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9 DISARTRIA CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS: Avaliação, diagnóstico e terapia fonoaudiológica 1 Conceito 2 Etiologia 3 Classificação 4 Quadro comparativo entre os diferentes tipos de disartrias 5 Avaliação 6 Diagnóstico diferencial 7 Reabilitação A FALA COMO UMA HABILIDADE MOTORA A comunicação oral envolve três processos básicos: 1. Organização do conceito e sua formulação simbólica. 2. Expressão dos pensamentos através da FALA: bases motoras – Sistema Nervoso Periférico. 3. Inteligibilidade de fala – processos motores: respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia (ORTIZ, 2010). 4. Programação motora para a produção de fonemas, palavras e sentenças (JAKUBOVICZ, 1997). Logo: IDEAÇÃO Intenção Comunicativa Cognitivo SIMBOLIZAÇÃO Recuperação da palavra Linguístico Mapeamento fonológico Organização sintática Transmissão do significado PLANO MOTOR Especificação dos movimentos Motor EMISSÃO Uso da musculatura envolvida Motor Respiração; Fonação; Ressonância; Articulação *Quadro extraído do material do Prof. Cláudio Cechella A fala é um comportamento complexo cuja produção requer a contração coordenada de um vasto número de músculos (dos lábios; mandíbula; língua; palato mole; faringe, laringe, bem como, da respiração). A contração desses músculos é controlada por impulsos nervosos que se originam em 1 0 áreas motoras do córtex cerebral e, então, esses passam a ser transmitidos através das vias motoras (MURDOCH, 2005). As áreas motoras do córtex cerebral são responsáveis pelo início da atividade muscular voluntária e podem controlar os neurônios motores inferiores (NMI) provenientes do tronco encefálico e da medula espinhal, através das vias piramidais e extrapiramidais. Os neurônios provenientes de ambas as vias tratam-se coletivamente dos neurônios motores superiores (NMS). As lesões nos NMS que podem causar disartria podem estar localizadas no córtex cerebral (essencialmente no giro pré- central e no córtex pré- motor), na cápsula interna, nos pedúnculos cerebrais ou no tronco encefálico. Os sinais clínicos de lesões nesses neurônios são: paralisia espástica ou paresia dos músculos envolvidos; pouca ou nenhuma atrofia muscular; reflexos de estiramento de músculos hiperativos (ex. movimento brusco de mandíbula); e a presença de reflexos patológicos (ex. Babinski, de preensão, de sucção, etc.) (MURDOCH, 2005). Já o nível mais baixo do controle motor é suprido pelos NMI, que conectam o SNC às fibras musculares esqueléticas. Esses neurônios originam-se do tronco encefálico (no caso de percorrerem os nervos cranianos tendo uma função motora) ou dos cornos anteriores da substância cinzenta da medula espinhal (no caso de percorrerem os diferentes nervos espinhais). Lesões nesses neurônios interrompem a condução de impulsos nervosos do SNC até os músculos, como consequência, o controle voluntário dos músculos é afetado. Com isso, os impulsos nervosos necessários para a manutenção do tônus muscular também são perdidos, causando flacidez/hipotonia. Outros sinais clínicos de lesões nos NMI: fraqueza muscular; perda ou redução dos reflexos musculares; atrofia muscular e fasciculações (espasmos espontâneos de feixes musculares individuais – fascículos) (MURDOCH, 2005). DISARTRIA – o que é? o ARTRIA: dizer; falar correto. o DISARTRIA: prejuízo na produção da fala devido a alterações no controle muscular dos mecanismos da fala. Também é conhecida como Disartrofonia, principalmente por estudos na área da Voz, esse termo engloba alterações com desvio na fonação e articulação dos sons da fala (BEHLAU et al., 2005). O termo Disartria, foi consagrado principalmente após os trabalhos de Darley, Aronson e Brown (1969; 1975). Disartria é um distúrbio de fala, resultante de alterações no controle muscular dos mecanismos envolvidos em sua produção, originado por uma lesão do SNC ou Periférico que acarreta em alterações na emissão oral, devido a uma paralisia, fraqueza ou falta de coordenação dos músculos da fala (DARLEY, ARONSON e BROWN, 1969) 1 1 A disartria pode resultar de lesões em qualquer um dos diferentes níveis do SNC envolvidos na integração das atividades motoras da fala. Os níveis compreendem: o córtex; os núcleos da base; o cerebelo; o tronco encefálico e a medula espinhal. Além disso, a disartria também pode ser causada por nervos periféricos que suprem os músculos dos mecanismos da fala, ou por alterações que interrompem a transmissão de impulsos nervosos ao nível da junção neuromuscular. E ainda, alterações nos próprios músculos envolvidos (MURDOCH, 2005). Portanto, de acordo com o Comitê de Motricidade Oral da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (2003), Disartria (dysarthria) é disfunção neurogênica da fala que resulta em fraqueza, lentidão, ou incoordenação dos músculos da respiração, fonação, articulação, e ressonância. Salienta-se que essa dificuldade de fala não inclui alterações associadas a déficits de estruturas somáticas (fissura palatina, alargamento congênito da faringe, encurtamento congênito do palato e má oclusão) ou distúrbios psicológicos (afonia psicogênica). As alterações de fala decorrentes da Disartria podem causar comprometimento importante da inteligibilidade e, consequentemente, afetar a comunicação desses indivíduos. As manifestações disártricas acompanham, muitas vezes, doenças degenerativas, progressivas e, com isso, tendem a piorar, conforme a evolução do quadro geral do paciente (BRABO et al., no prelo). Quanto à prevalência da Disartria, em um estudo recente (TALARICO, VENEGAS e ORTIZ, 2011) foram analisados 244 prontuários dos pacientes atendidos de 2002 a 2006, no Núcleo de Investigação e Intervenção Fonoaudiológica em Neuropsicolinguística da Universidade Federal de São Paulo. Os casos de Disartria foram observados em 33% dos prontuários, antecedidos apenas pelos casos de Afasia (56%). Outro trabalho menciona a prevalência de casos no sexo masculino e com idade média de 52 anos de idade (RIBEIRO e ORTIZ, 2009). CARACTERÍSTICAS GERAIS DA DISARTRIA Sabe-se que o processo fonoarticulatório em pacientes com disartria tende a ser prejudicado e, apesar da variabilidade dos quadros, é comum encontrar em quase todos os pacientes disártricos (KENT et al., 2001; TJADEN e WILDING, 2004): o Diminuição da velocidade da fala; o Imprecisão articulatória; o Fala lenta e irregular; o Monoaltura e monointensidade; RESPIRAÇÃO o Alteração no tipo respiratório, predomínio de respiração mista, seguida de respiração abdominal e respiração torácica, enquanto que o esperado seria a respiração costo-diafragmática- abdominal; 1 2 o Incoordenação pneumofonoarticulatória, a qual pode ser evidenciada durante a contagem de números e a elaboração de um discurso; o Redução dos tempos máximos de fonação (TMF) >>> o esperado seria de 25 a 35 s para falantes masculinos e 15 a 25 s para falantes femininos. Pacientes disártricos podem apresentar em média de 9 s de TMF; o Ciclo respiratório alterado >>> de acordo com os dados de normalidade espera-se, em média, 12 ciclos por minuto (1 ciclo= 1 inspiração + 1 expiração), enquanto os indivíduos disártricos podem apresentar uma média de 20,18 ciclos por minuto (RIBEIRO e ORTIZ, 2009). FONAÇÃO o Qualidade vocal rouca, hipernasal, soprosa, pastosa, entre outras, menos frequentes; o Intensidade vocal baixa em43%, dos casos, porém, adequada em 53%; o Predominância de pitch grave em 55% dos casos e pouca variação do mesmo (RIBEIRO e ORTIZ, 2009). RESSONÂNCIA o Hipernasalidade >>> possivelmente decorrente de vários fatores como: disfunção velofarígea; resistência ao fluxo aéreo nasal; imprecisão articulatória e distúrbios de outros mecanismos de produção de fala, por exemplo, anormalidades fonatórias e da velocidade da fala (RIBEIRO e ORTIZ, 2009). ARTICULAÇÃO o A produção das consoantes encontra-se principalmente afetada; o Alteração moderada nos movimentos labiais, mandibulares e linguais isolados; o A média de inteligibilidade de fala para monossílabos foi de 27%, para sentenças de 50%; o Prolongamento das sílabas, além de, omissões, substituições, distorções, acréscimos e repetições; o Redução da velocidade e amplitude dos movimentos (RIBEIRO e ORTIZ, 2009). PROSÓDIA o Alterações discretas e na marcação da sílaba tônica e na terminação da frase; o Proporção maior de pausas entre as palavras e no meio das palavras; o Pausas inadequadas para a respiração; o Média de 90 palavras por minuto durante a conversação ou leitura de um texto (RIBEIRO e ORTIZ, 2009); 1 3 o Alteração do ritmo de fala marcada por bradiartria (aumento do tônus, articulação presa, incoordenação, rigidez e lentidão) ou taquiartria (aceleração do movimento, incoordenação e rapidez). ETIOLOGIA o ADULTO: AVC, Parkinson, Paralisia Pseudo-Bulbar, Neoplasmas, Esclerose Lateral Amiotrófica, Ataxia Espinocerebelar, Esclerose Múltipla, Miastenia Grave, etc. o JOVENS: Distrofia Muscular, TCE, uso de drogas e excesso de álcool. o CRIANÇAS: PC ou doenças genéticas. * Dados provenientes do estudo de Talarico, Venegas e Ortiz (2011). TIPOS DE DISARTRIA DISARTRIA FLÁCIDA o Lesão nos NMI (localizado nos cornos anteriores da medula espinhal e no núcleo motor dos nervos cranianos no tronco encefálico); o Interrompem a condução do impulso nervoso do SNC para os músculos esqueléticos, inclusive os músculos envolvidos no mecanismo da fala. Como consequência, o controle voluntário dos músculos afetados é perdido; o Os impulsos nervosos necessários para a manutenção do tônus muscular também são perdidos, com isso os músculos tornam-se flácidos (hipotônicos); o Além de fraqueza muscular; perda ou redução dos reflexos musculares; atrofia do músculo afetado e fasciculação muscular (contorção dos feixes musculares individuais); o Dependendo do local da lesão, os distúrbios dos NMI podem ser divididos em dois grupos. TCE, tumores, aneurimas, saliência óssea, e toxinas ou infecções que produzem neurite podem afetar 1 4 os nervos espinhais e cranianos, uma vez que eles partem do SNC. Infecções virais, tumores, AVC, degeneração progressiva e condições congênitas podem debilitar os núcleos nervosos cranianos ou células dos cornos anteriores da medula espinhal. A disartria flácida também pode ser causada por condições que debilitam a transmissão dos impulsos nervosos acima da junção neuromuscular (ex. Miastenia Grave, Toxina Botulínica) e afetam os músculos do mecanismo da fala (ex. Distrofia Muscular). o As características da fala variam conforme o tipo de nervo afetado e o grau relativo à fraqueza resultante do nervo; o Algumas características mais comuns: hipernasalidade; consoantes imprecisas; monopitch; qualidade vocal desarmônica; frases curtas e monoloudness; o Esse tipo de disartria pode, ocasionalmente, ser atribuído ao dano de um único nervo craniano (nervos Frênicos e Intercostais; Vago; Trigêmeo, Facial e Hipoglosso) e, consequentemente, estar confinado a um grupo muscular isolado; (MURDOCH, 2005) RESPIRAÇÃO VÁLVULA LARÍNGEA VÁVULA PALATO- LARÍNGEA ARTICULAÇÃO Exaustão durante a fala; frases curtas; inspiração audível; fala com ar residual, dificuldade em tons mais altos. Disfonia flácida com fixação da prega vocal à D ou à E na posição mediana (voz baixa e fraca) ou na abdução (voz com escapes de ar, diplofonia). Hipernasalidade e/ou emissão nasal, apresentando dificuldades nos fricativos /s, z/; plosivos /p, b, m, t, d/ e nasalidade nos sons mediais e finais. Fonemas labiais alterados; distorção das V; fasciculação da língua e/ou atrofia, causando alteração nos fonemas /t, d, n, l, s, z, S, Z/. (JAKUBOVICZ, 1997) DISARTRIA ESPÁSTICA o Dano nos NMS bilateralmente, com a interrupção dos impulsos nervosos ao núcleo nervoso craniano bulbar; o Os músculos afetados podem apresentar: hiper-reflexia (ex. movimento mandibular hiperativo); pouca ou nenhuma atrofia muscular (exceto para a possibilidade de alguma atrofia associada ao desuso); e a presença de reflexos patológicos (ex. de sucção); o Duas síndromes principais, atribuídas à lesão nos NMS são a Paralisia Pseudobulbar e a Hemiparesia Espástica. Ambas caracterizadas pela espasticidade e deficiência ou perda dos movimentos voluntários; o Outras possíveis causas: AVC, TCE, tumores cerebrais extensivos, PC na infância ou condições neurológicas degenerativas (ex. Esclerose Múltipla, Doença do Neurônio Motor). Tais 1 5 lesões podem estar localizadas em diferentes regiões do cérebro (áreas motoras corticais, giro pré- central, córtex pré-motor e tratos descendentes quando atravessam a cápsula interna, pedúnculos ou tronco encefálico); o Quatro sintomas principais: espasticidade, fraqueza, extensão de movimento limitada e lentidão dos movimentos; o Características perceptivas predominantes da fala (DARLEY, ARONSON e BROWN, 1969): - Articulação imprecisa das consoantes; - Monopitch e monoloudness; - Pitch grave; - Ênfase/acentuação reduzidas ou excessivas; - Voz áspera (com esforço); - Qualidade vocal tensa-estrangulada; - Voz com soprosidade contínua; - Velocidade de fala reduzida; - Hipernasalidade; - Frases curtas; - Vogais distorcidas; - Quebras de frequência fundamental (f0). o Suporte respiratório deficiente também foi observado nesses casos; o Obs.: não confunda com as lesões unilaterais do NMS. Esta causa uma hemiplegia espástica, na ausência de manifestações na mastigação, deglutição, função velofaríngea ou atividade laríngea e, presença de uma disartria transitória, caracterizada por uma imprecisão articulatória leve. (MURDOCH, 2005) RESPIRAÇÃO VÁLVULA LARÍNGEA VÁVULA PALATO- LARÍNGEA ARTICULAÇÃO Muito rápida, com dificuldade nas inspirações, falta de controle fono- respiratório, capacidade vital diminuída. Normalidade das PPVV, voz rouca, de baixa tonalidade, ataques vocais bruscos, falhas na fonação, lentidão na fala e monotonia. Insuficiência velar. Não ocorre diferenciação entre sons surdos e sonoros. Há dificuldade na transição de um fonema para outro na fala encadeada. Imprecisão nas C, com distorção das V, omissão, monotonia prosódica, escapes de ar e substituições de fonemas (d/g), (g/d), (k/d). (JAKUBOVICZ, 1997) DISARTRIA ATÁXICA o Lesões encefálicas envolvendo o cerebelo ou suas conexões. O papel principal do cerebelo é a coordenação sinérgica dos grupos musculares em todo o corpo. Com o dano cerebelar, a composição temporal de uma sequência ordenada de uma ação motora torna-se incoordenada. Erros de força e amplitude também são observados; 1 6 o Sinais característicos de lesões cerebelar: ataxia (caracterizada por sintomas clínicos, como: dismetria-hipermetria, assinergia, instabilidade postural e do modo de andar, tremor intencional e incordenação têmporo-espacial); hipotonia; nistagmo e disartria; o As características predominantesda Disartria Atáxica são uma incoordenação nos aspectos articulatórios e prosódicos da fala. - Imprecisão articulatória: imprecisão na produção consonantal; desarranjos articulatórios irregulares e vogais distorcidas; - Excesso prosódico: excesso de entonação e monotonia; fonemas prolongados; intervalos prolongados e velocidade lenta; - Insuficiência fonatória-prosódica: caracterizada por aspereza, monopitch e monoloudness (DARLEY, ARONSON e BROWN, 1969); o Suspiros expiratórios e inspiratórios forçados também já foram relatados; (MURDOCH, 2005) RESPIRAÇÃO VÁLVULA LARÍNGEA VÁVULA PALATO-LARÍNGEA E ARTICULATÓRIA Movimentos exagerados. Atividades lentas e irregulares nas PPVV. A tonalidade da voz é restrita – a intensidade fica variada e acontecem mudanças vocais súbitas. O palato mole eleva-se bem nos movimentos individuais da língua e dos lábios. Os movimentos são lentos, mas acurados. O ritmo da fala fica alterado e a leitura será lenta (106 a 136 palavras/minuto; normal=176). Prosódia alterada. (JAKUBOVICZ, 1997) DISARTRIA HIPOCINÉTICA o Neuropatologia dos gânglios da base - Sistema Extrapiramidal; o Comumente associada à Doença de Parkinson (60 a 80% dos pacientes apresentam esse tipo de Disartria, com crescente preponderância com o avanço da doença). Parkinsonismo é caracterizado pela presença de acinesia/bradicinesia, rigidez, alteração do reflexo postural e tremor, características de uma série de condições degenerativas subcorticais. Portanto, é uma doença neurológica progressiva, degenerativa, associada com a perda seletiva dos neurônios dopaminérgicos da substância negra. A demência está associada em 41% dos casos; o Uma forma acusticamente similar de Disartria tem sido observada também em pessoas com Paralisia Supranuclear Progressiva. Pessoas afetadas por essa doenças normalmente apresentam um síndrome rígido-acinética associada, paralisia pseudobulbar e demência do tipo frontal. Na necropsia, a perda neuronal é caracteristicamente encontrada nos núcleos da base, tronco encefálico e núcleos cerebelares, mas não no córtex cerebral e cerebelar. o As características clínicas da Disartria Hipocinética são: - Monotonia de pitch e loudness; - Redução do uso de todos os parâmetros vocálicos para efetuar a ênfase e a entonação; 1 7 - Qualidade vocal soprosa; - Redução da intensidade vocal; - Velocidade variável – curtos “jatos” de fala ou fala acelerada; - Imprecisão consonantal; - Suporte respiratório deficiente para a fala; - Redução no tempo de fonação; - Dificuldade no início da emissão; - Pausas impróprias no discurso; o Variabilidade na apresentação da Disartria Hipocinética associada à Doença de Parkinson pode estar relacionada à natureza progressiva da doença e/ou à respostas do indivíduo sob medicação antiparkinsoniana; (MURDOCH, 2005) o O tremor de repouso é comumente encontrado e é um sinal confirmatório da DP, porém não interfere na fala; o Neste tipo de disartria iremos encontrar a festinação, a qual se refere a movimentos de “vai e vem” na língua, como que em um ensaio para o início do movimento, que depois que acontece pára. RESPIRAÇÃO VÁLVULA LARÍNGEA VÁVULA PALATO-LARÍNGEA E ARTICULATÓRIA Restrição nos movimentos musculares responsáveis pela respiração; alteração na sincronização fonorespiratória; diminuição da capacidade vital em 40%; diminuição do sopro expiratório. Ausência de anomalias nas PPVV; qualidade vocal com alterações na tonalidade; voz monótona; intensidade vocal fraca. Repetição; adição e omissão de sílabas, com perda da distinvidade fonêmica; ritmo de fala variado; silêncios inapropriados, dificuldade em iniciar os movimentos. 10 (JAKUBOVICZ, 1997) DISARTRIA HIPERCINÉTICA o Da mesma forma que a Hipocinética, a Disartria Hipercinética possui como etiologia uma patologia neurológica dos gânglios da base (Sistema Extrapiramidal); o As características do desvio de fala são produto de movimentos involuntários anormais que perturbam o ritmo e a qualidade de atividades motoras. Esses movimentos involuntários podem ser rítmicos ou irregulares e imprevisíveis, rápidos ou lentos; o Qualquer processo que danifique os núcleos da base ou estruturas cerebrais relacionadas tem o potencial de causar Disartria Hipercinética, incluindo distúrbios degenerativos, vasculares, inflamatórios, traumáticos, tóxicos e metabólicos. Em alguns casos a causa pode ser idiopática; o Há uma heterogeneidade na manifestação da dimensão da alteração de fala. Contudo, apenas nesses casos a Disartria pode resultar da ruptura de somente um nível dos sistemas de produção da fala (respiratório, fonatório, ressonantal ou articulatório); o Darley, Aronson e Brown (1969) distinguiram duas categorias de distúrbios hipercinéticos – hipercinesias rápidas e lentas: - Rápidas: Contrações musculares mioclônicas; Tiques; Coréia; - Lentas: Atetose; Discinesia; Distonia; o Características da Disartria Hipercinética associada à Coréia (DARLEY, ARONSON e BROWN, 1969): - Distúrbios prosódicos são predominantes >>> excesso ou insuficiência prosódico >>> interrupção do fluxo da fala pelos movimentos coréicos bem como devido à tendência do indivíduo em compensar a suspensão imprevisível, súbita, da função respiratória, fonatória, de ressonância e articulatória; - Produção consonantal imprecisa, vogais distorcidas e colapso articulatório irregular; - Qualidade vocal áspera, tenso-estrangulada e variações excessivas de loudness; - Hipernasalidade leve e intermitente em 40% dos casos; - Poucos casos apresentaram inspiração e/ou expiração forçada e involuntária. (MURDOCH, 2005) DISARTRIA MISTA o Combinação de duas ou mais Disartrias puras; o Neuropatologia depende dos tipos de Disartrias envolvidas; o Causas Frequentes incluem múltiplos AVC, TCE ou doenças neurológicas (ELA, Doença de Wilson, Esclerose Múltipla); o Os distúrbios de fala são variados e dependem dos tipos das disartrias puras que estão combinadas. (MURDOCH, 2005) 11 Tipo de Disartria Local da lesão Disartria Flácida Neurônios Motores Inferiores (NMI) Disartria Espástica Neurônios Motores Superiores (NMS) Disartria Hipocinética Gânglios Basais + Nervos do T. Cerebral Disartria Hipercinética Gânglios Basais + Nervos do T. Cerebral Disartria Atáxica Cerebelo e/ou conexões Disartria Mista (Flácida/espástica) NMI + NMS (ex.: ELA) Disartria Mista (Atáxica/espástica/flácida) Cerebelo e/ou conexões, NMI+ NMS Quadro geral dos tipos de Disartrias e localização da lesão: Prevalência dos diferentes tipos de Disartria: Tipo de Disartria N % 33.3 16.6 3.3 10 23.3 10 3.3 100 Flácida Espástica Hipercinética Hipocinética NMS Unilateral Mista Não informada 20 10 2 6 14 6 2 TOTAL 60 * Dados provenientes do estudo de Ribeiro e Ortiz (2009) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL FACE A OUTRAS PROBLEMÁTICAS MOTORAS DE ORIGEM NEUROLÓGICA o DISARTRIA: A disartria é uma perturbação da articulação da linguagem associada à alteração do controle muscular dos mecanismos da fala, tendo a sua origem em lesões do SNC. A dificuldade de expressão é permanente e uniforme, e o paciente é, geralmente, consciente do seu problema. (SYDER, 1997, p.93) o DISPRAXIA: Déficit de execução (ou total impossibilidade – apraxia) de gestos ou padrões motores complexos, com ausência de déficit motor que impeça a realização de movimentos de forma independente. É certo que em todos os processos que estão acompanhados de alteração da motricidade estão presentes déficits de execuçãogestual, mas não podem incluir-se dentro das dispraxias/apraxias, porque essas apenas se relacionam com o gesto intencional enquanto sequência de movimentos tendo em vista um objetivo ou gesto específico. Esse necessita de um controle proprioceptivo e sensorial, pois é através dele que os padrões se organizam e a sua repetição os torna automáticos, facilitando assim a execução dos gestos cotidianos. o DISGNOSIA: A realização motora sempre implica um conhecimento implícito que constitui o mapa cognitivo que dirige a ação, também nesse processo conjunto de conhecimento (gnosia) e realização (praxia), podem ainda estar presentes alterações caracterizadas pela incapacidade para o reconhecimento de estímulos e respectiva significação. Essas constituem o vasto mundo das 12 disgnosias/agnosias e relacionam-se com alterações perceptivas em zonas corticais, afetando as funções do processamento e a categorização da informação, bem como a integração das diferentes modalidades sensoriais, o que também conduz a dificuldades de realização ou atividade motora para a fala. o AFASIA MOTORA PURA / EXPRESSIVA / DE BROCA: Alteração primária do movimento voluntário (apenas), os erros produzidos não são consistentes, ao contrário do que acontece nas disartrias. (LIMA, 2008) AVALIAÇÃO A avaliação nos casos de Disartria visa: o Detectar ou confirmar a suspeita de um problema; o Estabelecer um diagnóstico diferencial; o Classificar; o Determinar o local da lesão ou o processo da doença; o Estabelecer um prognóstico; o Determinar o enfoque da terapia; o Definir quando parar a fonoterapia; o Observar qualquer mudança no indivíduo que ocorra durante o tratamento. Essa deve contemplar aspectos subjetivos (impressão acústica) e objetivos (dados mensuráveis e comparáveis no tempo). Uma boa dica é filmar e gravar a fala do paciente durante a avaliação, a fim de se comparar os dados pré e pós-tratamento. Toda e qualquer avaliação fonoaudiológica deve ser muito bem embasada por uma ANAMNESE detalhada. O primeiro contato terapeuta - paciente é direcionado aos aspectos sobre os quais queremos maiores informações (história clínica geral). A partir desse momento, o comportamento do indivíduo começa a ser observado, as informações a respeito do seu controle corporal vão sendo coletadas, entre outras. Para a avaliação de pacientes disártricos, todo o mecanismo de fala deve ser considerado – respiração, fonação, articulação, ressonância e prosódia. Mesmo sendo esses os aspectos aqui enfatizados, destaca-se que o quadro clínico geralmente envolvido nas alterações neurológicas é bastante amplo, cabendo ao fonoaudiólogo também atentar às demais alterações fonoaudiológicas, portanto, outras avaliações tornam-se também necessárias, como: avaliação auditiva; da linguagem oral e escrita; da deglutição; dos órgãos fonoarticulatórios, etc. 13 Também se destaca que a avaliação fonoaudiológica das Disartrias deve ser complementada com as de outros especialistas (ORL, neurologista, psicóloga, nutricionista, etc.), conforme a necessidade de cada caso. Avaliação da Respiração: o Ciclo respiratório / Frequência respiratória: é contabilizado o número de ciclos respiratórios (inspiração >>> pausa pré-expiratória >>> expiração >>> pausa pré-inspiratória) em 1 minuto. Esse é inversamente proporcional ao tamanho corporal. Para um homem adulto – 16 a 18 ciclos/min., para uma mulher adulta – 18 a 20 ciclos/min.; o Modo respiratório: oral ou nasal. Pode ser avaliado através do Teste da água; da Prova de Permeabilidade Nasal de Glatzel; da Prova de Rosenthal; o Tipo respiratório: classificação referente às diferentes formas em que o ar inspirado se concentra na cavidade torácica. Pode ser – Superior (costal-superior, clavicular); Média (mista, torácica); Inferior (abdominal); Completa (costo-diafragmático-abdominal); o Capacidade vital (CV): refere-se à quantidade de ar de uma expiração máxima após uma inspiração máxima, pode ser medido objetivamente através do espirômetro seco, com e sem oclusão digital das narinas – três medidas são coletadas. Os valores mínimos da CV para mulheres são de 2000 ml, para homens de 2200 ml; o Tempo máximo de fonação (TMF): medida do máximo de tempo que um indivíduo consegue sustentar a emissão de som durante a mesma expiração. Teste das vogais sustentadas (/a, i, u/ >>> de 20 a 35s para homens, de 14 a 25s para mulheres e menos de 10s é sugestivo de alteração), das fricativas sustentadas (/s, z/ >>> média de 15 a 25s) e da vogal e + e áfono. o Relação s/z: valor de /s/ dividido pelo valor de /z/ (normalidade de 0,8 a 1,2s >>> valores maiores = falta de coaptação das PPVV, valores inferiores = hipercontração glótica) + Relação e/e áfono o Coordenação respiração/fonação na fala encadeada: Teste de contagem de números (normalidade de 1 a 3s maior que a média das três vogais /a, i, u/, valores maiores que 4s = tensão glótica, ou se menor ou igual a média das três vogais = falta de coaptação das PPVV); Avaliação da Fonação: o Ataque vocal: é como se inicia o som, depende, portanto, da configuração glótica no momento da emissão vocal. Poder ser – isocrônico, suave ou normal; brusco; aspirado; o Frequência da fala: pode ser avaliada através do pitch (sensação psicofísica da frequência em relação à idade e ao sexo do paciente); da frequência fundamental – f0 (pode ser medida com o auxílio da análise acústica, comparação com as notas musicais de um piano >>> mulheres de 150 a 250 Hz, homens de 80 a 150 Hz); da gama tonal (número de notas acima e abaixo da f0 >>> normal de 3 a 5 semitons em torno da f0); 14 o Intensidade: relacionada com a loudness – adequada, forte, fraca, sem variação, de acordo ou não com o ambiente; o Qualidade vocal: refere-se ao conjunto de características que identificam a voz humana. Identificar o tipo de voz; o Coordenação Pneumo-fono-articulatória (CPFA): resultante da interação harmônica das forças expiratórias (soprosidade?), mioelásticas da laringe (presença de hipercontração e hipocontração) e musculares da articulação (exagero dos movimentos articulatórios?). Tem como medi-la, através de pneumotacógrafo, ou por intermédio de cálculos alternativos (Coeficiente fônico simples e composto; Tempo máximo de fonação previsto; etc.). Avaliação da Ressonância: o Análise do movimento velar: emissão de /a/ e /ã/ alternadamente; o Movimentação da parede faríngea: emissão de /ka ka ka/ repetidamente; o Os movimentos devem ser analisados quanto à presença/ausência, velocidade, consistência e simetria; o Emissão nasal: com o auxílio do espelho posicionado abaixo das narinas, solicitar a produção de fonemas orais e nasais, em palavras e em frases - Mamão x papai / pau x mau ; Papai pediu pipoca; A fita de filó é verde; Amanhã mamãe amassará mamão; o Hiponasalidade ou hipernasalidade? Avaliação da Articulação: o Pode ser avaliada através do Exame Articulatório (protocolo disponível no SAF) – o mesmo consiste da repetição de palavras contendo todos os fonemas do Português, após a o modelo do terapeuta; o Também é importante coletar uma amostra de fala espontânea; o Considerar também a produção vocálica; o Avaliar os movimentos isolados e alternados envolvendo a musculatura da face – lábios, língua, bochecha e mandíbula; o Avaliação da inteligibilidade de fala, tanto em monossílabos e como em sentenças; o Articulação precisa ou imprecisa? Articulação exagerada? Variações na qualidade articulatória? o O objetivo desta avaliação é observar e descrever as repetições, prolongamentos, substituições, omissões e/ou distorções de fonemas, quando presentes; oDiadococinesia: avalia a velocidade, ritmo e precisão articulatória por meio da solicitação de repetição de sequências silábicas >>> em velocidade crescente, exemplo de estímulos para a 15 avaliação: Pata’ka; Bada’ga; Fasa’cha. Ou então, (pa, ta, ka, pata’ka, a’i, i’u, a’u) da forma mais rápida possível, dentro de 10 segundos (ALVES, 2010). Avaliação da Prosódia: o Refere-se à capacidade de modular a fala, realizar a sílaba tônica dentro das palavras e frases, bem como, realizar as pausas adequadas do discurso; o Monoaltura e monointensidade? o Entonação prosódica: Solicita-se a produção de uma sentença afirmativa (ex.: É proibido fumar aqui); interrogativa (ex.: Você gostaria de comprar bolo ou sorvete?) e exclamativa (ex.: Maria chegou!). A repetição sem indução de entonação é permitida; o Ritmo e velocidade de fala: número de palavras faladas por minuto. Pode ser avaliada também através da leitura de um texto >>> velocidade adequada = de 130 a 180 palavras/minuto, ou média de 140 palavras/minuto. (ORTIZ, 2004; PALERMO et al., 2009; FRACASSI et al., 2011; REABILITAÇÃO Princípios gerais do atendimento fonoaudiológico de pacientes disártricos: o O atendimento transdisciplinar é sempre priorizado – fonoaudiólogo, neurologista, fisioterapeuta, nutricionista, otorrinolaringologista, psicólogo, terapeuta ocupacional, etc.; o Antes de iniciar a intervenção fonoaudiológica, é necessário que se conheça a fundo a etiologia da Disartria, pois, suas e manifestações disártricas são diversas, com isso, teremos objetivos terapêuticos distintos; o Embora não exista um tratamento específico e único para todos os tipos de disartria, o tratamento adotado é de suporte e visa maximizar a inteligibilidade de fala de forma compensatória, dentro dos limites do mecanismo da fala motora, neurologicamente debilitada (MURDOCH, 2005); o Portanto, o tratamento concentra-se em aumentar o automonitoramento, a propriocepção e o controle voluntário dos sistemas comprometidos (SYDER, 1997); o Outros objetivos devem ser a coordenação global do paciente, coordenação essa que vai desde o relaxamento corporal até a melhor articulação que ele consiga obter, passando em etapas gradativas, iniciando pela função respiratória, modificação eficaz da emissão sonora e adequação da ressonância (LEMOS, 1992). o Os pontos fundamentais para o tratamento são: respiração; fonação; ressonância; articulação e prosódia. Para isso são selecionados exercícios para: o controle respiratório, treino 16 articulatório, adequação da qualidade vocal, intensidade, frequência, prosódia, ressonância e sensibilidade, mobilidade e tônus dos OFA’s (SYDER, 1997); o Dworkin (1991) sugere a adoção de procedimentos hierárquicos: respiração e ressonância (1ª ordem); fonação (2ª ordem) e; articulação e prosódia (3ª ordem). Contudo, ressalta-se que o planejamento terapêutico deve ser sempre personalizado às necessidades de cada paciente (MURDOCH, 2005); o Netsell e Daniel (1979) observaram que a importância da avaliação inicial da fala é a determinação de quais componentes do mecanismo de produção da fala não estão funcionando corretamente, bem como, mensurar a gravidade e a natureza fisiológica da deficiência. Aspectos a serem considerados durante a elaboração do planejamento terapêutico; o Quanto aos fatores que influenciam no tratamento da Disartria, citam-se alguns como: estado e histórico do dano neurológico; estado médico geral; associação a outras alterações fonoaudiológicas (ex.: disfagia, perda auditiva, etc.); idade; tempo de início da condição; severidade da condição disártrica; ambiente doméstico; presença de ajustes automáticos; acesso ao tratamento transdisciplinar; personalidade e motivação, sistema de “suporte” (ocupações além da terapia), entre outros (MURDOCH, 2005); A seguir são listadas algumas estratégias e exercícios para cada um dos níveis de produção da fala - respiração; fonação; ressonância; articulação e prosódia – todavia, salienta-se que essas não seriam as únicas alternativas existentes para o tratamento dos pacientes com Disartria, cabendo ao clínico, determinar o melhor planejamento terapêutico conforme a necessidade de cada caso. TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DA RESPIRAÇÃO o Objetivos dos exercícios respiratórios: enfatizar os movimentos diafragmáticos; instalar tipo e modo respiratório corretos; aumentar a capacidade respiratória; inibir movimentos desnecessários na inspiração; controlar a saída de ar (LEMOS, 1992); o Fornecer orientações quanto à: - Postura corporal, a fim de promover a livre expansão da caixa torácica e dos músculos abdominais; - Fisiologia respiratória e sua participação na produção da voz/fala, com intuito de haver o (auto)monitoramento do funcionamento respiratório também em casa; o Fornecer pistas táteis para o controle da respiração – ex.: mãos do paciente sobre a caixa torácica e músculos abdominais; o Técnica de “checagem respiratória” – inspiração profunda seguida de uma lenta liberação d corrente aérea. Pode ser utilizado por pacientes que necessitem de um aumento no suporte respiratório, além de um aperfeiçoamento do controle respiratório durante a expiração; 17 o A respiração usada para a fala envolve um padrão de comportamentos distintos da respiração normal, uma vez que a primeira é caracterizada por uma curta/rápida captação de ar, geralmente através da cavidade oral, seguida por um longo período de exalação controlada. Esse padrão respiratório pode ser bastante difícil para alguns pacientes disártricos, com fraqueza inspiratória, com isso a terapia deve enfocar a inspiração e a reeducação da captação de ar de forma mais eficiente e rápida; o Biofeedback respiratório / técnicas instrumentais: recursos mais comuns e de menor custo - manômetro de água com o tubo em “U” e indicador de pressão de condução respiratória – ambos têm como objetivo a sustentação do nível de água durante um determinado período (5 a 10s) através do sopro expiratório de baixa pressão. Outros recursos mais sofisticados – Instrumentação cinemática e Espirômetro; Manômetro de água com o tubo em “U” Modelo de indicador de pressão de condução respiratória Ex. de Instrumentação cinemática Espirômetro o O treino respiratório também pode ser realizado com o auxílio de instrumentos de sopro (ex. flauta), vela, pote com bolinhas de isopor, scape-scope, etc.; o Uso de bandagem elástica, cinta de couro, posicionada e estabilizada em torno da cintura, sob as costelas – para ajudar no aperfeiçoamento do suporte respiratório para a fala; Bandagem elástica (MURDOCH, 2005) o Treinar a CPFA através da inspiração/expiração com sons isolados (prolongamento de vogais e fricativas), sílabas e palavras. Treinar a fala encadeada com o aumentando do número de sílabas em cada expiração; sentenças; parágrafo; TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS LARINGOFONATÓRIOS o A seleção das estratégias de tratamento dependem do tipo de anormalidade fonatória e na natureza da neurofisiopatologia laríngea; o A maioria dos distúrbios essencialmente laríngeos associados à disartria inclui: problemas com adução de PPVV (hiperadução ou hipoadução), instabilidade fonatória e falta de coordenação fonatória; o O objetivo da terapia da hiperadução é reduzir o grau excessivo de adução da PPVV, diminuindo assim a resistência laríngea e aumentando o fluxo de ar através da glote. As técnicas 18 envolvidas incluem: relaxamento corporal global e específico de cabeça e pescoço (ex. sim-não- talvez; rotação de cabeça); exercícios para reduzir a tensão glótica (ex. métodomastigatório; bocejo- sussurro; voz salmodiada, sons de apoio nasais, rotação de língua no vestíbulo, suavização do ataque vocal) e estratégias desenvolvidas para alterar o foco da produção vocal; o O enfoque terapêutico para a hipoadução é obter a adução das PPVV e alcançar a fonação nos pacientes afônicos/disfônicos. Algumas técnicas utilizadas para este fim: do Empuxo, realizada em conjunto com a fonação; investida glótica severa; ataque brusco; fonação reversa; sobrearticulação; ajuste postural de cabeça (ex.: virando a cabeça para o lado afetado para reduzir a distância entre as PPVV); uso de frequência mais alta; o Os tratamentos para as várias formas de instabilidade fonatória associadas à Disartria objetivam essencialmente uma fonação estável e clara. As técnicas de controle da respiração, como uma fonação iniciada no começo da expiração; a fonação vocálica de máxima duração; inalações frequentes e a produção de sílabas mais curtas durante a expiração foram utilizadas para incrementar a estabilidade da fonação; o A falta de coordenação fonatória afeta o início e o fim da vocalização, a produção de contrastes surdo-sonoros e a prosódia da fala. Uma técnica utilizada é o “método de acentuação”, o qual envolve, essencialmente a respiração costo-diafragmática-abdominal em conjunto com a fonação em ritmo acentuado em vários tempos; *** Existe uma imensa variedade de exercícios vocais, esses serão mais amplamente discutidos na disciplina de Voz; o Técnicas de instrumentação/biofeedback para alteração dos distúrbios laringofonatórios: “Visispeech”, “Speech Viewer”, Eletroglotografia, Eletromiografia, Videoendoscopia. “Visispeech” Eletroglotografia “Speech Viewer” o Em alguns casos, a intervenção cirúrgica (injeção de toxina botulínica; secções recorrentes do nervo laríngeo; cirurgias de arcabouço laríngeo, laringoplastia, etc.) pode ser requerida para criar um ambiente laríngeo mais apropriado para aplicação de técnicas mais convencionais. Essa estratégia é indicada somente quando todas as outras possibilidades tenham falhado. 19 (MURDOCH, 2005) TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DE RESSONÂNCIA o Configuram-se como características d função velofaríngea debilitada devido dano neurológico – hipernasalidade, emissão de ar pelo nariz durante a fala. Altera outros componentes da fala também, como o escape do fluxo de ar, o qual dificulta a manutenção das pressões intra-orais, debilitando a articulação e proporcionando o surgimento de um ajuste compensatório mal adaptado; o Os casos de deficiência velofaríngea leve o tratamento pode ser contra-indicado, com técnicas alternadas, visando o funcionamento dos demais componentes da fala. Já nas deficiências severas, esse enfoque deve ser priorizado; o As abordagens de tratamento podem variar conforme a severidade da deficiência velofaríngea. Técnicas aplicadas com o objetivo de aumentar a força e mobilidade do palato mole provavelmente são mais eficientes disártricos com deficiência velofaríngea leve, que já possuem algum grau de controle sobre a função velofarínega; o A fim de monitorar visualmente a elevação palatal durante a produção de vogais individuais pode- se utilizar lanterna e espelho angular; o A atividade palatal pode também ser aprimorada com uma massagem nessa região. O clínico massageia o palato tanto na direção antêro-posterior quanto médio-lateral, elevando o palato mole durante a produção de sons não-nasais; o Ou também, indica-se o relaxamento e a dessensibilização da musculatura velar (com o intuito de diminuir a hipertonia e o reflexo de gag) através de massagens com o dedo indicador, com pressão sobre a língua, palato mole e duro. Estímulos de 5 a 10s, 10 tentativas ou mais; o O uso de pressão, gelo, escovação ou vibração do véu também pode ser benéfico em casos de Disartria Flácida. Essas podem contribuir para um aperfeiçoamento na atividade muscular velofaríngea; o Fala com boca fechada – auxilia na percepção da hipernasalidade; o Terapia da ressonância oral – enfatiza o aumento da abertura mandibular e dos movimentos da língua, tais procedimentos podem ajudar o paciente a abrir a cavidade oral como um ressoador, reduzindo os níveis perceptivos de hipernasalidade; o Para uma resposta quantitativa instantânea e precisa da função velofaríngea emprega-se alguns instrumentos de biofeedback, monitorando-se o fluxo de ar, taxas acústicas orais/nasais, vibrações orais/nasais e informação visual do movimento velofaríngea. Algumas técnicas possíveis de serem empregadas com esse objetivo são: Endoscopia; Nasofaringoscópio; Transdutores de escala de esforço (sensor que registra o movimento do véu quando elevado, através de um osciloscópio ou gravador gráfico); Eletromiografia; Nasômetro; Aparelho de treinamento palatal em 20 forma de “U” (fornece percepção sensorial dos movimentos velares, também pode fornecer recurso visual); o A inserção de uma prótese de elevação de palato pode ser indicada quando as demais técnicas não apresentaram resultado positivo. Alguns aspectos que podem interferir no prognóstico para o ajuste do elevador palatal incluem: a severidade da deficiência velofaríngea; a respostas a outras técnicas de intervenção; motivação e cooperação; espasticidade muscular geral e palatal; reflexo de vômito; distúrbios na deglutição e uso de próteses ortodônticas; o A intervenção cirúrgica é raramente selecionada para pacientes disártricos, no entanto, algumas possibilidade são: o retalho faríngeo e a injeção de Teflon além do anel de Passavant (já aplicada em casos de disartria flácida). (MURDOCH, 2005) TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS ARTICULATÓRIOS o O tratamento efetivo dos problemas articulatórios associados á Disartria requer uma base mais ampla do que apenas um treinamento articulatório. Devem ser também consideradas as deficiências concomitantes nos subsistemas respiratório, laríngeo e velofaríngeo; o As estratégias comumente empregadas são as técnicas de fortalecimento, mobilidade e coordenação dos músculos dos OFA’s, bem como, a terapia específica para a articulação; o As alterações no tônus muscular envolvem – rigidez, espasticidade/hipertonia e forma flutuante entre tônus aumentado e diminuído. As estratégias que visam à redução da hipertonia de articuladores orais incluem a agitação mandibular, o método mastigatório e as técnicas de relaxamento progressivo; o Já para a hipotonia as estratégias adotadas devem envolver o aumento do esforço na fala; o A fim de aumentar a força muscular, utilizam-se exercícios isotônicos e isométricos para lábios, língua, palato, bochechas e mandíbula, com 5 a 10 repetições, com pausas curtas entre elas. Quanto à quantidade e a duração da resistência, essas devem ser aumentadas de acordo com a habilidade do paciente. o A fisiologia do exercício e seu objetivo final definem a seleção de um ou outro exercício. Alguns exemplos (LEMOS, 1992): - Exercícios de mastigação; - Com a ponta da língua na papila, abrir e fechar a boca; - Encher as bochechas alternadamente; - Encher os vestíbulos labiais de ar e soprar; - Emitir “u...i...u...i” (exageradamente); - Sugar a língua no palato e soltar; 21 - Rotação de língua no vestíbulo; - Emitir as vogais “a-é-ê-i-ó-ô-u” (mostrar a configuração dos OFA’s para o paciente); - Abrir a boca rapidamente e articular “ba – ba – ba”; - Emitir “KKK – KKK – KKK”; - Com a ponta da língua atrás dos incisivos superiores, fazer pequenas batidas pronunciando “t–t–t” e depois “d–d–d”; o Terapia articulatória – a abordagem de estimulação integral envolve o estímulo auditivo, visual, proprioceptivo e imitativo do som, a seleçãoapropriada dos sons alvo, a terapia de colocação fonética e exercícios de fala (enfocar o contraste entre os fonemas – Quadro 1); Quadro 1: Exemplo de pares mínimos: PILHA BILHA QUILHA BOLA MOLA COLA NUA LUA RUA PALA MALA BALA FILA FILHA FICHA CAÇA TAÇA MASSA OVO OLHO OSSO o A abordagem compensatória – nessa os padrões de movimento não devem ser ensinados, em vez disso, utiliza-se exercícios de contraste e inteligibilidade da pronúncia. A discriminação auditiva pode ser trabalhada através dos pares-mínimos (Quadro 1) e, um bom recurso para auto-avaliar a inteligibilidade de fala, é gravar a voz do paciente e solicitar que o mesmo ouça e julgue sua efetividade comunicativa; o A inteligibilidade de fala pode ser estimulada com a produção espontânea e fala encadeada; o Técnicas de biofeedback: Eletromiografia, Eletropalatografia, ultrassom, ressonância magnética (de alto custo); o Exemplos de atividades para o treino articulatório (LEMOS, 1992): (MURDOCH, 2005) Desdobramento – usam-se palavras silabadas (ou frases – nível mais complexo) até completar a palavra. Ex.: Jar.................. Ca................... Jardi............... Capim............. Jardim............ Capinzal......... Jardineiro....... Prolongamento – o paciente emite a sílaba inicial e a prolonga. Ex.: Te...lhado Pas...seio Ma...ria Co...elho Cam...po Car...ta Cas...a Repetição Rítmica – realizada através de leitura rítmica e/ou repetição de trava-línguas. 22 * Se você serra o cedro com a serra, com a serra e cedro será serrado. * Se o papa papasse papa. Se o papa papasse pão. Se o papa tudo papasse. Seria o papa-papão. * Quem compra paca cara paca cara pagará. TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS PROSÓDICOS o Em razão de contribuir significativamente para a inteligibilidade de fala, o tratamento prosódico deve ser incorporado desde os estágios iniciais da terapia para a Disartria; o A prosódia refere-se às características supra-segmentais da fala, isto é, aos padrões de ênfase, entonação e velocidade de fala; o O padrão de ênfase indica a proeminência de uma sílaba ou de uma palavra, essa é identificada acusticamente como um aumento na f0, intensidade e duração vocal e, fisiologicamente, como um aumento no esforço. Uma das estratégias para o aperfeiçoamento da ênfase em pacientes disártricos envolve a utilização de exercícios de contraste de ênfase. Caso necessário, treina-se o aumento da ênfase através do aumento de frequência, intensidade e duração vocal; o A entonação reflete essencialmente as mudanças no tom ou na f0 da vibração das PPVV, sendo consequência da ação da PPVV e da respiração. A base de seu tratamento envolve o estabelecimento e aperfeiçoamento da capacidade e do padrão do grupo respiratório. Contrastes de entonação são utilizados também; o O controle da velocidade na fala disártrica constitui o principal componente da terapia prosódica em todos os tipos de Disartria. As estratégias de treinamento podem envolver um aumento ou redução na duração total da fala, assim como, a manutenção de uma velocidade apropriada dentro de um determinado segmento. A velocidade pode, então, ser controlada por meio de testes de leitura controlada (palavras e frases são apresentadas através de cartões). Outra estratégia é a associação do controle da velocidade a outro comportamento, como o ato de tremer as mãos (esse deve ser retirado lentamente, à medida que o paciente comece a falar mais lentamente; o Técnicas de “pistas rítmicas” – o clínico aponta para as palavras de uma passagem de leitura de forma ritmada, passando a determinar as palavras proeminentes que requerem mais tempo e pausas apropriadas; o Biofeedback para os distúrbios prosódicos – resposta oscilográfica, Speech Viewer, Resposta auditiva com atraso (DAF – Delayed auditory feedback). (MURDOCH, 2005) 23 o Portanto, neste tipo de enfoque devo trabalhar: - Marcadores básicos da entonação e melodia; - Marcação do conteúdo afetivo/emocional da fala (euforia, tristeza, surpresa...); o Exemplos de atividades: - Discriminação de altura/freqüência (terapeuta produz, paciente discrimina, em outro momento, paciente produz, terapeuta discrimina: /a/ agudo /u/ grave /i/ agudo /i/ grave /PA/ agudo /PA/ grave /LA/ agudo /LA/ grave - Abaixo estão destacadas as sílabas tônicas de cada palavra, vamos treinar? Café Cafeína Casa Casar Caminho Caminhada Cascão Casca - Complete as frases e em seguida marque as pausas necessárias: Estou de férias viajei para . Ontem tive prova de matemática a prova estava muito . Meu pássaro se chama ele canta muito pela manhã. Olá te encontro amanhã ou na . - Leia as seguintes frases com a entoação adequada para cada situação: Não tens pão. (Afirmação) Não tens pão? (Questão) Vai já buscar pão! (Ordem) Mas não tens pão… (Tristeza) Não tens pão!!! (Felicidade) Não tens pão! (Surpresa) Não tens pão…! (Ira) Não tens pão! (Susto) - Cantar na escala; - Variar a intensidade durante o prolongamento das fricativas /s/ e /f/. 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BEHLAU, M. et ai. Disfonias neurológicas. In: BEHLAU, M. Voz: O livro do especialista. Vol. ll. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. p.111-285. 2. BRABO, N.C.; CERA, M. L.; BARRETO, S.S.; ORTIZ, K.Z. Disartria na Doença de Wilson: análise de dois casos em fases distintas. 3. Documento oficial 03/2003 do Comitê de Motricidade Orofacial (MO) da SBFa. Disponível em: <http://www.sbfa.org.br>. 4. DARLEY, F.L.; ARONSON, A.E.; BROWN, J.R. Differential diagnostic patterns of dysarthria. J Speech Hear Res. 1969;12(2):246-69. 5. FRACASSI, S. A. et al. Adaptação para a língua portuguesa e aplicação de protocolo de avaliação das disartrias de origem central em pacientes com Doença de Parkinson. Rev. CEFAC, 13(6):1056-1065, 2011. 6. JAKUBOVICZ, R. 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