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Autora: Profa. Leila Dutra Rodrigues Colaboradores: Prof. Gustavo Nascimento Profa. Christiane Mazur Doi Sistemas para Operações de Recursos Humanos Professora conteudista: Leila Dutra Rodrigues Mestre em Comunicação pela Universidade Paulista (2013). Graduada em História pela Universidade Bandeirante de São Paulo (2008), com especialização em História, Sociedade e Cultura pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012). Graduada em Direito pela Universidade de Mogi das Cruzes (1992), com especialização em Direto do Trabalho pela Universidade São Francisco (1996). Ex-membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP (2020-2021). Advogada autônoma e professora em cursos presenciais e EAD. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R696s Rodrigues, Leila Dutra. Sistemas para Operações de Recursos Humanos / Leila Dutra Rodrigues. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 180 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Legislação. 2. Contrato. 3. Desligamento. I. Título. CDU 658.3 U516.26 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ricardo Duarte Auriana Malaquias Sumário Sistemas para Operações de Recursos Humanos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ÀS RELAÇÕES DE TRABALHO .................................................................... 11 1.1 Constituição Federal............................................................................................................................ 11 1.2 Código Civil ............................................................................................................................................. 12 1.3 Código Penal .......................................................................................................................................... 15 1.4 Consolidação das Leis do Trabalho ................................................................................................ 15 1.5 Lei de Liberdade Econômica ............................................................................................................. 18 1.6 Normas coletivas (acordo, convenção, dissídio coletivo) ..................................................... 19 1.7 Regimento interno e código moral ............................................................................................... 22 2 CONCEITO DE EMPRESA E EMPRESÁRIO ............................................................................................... 23 2.1 Tipos de empresário ............................................................................................................................. 25 2.1.1 Empresário individual............................................................................................................................ 26 2.1.2 Sociedade empresária ........................................................................................................................... 28 2.2 Registro da empresa e empresário irregular ............................................................................. 29 2.3 Sociedades empresárias e sociedades não empresárias ....................................................... 31 2.4 Classificação das sociedades empresárias .................................................................................. 33 2.5 Microempresa e empresa de pequeno, médio e grande porte .......................................... 36 Unidade II 3 ESOCIAL ............................................................................................................................................................... 46 3.1 Implantação do eSocial ..................................................................................................................... 47 3.2 Envio de documentação antes da admissão ............................................................................. 48 3.3 Envio de informações obrigatórias ............................................................................................... 49 3.4 Relação Anual de Informações Sociais (Rais) ........................................................................... 53 3.5 Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (Dirf) .................................................... 53 3.6 Sistema Empresa de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social (Sefip) ......................................................................................................................... 54 3.7 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) ................................................ 54 4 ROTINAS DE ADMISSÃO ............................................................................................................................... 54 4.1 Tipos de contrato individual de trabalho.................................................................................... 57 4.1.1 Contrato por prazo determinado ..................................................................................................... 58 4.1.2 Contrato por prazo indeterminado ................................................................................................. 59 4.1.3 Contrato convencional ......................................................................................................................... 60 4.1.4 Contrato por tempo parcial ................................................................................................................ 60 4.1.5 Contrato intermitente .......................................................................................................................... 61 4.2 Carteira de Trabalho e Previdência Social (física e digital) .................................................. 65 4.3 Documentos para a admissão do empregado .......................................................................... 66 4.4 Preenchimento de documentos (físicos e digitais) ................................................................. 68 4.5 Livro/ficha de registro (físico e digital) ........................................................................................ 68 4.6 Recibo de entrega e comprovante de devolução de documento ..................................... 72 4.7 PIS/Pasep .................................................................................................................................................. 72 4.8 Exame médico: PCMSO e ASO ........................................................................................................ 73 4.9 Registro na empresa........................................................................................................................... 75 4.10 Outras formas de contratação ...................................................................................................... 77 4.10.1 Avulso ........................................................................................................................................................ 77 4.10.2 Menor ........................................................................................................................................................ 78 4.10.3 Estagiário ................................................................................................................................................. 78 4.10.4 Aprendiz ................................................................................................................................................... 79 4.10.5 Trainee ....................................................................................................................................................... 80 4.10.6 Pessoa jurídica ....................................................................................................................................... 81 4.10.7 Mão de obra temporária.................................................................................................................... 81 4.10.8 Mão de obra terceirizada .................................................................................................................. 83 4.10.9 MEI ............................................................................................................................................................. 84 Unidade III 5 ROTINAS DE PERMANÊNCIA ....................................................................................................................... 90 5.1 Exigências legais ................................................................................................................................... 90 5.1.1 Livro de Inspeção de Trabalho ........................................................................................................... 90 5.1.2 Quadro de horário de trabalho.......................................................................................................... 92 5.1.3 Controle de ponto (físico e digital).................................................................................................. 92 5.2 Vale-transporte ..................................................................................................................................... 93 5.3 Jornada de trabalho ............................................................................................................................ 96 5.3.1 Horário de trabalho ................................................................................................................................ 96 5.3.2 Modalidades de jornada ....................................................................................................................... 97 5.3.3 Repouso semanal .................................................................................................................................... 98 5.3.4 Intervalo para repouso e alimentação .........................................................................................100 5.3.5 Trabalho noturno ..................................................................................................................................101 5.3.6 Hora extra ................................................................................................................................................103 5.3.7 Banco de horas e compensação de horas...................................................................................104 5.4 Remuneração .......................................................................................................................................106 5.4.1 Salário e outras verbas .......................................................................................................................106 5.4.2 Formas de pagamento ........................................................................................................................113 5.5 Cálculo da folha de pagamento ...................................................................................................117 5.6 Férias ........................................................................................................................................................121 5.7 Exemplos de cálculo ..........................................................................................................................123 6 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS ...............................................................................................................126 6.1 Salário-maternidade .........................................................................................................................128 6.2 Auxílio-doença ....................................................................................................................................130 6.3 Auxílio-acidente ..................................................................................................................................131 6.4 Auxílio-doença acidentário ............................................................................................................132 Unidade IV 7 ROTINAS DE DESLIGAMENTO ...................................................................................................................138 7.1 Exame médico demissional ............................................................................................................139 7.2 Comunicação de dispensa do trabalho (aviso-prévio) ........................................................140 7.2.1 Dispensa sem justa causa ................................................................................................................. 142 7.2.2 Pedido de demissão ............................................................................................................................ 143 7.2.3 Dispensa com justa causa ................................................................................................................ 144 7.2.4 Rescisão de contrato de experiência ........................................................................................... 148 7.3 Cálculo da rescisão ............................................................................................................................149 7.4 Seguro-desemprego ..........................................................................................................................152 7.5 Exemplos de cálculo ..........................................................................................................................153 7.6 Rescisão do contrato de trabalho por culpa do empregador ..........................................155 7.6.1 Culpa recíproca ..................................................................................................................................... 156 7.6.2 Fechamento da empresa ................................................................................................................... 156 7.6.3 Justa causa do empregador ............................................................................................................. 157 7.7 Dano moral ...........................................................................................................................................160 7.8 Assédio moral e assédio sexual .....................................................................................................161 8 JUSTIÇA DO TRABALHO ..............................................................................................................................163 8.1 Organização da Justiça do Trabalho ...........................................................................................1648.2 Meios de prova da relação de trabalho .....................................................................................168 9 APRESENTAÇÃO Estimade alune, O objetivo desta disciplina é introduzi-lo no universo das legislações e práticas que envolvem os contratos de trabalho. São inúmeras as normas que fazem parte da rotina dos contratos. Nessa rotina estão, por exemplo, a admissão e a manutenção/rescisão do contrato. Veja que não estamos falando somente de empregado, já que existem outras modalidades de contratação. Além disso, a disciplina vai apresentar os principais órgãos envolvidos nesse processo, suas responsabilidades e as ações que devem ser praticadas pelo RH. Esta é uma disciplina bastante teórica, mas de suma importância. Vamos buscar desenvolvê-la da forma mais clara possível, apontando objetivamente os temas centrais e oferecendo o suporte necessário para a sua atuação na área. Bom estudo! INTRODUÇÃO Este livro-texto conta com quatro unidades. Na primeira, abordaremos as legislações aplicáveis às relações de trabalho, os diferentes tipos societários, o conceito de empresa e de empresário, e os diferentes enquadramentos tributários. Na segunda, conversaremos sobre o eSocial, o sistema de escrituração fiscal e digital de todas as obrigações fiscais previdenciárias e trabalhistas. Também trataremos das rotinas de admissão dos empregados. Na terceira, veremos as rotinas de permanência do empregado, como pagamento de salário, férias e 13º. Na quarta, discutiremos as práticas de desligamento do trabalhador. Mas, como nem sempre o contrato termina bem, falaremos ainda sobre a Justiça do Trabalho. Nesta disciplina, você verá que a aplicação de conceitos como respeito, reconhecimento e motivação é algo fundamental. Arcar com a remuneração e com os encargos na forma prevista na lei é assegurar uma retribuição justa e digna para os trabalhadores. 11 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Unidade I 1 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ÀS RELAÇÕES DE TRABALHO Existe uma hierarquia entre as leis. O importante é que todas devem acatar a norma principal, a Constituição Federal (CF). Esta é soberana. Todas as demais se subordinam a ela. A subordinação se aplica a todos os ramos do direito, inclusive àqueles que envolvem as relações de trabalho. Várias normas (leis, regulamentos, portarias) regulam o exercício do trabalho. A figura a seguir mostra as principais. Código Civil; Código Penal; Consolidação das Leis do Trabalho; Lei de Liberdade Econômica Normas regulamentadoras; Legislação profissional Normas coletivas (acordo, convenção, dissídio coletivo) Regimento interno; Código moral Constituição Federal Figura 1 1.1 Constituição Federal Logo no art. 1º a Carta Magna reconhece a importância do trabalho e o valor social que ele tem: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] IV – os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (BRASIL, 1988). Veja que o trabalho é alçado à categoria de princípio. Ele tem valor social porque envolve vários aspectos da vida do cidadão. É por meio do trabalho que o povo garante uma vida digna. Os arts. 5º e 7º elencam inúmeros direitos e garantias para os trabalhadores, sempre no intuito de assegurar a dignidade no exercício da atividade laborativa. Em alguns pontos, os direitos são específicos 12 Unidade I dos empregados, mas em outros se aplicam a toda forma de trabalho (empregador, empregado, autônomo etc.). Por exemplo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; […] XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (BRASIL, 1988). A CF foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Por ser a principal norma, todas as demais tiveram que ser ajustadas de acordo com o seu texto. Saiba mais Leia na íntegra o texto da CF de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: https://bit.ly/3dxuysm. Acesso em: 16 ago. 2022. 1.2 Código Civil O Código Civil (CC) regula a nossa vida em vários aspectos, como família, vida, morte, propriedade, casamento, união estável e contratos. A partir de 2002, passou a tratar também do direito empresarial. Entre os conceitos que o CC apresenta, um dos mais importantes é o de empresário, no art. 966: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002). Veja que, pela definição do código, qualquer pessoa pode ser um empresário, mas para isso é necessário atender alguns requisitos mínimos: • Capacidade civil: ser maior de 16 anos emancipado ou ter 18 anos completos. • Inexistência de impedimento legal: não ser menor de 16 anos, não ter restrição em decorrência de cargo público, não ser falido etc. 13 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS A pessoa que se apresenta como empresária precisa poder exercer a atividade, uma vez que serão firmados contratos e realizados negócios com ela. Para que os contratos tenham validade, também são necessários alguns requisitos: • capacidade das partes; • objeto lícito, que não fira a lei e que possa ser identificado. Quanto à estrutura do documento, o CC elenca estes requisitos: • vontade das partes; • causa; • objeto; • forma (alguns necessitam de um modelo padrão, como o contrato de casamento, enquanto outros têm estrutura livre, como o contrato de locação). As empresas firmam inúmeros contratos. Entre eles está o de prestação de serviço (atividade). Nem sempre um trabalhador é contratado como empregado. Muitas vezes, a empresa contrata trabalhadores sem vínculo empregatício – por exemplo, um pintor que atua como microempreendedor individual (MEI). Nessa situação, o contrato firmado será cível, com uma empresa contratando outra. Essa modalidade de contratação está prevista nos arts. 593 a 609 do CC. Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo. Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição (BRASIL, 2002). Veja que uma pessoa jurídica se compromete a fornecer a outra pessoa jurídica a realização de um trabalho, uma atividade, mediante condições estabelecidas e pagamento. Essa modalidade de trabalho não produz vínculo empregatício. O prestador não é empregado; ele é autônomo. O recolhimento dos encargos será diferente, assim como as responsabilidades do contratante. As partes do contrato serão: • Prestador de serviços: quem presta os serviços. • Tomador de serviços: quem contrata. O contrato é a expressão da vontade das partes. Nesse sentido, pode conter tudo o que as partes convencionaram, desde que não fira a lei nem prejudique uma das partes. As cláusulas comuns são: 14 Unidade I • as partes; • as características (termos e condições); • a remuneração; • o prazo; • a rescisão (que poderá acontecer por vontade das partes ou por justa causa, caso haja descumprimento dos termos do contrato); • as causas de extinção (conclusão do contrato, vencimento do prazo, morte ou rescisão). É muito comum uma empresa contratar outra, independentemente do porte. Algumas situações em que isso ocorre: • contratar um MEI para fazer um serviço de pintura; • contratar uma empresa de pequeno porte (EPP) para realizar o transporte dos colaboradores. Observação Sempre contrate empresas formais,ou seja, que tenham CNPJ e forneçam nota fiscal, mesmo que seja para uma prestação de serviços pequena. Isso oferece garantia e segurança para ambas as partes. O CC também prevê, nos arts. 610 a 626, o contrato de empreitada, ou seja, a contratação de um empreiteiro responsável por uma obra. Os artigos em questão estabelecem as condições e responsabilidades dessa modalidade de contrato. Lembre-se: ao contratar, as partes assumem compromissos e responsabilidades, que deverão ser justos de acordo com o princípio da boa-fé. Esse princípio, que diz respeito a honestidade, lisura e correção, deverá permear todas as nossas relações. Não existe pessoa meio honesta. Ou a pessoa é honesta, ou não é. Saiba mais Acesse o site do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e veja um modelo de contratação de MEI: SEBRAE. Modelo de contrato de serviços MEI. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3QHMsa6. Acesso em: 16 ago. 2022. 15 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS 1.3 Código Penal O Código Penal (CP), nos arts. 197 a 207, dispõe sobre os crimes cometidos contra a organização do trabalho. Atentado contra a liberdade de trabalho Art. 197. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: I – a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: Pena – detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; II – a abrir ou fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de atividade econômica: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência (BRASIL, 1940). O CP ressalta a importância da liberdade no exercício profissional. Nas relações de trabalho, também pode haver prática de crimes comuns, como agressão, coação e furto. Além da responsabilidade penal, o autor do ato poderá ser penalizado pela aplicação de justa causa. O art. 216-A do CP reconhece o assédio sexual como prática criminosa. Nessa situação, além da responsabilidade penal e da aplicação de justa causa, o empregador poderá responder por dano moral, já que a responsabilidade de assegurar um ambiente adequado é dele. O CP também pode ser aplicado em casos de acidente de trabalho, principalmente quando há lesão ou morte. Observação Em nosso ordenamento jurídico, as leis conversam entre si. Um mesmo ato pode gerar a aplicação de várias normas. 1.4 Consolidação das Leis do Trabalho Estabelecida pelo Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a principal legislação que rege os contratos de emprego. Na época existiam várias leis esparsas, que não atendiam todos os trabalhadores. Por isso, essas leis foram reunidas em um só documento. 16 Unidade I Saiba mais A CLT prevê direitos e deveres do empregado e do empregador. Convido você a conhecê-la na íntegra. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943 [Consolidação das Leis do Trabalho]. Rio de Janeiro, 1943. Disponível em: https://bit.ly/3KcPod3. Acesso em: 16 ago. 2022. No link indicado, você terá acesso ao texto atual da lei, com cada alteração sinalizada. Dessa forma, você não corre o risco de pesquisar um texto que não está mais em vigor. No art. 2º a CLT informa quem é considerado empregador: “Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço” (BRASIL, 1943). Veja que o texto é claro ao determinar as atribuições do empregador: • Assume os riscos da atividade: o risco do negócio é do empregador. Ele deve organizar os fatores de produção com o intuito de alcançar os seus objetivos. • Admite: é o empregador que seleciona e contrata o empregado. • Assalaria: também é responsabilidade do empregador arcar com os custos do contrato. • Dirige: para organizar o seu negócio, o empregador deve administrar a sua empresa, dando ordens, delimitando tarefas e exercendo o poder disciplinar. No art. 3º a CLT explica quem é empregado: Art. 3º Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Parágrafo único. Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual (BRASIL, 1943). Os elementos essenciais para a definição do empregado são elencados a seguir: 17 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS • Pessoa física: pessoa natural, ser humano (não pode ser pessoa jurídica). • Não eventualidade: haverá continuidade da relação de emprego. É um contrato de trato sucessivo, que se renova a cada dia. • Subordinação (dependência): o empregado acata as determinações do empregador, recebe e executa ordens. • Salário: neste caso, devemos compreender como remuneração. São todos os valores pagos decorrentes do trabalho. • Pessoalidade: a pessoa contratada não pode se fazer substituir por outra. Quem for contratado é que deverá prestar o serviço. Delgado (2015, p. 377) assim conceitua: Empregado é toda pessoa natural que contrate, tácita ou expressamente, a prestação de seus serviços a um tomador, a este efetuados com pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação. Para que o trabalhador seja considerado empregado, ele deverá preencher todos esses requisitos. O empregado é um trabalhador com vínculo empregatício. Observe no quadro a seguir as possibilidades de contratação. Quadro 1 Com vínculo empregatício Sem vínculo empregatício Empregado Empregado Estagiário Prazo determinado Prazo indeterminado Eventual Temporário Empregado doméstico Autônomo Jovem aprendiz Tempo parcial Terceirizado Home office (trabalho remoto) Intermitente Avulso Público Acionista Oportunamente, iremos conversar sobre cada uma delas. A CLT trata de inúmeros temas ligados ao contrato de trabalho. Os principais são: • contratação de empregado; • registro da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS); 18 Unidade I • jornada de trabalho; • descanso semanal remunerado; • férias; • saúde, higiene e segurança no trabalho; • trabalhadores especiais; • organização dos sindicatos; • normas coletivas; • atuação do Ministério do Trabalho e da fiscalização; • organização e atuação da Justiça do Trabalho. Assim como a nossa vida muda no curso dos anos, as relações de trabalho também se modificam – às vezes, rápido demais, de modo que a legislação não consegue acompanhar esse processo. Por isso, conhecer a jurisprudência é de suma importância. Jurisprudência são decisões judiciais que orientam o Poder Judiciário e a sociedade. Um caso concreto chega ao Poder Judiciário, que, ao decidir, indica como determinada situação deve ser analisada. É uma interpretação de realidade. Os tribunais têm relações de decisões jurisprudenciais. Procure se manter informado sobre elas. 1.5 Lei de Liberdade Econômica A Lei de Liberdade Econômica (LLE) – Lei n. 13.874, de 20 setembro de 2019 – foi criada com o objetivo de reduzir a burocracia das empresas, prevendo a possibilidade de vários documentos serem digitais. Isso porque a nova realidade praticamente está eliminando os documentos físicos. A grande maioria tem versão digital. A lei lançou a Carteira de Trabalho Digital e o ponto eletrônico. Concedeu a possibilidade de o controle de jornada ser feito eletronicamente. Também foi alterada a obrigatoriedade de controle de horário, que se manteve somente para empresas com mais de 20 empregados. Outra mudança significativa é a possibilidade de todas as empresas, independentemente do ramo de atividade, exercerem as suas atividades em qualquer dia e horário da semana, incluindo domingos e feriados. A lei também autoriza que inúmeros livros, documentos e registros de obrigações fiscais, trabalhistas e previdenciárias sejam arquivados digitalmente. 19 SISTEMAS PARA OPERAÇÕESDE RECURSOS HUMANOS A lei dispõe de outros temas, buscando resguardar a livre-iniciativa e o empreendedorismo, bem como facilitar e agilizar o registro e o arquivo de documentos. O documento digital pode ser acessado em qualquer tempo e lugar, o que facilita a realização de negócios e a agilidade da fiscalização dos órgãos competentes. O marco dessa lei é a flexibilidade dos contratos. As partes terão a liberdade de fixar as cláusulas de acordo com a realidade, desde que respeitadas a igualdade de direitos e o princípio da boa-fé. Por exemplo, a empresa poderá contratar um empregado para trabalhar parte da jornada no modelo home office e parte no modelo presencial, desde que fixadas de forma clara as condições de trabalho e a remuneração. Saiba mais Conheça a íntegra da lei no link indicado a seguir. BRASIL. Lei n. 13.874, de 20 setembro de 2019 [Lei de Liberdade Econômica]. Brasília, 2019. Disponível em: https://bit.ly/2mrNH4p. Acesso em: 16 ago. 2022. 1.6 Normas coletivas (acordo, convenção, dissídio coletivo) Toda empresa tem um ramo de atividade, que é definido pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). O intuito do CNAE é categorizar as empresas, inclusive os profissionais autônomos. O que determina a categoria profissional é o ramo de atividade e a localização da empresa. Assim: Ramo de atividade + localização = categoria profissional Com isso, o trabalhador empregado numa empresa terá a sua representação sindical indicada pelo ramo de atividade da empresa. Por exemplo, o trabalhador de uma indústria química sediada no município de São Paulo será representado pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química de São Paulo. Algumas profissões têm regulamentação própria, definida por lei. Nesse caso, é a regulamentação dessas profissões que define a qual sindicato o trabalhador pertence. Por exemplo, a legislação dos radialistas (Lei n. 6.615, de 16 de dezembro de 1978) define a atividade de radialista e a maneira e o lugar onde será exercida. Esses profissionais são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão. Lembrete O ramo de atividade da empresa e sua localização definem a qual categoria profissional o trabalhador pertence. 20 Unidade I As normas coletivas são resultado de negociação coletiva. Durante o período de negociação (reuniões, debates, assembleias), os trabalhadores são representados pelo sindicato da categoria. As empresas, por sua vez, podem participar diretamente ou ser representadas pelo sindicato patronal. O resultado poderá ser: Coletivo =Acordo Sindicato dos trabalhadores + Empresa =Convenção Sindicato dos trabalhadores + =Dissídio Processo coletivo Tribunal julga Sindicato das empresas → → Profere sentença normativa Figura 2 É a norma coletiva que define a data-base. Não se deve dizer mês do dissídio, e sim mês da data-base. Até porque, se houve uma negociação frutífera, não haverá dissídio. Dissídio é o nome de uma ação judicial. Refere-se a um processo que visa sanar uma divergência ou conflito entre as partes. A data-base define o período de vigência da norma coletiva. Normalmente, é a data do tão esperado reajuste anual de salários. Além desse reajuste, a norma assegura outros direitos. Observe o exemplo a seguir, retirado de uma convenção coletiva dos comerciários de São Paulo. Cláusula Trinta e Nove – Dia do Comerciário (abono) Pelo Dia do Comerciário – 30 de outubro – será concedido ao comerciário que pertencer ao quadro de empregados da empresa nesse dia um abono a ser pago de forma destacada no recibo salarial do mês, correspondente a 1 (um) ou 2 (dois) dias de sua respectiva remuneração mensal auferida no mês de outubro de 2021, a ser paga juntamente com esta, conforme proporção abaixo: a) até 90 (noventa) dias de contrato de trabalho na empresa, o empregado não faz jus ao benefício; b) de 91 (noventa e um) dias até 180 (cento e oitenta) dias de contrato de trabalho na empresa, o empregado fará jus a 1 (um) dia; c) acima de 180 (cento e oitenta) dias de contrato de trabalho na empresa, o empregado fará jus a 2 (dois) dias (SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS DE SÃO PAULO, 2021, p. 22). É muito importante conhecer a norma coletiva da categoria, pois na grande maioria das vezes ela assegura direitos superiores aos fixados pela CLT. 21 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Saiba mais Conheça algumas convenções coletivas. Veja que no primeiro parágrafo está definida a abrangência da convenção e logo em seguida está estipulada a data-base. SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS DE CAMPINAS, PAULÍNIA E VALINHOS. Convenções coletivas. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3QN4ZC1. Acesso em: 16 ago. 2022. SINDICATO DOS QUÍMICOS DE SÃO PAULO. Convenção coletiva: 2020-2021. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3QrxgOx. Acesso em: 16 ago. 2022. Numa empresa poderão coexistir diferentes categorias profissionais. Uma instituição de Ensino Superior, por exemplo, é formada por várias categorias: funcionário de instituição de Ensino Superior privado; professor de instituição de ensino privado; jornalista; advogado; técnico de áudio, vídeo e câmera; editor etc. Cada categoria profissional terá um sindicato representativo e, portanto, uma norma coletiva. É essencial aplicar a norma correta, a fim de não prejudicar o trabalhador nem causar futuras ações trabalhistas. O nosso exemplo foi uma instituição de ensino, mas essa situação pode acontecer em empresas de qualquer ramo de atividade. O conceito de categoria profissional está definido na CLT: Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. § 1º A solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, constitui o vínculo social básico que se denomina categoria econômica. § 2º A similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas, compõe a expressão social elementar compreendida como categoria profissional. 22 Unidade I § 3º Categoria profissional diferenciada é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares. § 4º Os limites de identidade, similaridade ou conexidade fixam as dimensões dentro das quais a categoria econômica ou profissional é homogênea e a associação é natural (BRASIL, 1943). Ou seja, categoria profissional é o grupo de empregados de uma empresa que, em virtude do exercício da atividade laborativa, têm interesses jurídicos comuns. 1.7 Regimento interno e código moral Lembra que anteriormente comentamos o art. 2º da CLT? Ele menciona o poder de direção do empregador, que existe porque o risco do negócio é do empregador, e portanto ele deve adotar todas as medidas necessárias para alcançar os seus objetivos. Assim, ele pode impor as suas regras. Existe a possibilidade de a empresa elaborar as suas normas, que poderão ser estabelecidas por meio de um regimento interno e/ou um código moral. Regimento interno, como o nome diz, é um documento usado somente no âmbito da empresa, aplicável a todos os colaboradores. Seu objetivo é impor regras, organizar o ambiente interno e ordenar o funcionamento da empresa. Um regimento interno pode determinar a utilização de uniformes, fixar prazos para a solicitação de férias, proibir a venda de produtos nas instalações da empresa, entre outras ações. O código moral, código de conduta ou código de ética é aplicável a colaboradores, fornecedores, clientes e acionistas, ou seja, a todos que mantenham relações comerciais com a empresa.É um documento público, que demonstra os princípios, os valores, a missão e a visão da empresa. O código pode dispor sobre ações sociais, princípios éticos e de justiça, sustentabilidade, padrões de conduta, ações dos órgãos de controle e penalidades por descumprimento. Ele pode, por exemplo, proibir que o setor de compras receba presentes e descrever o que entende por conduta antiética. Tanto o regimento interno quanto o código moral devem ser obedecidos por todos os colaboradores, uma vez que são normas do empregador. Saiba mais Conheça o código de ética de uma das instituições mais importantes do país, o Banco do Brasil. BANCO DO BRASIL. Código de ética: 2021-2022. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2H08zqY. Acesso em: 16 ago. 2022. 23 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Exemplo de aplicação Analise a situação apresentada a seguir. Os trabalhadores de determinada empresa utilizavam uniforme. Era comum que saíssem de casa (e retornassem a ela) uniformizados. Certo dia, uma mulher furtou bijuterias de uma loja no trajeto trabalho-casa e foi presa em flagrante. O investigador ligou para a empresa informando o acontecido, já que a mulher estava uniformizada – ou seja, estampava o nome e o logotipo da empresa no momento do furto. Imagine a situação para a empresa, com a sua imagem vinculada a uma ação delituosa! Imediatamente, providenciou um advogado para acompanhar o caso. A partir do ocorrido, a empresa alterou o regimento interno, proibindo que os trabalhadores utilizassem o uniforme fora do local e do horário de trabalho. E a trabalhadora? Envergonhada, pediu demissão. Na esfera criminal, foi condenada a prestar serviços e a pagar multa. 2 CONCEITO DE EMPRESA E EMPRESÁRIO Como já vimos, os conceitos de empresa e empresário estão no CC. Vamos compreendê-los melhor? Retomemos o que diz o art. 966 do CC sobre o conceito de empresário: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002). Podemos compreender que a empresa é uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Para produzir, ela precisa de fatores. Estes deverão ser organizados, administrados, com o intuito de obter uma produção eficiente, que gere lucros. Empresário Organiza os fatores de produção Com o objetivo de Terra Trabalho Capital Dimunuir os custos Aumentar os lucros Capacidade empresarial Figura 3 Considere a definição de alguns termos apresentados na figura. • Terra: são os insumos, os recursos naturais. 24 Unidade I • Trabalho: é a mão de obra, são os trabalhadores. • Capital: tudo que é utilizado na produção – por exemplo, recursos financeiros, máquinas, equipamentos e estrutura da empresa. • Capacidade empresarial: é o administrar, o gerenciar, o organizar, o empreender. Lembre que o objetivo principal da empresa é obter lucro. Este é resultado da seguinte equação: Faturamento – custo = lucro A capacidade empresarial engloba as ações que o empresário adota para organizar a empresa a fim de produzir e gerar lucro. Note que o art. 966 do CC diz que o empresário é alguém que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada”. Isso significa que o empresário é aquele cuja atividade principal é organizar ou administrar a empresa. Sua profissão é ser empresário. Vamos conhecer outros conceitos básicos? • Capacidade civil: para ser considerada plenamente capaz, a pessoa deverá ter 18 anos completos ou ser emancipada. A emancipação pode ocorrer a partir dos 16 anos. • Pessoa jurídica (PJ): é uma criação da pessoa física (pessoa natural, o ser humano). Ao ser criada, adquire direitos e obrigações. Ela pode ser uma empresa, uma sociedade, uma associação, uma ONG etc. A PJ é registrada no órgão competente e adquire personalidade própria, podendo firmar contratos e obrigações. Ela tem ainda a capacidade civil de criar outras pessoas jurídicas, ou seja, uma empresa pode criar outra empresa. • Personalidade jurídica: é a capacidade de adquirir direitos e obrigações. Quando uma empresa é registrada, ela nasce para o mundo jurídico, podendo desenvolver vários atos e se responsabilizar por eles. • Contrato social: é o registro do surgimento da empresa, onde deverão estar descritos a atividade empresarial, o tipo societário, o nome do empresário ou dos sócios, o endereço da sede da empresa, a obrigações dos sócios, o capital social, entre outros. • Tipo societário: é o modelo de organização da empresa, o modelo do negócio. Ele indica o grau de responsabilidade do empresário ou dos sócios da empresa. É a identificação da natureza da pessoa jurídica. • Capital social: é o valor que o empresário ou os sócios investem no negócio. Esse valor fica à disposição da empresa. Registrado no contrato, ele é uma promessa e cria uma obrigação, ou 25 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS seja, os sócios garantem que vão investir esse valor na empresa. Quando o valor é integralmente investido, o capital está integralizado. • Desconsideração da personalidade jurídica: existem tipos societários que garantem a separação do patrimônio da pessoa jurídica (empresa) do patrimônio da pessoa física (empresário ou sócios). Apesar dessa garantia legal, em algumas situações indicadas na lei, o patrimônio da pessoa física poderá ser utilizado para arcar com os débitos da empresa. Para que isso ocorra, o credor deverá solicitar ao Poder Judiciário que reconheça que os sócios infringiram a lei. Essa é uma situação excepcional, que deverá ser apreciada caso a caso. • Patrimônio da empresa: tudo que a empresa produz é dela; tudo que é adquirido por meio dos recursos obtidos com a produção também é da empresa. Esse patrimônio pode ser material ou imaterial. — Material: é tudo que é palpável – por exemplo, as máquinas. — Imaterial: é tudo que não é palpável – por exemplo, a patente. Em algumas situações, o valor do patrimônio imaterial é muito superior ao do patrimônio material. Já imaginou quanto custa esta marca? Figura 4 Disponível em: https://bit.ly/3pvpO9v. Acesso em: 16 ago. 2022. Com certeza o valor destas marca é muito superior ao valor da sede de uma das fábricas. 2.1 Tipos de empresário Afinal, quem pode ser empresário? Segundo o art. 972 do CC, “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos” (BRASIL, 2002). 26 Unidade I Veremos mais à frente que o art. 966 em seu parágrafo único excluiu algumas profissões. Além dessa situação, legislações específicas determinam a proibição do exercício da atividade empresarial para certas pessoas. Por exemplo: • servidores públicos; • magistrados e membros do Ministério Público; • auxiliares do comércio (corretores, leiloeiros, despachantes aduaneiros, tradutores juramentados); • deputados e senadores (conforme a previsão do art. 54, II, da CF); • falidos não reabilitados; • estrangeiros não residentes no Brasil; • militares da ativa. Repare que nas quatro primeiras situações pode ocorrer conflito de interesse, entre o interesse público (da sociedade) e o interesse privado (da empresa). No caso do falido não reabilitado, o que fica demonstrado é a incapacidade de gerir o negócio. Em regra, qualquer pessoa poderá ser empresário. O que foi listado são apenas as exceções. Existem dois grandes grupos de empresários: os individuais e os que fazem parte de uma sociedade. Cabe ao empresário decidir qual é o melhor formato para o seu negócio, sozinho ou acompanhado. 2.1.1 Empresário individual Microempreendedor individual (MEI) É o pequeno empresário. O registro da MEI gera a pessoa jurídica, ou seja, faz nascer a empresa. Com o registro, a empresa obtém um CNPJ e pode emitir notas fiscais. Para que o empresário se registre como MEI, é necessário que a atividade desenvolvida por ele esteja no rol de atividades estabelecidas pela lei. Em caso deinsolvência, o patrimônio pessoal do empresário responde pelas dívidas da empresa. O recolhimento dos tributos e encargos é facilitado por meio do Simples Nacional. Existem algumas regras que devem ser seguidas: • O faturamento anual deve ser de no máximo R$ 81.000,00 (valor até 2022). 27 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS • O empresário não pode ser sócio de outra empresa. • O MEI só pode contratar um empregado, que receba um salário mínimo ou o piso da categoria. Saiba mais Em agosto de 2021, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei Complementar n. 108, alterando várias regras relacionadas ao MEI, que estão dependendo da votação da Câmara dos Deputados e da sanção do presidente da República. Por isso, fique atento e verifique a norma que estiver vigente na época da sua consulta. Leia o texto indicado a seguir. BRASIL. O que você precisa saber antes de se tornar um MEI? Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3QT98Ej. Acesso em: 16 ago. 2022. Empresa individual (EI) É a empresa composta por um único proprietário, que é o empreendedor. Esse modelo de empresa vincula o patrimônio pessoal ao da pessoa jurídica, ou seja, em caso de insolvência, o patrimônio do empresário irá responder pelas dívidas. Não exige um capital social mínimo. O faturamento anual é regulamentado pelo enquadramento tributário. E não há limite para a contratação de empregados. Existem restrições quanto às atividades profissionais que podem ser registradas nessa modalidade. Empresa individual de responsabilidade limitada (Eireli) Criada pela Lei n. 12.411, de 27 de maio de 2011, também não podia ter sócios. A grande diferença em relação aos modelos anteriores é que existia separação entre o patrimônio pessoal do empresário e o patrimônio da empresa. Havendo insolvência, o patrimônio do empresário ficava protegido. Para a sua abertura, era necessário um capital social mínimo no valor de 100 salários mínimos. Não havia limite de faturamento anual. Ocorre que, em 26 de agosto de 2021, foi publicada a Lei n. 14.195, que em seu art. 41 extinguiu a Eireli: Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato constitutivo. 28 Unidade I Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste artigo (BRASIL, 2021c). Ou seja, a Eireli deixou de existir, dando lugar à SLU. Sociedade limitada unipessoal (SLU) Foi criada pela Lei de Liberdade Econômica, que incluiu dois parágrafos no art. 1.052 do CC: Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. § 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei n. 13.874, de 2019) § 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) (BRASIL, 2002). A SLU também tem um único proprietário, e sua característica de Ltda. protege o patrimônio pessoal do empresário. Esse modelo não exige um valor mínimo de capital social, e nele o empresário pode abrir várias empresas. Além disso, é um modelo que permite que profissionais excluídos pelos modelos anteriores abram empresas. 2.1.2 Sociedade empresária Toda sociedade deve ser constituída por no mínimo duas pessoas (sócios ou acionistas). Em algumas situações, os empresários precisam nomear um administrador para a empresa, que nada mais é do que a pessoa encarregada de administrar, gerir ou organizar o negócio. Esse profissional poderá receber o título de diretor, executivo ou gerente. O administrador poderá ser um dos sócios da empresa ou um profissional contratado para essa finalidade. Isso acontece porque, em muitas situações, os empresários são especializados na produção relacionada à atividade empresarial e não têm formação de administrador (imagine, por exemplo, um dono de restaurante que é chef de cozinha, especializado em cozinha francesa, mas não tem conhecimentos na área de administração de negócios). Ou ainda porque a empresa é de grande porte e exige profissionais com conhecimentos específicos. A nomeação do administrador ocorre conforme a necessidade da empresa. Segundo o CC, o contrato social pode prever a figura do administrador, ou ele pode ser nomeado por um instrumento em separado. As ações do administrador devem acatar os princípios éticos e de 29 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS legalidade. De acordo com o art. 1.011, “o administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios” (BRASIL, 2002). O mesmo artigo prevê as pessoas que estão impedidas de ocupar o cargo: § 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (BRASIL, 2002). A ideia é que, para atuar como administrador de empresa, o profissional deve ser no mínimo honesto. As regras e as responsabilidades também podem estar especificadas. O importante é saber que o administrador vai responder por todos os seus atos, tanto em relação à empresa quanto em relação aos que forem afetados por eles. O art. 1.016 do CC diz: “Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções” (BRASIL, 2002). Como você pode notar, o cargo de administrador é de grande responsabilidade. As regras de nomeação (em caso de sócios) ou de contratação estão previstas a partir do art. 1.010 do CC. A empresa deve buscar profissionais que, além de ter formação e experiência, estejam de acordo com sua missão, ou seja, seus valores. Lembrete O art. 5º do CC prevê que a capacidade civil acontece a partir dos 18 anos completos ou com a emancipação; esta, por sua vez, pode ocorrer a partir dos 16 anos completos. 2.2 Registro da empresa e empresário irregular Como vimos, uma empresa surge com o seu registro. A finalidade do registro é dar publicidade, autenticidade e segurança aos atos praticados pela empresa. Isso porque o registro da empresa torna públicos os titulares da empresa, o capital social, a sede e a atividade. O registro deverá ser feito na junta comercial ou no cartório de pessoa jurídica, conforme o tipo societário. 30 Unidade I Devem ser registrados na junta comercial, por exemplo: • empresário individual; • Eireli; • SLU; • Ltda. • S.A. Observação Embora a Eireli seja um modelo extinto, ainda existem empresas nessa modalidade. Já no cartório devem ser registrados: • organizações sem fins lucrativos; • igrejas; • associações; • condomínios. No caso do MEI, o registro será feito direto no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do MEI, por meio do Portal do Empreendedor: https://bit.ly/3Ar3iop. No ato do registro a empresa deverá apresentar o contrato social e os documentos dos sócios. Será realizada uma pesquisa para verificar se não existe uma empresa igual. Estando tudo certo, os documentos serão arquivados. O que significa isso? A junta comercial ou o cartório de pessoa jurídica abrirá uma ficha com todos os dados enviados. Sempre que acontecer uma alteração, os dados deverão ser atualizados e registrados. Por exemplo, se um dos sócios sair da sociedade, se entrar um sócio novo, se a empresa mudar de endereço, se o tipo societário for alterado ou se houver uma cisão.Essas ações são chamadas de atos societários. Atos societários podem influenciar os negócios. Exatamente por isso, devem ser registrados e tornados públicos. 31 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Além do registro dos atos societários na junta comercial ou no cartório de pessoa jurídica, a empresa deverá providenciar, por exemplo, CNPJ, alvará de funcionamento, inscrição municipal, cadastro na Previdência Social e demais documentos específicos do ramo de atividade e do local de funcionamento da empresa. Uma empresa registrada e com os atos societários atualizados é uma empresa legalizada. E o empresário irregular? Você já ouviu aquela expressão “juntar as escovas de dentes”? Uma empresa irregular funciona mais ou menos assim – os sócios “juntam as ferramentas”. Ou seja, eles se unem e iniciam o negócio sem o registro dos atos societários, permanecendo na informalidade. É muito comum isso acontecer com o empresário individual. A pessoa tem uma habilidade e inicia a prestação de serviços. O grande problema é que a irregularidade não assegura as proteções da lei para a empresa não legalizada. Por exemplo: • O empresário não legalizado não pode entrar com processo de pedido de falência contra uma empresa que estiver em débito com ele. • Caso o empresário passe por uma situação de insolvência (devendo), ele não pode ingressar com um processo de recuperação judicial. • Com documentação irregular, a empresa não pode obter CNPJ e emitir nota fiscal. • O empresário não pode participar de licitações (contratação com o poder público). • Por não recolher INSS, o empresário deixa de ter direito à aposentadoria e a outros benefícios previdenciários. • Em caso de insolvência, o patrimônio pessoal do empresário vai responder pelas dívidas, sem a proteção da personalidade jurídica. Observação Note, porém, que o fato de o empresário não estar com a empresa regularizada não tira dele a qualidade de empresário, desde que ele atue profissionalmente. 2.3 Sociedades empresárias e sociedades não empresárias A sociedade existe quando duas ou mais pessoas se unem com um objetivo comum. O casamento é um modelo de sociedade: duas pessoas se unem para criar uma família, uma vida em comum. Quando pensamos em sociedade empresária, a ideia é a mesma. O que difere é o objetivo de desenvolver uma atividade econômica organizada com o intuito de obter lucro. 32 Unidade I Ocorre que a lei dá tratamento diferente para o desempenho de determinadas profissões: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (BRASIL, 2002). A lei afirma que quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, não será considerado empresário – logo, não irá constituir sociedade empresária. Isso acontece porque o exercício dessas atividades se vincula à pessoa do profissional, intuitu personae. Caso esses profissionais constituam uma sociedade, ela será considerada uma sociedade simples, não uma empresa. Exemplo de aplicação Considere o exemplo de uma profissional da área artística, uma atriz, a quem chamaremos de Luz. Luz se apresenta em inúmeros espetáculos e participa de séries e filmes. Junto com outros colegas, criou uma companhia teatral, que contrata figurinistas, maquiadores e técnicos. Luz é a estrela. Ela é famosa e tem muitos fãs, que vão aos espetáculos para vê-la. O elemento principal da sua atividade profissional é ela mesma, ou seja, intuitu personae. As pessoas assistem às peças, séries e filmes porque é Luz quem está em cena. Nessa situação, mesmo se associando a colegas e formando uma companhia de teatro, ela não será empresária. Veja que eles querem lucrar e se uniram com um objetivo em comum, mas a figura da profissional é o ponto central da atividade. Depois de vários anos, tendo ganhado muito dinheiro e reconhecimento, Luz decidiu criar um teatro, um espaço que é alugado a outras companhias para diversas atividades. Nesse espaço, Luz instalou uma loja com roupas da sua marca, um café e uma livraria. Observe que, ao explorar o espaço do teatro e outras pequenas empresas, Luz desvinculou a atividade da sua pessoa. Agora, o público vai ao teatro não para vê-la, mas para ver o espetáculo que estiver em cartaz. Aconteceu a desvinculação com a pessoa. Logo, ao administrar o teatro e as outras empresas, Luz será considerada empresária. Portanto, o principal elemento que caracteriza a sociedade não empresária é o intuitu personae, a vinculação com a pessoa do profissional. Caso a atividade profissional não esteja incluída nas exceções do parágrafo único, ela será considerada atividade empresarial. 33 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Ninguém casa consigo mesmo. Assim, uma sociedade sempre necessitará de no mínimo duas pessoas. O que une os sócios é a affectio societatis, a intenção, a identificação, a disposição de alcançar objetivos com outra(s) pessoa(s). Os sócios se identificam, se reconhecem como parceiros e unem forças para desenvolver a atividade empresarial. As sociedades empresárias podem ser constituídas de várias formas, e é isso que veremos a seguir. 2.4 Classificação das sociedades empresárias Vamos iniciar pelas sociedades mais utilizadas, provavelmente por dividirem o capital social, em partes, entre os sócios/acionistas e por protegerem o patrimônio pessoal dos sócios/acionistas, assegurando a responsabilidade limitada. Lembrete A consideração da personalidade jurídica garante a separação do patrimônio da empresa em relação ao patrimônio do sócio. A desconsideração da personalidade jurídica acontecerá nas situações previstas em lei, como no caso de fraude em relação aos credores. Você já viu alguma empresa cujo nome ao final apresenta a sigla Ltda.? É bem comum, não é? É a sociedade limitada. Nela, o capital social é dividido entre os sócios, e cada sócio tem o percentual de quotas correspondente ao capital investido. Quando os sócios elaboram o contrato, eles fixam o valor do capital social e a forma de divisão das quotas. O sócio receberá a parcela dos lucros correspondente ao valor investido. Da mesma forma, é o número de quotas que define o grau de responsabilidade do sócio, conforme prevê o art. 1.052 do CC: “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”. Quanto mais quotas, maior o poder de decisão e, portanto, maior a responsabilidade. Cada sócio se compromete a investir um valor na empresa. O valor que for investido é considerado integralizado. Havendo insolvência, os sócios vão responder pelo valor que não foi integralizado. Veja o exemplo apresentado a seguir. • Situação 1: todos os sócios investiram o valor prometido para a empresa. Portanto, o capital social foi 100% integralizado. • Situação 2: os sócios investiram parte do valor prometido. Ocorrendo insolvência, os sócios responderão pelo valor devido à empresa. 34 Unidade I Tabela 1 Sócio A Sócio B Sócio C Sócio D Total Capital social Quotas 40% 30% 20% 10% 100% R$ 100.000,00 Situação 1 R$ 40.000,00 R$ 30.000,00 R$ 20.000,00 R$ 10.000,00 R$ 100.000,00 100% integralizado Situação 2 R$ 30.000,00 R$ 15.000,00 R$ 10.000,00 R$ 5.000,00 R$ 60.000,00 60% integralizado R$ 10.000,00 R$ 15.000,00 R$ 10.000,00 R$ 5.000,00 R$ 40.000,00 40% não integralizado Além da divisão do capital social, o contrato deverá prever os sócios que serão responsáveis pela administração da empresa, o ramo de atividade, a sede da empresa, a forma de inclusão e exclusão dos sócios, a extinção da empresa e a partilha do patrimônio. Você também já deve ter visto umaempresa com a sigla S.A. Normalmente, são as grandes empresas. É a sociedade anônima, que divide o capital em ações. Imagine que a S.A. é uma barra de chocolate, sendo cada pedacinho uma ação. Figura 5 Disponível em: https://bit.ly/3K1byPj. Acesso em: 16 ago. 2022. A regulamentação está prevista na Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, conhecida como Lei das Sociedades por Ações, cujo art. 1º diz: “A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas” (BRASIL, 1976). Em geral, trata-se de grandes empresas. O objeto social é definido por meio de estatuto, onde deverá constar a denominação, o fundador, o conselho administrativo, o conselho fiscal, a diretoria, além da forma como a empresa irá negociar as ações, a saber: • Capital aberto: as ações são negociadas na bolsa de valores. • Capital fechado: as ações não são negociadas na bolsa de valores. 35 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS A participação dos acionistas também deverá ser definida, considerando-se a quantidade, a modalidade e o preço das ações. Quanto mais ações, maior o poder de interferir nas decisões. Nesse tipo de sociedade existe proteção do patrimônio pessoal dos acionistas, obrigação de transparência e publicidade dos atos, e obrigação de distribuição dos lucros. O controle da empresa normalmente é exercido pelos acionistas majoritários, aqueles que têm o maior número de ações. Você conhece alguma cooperativa? Em certas regiões do Brasil, é comum haver cooperativas de transporte, agrícolas e de crédito. A ideia fundamental é “juntos somos fortes”. Na sociedade cooperativa – regulada pela Lei n. 5.764, de 16 de dezembro de 1971 – um grupo de pessoas se une com um objetivo comum, que pode ser desenvolver projetos sociais ou de cunho econômico. Não existe sócio majoritário. Todos têm a mesma quota de participação, já que o investimento é igual para todos. As decisões são tomadas em conjunto. A essência do negócio é a cooperação, a ação mútua. Existem vários tipos de cooperativa. Os mais comuns são de crédito, de trabalho, de consumo, de produção, habitacional e de saúde. Para iniciar uma cooperativa, é preciso reunir o grupo de pessoas interessadas e elaborar o estatuto, em que deverão constar os seguintes elementos: • denominação; • objeto (atividade desenvolvida); • endereço da sede; • direitos, obrigações e responsabilidades dos cooperados; • requisitos para admissão e demissão dos cooperados; • forma de administração e fiscalização; • capital mínimo; • condições para a convocação e organização das assembleias; • possibilidade de dissolução; • condições para a reforma do estatuto. O estatuto, a ata da assembleia de fundação e os documentos dos membros fundadores deverão ser arquivados na junta comercial para o acesso da Receita Federal. 36 Unidade I Saiba mais Conheça a Aurora, uma das maiores cooperativas do Brasil. AURORA. Quem somos. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3PAdtv4. Acesso em: 16 ago. 2022. Outros modelos de sociedade empresária: • Sociedade em nome coletivo: é um modelo societário bem antigo, baseado na confiança, em que os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas da empresa. A sociedade somente poderá ser constituída por pessoas físicas. • Sociedade em comandita simples: é formada por dois tipos de sócio: — Comanditário: compõe o capital social da empresa, mas não atua na administração. É um investidor. — Comanditado: também contribui financeiramente, mas exercendo a administração do negócio. No contrato social, constará somente o nome desse sócio. Ele responde ilimitadamente pelas dívidas da empresa. • Sociedade em comandita por ações: é dividida em ações. Os sócios administradores deverão constar na ata de constituição da sociedade e têm responsabilidade ilimitada. • Sociedade em conta de participação: é constituída por duas ou mais pessoas com um objetivo comum. Pelo menos um dos sócios deverá atuar na área do comércio. Esse modelo de sociedade não é obrigado a seguir todas as formalidades dos demais. Normalmente, a sociedade existe por um prazo determinado; alcançado o objetivo, a sociedade se extingue. Somente o sócio ostensivo se torna responsável por ações em relação a terceiros. Os demais sócios assumem responsabilidades perante o sócio ostensivo. 2.5 Microempresa e empresa de pequeno, médio e grande porte Agora vamos tratar de um tema muito atual, já que o Governo Federal e o governo de vários estados estão investindo na formação de pequenos empreendedores. A maioria dos empregos no Brasil são criados nas pequenas e médias empresas. Com frequência, profissionais que não conseguem se alocar como empregados no mercado encontram no pequeno negócio a solução para gerar renda e continuar trabalhando. Muitos, porém, ficam na informalidade. Justamente por isso, para que essas pessoas trabalhem de forma mais digna e segura, os governos estão investindo na formação e na formalização de tais negócios. 37 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Vamos conhecer as diferenças entre eles? A CF e a legislação aplicável concedem um tratamento favorecido e diferenciado ao pequeno negócio. A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006, criou o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. O estatuto estabelece um rol de atividades econômicas que podem ser beneficiadas, além de limitar o faturamento anual das empresas que se enquadram nessa condição e a quantidade de empregados. Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especialmente no que se refere: I – à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; II – ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; III – ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão. IV – ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo único do art. 146, in fine, da Constituição Federal (BRASIL, 2006). Percebeu que existem diferenças em relação ao porte da empresa? Não confunda porte com tipo de empresa. O porte representa o tamanho da empresa, indicado pelo faturamento anual. Por exemplo, microempresa (ME) ou empresa de pequeno porte (EPP). Já o tipo é a modalidade da empresa. Os empresários (donos, sócios, acionistas), quando decidem constituir a sociedade, selecionam sua forma de composição. Por exemplo, Ltda. ou S.A. Note que é o faturamento anual que diferencia o porte. A Lei Complementar n. 123/2006 assim define: Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: 38 Unidade I I – no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e II – no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) (BRASIL, 2006). Como vimos, desde 2021, a Eireli deixou de existir, sendo substituída pela SLU. Vamos compreender o limitedo faturamento de cada modalidade (valores-base do ano de 2022). Observe a figura a seguir. Individual MEI EI SLU Sociedade Ltda. S.A. Simei Até 81 mil por ano ME Até 360 mil por ano EPP Entre 360 mil e 4,8 milhões por ano Lucro presumido Até 78 milhões por ano Lucro real Obrigatório ser maior que 78 milhões por ano Simples Nacional Lucro Figura 6 Veja que a figura apresenta cinco tipos de empresa: • três tipos de empresa individual (MEI, EI e SLU); • dois tipos de sociedade (Ltda. e S.A.). Já em relação ao enquadramento tributário, apresenta cinco modalidades: • Simei: até 81 mil por ano. • ME: até 360 mil por ano. • EPP: entre 360 mil e 4,8 milhões por ano. • Lucro presumido: até 78 milhões por ano. • Lucro real: obrigatório ser maior que 7,8 milhões por ano. 39 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Observação A sigla Simei refere-se ao Sistema de Recolhimento em Valores Fixos Mensais dos Tributos Abrangidos pelo Simples Nacional. Note que o que define o enquadramento tributário é o faturamento anual da empresa, e não o tipo societário. Vamos ver o caso de uma sociedade limitada, usando os valores-base de 2022. Esse tipo de empresa pode ser enquadrado tanto como ME (microempresa) quanto como lucro real. • Caso a Ltda. fature até R$ 360.000,00, será ME. • Caso fature mais que R$ 78.000.000,00, será lucro real. Ficou clara a diferença? Lembrete As modalidades empresariais estão definidas no CC ou em lei própria, como no caso das empresas de menor porte. Você já ouviu falar de startups? Essa modalidade de empresa ganhou muito espaço nos últimos anos. Segundo o Sebrae ([s.d.]a), o Brasil se destaca nesse âmbito em relação aos demais países da América Latina, tendo em vista que já tem mais de 13 mil startups. Ainda segundo o Sebrae, são empresas que têm uma base tecnológica e um modelo de negócio sustentável, escalável e repetível. Por serem inovadoras, vivenciam uma realidade de incertezas e alto risco. Aliás, esta é sua principal característica: a inovação. Observação Ser escalável significa ter condição de crescer rapidamente. Ser repetível significa ter condição de atender a demanda, mesmo que ela seja ilimitada. Essas empresas conseguem sobreviver em ambiente incerto justamente porque são inovadoras e flexíveis. Elas se adaptam rapidamente a novas realidades. Muitas startups nascem como um pequeno negócio, com pouco investimento e estrutura. Outras já nascem com um investimento maior. Alguns exemplos: 40 Unidade I • Quinto Andar; • Nubank; • PagSeguro; • 99; • Loggi; • Loft. Em 1º de junho de 2021 foi editada a Lei Complementar n. 182, conhecida como Lei das Startups. Essa lei apresenta a seguinte definição: Art. 4º São enquadradas como startups as organizações empresariais ou societárias, nascentes ou em operação recente, cuja atuação caracteriza-se pela inovação aplicada a modelo de negócios ou a produtos ou serviços ofertados. § 1º Para fins de aplicação desta Lei Complementar, são elegíveis para o enquadramento na modalidade de tratamento especial destinada ao fomento de startup o empresário individual, a empresa individual de responsabilidade limitada, as sociedades empresárias, as sociedades cooperativas e as sociedades simples (BRASIL, 2021d). Veja que a lei oferece um tratamento especial, visando justamente o fomento, ou seja, o crescimento e o desenvolvimento das startups. Essa modalidade de empresa tem facilidades para recolher encargos e tributos, assim como para encerrar as atividades. Além disso, tem tratamento especial ao participar de licitações (processos de contratação com o Poder Público). Já em relação às obrigações trabalhistas, as startups devem arcar com as mesmas obrigações das demais empresas, além de terem que respeitar o enquadramento sindical da categoria a que pertencerem. Ocorre que muitas dessas empresas contratam sob o regime de prestação de serviços. Os trabalhadores são contratados como pessoa jurídica, podendo ser MEI ou ME. Um exemplo é justamente a 99, em que o motorista não é empregado, e sim contratado como prestador de serviços, recebendo um percentual das viagens realizadas. Mas, para que essa condição de prestador de serviços seja mantida, os requisitos do art. 3º da CLT não podem ter sido preenchidos. 41 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Lembrete Os requisitos para a caracterização do vínculo de emprego são subordinação, onerosidade, pessoalidade, habitualidade e não eventualidade (embora agora exista um modelo de contrato intermitente). Antes de encerrar esta unidade, gostaria de abordar um último ponto. Lembra-se do que explicamos sobre as jurisprudências? Se há um tema no direito que está no auge das discussões, é o reconhecimento do vínculo empregatício com aplicativos. Várias decisões estão reconhecendo o vínculo empregatício entre o trabalhador e o aplicativo. Isso mostra a importância de se manter atualizado. A todo momento surgem novas formas de trabalho, novas tecnologias, novas condições. É preciso acompanhar as mudanças e estar atento às orientações legais, para não praticar injustiças nem responder a ações trabalhistas. 42 Unidade I Resumo Nesta unidade, vimos a legislação aplicável às relações de trabalho. Conversamos sobre a Constituição Federal e sua importância para todo o ordenamento jurídico – todas as demais leis estão hierarquicamente abaixo dela. Logo na sequência, abordamos o Código Civil, que delimita a capacidade civil para a validade dos atos; a Consolidação das Leis do Trabalho, que define quem é empregado e empregador e apresenta o rol de direitos e obrigações de ambas as partes; e a Lei da Liberdade Econômica, que flexibilizou as contratações e facilitou o registro e o arquivamento de documentos. Também tratamos das normas coletivas, da diferença entre acordo, convenção e dissídio coletivo, e da definição de categoria. Discutimos a ética empresarial e as diferenças entre regimento interno e código moral (ou código de ética). Ressaltamos a importância de a empresa definir seus valores, práticas e ações, assim como de criar um documento claro e objetivo para orientar todos os atores envolvidos nas relações empresariais. Vimos os conceitos de empresa e empresário, como definidos no Código Civil, os tipos de empresário e as condições para ser empresário individual ou administrador de sociedade empresária, tanto em relação à capacidade civil quanto em relação às demais restrições legais. Abordamos a forma de registro da empresa, as exigências legais e a situação do empresário irregular, aquele que não praticou os atos legais obrigatórios. Falamos também de sociedades empresárias e sociedades não empresárias, dos tipos de sociedade mais praticados (que estão elencados no Código Civil) e dos modelos de sociedade que, em decorrência da própria restrição legal, não são enquadrados como sociedades empresárias. Além disso, apresentamos os conceitos de microempresa e empresa de pequeno, médio e grande porte. Enfatizamos a diferença entre tipo de empresa e enquadramento tributário. Por fim, tratamos de um modelo de empresa que está em crescimento, as startups, modelo cuja característica é ser inovador e que tem uma legislação especial. 43 SISTEMAS PARA OPERAÇÕES DE RECURSOS HUMANOS Exercícios Questão 1. Vimos, no livro-texto, que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê direitos e deveres do empregado e do empregador. Com base na CLT, avalie as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas. I – O empregador não tem a obrigação de assumir os riscos da atividade econômica que pratica. porque II – O empregador é definido exclusivamente como uma empresa individual. Assinale a alternativa correta: A) As afirmativas I e II são verdadeiras, e a II justifica a I. B) As afirmativas I e II são verdadeiras, e a II não justifica a I. C) As afirmativas I e II são falsas. D) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. E) A afirmativa I é falsa, e
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