência da função informativa da interface, diminuindo a sua usabilidade. A seguir, alguns exemplos de como as interfaces de alta performance devem ser projetadas. 013 Figura 12 – Visualização de dados em alta performance (antes e depois) Fonte: Elipse Software, 2017. Figura 13 – Uso do gráfico do tipo Radar Fonte: Elipse Software, 2017. Na figura 13, o gráfico do tipo radar é usado para correlacionar variáveis do processo. A linha pontilhada indica a situação ideal e a linha contínua, a situação real do processo. A sinalização dos dados dessa forma dá ao operador a percepção de como cada variável está em relação ao ponto considerado ideal. Outro ponto de destaque é o uso de cores. É recomendado o uso de cores discretas para o fundo de tela, evitando-se o uso de gradientes. Para indicar estados críticos e de maior relevância, é indicado o uso de cores que chamem a atenção do operador. 014 Figura 14 – Uso de cores em telas de alta performance Fonte: Elipse Software, 2017. Usar uma cor clara como fundo de tela emite maior quantidade de luz, provocando a fadiga visual em um longo período de exposição. Assim, recomenda-se o uso de cores escuras, que emitem menos quantidade de luz. Com relação à representação de status dos objetos, recomenda-se: Ligado: objeto mais claro que a cor de fundo da tela. Desligado: objeto mais escuro que a cor de fundo. Figura 15 – Representação do status dos equipamentos Fonte: Elipse Software, 2017. 015 Não é recomendado o uso das cores branca ou preta como fundo de tela. A indicação é o uso de cores neutras intermediárias, como cinza claro e cinza escuro. Com relação aos alarmes da aplicação (que estão sempre atrelados a um grau de severidade), a recomendação é que sejam diferenciados por cor, forma e número. Figura 16 – Indicação de alarmes Fonte: Elipse Software, 2017. Figura 17 – Representação de alarmes em alta performance Fonte: Elipse Software, 2017. Para representar o nível de importância que os elementos possuem entre si em uma tela (hierarquia visual), recomenda-se a variação no tamanho dos objetos, conforme Figura 18. 016 Figura 18 – Hierarquia de objetos (alta performance) Fonte: Elipse Software, 2017. Outra recomendação é evitar o uso de animações em telas, pois elas podem tirar a atenção do operador de algo prioritário. Também não é recomendado o uso de objetos em 3D. Figura 19 – Posicionamento de objetos (alta performance) Fonte: Elipse Software, 2017. Elementos em 3D só são recomendados para telas que não possuam operação, cuja função seja mostrar o processo de forma geral. A seguir, exemplos de telas antes e depois de aplicadas as recomendações: 017 Figura 20 – Tela SCADA (sem a metodologia de alta performance) Fonte: ISA 018 Figura 21 – Tela SCADA (com alta performance) Fonte: ISA FINALIZANDO Ao especificar o projeto de um sistema supervisório, deve-se levar em conta quais dados são relevantes ao processo e adotar a metodologia de alta performance. Telas implementadas de forma adequada garantem não só segurança, mas também otimizam a operação do processo. 019 REFERÊNCIAS BIASUZ, C. Design e Interação: Afinal, o que é HMI? E HPHMI? Scada HUB, 11 jan. 2017. Disponível em: <https://www.scadahub.io/single- post/2017/01/11/Design-e-Interação-Afinal-o-que-é-HMI-E-HPHMI>. Acesso em: 19 abr. 2018. ELIPSE Software. Tutorial do E3 Desenvolvedores. Porto Alegre: [s.n.], 2017. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br>. Acesso em: 19 abr. 2018. GOETZ, H. F. Metodologia para Desenvolvimento de IHMs de Alta Performance Visual. Elipse Knowledgebase Disponível em: <http://kb.elipse.com.br/ >. Acesso em: 19 abr. 2018. ISA. Disponível em: <https://www.isa.org>. Acesso em: 19 abr. 2018. ISO. ISO 9024-11: Usability: Definitions and concepts. [S.l], 2018. Disponível em: <https://www.iso.org/obp/ui/#iso:std:iso:9241:-11:ed-2:v1:en>. Acesso em 19 abr. 20118. OMEGA. Disponível em: <https://www.omega.com >. Acesso em: 19 abr. 2018. LEHMANN, G.; WILKINS, M. ISA 101 HMI standard nears completion. InTech Magazine, 2015. Disponível em: <https://www.isa.org/intech/20140805/>. Acesso em 19 abr. 2018. SILVEIRA, C. IHM: Saiba quais os tipos e como selecionar. Citisystem. Disponível em: <https://www.citisystems.com.br/ihm/>. Acesso em: 19 abr. 2018.
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