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Ética, Direito Humanos e Cidadania

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Direitos Humanos e Segurança
Pública
Neandro Vieira Thesing
1ª Edição
Coordenação de Educação a Distância
Faculdade de Direito de Santa Maria - FADISMA
Copyright © 2020 - FADISMA - Todos os direitos reservados
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 1
DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA
PÚBLICA
Para início de estudo
A Segurança Pública é um assunto complexo e
delicado. O Brasil tem enfrentado graves problemas nesse
campo, com o aumento da violência e da criminalidade em
todo país, impulsionando a visibilidade do tema e a
preocupação da sociedade como um todo. Em todas as
últimas eleições foi uma questão central, nas diferentes
esferas.
Diante da precariedade da segurança, a urgência de
combater o crime pode conduzir a opinião pública pelo
caminho das soluções rápidas, frequentemente fruto de
conclusões apressadas, de curto prazo, que posteriormente
se mostram desastrosas. Fundamentadas em oposições
primárias, ouvimos, vemos e lemos repetidas vezes as ideias
que opõem forças da lei e da ordem (agentes da segurança
pública), contra forças da desordem e do caos (bandidos).
Nessa batalha do bem contra o mal, permite-se o sacrifício de
direitos em troca da ordem pública.
Nesse contexto de ânimos exaltados, Direitos
Humanos e segurança pública parecem não combinar,
sintetizando pólos opostos: a impunidade versus a guerra.
Contudo, nas últimas décadas esse antagonismo entre a
comunidade defensora dos Direitos Humanos e as forças
policiais têm reduzido. Preconceitos antipolícia, de um lado, e
alcunha de "defensores da bandidos", de outro, têm sido
deixados de lado, em substituição à percepção de que há
mais convergências do que divergências entre os dois
campos.
Veremos como os antagonismos herdados pelas
instituições policiais e pelos defensores dos Direitos
Humanos são simplificações que não se sustentam mais. O
Brasil é uma democracia, com todos os seus problemas, mas
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 2
ainda uma democracia que deve ser protegida. Os agentes de
Segurança Pública são indispensáveis para servir e proteger a
cidadania, assegurando a todos o respeito a seus direitos e
liberdades.
Abordaremos, em um primeiro momento, como o
objetivo de promover a segurança cidadã passa pela defesa
dos grupos minoritários e historicamente vulneráveis da
sociedade, trazendo algumas noções legais. Em seguida,
abordaremos os próprios Direitos Humanos dos profissionais
em Segurança Pública. Por fim, falaremos sobre como a
Segurança Pública, o acesso à justiça e o controle e
prevenção de violências e crimes são fundamentais para a
promoção dos Direitos Humanos e a cidadania.
Tendo por base esses esclarecimentos iniciais,
prosseguiremos com o estudo do conteúdo. Para isso, à
temática está dividida em subtítulos, a contemplar:
1. Proteção dos direitos das minorias e grupos
vulneráveis: noções legais;
2. Direitos humanos dos profissionais em Segurança
Pública;
3. Segurança pública, acesso à justiça e controle e
prevenção de violências.
1. Proteção dos direitos das minorias e grupos
vulneráveis: noções legais
Para que exista a compatibilidade entre Direitos
Humanos e eficiência na Segurança Pública, os servidores
públicos devem perceber-se como cidadãos e cidadãs, cuja
missão profissional é garantir e proteger direitos. Assim, as
ações dos agentes devem estar respaldadas pelos
instrumentos legais de proteção e defesa dos Direitos
Humanos.
Quando se trata de minorias, é fundamental
compreender o que este termo significa. Para a Organização
das Nações Unidas (ONU), minoria significa um grupo à
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 3
margem do poder e com características étnicas, religiosas ou
linguísticas diferentes das majoritárias em um país.
Assim, minorias são um grupo de pessoas tratadas
sem igualdade. Em muitos casos pode haver coincidência de
um grupo minoritário ser realmente a menor parte da
população, contudo, não há relação numérica direta, de
quantidade, ou melhor, não é o essencial para se definir uma
minoria. O central é a relação de poder entre diferentes
grupos, a exclusão das decisões e representação políticas,
não tendo acesso às mesmas oportunidades.
Na maioria das vezes, os grupos majoritários
definem-se como padrão e comportamentos discriminatórios
e preconceituosos também afetam os grupos minoritários. A
identidade coletiva os torna "diferentes" dos demais
indivíduos no âmbito do mesmo país, historicamente
discriminados.
No Brasil, existem vários grupos sociais que se
encaixam na definição da ONU de minorias. Podemos citar os
povos indígenas, por exemplo. "Índio" é um conceito que não
existe para esses povos, pois é um termo genérico que
homogeneíza uma ampla variedade de etnias. Em 1500,
estima-se que eram cerca de 5 milhões de pessoas, habitando
todo o território nacional. Hoje, não são 1% da população
brasileira (em torno de 890 mil), falando mais de 170 idiomas,
vivendo e transmitindo culturas diversas, formas de entender
e de se posicionar no mundo, com aparência física diferente,
deuses diferentes, técnicas agrícolas diferentes. São culturas
indígenas, sempre no plural (MELATTI, 2007).
As mulheres são uma minoria. Mesmo sendo a maioria
numérica da população, não apenas no Brasil, mas em todos
os países, foram historicamente afastadas do poder, dos
estudos e do mercado de trabalho. Como exemplo, o direito
ao voto (direitos políticos) só foi conquistado, no Brasil, em
1934 e até hoje as mulheres são menos de 10% dos
parlamentares eleitos para o Congresso Nacional. Desde a
inauguração de Brasília, em 1960, o Senado federal não
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 4
possuía banheiro feminino, que foi instalado apenas em 2016.
Grupos vulneráveis são coletividades mais amplas de
pessoas que, mesmo não pertencendo às minorias,
necessitam de proteção especial em razão de fragilidade ou
indefensabilidade, por exemplo: idosos, pessoas com
deficiência, crianças. Muitas vezes, os conceitos de minoria e
grupos vulneráveis se confundem, pois é comum minorias
encontrarem-se em situação de vulnerabilidade. (MAZUOLLI,
2017, p. 273).
A preocupação internacional com a defesa das
minorias cresceu diante dos vários genocídios que
aconteceram ao longo do século XX. Com o fim da Segunda
Guerra Mundial, em 1945, a comunidade internacional tomou
conhecimento sobre o Holocausto, quando o regime nazista
assassinou mais de 5 milhões de judeus, homossexuais,
ciganos, pessoas com deficiência e outras minorias nos
campos de concentração e trabalhos forçados.
Por que a defesa das minorias e grupos vulneráveis é
importante? Para que a democracia leve em conta o princípio
da justiça social, compreendeu-se que a igualdade formal
("todos são iguais perante a lei"), os Direitos Humanos de
primeira dimensão, não foram suficientes para proteger
determinadas pessoas que têm sua igualdade negada devido
à condição socioeconômica.
Dessa forma, ampliando o direito à igualdade, surge
também como direito fundamental, o direito à diferença – e o
respeito a esta. A igualdade, então, tem três vertentes: a)
formal ("todos são iguais perante a lei"); b) igualdade material
(justiça social e distributiva; critério socioeconômico); c)
igualdade material de reconhecimento (gênero, orientação
sexual, idade, raça, etnia e demais critérios) (PIOVESAN,
2005). Assim, a justiça ganha uma dimensão dupla:
redistribuição e reconhecimento social.
Internacionalmente, podemos citar várias Declarações,
Pactos e Convenções para proteção das minorias, dentre eles:
a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a
SAIBA MAIS
Justiça social diz
respeito à igualdade
direitos e solidariedade
coletiva. É uma ideia
relacionada ao
comprometimento com
o princípio da equidade e
desenvolvimento de
ações, por parte do
Estado e da sociedade
civil, voltadas para
reduzir as desigualdades
sociais geradas na
própria dinâmica das
sociedades. Em Uma
Teoria da Justiça (1971),
John Rawls defende que
uma sociedade mais
justa é benéfica para
todos.
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 5
Convençãosobre a Eliminação de todas as formas de
Discriminação Racial (1965), a Declaração dos Direitos das
Pessoas pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas,
Religiosas e Linguísticas (1992), dentre outras. Mesmo assim,
atualmente, muitas minorias têm seus direitos negados no
mundo.
A Constituição Federal de 1988 avançou em relação
aos direitos das minorias, mesmo utilizando raramente o
termo. Sobre o direito à diferença, por exemplo, no Art. 215
fica definido que o Estado tem o dever de garantir "o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura
nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais". Ao agir desse modo, o próprio
Estado colabora para a diminuição da discriminação contra os
grupos minoritários e vulneráveis, garantindo que toda
população seja contemplada com aquilo que a própria
Constituição garante: seus direitos fundamentais. O objetivo
é, sempre, a inclusão social.
Quando se trata das mulheres, apenas recentemente
foram conquistados direitos em todo o mundo. Somente com
a atuação do movimento feminista por direitos iguais, ao
longo do século XX, que os Direitos Humanos das mulheres
começaram a ser reivindicados com maior vigor, como no
direito à igualdade formal, à liberdade sexual e reprodutiva, à
reivindicação da igualdade salarial e econômica, redefinição
dos papéis sociais, ao direito à diversidade (raça e etnia),
acesso à justiça, dentre outros (MAZZUOLI, 2017, p. 275).
As reivindicações feministas levaram à criação de uma
proteção internacional, traduzida na Convenção sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher, também chamada de "Carta Internacional dos Direitos
da Mulher", promulgada em 1979. A partir desse documento,
os Estados signatários passaram a ser obrigados a eliminar a
discriminação contra a mulher e zelar por sua igualdade,
autorizando as "discriminações positivas", por meio das quais
os Estados podem adotar medidas temporárias para acelerar
esse processo.
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
No Brasil, podemos citar como exemplo recente a
criação da Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
obrigando o Estado a prevenir, e erradicar a violência
doméstica contra a mulher, criando juizados especiais,
alterando o Código do Processo Penal, o Código Penal e a Lei
de Execução penal nesse sentido.
Ainda, a Lei 13.104/2015 alterou o art. 121 do Código
Penal, instituindo no Brasil o feminicídio, acrescentando uma
circunstância agravante para o crime de homicídio, incluído no
rol de Crimes Hediondos. Sinteticamente, o feminicídio é a
morte da mulher "por razões de gênero, em situações de
violência doméstica e familiar, menosprezando ou
discriminando à condição de mulher, praticado por homem ou
mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade"
(MAZZUOLI, 2017, p. 284).
No último século houve um crescimento da população
e aumento da expectativa de vida, na maior parte dos países
do mundo. Com isso, cresceu o grupo de pessoas idosas que
necessitam de assistência e seguridade social. Devemos
lembrar que os Direitos Humanos asseguram o direito à
segurança para todos(as) e aqueles(as) que se encontram
alijados dos meios de subsistência.
É nesse sentido que a ONU promulgou os Princípio das
Nações Unidas para as Pessoas Idosas (1991).
Posteriormente foram realizadas Assembleias Mundiais sobre
o envelhecimento, reconhecendo que a idade é motivo
explícito de discriminação. No Brasil, a Lei 10.741/2003 criou
o Estatuto do Idoso, um marco dos direitos sociais no Brasil.
Às pessoas com mais de 60 anos a legislação passou a
determinar, além da garantia de prioridade, outros direitos
como: envelhecimento sadio e livre de violência e
discriminação, prestação alimentar, assistência social, acesso
universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS),
dentre outros, objetivando valorizar a pessoa idosa e
promover sua participação na sociedade.
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/L13104.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm
http://portalms.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude
No outro extremo da faixa etária encontram-se as
crianças e adolescentes. Suscetíveis à pobreza, fome, abuso
sexual, pedofilia, marginalização, trabalho escravo, violência
física entre várias outras formas de violações, os Estados têm
o dever de prestar assistência e proteção eficaz, pela sua
condição de imaturidade física e mental.
Nesse sentido, em 1946 foi criado o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cuja missão é
assegurar os direitos de crianças e adolescentes. Em 1959 foi
proclamada a Declaração Universal dos Direitos das Crianças
e em 1989 a Convenção Internacional sobre os Direitos das
Crianças, cujos pilares são: a não discriminação, o interesse
superior da criança, a sobrevivência e desenvolvimento e a
opinião da criança.
No Brasil, a Lei 8.069/1990 estabelece o Estatuto da
Criança e do Adolescente, garantindo proteção integral em
virtude de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais,
eliminando a concepção do antigo (e atualmente revogado)
Código de Menores. Este era um "Código Penal do Menor",
disfarçando penas sob proteção, fixando um parâmetro
preconceituoso de análise da infância e juventude: o menor
em situação irregular, quando, na verdade, irregular estavam a
família (que o abandonou) e o Estado (que não o protegeu)
(MAZZUOLI, 2017, p. 306).
As pessoas com deficiência também podem ser
consideradas como minorias. De acordo com a Convenção da
ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2008,
são todas aqueles que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, impedidos ou
barrados, por conta disso, de participar de maneira plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.
As maiores impossibilidades das pessoas com
deficiência devem-se ao cerceamento de Direitos Humanos
como a liberdade de ir e vir (prejudicada pela falta de
acessibilidade em diversos locais), e carência de plenas
SAIBA MAIS
O Índice de
Vulnerabilidade Juvenil à
Violência é um indicador,
desenvolvido pela
Secretaria Nacional de
Juventude em parceria
com o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública,
que une dados
considerados chave na
determinação da
vulnerabilidade dos
jovens à violência, tais
como taxa de frequência
à escola, escolaridade,
inserção no mercado de
trabalho, taxa de
mortalidade por
homicídios e por
acidentes de trânsito.
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 8
https://nacoesunidas.org/agencia/unicef/
https://nacoesunidas.org/agencia/unicef/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/indice_de_vulnerabilidade_juvenil_a_violencia_2017_desig/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/indice_de_vulnerabilidade_juvenil_a_violencia_2017_desig/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/indice_de_vulnerabilidade_juvenil_a_violencia_2017_desig/
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/indice_de_vulnerabilidade_juvenil_a_violencia_2017_desig/
condições de emprego. No Brasil, a Convenção da ONU de
2008 foi incorporada com status de Emenda Constitucional. A
Lei 13.146/2015, promulgou o Estatuto da Pessoa com
Deficiência. Entre outras medidas, classifica o que é
deficiência, prevê atendimento prioritário aos deficientes em
instituições públicas e privadas, trata sobre a inclusão no
trabalho, o direito ao transporte e à mobilidade, estabelece
normas de acessibilidade e fixa penas para quem induz ou
incita discriminação (MAZZUOLI, 2017, p. 357).
Por fim, trataremos sobre a defesa à diversidade sexual
com os Direitos Humanos das pessoas lésbicas,gays,
bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e intersexuais
(comunidade LGBTQ+). Em muitos países existem leis que
discriminam pessoas em razão de sua identidade, orientação
ou conduta sexual, prevendo prisão ou banimento para
pessoas que mantiverem relação sexual com pessoas do
mesmo sexo.
No Brasil – e na América Latina como um todo – há
uma grande rejeição de jovens (em virtude da sua orientação
sexual) por parte da família e altos índices de violência. Em
2012 foram registradas mais de 3 mil agressões e 300
assassinatos.
A militância da comunidade LGBTQ+ conseguiu que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) retirasse de seus
documentos a consideração da homossexualidade como
doença mental e passasse a considerá-la como orientação
sexual, em 1990. O termo homossexualismo foi substituído, a
partir de então, por homossexualidade, pois o prefixo -ismo
designa doenças.
Em 2011 o Supremo Tribunal Federal brasileiro
reconheceu como válida (e com efeitos de entidade familiar) a
união civil de pessoas do mesmo sexo, havendo a
possibilidade de registro de filhos. Em 2018, o STF decidiu
que transexuais e transgêneros podem mudar o registro civil
sem necessidade de cirurgia de redesignação sexual ou
autorização judicial, reconhecendo o direito à diferença e a
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 9
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm
pluralidade. Em junho de 2019, o STF decidiu criminalizar a
homo e transfobia como crime equivalente ao racismo até a
criação de uma lei específica.
O caminho em direção à efetivação de direitos ainda é
longo no Brasil. Apesar disso, nos últimos anos foram criadas
políticas públicas visando à igualdade. As ações afirmativas
no ensino superior têm garantido acesso a negros, negras e
indígenas. A exigência que cada partido tenha, no mínimo,
30% de candidatas mulheres nas eleições busca ampliar a
participação feminina na política. A promulgação de leis que
garantem adaptações no espaço físico de prédios e vias
públicas para pessoas com deficiência.
Percebemos que para o profissional da Segurança
Pública atuar eticamente precisa levar em conta os direitos
das minorias e grupos vulneráveis, demonstrando a relação
existente entre o Estado Democrático de Direito e seus
cidadãos(ãs), que são, em última medida, a quem se deve
prestar os serviços públicos. É necessário, acima de tudo,
respeitar as pessoas e agir em prol da justiça social. Por que
oprimir mais minorias que já são tão oprimidas?
2. Direitos humanos dos profissionais em Segurança
Pública
Direitos humanos e atuação do profissional em
Segurança Pública ainda se opõem no imaginário social.
Herdamos de nosso recente passado autoritário práticas
policiais incompatíveis com o espírito democrático e cidadão.
Os promotores dos Direitos Humanos têm, há décadas,
realizado denúncias contra os abusos de poder. Tais ações
precisam ser vistas como contribuições às instituições de
segurança pública, ampliando o espaço para os(as)
profissionais que desejam realizar eticamente o seu dever, e
depurando os elementos corrompidos.
Desde o lançamento do primeiro Programa Nacional de
Direitos Humanos, em 1996, pensa-se de maneira específica a
relação entre agentes da Segurança Pública protagonistas,
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 10
conscientes de seu papel como agente para a promoção dos
Direitos Humanos e da Cidadania. Os Direitos Humanos não
separam quem tem farda de quem não tem. Hoje, o estudo
dos Direitos Humanos faz parte de todos os currículos das
escolas e academias formadores das forças de Segurança
Pública.
Muitas instituições de segurança pública têm
arraigadas em suas hierarquias e estruturas de poder práticas
de violência, como arbitrariedades, tortura e impunidade,
criando um círculo vicioso de insegurança e ineficiência.
Práticas autoritárias são sempre portas abertas para a
corrupção. Podemos pensar, por exemplo, o caso das milícias
na cidade do Rio de Janeiro.
Por conta disso, quando se fala em Direitos Humanos
para as instituições de segurança pública devemos pensar em
diretrizes e objetivos estratégicos para a diminuição dessas
violências, dentro e fora das organizações.
Quais são as normas de Direitos Humanos e princípios
humanitários aplicáveis à função de profissional da Segurança
Pública?
O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (2010),
quando trata dos profissionais de Segurança Pública, indica
algumas ações programáticas, como a garantia do repasse de
verbas federais aos estados e municípios, de modo a
proporcionar a aquisição de equipamentos de proteção
individual. Também recomenda a criação de um serviço
especializado no sistema de saúde pública para
acompanhamento permanente da saúde mental dos
profissionais. Ao mesmo tempo, propõe a criação de um
seguro para casos de acidentes incapacitantes ou morte em
serviço para profissionais, garantindo a reabilitação e
reintegração ao trabalho nos casos de deficiência adquirida
no exercício da função.
Para o equilíbrio psicológico de cada profissional é
também importante pensar na saúde da própria instituição. A
hierarquia, fundamental para qualquer órgãos de segurança,
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 11
não deve ser confundida com humilhação, manutenção da
ordem com perversidade. Nos rituais de formação, durante o
treinamento, muitos futuros profissionais são submetidos a
estresse psicológico e situações humilhantes, a fim de
instigar o ódio contra o "inimigo", em uma lógica de guerra
incompatível com a segurança cidadã e a democracia. A
hierarquia é utilizada como pretexto para o exercício de
personalidades sádicas.
Como nos diz Balestreri: a "verdadeira hierarquia só
pode ser exercida com base na lei e na lógica, longe, portanto,
do personalismo e do autoritarismo doentios". O respeito a
superiores não pode ser imposto através do medo e da
humilhação. Não há respeito sem admiração. Sendo
fundamental para o bom funcionamento dos órgãos de
segurança pública, a hierarquia assenta-se no exercício da
liderança dos superiores, "o que pressupõe práticas bilaterais
de respeito, competência e seguimento das regras lógicas e
suprapessoais". (BALESTRERI, 1998, p. 12)
Tanto o excesso quanto a falta são prejudiciais quando
se trata de hierarquia. A debilidade hierárquica pode passar a
imagem de descaso e desordem do serviço público.
Legalmente, os direitos dos profissionais de Segurança
Pública encontram-se na Portaria Interministerial entre o
Ministério da Justiça e a Secretaria dos Direitos Humanos da
Presidência da República, publicada (e em vigor) no dia
16/12/2010 no Diário Oficial. A Portaria estabelece as
Diretrizes Nacionais de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos dos Profissionais de Segurança Pública.
A Portaria Interministerial SEDH/MJ nº 2 têm 67
diretrizes, divididas em 14 temáticas, refletindo em boa parte
o Programa Nacional de Direitos Humanos 3. São eles:
Direitos Constitucionais e Participação Cidadã, Valorização da
Vida, Direito à Diversidade, Saúde, Reabilitação e
Reintegração, Dignidade e Segurança no Trabalho, Seguros e
Auxílios, Assistência Jurídica, Habitação, Cultura e Lazer,
Educação, Produção de Conhecimentos, Estruturas e
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 12
Educação em Direitos Humanos e Valorização Profissional.
Percebemos que os servidores públicos da segurança
não devem apenas atuar de acordo com uma cultura dos
Direitos Humanos, mas têm, eles e elas, sua dignidade
profissional e pessoal garantidos por estes princípios.
3. Segurança pública, acesso à justiça e controle e
prevenção de violências
Quando se fala de público temos como referência a
noção de interesse coletivo. A Segurança Pública é a
sensação de bem-estar de uma comunidade, definida como
[...] conjunto das ações preventivas e reativas, de natureza
pública, que, em resposta ao fenômeno da criminalidade,
volta-se ao alcance ou à manutenção da ordem pública e
que tem como fim último proporcionar aos indivíduos, na
convivência social, a fruição de relações pautadasno
direito básico de liberdade, garantidas a segurança jurídica
– proteção contra repressão autoritária do Estado – e a
segurança material – proteção contra agressões de todo
tipo. (FILOCRE, 2010, p. 13).
No que tange órgãos de Estado, a Segurança Pública
não é uma atividade de responsabilidade exclusiva das forças
policiais. Integram também o Ministério Público, a Defensoria
Pública e o Judiciário como um todo.
A Segurança Pública "é o bem-estar social, associado
à paz e à ordem da comunidade em várias acepções e
aspectos; essa modalidade de segurança não tem por base,
exclusivamente, o combate ao crime". (NUCCI, 2016, p. 48).
A principal finalidade das políticas de Segurança
Pública é garantir a cidadania da comunidade, de todos,
mesmo os que cometeram crimes. Através disso, tem-se a
garantia do acesso universal à Justiça, um dos direitos
fundamentais para todos, se queremos realmente construir
uma segurança comum e cidadã.
Poucas categorias profissionais se comparam, em
potencial, aos agentes da segurança quando se trata de zelo e
Versão 1.0 - Atualizada em 08 de maio de 2019 13
promoção da cidadania.
Como nos diz Balestreri (1998): pela autoridade legal e
moral que possuem, as forças policiais e demais agentes de
segurança são o vetor mais promissor no processo de
redução das violações aos Direitos Humanos. Os agentes da
segurança pública podem ser, se quiserem, protagonistas na
defesa de direitos e da cidadania. Precisamos substituir o
velho paradigma por: "Segurança Pública com Direitos
Humanos".
A ação dos profissionais de Segurança Pública
eficiente e profissionalizado deve obedecer a padrões de
excelência que são, de um lado, vinculados ao compromisso
ético com os Direitos Humanos, e de outro, na ação técnica.
Nenhuma das partes deve ser comprometida em detrimento
da outra.
Apenas dessa forma o(a) profissional dará resposta
eficiente aos anseios de justiça da sociedade, obedecendo
aos parâmetros do Estado democrático, sem prejuízo da
eficiência e da força na prevenção e repressão ao crime.
Conclusão
Os graves problemas que o Brasil enfrenta na área da
Segurança Pública precisam ser compreendidos como parte
da formação e do desenvolvimento da sociedade brasileira e
de suas instituições.
A tradição autoritária, componente da realidade
sociocultural brasileira e latino-americana, moldou o
profissional das forças de segurança com truculência.
A resolução dos desafios à Segurança Pública não
recai unicamente no governo. Os mais diversos agentes
sociais envolvidos devem ser implicados, unindo Estado, seus
agentes, a sociedade civil, o mercado, o maior número de
protagonistas possível.
A segurança deve ser pública – portanto, nossa. Diz
respeito a todos nós. Nós que somos cidadãos e cidadãs e
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desejamos um país mais justo para todos. Acreditar e
defender que a violência seja resolvida somente através de
ações e políticas repressivas é simplificar o problema.
Os servidores públicos da segurança têm como dever
ético servir e proteger, de acordo com os princípios
constitucionais e a legislação. A eficiência profissional das
forças de segurança pública, se realmente comprometida
com esse dever, não pode defender repressões ilegais,
ignorando os padrões previstos para uso legal da força. A paz
social não é construída com guerra. O que se constrói com a
lógica da guerra é mais medo e insegurança para a
população, que desacredita as instituições responsáveis pelo
cumprimento da lei quando nem sequer estas as cumprem. O
uso abusivo da força cria mais violência, gerando descrédito
dos órgãos de segurança junto à opinião pública.
Para se rever velhos paradigmas precisamos de
coragem, pois nossas ações e nossas ideias já estão
moldadas há tempos. Todos temos preconceitos, fruto de
imagens pré-concebidas herdadas do passado. Mas mudar
cabe a nós, no presente. Se o passado continua nos
prejudicando é porque fomos nós, hoje, que o mantivemos
vivo.
Para se perceber como um cidadão, ético, o agente
municipal de segurança pública deve olhar para si mesmo e
às suas circunstâncias, para a relação do eu com o mundo. É
necessário refletir-se diante do espelho, para evitar ser levado
pela pressão das situações-limite nas quais constantemente
trabalha. Uma conduta profissional assertiva, pautada no
respeito aos direitos e garantias individuais de todos,
promovendo os Direitos Humanos e a democracia como
valores, constrói reconhecimento e respeito às Guardas
Municipais junto da população.
A demanda por segurança é uma das mais básicas da
humanidade. Historicamente, explica o nascimento do Estado,
por exemplo. Aqueles e aquelas que conseguirem garantir
isso à população serão vistos como protagonistas da
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sociedade e da segurança cidadã.
O medo que sentimos diante do aumento da violência
pode nos levar a conclusões perigosas para nossa segurança,
individual e pública. Uma política repressiva, implementada
por ações sensacionalistas e imediatistas deve ser evitada.
Em seu lugar devemos exigir um policiamento apoiado na
comunidade, em acordo com outros segmentos, educação,
esporte, cultura, lazer, saúde. Nosso desenvolvimento deve
ser a grande arma contra a violência. As Guardas Municipais
podem ter um importante papel nesse sentido.
Para refletir
"[As forças de Segurança Pública] como instituição de serviço
à cidadania em uma de suas demandas mais básicas —
Segurança Pública — tem tudo para ser altamente respeitada
e valorizada.
Para tanto, precisa resgatar a consciência da importância de
seu papel social e, por conseguinte, a autoestima.
Esse caminho passa pela superação das sequelas deixadas
pelo período ditatorial: velhos ranços psicopáticos, às vezes
ainda abancados no poder, contaminação anacrônica pela
ideologia militar da Guerra Fria, crença de que a competência
se alcança pela truculência e não pela técnica, maus-tratos
internos a policiais de escalões inferiores, corporativismo no
acobertamento de práticas incompatíveis com a nobreza da
missão policial." (BALESTRERI, 1998, p. 13).
Ricardo Brisolla Balestreri é educador, licenciado em História,
especialista em Psicopedagogia Clínica e em Terapia de
família. Membro da Secretaria Nacional de Segurança, do
Comitê Nacional de Educação para Direitos Humanos. Possui
diversas participações como consultor para órgãos públicos e
empresas privadas na área da Segurança Pública. Presidiu a
Anistia Internacional – Seção Brasil.
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Revisão de conceitos
➔ Minorias sociais: não se refere à quantidade de
pessoas. Minoria significa um grupo à margem do
poder e com características étnicas, religiosas ou
linguísticas diferentes das majoritárias em um país.
➔ Direito à diferença: desdobramento do direito humano
à igualdade. Os encontros com a diversidade sempre
geram riqueza. É importante que se mantenha e se
ressalte essa noção de que o ser humano é diverso, e o
respeito pela diferença, pelo outro com as suas
diferenças.
Referências bibliográficas
BALESTRERI Ricardo Brisola. Direitos Humanos: coisa de
Polícia. Passo Fundo: CAPEC Paster Editora, 1998.
FILOCRE, Lincoln D’Aquino. Direito de segurança pública.
Limites jurídicos para políticas de segurança pública.
Coimbra: Almedina, 2010.
MAZZUOLI, Valério Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 4ª
edição. Método, 03/2017. Disponíve em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/97885309
80436/cfi/6/2!/4/2/2@0:0. Acesso em: 04 jul. 2018.
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo: Edusp,
2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Direitos humanos versus
segurança pública. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PIOVESAN, Flavia. Ações Afirmativas sob a perspectiva dos
Direitos Humanos. In: BRASIL. Ações Afirmativas e o
Combate ao racismo nas Américas. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade, 2005. p. 35-43.
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