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AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NEUROEDUCAÇÃO E 
NEURODIDÁTICA: COMO O 
CÉREBRO APRENDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Susane Garrido 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Como potencializar as Funções Cognitivas Humanas 
As funções cognitivas humanas são as precursoras nos processos de 
pensamento e norteadoras dos processos cognitivos e de aprendizagem. Sem o 
entendimento do desenvolvimento das funções cognitivas humanas, as 
aprendizagens tendem a uma ou outra função, como as memórias, por exemplo, 
em detrimento das demais. Nesta aula serão abordados conceitos básicos como 
o da cognição humana e as funções cognitivas derivadas, a percepção, a 
percepção visual, as memórias e a abstração. 
TEMA 1 – COGNIÇÃO 
A cognição nas neurociências é vista como um processo multidimensional 
e interdisciplinar, que envolve parte e todo, o indivíduo e as sociedades, e todos 
os aspectos subjacentes e ou incorporados a este indivíduo cognoscente, como 
os artefatos culturais, psicológicos, biológicos entre tantos outros. 
Assim, não basta aprender. O processo é mais e mais complexo, pois além 
de aprender, é preciso conhecer o que se aprende e pensar sobre o que se 
conhece. A cognição passa ser um processo de extrema relevância para todos os 
demais. 
Entretanto, para a cognição acontecer é preciso um cérebro, com uma 
mente em condições de pensar, e não só de aprender, embora a aprendizagem 
seja fator preponderante para a sobrevivência da espécie. No entanto, não é ela 
em si que faz com que as tomadas de decisão para a evolução humana ocorram, 
a cognição e o pensamento é que geram estas possibilidades. 
Assim, o ato cognitivo do ponto de vista evolucionista é um processo 
reverso, ou seja, de desmonte e de inter-relação entre o todo e suas partes para 
sua compreensão e, portanto, funcionamento. Essa premissa é contrária às 
comportamentalistas, que partem do entendimento daquilo que está pronto para 
então compreender como tudo deve ser. 
Nesse novo cenário, a cognição começa com um cérebro captando a 
informação que chega como símbolos ou como cômputos (se já as processamos 
em algum momento). A partir daí ela percorre um meio de alta complexidade, 
lidando com nossas sensações, desejos, crenças, conhecimentos anteriores, 
 
 
3 
memórias, até tornar-se algo sináptico, de fato, e constituir-se como uma nova 
rede cognitiva. 
Compreender a cognição humana requer um entendimento anterior sobre 
a complexidade, como sendo uma das teorias possíveis de explicação, ou, ao 
menos, a que mais se aproxima da própria complexidade engendrada na 
fenomenologia da cognição humana. 
De acordo com Garrido (20016), a complexidade como teoria do 
Complexus de Morin é um pensamento desprovido de certezas e verdades 
científicas, uma abordagem não-linear que não condiciona efeitos a causas e nem 
causas a efeitos. Dessa forma, ancora-se na diversidade e na complementaridade 
dos conhecimentos, das pessoas e das culturas. 
O cérebro cognitivo carregado dos condicionantes emocionais (memórias 
e percepções), intuitivos (a relativização do tempo), dedutivos (abstrações) e 
criativos (imaginações e ilusões) obriga-se a constantes tomadas de decisões, em 
prol da sobrevivência a curto e longo prazos; a longo prazo, o que significa a 
realização de sinapses; a curto prazo, a evocação das memórias previamente 
construídas. 
O desenvolvimento cognitivo humano gera-se e é gerado 
a partir das interrelações entre os indivíduos, do restante 
da natureza da qual fazem parte, e de suas próprias 
criações. O conhecimento é, portanto, um fator 
subjacente à natureza humana, bem como 
potencializador da própria humanidade, no sentido de 
seu desenvolvimento, independentemente da 
caracterização de intenções (se boas ou más). A 
fenomenologia da virtualidade/virtualização a que 
estamos inseridos não é elemento novo nos cenários 
cognitivos humanos como como pensa o senso comum; 
se for interpretada a partir de conceitos de origem, como 
o conceito filosófico de Heráclito, o significado é a 
expansão do status quo, a potencialização e sentido de 
renovação, a partir do que se experimenta (Garrido, 
2012, p. 75). 
TEMA 2 – MEMÓRIAS 
Um dos maiores neurocientistas da história, Iván Izquierdo, possui uma 
vasta pesquisa no campo das memórias e atribui a elas e a seus 
desenvolvimentos boa parte da evolução humana. 
De acordo com Izquierdo (2002), há basicamente dois tipos de memórias: 
as de trabalho e as de arquivo. As memórias de trabalho são de processamento 
rápido e não acarretam armazenamentos de informação; já as memórias de 
 
 
4 
arquivo classificam-se entre declarativas (explícitas e moduladas pelas emoções 
e pela psique) e procedurais (implícitas, de habilidades motoras, hábitos, que não 
necessitam de processamento cognitivo para ocorrerem). As memórias explícitas 
exigem teor cognitivo consciente, pois utilizam comparações e avaliações. O 
funcionamento das memórias explícitas e implícitas envolve um bom 
desenvolvimento e funcionamento do córtex pré-frontal e da memória de trabalho. 
Tanto Meyer (2002) quanto Kandel (2000) afirmam que a memória 
procedural ou implícita não possui necessidade da existência de processos 
cognitivos para ocorrer, pois funciona automática e reflexivamente como as 
habilidades motoras e perceptivo-sensoriais. Forma-se no curso das repetições e 
não é expressa em palavras. De um ponto de vista mais cognitivo, o 
funcionamento dessa memória sugere que aspectos que facilitam o 
condicionamento clássico nos indivíduos processam-se nela. 
Um aspecto de extrema relevância no tema da Cognição é a consideração 
de que a memória (no singular, em acordo ao senso comum) é uma entidade não 
estática, não precisa e não exata, ou seja, não confiável em termos descritivos. 
Isso significa que a recordação da realidade não é em si a própria realidade, como 
um evento descritivo, uma vez que a própria percepção da realidade não o é 
também; o cérebro faz ajustes nas informações para poder reconhecê-las. Pode-
se dizer que a linguagem humana está associada a essa memória (explícita), pois 
no cérebro frontal, na região de Broca, há conexão para aquisição da linguagem, 
permitindo sua repetição. 
As memórias possuem inúmeras funções na cognição humana, uma delas 
é o armazenamento de informações em geral, o que produziu durante muitos anos 
de behaviorismo a correlação com a inteligência: quanto mais armazenamento 
maior a inteligência; outra função das memórias é a capacidade específica de 
aquisição de linguagens dos seres humanos. 
A cognição, nas teorias behavioristas ou comportamentais da mente, utiliza 
a memória para armazenamento e para evocação da informação, ou seja, a 
explicitação do armazenamento. As expressões individuais tiveram pouco 
desenvolvimento durante essa tendência histórica da educação, porque a 
padronização cognitiva sempre fora o principal ensejo, e era possível por meio da 
utilização da memória com a analogia da repetição. 
Conforme Garrido (2005 e 2012), Piaget associa a memória à percepção 
(definida neste cenário computacional como a “representação de uma sensação”), 
 
 
5 
para o desenvolvimento cognitivo. Nesse sentido, as transformações de 
percepção (ou o denominado movimento) dependem da existência da memória, 
ou seja, um novo conhecimento precisa de um pré-conhecimento para ser 
construído. Essa correlação é também muito pertinente nas ideias de Ausubel 
para a teoria de Aprendizagem Significativa na denominação dos subsunçores, 
que agem como ancoradouros para novas ideias. 
TEMA 3 – PERCEPÇÃO 
Para a epistemologia genética de Piaget, a cognição se dá a partir das 
estruturas mentais dos sujeitos e de suas interações com o mundo. Assim, a 
percepção (Piaget,1995) é um sistema de relações organizadas, cujo equilíbrio 
depende de fatores como as sensações (do ponto de vista fisiológico – 
evidenciando, portanto que a sensaçãonão é, em si, a percepção), assim como 
de percepções anteriores (guardadas na memória, tal como Meyer, 2002, também 
contempla em sua biofilosofia) e obviamente das percepções reais (atuais). 
Já sob uma perspectiva mais neurocognitiva 
evolucionista, as memórias são interdependentes de uma 
das principais funções cognitivas humanas, para a 
aprendizagem, a percepção. Pensar é computação, e a 
tendência é a ampliação dos espectros cognitivos, devido 
a seus atributos superiores, compreendendo a cultura, 
ainda como forte interferente nesse processo evolutivo, 
entretanto, não um fator definitivo (Pinker, 2000). 
De acordo com o biofilósofo Meyer (2002), a percepção é uma função 
processual que ocorre em etapas e em regiões diferentes do cérebro, a partir de 
neurônios associativos que se integram e se comunicam com demais módulos do 
cérebro, abrangendo um processo que provém da “sensação” rumo à construção 
de significados. 
Os processos de percepção e de significação são de natureza individual, 
ou seja, não possuem padrões nem entre indivíduos e nem para o próprio 
indivíduo. A aptidão para categorização de sensações e para recepção de 
estímulos é algo próprio de cada ser humano. Daí emergem o pensamento e a 
linguagem, uma das funções de maior relevância pelos estudos das neurociências 
cognitivas e computacionais da mente. 
Entretanto, a percepção é uma função que codepende do fator sensorial 
para ocorrência, pois ela é o processo pelo qual o ser humano absorve o mundo 
exterior utilizando seus receptores sensoriais, os cinco sentidos, olfato, paladar, 
 
 
6 
visão, audição e tato, juntamente com os ruídos que emanam desse mundo e do 
próprio sujeito, com todas as suas emoções e memórias. A partir disso, mobilizam-
se competências (inatas e adquiridas) para então, construir-se a representação. 
A representação é uma síntese cognitiva dotada de 
qualidades como globalidade, coerência, constância e 
estabilidade. Se não estivesse submetida às impressões 
teinianas, tremeria com os movimentos da cabeça e dos 
olhos; cresceria ou encolheria segundo a distância; 
deformar-se-ia segundo as mudanças de ângulo. Então 
seria o mundo que se movimentaria e modificaria sem 
parar, perdendo a consistência. As qualidades 
organizadoras (estabilidade, coerência e constância) 
dão, portanto, ao mundo a sua consistência e permitem 
ao olhar, [...] tomar em consideração este mundo estável, 
coerente, constante e realizar a cada instante análises 
(distinções, seleções, focalizações, estudos de detalhe) e 
sínteses (totalização, globalização, contextualização) 
(Morin, 2005, p.119). 
Mesmo com todo o aparato de processamentos complexos que a 
percepção como função possui, nem toda percepção leva, necessariamente, a 
uma ação de representação com significado, pois este processo codepende de 
inúmeras variáveis, como o desenvolvimento e estágio dos esquemas mentais 
individuais, das atividades sinápticas de cunho neuronal, e até das escolhas no 
âmbito da tomada de decisões. 
De qualquer forma, a percepção visual ganha um espaço notório com 
relação à evolução humana, na medida em que ela foi e ainda é a principal 
responsável pela adaptação dos seres humanos ao planeta. 
O fundamento darwinista está na ideia de que nossos ancestrais viviam em 
árvores para se protegerem de outros animais maiores e mais fortes na cadeia 
alimentar, não descendo, literalmente, dessas árvores, ao chão. A camuflagem 
feita naturalmente pelas folhas das árvores e galhos manteve esse ancestral 
caminhando durante milhares de anos em um “chão superior” que não era 
verdadeiramente o solo. Ao cair da árvore, provavelmente, esse ser passou a 
ampliar seu espectro de visão, desenvolvendo outra dimensão (a profundidade) 
além daquela a que estava submetido nas árvores. 
 
Saiba mais 
Assista ao vídeo sobre Funções cognitivas, presente no link 
<https://youtu.be/lJEl2kAURjs>. 
 
 
 
7 
TEMA 4 – PERCEPÇÃO VISUAL E ILUSÕES 
Para os evolucionistas das neurociências, tudo começa a mudar a partir da 
percepção visual, mas antes é preciso compreender por que esta tese é elaborada 
a partir do funcionamento do olho humano: 
A visão começa quando um fóton se reflete de superfície 
e atravessa rapidamente a pupila por uma linha para 
estimular um dos fotorreceptores (bastonetes e cones) 
[...] O receptor transmite um sinal neural ao cérebro, e a 
primeira tarefa do cérebro é descobrir de que parte do 
mundo veio esse fóton. Infelizmente, o raio que define a 
trajetória do fóton estende-se ao infinito. E tudo o que o 
cérebro sabe é que o retalho que o originou encontra-se 
em algum lugar ao longo do raio. O cérebro não sabe se 
ele está a uma distância de um metro, um quilômetro ou 
muitos anos-luz (Pinker, 2000, p. 231). 
Assim, o cérebro realiza um processo de suposição sobre onde o objeto 
visualizado pode estar, o que faz com que a visão (assim como os demais sentidos 
ou sensoriais humanos) não seja independente de outras operações mentais 
realizadas para ajustes pelo cérebro humano. 
O processo de situação ou visualização espacial é uma das etapas do 
processo da percepção visual, o qual exige o trabalho das memórias, da abstração 
(para fins de cálculo) e de demais atributos mentais e psicológicos que cada um 
carrega dentro de si. 
Na Física, o processo de visualização de um objeto dá-se por meio de um 
fenômeno chamado de ótica invertida. Esse vem a ser, para o cérebro, um 
problema (teoricamente) sem solução, porém, na prática, factível, pois o cérebro 
é capaz de deduzir (supor) a forma e a substância do objeto a partir de sua 
projeção. 
Esse processo se dá mais ou menos assim: os raios de luz incidem sobre 
a córnea, onde são refratados, para depois atravessarem uma câmera anterior, 
onde tem o humor aquoso, para então atingirem o cristalino e o humor vítreo. O 
trabalho do cristalino a partir daí é convergir os raios incidentes do humor vítreo 
até a retina. A retina é a membrana mais interna do globo ocular, onde temos as 
células da visão. Nela a imagem é formada e transformada em impulsos que irão 
atravessar o nervo óptico, chegando ao cérebro. 
Essa imagem se forma invertida, devido a um fenômeno que nossos olhos 
engendram, chamado de paralaxe binocular, que sinteticamente quer dizer que 
 
 
8 
um olho não vê a mesma coisa que o outro, e por isso acaba tendo que ajustar a 
imagem, para depois de fato, visualizá-la. 
No estágio de percepção das formas, Piaget afirma: 
[…] antes de a criança ser capaz se imaginar, em pensamento, 
perspectivas ou medir objetos através de operações efetivas, já está 
apta a perceber projetivamente e estabelecer, através da percepção, 
apenas certas relações métricas implícitas; além do mais, as formas que 
ela percebe (...) estão muito avançadas em relação à possibilidade de 
reconstruir essas mesmas (Piaget; Inhelder, 1993, p. 28). 
4.1 A perspectiva das ilusões: suposições e camuflagens 
Mesmo o cérebro calculando ajustes para visualização das formas no 
espaço, somos presas também de outra fenomenologia cognitiva, que chamamos 
de ilusões. Segundo Pinker (2000), a violação das suposições pode ocorrer 
durante todo o processo da visão, basta haver uma interferência idêntica à 
imagem de um objeto que o cérebro está tentando verificar para que ele confunda 
as informações. 
Portanto, ver e perceber o que se vê não é definitivamente um processo 
simples. Além de nossa bagagem biológica e genética, além de nossas 
construções anteriores como memórias e condicionantes emocionais, temos que, 
durante todo nosso percurso evolutivo, realizar tarefas que envolvem a física para 
podermos ver e compreender o que estamos vendo. Portanto, a percepção visual 
é um processo que evolui conforme a idade e codepende de muitas variáveis. 
Essa perspectiva de complexidade e ao mesmo tempo de grande evolução 
que a visão carrega corrobora a dificuldade denominada por Piaget de união de 
duas hipóteses:uma verdadeira (também defendida por Pinker), que afirma que 
o espaço (a ser construído) é influenciado por mecanismos perceptivos e motores, 
e uma falsa, que afirma que a representação (ou a intuição geométrica) se limita 
apenas a registrar tal construção sensório-motora. 
Se a representação (significação do que se percebe, visto anteriormente 
no item da percepção) da percepção visual fosse simplesmente um registro do 
que se visualiza, constatar-se-ia que o cérebro possui um reconhecimento prévio 
das imagens, o que é outra hipótese falsa. 
Uma das comprovações mais influentes de que a percepção visual é um 
ato cognitivo e não apenas sensorial é a fenomenologia da camuflagem, que 
consiste em manter imperceptíveis os limites de imagem entre um objeto e o fundo 
onde ele se encontra, uma técnica bastante utilizada pela espionagem. Entretanto, 
 
 
9 
o cérebro é capaz de perceber e decifrar estas diferentes e tênues nuances de 
cor, espessura, tamanho e/ou espectro da camuflagem. 
TEMA 5 – ABSTRAÇÃO 
A abstração como função cognitiva é uma função mais complexa que a 
percepção e depende dela, assim como das memórias para ser desenvolvida. 
Já em 1798 a abstração era tema de grande interesse. Condillac (citado 
por Cuvillier) afirmava que o processo abstrato tinha início já na percepção, pois, 
“com efeito, nossos sentidos decompõem cada objeto”, ou seja, esta função era 
vista como um processo matemático e de decomposição, como uma boa analogia. 
Para melhor compreender a ideia de decomposição, ela propõe a recriação 
dos cenários a partir de suas partes, ou seja, ao abstrair, o indivíduo capta o todo, 
mas para entendê-lo, separa-o em partes e o recalcula a partir de operações mais 
simples. Na matemática, isso equivale a decompor a multiplicação em pequenas 
somas. 
Dando um salto cronológico na história, aparece Piaget como um dos 
maiores autores que pesquisou a abstração humana, classificando-a, 
basicamente, em dois tipos: a abstração empírica, relacionada aos aspectos ou 
fenômenos materiais da ação, como para “os objetos”; e a abstração 
reflexionante, relacionada à reflexão e a todas as atividades cognitivas do sujeito, 
a fim de proporcionar possibilidades de novas adaptações e decisões (Piaget, 
1995). 
A abstração empírica está intimamente ligada a níveis mais físicos, o 
processo depende dos instrumentos de assimilação do sujeito, oriundos dos 
esquemas sensório-motores (no caso da criança) e dos esquemas 
conceituais/cognitivos e visam captar e reconhecer um objeto a partir de uma 
espécie de reorganização e posterior enquadramento de suas formas pré-
conhecidas. Conforme Garrido (2016), os esquemas1 têm a ver com as conexões 
presentes entre os estímulos e as respostas, pois envolvem o processamento de 
cada tipo de resposta, como o envolvimento das classes, das regularidades, das 
dominâncias, entre outros aspectos. 
 
1 Esquemas são estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos organizam 
intelectualmente suas aprendizagens ou novas tomadas de decisão. Os processos de assimilação 
de acomodação das novas informações são os responsáveis pela evolução dos esquemas 
(sensório-motores) “da criança”, para os esquemas cognitivos “dos adultos”. 
 
 
10 
A abstração reflexionante codepende da captação da abstração empírica 
do indivíduo (formas, movimentos, cores etc.) para poder reconstruir, recriar e 
modificar o observado em novas ações. A abstração reflexionante possui dois 
constituintes de seu processamento: o reflexionamento e a reflexão. O 
reflexionamento refere-se àquilo que ocorre depois da absorção da ação ou do 
fenômeno como suas conceituações; a reflexão refere-se à reordenação dos 
elementos extraídos anteriormente com as novas situações. 
Há ainda outras duas abstrações: a abstração refletida ou pensamento 
reflexivo, uma vez que a reflexão é “obra do pensamento” (Piaget, 1995, p. 6); e 
a abstração pseudo-empírica, que trata do processo de dedução do sujeito 
apoiado sobre resultados constatáveis. 
[...] se a leitura destes resultados se faz a partir de objetos 
materiais, como se tratassem de abstrações empíricas, 
as propriedades são, na realidade, introduzidas 
nestes objetos por atividades do sujeito. Encontramo-
nos, então, em presença de uma variedade de abstração 
reflexionante, mas com a ajuda de observáveis ao 
mesmo tempo exteriores e construídas graças a ela. Ao 
contrário, as propriedades sobre as quais se refere a 
abstração empírica existiam nos objetos antes de 
qualquer constatação por parte do sujeito (Piaget, 1995, 
p. 6). 
Saiba mais 
Assista às duas partes do vídeo Neurociências e Abstração para aprender mais 
sobre essa função cognitiva. Acessos os links <https://youtu.be/XMkRtrvmtCI> e 
<https://youtu.be/kHW2t_lP-pI>. 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
OLHO humano – globo ocular – defeitos da visão. Física e Vestibular. Disponível 
em: <http://fisicaevestibular.com.br/novo/optica/optica-fisiologica/olho-humano-
globo-ocular-defeitos-da-visao/>. Acesso em: 11 set. 2019. 
CUVILLIER, A. Manuel de Philosophie. Paris: Librairies, Armand Colin, 1950. 
GARRIDO, S. Modelagem de Observação cognitiva em ambiente digital 
acompanhada de Impressões eletrofisiológicas. Tese (Doutorado em 
Informática na Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto 
Alegre, 2005. Disponível em: 
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13749/000649327.pdf>. 
Acesso em: 11 set. 2019. 
GARRIDO, S. Neurociências aplicadas à EAD. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. 
(Org.). Educação a Distância - O Estado da Arte. 1. ed. São Paulo: Pearson, 
2012. v. 1. 
GARRIDO, S. O digital, o virtual e o analógico: diálogo cognitivo para 
aprendizagem como elemento articulador da prática. In: SILVA, M. C. B. da. (Org.). 
Práticas Pedagógicas e Elementos Articuladores. Curitiba: Universidade Tuiuti 
do Paraná, 2016. p.124-144. 
IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002. 
KANDEL, E.; SCHWARTZ, J.; JESSEL, T. Fundamentos da neurociência e do 
comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara; Koogan, 2000; 2017. 
LITTO, F. M.; FORMIGA, M. (Org.). Educação a Distância - O Estado da Arte. 1. 
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12 
MORIN, E. et al. Educar na era planetária - O pensamento complexo como 
método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. São Paulo: Cortez, 
2003. 
PIAGET, J. et al. Abstração reflexionante: relações lógico-aritméticas e ordem 
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PIAGET, J.; INHELDER, B. Da lógica da criança à lógica do adolescente. São 
Paulo: Pioneira, 1993. 
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