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Livro Didático Digital Uroanálise e Líquidos Corpóreos Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria CAROLINA GALVÃO SARZEDAS AUTORIA Carolina Galvão Sarzedas Olá! Sou formada em Ciências Biológicas, com mestrado e doutorado em Ciências. Tenho experiência técnico-profissional na área de bioquímica e biologia molecular há mais de 18 anos. Minha formação acadêmica começou na UFRJ, onde me apaixonei pela ciência e pela educação. Tenho experiência tanto na área de orientação acadêmica quanto na produção de materiais didáticos para grandes empresas de educação. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Infecções do Trato Urinário (ITU) .......................................................... 12 Sintomas ................................................................................................................................................ 13 Distúrbios Miccionais ................................................................................................. 13 Alterações das Características da Urina ..................................................... 15 Dor ........................................................................................................................................... 15 Febre ..................................................................................................................................... 16 Genitopatias ..................................................................................................................... 16 Hipertensão Arterial .................................................................................................... 16 Tumores .............................................................................................................................. 17 Infecções Mais Comuns ............................................................................................................. 17 Classificação ....................................................................................................................................... 19 Uretrite ................................................................................................................................. 19 Cistite ................................................................................................................................... 20 Pielonefrite Aguda ...................................................................................................... 20 Doenças Renais ............................................................................................23 Doenças Glomerulares ...............................................................................................................23 Doenças Tubulares .........................................................................................................................26 Doenças Intersticiais .....................................................................................................................27 Marcadores Proteicos da Função Renal ............................................ 31 Ureia .......................................................................................................................................................... 31 Valores Normais ............................................................................................................32 Determinação Laboratorial ...................................................................................32 Creatinina ..............................................................................................................................................32 Valores Normais ............................................................................................................33 Determinação Laboratorial ...................................................................................33 Depuração Endógena da Creatinina (DEC) ..................................................................34 Albuminúria..........................................................................................................................................34 Determinação Laboratorial ...................................................................................35 Depuração da Inulina e Quelatos Marcados ...............................................................35 Uso de Radioisótopos .............................................................................................. 36 Proteinúria ............................................................................................................................................ 36 Valores Normais ............................................................................................................37 Determinação Laboratorial ...................................................................................37 Dismorfismo Eritrocitário ............................................................................................................37 Determinação Laboratorial ...................................................................................37 Lipocalina Associada à Gelatinase de Neutrófilos- NGAL ............................... 38 Determinação Laboratorial .................................................................................. 38 Cistatina C ............................................................................................................................................ 38 Molécula-1 de Lesão Renal (KIM-1) ................................................................................... 39 Interleucina 18 (IL-18) ................................................................................................ 39 Análise Fecal ................................................................................................. 41 Consistência Fecal ..........................................................................................................................42 Odor ...........................................................................................................................................................43 Forma .......................................................................................................................................................43 Massa ou Quantidade ..................................................................................................................43 Exames de Fezes ............................................................................................................................43Tipos de Exame .............................................................................................................44 Métodos de Análise ....................................................................................................45 9 UNIDADE 03 Uroanálise e Líquidos Corpóreos 10 INTRODUÇÃO Você sabia que as doenças renais são alterações que afetam tanto a estrutura quanto a função renal? E que possuem múltiplas causas e fatores de risco? São doenças que muitas vezes possuem uma evolução assintomática, só sendo diagnosticada quando as funções renais já estão muito afetadas. Muitos metabólitos, como ureia e creatinina, são usados como biomarcadores das funções renais, tendo suas concentrações no organismo medidas para diagnóstico e controle de tratamento no caso de doenças no trato urinário. A análise da urina e das fezes são os exames de rotina mais solicitados por serem pouco invasivos e fornecerem uma gama de informações acerca do funcionamento do organismo. Entendeu como é importante saber mais sobre funções renais? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Uroanálise e Líquidos Corpóreos 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo àUnidade 3. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Apontar as infecções mais comuns do trato urinário. 2. Identificar as principais doenças renais, seus sintomas e diagnósticos. 3. Definir a importância dos biomarcadores no diagnóstico de doenças renais. 4. Explicar as principais doenças diagnosticadas por exames de fezes. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 12 Infecções do Trato Urinário (ITU) OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz de entender um pouco mais sobre as ITU, sua ocorrência, diagnóstico e tratamento. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A vida humana depende do bom funcionamento dos rins, pois sua principal função é filtrar todo o sangue para remover os resíduos “indesejáveis” e tóxicos. Com isso, podemos supor que os rins estão expostos, de maneira constante, a substâncias nocivas ao organismo. As infecções do trato urinário (ITU) estão entre os quatro tipos de infecções hospitalares mais frequentes, tendo como característica a invasão de microrganismos em qualquer tecido da via urinária. As ITU, também conhecidas como infecção urinária, são mais comuns na bexiga e na uretra. Figura 1 – Representação do aparelho urinário Fonte: Freepík Uroanálise e Líquidos Corpóreos 13 A bactéria Escherichia coli (E. coli) é responsável pela maior parte dos casos de infecção urinária. O local de ocorrência da infecção vai influenciar diretamente no tipo, nas causas e nos sintomas. EXEMPLO Cistite (infecção na bexiga), uretrite (infecção na uretra), pielonefrite (infecção nos rins) e infecção nos ureteres. Sintomas Podemos dizer que as infecções de ordem urológica são compostas por sinais e sintomas que podem ser agrupados em sete “síndromes”: distúrbios miccionais, alterações nas características da urina, dor, febre, genitopatias, hipertensão arterial e tumores. Distúrbios Miccionais Precisam ser muito estudados e caracterizados antes do diagnóstico. Disúria: dor ao urinar. Pode ser causada por infecção urinária, processos obstrutivos ou inflamatórios na uretra e /ou na bexiga. Se a dor for ao início da micção, pode ser indício de acometimento uretral, se for ao final (estrangúria), sua origem é vesical. Polaciúria: micções com intervalos menores do que o habitual, porém associada a volumes menores do que o habitual também. Anúria: ausência total de urina. A verdadeira decorre de sofrimento pré-renal ou renal. Oligúria: diminuição da diurese, podendo ser consequência da menor ingestão de líquido, da formação de edemas, de estados hipovolêmicos ou da intoxicação endógena. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 14 NOTA: O termo anúria obstrutiva é empregado em casos em que a urina está impossibilitada de atingir a bexiga, sendo necessário remover o que está causando a obstrução ou fazer uma derivação do fluxo urinário acima do local obstruído. Poliúria: o aumento da diurese ocorre em diabete mellitus, diminuição do ADH, mobilização de edemas ou até por desobstrução aguda das vias excretoras. Esforço: o processo de micção é espontâneo e confortável. A necessidade de esforço reflete uma possível causa inflamatória, obstrutiva, infecciosa ou neurogênica. Alteração do jato: geralmente acompanha o aumento do esforço miccional. Urgência: desejo súbito e urgente de urinar. Retenção urinária: incapacidade de eliminar a urina acumulada na bexiga. EXEMPLO Em crianças, a retenção pode ser indício de problemas neurológicos, válvula de uretra posterior (meninos) ou ureterocele (meninas). Em adultos do sexo masculino pode indicar problemas uretroprostáticos, em adultos do sexo feminino pode indicar doenças neurológicas ou inflamatórias/ infecciosas. O uso de descongestionantes nasais, antigripais ou dilatadores de pupila devem ser questionados. Nictúria ou noctúria: micção noturna. Um adulto normal não deve acordar mais de duas vezes por noite para urinar. É importante observar se a nictúria vem acompanhada de polaciúria diurna. Incontinência: a perda involuntária de urina pode ser contínua ou intermitente, relacionada ou não com o esforço abdominal. Na maior parte dos casos, é consequência da incompetência esfincteriana, mas também pode ter relação com a retenção por transbordamento. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 15 Pneumatúria: emissão de gases pelo trato urinário, principalmente ao urinar. Pode ocorrer em diabéticos e em casos de comunicações anormais entre trato digestivo e urinário. Enurese: a micção ocorre de maneira involuntária e inconsciente, mas não pode ser confundida com incontinência. Até 3 ou 4 anos de idade, é considerada normal. Pode ser diurna ou noturna. Paraurese: incapacidade de urinar em ambientes estranhos ou na frente de pessoas. Alterações das Características da Urina A urina tem cor amarelo-citrina, odor característico e aspecto límpido. Em algumas enfermidades, estas propriedades podem ser modificadas. Coloração: podem alterar a cor da urina medicamentos como ampicilina, rifampicina e antissépticos urinários e produtos do metabolismo normal, como pigmentos biliares. Se a urina estiver muito concentrada pode induzir a erros de interpretação. Hematúrias (sangue na urina) de origem renal (glomerulonefrite difusa aguda) são predominantes na infância, enquanto as de causa urológica (cálculos e tumores), no adulto. Turbidez: a precipitação de cristais, em decorrência da ação de organismos desdobradores de ureia, pode deixar a urina turva, mesmo em uma urina normal. Por isso, após sua emissão, a urina deve ser analisada de imediato. Espuma: se estiver espumando em excesso, pode-se suspeitar de proteinúria, que pode ser consequência de alta ingestão de proteínas na dieta ou perdas decorrentes de doenças nefrológicas. Dor A dor no trato geniturinário está associada à inflamação ou obstrução, e costuma ser muito intensa. A dor pode ser intermitente (decorrente de processo obstrutivo) ou contínua (decorrente de inflamação). E ainda precisa ser classificada quanto à localização, irradiação e à fatores desencadeantes de melhora ou piora. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 16 Febre A febre geralmente é intensa, se inicia subitamente e pode vir acompanhada de tremores e calafrios. Ocorre em processos infecciosos que estejam acometendo qualquer parte do sistema geniturinário, como por exemplo, em prostatite, epididimite e pielonefrite. Quando há suspeita de que a febre seja por causa de uma infecção urinária, é recomendado que a coleta de urina seja realizada antes de se iniciar o uso de algum medicamento, pois quando a infecção vem associada à obstruçãodo trato urinário, pode refletir bacteremia, de maneira a evoluir para um quadro séptico. NOTA: Na infância, a febre pode refletir o acometimento do trato urinário superior e deve receber atenção especial pelo risco imediato de bacteremia e de choque, ou pelo tardio de cicatrizes renais. Genitopatias As más formações podem ocorrem em ambos os sexos, porém são mais frequentes em meninos, sendo as mais comuns as hipospádias e a fimose. As lesões genitais em adultos são consequências da transmissão sexual, sendo importante um exame clínico acompanhado de um levantamento sobre os hábitos do paciente e de seus parceiros, assim como o tempo de aparecimento e de evolução da lesão. Hipertensão Arterial Geralmente, atinge os portadores de hipertensão renovascular e de feocromocitoma. A doença renovascular é a elevação da pressão arterial decorrente de oclusão parcial ou completa de uma ou mais artérias renais ou de seus ramos. É responsável por menos de 2% de todos os casos de Uroanálise e Líquidos Corpóreos 17 hipertensão, e é uma causa comum de hipertensão curável. Em muitos casos, é assintomática. A feocromocitoma está localizada nas adrenais. É um tumor secretor de catecolaminas das células cromafins, causando hipertensão paroxística ou persistente. Seu diagnóstico se dá através da medida dos produtos das catecolaminas no sangue ou na urina. IMPORTANTE: Célula cromafim é uma célula neuroendócrina encontrada na medula da glândula suprarrenal e em outros gânglios do sistema nervoso simpático. Tumores A presença de tumores tem grande importância na clínica médica, sejam eles abdominais ou genitais. Os mais frequentes em adultos são os cânceres renais, hidronefrose e os cistos. Infecções Mais Comuns Como já citado anteriormente, as ITU são divididas em infecções do trato superior e inferior. As ITU superiores abrangem os rins (pielonefrite), e as ITU inferiores incluem a bexiga (cistite), uretra (uretrite, geralmente causada por DST) e próstata (prostatite, causada por bactéria e por DST). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 18 Figura 2 – Exemplo das principais ITU Fonte: MD Saúde. As bactérias aeróbicas gram-negativas entéricas são as maiores causadoras de cistites e pielonefrites, mas também podemos encontrar patógenos não bacterianos, como fungos, micobactérias, vírus e parasitas, que geralmente afetam pacientes imunodeprimidos com diabetes, obstrução ou anormalidades estruturais do trato urinário, ou que se submeteram de maneira recente a cirurgias do trato urinário. As ITU podem ser classificadas em complicadas e não complicadas. Complicadas: ocorrem independente de sexo e idade. É considerada complicada quando a paciente está grávida, é criança ou tem anormalidade estrutural ou obstrução do aparelho urinário, ou algum outro problema como diabetes não controlado, doença renal crônica ou é imunossuprimido, e ainda, se passou por alguma cirurgia recente do aparelho urinário. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 19 Não complicadas: a cistite e a pielonefrite ocorrem em mulheres adultas na pré-menopausa, que não apresentem anormalidade estrutural ou funcional do trato urinário e que não estejam grávidas e nem possuam nenhuma comorbidade que possa agravar o quadro. SAIBA MAIS: Alguns especialistas consideram as ITU problemas simples, mesmo que afetem pacientes diabéticos ou mulheres na pós-menopausa. As ITU raras, porém de tratamento simples, acometem homens entre 15 e 50 anos, que tem por hábito fazer sexo anal sem preservativo, ou naqueles em que o pênis não foi circuncisado. Classificação Uretrite É uma infecção que ocorre na uretra e pode ser causada por bactérias, vírus, protozoários ou fungos. As causas mais comuns em ambos os sexos são os patógenos sexualmente transmissíveis como Chlamydia trachomatis (clamídia), Neisseria gonorrhoeae (gonorreia), Trichomonas vaginalis (tricomoníase) e herpes simples. O principal sintoma em mulheres é a disúria, e, em homens, a secreção uretral, que pode se purulenta, mucosa ou esbranquiçada. Figura 3 – À esquerda, uma próstata normal; à direita, uma próstata com uretrite Fonte: Prostaat. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 20 Cistite É a infecção que acomete a bexiga, muito comum em mulheres e geralmente é precedia por relação sexual. Não é complicada quando em mulheres. Em homens, pode ser resultado de infecção ascendente da uretra ou próstata ou é secundária à instrumentação uretral. É considerada complicada. A prostatite bacteriana crônica costuma ser a causa mais comum de cistite reincidente. O início da cistite se dá de modo súbito, com polaciúria, urgência e ardor, ou com micção em pequenos volumes e dolorosa. São comuns, ainda, noctúria com dor suprapúbica e dor na lombar inferior. Figura 4 – Bexiga normal e bexiga com cistite Fonte: Educa Mais Brasil (2019). Pielonefrite Aguda A pielonefrite aguda é uma infecção do parênquima renal. Em 95% dos casos, a causa é a ascensão das bactérias pelo trato urinário e cerca de 20% das bacteremias adquiridas em mulheres é consequência da pielonefrite. Em homens com o trato urinário normal, a pielonefrite é incomum. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 21 Em homens, a pielonefrite ocorre devido a algum defeito funcional ou anatômico, enquanto na maioria das mulheres com a infecção, estes defeitos não são apresentados. Os sintomas da pielonefrite aguda e da cistite são os mesmos; contudo, na pielonefrite, os sintomas incluem vômitos, náuseas, calafrios, febre e dor no flanco. O lado renal infectado pode estar dolorido e, em algumas vezes, é possível ser palpado. Figura 5 – À esquerda, a representação de um rim saudável; à direita, um rim com pielonefrite Fonte: Deposit Photos. NOTA: Todos os casos apresentados anteriormente são diagnosticados por meio de exame de urina, e em alguns casos, com o uso de urocultura. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 22 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Vamos resumir os pontos mais importantes. As ITU podem ser agrupadas em 7 síndromes: distúrbios miccionais (disúria, polaciúria, anúria, oligúria, poliúria, esforço, alteração do jato, urgência, retenção urinária, nictúria, incontinência, pneumatúria, enurese e paraurese), alterações nas características da urina (coloração, turbidez e espuma), dor (associada à inflamação ou obstrução, e costuma ser muito intensa), febre (intensa, se inicia subitamente e pode vir acompanhada de tremores e calafrios), genitopatias (lesões genitais; em adultos são consequências de transmissão sexual), hipertensão arterial (atinge os portadores de hipertensão renovascular e de feocromocitoma) e tumores (os mais frequentes em adultos são os cânceres renais, hidronefrosee e os cistos). Dentre as infecções mais comuns temos as superiores (abrangem os rins) e as inferiores (incluem bexiga, uretra e próstata), e podem ser classificadas em complicadas e não complicadas. Exemplos de ITU mais comuns: uretrite (ocorre na uretra), cistite (ocorre na bexiga) e pielonefrite (infecção do parênquima renal). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 23 Doenças Renais OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá identificar e tratar as doenças renais. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Vimos anteriormente que os rins têm como função principal a filtração do sangue para a remoção de substâncias nocivas do organismo. Sendo um lugar em contato direto com as toxinas, qualquer doença no organismo pode prejudicar sua função, gerando anormalidades urinárias. A doença renal pode ser classificada como glomerular, tubular ou intersticial, dependendo da área do rim afetada. As mais comuns serão descritas a seguir. Doenças Glomerulares A maioria das doenças glomerulares têm base imunológica, além de serem causadas como consequência da exposição a produtos tóxicos que afetam os túbulos, síndrome nefrótica, entre outros.Glomerunefrite: é um processo inflamatório que está associado com a presença de proteínas, cilindros e sangue na urina. Pode ser de vários tipos diferentes e sua condição pode evoluir de glomerulonefrite crônica para síndrome nefrótica e daí para insuficiência renal. Glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica: ocorre em crianças e jovens adultos e tem como característica o aparecimento rápido de sintomas de danos à membrana glomerular, entre eles: hipertensão arterial, fadiga, febre, dor em torno dos olhos, hematúria e oligúria, seguidos por infecções respiratórias. No exame de urina detectam-se proteinúria, oligúria, cilindros hialinos, granulares e hemáticos, hematúria, glóbulos brancos e hemácias disformes. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP): possui prognóstico pobre, porém é a forma mais grave da doença, podendo Uroanálise e Líquidos Corpóreos 24 evoluir para insuficiência renal. Seu diagnóstico laboratorial assemelha- se ao da glomerulonefrite, entretanto, com o agravamento da doença, ocorre diminuição da taxa de filtração glomerular com a consequente elevação dos níveis proteicos. Síndrome de Goodpasture: doença autoimune caracterizada pela rápida destruição dos rins e hemorragia dos pulmões. Ocorre alterações morfológicas dos glomérulos. É desencadeada quando o próprio sistema imune ataca o antígeno Goodpasture encontrado no rim e no pulmão. Os sintomas pulmonares são hemoptise, dispneia e hematúria. Na urina são detectados proteinúria, hematúria e cilindros hemáticos que podem progredir para glomerulonefrite crônica e insuficiência renal. Granulomatose de Wegener: também é uma doença autoimune, com sintomas semelhantes à síndrome de Goodpasture. Caracteriza-se pela inflamação dos vasos sanguíneos do rim e do sistema respiratório, produzindo granulomas. Glomerulonefrite membranosa: tem como principal característica o espessamento da membrana basal glomerular, havendo tendência a trombose e síndrome nefrótica. Está associada à hepatite B, neoplasias, sífilis secundária, lúpus eritematoso sistêmicos e tratamentos com ouro e mercúrio. O exame de urina tem-se elevada proteinúria e hematúria. Glomerulonefrite crônica: acontece de acordo com a quantidade e a duração de danos ocorridos ao glomérulo. Alguns sintomas incluem oligúria, edema, anemia, fadiga e hipertensão arterial. Os exames laboratoriais apresentam muitas variedades de cilindros, proteinúria, glicosúria e hematúria. Síndrome nefrótica: em sua fase aguda pode ocorrer complicações circulatórias e choques que reduzem a pressão arterial e o fluxo sanguíneo para o rim, podendo evoluir para a insuficiência renal crônica. Tem como quadro baixos níveis de albumina, altos níveis de lipídeos, intensa proteinúria e edema. Os exames indicam células epiteliais tubulares renais, lipídeos na urina, intensa proteinúria, cilindros epiteliais, graxos, céreos e hematúria microscópica. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 25 Glomerulosclerose segmentar focal: grande parte dos néfrons permanecem normais, comprometendo apenas algumas partes do glomérulo. Associa-se ao abuso de analgésicos, heroína e em portadores de HIV. Os sintomas são semelhantes aos da síndrome nefrótica, com alterações mínimas nos podócitos lesados. No exame encontra-se hematúria e proteinúria. SAIBA MAIS: Os podócitos são células do epitélio renal responsáveis por formar um importante componente da barreira de filtração glomerular, restringindo a passagem de proteínas do sangue para a urina. E ainda contribuem para a seletividade de tamanho e mantêm a superfície de filtração massiva. Glomerulonefrite membranoproliferativa – GNMP: pode ser diferenciado em tipo 1 e 2. Tipo 1: apresenta espessamento das paredes capilares causado pelo aumento da celularidade subendotelial do mesângio (área intersticial da cápsula de Bowman). Tipo 2: apresenta densos depósitos na membrana basal do glomérulo. Diagnosticado mais comumente em crianças, não apresentando bom prognóstico. Os exames normalmente apresentam proteinúria, hematúria e diminuição dos níveis de complemento no sangue, e ainda podem estar relacionadas com doenças autoimunes, infecções e neoplasias. Síndrome de Alport: acomete a membrana basal glomerular. É uma doença hereditária em que os homens são mais afetados do que as mulheres. Os sintomas variam de sintomas leves a doenças renais graves. Seus portadores podem apresentar hematúria e anormalidades na audição e na visão. Nefropatia por imunoglobulina (NIgA): é uma doença renal comum causada por depósitos de imunoglobulina que provocam inflamações e lesões nos glomérulos renais, com progressão ao longo dos anos. Os doentes apresentam níveis séricos aumentados de IgA como resultado da infecção de mucosas. Normalmente, acomete crianças e adultos jovens. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 26 Não tem cura, porém possui tratamento preventivo contra insuficiência renal. O paciente pode permanecer assintomático por muito tempo e apresentar hematúria macroscópica. Doença de lesão mínima (necrose lipídica): tem como característica causar poucas alterações celulares no glomérulo, porém ocorre aumento da filtração de proteínas porque os podócitos estão menos organizados. O prognóstico geralmente é bom. Normalmente ocorre em crianças. Apresentam edema, proteinúria intensa e hematúria. Nefropatia diabética: causa mais comum de doença renal terminal. Níveis de glicemia mal controlados podem estar associados à deposição de proteínas glicosiladas que causam danos aos glomérulos. A progressão da doença renal pode ser diminuída com controle da hipertensão arterial e cuidados na dieta. Doenças Tubulares As doenças tubulares apresentam-se de duas formas: às que afetam diretamente os túbulos renais e às que afetam os túbulos renais de maneira indireta, por uma causa hereditária ou um distúrbio metabólico. A seguir conheça as principais doenças tubulares. Necrose tubular aguda (NTA): condição que mata as células tubulares. Uma vez removida a causa da NTA, as células tubulares se recuperam. NOTA: As células tubulares reabsorvem 99% da água e concentram os sais e os metabólitos enquanto transportam a urina para os ureteres. Glicosúria renal: é resultado de um defeito adquirido ou hereditário isolado do transporte da glicose, na qual ocorre a presença de glicose na urina sem haver hiperglicemia. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 27 Diabetes insipidus nefrogênico: os túbulos renais não respondem ao ADH, sendo incapazes de reabsorverem a água filtrada do organismo. Com isso, os rins acabam produzindo grande volume de urina diluída. Geralmente é hereditário, porém pode ser causado por medicamentos ou distúrbios que afetem os rins. Síndrome de Falconi: é um distúrbio raro que resulta em quantidades excessivas de bicarbonato, fosfatos, glicose, potássio, ácido úrico e aminoácidos sendo excretados na urina. Sua causa pode ser hereditária ou por exposição a certos medicamentos, como antirretrovirais e quimioterápicos. SAIBA MAIS: Outras doenças tubulares: • Síndrome de Bartter. • Síndrome de Gitelman. • Cistinúria. • Doença de Hartnup. • Raquitismo hipofosfatêmico. • Síndrome de Liddle. • Pseudo-hipoaldosteronismo tipo I. Doenças Intersticiais São doenças que têm como característica afetar o interstício e os túbulos renais (por causa da sua proximidade), sendo chamadas de doenças tubulointersticiais. É frequente encontrarmos condições infecciosas e inflamatórias, sendo que as ITU, que podem envolver tanto o trato urinário superior quanto o inferior, são as mais comuns. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 28 Uma condição facilmente encontrada é a cistite (infecção da bexiga), que pode progredir para uma ITU superior e mais grave caso não seja tratada. Tem como sintomas o aumento na frequência da urina e ardor. Quando analisada em laboratório, esta urina apresentaleucócitos e bactérias, geralmente acompanhadas de hematúria e proteinúria, podendo ainda ter seu pH modificado, diminuído se a infecção for bacteriana ou aumentado se associado à infecção por fungos (candidíase). A seguir listaremos algumas doenças intersticiais mais encontradas. Litíase renal ou cálculos renais: os cálculos podem se formar no cálice da pelve renal, nos ureteres e na bexiga, podendo variar de forma e tamanho, causando dor no paciente que pode refletir da parte inferior das costas às pernas. Os menores podem ser eliminados pela urina, enquanto os maiores podem causar obstrução urinária ao paciente. Atualmente, para a remoção dos cálculos usa-se litotripsia, para que posteriormente possam ser eliminados na urina ou em algum procedimento cirúrgico. DEFINIÇÃO: Litotripsia é um procedimento no qual ondas de choque de alta energia quebram pedras na parte superior do trato urinário em pedaços menores. O pH, a estase urinária (urina estagnada) e a concentração química são os fatores que levam à formação tanto de cristais na urina quanto de cálculos. A urina do paciente com suspeita de cálculos ou em processo de eliminação é caracterizada por hematúria microscópica ou irritação dos tecidos causada pelo deslocamento do cálculo. Pielonefrite aguda: é a infecção do trato urinário superior. Pode ser aguda ou crônica e ocorrer refluxo de urina da bexiga para os ureteres e cálculos renais. Pode apresentar frequência urinária diminuída, ardor e dor na região baixa das costas. Os resultados do exame de urina (realiza-se cultura de urina e hemocultura) são semelhantes aos da cistite, sendo acrescida a presença de cilindros leucocitários. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 29 Pielonefrite crônica: é considerada a forma mais grave das pielonefrites, com resultados permanentes nos túbulos renais, podendo progredir para insuficiência renal crônica. No início, seus sintomas são semelhantes à forma aguda, o resultado dos exames também é semelhante, mas com a progressão da doença aparecem cilindros granulosos, céreos e largos; diminui a concentração renal e ocorre aumento da hematúria e proteinúria. Nefrite intersticial aguda: é uma inflamação do interstício renal seguida por inflamação dos túbulos renais. Rapidamente aparecem sintomas relacionados à disfunção renal, febre, erupções cutâneas, e ainda, diminuição na capacidade de concentração renal e possível diminuição da taxa de filtração glomerular, oligúria e edema. O diagnóstico pode ser confirmado através da realização da coloração diferencial do aumento de eosinófilos. Os exames apresentam resultados semelhantes aos da pielonefrite, sendo que na nefrite intersticial aguda não há bactérias. Insuficiência renal: resulta de uma doença original, podendo ser aguda ou crônica. Sua fase terminal caracteriza-se por grave diminuição da taxa de filtração glomerular, desequilíbrio eletrolítico, falha na capacidade de concentração renal, elevação contínua do nitrogênio da ureia e da creatinina sérica, entre outros. Os sintomas e resultados dos exames variam enormemente, e por isso podemos dizer que são o agravamento e acentuamento de todas as patologias citadas até aqui. SAIBA MAIS: Para mais informações acerca das patologias renais, acesse o Manual MSD. RESUMINDO: E então? Vamos fazer uma pequena revisão sobre as doenças renais? As doenças renais podem ser classificadas como glomerular, tubular ou intersticial, dependendo da área do rim afetada. Uroanálise e Líquidos Corpóreos https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/infec%C3%A7%C3%B5es-do-trato-urin%C3%A1rio-itus/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-do-trato-urin%C3%A1rio-itus https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-geniturin%C3%A1rios/infec%C3%A7%C3%B5es-do-trato-urin%C3%A1rio-itus/infec%C3%A7%C3%B5es-bacterianas-do-trato-urin%C3%A1rio-itus 30 As doenças glomerulares são: glomerulonefrite, glomerulonefrite aguda pós-estreptocócica, glomerulonefrite rapidamente progressiva, síndrome de Goodpasture, granulomatose de Wegener, glomerulonefrite membranosa, glomerulonefrite crônica, síndrome nefrótica, glomerulosclerose segmentar focal, glomerulonefrite membranoproliferativa, síndrome de Alport, nefropatia por imunoglobulina, doença de lesão mínima, nefropatia diabética. As principais doenças tubulares são: necrose tubular aguda, glicosúria renal, Diabetes Insipidus Nefrogênico, síndrome de Falconi, síndrome de Bartter, síndrome de Gitelman, cistinúria, doença de Hartnup, raquitismo hipofosfatêmico, síndrome de Liddle e Pseudo- hipoaldosteronismo tipo I. As principais doenças intersticiais são: litíase renal ou cálculos renais, pielonefrite aguda, pielonefrite crônica, nefrite intersticial aguda e insuficiência renal. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 31 Marcadores Proteicos da Função Renal OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá definir a importância dos biomarcadores no diagnóstico de doenças renais. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Um correto e rápido trabalho laboratorial é crucial no processo de diagnóstico de doenças renais, uma vez que grande parte só se manifesta quando mais de 50% da função renal já está comprometida. Um dos principais alvos de pesquisas na área de sistema renal têm sido o desenvolvimento de novos biomarcadores para que um diagnóstico precoce seja possível, com estratificação dos riscos e prognóstico de lesão renal. A seguir descreveremos alguns biomarcadores muito utilizados atualmente no diagnóstico de doenças renais. Ureia Para predizer a filtração glomerular, medir a ureia pode não ser uma boa opção, até porque outros fatores podem alterar os valores séricos da ureia, sem necessariamente significar alguma relação com a função renal. EXEMPLO Como exemplo, podemos citar a taxa de produção hepática, desidratação, trauma, dieta, insuficiência cardíaca congestiva, infecções, entre outros. Se compararmos os níveis plasmáticos de ureia e creatinina decorrentes de insuficiência renal, podemos dizer que alterações na ureia são mais precoces para o diagnóstico. Contudo, a principal utilidade clínica da ureia é ser usada para determinar a relação ureia–creatinina sérica, pois quedas abruptas na taxa de filtração glomerular (TFG) podem Uroanálise e Líquidos Corpóreos 32 indicar diferentes estados patológicos, assim como diferenciar azotemia pré e pós-renal. DEFINIÇÃO: Azotemia: alteração bioquímica que se caracteriza pelas altas concentrações no sangue, plasma ou no soro de produtos nitrogenados, como creatinina, ureia, proteína e ácido úrico, de maneira a interferir na FG podendo levar a danos renais. Valores Normais Quadro 1 – Relação ureia–creatinina CONDIÇÕES NORMAIS 30 Em casos de desidratação, insuficiência cardíaca congestiva, uso inadequado de diuréticos intravenosos ou estados febris prolongados. > 40-50 Fonte: Elaborado pela autora (2020). Determinação Laboratorial Técnicas enzimáticas colorimétricas: uso da enzima urease, que degrada a ureia em íons, amônio e CO2. O amônio é quantificado através de um processo analítico e há monitoramento da variação cromática para que os valores de ureia sejam determinados. Métodos de química seca: análise química que não necessita de água. Tem por objetivo aumentar a eficiência e reduzir a quantidade de amostra usada. Creatinina Baseado na produção e liberação de creatinina pelo músculo, podemos sugerir que esta relação se mantém em um equilíbrio constante. Lembrando que a produção de creatinina é proporcional ao consumo de Uroanálise e Líquidos Corpóreos 33 carne vermelha e à massa muscular do indivíduo, e tem como variáveis, o sexo, a idade e a etnia, sendo que algumas condições que levam a perda de massa muscular também precisam ser consideradas. Os valores aumentados de creatinina ocorrem na desidratação,hipertireoidismo, insuficiência cardíaca congestiva, necrose tubular aguda, choque, glomerulonefrite e doença renal policística, enquanto valores reduzidos são observados em quadros de leucemia, paralisia, anemia e distrofia muscular. Valores Normais O valor adotado pela maioria dos laboratórios é de 1,3 mg/dl, porém quando um valor acima é detectado, já está ocorrendo uma diminuição em torno de 50-60% da TFG. Em mulheres e idosos, devido à menor quantidade de massa muscular, mesmo com TFG diminuída, é possível observar valores dentro dos intervalos de referência, mostrando que há um descompasso entre o real estado funcional do indivíduo e a detecção de níveis alterados de creatinina. Estes fatos apresentados traduzem a dificuldade de diagnóstico e tratamento através da medida da creatinina. Determinação Laboratorial Reação de Jaffé: metodologia mais utilizada. A creatinina, em meio alcalino, reage com picrato formando um complexo de cor vermelho- alaranjado. Outros cromógenos presentes no plasma podem interferir na reação. Espectrometria de massa por diluição isotópica (ID-MS): método desenvolvido para diminuir os erros de calibração. O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia oferece uma referência da quantidade exata de creatinina em material humano. Com o uso desta padronização, foram desenvolvidas novas equações para a estimativa da TFG empregando a creatinina calibrada no cálculo. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 34 Depuração Endógena da Creatinina (DEC) Também conhecida por clearence de creatinina, é capaz de monitorar a progressão da doença renal. Utiliza urina de 24 horas e é uma opção mais fidedigna se comparada às medidas de níveis de creatinina plasmática. EXPLICANDO MELHOR: Teste de depuração: mede a taxa em que os rins conseguem remover uma substância filtrável do sangue. A DEC tem como limitação a coleta inadequada de urina, assim como o aumento da depuração extrarrenal da creatinina na doença renal crônica avançada, ambos podendo levar a diagnósticos equivocados. Albuminúria Assim como em doenças renais, a albumina é o principal componente da proteína urinária. Recomen- da-se a quantificação de albuminúria ao invés de pro- teína total. Dados recentes mostram uma associação entre o desenvolvimento de doença renal crônica e a quantidade de albumina na urina, recomendando que a classificação da doença renal seja feita por nível de albuminúria e TFG. DEFINIÇÃO: A albuminúria pode ser definida como a presença de 30 a 300mg de albumina em amostra de urina de 24 horas, ou taxa de excreção de 20 a 200mg de albumina por minuto, ou ainda, 30 a 300mg de albumina por grama de creatinina em amostra isolada. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 35 O acompanhamento de pacientes com diabetes mellitus, hipertensos ou com pré-eclâmpsia tem sido realizado através da medida da albumina urinária. Sua elevação deve ser confirmada em pelo menos 2 de 3 coletas dentro de um período de 3 a 6 meses. Toda essa preocupação se fundamenta no fato de que uma intervenção clínica precoce pode preservar a capacidade de filtração glomerular. A interpretação dos resultados deve ser feita com cuidado, uma vez que algumas situações clínicas podem levar à albuminúria transitória. EXEMPLO Um exemplo de albuminúria transitória seria hiperglicemia, obesidade mórbida, atividade física intensa, febre, processo infeccioso urinário e insuficiência cardíaca. Determinação Laboratorial A nefelometria é um método analítico de laboratório que se baseia na diminuição da intensidade pela difração da luz. Já a turbidimetria é uma técnica analítica baseada no método de espectrofotometria capaz de medir a turbidez de uma amostra. As duas técnicas tendem a subestimar o real valor da albumina, por isso a Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC) apresenta um alto custo e é um procedimento complexo, porém continua sendo a maneira mais eficaz de medir a quantidade de albumina. Depuração da Inulina e Quelatos Marcados A inulina é um polissacarídeo de peso molecular em torno de 5.000 Da. É fisiologicamente inerte, filtrada pelos glomérulos, não é sintetizada, reabsorvida ou secretada pelos túbulos, sendo então considerada uma substância ideal para medir a TFG. A inulina é considerada “padrão ouro” quanto aos métodos de depuração, contudo, é um método demorado e invasivo, que atualmente é limitado à pesquisa experimental. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 36 A administração de radiofármacos tem sido viabilizada para avaliar a TFG, pois possui grande precisão, com uso de pequenas e não tóxicas quantidades de radioisótopos (123I-iodotalamato, quelante 51Cr-EDTA e 99mTc-DTPA). Uso de Radioisótopos 125I-iodotalamato: teste considerado simples, muito eficiente e reprodutível, realizado com uma única injeção subcutânea. Pode tanto ser realizado em pacientes doentes renais leves ou avançados quanto em crianças saudáveis. Quelante 51Cr-EDTA: é o radiofármaco usado na depuração plasmática na rotina clínica para a determinação da TFG, pois tem depuração semelhante à da inulina e é quantificado no cintilador. Sugere- se o uso em pacientes com suspeita de lesão renal, mesmo aqueles em que a DEC e concentração de creatinina estão normais. 99mTc-DTPA: permite menor exposição à radiação, possui eliminação exclusivamente renal, tem meia vida longa e decai por transição isomérica, o que dificulta em partes, o seu uso. Para o uso de marcadores radioativos, é preciso avaliar a exposição do paciente e dos profissionais técnicos envolvidos, além de exigir do laboratório uma licença para o seu manuseio expedida por órgãos reguladores e um destino para os resíduos radioativos. Todos estes fatores apresentados tornam o uso de marcadores complexo e de alto custo. Proteinúria A proteinúria é consequência de uma diminuição na reabsorção tubular ou um aumento da quantidade de proteínas no FG. A proteína total excretada na urina varia entre 20 e 150mg/dia, sendo que metade corresponde à albumina e o restante é de proteína Tamm-Horsfall (um constituinte dos cilindros urinários). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 37 Valores Normais Os valores de referência dependem do tipo de amostra utilizada, sendo <300 mg/24 horas ou <200 mg/g de creatinina. Determinação Laboratorial A avaliação da proteinúria pode ser realizada com o uso de amostra de urina de 24 horas ou em amostra isolada normalizada pela creatinina urinária. Sua detecção é realizada através de diversos métodos quantitativos, como os colorimétricos (uso de azul de Coomassie, molibdato de pirogalol vermelho, entre outros). IMPORTANTE: Um método recomendado por estar menos sujeito à erros de coleta é a relação proteínas totais/creatinina. A urina da manhã também pode ser avaliada através do uso de urofitas, porém podem apresentar resultados divergentes em análises quantitativas, pois as fitas são específicas para detecção de albumina e não de proteínas totais. Dismorfismo Eritrocitário A discriminação entre hematúria de causas glomerulares de não glomerulares é bem difícil na prática clínica. O uso de dismorfismo eritrocitário tem suas vantagens por ser de baixa complexidade, custo reduzido e por não ser invasivo, contudo, a análise das hemácias no microscópio é subjetiva e possui baixa sensibilidade na detecção de lesão glomerular. Determinação Laboratorial A técnica usada para diferenciar hematúria glomerular (as hemácias estão dismórficas devido à deformidade sofrida ao passar pela membrana Uroanálise e Líquidos Corpóreos 38 glomerular lesada) da extraglomerular (as hemácias estão isomórficas, como na forma sanguínea) é a microscopia de contraste de fase. Lipocalina Associada à Gelatinase de Neutrófilos- NGAL NGAL é uma proteína de 25kDa de peso molecular, com 178 aminoácidos em sua composição. É expressa pelos neutrófilos e células epiteliais, incluindo células do túbulorenal proximal. Alguns estudos mostram a eficiência da NGAL em detectar de maneira precoce a ocorrência de insuficiência renal aguda em associação a várias situações clínicas (cirurgia cardiopulmonar by pass e cirurgia cardíaca). Determinação Laboratorial Existe no mercado conjuntos de diagnósticos que fazem a determinação de NGAL urinário e plasmático. A concentração plasmática inclui a produção de NGAL em outros órgãos que não os rins, enquanto a dosagem urinária transmite mais fidelidade à produção renal da proteína. Ainda é um marcador que emerge na detecção de insuficiência renal aguda e carente de novos estudos que confirmem sua utilidade na prática. Cistatina C A cistatina C é uma proteína pequena (122 aminoácidos e 13 kDa) encontrada em fluidos biológicos como líquido seminal, cefalorraquidiano e soro. Seus níveis séricos não são afetados pela idade nem pela quantidade de massa muscular, e é facilmente filtrada através da membrana glomerular, sendo reabsorvida no túbulo proximal em uma proporção significativa e, depois catabolizada quase que totalmente, não sendo excretada na urina, o que a torna interessante para ser usada como marcador bioquímico para avaliar a filtração glomerular. Porém, a dosagem laboratorial da cistatina C ainda precisa de padronização e seu custo ainda é elevado. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 39 Molécula-1 de Lesão Renal (KIM-1) É uma glicoproteína transmembrana que em insuficiência renal aguda possui produção regulada pelo túbulo renal proximal. As concentrações de KIM-1 são mais elevadas em insuficiência renal aguda isquêmica do que na doença renal crônica, sendo considerada um biomarcador para toxicidade tubular proximal sensível e com alta especificidade. Interleucina 18 (IL-18) É uma citocina utilizada como marcador precoce de lesão renal aguda, é mediadora de inflamação e liberada no túbulo proximal. Se compararmos a relação entre albumina, creatinina urinária e marcadores de lesão tubular, podemos mostrar que a IL-18, assim como o KIM-1, são específicos para o túbulo proximal e têm sido implicados na lesão de isquemia-reperfusão renal. RESUMINDO: E então, vamos passar rapidamente pelos pontos principais? Relembraremos os principais biomarcadores e como ocorre o diagnóstico laboratorial. Ureia: técnicas enzimáticas colorimétricas (uso de uréase) e métodos de química seca. Creatinina: reação de Jaffé e espectrometria de massa por diluição isotópica (ID-MS). Depuração endógena da creatinina (DEC). Albuminúria: nefelometria, nurbidimetria e Cromatografia Líquida de Alta Performance (HPLC). Depuração da inulina e quelatos marcados: 125I-iodotalamato, Quelante 51Cr-EDTA e 99mTc-DTPA. Proteinúria: métodos quantitativos colorimétricos (azul de Coomassie, molibdato de pirogalol vermelho, entre outros). Dismosfismo eritrocitário: microscopia de contraste de fase. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 40 Lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos (NGAL): marcador emergente na detecção de insuficiência renal aguda, ainda carente de novos estudos que confirmem sua utilidade na prática. Cistatina C, Molécula-1 de lesão renal (KIM-1) e Interleucina 18 (IL- 18). Uroanálise e Líquidos Corpóreos 41 Análise Fecal OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você saberá explicar as principais doenças diagnosticadas por exame de fezes. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! O exame parasitológico de fezes tem por finalidade analisar dores de estômago, confirmar suspeita de algum parasita que possa ter se instalado no sistema digestório, e ainda pesquisa de sangue oculto, com o objetivo de detectar males intestinais e até tumores. Figura 6 – Ilustração de exame de fezes Fonte: LabVW Laboratório. Antes de iniciarmos nosso capítulo sobre análise fecal, precisamos relembrar rapidamente a origem e a composição das fezes, falando um pouco sobre o sistema digestório. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 42 REVISANDO O sistema ou aparelho digestório humano é composto pelos seguintes órgãos: boca, faringe, esôfago, intestino delgado, intestino grosso e ânus. O alimento ingerido é fragmentado pela mastigação e deglutido sob a ação dos músculos da faringe. No estômago, o bolo alimentar é misturado ao suco gástrico e umedecido pelo muco secretado pela parede estomacal, transformando- se em uma pasta ácida denominada quimo. Em seguida, o quimo passa para o duodeno (intestino delgado), em que enzimas finalizarão o processo digestivo. Assim que são liberados, os produtos finais da digestão (aminoácidos, glicose, vitaminas hidrossolúveis e sais minerais) vão sendo absorvidos pelas células do intestino delgado. Depois de o organismo absorver todos os resíduos úteis, os restos alimentares são enviados ao intestino grosso, ainda com grande quantidade de sais e água, que serão absorvidos nesta etapa. As fezes são liberadas pelo ânus, praticamente secas, com cor característica devido à presença de pigmentos provenientes da bile (acastanhada). O reto é um compartimento que começa no fim do intestino grosso e termina no ânus; geralmente está vazio, pois as fezes se armazenam no cólon descendente antes de chegarem ao reto. Quando o cólon descendente se enche de fezes, elas passam para o reto e em seguinte há a necessidade de evacuar os intestinos através do ânus. Consistência Fecal Normalmente, as fezes são sólidas e apresentam 75% de água na sua composição. Quando a quantidade de água varia, percebemos variação na consistência. As fezes com 80% de água são consideradas moles e com 90% são fezes líquidas. Diarreias graves podem ter 100% de água. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 43 Odor O odor pode variar do fisiológico ao pútrido, dependendo da alimentação, estado de saúde e fermentações intestinais. Forma A forma é definida pelo esfíncter anal que é cilíndrico, porém vai depender muito da sua consistência. Em casos de diarreia, não se define forma. Massa ou Quantidade Uma alimentação regular gera em torno de 100 a 150g de fezes por dia, mas se a quantidade de alimentos for excessiva, aumentará a quantidade de fezes gerada. A maior parte das fazes é formada por bactérias (vivas e mortas), o restante é muco, fibras, celulose, sais e outros materiais que não foram digeridos. Exames de Fezes As análises fecais são solicitadas com o objetivo de detectar e identificar parasitas, bactérias patogênicas, sangramento gastrintestinal, e ainda, distúrbios dos ductos biliares e hepáticos. As análises são consideradas de rotina e podem ser microscópicas, macroscópicas e bioquímicas. Diferentes recomendações são exigidas para cada finalidade de exame: dosagem da gordura das fezes, pesquisa de sangue oculto, ovos e parasitas, estudo das funções digestivas e coprocultura. DEFINIÇÃO: Coprocultura é o exame bacteriológico das fezes muito utilizado em casos de gastroenterite adulta. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 44 Tipos de Exame Protoparasitológico (PPF) • Pesquisa de helmintos e protozoários nas fezes. • O paciente precisa evacuar em um recipiente limpo e seco; transferir uma parte das fezes para o frasco coletor, não ultrapassando a medida de meio frasco. Não é indicado o uso de supositórios ou laxantes. • Recomenda-se colher amostras em 3 dias diferentes. • Orienta-se que o paciente tenha o cuidado em não contaminar as fezes com água contendo desinfetantes químicos, ou misturar com urina. • Não é problema a coleta das fezes com diarreia, sangue, pus ou muco. Pesquisa de sangue oculto • O paciente realiza durante 3 dias uma dieta sem carnes e derivados, alimentos coloridos e que contenham alta atividade de peroxidase (beterraba, espinafre, brócolis, melão, maçã, couve-flor, banana, nabo e rabanete). • Orienta-se a não usar medicamentos como anti-inflamatórios corticoides, ferro, aspirina e vitamina C. • Recomenda-se o cuidadoao escovar os dentes, a fim de evitar sangramento da gengiva. • Evitar a coleta em caso de sangramento nasal ou hemorroidal. • No terceiro dia da dieta preparatória, colher uma amostra das fezes. Cultura de fezes (Coprocultura) • A amostra é coletada em recipiente contendo o meio de transporte Cary Blair. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 45 • A ponta do swab deve ser introduzida nas fezes frescas e colocada no meio de Cary Blair. • Não pode usar laxante para a coleta, nem refrigerar a amostra. Pesquisa de Isospora e Cryptosporidium • Pede que uma porção das fezes recém-emitidas seja colocada em um frasco coletor. • Não ultrapassar metade do frasco. • Não usar laxantes e supositórios. Pesquisa de gordura • Pede que uma porção das fezes recém-emitidas seja colocada em um frasco coletor. • Não ultrapassar metade do frasco. • Não usar laxantes e supositórios. • Após o uso de metamucil ou contraste radiológico deve-se aguardar uma semana a realização do exame. • Conservar a amostra sob refrigeração até o envio ao laboratório. Pesquisa de Enterobius vermiculares (oxiúros) • Realizar a coleta pela manhã sem realizar higiene anal antes. • Pressiona-se várias vezes uma fita adesiva no ânus e na região perianal. • Posteriormente, esta fita deve ser cuidadosamente esticada sobre uma lâmina, evitando a formação de bolhas e pregas. • Fazer a identificação devida do paciente e levar ao laboratório. Métodos de Análise A Escala de Bristol não é exatamente um método de análise laboratorial, mas sim uma escala médica que classifica a forma das fezes Uroanálise e Líquidos Corpóreos 46 humanas em 7 categorias. A permanência das fezes no cólon é que determina a forma e a consistência destas. Figura 7 – Escala de Bristol Fonte: Doce Limão. Os tipos 1 e 2 indicam obstipação ou constipação intestinal. Os tipos 3 e 4 estão mais fáceis de passar na defecação e são consideradas amostras ótimas. Os tipos 5, 6 e 7 indicam tendência a urgência ou diarreia. Método direto: exame das fezes pelo microscópio, ente lâmina e lamínula. A diluição da amostra tem que estar de maneira que dê para ler as letras de um jornal através do preparado. Com as fezes preservadas detectam-se cistos de protozoários e de ovos e larvas de helmintos. A pesquisa de trofozoítos deve ser realizada em fezes frescas e não preservadas. Método de concentração de fezes: é um método que facilita o encontro de parasitas, pois diminui a matéria fecal na preparação. Os três métodos principais são: Sedimentação – os parasitos são concentrados no sedimento por gravidade ou centrifugação. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 47 Flutuação – os parasitos flutuam ou são condensados em um sedimento com o uso de uma solução de densidade diferente da sua. Migração – larvas vivas migram para fora do material fecal e são coletadas no fundo de um funil. Método de concentração por sedimentação espontânea (método de Hoffmann): o uso desse método é recomendado para a pesquisa de ovos pesados, como os de Shistosoma mansoni, podendo revelar ovos e larvas de outros helmintos. Não é o método ideal para a pesquisa de cistos, mas estes podem ser observados se a amostra for corada. Método de concentração por flutuação: usa-se centrifugação como forma de lavar o material fecal e em seguida suspende-se em líquido de densidade determinada. Podem ser encontrados Schistosoma, larvas de Strongyloides e cistos de protozoários. Método de concentração por migração: método que se baseia na migração de larvas de Strongyloides stercoralis através do material fecal até atingir a água. Como a larva não tem sustentação, ela sedimenta no fundo do recipiente. Método de Faust: esse método faz uso de sulfato de zinco e tem como fundamento a propriedade de certos ovos de helmintos de flutuarem na superfície de uma solução de alta densidade e de aderirem ao vidro. É um procedimento simples, porém eficiente, indicado para a pesquisa de ovos como os de ancilostomídeos, que possuem baixa densidade específica. Até o momento foram descritas várias modificações, e hoje esse método serve tanto para fezes frescas como conservadas em MIF ou formalina. Merthiolate-Iodo-Formol (MIF): método de centrífugo- sedimentação em um sistema éter-mertiolate. Usa-se para a pesquisa de larvas, ovos de helmintos e cistos de protozoários. Esfregaço fecal espesso em celofane para diagnóstico de esquistossomoses intestinais (técnica de Kato-Katz): é uma técnica eficiente nos diagnósticos de esquistossomoses e helmintos intestinais. A Uroanálise e Líquidos Corpóreos 48 técnica não é conveniente para examinar larvas, cistos ou ovos de certos parasitas intestinas. Método de Willis (método da solução saturada de cloreto de sódio): é um método fundamentado na flutuação de ovos de helmintos e cistos de protozoários em uma solução saturada de NaCl em água a 30%. Devido à sua possibilidade de contaminação, é um método de pouco uso, substituído pelo método de sedimentação de Ritchie. Método de Ritchie (método de formol-éter): método que concentra cistos de protozoário, ovos e larvas de helmintos, e também é útil para coccídeos. Método de Baermann: método seletivo de larvas e não específico (podem ser encontrados cistos e ovos de outros parasitos), que se baseia no hidro-termo-tropismo das larvas pela ação da gravidade. Tem indicação para a pesquisa de larvas de Ancilostomideos e Strongyloides stercorales. Método de Rugai: simplificou o método de Baermann utilizando a própria latinha como receptáculo para as fezes e um cálice de sedimentação, em vez de funil. Indicado para a pesquisa de larvas de Strongyloides stercorales e de Ancilostomideos. Métodos de contagem de ovos nas fezes: usa-se a contagem de ovos para avaliar a intensidade da infecção por helmintos (apresentam liberação constante). Também pode ser usado para a contagem de ovos de Ascaris lumbricóides e de Trichuris trichiura. O método é limitado pela dieta e pelo sistema imunológico do hospedeiro, sendo realizado apenas de maneira estimada para verificar o sucesso ou não de um tratamento e o papel da infecção na doença. Preparações salinas: pesquisa-se a presença de cistos, ovos e larvas e, quando presentes, há motilidade dos trofozoítas, contudo, sem estabelecer um diagnóstico específico. Serve apenas como orientação. As fezes deverão ser fixadas e um esfregaço fecal corado deverá ser preparado. Para a pesquisa de ovos, o exame direto a fresco sem coloração pode gerar bons resultados, mas para o exame de cistos e de larvas é necessário preparar um esfregaço corado, para que um estudo das características morfológicas das diferentes espécies possa ser feito. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 49 Método do esfregaço de espesso de celofane (Kato e Miura): um pedaço de celofane substitui a lamínula de vidro. É recomendado para inquéritos coprológicos por ser rápida e simples a preparação dos esfregaços fecais e pelo baixo custo na pesquisa de ovos de helmintos. Método da eclosão: é uma das técnicas consideradas das mais sensíveis para diagnosticar esquistossomíase e que são indispensáveis para avaliação da cura após o tratamento. Método da fita (Método de Graham): uma fita adesiva é colocada ao fundo de um tubo de ensaio com a parte colante voltada para fora. A prega anal do paciente é então aberta e assim é encostada diversas vezes a parte colante naquela região perianal. A fita adesiva é então colocada em lâmina e observada em microscópio. São métodos muito úteis na detecção de ovos de Enterobius vermicularis e Taenia. SAIBA MAIS: Para saber mais, acesse o Guia Prático para o Controle das geo-helmintíases RESUMINDO: E então, gostou do que vimos? Aprendeu mesmo, tudinho? Só para termos certeza, vamos resumir tudo o que vimos neste capítulo. O exame parasitológico analisa dores de estômago, confirma suspeitas de parasita no sistemadigestório e pesquisa sangue oculto. As fezes são sólidas e apresentam 75% de água na sua composição. Fezes com 80% de água são consideradas moles e com 90% são líquidas, diarreias graves podem ter 100% de água. O odor varia do fisiológico ao pútrido. A forma é definida pelo esfíncter anal. A alimentação regular gera em torno de 100 a 150g de fezes por dia. Análises fecais são solicitadas para detectar e identificar parasitas, bactérias patogênicas, sangramento gastrintestinal, distúrbios dos ductos Uroanálise e Líquidos Corpóreos https://www.docelimao.com.br/site/desintoxicante/principios/2905-como-esta-o-seu-coco.html https://www.docelimao.com.br/site/desintoxicante/principios/2905-como-esta-o-seu-coco.html 50 biliares e hepáticos. As análises são consideradas de rotina e podem ser microscópicas, macroscópicas e bioquímicas. Os tipos de exame de fezes são: protoparasitológico (PPF), pesquisa de sangue oculto, cultura de fezes (coprocultura), pesquisa de Isospora e Cryptosporidium, pesquisa de gordura e de oxiúros. E seus métodos de análise são: direto, concentração de fezes, Faust, MIF, Willis, Ritchie, Baermann, contagem de ovos nas fezes, preparações salinas, eclosão, preparações perianais. Uroanálise e Líquidos Corpóreos 51 REFERÊNCIAS CURSOS APRENDIZ. Métodos para o exame parasitológico de fezes. Cursos Aprendiz, 2018. Disponível em: https://www.cursosaprendiz.com. br/metodos-para-o-exame-parasitologico-de-fezes. Acesso em: 14 set. 2021. DUSSE, L. M. A et al. Biomarcadores da função renal: do que dispomos atualmente? Revista Brasileira de Análises Clínicas – RBAC, 2017. Disponível em: http://www.rbac.org.br/wp-content/ uploads/2017/06/RBAC-1-2017-ref.-427.pdf. Acesso em: 14 set. 2021. GONÇALVES, F. B. et al. Uroanálise e fluidos corporais. São Paulo: Técnica do Brasil, 2015. NARDOZZA JÚNIOR, A.; ZERATTI FILHO, M.; DOS REIS, R. B. Urologia fundamental. São Paulo: Planmark, 2010. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Exame de fezes. São Paulo: Secretaria da Saúde, [s. d.]. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/upload/saude/arquivos/assistencialaboratorial/Coleta_ Laboratorial_Cap3.pdf. Acesso em: 14 set. 2021. SHAH, A. P. Avaliação do paciente renal. Manual MSD, 2019. Uroanálise e Líquidos Corpóreos Infecções do Trato Urinário (ITU) Sintomas Distúrbios Miccionais Alterações das Características da Urina Dor Febre Genitopatias Hipertensão Arterial Tumores Infecções Mais Comuns Classificação Uretrite Cistite Pielonefrite Aguda Doenças Renais Doenças Glomerulares Doenças Tubulares Doenças Intersticiais Marcadores Proteicos da Função Renal Ureia Valores Normais Determinação Laboratorial Creatinina Valores Normais Determinação Laboratorial Depuração Endógena da Creatinina (DEC) Albuminúria Determinação Laboratorial Depuração da Inulina e Quelatos Marcados Uso de Radioisótopos Proteinúria Valores Normais Determinação Laboratorial Dismorfismo Eritrocitário Determinação Laboratorial Lipocalina Associada à Gelatinase de Neutrófilos- NGAL Determinação Laboratorial Cistatina C Molécula-1 de Lesão Renal (KIM-1) Interleucina 18 (IL-18) Análise Fecal Consistência Fecal Odor Forma Massa ou Quantidade Exames de Fezes Tipos de Exame Métodos de Análise