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Libras Clélia Maria Ignatius Nogueira Marília Ignatius Nogueira Carneiro Beatriz Ignatius Nogueira A Faculdade Efi caz nasceu com o objetivo de promover a formação consciente dos cidadãos de seus direitos e deveres sociais, primando pela cidadania e soli- dariedade humana. Nossa tarefa é trabalhar em nossos alunos habilidades e capacidades, para que sejam cidadãos capazes de enfrentar as difi culdades cotidianas. Em nossos cursos buscamos a excelência educacional, seja por sua preocupação perante o avanço da ciência, da tecnologia, ou perante os anseios da sociedade moderna e democrática. A Faculdade Efi caz se propõe a ser uma mediadora na transmissão dos conheci- mentos já produzidos pela humanidade; ponte na articulação destes conhecimentos com os novos, produzidos a partir das experiências vivenciadas pelos discentes que é a construção do seu próprio saber e ainda: promover a integração destes conheci- mentos pela mobilização de competências já construídas, por sua ampliação e pela construção de novas competências. Portanto, entendemos que a nossa fi nalidade é formar profi ssionais com com- petências e habilidades para atuar no contexto complexo e contraditório da eco- nomia global, das políticas e das mudanças sociais, que afetam diretamente a vida cotidiana, o trabalho e as formas de organização e qualifi cação profi ssional. Ao ingressar na Faculdade Efi caz, os alunos terão a chance não apenas de estudar uma nova profi ssão, ou aprimorá-la, mas também de ampliar sua visão de mundo a partir do acesso à cultura e ao conhecimento. Isto, com certeza, tornando -os cidadãos mais ativos e mais plurais neste mundo globalizado em que vivemos, assim como os torna mais bem preparados para o mercado de trabalho. AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO A P R E S E N T A Ç Ã O LIBRAS Clélia Maria Ignatius Nogueira; Marilia Ignatius Nogueira Carneiro; Beatriz Ignatius Nogueira. Você certamente deve estar se perguntando por que estudar a Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Afi nal, esta é a língua dos surdos brasileiros e provavelmente você nem conhece ninguém surdo! Outra coisa que você provavelmente não sabe é que atualmente existem no Brasil cerca de 5.7000.000 pessoas surdas e que, segundo dados do MEC - Ministério da Educação, em 2001, existiam 50 mil estudantes surdos matriculados no Ensino Fundamental, a maioria deles em classes comuns, em escolas inclusivas. Apesar dessa grande quantidade de alunos surdos matriculados no ensino regular, poucos conseguem sucesso, principalmente por que a principal maneira de ensinar ainda é a explicação oral e daí o surdo não entende nada, por causa da difi culdade de comunicação entre professores e alunos. Este dado de 2001 é importante porque foi esta constatação que deu origem a diversas ações do Ministério da Educação do Brasil, mudando, radicalmente e para melhor, a educação do surdo brasileiro. Assim, tentando mudar essa realidade de fracasso educacional que os alunos surdos viviam, o Governo Federal adotou diversas medidas, dentre elas o Decreto Federal nº 5626 de 22 de dezembro de 2005, que tornou obrigatório o ensino de Libras - Língua Brasileira de Sinais - em todos os cursos de formação de professores e também de fonoaudiologia do Brasil, além de se constituir em disciplina optativa dos demais cursos. É por isso que você está tendo esta disciplina, que tem como objetivo proporcionar o estudo sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, bem como refl etir sobre a surdez, a cultura, as identidades surdas e a Educação de Surdos na realidade brasileira, pensando AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO A P R E S E N T A Ç Ã O na inclusão social e educacional do surdo. A surdez pode ser caracterizada de duas maneiras distintas: seguindo o modelo médico, em que ela é vista como uma defi ciência, uma limitaçãode natureza patológica, com a criança sendo rotulada por aquilo que não é capaz de fazer. Ao adotarmos a concepção socioantropológica da surdez, entendida agora não mais como uma patologia, mas como uma diferença linguística, a criança surda passa a ser encarada a partir de suas possibilidades, que poderão ser mais ou menos aproveitadas em função da educação que lhe for ofertada. Assim, compreender os surdos e a surdez nesse viés educacional é fundamental para o futuro professor, pois este é o profi ssional que estará mais próximo da família no momento dela lidar com a educação da criança surda e, orientar esta família. Além disso, agora já pensando no surdo adulto, que pode e deve exercer sua cidadania, é importante que qualquer profi ssional esteja minimamente capacitado para atendê-lo. Desta forma, procuramos atender prioritariamente a três grandes objetivos: proporcionar a constituição de uma imagem positiva da surdez e dos surdos; favorecer a inclusão educacional e social do surdo e promover a difusão da Libras. Para atingir estes objetivos, este livro se organiza em três unidades. Na Unidade I, apresentaremos a Libras – Língua Brasileira de Sinais, em seus aspectos geral e sintático. A Unidade II será destinada, basicamente, à apresentação de vocabulário específi co que lhe permita uma comunicação funcional com o surdo, em sua área de atuação profi ssional. Apresentaremos também nesta segunda unidade, os profi ssionais da Libras, a saber, o tradutor intérprete de Língua de Sinais (TILS) e o professor de Libras, que, de acordo com o Decreto 5626 deve ser, prioritariamente surdo. Na Unidade III trataremos de sensibilizar e conscientizar você dos aspectos sociais e antropológicos da surdez, ao discutirmos as concepções de surdez; as diferentes fi losofi as educacionais, a cultura e as identidades surdas, a história da educação de surdos e ainda apresentaremos algumas leis e políticas públicas relacionadas à educação de surdos, fi nalizando com uma desconstrução de alguns mitos e crenças sobre a surdez e os surdos. Nas conclusões, além de fazermos AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO AP RE SE NT AÇ ÃO A P R E S E N T A Ç Ã Ouma retomada dos assuntos abordados nas unidades I, II e III, faremos uma discussão a respeito da inclusão educacional e social do surdo. Faremos estas discussões sustentadas não apenas em nossa formação acadêmica, mas particularmente, em nossa experiência de vida. Pelo nosso sobrenome, você já deve ter percebido que nós três somos parentes! É verdade. Somos mãe (Clélia) e fi lhas (Marília e Beatriz). A mãe é ouvinte e as fi lhas são surdas e nós vivenciamos um período muito difícil na vida do surdo brasileiro. Um período em que os professores não aprendiam a se comunicar com seus alunos e mais, os próprios surdos eram proibidos de usar a Libras! Esse período foi muito difícil e isso acontecia porque as pessoas, incluídas aí os professores e a família, acreditavam que aprender falar oralmente era a única forma do surdo - que naquela época era designado por defi ciente auditivo – se integrar à sociedade. Atualmente, muita coisa mudou. Até a maneira de se referir aos surdos e esta experiência que nos credencia a discutir esses temas tão delicados com você. Finalizamos esta apresentação com uma frase atribuída ao surdo francês Ferdinand Berthier, que viveu no século XIX e é considerado um dos mais brilhantes exemplos de sucesso de um surdo, um dos fundadores da primeira associação de surdos, a “Societété Centrale des Sourds Muets de Paris”, que extraímos do livro de Gesser (2009): “O que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a incurável surdez é a da mente” (FERDINAND BERTHIER, surdo francês, 1854). Abram suas mentes e bons estudos! S U M Á R IO UNIDADE 1: CONSTRUINDO VOCABULÁRIO 11 Introdução .............................................................................................13 Léxico de Unidades Semânticas: alfabeto, números e pronomes ............15 Números ...............................................................................................18 Algarismos e Numerais................................................................................. 18 Números quantitativos .................................................................................. 19 Números ordinais ......................................................................................... 19 PRONOMES................................................................................................ 20 Pronomes Pessoais ..................................................................................... 20 Pronomes Possessivos ................................................................................ 22 Pronomes Demonstrativos ........................................................................... 23 Léxico de Unidades Semânticas: saudações cotidianas; cores; calendário, tempo .......................................................................23 IDENTIFICAÇÃO PESSOAL .......................................................................... 23 CALENDÁRIO ........................................................................................29 LÉXICO DE UNIDADES SEMÂNTICAS: DEFICIÊNCIAS, PROFISSÕES, ESCOLA, EDUCAÇÃO E ECONOMIA ....................................................44 EDUCAÇÃO: ESCOLA – NÍVEIS DE ENSINO - ESPAÇO FÍSICO – DISCIPLINAS – MATERIAL ECOLAR .......................................................54 TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS – TILS .........................63 O MERCADO DE TRABALHO PARA AS PESSOAS SURDAS ..................72 Algumas ideias sobre o capitalismo .............................................................. 73 Contextualizando a surdez ..................................................................... 76 Professor de Libras: reserva de mercado para surdos? .................................79 Construindo Vocabulário UNIDADE 1 ObjEtIVOs DE AprENDIzAgEm • Possibilitar a constituição de uma imagem positiva da surdez e do surdo; • Estabelecer um vocabulário suficiente para a comunicação funcional com o surdo em sua futura atuação profissional; • Favorecer a comunicação, a interação e o atendimento ao surdo; • Favorecer o processo de inclusão da pessoa surda; • Compreender a atuação do tradutor intérprete de língua de sinais (TILS); • Discutir o mercado de trabalho do TILS e dos surdos. plANO DE EstUDO Serão abordados os seguintes tópicos: • Léxico de Unidades Semânticas: alfabeto, números e pronomes • Léxico de Unidades Semânticas: saudações cotidianas; cores; calendário e tempo • Léxico de Unidades Semânticas: deficiências, profissões, educação, escola e economia • Intérpretes tradutores de línguas de sinais • O mercado de trabalho para as pessoas surdas Clélia Maria Ignatius Nogueira; Marilia Ignatius Nogueira Carneiro; Beatriz Ignatius Nogueira 13 libras INTRODUÇÃO Nesta segunda unidade, conforme anunciamos na apresentação deste livro, é destina- da à construção de vocabulário específico para sua área de atuação. Nas conclusões, faremos uma discussão a respeito de como entendemos sua atuação como professor, parceiro da família e como é possível favorecer a inclusão do cidadão surdo, qualquer que seja seu campo de atuação profissional. Reafirmamos que fazemos estas discus- sões sustentadas não apenas em nossa formação acadêmica, mas particularmente, em nossa experiência de vida. Também apresentaremos nesta Unidade o papel do tradutor intérprete de sinais, particu- larmente na educação e também discutiremos sua relação com o surdo, particularmente no que se refere ao mercado de trabalho. Para a construção do vocabulário, apresentaremos aqui, fotos com setas indicando os movimentos, todavia, você pode encontrar esses sinais (pelo menos a maioria deles) em qualquer dos dicionários virtuais disponíveis. Essa consulta é importante, porque nesses dicionários virtuais os sinais apresentam-se com movimento. Recomendamos o endere- ço <www.acessobrasil.org/libras>. As unidades semânticas abordadas nesta Unidade II: Alfabeto, Números, Cores, Saudações Cotidianas, Calendário e Tempo, Deficiências, Profissões, Escola, Educação e Economia. 14 libras No que se refere aos aspectos gramaticais, apresentaremos os Pronomes pessoais, possessivos e demonstrativos. Assim, a exemplo da Unidade I, esta segunda unidade também se organiza em cinco seções, a saber: Seção 1: Léxico de Unidades Semânticas: alfabeto, números e pronomes. Seção 2: Léxico de Unidades Semânticas: saudações cotidianas; cores; calendário, tempo. Seção 3: Léxico de Unidades Semânticas: deficiências, profissões, educação, escola e economia. Seção 4: Intérpretes tradutores de línguas de sinais. Seção 5: O mercado de trabalho para as pessoas surdas. É muito importante que o(a) futuro(a) professor(a) aprenda a língua de sinais para aprimo- rar a comunicação com seus alunos, assim como, os demais profissionais, para facilitar a inclusão e o atendimento do cidadão surdo. Destaca-se que a Libras é a língua oficial do Brasil e assim, utilizá-la não significa nenhum tipo de concessão, ao contrário, o surdo tem esse direito. É fato que isto pode ser viabilizado por intermédio da atuação do intérprete 15 libras de Libras, entretanto, ainda há escassez de profissionais que atuem como intérpretes e, assim, nos diferentes segmentos profissionais os surdos não recebem um atendimento digno, evidenciando a falta de ética e o desrespeito à pessoa com deficiência. O seu comprometimento com esta disciplina reflete o tipo de profissional que você pretende ser! LÉXICO DE UNIDADES SEMÂNTICAS: ALFABETO, NÚMEROS E PRONOMES Na Unidade I, quando abordamos os parâmetros da Libras, especificamente ao tratarmos da Configuração de Mãos (CM), apresentamos alguns sinais do alfabeto manual ou digital e discutimos a questão da soletração e da datilologia. Apresentamos o alfabeto completo agora. O alfabeto manual A B Ç C 16 libras D E F G H I J K L M N O P Q R S T 17 libras U V X W Z Pontuações ^ ` ´ ~ . : ; ? ! ... 18 libras NÚMEROS Algarismos e Numerais 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 19 libras Números quantitativos Existe uma diferença na maneira de representar os números até 4. Os sinais para quan- tidade; algarismos e números ordinais são diferentes. De 5 para cima são os mesmos sinais. Quantidade / Quanto 1 2 3 4 Números ordinais Faça o sinal do algarismo com movimento, por exemplo, “1” balançando para cima e para baixo. 20 libras Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto PRONOMES Pronomes Pessoais Os pronomes pessoais são sinalizados apontando com o dedo indicador. Quando a pessoa que fala aponta para si olhando para quem fala, esse sinal significa eu. Se a apontação e o olhar são dirigidos ao interlocutor o sinal indica tu ou você. Se, por outro lado, a apontação é dirigida para outra pessoa que não está na conversa ou para um lugar qualquer do espaço próximo ao emissor, o que se está sinalizando é ele ou ela. 21 libras Vocês quatro Vocês três Vocês dois Só você Nós dois Nós três Nós quatro Del@ Seu Del@ Seu 22 libras Pronomes Possessivos Os pronomes possessivos são sinalizados com a configuração de mão em P e obe- decem aos mesmos princípios da expressão dos pronomes pessoais na Libras, devendo sempre, o emissor dirigir seu olhar para o seu interlocutor. Meu Tudo / Todos ou Tudo / todos Nosso (dois dedos “SS”) Nós (um dedo) El@s Você Eu El@ 23 libras Pronomes Demonstrativos Lá Essa Esta Aqui LÉXICO DE UNIDADES SEMÂNTICAS: SAUDAÇÕES COTIDIANAS; CORES; CALENDÁRIO, TEMPO IDENTIFICAÇÃO PESSOAL Sinal Nome Idade 24 libras Exemplo – SINAL, Idade e NOME Sinal: M na bochecha 30 Idade Nome – Soletre M-A-R-I-L-I-A SAUDAÇÕES – Exemplo: primeiro dia na sala de aula Encontrar Saudades 25 libras Por favor / Dá Licença Lembrar Eu Tudo Bem Oi Desculpe Banheiro Beber água Tchau Prazer (Conhecer + Gostar) 26 libras Bom Dia Ou Bom Dia Boa tarde Boa Noite Boa Madrugada 27 libras Conhecer Obrigado De nada CORES Cores = Cor - Vários Escuro Verde Claro Verde Prata Cinza Roxo 28 libras Dourado/Ouro Vermelho Amarelo Marrom Bege Azul Rosa Bordô/ Vinho Azul Branco ou Branco Preto Laranja 29 libras CALENDÁRIO Aprendendo os sinais de Calendário Calendário Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira 30 libras Sexta-feira Sábado Domingo Um dia Dois dias Três dia Quatro dias Anteontem Todos os dias 31 libras Todos os dias Amanhã Hoje Ontem Semana que vem Semana passada Semana Duas semanas Três semanas Quatro semanas 32 libras Para mais de cinco semanas, deve-se usar o sinal do número mais o sinal de “semana”, por exemplo, 5 + semana, observe o exemplo. Cinco semanas 40 semanas Mês que vem Mês passado Um mês Dois meses Três meses Quatro meses 33 libras Cinco Meses Cinco + meses ou A partir de 6 meses, deve sinalizar dois sinais, 6 + mês Ano Ano que vem Ano que vem 34 libras Meses Janeiro ou Fevereiro Março – MRÇ ou Março Abril Maio Junho Junho Julho 35 libras SetembroAgosto Outubro Dezembro ou Novembro Datas comemorativas Aniversário 36 libras JANEIRO Ano Novo Champanhe (ano novo) FEVEREIRO Carnaval 37 librasMARÇO Dia da Mulher ABRIL Páscoa (Ovo + Coelho) Dia de Tiradentes Dia do Índio 38 libras MAIO Dia das Mães Dia do Trabalho JUNHO Dia dos Namorados 39 libras JULHO Férias AGOSTO Dia dos Pais SETEMBRO Dia da Independência 40 libras Dia dos Surdos Dia da árvore OUTUBRO Dia das Crianças 41 libras Dia do Professor NOVEMBRO Dia de Finados DEZEMBRO Natal 42 libras Horas Utilizamos sinais diferentes para horas, quando significa horas determinadas, ou seja, o horário, por exemplo, duas horas da tarde e horas no sentido de duração, por exemplo, a operação durou duas horas. Horário / Que horas são Duração de horas Exemplos de duração de horas: Uma hora Duas horas Três horas Quatros horas 43 libras Exemplo de hora marcada (relógio) 9:00 “Nove em ponto” 9:30 (Nove e Meia) 3 : 4 5 3 : 1 9 5: 35 44 libras LÉXICO DE UNIDADES SEMÂNTICAS: DEFICIÊNCIAS, PROFISSÕES, ESCOLA, EDUCAÇÃO E ECONOMIA Nesta seção 3, nosso objetivo é exclusivamente fornecer vocabulário para uma comu- nicação funcional com o surdo em suas futuras atividades profissionais. Foi pensando na sua formação que selecionamos as unidades semânticas aqui apresentadas. Não se esqueça da nossa recomendação: procure sites em que você possa visualizar esses sinais, com movimento! DEFICIÊNCIAS Lei Deficiência Cadeira de rodas Amputado Autista Cego 45 libras Síndrome de Down Deficiência Intelectual Deficiência Visual Surdo (surdez) 46 libras PROFISSÕES Profissão TrabalhoProfissional Gerente RepórterFaxineira Bailarina ou Intérprete Vigia GuardaAuxiliar de Produção 47 libras Fotógrafo Empresário Operário Ajudante Monitor InstrutorContabilidade Motorista de Ambulância = Carro + sirene Padeiro 48 libras Piloto de avião Táxi Motorista de ônibus Fonoaudiologia Pintor Artista plásticaAdministrador Diretor 49 libras Comprador Educador Ano que vem Ano que vem Ano que vem Professor TelefonistaAuxiliar de Enfermagem SecretáriaCoordenador 50 libras FuncionárioEmpregador Policial Médico Fisioterapeuta Chefe Engenharia Civil Arquitetura Dentista Pedreiro Advogado Faxineir@Enfermeira 51 libras ECONOMIA Dinheiro Administrar Imposto Poupança Juros Porcentagem Crédito Divida Fiador ou Parcelar À vista Mil Empréstimo 52 libras Cartão Magnético Cheque Reais Centavos Nossa moeda, o Real Um real Dois reais Três reais Quatro reais Cinco reais Seis reais Sete reais Oito reais Nove reais Dez reais 53 libras Mil Um mil Dois mil Três mil Quatro mil Nove mil Dez mil 54 libras EDUCAÇÃO: ESCOLA – NÍVEIS DE ENSINO - ESPAÇO FÍSICO –DISCIPLINAS – MATERIAL ECOLAR ALUNO ESTUDARESCOLA FACULDADE UNIVERSIDADEESTUDANTE DOUTORADO MESTRADO P Ó S - G R A D U A Ç Ã O 1º GRAU 2º GRAU 3º GRAU 55 libras 1º GRAU 2º GRAU 3º GRAU SÉRIE 1ª SÉRIE 2ª SÉRIE 3ª SÉRIE 4ª SÉRIE 5ª SÉRIE 6ª SÉRIE 56 libras 7ª SÉRIE 8ª SÉRIE 9ª SÉRIE REUNIÃO REPROVAÇÃOAPROVAÇÃO PROVACERTIFICADO CURSOFORMATURA NOTA 57 libras REDAÇÃOVESTIBULAR ESPAÇO FÍSICO DA ESCOLA COMPUTAÇÃOLABORATÓRIO SALA DE AULA BIBLIOTECA 58 libras DISCIPLINAS DISCIPLINA INGLÊS FRANCÊS ESPANHOLFILOSOFIA ESTUDOS RELIGIOSOS PORTUGUÊS EDUCAÇÃO ARTIÍTICAQUÍMICA 59 libras EDUCAÇÃO FÍSICA HISTÓRIA ou SOCIOLOGIA GEOGRAFIA CIÊNCIAS BIOLOGIA MATEMÁTICA ADIÇÃO MULTIPLICAÇÃO DIVISÃO SUBTRAÇÃO 60 libras SOMA (CALCULAR)DESCONTO MATERIAL ESCOLAR MOCHILAUNIFORME TESOURAAPONTADOR RÉGUACOLA 61 libras LÁPISLÁPIS DE COR LIVRO / REVISTA CANETACADERNO 62 libras PROFISSÕES INSTRUTOR DE LIBRASMONITOR DIRETORIA INTÉRPRETECHEFE PROFESSORA FAXINEIRA SECRETÁRIA F O N O A U D I Ó L O G A ASSISTENTE SOCIAL PSICÓLOGA 63 libras TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS – TILS Como consequência de muita luta da comunidade surda, a Libras foi reconhecida como língua oficial em nosso país (BRASIL, 2002). Esse reconhecimento legal veio acompa- nhado da garantia de outros direitos, dentre eles o de que os surdos tenham o acompa- nhamento de um tradutor intérprete de Língua de Sinais (TILS) em diferentes situações, dentre elas, na educação. Com a presença desse profissional, o TILS, no interior das salas de aula, novas relações são estabelecidas, sendo algumas delas até mesmo reconstruídas. Dentre elas, destaca- mos: TILS e alunos surdos, TILS e professores, TILS e alunos ouvintes e TILS e saberes. Não podemos deixar de considerar também as relações que, com o TILS, possivelmente são repensadas, reconstruídas: alunos surdos e professores ouvintes, alunos surdos e alunos ouvintes. Nesses últimos casos, qual seria a influência desse profissional no re- lacionamento com os demais sujeitos ouvintes? Trata-se, portanto, de um vasto campo ainda insuficientemente investigado. Desta forma, para completar a descrição do modelo atual de inclusão dos surdos brasileiros, resta comentar a presença do TILS nas escolas e na sociedade em geral, que é fundamental para a inserção das pessoas com surdez usuárias da Língua de Sinais. 64 libras O intérprete deve conhecer com profundidade, cientificidade e criticidade sua profissão, a área em que atua, as implicações da surdez, as pessoas com surdez, a Libras, os diversos ambientes de sua atuação a fim de que, de posse desses conhecimentos, seja capaz de atuar de maneira adequada em cada uma das situações que envolvem a tradu- ção, a interpretação e a ética profissional. O ideal é que o professor conheça a Libras, mesmo com a presença de intérpretes. Não sendo viável que toda aula seja realizada em Libras, deve-se procurar uma comunicação, mesmo que funcional, entre o professor e o aluno. Além disso, o TILS geralmente não domina todo o conteúdo de todas as disciplinas e é preciso ter certeza de que o que está sendo interpretado e repassado aos surdos é o que está de fato sendo dito pelo professor. A presença do TILS em uma sala de aula possui inúmeros aspectos positivos, dentre os quais destacamos: • O aluno sente-se mais seguro e com chances de compreender e ser compreendido; • A aula e demais procedimentos educativos ficam menos exaustivos e mais produ- tivos quando a comunicação entre professor e aluno é facilitada; • O professor conta com mais informações para estabelecer seu contato com o aluno, de maneira a adaptar sua prática pedagógica para atender o surdo; 65 libras • A Libras passa a ser mais divulgada e utilizada de maneira mais adequada; • O aluno surdo tem melhores condições de seguir as orientações educacionais, fa- vorecendo, inclusive, seu relacionamento com seus familiares, quando, por exem- plo, nas tarefas domiciliares. Entretanto, também podemos mencionar alguns aspectos desfavoráveis à presença do TILS na sala de aula e na escola em geral: • O intérprete pode não conseguir explicar os conteúdos disciplinares da mesma maneira que o professor; • O aluno não interage com o professor porque está atento ao TILS e, desta for- ma, não estabelece uma relação de confiança com seu professor, indispensável para o sucesso de qualquer ação educativa; • A interação do aluno surdo com seus colegas fica prejudicada; • Os demais alunos podem se distrair olhando para o intérprete; • O professor pode sentir-se constrangido em estar sendo interpretado; • O professor não interage diretamente com o aluno. 66 libras Assim, os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais, entretanto, deve- se considerar que a simples adoção dessa língua não é suficiente para uma educação adequada. Os professores precisam se conscientizar de que mais do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam ser compreendidos em sua totalidade, o que inclui sua identidade e cultura. Afinal, apenas garantir a presença de TILS (que é o que a maioria das pessoas reivindi- ca) não significa, absolutamente, que os surdos estão recebendo uma educação com qualidade equivalente à recebida por seus pares ouvintes. Assim, como o professor deve procederno atendimento a um aluno surdo? No que se refere especificamente à conduta em sala de aula, o professor deve cuidar para que o seu aluno surdo: • Sinta-se aceito e tenha a segurança necessária para participar de todas as ativi- dades da aula; • Tenha as condições mínimas necessárias para garantir sua autonomia; • Possa desenvolver suas aptidões e adquirir os conhecimentos inerentes à sua disciplina. 67 libras Ao atuar em sala de aula lembrar-se sempre de não ficar de costas e nem de lado quan- do estiver falando; de preparar os coleguinhas para receber o aluno surdo naturalmente, estimulando-os para que sempre falem com ele. Outra atitude que deve ser destacada é que, mesmo havendo a presença de intérpretes na sala, o professor, ao falar, deve diri- gir-se diretamente ao aluno surdo, usando frases curtas, porém com estrutura completa e com o apoio da escrita; falar com o aluno mais pausadamente, porém sem excesso e sem destacar as sílabas. O falar deve ser claro, em um tom de voz normal, com boa pronúncia; verificar se o Aparelho de Amplificação Sonora Individual está ligado, o AASI reforça pistas e referências. Outros cuidados essenciais que o professor precisa ter são: verificar se o surdo está atento, pois este precisa “ler” os lábios para entender, no contexto da situação, todas as informações veiculadas; chamar sempre sua atenção por meio de um gesto conven- cional ou de um sinal; colocar o aluno surdo nas primeiras carteiras das fileiras laterais ou colocar a turma toda em semicírculo e, procurar sempre utilizar todos os recursos que facilitem sua compreensão. Quanto à posição do intérprete, o ideal seria que este pudesse se colocar sempre de frente ao aluno surdo, atrás do professor. Como isto nem sempre é possível, o intérprete deve ficar de frente para o aluno, mas de tal forma que possa enxergar o professor e o quadro. Só como última opção o intérprete deve se sentar ao lado do aluno surdo. 68 libras Ainda quanto à comunicação, o professor deve sempre utilizar a língua escrita e, se pos- sível, a Libras; estimulando o aluno surdo a se expressar oralmente, por meio da escrita ou de sinais, cumprimentando-o pelos sucessos alcançados ou pelo esforço; procurar colocar o surdo a par de tudo o que acontece na comunidade escolar e interrogar e pedir sua ajuda, para que ele possa sentir-se um membro ativo e participante; dar-lhes oportu- nidades para ler, escrever no quadro e levar recado a outros professores como os demais colegas; ficar atento para que participem das atividades extraclasse. Na ação pedagógica cotidiana, o professor deve utilizar vocabulário e comandos simples e claros nos exercícios; não modificar vocabulário, comandos, instruções e questões na hora da avaliação; avaliar o aluno surdo pela mensagem-comunicação que passa e não somente pela linguagem que expressa ou pela perfeição estrutural de suas frases; solicitar ajuda dos professores que atuam no Atendimento Educacional Especializado – AEE (detalhamos melhor este atendimento na próxima unidade) sempre que necessário e, principalmente, procurar obter informações atualizadas sobre a educação de surdos. No que se refere a ações pedagógicas de caráter geral, deve ser dado destaque ao fato de que a escola precisa da participação da família se quiser ter êxito na educação de sujeitos surdos, portanto, é fundamental incluir a família em todo processo educativo. No que se refere especificamente ao trabalho com a Língua Portuguesa, os professores 69 libras precisam ter a clareza de que apesar de ler (ver o significante, a letra), os surdos muitas vezes não sabem o significado daquilo que leram e assim, é importante estar atento para utilizar vocabulário alternativo quando eles não entenderem o que estão lendo, traduzir, trocar, simplificar a forma da mensagem; resumir sempre, o assunto (conteúdo dado) no quadro de giz, com os dados essenciais, em frases curtas. Uma boa atitude é sentar-se ao lado deles, decodificando com eles a mensagem de uma frase, de um texto, utilizan- do recursos visuais e dicionário ou, ainda, ler a frase ou a redação dos alunos junto com eles, para que possam complementar com sinais, dramatizações, mímica e desenhos o pensamento mal expresso. Outro cuidado necessário é com a utilização de sinônimos (explicá-los aos alunos) e destacar o verbo das frases, ensinando-lhes o significado para que possam entender instruções e executá-las. Quanto à própria maneira de se comunicar, o professor deve prestar muita atenção ao utilizar linguagem figurada e gírias, porque precisará explicar o significado; lembrando-se sempre que a língua portuguesa é uma língua estrangeira para o surdo. Enfim, o profes- sor deve utilizar sempre que possível, os serviços de intérpretes, não se esquecendo, todavia, que a responsabilidade pela aprendizagem do educando surdo é dele, professor e nunca do intérprete. Entende-se que sendo o tradutor e intérprete uma pessoa com capacidade e opiniões próprias, não é coerente exigir que este adote uma postura absolutamente neutra, como 70 libras se sua atividade fosse apenas uma atividade mecânica. Mas o fato de ter uma opinião própria sobre um assunto não dá a esse profissional o direito de interferir em uma situa- ção concreta em que está atuando quando não for chamado a intervir. Segundo o código de ética da atuação do profissional tradutor e intérprete – que é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes da Feneis –, cabe a esse profissional agir com sigilo, discrição, distância e fidelidade à mensagem interpretada, à intenção e ao espírito do locutor da mensagem. Essa postura profissional exige ética, disciplina e uma clara consciência de seu papel. Assim sendo, o TILS deve ter uma estabilidade emocional muito grande e todo aquele que almeja assumir essa fun- ção precisa ter consciência dessas condições e buscar formas de desenvolvê-la. Entende-se como postura ética uma atitude solidária, pela qual os intérpretes/tradutores lutam pelo respeito às pessoas com surdez, assim como por qualquer outra pessoa. Existem várias áreas de atuação desses profissionais de Libras e Língua Portuguesa que merecem ser objeto de reflexão de todos os que atuam com pessoas com surdez usuárias da Libras. A atuação do tradutor/intérprete envolve ações que vão além da mera interpretação. Ele medeia a comunicação entre professores e alunos; entre profissionais da saúde e seus pacientes; entre pacientes e seus familiares, entre surdos e advogados; entre os surdos 71 libras e demais pessoas da comunidade em todo o âmbito da convivência social e, até mesmo, atua como confidente e conselheiro deste surdo. Assim, o professor precisa, também, procurar se informar como é a atuação deste profissional em situações que saem do ambiente escolar, pois o aspecto emocional do aluno pode afetar sua aprendizagem. Outra atitude importantíssima que o professor deve adotar e por isso a destacamos é co- laborar o máximo possível com os intérpretes e com os professores que atuam no AEE. O trabalho conjunto de todos os envolvidos na educação do aluno surdo. O mais importante para um trabalho efetivo é aceitar o aluno surdo como sujeito surdo; ajudá-lo a pensar e a raciocinar, não lhe dar soluções prontas; não superproteger; procurar tratar o aluno como qualquer outro, sem discriminação ou distinção. Acreditar, de fato, na potencialidade do aluno. 72 libras O MERCADO DE TRABALHO PARA AS PESSOAS SURDAS Esta seção é uma adaptação do artigo intitulado “As pessoas surdas e o mercado de trabalho” de autoria de Marília Ignatius Nogueira Carneiro e apresentado para a discipli- na “Trabalho, Educação e Práticas Pedagógicas” do Programa de Pós-Graduação em Educação, PPE, da Universidade Estadual de Maringá, UEM e ministrada pela prof.ª Dra. Maria Terezinha Bellanda Galuch e destaca o relacionamento entre a sociedade e a edu-cação, no que se refere à preparação para o trabalho e também procura mostrar como a economia capitalista reforça a diferença entre as classes alta, média e baixa, o preconcei- to em relação às etnias, gênero e, principalmente, em relação às deficiências. Iniciamos com uma fundamentação teórica, trazendo o pensamento de filósofos e pen- sadores que ressaltavam e criticavam a manufatura, a desigualdade e o preconceito. Comparando as pessoas com deficiências, com pessoas com baixa renda, discutimos o mercado de trabalho para os surdos e intérprete de Libras, sustentados em estudos teó- ricos da área dos Estudos Surdos1, mas principalmente nas experiências pessoais como pessoa surda de uma das autoras deste livro. O que relatamos aqui não são hipóteses, 1 Os Estudos Surdos constituem um campo investigativo que têm suas raízes nos Estudos Culturais, pois enfatizam as questões das culturas, das políticas, das identidades, dos processos de formação dos povos surdos, das práticas pedagógicas, das diferenças e das relações de poderes e saberes surdos. 73 libras são histórias reais que ocorreram, e continuam ocorrendo, muita concorrência e discus- sões por causa da vaga de professor de Libras, disputada por ouvintes e surdos, do mer- cado para o Tradutor e Intérprete de Libras - TIL e também para atuação em empresas. Skilar (1998), um dos principais representantes dos Estudos Surdos no Brasil, destaca que há um forte preconceito em relação aos surdos sinalizadores pelos ouvintes, pois entendem que se os surdos não falam, todas as imagens negativas em relação a um sujeito ficam também grudadas no surdo, inclusive a de que é impossível de desenvolver uma profissão: “Ser falante é também ser branco, homem, profissional, letrado, civilizado, etc. Ser surdo, portanto significa não falar, não ser profissional, não ser letrado ser surdo -mudo e não ser humano” (SKLIAR, 1998, p.21). Por outro lado, a educação atual, a legislação e mesmo a Constituição de nosso país, se fundamentam no princípio de igualdade entre todos os homens, igualdade esta, ain- da distante de ser alcançada pelos surdos, no que se refere à educação, igualdade de oportunidades de trabalho e, principalmente, de confiança em suas possibilidades frente a essas áreas de atuação. Algumas ideias sobre o capitalismo De maneira geral, podemos resumir a economia de sobrevivência assim: trocamos nosso trabalho pelas coisas que precisamos diariamente para viver. Isto é feito pelo salário que 74 libras recebemos pelo nosso trabalho na produção de algum bem para a vida social, seja este bem o produto final de uma fábrica, um atendimento médico, uma orientação econômica, uma atuação como jogador profissional, ou aulas. Na economia capitalista, a mercadoria, os bens, aquilo que a gente “troca” é o ponto prin- cipal e as condições de produção da mercadoria se transformaram ao longo da história, conforme exemplifica Marx (1998): Decompondo o ofício manual, especializando as ferramentas, formando os trabalhadores parciais, grupando-os e combinando-os num mecanismo único, a divisão manufatureira do trabalho cria a subdivisão qualitativa e a proporcionalidade quantitativa dos processos sociais e, com isso, desenvolve ao mesmo tempo nova força produtiva social do trabalho. A divisão manufatureira do trabalho, nas bases históricas dadas, só poderia surgir sob for- ma especificamente capitalista. Como forma capitalista do processo social de produção, é apenas um método especial de produzir mais valia relativa ou de expandir o valor do capital, o que se chama de riqueza social (MARX, 1998, p.417). Com o aperfeiçoamento das condições de produção, do estabelecimento do comér- cio entre países, com a descoberta de novos produtos para serem produzidos, criando novas necessidades aos consumidores, começou-se a se pensar em reduzir custos, aumentar os lucros, para que a sociedade capitalista ficasse cada vez mais forte. Isto foi conseguido com ajuda da tecnologia e ficou bem claro com a Revolução Industrial. A ciência e a tecnologia colocada à serviço da economia desde a Revolução Industrial 75 libras fortaleceu a sociedade capitalista, não apenas no que se refere às formas de produção, mas também, na vida social, contribuindo para o estabelecimento de classes entre os cidadãos: Classe Alta, Classe Média e Classe Baixa e, também, entre os países, em sub- desenvolvido e desenvolvido, ou países do Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro Mundo. Isto porque, agora, não basta querer trabalhar, é preciso também, estar preparado para este trabalho, estar “instrumentalizado”, ou seja, a divisão já se estabelece antes mesmo de se iniciar o trabalho, mas na oferta de vagas. Segundo Marx (1998, p.424), “na ma- nufatura, o ponto de partida para revolucionar o modo de produção é a força de trabalho, na indústria moderna, o instrumental de trabalho”. Trazendo esta discussão para as pessoas surdas, por ainda não termos uma educação que prepare essas pessoas para atuação em diferentes profissões e, mesmo quando o surdo, por mérito próprio, depois de muito esforço, e com grande apoio de sua família consegue se formar como engenheiro, dentista, psicólogo, por causa do preconceito existente na sociedade eles não conseguem trabalho. Assim, durante muito tempo, os surdos só conseguiam - e ainda hoje isto continua -, trabalhar em “linhas de produção”, em trabalhos repetitivos e mecânicos. Só atualmente, surgiu a possibilidade de instru- mentalizar o surdo para uma profissão mais bem remunerada em uma sociedade capi- talista, a de professor de Libras. Entretanto, mesmo com o amparo legal para que esta 76 libras função seja destinada preferencialmente aos surdos, os ouvintes disputam essas vagas e, novamente, em função do preconceito, acabam ganhando, pois se entende que um professor ouvinte pode desempenhar melhor suas funções. Contextualizando a surdez Na década de 1980, as discussões sobre qual seria a melhor abordagem para a educa- ção de surdos percorria todo o Brasil, evidenciando que, além das questões didático-pe- dagógicas, o grande embate estava nas concepções acerca da surdez. Para os defen- sores do Oralismo, a surdez era vista como uma deficiência, quase que uma patologia que necessitava ser “normalizada”. A concepção de surdez, subjacente à Comunicação Total, era de uma marca, com significações sociais. Para o Bilinguismo, a surdez é muito mais uma diferença do que deficiência. É, no entender de Skliar (1998), uma “experiência visual”. Proliferavam, nesta época, eventos acadêmicos, trabalhos acadêmicos, mono- grafias, dissertações e teses apresentavam propostas e experiências. Também somente a partir da década de 1980 é que foi entendida a necessidade de reconhecer o verdadeiro valor da cultura e da linguagem surda para o desenvolvimento cognitivo e da identidade dos surdos, isto porque nesta década foram iniciadas as dis- cussões sobre bilinguismo no Brasil, o que foi caracterizado por Sá (1998), como uma 77 libras “Virada linguística”. Foram os linguistas, professores e estudantes de Letras (graduandos e pós-graduandos), isto é, os membros da academia, que introduziram novos paradig- mas para a Educação de Surdos, por meio da realização de eventos com apresentação de pesquisas de acadêmicos, monografias, dissertações e teses contendo propostas e relatando experiências. Os surdos, que tanto padeceram no oralismo, seja por identidade, luta, rebeldia, reden- ção ou libertação, rapidamente levantaram a bandeira pela Educação Bilíngue, proposta pela academia, tornando-se seus defensores, exigindo mudanças educacionais e a ofi- cialização da sua língua, o que aconteceu em 2002. Atualmente, a surdez não é mais entendida como uma doença ou como uma deficiência que torna o surdo alguém inferior ao ouvinte. Hoje, o surdo é entendido como diferente do ouvinte, porque todos os seus mecanismos de processamento da informaçãoe todas as formas de compreender o mundo se constroem como experiência visual. Isso tem como consequência uma maneira especial de processamento cognitivo (como os surdos pen- sam, aprendem etc.). Os surdos se orientam a partir da visão, mesmo quando possuem restos auditivos ou usam aparelhos. Assim, a definição mais atual para a surdez é a de “experiência visual”, isto é, as expe- riências vivenciadas pelos surdos são muito mais experiências de visão do que de não 78 libras audição. O surdo é então a pessoa que compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais manifestando sua cultura pelo uso da língua de sinais. Como as representações simbólicas do mundo dependem dos canais sensoriais, a experiência visual está presente em todos os tipos de representações e produções dos surdos. O bilinguismo entende a surdez como diferença linguística, e não como uma deficiência a ser normalizada mediante a reabilitação como o oralismo. E assim, os surdos constitui- riam uma comunidade particular, com cultura e língua próprias. Para os bilinguistas a “problemática global do surdo” é “intimamente dependente de seu desenvolvimento linguístico” e “só mesmo o respeito à língua de sinais conduzirá a um maior sucesso educacional e social do surdo” (FERREIRA-BRITO, 1995, p.16). A educação dos surdos no Brasil mudou muito depois da adoção do bilinguismo como abordagem educacional, mas principalmente porque mudou a concepção das pessoas sobre a surdez. As mudanças ficam claras tanto na Lei 10.436, de 2002, conhecida como a Lei da Libras, porque reconhece esta língua como língua oficial do Brasil e es- tabelece as condições para uma escola ser bilíngue (garantindo o TIL em sala de aula e, consequentemente, abrindo mercado para ouvintes fluentes em Libras) e no Decreto 5626 de 2005 que, entre outras coisas, diz que o estudo da língua brasileira de sinais é obrigatório para os cursos de pedagogia, fonoaudiologia e todas as licenciaturas. Com 79 libras esta obrigatoriedade, é aberto um novo mercado de trabalho: o de professor de Libras, que no Decreto consta como sendo de atuação preferencial para surdos. Este cargo, porém, passou a ser alvo de disputa entre ouvintes e surdos. Professor de Libras: reserva de mercado para surdos? Para os surdos, as opções de trabalho disponíveis são, em geral, de auxiliares para várias funções, professor de Libras, instrutor, promotor de vendas, entregador, linha de produção, pedreiros, marceneiros, serventes, zeladores e outras vagas que não utilize telefone ou tenha atendimento ao público. Pode-se ver que, dentre as opções possíveis, a carreira uni- versitária, como professor de Libras é a mais atraente, mais bem remunerada e a que ofe- rece melhor status social. A maioria das pessoas surdas que concluem cursos superiores forma-se em Pedagogia ou em outras licenciaturas e só conseguiam trabalho nas escolas especializadas que, na maioria, estão sendo fechadas em função da proposta inclusiva. Consideramos que pode até haver uma parceria entre professores surdos e ouvintes, por exemplo, os ouvintes podem trabalhar a parte teórica, sobre os aspectos sintáticos e morfológicos da Libras, os professores ouvintes que devem ministrar aulas sobre in- terpretação e mesmo tradução em Libras, mas a prática desta língua, esta pertence aos professores surdos. 80 libras Dizer que pode haver parceria entre surdos e ouvintes no ensino de Libras não significa dizer que os surdos não são capazes de ministrar a parte referente aos aspectos linguís- ticos da Libras. Ao contrário, se o surdo tem o curso de Licenciatura Letras/Libras, não apenas ele conhece os aspectos teóricos em igualdade de condições com o ouvinte, como é capaz de apresentar exemplos, mais ricos, em função de sua experiência visual. Por exemplo, existe uma parte muito importante da Libras, que são os classificadores, que dependem basicamente da “experiência visual” e, assim, os surdos, agora pela pró- pria condição, possuem melhores condições de ensinar e exemplificar. De acordo com Nogueira, Carneiro e Nogueira (2012), o classificador é um poderoso auxi- liar da língua de sinais para determinar as especificidades e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou signos visuais. Dito de outra forma, os classificadores representam a forma e o tamanho dos referentes, características dos movimentos dos seres em um evento, função de um objeto, com a função de descrever o referente dos nomes, adjetivos, advérbios de modo, verbos e locativos. Para as línguas de sinais, a descrição, a reprodução da forma, do movimento e da relação espacial do que se quer enunciar são fundamentais, porque tornam mais claros e compreensíveis seu significado. Essa é a principal função dos classi- ficadores em Libras e é por isso que eles são tão importantes em Libras. Os classificadores são icônicos pela semelhança entre a sua forma ou o tamanho do objeto a ser referido, e, muitos podem ser criados no decorrer de uma conversa, como se tratasse 81 libras de um “neologismo”. Entretanto, como para essa “criação” devem ser obedecidos não ape- nas os parâmetros da Libras, mas as regras morfológicas para a criação de novos sinais, os classificadores apesar de serem icônicos não podem ser considerados como mímica. Ainda segundo Nogueira, Carneiro e Nogueira (2012), a denominação de classificadores (CLs) para essa categoria gramatical da Libras foi atribuída pela comunidade de linguistas por comparar suas funções com as dos classificadores da língua oral. Entretanto, os pesquisadores surdos, entendem que essa estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma definição mais adequada, para nomeá-la de acordo com as perspectivas viso-espaciais. Além disso, mesmo conhecendo muito sobre a Libras, a maioria dos ouvintes possui uma “autocensura” quanto ao uso do corpo e das expressões faciais. Nossa experiência e observação de professores ouvintes, bem como de intérpretes em atuação, com pou- cas exceções, é “inativo”, utilizando pouco os classificadores e as expressões faciais/ corporais. Se um surdo, e mesmo um ouvinte que conhece profundamente os surdos, vivencia a comunidade surda, observa, à distância algumas pessoas falando em Libras, é possível identificar quem é surdo e quem é ouvinte, pela falta de dinamicidade dos movimentos e pobreza das expressões faciais. Se as aulas de Libras forem ministradas por ouvintes, 82 libras esta dificuldade pode ser acentuada, já que, conviver com surdos (no caso, o professor de Libras) é uma das principais ações que podem favorecer a libertação da “autocensura” em relação ao uso das componentes não manuais. Este fato tem as mesmas significa- ções na comunicação em sinais que se o professor surdo não fala muito bem oralmente e não utiliza bem a prosódia e as entonações da Língua Portuguesa. Mesmo oralizado, o surdo apresenta “sotaques”, como se fosse estrangeiro. Assim também é o professor ouvinte. Ele não é um “nativo” da língua, ele é como estrangeiro, que tem a Libras como sua segunda língua. Não defendemos que todos os surdos fluentes em Libras, apenas por serem “nativos” são considerados aptos ao cargo de “professor”. Para isto, o surdo precisa ter conhe- cimento profundo da língua de sinais como L1, comprovada mediante a graduação em Letras/Libras. Precisa ser avaliado em provas de conhecimentos sobre a Libras, em pro- va didática em que demonstre conhecimentos de metodologias adaptadas para o ensino aos alunos ouvintes. Além disso, nem todo surdo possui vocação para professor, e muitos, optam por outras profissões. Entretanto, as Licenciaturas em Letras/Libras ofertadas atualmente nas ins- tituições públicas brasileiras (16 cursos distribuídos por todas as regiões brasileiras, na modalidade semipresencial) são totalmente ofertados em Libras, fato que, por si só, se constitui em grande atrativo para os surdos, que até este momento de suaescolarização padeceram com a dificuldade de comunicação. Poderem cursar uma universidade, em 83 libras um curso em que a maioria dos professores é fluente em libras, conviver com professo- res surdos que cursaram mestrado e doutorado, além de ter todo o material de estudo, as avaliações, os avisos, as mensagens, tudo em sua língua é um sonho realizado. Portanto, o curso de Letras/Libras é realmente atraente para os surdos e assim, quase todos se encaminham para esta profissão, o que é uma razão a mais para se pensar no mercado de trabalho. Durante a realização do 1º Encontro Nacional de Professores de Libras no Ensino Superior, ocorrido em Fortaleza, de 16 a 18 de outubro de 2013, houve uma discussão entre professores surdos e ouvintes dos estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil, com acusações de que as universidades públicas desses estados abriram concursos, mas não consideraram a recomendação do Decreto Federal 5626 de 2005, de que seria dada preferência aos professores surdos e assim, mesmo tendo candidatos surdos ha- bilitados prestando concurso, a maior parte dos professores efetivados são ouvintes. Os surdos recorreram ao Ministério Público, que até agora ainda não se pronunciou. Já aconteceu, também, de instituições que estabeleceram em seu edital de abertura de concurso, a preferência para candidatos surdos, mas não apareceram concorrentes e a vaga ter ficado com um ouvinte. Aí, nada há a ser feito e está correto. Então, de novo, nossa defesa é que a vaga seja preferencialmente para os professores surdos e não exclusivamente. 84 libras Outro ponto que é fundamental destacar é que a contribuição dos ouvintes fluentes em Libras é fundamental para o desenvolvimento, a educação, a vida social do surdo, na condição de intérpretes. O intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e ouvintes. Na maioria dos casos, os intérpretes têm contato com a língua de sinais a partir dos laços familiares da convivência social com vizinhos e amigos surdos (ocorrendo geralmente em espaços escolares e religiosos). No Brasil ainda não há tradição na profissão ou formação específica para esses profissionais, da mesma forma que há para intérpretes de língua orais de prestígio como, por exemplo, intérprete de língua inglesa e francesa (GESSER, 2009, p.47). Todavia, sabemos que as universidades, empresas, instituições de saúde, de educação, órgãos de atendimento à população ainda não têm efetivado a contratação de intérpre- tes, o que diminui a oferta de vagar para os ouvintes. São poucas instituições públicas que abriram concursos para Intérpretes de Libras. Reis (2006) ressalta a importância dos intérpretes: Em relação ao surdo, é importante ressaltar suas conquistas, como garantias individuais e o pleno exercício da cidadania, mediante o respaldo legal na Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, nesta é reconhecida o Estatuto da Língua de Sinais como língua oficial da comunidade surda. Considerando os preceitos legais, constatamos que o empregador deva favorecer o profissional surdo com um (uma) intérprete, a fim de favorecer sua comunicação, como tam- bém o respeito a sua diferença lingüística. Portanto, as empresas ou locais de trabalho que tenham surdos como funcionários precisam propiciar as reais condições de inclusão social. 85 libras Situação de luta, visto que cada vez mais sofremos com um sistema produtivo que aumenta as desigualdades sociais, eleva a concentração do poder econômico, como também a exclu- são social, que além de gerar desemprego, dissemina a idéia do individualismo, ou seja, “cada um por si” (REIS, 2006, p.73). Também temos muitos pesquisadores, principalmente da área da Linguística que realizaram estudos e publicaram os livros sobre a Libras. Estes livros permitem a difusão da Libras, permitem o aprofundamento dos estudos sobre a sintaxe e a morfologia da Libras, conceitu- am profundamente sobre metodologia de educação aos surdos, favorecem os direitos dos surdos, enfim, são fundamentais para que nós, os surdos, possamos também nos apro- fundar. Enfim, as parcerias, as contribuições dos ouvintes são muito importantes para nós, não estamos decretando “guerra” aos ouvintes. Estamos apenas querendo defender nosso ponto de vista sobre o respeito ao que está estabelecido nos documentos legais acerca da preferência ao professor surdo. Vejamos, é impossível aos surdos pegarem os lugares de ouvintes para adquirir o cargo de intérprete de Libras/Português falado, portanto, no mesmo campo de conhecimento, o domínio da Libras, estamos em desvantagem. Pensamos que os ouvintes deveriam ser intérpretes, tradutores, pesquisadores de Libras, e nós, os surdos, atuaríamos como professores. Seria mais justo, pois o ouvinte tem acesso às duas profissões e nós não. Outra coisa que também precisa ser estabelecida é que os ouvintes estão recorrendo à vaga de professor de Libras para ingressar como docente no ensino superior, porque 86 libras este concurso é mais fácil para eles, do que concorrer à área de Linguística, por exemplo, porque para ser professor de Libras, ainda não se está exigindo os títulos de mestrado e de doutorado que são exigidos para as demais áreas. Uma professora ouvinte de Libras justificava sua inscrição no concurso assim: “Amo os sur- dos e quero ajudar, conheço Libras, mas não tenho dom para ser intérprete e sim professor universitário para dar aula de Libras aos alunos ouvintes, sei que os surdos precisam deste cargo de professor porque é boa oportunidade para o futuro, mas não briguem comigo porque o dom é meu destino”. Fiquei surpresa com essas frases “de efeito”. É o dom que destina o seu trabalho? E o profissionalismo? E a ética? A maioria das Instituições de Ensino Superior que são obrigadas a contratar professores de Libras em função do Decreto 5626, preferem professores ouvintes, por entenderem que é mais fácil, tanto para “dar aulas” a outros ouvintes, quanto para a convivência no ambiente de trabalho. O desconhecimento da capacidade do professor surdo em ministrar aulas faz com que as pessoas pensem que seria necessário ter um intérprete presente na sala de aula. Isto aumentaria os custos e, assim, as instituições particulares preferem contratar o professor ouvinte. Muitos intérpretes até reclamam quando o profes- sor surdo não quer a presença de intérpretes, dizendo que o surdo está cerceando seu acesso ao trabalho. Mas o professor surdo sabe que é capaz e, além disso, na sala de aula ele é a pessoa com a qual seus alunos devem se relacionar. 87 libras Mas na aula de Libras não é o único local de estudo em que se fala outra língua e não existe a presença de intérpretes. Por exemplo, um centro de idiomas tem professor de inglês ou outro idioma, fala e escreve puramente na língua estrangeira, dificilmente uti- liza português escrito ou oral, principalmente para facilitar a imersão do aluno em um ambiente linguístico que favorece a aprendizagem do novo idioma e também, para não misturarem a gramática das duas línguas. No caso da Libras, o professor surdo utiliza a leitura labial ou a escrita para compreender a dúvida dos alunos e, se não for oralizado, escreve no quadro a resposta que não for possível ser compreendida em Libras. O fato é que o professor surdo consegue administrar e gerenciar sua ação pedagógica com os alunos ouvintes. A pesquisadora surda, Karin Strobel, uma das sete doutoras surdas brasileiras registra muito bem esta situação, quando pede que os espaços conquistados pelos surdos se- jam respeitados: Respeitar os espaços conquistados pelos sujeitos surdos enquanto estão em produção cultural, por exemplo: tem muitos sujeitos ouvintes que querem “competir” com os surdos e assim fazem com que o povo surdo suspeite dos mesmos, devido à longa história de opressão de lutas de relações de poderes para conquistarem seus espaços. Tem muitos ouvintesque aproveitam dos espaços conquistados pelos surdos para ensinar a língua de sinais e outras coisas, alegando que têm direitos iguais... Mas onde estão os direitos de igualdade enquanto na sociedade os sujeitos ouvintes geralmente são mais preferidos que os surdos? Isto acontece nas maiorias de empresas, nas universidades, nas instituições 88 libras ou até mesmo em igrejas, que preferem profissionais ouvintes para não ter de contratar intérpretes de libras para os professores surdos. Também pela barreira de comunicação é difícil conseguir contatos via telefone, por exemplo. No futuro, quando a sociedade tiver uma representação sem estereótipos e mais positiva em nível de igualdade entre surdos e ouvintes, se olharem o povo surdo como diferença cultural, e não como deficientes, daí não teriam esta “guerra cultural” entre eles (STROBEL, 2008, p.111). O embate entre professores de Libras ouvintes e surdos, que discutimos nesta seção, infelizmente, não é o único em que os surdos enfrentam a “supremacia” dos ouvintes. O não respeito aos espaços conquistados, ou mesmo ao sujeito surdo é uma constante. Por exemplo, alguns ouvintes assumem o cargo de ser representante de um ministério ou pastoral, dependendo da Igreja, destinados aos surdos. Até bem recentemente, até mesmo as associações de surdos eram presididas por ouvintes. Não queremos excluir os ouvintes. Eles são importantes e precisamos deles não apenas como intérpretes, mas também como parceiros, conselheiros, companheiros de luta. Mas é preciso entender que nós, surdos, também podemos assumir responsabilidades, podemos ser “senhores” de nossos destinos, podemos dirigir nossas vidas, seja de ma- neira individual, seja coletivamente. O representante dos índios junto ao governo deveria ser negro? O presidente de uma associação vegetariana poderia ser uma pessoa carní- vora? O presidente da OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, deve ser um engenheiro civil? E, a associação dos intérpretes de Libras, deve ter como presidente um surdo? 89 libras O que estamos defendendo é que existem espaços definidos. Não são espaços exclu- dentes, ao contrário, muito se espera da parceria entre as pessoas diferentes, desde que as diferenças sejam respeitadas, conforme salienta Perlin (1998, p.72), “importa salientar as diferenças das pessoas. Respeitá-las como surdas, índias, nômades, negras, bran- cas... Importa deixar os surdos construírem sua identidade, assinalarem suas fronteiras em posição mais solidária do que crítica”. Os surdos não querem mais continuar sofrendo a opressão da maioria ouvinte. Entendemos que esse polêmico “domínio dos ouvintes” é agravado pela economia capitalista, pela ideia do livre mercado, com todos correndo em busca de melhores salários e de facilidades. Esta mesma filosofia capitalista também restringe as possibilidades do mercado de traba- lho para os surdos. Klein (1998, p.77) analisa que o mercado tem ideia preconceituosa sobre as possibilida- des de trabalho dos surdos, e nesta busca pela eficiência e lucratividade, do capitalismo, restringem as ofertas de vagas aos surdos aos cargos de corte e costura, marcenaria, informática, auxiliar de serviços gerais. Isto, quando ele consegue emprego e não é im- pelido a uma marginalidade indesejada, vendendo adesivos e chaveiros nos sinaleiros e terminais de ônibus. Além da dificuldade de se conseguir boas carreiras profissionais, os surdos enfrentam muita discriminação em seus trabalhos nas empresas. Conheço uma surda que sofre “gozações” do gerente, até com a oferta de “prêmios desagradáveis”, por exemplo, o de 90 libras funcionária “mais quietinha” porque ela não conversa com ninguém. Ora, não existe ne- nhum intérprete na empresa, nem uma proposta de ensino de Libras para os funcionários ouvintes. Como ela vai se comunicar? Essa surda se sente como um “animalzinho” por ganhar o prêmio. Assim, entendo que as empresas precisam receber informações sobre surdez, cultura, língua, também devem realizar os cursos de Libras para os funcionários, pois somente desta forma estaremos enfrentando as barreiras e aprimorando a inclusão social. Porém, mais importante de tudo, é acreditar no potencial do surdo e respeitar os espaços tão duramente conquistados. É esta a principal mensagem que este artigo traz para a reflexão de todos, em particular dos ouvintes que pretendem ser professores de Libras. SAIBA MAIS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Os estudos linguísticos salientaram a variação linguística em Libras. É “multiculturalismo”, isto é, são várias culturas familiares e sociais diferentes, o local, o tempo, a educação, tudo isto influencia e pode alterar um sinal ou uma palavra. Isto é chamado de variação linguística. 91 libras Precisamos entender que, da mesma forma que acontece com as línguas orais, as di- ferenças regionais influenciam também nos sinais da Libras. O Brasil é um país grande, com diferentes dialetos, de maneira que os diálogos, as maneiras de se expressar, são diferentes. Assim, a comunidade surda de determinada região recebe influências que refletem nos sinais utilizados, sendo comum a variação linguística. Também não podemos esquecer da história da Libras, que por ter sido proibida durante muitos anos, teve difi- culdades em estabelecer uma unidade nacional, o que só após o reconhecimento desta língua como um idioma nacional vem sendo construída. O mais importante: faça o sinal como você aprendeu. Se não existe ainda um sinal para o que você quer representar, um surdo pode criar (batizar) um sinal ou criar um provisório, utilizando os classificadores. Exemplos: Morango Sinal em SP Sinal em MS 92 libras Sinal no PR Caneta Sinal no RJ Sinal no PR e em SP Verde Sinal em SP Sinal no PR e outros Sinal em alguns locais do PR 93 libras Mãe Sinal em MSSinal no PR e outros INDICAÇÃO DE LEITURA A nossa Dica de Leitura é o livro: Tenho um aluno surdo, e agora?, organizado por Cristina Broglia Feitosa de Lacerda e Lara ferreira dos Santos. Publicado pela Editora da Universidade Federal de São Carlos, com primeira reimpressão em 2013, este livro foi vencedor do Prêmio Jabuti de 2014, na categoria educação. O objetivo principal do livro é oferecer um conheci- mento inicial sobre a educação de surdos e a Libras, buscando subsidiar a atuação do professor da educação básica junto a alunos surdos. Todavia, as discussões e o conhecimento partilhado atendem às deman- das de qualquer profissional que atue com sujeitos surdos. Certamente este é um texto que vai colaborar com sua formação profissional, porém, mais do que conhecimentos e técnicas, ele vai causar uma mudança, para melhor, em seus valores éticos e sociais. 94 libras REFLITA! Com relação à educação, devemos sempre considerar que esse espaço perten- ce ao professor e ao aluno e que a liderança neste processo é exercida pelo pro- fessor, sendo o aluno de sua inteira responsabilidade. Assim, é absolutamente necessário entender que o TILS é apenas um mediador da comunicação e não o responsável pelos processos de ensino e de aprendizagem do aluno surdo. Os papéis do professor e do TILS são absolutamente diferentes e precisam ser devi- damente distinguidos e respeitados. Considerando este fato, como você encara a presença da disciplina de Libras em sua grade curricular? Reflita a respeito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta Unidade II, você teve a oportunidade de conhecer um vocabulário mínimo para sua futura atuação profissional. Você também teve orientações sobre a importância de consultar dicionários virtuais que complementem este material, apresentando o sinal com movimento. Abordamos, também, nesta Unidade II, quais as atribuições do tradutor intérprete de Libras – TILS, no atendimento educacional aos surdos. Todavia, se o professor é fluente em Libras, ele é a pessoa mais habilitada para interagir com seus alunos usuários da Língua de Sinais. Uma vezque o professor possua uma 95 libras comunicação efetiva nessa língua não existe a barreira da comunicação, mas mesmo assim, o TILS será necessário, pois não é viável, em função da maioria dos alunos serem ouvintes, que a aula seja inteiramente ministrada em Libras. No caso dos demais profissionais, se a comunicação com o surdo não se efetivar, a atu- ação do TILS pode favorecer, seja ele um profissional ou um familiar, entretanto, esta pos- sibilidade nem sempre está ao alcance de todos e assim, um conhecimento mínimo da Libras seria de muita utilidade. Mesmo que isso não se efetive, o profissional deve se valer de todos os recursos disponíveis, como a mímica, a escrita ou o desenho, de maneira a se comunicar com o surdo, respeitando este cidadão e promovendo a inclusão social. No que se refere à educação, deve ficar claro que não cabe ao TILS a responsabilidade pelo ensino do aluno surdo, nem o acompanhamento de seu processo educativo, sen- do de fundamental importância que professor e alunos desenvolvam entre si interações sociais e habilidades comunicativas de forma direta e evitando-se sempre que o surdo dependa totalmente do intérprete. Conforme já comentamos anteriormente, você decide a qualidade do profissional e do ser humano que pretende ser! 96 libras ATIVIDADES 1) Identifique os sinais, crie frases e sinalize em Libras, de preferência, defronte a um espelho. 1. 2. 3. 4. 97 libras 5. 6. 7. 8. 9. 98 libras 10. 11. 12. Por exemplo – na sequência 3: Dia das mães – Sempre compro presente para mamãe. 99 libras 2) Identifique os sinais, crie frases e pratique em Libras. 1 2 3 4 5 6 7 8 100 libras 3) Considerando o que você estudou nesta Unidade II, estabeleça os limites de atua- ção do professor e do TILS. 4) Considerando o que você estudou nas seções 4 e 5 desta Unidade, estabeleça os limites de atuação entre o professor de Libras surdo e o TILS. 5) Analise os sinais que foram apresentados nas diferentes unidades semânticas desta unidade e destaque quais são os mais icônicos e quais são os mais arbitrários (por unidade semântica). Apresente alguns exemplos para ilustrar sua resposta.