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46
Unidade II
Unidade II
Para introduzir esta unidade, convém abordarmos rapidamente os temas concepção de pessoa, 
de saúde, doença e de cura e ação terapêutica. No âmbito das ciências biológicas, humanas e 
sociais, toda teoria, sem exceção, é construída tomando por base determinada concepção de 
pessoa. Teorias psicológicas são baseadas em distintas concepções de psiquismo. Ou seja, todas 
as teorias são construídas com base em determinado modo de compreender o ser humano e, por 
sua vez, as teorias psicológicas são construídas com base em determinado modo de compreender 
o ser humano e seu psiquismo. Por exemplo: o behaviorismo considera que o ser humano é 
completamente determinado pelo ambiente; a psicanálise de Freud considera que o psiquismo 
humano funciona como uma máquina; a psicologia fenomenológico‑existencial‑humanista compreende 
o ser humano como um ser livre, responsável, confiável, em busca de autorrealização; a psicologia transpessoal 
acrescenta o fator busca de autotranscendência às qualidades humanas reconhecidas pela psicologia 
fenomenológico‑existencial‑humanista.
É impossível e indesejável trazermos para este livro‑texto o montante de conhecimentos produzidos 
pela psicologia ao longo de sua existência como ciência. Além de impossível, isso se mostra indesejável, 
neste momento de formação educacional de futuros fisioterapeutas. Dedicar‑nos‑emos, então, 
à tarefa de reunir tópicos que nos parecem relevantes para seu exercício profissional, graduando 
de Fisioterapia.
5 PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE
5.1 Tópicos de psicologia da personalidade
Figura 10 
47
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
5.1.1 Psicologia da personalidade: introdução
Pinto (2009) assinala o fato de ser a personalidade um dos mais importantes temas da psicologia. 
Como não se deve tratar desiguais de modo igual, é preciso reconhecer que diferentes pessoas reagem 
de modo diferente a um mesmo estímulo e, dependendo das circunstâncias, uma determinada pessoa 
pode reagir de distintas maneiras a um único estímulo.
Cada pessoa tem um modo particular de ser, fato que deve ser considerado em toda relação humana 
e, obviamente, também na relação estabelecida entre o fisioterapeuta e seu cliente. É preciso que todo 
profissional da saúde identifique os pontos de competência e de dificuldade de seus clientes para 
apoiá‑los em seus esforços por aceitar suas dificuldades ou superá‑las, e que reconheça também as 
próprias dificuldades e limitações para poder aceitá‑las como limites pessoais ou se propor a superá‑las.
Conforme referido na introdução deste livro‑texto, toda corrente teórica da psicologia é 
subdividida em diversas teorias. Para atingir a finalidade de compreendermos o que é personalidade, 
tivemos que fazer um recorte, dada a extensão e complexidade do tema. Elegemos para apresentar 
a você, graduando de Fisioterapia, uma visão ampla dos conceitos de personalidade adotados pelo 
behaviorismo (primeira grande corrente), pela psicanálise (segunda grande corrente), pela psicologia 
fenomenológico‑existencial‑humanista (terceira grande corrente) e pela psicologia transpessoal (quarta 
grande corrente).
Todas essas abordagens teóricas consideram, pelo menos, cinco componentes:
• genético;
• temporal (mudanças próprias do crescimento e do desenvolvimento);
• familiar (hereditariedade e modo de apresentação do mundo);
• histórico‑geográfico‑cultural (tempo e lugar);
• classe socioeconômica.
Assim, quando colocado diante de seu cliente, o fisioterapeuta realizará esforços para compreendê‑lo, 
considerando fatores genéticos (o que foi herdado) e mudanças ocorridas no decorrer do tempo (história 
familiar, localização espaçotemporal e pertença sociocultural e religiosa).
Ao perguntarmos o que é personalidade, convém recorrermos novamente ao psicólogo Pinto (2009), 
que, apoiado em Allport, Filloux e Delisle, entre outros pensadores, destaca algumas definições. Vejamos.
Para o estadunidense Gordon Allport, personalidade é “a organização dinâmica no indivíduo de 
sistemas psicofísicos que determinam suas adaptações singulares ao próprio meio” (apud PINTO, 2009, p. 6).
48
Unidade II
 Observação
Em 1936, ao elaborar sua teoria dos traços de personalidade, Gordon 
Allport descobriu que um único dicionário de inglês continha mais de 4 mil 
palavras que descreviam traços de personalidade.
Para o francês Jean‑Claude Filloux, filósofo e pedagogo, personalidade é a configuração única 
assumida no decurso da história de um indivíduo pelo conjunto de sistemas responsáveis por seu 
comportamento. A personalidade, segundo esse autor:
• é única (própria de um único indivíduo);
• é uma organização (e não apenas uma soma de funções);
• é temporal (um indivíduo vive durante um certo período de tempo);
• consiste em um estilo específico, que se manifesta por meio de comportamentos.
Para Gilles Delisle (1999 apud PINTO, 2009), a personalidade é um modo específico e relativamente 
estável de organizar os componentes cognitivos, emotivos e comportamentais da própria experiência. 
Dessa organização de componentes decorre o senso individual de identidade.
O interessante é que, por possuir componentes universais, típicos da espécie, toda pessoa é 
reconhecível como ser humano. Além disso, há semelhanças entre seres humanos no que diz respeito 
a estilos ou tipos de personalidade. No entanto, cada pessoa é absolutamente única.
Figura 11 
49
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
 Observação
A palavra personalidade deriva da palavra persona, designativa da 
máscara utilizada em espetáculos teatrais gregos na Antiguidade Clássica. 
Essas máscaras, feitas de argila, ocultavam o rosto dos atores.
Sem dúvida, um ator que cobre seu rosto com uma máscara para representar uma personagem 
de uma narrativa pode bem ser comparado com o que fazemos em nosso dia a dia: usamos distintas 
máscaras para representarmos distintos papéis sociais em distintos cenários de nossa vida – o que sou 
em minha família não é idêntico ao que sou em meu ambiente de trabalho, e não é idêntico ao que 
sou quando me encontro com amigos. Interagimos em nossos grupos de pertença com as personagens 
exigidas por cada um desses grupos. Não damos a conhecer nosso eu profundo. Aliás, não damos a 
conhecer nosso eu profundo nem mesmo para nós. Essa noção será melhor compreendida à medida que 
avançarmos na leitura deste livro‑texto.
5.1.2 Noções de psicanálise
Das diversas teorias da personalidade, trazemos para este contexto alguns elementos da 
psicanálise, criada por Sigmund Freud em Viena, no início do século XX, e progressivamente ampliada 
e difundida desde então até os nossos dias. Essa abordagem da psicologia se caracteriza por considerar 
o inconsciente e os conteúdos nele presentes como fatores determinantes dos comportamentos 
humanos. Ao tratar do inconsciente, a psicanálise inclui entre seus objetos de estudo a relação entre 
desejos inconscientes, comportamentos e sentimentos. Sua ação clínica fundamenta‑se na escuta 
e na interpretação de conteúdos inconscientes manifestos em palavras, sonhos, ações e produções 
imaginárias, passíveis de serem observados por meio da livre associação e do processo de transferência 
que ocorre na relação psicoterápica.
Entre seus principais conceitos se incluem o de instinto e de pulsão. Os instintos, biologicamente 
determinados, dirigem‑se a objetos específicos e levam indivíduos da mesma espécie a agirem de 
modo semelhante para atingir finalidades específicas. As pulsões – de vida (impulsos sexuais e 
de autopreservação) e de morte (impulsos agressivos e destrutivos), por outro lado, derivam da 
experiência humana e das tensões somáticas; têm diferentes fontes e formas de manifestação; dirigem 
a ação a determinado fim e descarregam temporariamente a tensão ao atingi‑lo (ANCONA‑LOPEZ; 
RIBEIRO; FRIAS, 2015).
50
Unidade II
Figura 12 
Com base na metapsicologia, Freud considerou três dimensões ao abordar o fenômeno do psiquismo:
• Dimensão tópica: considera três instâncias dopsiquismo (consciente, pré‑consciente e 
inconsciente) e três aparelhos que operam nessas instâncias (id, ego e superego).
• Dimensão dinâmica: considera as múltiplas pressões exercidas sobre o ego e o jogo de forças 
em conflito.
• Dimensão econômica: trata da distribuição e mobilidade da quantidade de energia em circulação 
no aparelho psíquico.
Bock, Furtado e Teixeira (1999), tratando da topologia do psiquismo, afirma que Freud (1987) definiu 
do seguinte modo as três instâncias do funcionamento psíquico:
• No inconsciente estão situados os conteúdos reprimidos e não admitidos na consciência, devido 
às censuras internas. Seu funcionamento é regido por leis próprias, sendo atemporal, ou seja, 
desconsidera as noções de passado e presente.
• No pré-consciente permanecem conteúdos próximos, a serem acessados pela consciência.
• No consciente, situam‑se os conteúdos internos e externos que, articulados nessa instância, 
visam atender e equilibrar várias pressões por meio da percepção, da atenção e do raciocínio, que 
tendem, entretanto, a sofrer influências e deformações por parte dos conteúdos inconscientes.
51
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Figura 13 
Entre 1920 e 1923, Freud ampliou seus postulados, ao introduzir o conceito de aparelho psíquico, 
composto de:
• Id: estrutura inconsciente regida pelo princípio do prazer, na qual estão sediadas as pulsões de 
vida e de morte, bem como os instintos, correspondendo ao reservatório da energia psíquica.
• Ego: estrutura reguladora regida pelo princípio da realidade, que busca o equilíbrio e opera 
na instância consciente, buscando coordenar e atender a diversas exigências internas (do id e 
do superego) e externas (da realidade), por meio das funções básicas – percepção, memória, 
sentimentos e pensamentos.
• Superego: estrutura originária da internalização das proibições, regida pelo princípio da 
moralidade, dos limites e da autoridade, contendo os conteúdos morais definidos a partir das 
interações parentais e da interiorização das normas e exigências sociais e culturais. Configura‑se 
como aparelho autoritário que incide sobre o ego para repressão dos impulsos do id.
Mecanismos de defesa do ego
No bojo das contribuições da teoria psicanalítica, os mecanismos de defesa merecem especial 
atenção dos fisioterapeutas, por se apresentarem durante as intervenções realizadas junto aos pacientes. 
Isso porque a percepção das realidades interior e exterior pode causar dor e desorganização: para 
evitar sofrimentos, a pessoa distorce ou suprime elementos da realidade, como recurso para afastar 
da consciência conteúdos vividos como ameaçadores. E é exatamente para evitar sofrimentos que os 
mecanismos de defesa ocorrem, de modo inconsciente e a despeito da vontade do indivíduo. Diversas 
modalidades de defesa do ego podem ser observadas em nossos pacientes. Elas variam de pessoa para 
pessoa e também pode ocorrer de uma única pessoa adotar mais de um mecanismo em determinada 
52
Unidade II
situação, assim como pode ocorrer substituição de um mecanismo de defesa por outro durante a 
interação do ego com o fator gerador de tensão.
Lembremos que esses mecanismos são acionados e operam em nível inconsciente para resguardar 
a integridade, a organização e o equilíbrio do ego. Entre os mecanismos de defesa mais comuns, 
podemos destacar:
• Negação: aspectos inaceitáveis de uma situação tida como intolerável são suprimidos da 
percepção – não são percebidos, ou seja, são negados.
• Regressão: frente a uma situação angustiante, ou devido à emergência de um conteúdo 
inconsciente ameaçador, o indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento, nas 
quais ele sentia segurança e apresenta comportamentos regredidos, infantis ou primitivos, o que 
pode incluir excesso de lembranças e devaneios. Tal mecanismo pode ser observado, por exemplo, 
quando nasce um novo irmão e a criança mais velha apresenta comportamentos infantilizados, 
por medo de perder o amor dos pais.
• Recalque ou repressão: tido como um dos mecanismos de defesa mais utilizados, caracteriza‑se 
pelo recurso de afastar da consciência conteúdos considerados ameaçadores e mantê‑los 
no inconsciente.
• Formação reativa: com o objetivo de afastar da consciência um desejo ou conteúdo considerado 
ameaçador, o indivíduo adota uma atitude oposta à esperada como manifestação desse desejo 
ou conteúdo. Demonstrações de afeto e de superproteção exacerbadas podem estar encobrindo 
um impulso agressivo, assim como pode ocorrer que manifestações da agressividade podem estar 
encobrindo o medo. Por meio desse recurso, a mãe que sente raiva do filho que lhe acarreta 
muitas dificuldades pode, por exemplo, superprotegê‑lo para evitar admitir o sentimento de raiva 
presente em nível inconsciente.
• Projeção: para evitar um conteúdo causador de sofrimento, o indivíduo o projeta no mundo 
exterior, ou seja, atribui a outra pessoa o que considera indesejável em si. Esse mecanismo é 
frequente e bastante observável em nosso cotidiano – graças a ele o indivíduo vê em outra pessoa 
conteúdos próprios vivenciados como se fossem dela e, sem se dar conta disso, poderá atacar em 
outrem o que não tolera reconhecer como próprio.
• Racionalização: a fim de normatizar um aspecto próprio, considerado deficitário, o indivíduo 
constrói explicações racionais convincentes e aceitáveis, que justificam estados “deformados” da 
consciência. Por meio desse mecanismo, a razão fica a serviço do que é irracional e elementos 
da cultura, da ciência e da moralidade são utilizados para justificar impulsos destrutivos, como 
ocorre, por exemplo, em guerras e em manifestações de preconceitos, ocasiões em que elementos 
morais, culturais e científicos são utilizados para justificar o desejo de destruir. Outro exemplo 
pode ser observado em usuários de álcool e drogas ilícitas, que mencionam aspectos positivos e 
motivos para o uso supostamente benéfico de tais substâncias.
53
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
• Sublimação: mecanismo por meio do qual o indivíduo desvia impulsos sexuais e agressivos para 
atingir finalidades socialmente aceitas, por exemplo o trabalho. É considerado um dos mecanismos 
mais salutares, pelo fato de converter os impulsos em produtos socialmente aceitáveis. Temos um 
exemplo disso em práticas cirúrgicas que resultam da sublimação do desejo ou do impulso de ferir 
seres vivos.
• Reparação: ocorre quando o indivíduo procura adotar condutas para consertar um objeto 
destruído internamente por um impulso agressivo e, assim, atenuar um sentimento de culpa. Por 
exemplo, quando o indivíduo reza para atenuar o sentimento de culpa por haver criticado sua 
instituição religiosa.
• Compensação: para lidar com inadequações e insatisfações relativas à própria vida e à própria 
personalidade, o indivíduo constrói fantasias e narrativas capazes de enaltecê‑las. Com isso busca 
substituir sentimentos de inferioridade por outros que lhe permitam obter o reconhecimento de 
que necessita.
• Introjeção: para suportar uma situação angustiante, o indivíduo toma para si características de 
outra pessoa, passando a reconhecer como próprio o valor ou o comportamento externo que foi 
internalizado. Temos um exemplo de uso desse mecanismo de defesa do ego em situações de 
violência, nas quais as vítimas interiorizam características do agressor. Aliás, esse mecanismo está 
presente na etiologia (origem) de comportamentos violentos.
Figura 14 
54
Unidade II
 Observação
Há, ainda, outros mecanismos de defesa, entre os quais anulação, 
isolamento, idealização, deslocamento, identificação, volta contra o eu, 
fixação e cisão/dissociação, cuja descrição consideramos desnecessária no 
presente contexto.
Figura 15 
Os conceitos de personalidade são articulados a outros conceitos, entre os quais os de corpo humano, 
temperamento, caráter e identidade. Como o tema temperamento é diretamente relacionado ao tema 
corpo, apresentamos a seguir distintas concepções de corpo e de temperamento.
5.1.3Corpo e temperamento: concepções ocidentais e orientais
Como não poderia deixar de ser, a noção de temperamento acha‑se intimamente relacionada à concepção 
de corpo humano e à noção de que corpo humano e pessoa constituem unidades psicossomáticas. Tais 
noções foram retomadas por Massimi (2005), que, revisitando concepções formuladas ao longo da tradição 
ocidental, privilegiou as desenvolvidas por pensadores da Grécia clássica, da tradição judaico‑cristã, da 
Idade Média, da Idade Moderna e do Brasil Colônia. Adotando uma perspectiva não cartesiana para abordar 
a questão do corpo humano, essa autora o concebe como intrinsecamente dotado de dimensões anímicas, 
espirituais e políticas.
Para realizar um levantamento dessas perspectivas de corpo e suas dimensões, Massimi (2005) 
visitou a história de culturas ocidentais e de culturas brasileiras. De seu excelente trabalho recortamos, 
para trazer a este contexto, concepções ocidentais de corpo e de temperamento próprias da tradição 
filosófica e médica da Grécia clássica e da tradição judaico‑cristã.
A medicina de Hipócrates, importante expoente da tradição filosófica e médica da Grécia, postulava 
haver profunda unidade entre o corpo e a alma, o que levava a supor a existência de enfermidades da 
alma. À medicina do corpo se unia, pois, uma medicina da alma, entendida a unidade corpo‑alma como 
55
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
expressiva da unidade psicossomática do ser humano. Tendo o equilíbrio por princípio unitário da saúde, 
qualquer desequilíbrio, fosse no corpo, fosse no espírito, seria causa de doença.
Apoiadas em uma visão integral de ser humano, as teorias platônicas (Timeu e República), aristotélicas 
(Política) e hipocráticas o entenderam como unidade psicossomática individual, social e cósmica. Platão 
(427‑347 a.C.), filósofo grego da Antiguidade, discípulo de Sócrates e considerado um dos principais 
pensadores da história da filosofia, considerava ilusório o mundo percebido por meio dos sentidos. Para 
ele, o ser humano é um conjunto estrutural – synamphoteron – de corpo e alma.
Aristóteles (384‑322 a.C.), filósofo da Antiguidade, discípulo de Platão e mestre de Alexandre, o Grande, 
considerava o corpo como “executor” de operações anímicas e a alma como princípio vital; o corpo 
integrado à natureza humana, submetido à alma, não para lhe servir de instrumento, mas por terem a 
mesma finalidade. A relação entre corpo e alma, relação de amor e amizade, tendo por princípio unitário 
de saúde o equilíbrio, faz com que qualquer desequilíbrio (no corpo ou na alma) produza doenças.
Hipócrates (460‑377 a.C.), considerando íntima a unidade entre corpo e alma, praticava e ensinava 
que à medicina do corpo corresponde uma medicina da alma, sendo a saúde da unidade corpo‑alma 
identificável por meio de avaliação do equilíbrio: qualquer desequilíbrio (no corpo ou na alma) causa 
doenças. Segundo essa concepção, um excesso de apetite sensorial (paixão) ou de determinado “humor”, 
por exemplo, podem causar doenças físicas e psicológicas. A Hipócrates devemos a primeira formulação 
da teoria dos humores, uma das teorias do temperamento.
Recorrendo à tradição judaico-cristã, constatamos que os textos bíblicos retomam a visão aristotélica 
de uma sociedade civil estruturada com base na arquitetura de corpos viventes que, perseguindo o 
ideal de relacionamentos fraternos, ganha forma de corpo social e de lugar de intervenção divina na 
história. O homem, imagem e semelhança de Deus, por Ele modelado em argila, se torna ser vivente ao 
receber do Criador o sopro vital. No cristianismo, o homem é compreendido como constituído de corpo 
(“modelado de argila”), alma e espírito (“manifestações do sopro vital”).
Ainda em âmbito ocidental, o racionalismo de René Descartes (1596‑1650), filósofo, físico e 
matemático francês, colaborou de modo expressivo para uma conceituação reducionista do corpo 
humano ao considerá‑lo restrito às suas dimensões de matéria e movimento.
Mencionamos que as concepções de corpo e de homem selecionadas por Massimi (2005) se 
restringiram à tradição ocidental. É interessante nos afastarmos por um tempo desse universo e 
realizarmos uma breve incursão no universo negro‑africano, incursão essa bastante justificável: por 
ocasião da escravidão, que perdurou por 350 dos 520 anos da história do Brasil, um grande contingente 
de africanos (cerca de cem grupos étnicos distintos) foi trazido a nosso país e, evidentemente, 
participou de modo significativo da construção de nosso patrimônio demográfico, linguístico, social 
e cultural.
Entre as etnias negro‑africanas trazidas da África Ocidental ao Brasil, está incluída a etnia iorubá, 
de expressiva presença em nosso país, que trouxe para cá a cultura e a religião de orixás, divindades de 
seu panteão, que marcam profundamente, com traços africanos, a identidade nacional.
56
Unidade II
Os iorubás compreendem a pessoa como constituída de partes que estabelecem relações entre si 
e com forças cósmicas e naturais. Dessas partes apenas uma é considerada visível, sendo as demais, 
invisíveis: ara, ojiji, okan, emi e Ori. Somente é visível ara, o corpo físico. As demais instâncias do ser 
humano são invisíveis: ojiji, o “fantasma humano”, representa a essência espiritual e acompanha o 
homem durante toda a sua vida; okan, traduzido por “coração”, acha‑se intimamente associado ao 
sangue e representa o okan imaterial, sede da inteligência, do pensamento e da ação; emi, princípio 
vital, associado à respiração, é o “sopro divino”, que anima o homem, significando, também, “espírito” 
ou “ser”; Ori, essência do ser, guia e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda a vida 
e após a morte.
Ori acompanha o homem desde antes de seu nascimento, durante toda a experiência vivida no 
mundo material e após a morte, período durante o qual Ori continua acompanhando o homem, então 
na condição de ancestral, do mesmo modo que o acompanhou anteriormente.
O sentido literal da palavra ori é “cabeça”. Ori, parcialmente independente, considerado divino, é 
cultuado, recebe oferendas e orações para estar bem, porque quando ori inu (cabeça interior) está bem, 
todo o ser do homem está em boas condições. O desenvolvimento humano obedece a um ritmo que, em 
nível individual, inclui vida pré‑natal em determinada comunidade de espíritos, nascimento, puberdade, 
casamento, procriação, velhice, morte, ingresso na comunidade de espíritos ancestrais e novo nascimento.
Os iorubás consideram que as realizações fundamentais da existência dependem não apenas de 
inclinações naturais e/ou da sorte, mas também de esforços pessoais que, aliados às forças do destino, 
favorecem o desenvolvimento de um homem forte, rico em saúde (longevo), genitor de prole numerosa 
(fértil) e possuidor de respeitáveis recursos materiais (próspero).
A concepção de saúde é a seguinte: ter saúde é ser forte. Ser forte é estar carregado de axé, a força 
vital. Para atingir o ideal de viver forte nos planos natural, social e espiritual, é preciso possuir axé, 
energia que flui em todos esses planos, força vital indispensável à consecução de qualquer objetivo. 
O axé, sendo energia, pode ser obtido ou perdido, acumulado ou esgotado, e também transmitido ou 
furtado. Seu acúmulo manifesta‑se física, psicológica e socialmente como poder, e seu esgotamento 
como doença física, mental ou adversidades de toda ordem. Se bem administrado, aumenta com 
o passar do tempo e o acúmulo de experiência, associando‑se a isso a fertilidade, a prosperidade 
e a longevidade.
Resumindo em pouquíssimas palavras a filosofia iorubá, podemos dizer que, no universo entendido 
como uma grande rede de participação, em que ocorrências do plano visível relacionam‑se intimamente 
a outras, do plano invisível, a pessoa, constituída de porções visíveis e invisíveis, capaz de atuar 
conscientemente nos vários planos e instâncias e de neles manipular a força vital, pode promover 
o próprio desenvolvimento para tornar‑se forte (longeva, fecundae próspera) e contribuir para o 
bem‑estar de sua coletividade. Nesse complexo, ocupa lugar de honra o conselho, que deve ser solicitado, 
compreendido e obedecido.
57
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Disso se deduz a noção iorubá de saúde, entendida como muito mais abrangente do que apenas 
saúde de um corpo físico. Segundo essa concepção, doença é qualquer desequilíbrio energético – não 
apenas do corpo físico – e cura é o restabelecimento do equilíbrio energético.
É interessante observar que há pontos de estreita aproximação entre a concepção de Hipócrates, 
tão distante de nós no tempo e no lugar, e a concepção iorubá, que vive no presente em países do 
continente africano e vive entre nós, brasileiros, preservada nas chamadas casas de axé, locais de prática 
de religiões brasileiras de matriz iorubá.
No contexto da fisioterapia, o contato corporal é imprescindível, como sabemos. Muitos procedimentos 
demandam o toque corporal. E agora? Como entender o que de fato tocamos ao tocar o corpo de um 
cliente? A resposta a esta última pergunta depende da concepção de pessoa e da concepção de saúde, 
doença e cura adotadas pelo fisioterapeuta.
Se sua concepção de pessoa é mecanicista, ao tocar o corpo de seu cliente, entende estar tocando 
somente o corpo de seu cliente e mais nada. Se sua compreensão de pessoa é mais ampla, se entende 
como verdadeiros os princípios da psicossomática ou do somatopsiquismo, ao tocar o corpo de seu 
cliente, estará tocando muito mais que um corpo físico: estará tocando também suas emoções, suas 
memórias, seu modo de ser, e tantos outros registros de seu sistema nervoso e de seu sistema muscular.
E se, finalmente, sua compreensão de pessoa é ainda mais ampla, se entende como verdadeira a 
concepção de pessoa que considera o humano constituído de um corpo denso e diversos corpos sutis e 
que, além disso, esse corpo é morada temporária de um espírito, portanto sagrado, ao tocar o corpo 
de seu cliente, estará tocando muito mais que um corpo psicossomático: estará tocando também o 
relicário que abriga o sagrado presente no humano.
É indispensável voltarmos o olhar para nós mesmos e nos perguntarmos: afinal, o que penso 
disso tudo? E como devo proceder para fazer de minha prática profissional uma oportunidade de 
concretização de minhas convicções e crenças, sem desrespeitar os parâmetros da ciência e da 
laicidade do Estado brasileiro?
 Lembrete
Nossa prática profissional nas áreas da saúde e da educação, entre 
outras, depende de nossa concepção de universo, de pessoa e destino 
humano, de saúde, doença e cura.
Concepções ocidentais e orientais de temperamento
As teorias morfológicas, formuladas inicialmente pelo psiquiatra alemão Kretschmer, enfatizam 
aspectos estruturais do corpo e buscam reconhecer tipos corporais para definir uma tipologia. A possível 
relação entre estrutura corporal e personalidade levou a uma classificação segundo a qual um físico 
delgado e delicado estaria associado a um temperamento introvertido, enquanto um físico rotundo, 
58
Unidade II
pesado e curto estaria associado a um temperamento extrovertido e jovial. Kretschmer chegou a 
explicitar três tipos distintos de temperamento, correspondentes a certos tipos orgânicos, cujas 
características acham‑se reunidas no quadro a seguir.
Quadro 1 
Tipo físico Descrição Temperamento Descrição
Pícnico Gordo, arredondado
Ciclotímico diastésico
Oscila entre tristeza e alegria
Quando alegre: jovial, loquaz, 
otimista; quando deprimido: 
afável, tranquilo, silencioso
Leptossômico Alto, esguio
Esquizotímico psicoestésico
Sensibilidade e frieza
Idealista, reformador
Atlético Robusto, muscular Ixotímico Tenaz e explosivo
Fonte: Pasquali (2003, p. 9).
Entre as teorias psicológicas, incluem‑se a teoria formulada por Sheldon, psicólogo norte‑americano, e 
seus colaboradores, que sofisticaram a proposta de Kretschmer e produziram detalhada descrição de 
variantes do temperamento. E ganha especial destaque a teoria dos tipos psicológicos, de Carl Gustav 
Jung (1967, 1974 apud PASQUALI, 2003).
Jung propõe distinguir extroversão de introversão e postula a existência de quatro funções 
(processos cognitivos básicos): pensamento, sentimento, sensação e intuição, das quais derivam oito 
tipos de personalidade:
• sensação extrovertida;
• sensação introvertida;
• intuição extrovertida;
• intuição introvertida;
• pensamento extrovertido;
• pensamento introvertido;
• sentimento extrovertido;
• sentimento introvertido.
Sensação e intuição são modalidades de percepção; pensamento e sentimento são modalidades 
de julgamento.
59
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Em artigo intitulado “Particularidades sobre o temperamento, a personalidade e o caráter, segundo 
a psicologia corporal”, Volpi (2004) assinala que as palavras temperamento, personalidade e caráter 
há muito são utilizadas com frequência sem uniformidade de conceituação. O mesmo interesse por 
uniformizar conceitos levou Pasquali (2003) e Massimi (2005) à procura de um arcabouço teórico que 
possibilitasse classificar de modo coerente esses termos.
Uma vez identificado por esses autores que no âmbito da psicologia e em diversos outros âmbitos 
há ambiguidades relativas à compreensão do que seja temperamento, por vezes confundido com 
personalidade, por vezes considerado causa de reações emocionais, por vezes atribuído de outros 
significados, esses três autores, cada qual em âmbito próprio, decidiram se dedicar à tarefa de 
elucidar conceitos.
Volpi (2004) lembra a origem etimológica da palavra “temperamento”: advinda do latim temperamentum, 
essa palavra, cujo significado é “medida”, designa peculiaridades e intensidade de afetos. Pasquali 
(2003) contribui informando que a palavra temperare, utilizada por Galeno de Pérgamo (129‑199 d.C.), 
designava o equilíbrio dos humores no corpo, equilíbrio desejável por ser condição indispensável de boa 
saúde. A palavra temperare teria dado origem à palavra “temperamento”. Esse significado original foi 
expandido para abranger referências à estrutura predominante do humor e da motivação de animais e 
de pessoas.
Segundo Volpi (2004), entre os diversos sistemas básicos de explicação do temperamento, dois 
ganham destaque: o sistema humoral, de interesse histórico, que relaciona o estado do organismo 
com a proporção dos líquidos e humores que circulam no organismo, sendo a teoria de Hipócrates 
um bom exemplo. Outro sistema é o constitucional, que relaciona características físicas e psicológicas 
a compleições corporais.
No âmbito do cristianismo, especificamente no campo do hermetismo cristão, temos a antroposofia, 
que reúne minuciosos estudos sobre natureza e desenvolvimento humanos e descreve o homem como 
cidadão de dois mundos – um material e outro sutil – e também descreve pormenorizadamente o 
temperamento humano relacionado a quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar.
FogoAr
ÁguaTerra
Figura 16 
60
Unidade II
Concepções antroposóficas de corpo e de temperamento, e outras, próprias dos saberes tradicionais 
do taoísmo (continente asiático) e do povo iorubá (continente africano), servem de fundamento às 
práticas integrativas e complementares regulamentadas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares (PNPIC), aprovada pela Portaria n. 971, de 3 de maio de 2006, do Ministério da Saúde 
(BRASIL, 2006).
 Saiba mais
Uma apresentação mais completa dos sistemas de explicação do 
temperamento é realizada na obra indicada a seguir:
PASQUALI, L. Os tipos humanos: a teoria da personalidade. Petrópolis: 
Vozes, 2003.
A teoria dos humores é própria da tradição filosófica do número 4, de Pitágoras (572‑497 a.C.), 
e da teoria cosmológica dos quatro elementos, de Empédocles de Acragas (495‑430 a.C.). Este 
filósofo sugere que toda substância é composta de quatro elementos: terra, fogo, água e ar. 
Aristóteles (384‑322 a.C.), além de concordar com a teoria dos quatro elementos, acrescentou que 
eles possuem propriedades básicas: à terraestão associados o frio e a secura; à água, a umidade e 
o frio; ao fogo, a secura e o calor; ao ar, o calor e a umidade.
O já mencionado médico Hipócrates, considerado no ocidente o pai da Medicina, relacionou a 
teoria cósmica à saúde das pessoas, criando a teoria dos humores ou teoria dos temperamentos.
De fato, para entendermos bem o significado de “humor”, é preciso recorrer à teoria hipocrática, 
formulada há cerca de 2.500 anos, a qual dizia que o corpo humano é constituído de quatro 
humores fundamentais:
• bílis negra (atrabílis);
• bílis amarela (bílis);
• sangue;
• fleuma (linfa).
61
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Sangue
Fogo
Ar
Água Terra
Fleuma
Bílis amarela
Bílis negra
Quente
Frio
SecoÚmido
Figura 17 
 Observação 
Bílis (ou bile) é um fluido produzido pelo fígado e armazenado na vesícula 
biliar, que atua na digestão de gorduras e na absorção de substâncias 
nutritivas da dieta alimentar.
O excesso de um dos quatro humores provoca doenças no corpo e traços exagerados de personalidade. 
Do predomínio de determinado humor na constituição corporal decorre determinado temperamento:
• Excesso de bílis negra determina temperamento melancólico, característico de pessoas tristes e 
sonhadoras, cujas reações são lentas e intensas.
• Excesso de bílis amarela determina temperamento colérico ou bilioso, característico de pessoas 
dotadas de desejos fortes e sentimentos impulsivos, cujas reações são rápidas e intensas.
• Excesso de sangue determina temperamento sanguíneo, característico de pessoas dotadas de 
humor oscilante, cujas reações são rápidas, porém débeis.
• Excesso de água determina temperamento fleumático, característico de pessoas lentas e apáticas, 
de reações fracas e lentas.
62
Unidade II
Coléricos
Melancólicos
Seco Úmido
Sangue
Coração
Ar
Água
Cérebro
Linfa
Bílis amarela
Fígado
Fogo
Terra
Baço
Bílis negra
Quente
Frio
Sanguíneos
Fleumáticos
Figura 18 – Teoria dos humores
Essa teoria, que afirma a química do corpo como determinante do tipo de temperamento, foi 
difundida posteriormente pelo greco‑romano Galeno de Pérgamo (129‑199 d.C.), que, conforme 
mencionado, considerava a boa saúde dependente do equilíbrio, da boa dosagem dos humores no corpo, 
do temperare dos humores, equilíbrio desejável por ser condição indispensável à boa saúde.
Quadro 2 
Humor 
predominante Temperamento Características pessoais Reações
Bílis negra Melancólico Pessoas tristes e sonhadoras Lentas e intensas
Bílis amarela Colérico (bilioso) Pessoas dotadas de desejos fortes e sentimentos impulsivos Rápidas e intensas
Sangue Sanguíneo Pessoas de humor oscilante Rápidas e débeis
Água Fleumático Pessoas lentas e apáticas Fracas e lentas
Temperamento, caráter e personalidade
Alguns estudiosos propuseram um modelo tridimensional da personalidade baseado em sete 
dimensões, quatro delas de temperamento (de base prioritariamente biológica) e três de caráter 
(de base prioritariamente psicológica). Volpi (2004), por sua vez, após enunciar diversas teorias psicológicas 
sobre o temperamento, afirma que o mais aceitável atualmente é admitir que certas características do 
temperamento se acham associadas a processos fisiológicos do sistema linfático e da ação endócrina 
de alguns hormônios. No âmbito dessa explicação, segundo a qual tanto a genética quanto o meio 
exercem ação sobre o temperamento, este pode ser compreendido como uma disposição pessoal, inata 
e particular, pronta a reagir a estímulos ambientais. Em outras palavras, temperamento seria o aspecto 
somático da personalidade.
Segundo Navarro (1999 apud VOLPI, 2004, p. 2):
encontramos diferentes tipos de temperamentos. Há pessoas basicamente 
tireóideas, hipo ou hipersuprarrenais, timolinfáficas... e isso faz parte do 
temperamento. Temos um normotipo, um longitipo, um braquitipo, (...) 
aspectos do temperamento de uma pessoa.
63
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Volpi (2004) afirma que o temperamento pode ser transmitido de pais para filhos e, embora não 
seja passível de aprendizagem, pode ser abrandado por meio de ação educacional, competindo ao 
caráter a tarefa modeladora. Da constituição da personalidade, processo que ocorre desde a gestação, 
participam elementos do temperamento, geneticamente herdados, e elementos de caráter, entre 
outros, adquiridos do meio ambiente.
Strelau e Angleitner (1987 apud PASQUALI, 2003) descrevem cinco características que diferenciam 
temperamento de personalidade:
• O temperamento é biologicamente determinado; a personalidade é produto do ambiente social.
• Características temperamentais podem ser identificadas desde cedo na infância; a personalidade 
é moldada ao longo de todo o desenvolvimento infantil.
• Diferenças individuais com características temperamentais, como ansiedade, extroversão/introversão, 
são observáveis também em animais; personalidade é prerrogativa de seres humanos.
• O temperamento se expressa por meio de qualidades estilísticas; a personalidade se expressa por 
meio de comportamentos.
• O temperamento não desempenha função integrativa no comportamento humano; a personalidade 
desempenha função integrativa no comportamento humano.
O caráter, palavra advinda do grego charakter, que etimologicamente significa sinal e marca, designa 
fatores inscritos no psiquismo e no corpo das pessoas durante seu desenvolvimento. Entre as teorias 
psicológicas do caráter, a mais influente foi a elaborada por Wilhelm Reich (1995), que entende por 
caráter o conjunto de reações e hábitos de comportamento adquiridos ao longo da vida que constituem 
o modo específico de ser de cada pessoa. O caráter é composto, pois, de atitudes e hábitos de uma 
pessoa e de seu padrão consistente de respostas a diversas situações.
O caráter inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento (timidez ou agressividade, 
por exemplo), postura, hábitos de manutenção e movimentação do corpo. Ele é, pois, o modo pelo qual 
uma pessoa se apresenta, com seu temperamento e sua personalidade. Ele expressa o temperamento 
e a personalidade de uma pessoa. Segundo essa concepção, poderíamos dizer, então, que por meio do 
caráter a personalidade e o temperamento se manifestam.
Tendo sido apresentadas concepções ocidentais de temperamento, e considerando a importância 
das PNPICs, voltemos nosso olhar para outras concepções: a taoísta, própria de saberes tradicionais do 
continente asiático; e a iorubá, própria de saberes tradicionais do continente africano.
É interessante observar que na tradição taoísta (China) são considerados cinco elementos 
básicos da constituição do mundo material (e não quatro): terra, água, fogo, madeira e metal. 
O conhecimento desses elementos e da dinâmica estabelecida entre eles é absolutamente indispensável para 
64
Unidade II
a compreensão da noção taoísta de universo e de homem, cujas consequências são importantíssimas 
para a educação e a saúde, sendo particularmente úteis na prática da medicina chinesa. A interação 
e o controle recíproco desses elementos encontram‑se em constante movimento, conforme representado 
na figura a seguir.
Terra
MetalÁgua
Fogo
Madeira
Figura 19 
 Saiba mais
Aos interessados em aprofundar conhecimentos sobre essa concepção 
chinesa de corpo e temperamentos, recomendamos o acesso ao site a seguir:
https://www.taoismo.com.br
Na tradição iorubá os elementos da natureza também são considerados para além de sua natureza 
física: à sua natureza anímica (ou espiritual) é atribuído significado místico e, como nas demais tradições 
aqui abordadas, são utilizados em processos de educação e cura.
É interessante observar que a esses saberes tradicionais são associadas recomendações de cunho 
religioso, uma vez que os saberes tradicionais dialogam de modo íntimo com religiões, dada a proximidade 
de concepções de universo e de pessoa que há entre esses domínios humanos.
65
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Figura 20 
Rodrigo Frias (2019), em sua tese de doutorado intitulada Metamorfosesidentitárias de lideranças 
religiosas não iorubás inspiradas no convívio com lideranças religiosas iorubás, apresenta algumas 
noções de identidade sob as perspectivas psicológica e cultural. Inicia citando Santos e Fernandes (2016 
apud FRIAS, R. R., 2019), autores para os quais a identidade inclui componentes individuais e coletivos 
e remete às noções que o sujeito tem de si, dos outros e de seus grupos de pertença. A identidade é 
constituída na relação eu‑outro.
Figura 21 
Indícios
Eu não me vejo,
Mas os outros refletem
Com que me pareço
€_FR!@s
Fonte: Frias, E. R. (2015).
66
Unidade II
5.1.4 Identidade pessoal
A formação de vínculos entre um indivíduo e seu grupo ou comunidade se dá por meio da identificação 
de ideias e ideais e do compartilhamento de crenças, valores e ações.
O brasileiro Ciampa (1987), psicólogo social, também se refere aos múltiplos componentes da 
identidade pessoal como personagens de comportamentos relativamente independentes, que habitam 
nossa subjetividade e interagem nesse cenário íntimo que é a nossa vida intrapsíquica. O indivíduo 
isolado é uma abstração, e a identidade pessoal se concretiza na relação com outras pessoas, em distintas 
circunstâncias de nossas atividades sociais. Uma identidade que não se realize na relação com o próximo 
é fictícia, é abstrata, é falsa.
Estamos falando de seres que interagem em cenários de nossa interioridade psíquica. Nesse âmbito 
subjetivo, tudo se passa como numa obra teatral da qual participam diretor, ator e personagens. 
E, enquanto o drama interno se desenrola, vai ocorrendo um processo de contínua, permanente e 
inevitável metamorfose pessoal.
Parece‑nos que Raul Seixas (1945‑1989), considerado pai do rock brasileiro, nosso “Maluco Beleza”, 
expressa muito bem essa dinâmica, ao cantar (SEIXAS, s.d.):
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
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PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
 Saiba mais
No YouTube, há vídeos sobre esse expoente da música brasileira, que 
captou com sensibilidade e expressou com precisão conceitos que demandam 
de teóricos da psicologia páginas e páginas de textos explicativos.
Veja, por exemplo, o vídeo a seguir:
SEIXAS, R. Metamorfose ambulante. [s.d.]. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=7VE6PNwmr9g. Acesso em: 23 mar. 2020.
Prossigamos nos próximos parágrafos com a apresentação do pensamento de Ciampa (1987), para 
quem as personagens internas estabelecem relações entre si nesse espaço intrassubjetivo e estabelecem 
relações com pessoas e elementos da realidade externa. Em outras palavras, no âmbito da própria 
subjetividade, há um ator representando diversas personagens.
Ao observarmos com atenção a identidade de uma pessoa qualquer, inicialmente a vemos como 
estática, definindo um indivíduo que nos parece isolado dos demais. Sua identidade, representada por 
um nome próprio, é vista inicialmente como algo imutável. No entanto, durante nossa interação com 
essa pessoa, outros predicados vão se revelando, ela vai dando a conhecer seus papéis sociais, algumas 
de suas diversas personagens interiores, representadas por um ator que nunca veremos. Assim, uma 
identidade nos aparece como a articulação de várias personagens, uma articulação de semelhanças e 
diferenças, que constituem determinada biografia.
Por exemplo: damos uma passada na padaria para tomar um café e comer um pão de queijo. Jogo 
rápido. No banco ao lado do nosso, senta uma pessoa e puxa prosa. Trocamos nossos nomes e telefones, 
e isso é tudo. Conversa agradável, combinamos um encontro para nos conhecermos melhor: onde você 
trabalha? Faz o quê? Mora com quem? Torce para qual time? Estuda ou não? Pratica alguma religião? 
Acredita em Deus? Acredita em vida após a morte? Tem Facebook, Twitter, blog? E, assim, fazemos 
desfilar diante de nossos olhos muitas personagens representadas por um ator desconhecido.
E, aqui estamos nós, novamente, produzindo longos – e talvez maçantes – textos para transmitir 
a você informações que possam ser úteis em sua prática profissional. De novo, somos obrigados a 
reconhecer que os poetas, com sua linguagem analógica, sua linguagem carregada de metáforas, são 
capazes de dar o mesmo recado com poucas palavras, e, ainda por cima, conseguem vesti‑las de beleza.
68
Unidade II
Figura 22 
Veja outro exemplo disso, no cantar de Chico Buarque (s.d.):
Noite dos mascarados
– Quem é você?
– Adivinha, se gosta de mim!
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:
– Quem é você, diga logo...
– Que eu quero saber o seu jogo...
– Que eu quero morrer no seu bloco...
– Que eu quero me arder no seu fogo.
– Eu sou seresteiro,
Poeta e cantor.
– O meu tempo inteiro
Só zombo do amor.
– Eu tenho um pandeiro.
– Só quero um violão.
– Eu nado em dinheiro.
– Não tenho um tostão.
Fui porta‑estandarte,
Não sei mais dançar.
– Eu, modéstia à parte,
Nasci pra sambar.
69
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
– Eu sou tão menina...
– Meu tempo passou...
– Eu sou colombina!
– Eu sou pierrô!
Mas é carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir, eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
 Saiba mais
No YouTube, há vídeos de Chico Buarque interpretando essa música. 
Vale a pena conferir, por exemplo, o vídeo a seguir:
BUARQUE, C. Noite dos mascarados. [s.d.]. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=fjjd2u_kSWY. Acesso em: 23 mar. 2020.
Veja também o vencedor do Oscar de melhor filme em 2017:
MOONLIGHT: sob a luz do luar. Direção: Barry Jenkins. EUA, 2017. 
91 min.
Pois bem. Identidade é processo, é história, e não há personagens fora de uma história. Do 
mesmo modo, não pode haver história sem personagens. E, ao longo da trajetória existencial, 
cada identidade pessoal vai se configurando em meio a relações sociais ocorridas em determinada 
estrutura social e determinado momento histórico.
Foi constatando esse fato que nosso amigo, Antônio da Costa Ciampa (1987), produziu a 
obra A estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de psicologia social. Severino 
é um personagem ficcional, idealizado pelo poeta João Cabral de Melo Neto e personagem 
principal do poema Morte e vida Severina; a retirante Severina é uma mulher de carne e osso, 
que chega do sertão da Bahia para viver em ruas de São Paulo. Ciampa (1987) narra as trajetórias 
biográficas de ambos e, apoiado nessas narrativas, constrói a teoria apresentada a você neste 
livro‑texto. Estamos diante de duas identidades dinâmicas, em constante mutação, em contínua 
70
Unidade II
metamorfose. Para melhor conhecê‑las, é preciso acompanhá‑las em seu caminho de vida. Não 
é possível conhecermos de modo imediato a identidade de alguém. Caminhando lado a lado e 
testemunhando a contínua metamorfose de uma pessoa, maiores chances temos de conhecê‑la.
Figura 23 
 Saiba mais
No YouTube, assista a vídeos de entrevistas concedidas por A. C. 
Ciampa e da peça musical de teatro derivada do poema Morte e vida 
severina. Faça isso. Dificilmente se arrependerá:
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA 6ª REGIÃO. Teaser – 
videodocumentário Antônio da Costa Ciampa. 24 jul. 2019. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=osz2oJjowZw. Acesso em: 23 mar. 2020.
LÍTERABRASIL. Morte e vida severina: resumão#11. 7 jun. 2019. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jYjJ9DkZ5BA. 
Acesso em: 23 mar. 2020.
A partirdo que foi dito até agora sobre identidade, não há dúvida: identidade não pode ser 
entendida somente como uma questão científica ou acadêmica: ela é também uma questão social, 
uma questão política.
Retomando a peculiar condição de metamorfose permanente das identidades pessoais, é 
interessante lembrar que qualquer objeto, mesmo que seja mineral ou vegetal, quando entregue à própria 
natureza, se transforma: o metal oxida, a peça de roupa desbota, o alimento deteriora.
71
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Como diz a sabedoria chinesa, absolutamente tudo se encontra em contínuo processo de 
mutação. A única coisa que não muda é o fato de que tudo muda. É impossível, pois, evitar a 
transformação, manter‑se inalterado. É possível apenas manter uma aparência de estabilidade absoluta.
Como diretores de cena e atores, representamos a nós mesmos nas distintas situações sociais. 
Nunca expressamos a totalidade de nossos seres: falamos e agimos sempre como representantes de nós 
mesmos, adequando personagens aos cenários e às cenas de nossa rotina social. E toda pessoa com a 
qual interagimos também se apresenta diante de nós representada por alguma de suas personagens. 
Comparecemos uns diante dos outros como representantes de nós mesmos, apresentando uma face, 
um aspecto, de nossa totalidade.
Com base nas contribuições de Ciampa (1987) e de Santos e Fernandes (2016), Rodrigo Frias 
(2019) infere que, para a psicologia, a identidade é constituída de diversas “partes”, diversos aspectos 
pessoais inerentes, outros aspectos obtidos e/ou cultivados nos grupos aos quais a pessoa pertence, em 
representações de si e do outro, em atitudes e comportamentos, bem como de relações do indivíduo 
com membros de seus grupos de pertença e de suas relações com outras pessoas.
Fatores biológicos, culturais, históricos, geográficos e socioeconômicos participam ativamente do 
processo de constituição, preservação e mutação de aspectos da identidade. A cultura é cada vez mais 
considerada por pesquisadores das ciências psi como uma das chaves para a compreensão da construção 
e do funcionamento da identidade e de suas relações com o outro, especialmente em seus grupos 
de pertença.
Como vimos, Ciampa publicou seu trabalho em 1987. Poucos anos depois, seríamos contemplados 
com a produção de um conjunto de obras condizentes com o pensamento de Ciampa e complementares 
à sua obra. Estamos nos referindo a Zygmunt Bauman (1925‑2017), sociólogo polonês nascido em 
1925, que iniciou carreira na Universidade de Varsóvia e publicou mais de quarenta livros, entre os quais 
Modernidade líquida (2001), Amor líquido (2004), Identidade (2005) e Ética pós‑moderna (2006).
 Observação
Mesmo reconhecendo que esses conceitos da psicologia são complexos 
e exigem esforços para serem bem entendidos, nós, autores deste 
livro‑texto, optamos por apresentá‑los a você por serem fundamentais 
para os profissionais da educação e da saúde. Então, sugerimos que 
realize mais de uma leitura deste material. Caso fiquem dúvidas neste 
momento da graduação, certamente a compreensão será maior quando 
você fizer novas leituras em estágios mais avançados de seu percurso 
acadêmico e profissional.
Vamos prosseguir na exposição das ideias de Bauman. Em Modernidade líquida, Bauman (2001) 
explicita o uso que faz do termo liquidez: os líquidos não têm forma e, sendo fluidos, se moldam 
72
Unidade II
facilmente aos recipientes que os contêm. Não são como os sólidos, que precisam ser submetidos 
a fortes tensões de forças para serem moldados e adquirirem novas formas. Os líquidos penetram 
nos lugares, nas pessoas, contornam obstáculos. Um estado de liquidez permeia a emancipação, a 
individualidade, o tempo e o espaço, o trabalho e a comunidade. Bauman distingue, pois, modernidade 
sólida de modernidade líquida.
A modernidade sólida, concreta, precedeu a modernidade líquida. A modernidade sólida possuía um 
caráter marcantemente totalitário, sendo, por isso, rígida, dificilmente adaptável a novas formas. Os 
indivíduos se mostravam mais passivos, incapazes de tomar decisões. Presos em suas próprias limitações, 
se deixavam levar pela modernidade sólida, e a individualidade era experienciada como uma fatalidade, 
que impossibilitava a autoafirmação.
Na modernidade líquida, vivida por nós atualmente, o indivíduo procura influenciar o meio para 
atingir seus objetivos, fazer amigos, trabalhar em redes sociais complexas, marcadamente fluidas, 
carregadas de agentes ativos. Nessa versão líquida da modernidade, o indivíduo elege como deseja e 
como acha necessário se identificar para dar a conhecer a própria identidade. Identidades individuais 
permanecem em contínuo estado de nascimento e, para exemplificar isso, Bauman (2001) recorre a 
uma metáfora: a identidade substituiu suas raízes por âncoras que, sendo mais versáteis do que raízes, 
possibilitam que a importância do compromisso e da lealdade seja relativizada, ou mesmo negada.
Na modernidade líquida, as metamorfoses da identidade se tornaram muito mais rápidas. Bauman 
(2001) utiliza a seguinte metáfora: agora não somos mais como árvores presas ao solo por raízes, agora 
somos como navios que utilizam âncoras para permanecerem temporariamente em alguns portos. 
Possuidores de âncoras e não de raízes, basta erguermos nossas âncoras para que nosso navio possa ser 
conduzido a outro porto.
Sabemos que a pertença a coletivos define em boa parte as identidades: ao nos apresentarmos, 
nos referimos a nossos coletivos de pertença. Dizemos, por exemplo, “sou brasileiro“ (pertenço à nação 
brasileira), “sou negro“ (pertenço ao coletivo étnico‑racial de negros), “sou corintiano“ (pertenço ao 
coletivo de torcedores do Corinthians), “sou católico“ (pertenço ao catolicismo), e assim por diante.
Mas, no novo contexto de uma sociedade líquida e de identidades líquidas, como fica a relação dos 
indivíduos com suas comunidades de referência? Entendidas as identidades como navios que ancoram 
e as comunidades como portos, locais de estadia breve, que não têm como impor limites rigorosos ao 
trânsito de navios, as comunidades servem a la carte indivíduos que buscam um lugar no mundo.
Esse fenômeno denominado por Bauman (2001) identidades líquidas em comunidades líquidas 
sugere a ocorrência de alta mobilidade e de contínuas metamorfoses identitárias. Melhor compreensão 
desses postulados de Bauman (2001) pode ser obtida se voltarmos nosso olhar para a construção de 
identidades em redes sociais virtuais.
O artigo “A construção de identidades nas redes sociais”, de Lívia de Pádua Nóbrega (2010), reúne 
elementos que nos ajudam a compreender melhor o fenômeno descrito por Bauman (2001), fenômeno 
73
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
próprio das ocorrências no ciberespaço, no universo virtual. Vejamos, pois, o que nos apresenta Nóbrega 
(2010), quando particulariza características da construção de identidades em redes sociais.
Observando que a mídia virtual oferece modelos capazes de nortear a autorrepresentação de sujeitos na 
sociedade, ou seja, observando o modo pelo qual as redes virtuais de relacionamento se configuram 
como ferramenta de construção de identidades pessoais, Nóbrega (2010) se propôs a analisar com maior 
acuidade esse fenômeno contemporâneo.
Não estamos nos referindo a algo abstrato, estranho, de difícil compreensão. Não. Estamos nos 
referindo a essa experiência que todos nós temos diariamente ao ingressarmos num chat, no Facebook, 
no Instagram, no YouTube, e assim por diante.
Você, nosso aluno, nossa aluna, nosso querido aprendiz, dificilmente se afasta de seu aparelho 
celular, de seu tablet, da tela de sua smart TV. Andamos pelas ruas presenciando relações absorventes 
de humanos com máquinas de acesso virtual a indivíduos e a grupos. Isso não é diferente para 
nós, que estamos aqui produzindo este livro‑texto para você. Nós, como você, integramos diversos 
coletivos no WhatsApp, no Instagram, no Facebook... Neste momento em que escrevemos, por diversas 
vezes interrompemosa redação para atender a chamados de indivíduos desses nossos grupos de pertença, 
para dar uma espiada em outras redes sociais virtuais, igualmente atraentes, para ingressar em coletivos 
pensantes que disponibilizam generosamente resultados de seus estudos e de suas reflexões.
E nem precisamos ir mais longe com essa história toda, porque sabemos que este livro‑texto que 
agora você tem em mãos foi produzido para ser lido por dezenas, ou, quem sabe, centenas de pessoas, 
cujos rostos não veremos, cujos corpos jamais abraçaremos. Aquele que realiza seu processo de 
aprendizagem on‑line entende perfeitamente o que estamos dizendo: pertencemos a comunidades 
de aprendizagem, entre outras comunidades virtuais, que definem, em parte, nossas identidades.
Houve um tempo em que as identidades eram dadas com o nascimento e pronto. Você nascia filho 
de um casal que lhe atribuía um nome e, logo de cara, já estava definida sua pertença a um grupo 
familiar, uma classe social, uma religião, uma etnia, e assim por diante. Havia pouca mobilidade social e, 
assim, as pessoas nasciam e morriam de acordo com uma instância classificada por Kellner (2001 apud 
NÓBREGA, 2010) como fixa e imutável.
Stuart Hall (1997 apud NÓBREGA, 2010) nos oferece um histórico interessante, que inclui três 
importantes e decisivos períodos que foram atravessados por concepções identitárias.
No primeiro desses momentos, durante o Iluminismo, período em que vigorava a concepção de que os 
indivíduos eram uma espécie de monobloco, a identidade era compreendida como se um núcleo interior, 
que emergia pela primeira vez com o nascimento do sujeito, desabrochasse pouco a pouco, sem que o 
sujeito se modificasse muito, como se ele permanecesse essencialmente o mesmo, até o final de sua vida.
Em um período posterior, essa noção de indivíduo dotado de identidade fixa foi substituída pela 
noção de sujeito sociológico, que se dava conta de que a complexidade do mundo moderno afetava 
decisivamente sua composição identitária e a composição identitária de todas as outras pessoas. 
74
Unidade II
A identidade passou a ser considerada resultante da interação entre o indivíduo e a sociedade na qual 
esse indivíduo estava inserido, sujeita, pois, a transformações.
Finalmente, num terceiro período histórico, surgiu a noção de sujeito pós‑moderno, profundamente 
marcado pela liquidez dos novos tempos, como diz Bauman (2001). A identidade desse sujeito imerso 
em um mundo fluido – fluido porque as transformações são rápidas e constantes – também precisa ser 
fluida, porosa, de difícil delimitação. Sendo fluida, essa identidade precisa ser múltipla e multifacetada. 
Aquela identidade assegurada pelo grupo, assumida como questão pessoal e subjetiva, é substituída 
por uma identidade que sofre contínuas e rápidas metamorfoses. Em outras palavras, ela deixou de ser 
algo dado com o nascimento e passou a ser algo em constante construção e transformação. A identidade desse 
terceiro período não é imposta: ela decorre de escolhas. Nas palavras de Hall (1997), a identidade 
não é mais uma questão de ser, e sim uma questão de tornar-se.
Trazendo essas reflexões para nosso dia a dia: quem não se reconhece como uma pessoa que vive 
nesse período de transformações rápidas e constantes? Quem não reconhece a si mesmo como alguém 
que tem a liberdade de escolher o modo pelo qual quer se apresentar? Certamente, essas concepções se 
tornam mais compreensíveis quando refletimos sobre nossa presença em redes sociais da internet, em 
comunidades virtuais.
Comunidades virtuais são bailes de máscaras que permitem aos indivíduos que troquem de 
identidade a seu bel‑prazer e que transitem livremente pelas diversas e incontáveis opções identitárias. 
No ciberespaço, diversos modelos de sujeito e de posicionamento estão disponíveis para que os indivíduos 
realizem escolhas identitárias.
Bauman (2005) está certo ao afirmar que houve um tempo em que a identidade de uma pessoa era 
determinada fundamentalmente pelo trabalho produtivo desempenhado na divisão social do trabalho e 
hoje ela é fruto de escolhas em meio a inúmeras possibilidades?
Dificilmente podemos negar o que Bauman (2005) afirma: a pós‑modernidade propiciou condições 
para que as identidades se formassem em torno do lazer, da aparência, da imagem e do consumo.
É muito importante enfatizar que todas essas lúcidas considerações a respeito da construção de 
identidades nas redes sociais aqui apresentadas têm por fonte o já mencionado trabalho de Lívia 
de Pádua Nóbrega (2010). Essa autora prossegue em suas reflexões, ao afirmar que as redes sociais de 
relacionamentos configuram um espaço de construção de sujeitos, que possibilita e permite construir 
e divulgar identidades baseadas no que somos e naquilo que almejamos ser.
Interessante é o fato de que, do mesmo modo que nossa identidade é definida em parte por nossa 
pertença a coletivos nos quais as pessoas interagem em carne e osso, ela também é em parte definida 
por nossa pertença a comunidades virtuais, nas quais compartilhamos um mesmo território virtual, 
expressamos nossos sentimentos, compartilhamos impressões, nos apresentamos do modo que nos 
pareça mais conveniente, compartilhamos ideias e ideais com pessoas que pensam como nós e, juntos, 
fortalecemos um ideal de grupo.
75
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
 Observação
Sinceramente, querid@ leitor, esse trabalho da Lívia de Pádua Nóbrega 
(2010) é ou não é formidável? Essa leitura nos permite ver a nós mesmos 
como diante de um espelho.
Essa leitura sobre a atual modalidade de construção de identidades nos alerta para o fato de que 
tanto as identidades concretas, por nós exibidas em nossos grupos de encontros físicos, quanto as 
identidades virtuais, por nós exibidas nas redes sociais on‑line, todas essas representações de nós mesmos, 
são simbólicas. Reconhecer isso contribui para nossas reflexões e nos proporciona a oportunidade 
de autoconhecimento.
Figura 24 
Nóbrega (2010) prossegue assinalando que toda concepção identitária é uma forma de representação 
e que, no caso das redes virtuais de relacionamento, a representação do indivíduo se dá por meio da 
publicização do eu, isto é, para representar a mim mesmo, utilizo um meio de “publicar” a imagem 
de mim, que eu mesmo escolho. Ao projetar na rede a imagem que escolhi para me representar, 
ingresso nesse cenário virtual como personagem de uma peça teatral que ingressa num palco de teatro.
Figura 25 
76
Unidade II
Em ambientes de rede, um indivíduo pode se apresentar como quiser, pode se representar como 
desejar e encontrar a solidariedade de outros indivíduos na rede que, como tribo, o acolhem. Sabemos 
que as identidades se afirmam em processos de alteridade: conheço a mim mesmo quando interajo 
com outrem. O mesmo princípio vale para os coletivos: identidades coletivas se afirmam “em oposição” 
a outras identidades coletivas. Grupos e comunidades virtuais reúnem indivíduos semelhantes e 
constituem um “nós” que se coloca em oposição a um “eles”, “os outros”.
Aplicativos de redes sociais e comunidades virtuais permitem, e, mais que isso, estimulam, a construção 
de falas por meio das quais os indivíduos representam a si mesmos. Não se trata de saber, nem de “descobrir” 
se as identidades publicizadas são verdadeiras ou falsas. O que realmente importa é perceber com nitidez o 
fato de que sujeitos utilizam ferramentas das redes sociais para construírem suas identidades pessoais. Redes 
sociais são espaços de convivência. Nesses espaços, as subjetividades interagem.
Para, finalmente, concluirmos estas considerações sobre identidade e pertença grupal e retornarmos 
ao motivo pelo qual nos demoramos tanto nesse assunto, cabe observar que, no momento em que eu, 
fisioterapeuta, me encontro com meu cliente, cada um de nós leva no bolso ou na bolsa um aparelho 
celular. Cada um de nós pode estar portando um tablet ou um notebook. Nessas caixinhas mágicas, 
carregamos nossa multiplicidade de identidades possíveis. Olhamo‑noscomo indivíduos certamente 
pertencentes a diversos coletivos – concretos e virtuais.
Tempos atrás, ao realizar uma anamnese, as perguntas feitas a nossos clientes para melhor conhecê‑los 
tinham por finalidade nos dar a conhecer um pouco de seus grupos de pertença – o familiar, o escolar 
ou acadêmico, o de convivência religiosa, e assim por diante. Os tópicos da anamnese demandaram 
ampliação: para eu saber quem é você, preciso que me conte também um pouco de sua vida nos espaços 
virtuais, me fale das tribos a que pertence quando navega no ciberespaço, como se relaciona com 
seus pares em tribos de sua escolha, como você, de determinada tribo, se relaciona com indivíduos 
de outras tribos.
Que formidável ampliação! E quanto assunto a ser abordado durante um processo de 
atendimento fisioterapêutico!
Figura 26 
77
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Porque nos foi dito que emoções produzidas nas interações humanas, sejam alegrias ou tristezas, 
sejam interações concretas ou virtuais, guardam memória em nossa musculatura, em nossos ossos, em 
nosso sangue. Quando eu, fisioterapeuta, toco o corpo de meu cliente, toco mistérios múltiplos. Tateio o 
que há de sagrado nesse corpo, busco desfazer tensões originadas em interações humanas propiciadoras 
de sofrimento.
Assagioli (apud MATTOS, 2012) considera que o desenvolvimento da personalidade demanda 
integração de componentes físicos, mentais e espirituais. Sustenta a ideia de que esse desenvolvimento, 
embora determinado por impulso pessoal, demanda esforços por tratar‑se de uma meta a ser atingida.
Em outras palavras, podemos dizer que distintas concepções relativas ao que seja o homem e seu 
psiquismo determinaram a elaboração de muitas teorias de personalidade. Segundo Schultz e Schultz 
(2002), os aspectos enfatizados em cada teoria se organizam em contínuos estabelecidos entre dois 
polos. Por exemplo:
• determinismo versus livre‑arbítrio;
• peculiaridade versus universalidade;
• importância do passado versus importância do presente.
O termo versus utilizado nesses binômios sugere haver uma oposição radical entre os polos. No 
entanto, podemos observar nas teorias de personalidade que nem sempre os fatores são colocados em 
oposição: muitas vezes, o que temos são diferentes atribuições de relevância a um ou a outro fator.
Podemos dizer que um indivíduo é inteiramente livre? Em que medida ele está sujeito a determinações 
de ordem biológica e sociocultural? Podemos falar em ação do destino? Podemos considerar o homem 
como líder de seu caminho de vida? Essas são questões relativas ao binômio determinismo/livre-arbítrio. 
O homem representa a culminância de um processo de evolução natural ou foi criado já em sua 
condição humana? Essa questão é relativa ao binômio natureza/criação. Ao considerarmos questões da 
personalidade, os fatos do passado são tão relevantes quanto os fatos do presente? Essa questão é relativa 
ao binômio importância do passado/importância do presente. A despeito de sua singularidade, 
as pessoas compartilham características que definem seu pertencimento a coletivos humanos? Essa 
questão é relativa ao binômio peculiaridade/universalidade.
 Saiba mais
Aprenda mais sobre as grandes correntes da psicologia:
FERREIRA, C. As 3 grandes forças em psicologia. Sociedade dos Psicólogos, 
13 jan. 2019. Disponível em: https://spsicologos.com/2019/01/13/as‑3‑
grandes‑forcas‑em‑psicologia/. Acesso em: 16 mar. 2020.
78
Unidade II
Assim como um fisioterapeuta pode se beneficiar de conhecimentos sobre a dinâmica normal da 
personalidade, é igualmente preciso que ele reúna conhecimentos básicos de psicopatologia para o caso 
de ser preciso encaminhar algum de seus pacientes para atendimento psiquiátrico e/ou psicológico. 
Pensando nisso, reunimos na seção a seguir noções de psicopatologia.
5.1.5 Noções de psicopatologia
Ao considerarmos as diferentes modalidades de quadros psicopatológicos, vemos que eles decorrem 
de situações e ocorrências que ultrapassam a possibilidade de uso dos mecanismos de defesa da 
integridade do ego. Quando esses mecanismos se mostram incapazes de proteger o ego íntegro, 
condições atípicas de funcionamento cognitivo e psíquico são desencadeadas, tais como alterações 
perceptuais e comportamentais promotoras de sofrimento.
Segundo Jaspers (1973), a psicopatologia configura‑se como ciência natural complexa, que tem 
por objetivo explicar a relação causal entre sintomas e fenômenos psíquicos. Propõe que a partir da 
observação das manifestações e evidências concretas (sintomas) é possível compreender nexos e 
significados internos que esses fenômenos têm para os indivíduos.
Para Campbell (1986 apud DALGALARRONDO, 2000), a psicopatologia abrange o conjunto de 
conhecimentos relativos aos processos de adoecimento mental do ser humano, incluindo o estudo 
de suas causas, das transformações estruturais e funcionais ocorridas, bem como das formas de 
manifestação dos distúrbios psicopatológicos.
Figura 27 
Com suporte nos postulados de Barlow e Durand (2008), a psicopatologia considera que os 
transtornos psicológicos, ou comportamentos anormais, acarretam sofrimento caracterizado por 
angústia e redução da capacidade adaptativa do indivíduo por implicar comportamentos não aceitos 
pelo meio social.
79
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
De acordo com Jaspers (1973), podem ser classificados como enfermidades:
• os processos psicossomáticos que acarretam desordens orgânicas;
• os acontecimentos traumáticos que acarretam ruptura com a realidade e com a própria identidade;
• os desvios relativos ao conceito do normal estatístico, ou seja, aspectos desviantes do padrão 
apresentado pela maioria dos indivíduos e que são tidos como indesejáveis tanto pelo indivíduo 
como por seu meio social.
Alterações patológicas e quadros psicopatológicos
Entre os quadros patológicos mais comuns estão incluídos os seguintes distúrbios:
• Distúrbios do desenvolvimento e da continuidade: retardos mentais ou oligofrenias – possuem 
distintas etiologias (origens) e são cuidados por meio de estimulação adequada, que possibilite 
aos indivíduos o máximo de desenvolvimento possível.
• Distúrbios da harmonia intrapsíquica/neuroses: originados de impulsos e instintos de 
expressão incompatível com a realidade que, ao serem reprimidos, acarretam mal‑estar. Há 
diversos sintomas de neurose – sentimento de culpa, mania de limpeza, obsessões, fobias, 
alterações de humor, preocupações constantes, angústia, ansiedade e muitos outros, sendo 
indicado o tratamento psicoterápico.
• Distúrbios do caráter: comportamentos dissociais, antissociais e psicopáticos, que surgem 
durante o desenvolvimento e podem ser alterados por medidas socioeducativas. Exceto no caso 
de psicopatia, que até o momento não possui indicação de tratamento ou cura.
Figura 28 
80
Unidade II
• Distúrbios das sensações, da percepção e do juízo crítico/psicoses: tais distúrbios 
acarretam ruptura com a realidade, implicam sofrimento e inadaptação social, sendo descritos 
pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde 
(CID‑10) (OMS, 1996) como diferentes modalidades de psicose, entre as quais, as esquizofrenias, 
a depressão, a mania, as parafrenias e a paranoia, além de inúmeros transtornos decorrentes do 
abuso de álcool e drogas.
As psicoses demandam cuidados psiquiátricos e, em alguns casos, demandam também o apoio de 
psicólogos. O surto psicótico pode ser entendido como um estado mental agudo, caracterizado por 
desorganização psíquica grave, acompanhada de fenômenos delirantes e alucinatórios, bem como pela 
perda do juízo crítico da realidade.
Tais condições podem ser ocasionadas por situações exteriores (extrínsecas) e em alguns casos, 
pela emergência de condições internas (intrínsecas), ou seja, já latentes no indivíduo e que vieram a 
desencadear uma psicose sem que tenha havido um fator externo de pressão. Nesse estado, a pessoa 
adoecida permanece mergulhada em uma realidade fantasiosa,na qual acredita intensamente, a ponto 
de refutar a realidade social e as pessoas que a cercam.
De acordo com Jaspers (1973), o delírio corresponde a um juízo falseado pela condição patológica, 
caracterizado por:
• uma convicção subjetiva inabalável, irremovível e inalterável frente à argumentação lógica;
• um pensamento impenetrável e incompreensível para indivíduos psicologicamente normais;
• representações fundamentadas sem conteúdo de realidade.
Conforme Britto (2004), os delírios se desviam da realidade e da lógica, conduzindo o indivíduo 
à formação de juízos anormais, bem como à produção de raciocínios distorcidos, de alucinações, 
percepções e ideias delirantes.
As alucinações, configuradas como ilusões e distorções perceptuais, são de diversos tipos e se 
relacionam com delírios, vindo a atestar e comprovar para o doente o conteúdo delirante de seus 
pensamentos e juízos. Entre as alucinações, destacam‑se:
• Alucinações auditivas: a pessoa escuta zumbidos, campainhas, ruídos, vozes, ou o próprio 
pensamento como se fosse sonorizado.
• Alucinações visuais: a pessoa enxerga outras pessoas e/ou elementos em realidade ausentes.
• Alucinações táteis: a pessoa experimenta sensações táteis, tais como picadas, queimaduras, 
insetos andando pela pele.
81
PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
• Alucinações olftativas e gustativas: a pessoa tem a percepção de gostos e odores em 
realidade ausentes.
• Alucinações cinestésicas: a pessoa experimenta sensações de movimentos relacionados ao 
sistema motor, sem a presença de estímulos.
• Alucinações cenestésicas: a pessoa experimenta sensações catastróficas e dramáticas do próprio 
organismo, sem a presença de estímulos.
Quando um fisioterapeuta constata a presença de pensamentos e juízos delirantes ou observa a 
ocorrência de alucinações, deverá encaminhar o paciente a profissionais dos cuidados psiquiátricos 
e psicológicos.
Avaliação de condições psicopatológicas
A avaliação das condições psicopatológicas é em geral realizada por psiquiatra ou psicólogo, como 
parte do processo de diagnóstico que inclui um exame das funções psíquicas, ou exame da consciência, 
durante o qual são observados determinados aspectos que permitem verificar a condição subjetiva da 
pessoa, bem como sua necessidade de cuidado.
Esses aspectos, quando observados no exercício da fisioterapia, permitem identificar condições 
alteradas do psiquismo, que motivam e fornecem subsídios ao encaminhamento do paciente para 
atendimento psiquiátrico e/ou psicológico. Para identificar a presença de indicadores de transtornos 
psicopatológicos, Dalgalarrondo (2000) propõe que sejam observadas as seguintes funções psíquicas:
• Consciência: observar se a consciência está clara ou obnubilada.
• Atenção: observar se a pessoa demonstra capacidade de prestar atenção às orientações recebidas 
e aos comandos de realização de exercícios.
• Orientação e vivências de tempo e espaço: observar se a pessoa sabe onde se encontra e em 
que data está.
• Sensopercepção: observar se a pessoa apresenta ilusões perceptuais ou alucinações.
• Memória: observar se a pessoa é capaz de recordar acontecimentos imediatos e remotos e 
observar se sua afetividade e sua vontade estão preservadas ou se ela está muito apática ou 
muito eufórica.
• Psicomotricidade: observar se a pessoa está apática ou agitada, se estão preservados seu juízo 
de realidade e sua lógica de raciocínio, ou se há delírios; observar sua expressão verbal, se está 
verborrágica ou excessivamente calada e qual o teor do que diz.
82
Unidade II
Ou seja, durante o atendimento fisioterápico é possível conhecer a condição geral do paciente por 
meio da observação dos aspectos aqui destacados e, sendo preciso, a descrição desses aspectos servirá 
de importante subsídio para os encaminhamentos.
6 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM
6.1 Tópicos de psicologia do desenvolvimento
Vimos a surpreendente quantidade de perspectivas teóricas da psicologia, a enorme diversidade 
existente no campo teórico dessa ciência. Cada uma dessas perspectivas teóricas se fundamenta em 
pressupostos sobre a natureza humana, sobre o psiquismo humano, sendo diferentes, em função disso, 
os métodos de pesquisa e as técnicas de intervenção nesse campo do saber. As diversas psicologias 
foram construídas em distintos contextos e distintas épocas. Por isso, muitos fatores interagem nesse 
complexo sistema.
Quando nos propomos a particularizar questões relativas ao desenvolvimento do ser humano 
e de suas funções psíquicas, encontramos o mesmo formidável conjunto de informações. Como 
nos situarmos nesse universo e como extrairmos dele informações que possam ser úteis para nossa 
prática profissional?
Responsáveis pela elaboração deste livro‑texto, nós, autores, tivemos como primeira preocupação a 
seguinte: como selecionar, em meio a essa floresta de palavras, de conceitos, de propostas de intervenção, 
o que possa ser realmente útil a você, querido graduando de Fisioterapia?
Não queremos pecar por falta, mas, principalmente, não queremos pecar por excesso. Não 
queremos que você se veja obrigado a engolir uma pilha de informações inúteis para sua formação. 
Não queremos adotar os recursos didáticos daquela horrorosa proposta de ensino, que o educador 
Paulo Freire denunciou, ao denominá‑la educação bancária: ao professor compete “depositar” 
informações, grande parte dela inútil, para, depois, por meio de provas, “realizar saques” dos montantes 
depositados. Não queremos nada disso.
Ao elaborarmos esta seção, por exemplo, em que são reunidos tópicos de psicologia do 
desenvolvimento, nos perguntamos: de que adiantará para você conhecer pormenores das propostas 
teóricas de tantos e tantos expoentes da psicologia? Optamos por selecionar alguns poucos teóricos da 
psicologia do desenvolvimento.
Nós, da psicologia, percorremos ao longo de anos e anos esse campo extenso, em contínua 
expansão, e somos convidados, continuamente, a realizar escolhas: temos que decidir o que interessa 
a cada um de nós retirar desse tesouro fundamentos teóricos e propostas metodológicas de pesquisa e 
de intervenção. E o que devemos retirar desse tesouro para que sua leitura, graduando de Fisioterapia, 
seja agradável e contribua para essa formação profissional que dará legitimidade acadêmica e jurídica 
aos cuidados que você ofertará a seus clientes e a outras pessoas que dependem de fisioterapeutas 
para um bom viver?
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PSICOLOGIA APLICADA À FISIOTERAPIA
Nesta seção, estão reunidos alguns elementos básicos de psicologia do desenvolvimento, que 
podem estimular o desejo ou a necessidade de conhecer mais. Quando você estiver cuidando de uma 
criança, enfrentará desafios distintos de outros, que serão enfrentados ao cuidar de adolescentes, 
de adultos, de idosos. E, no interior de cada uma dessas faixas etárias, há segmentos de vida com 
características distintas.
Para começo de conversa, abordaremos a questão do binômio hereditariedade versus meio ambiente: 
como essas forças interagem na nossa constituição e em nosso desenvolvimento?
Igualmente importante é constatar que toda teoria de desenvolvimento coloca marcos ao longo 
do percurso biográfico das pessoas. Demarca etapas ou fases de desenvolvimento psíquico, colocando 
marcos cronológicos. Como assim? Padrões de desenvolvimento comuns a todos são reconhecidos por 
meio de estudos e pesquisas. É o que fizeram, por exemplo, Freud e Piaget. Freud, tratando da dinâmica 
estabelecida entre instâncias da personalidade, Piaget tratando da epistemologia genética, buscando 
reconhecer padrões de desenvolvimento do conhecimento.
Com isso, damos um passo à frente: no âmbito da psicologia do desenvolvimento, há estudos 
sobre o desenvolvimento da inteligência, o desenvolvimento emocional e o desenvolvimento social, 
entre outros. E, havendo, como vimos, diversas abordagens psicológicas possíveis, encontramos uma 
diversidade de abordagens de temas em cada um desses âmbitos do psiquismo.
Por exemplo: consideremos,

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