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Episódio - Jornalismo como agendamento social

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REDAÇÃO 
JORNALÍSTICA E A 
SOCIOLINGUÍSTICA 
Marcilene Forechi
Jornalismo como 
agendamento social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar a objetividade e a subjetividade jornalística.
  Identificar a construção social por meio dos fatos jornalísticos.
  Analisar o papel do jornalismo no agendamento social.
Introdução
A objetividade é um dos elementos mais importantes para a prática do 
jornalismo. Apesar de haver unanimidade a seu respeito, a prática da 
objetividade enfrenta muitas dificuldades. A principal delas refere-se à 
naturalidade com que esse conceito se relaciona ao de subjetividade. Para 
diversos autores, essa oposição é inadequada, uma vez que a objetividade 
jornalística surge como método a partir da constatação da inevitabilidade 
da subjetividade. Fato é que esse modelo de jornalismo, objetivo, isento 
e imparcial, se constitui no modelo praticado até os dias de hoje e exerce 
influência no modo como construímos socialmente a realidade. 
Neste capítulo, você entenderá o que é e como se instituiu a obje-
tividade no jornalismo e quais são as problematizações na sua relação 
com a subjetividade. Além disso, verá como os fatos são construídos 
jornalisticamente. Por fim, analisará o modo como a produção jornalística 
dos fatos promove um agendamento de eventos e práticas discursivas 
na sociedade.
Objetividade e subjetividade jornalísticas
Para muitas pessoas, falar de objetividade jornalística é o mesmo que falar da 
própria “essência” do jornalismo. Ou seja, trata-se de um princípio do qual 
não se pode abrir mão. O jornalismo, como o conhecemos na atualidade, tem 
suas bases fundamentadas na imparcialidade, na neutralidade, na objetividade 
e no que se convencionou chamar de “verdade dos fatos”. O Código de Ética 
dos Jornalistas Brasileiros, editado pela Associação Brasileira de Imprensa 
(ABI, 2013), traz esses princípios como regras de conduta a serem aplicadas 
pelos jornalistas como forma de garantir a qualidade da informação prestada 
à sociedade. 
Ainda assim, quando se trata do jornalismo, não há consenso sobre os 
conceitos de objetividade e de subjetividade. Entre os profissionais que praticam 
o jornalismo como profissão, essa discussão não costuma ser feita. De uma 
perspectiva teórica, pode-se dizer que se trata de uma discussão superada, dada 
a impossibilidade de separar os sujeitos que narram os fatos (os jornalistas) do 
fato em si. No entanto, você pode se perguntar: então, o que há para discutir 
diante dessa impossibilidade? 
Para compreender melhor esses conceitos e suas implicações, é preciso 
lembrar que a objetividade, como um atributo do jornalismo, começou a ser 
aplicada a partir do fim do século XIX, apesar de registros apontarem suas 
origens como bem mais antigas. Ela surgiu em um momento no qual o jorna-
lismo vivia uma “crise de credibilidade” e que, ao mesmo tempo, tentava se 
impor como um campo de saber especializado. Não havia, naquele momento, 
a intenção de opor os conceitos de subjetividade e objetividade. Ao longo do 
tempo, no entanto, essa interpretação se consolidou, a ponto de se discutir 
bem pouco sobre ela. 
Essa visão oposicionista pode ser considerada um “problema” que o jor-
nalismo enfrenta e que, em muitos casos, se recusa a admitir. O pesquisador 
Nelson Traquina (2005), em seu livro Teorias do Jornalismo. Porque as no-
tícias são como são, afirma que essa dicotomia não se sustenta, uma vez que 
o conceito de objetividade não surgiu como negação da subjetividade, mas 
como reconhecimento da sua inevitabilidade. Ou seja, quando o conceito 
passou a ser aplicado, a partir do fim do século XIX, a intenção era conferir 
credibilidade ao campo jornalístico. 
Segundo Traquina (2005), a objetividade, no jornalismo, refere-se a uma 
série de procedimentos que os membros da comunidade, os jornalistas, passa-
ram a adotar como forma de assegurar credibilidade às notícias que produziam. 
A ideia a transmitir era a de que não havia interesse em uma versão de um 
fato, e sim no compromisso com a “verdade dos fatos”. Traquina (2005) cita 
a pesquisadora Gaye Tuchman (1999), para quem a objetividade seria um 
“ritual estratégico”. 
Jornalismo como agendamento social2
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros diz, em seu art. 2º, inciso II, que “[...] a 
produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos 
e ter por finalidade o interesse público” (ABI, 2013, documento on-line). Já no art. 3º, o 
Código diz que “[...] a informação divulgada pelos meios de comunicação pública se 
pautará pela real ocorrência dos fatos” (ABI, 2013, documento on-line). Esses dois artigos 
apresentam, de forma bem clara, a adesão institucional ao princípio da objetividade, 
uma vez que tratam o fato como algo “real” e, portanto, passível de ser reportado pelo 
jornalismo tal e qual ocorreu. O art. 4º, no capítulo que trata da conduta profissional, 
expressa que “[...] compromisso fundamental do jornalista” deve ser “com a verdade 
no relato dos fatos”, que seria conseguida com a precisa apuração dos acontecimentos 
(ABI, 2013, documento on-line). O Código de Ética não deixa claro, no entanto, o caráter 
subjetivo de quem narra os fatos. Como todo código que tem por finalidade orientar 
condutas, há um regramento pautado em conceitos como realidade, verdade, correção 
e neutralidade. O documento deve ser lido de forma crítica, a partir do entendimento 
de que o jornalismo apresenta para a sociedade uma versão do fato, e não o fato em 
si, versão construída a partir da mediação de indivíduos (jornalistas), empresas de 
comunicação, meios de comunicação e tecnologia. 
A objetividade como método jornalístico
O culto à objetividade em oposição à subjetividade pode levar a crer que os 
fatos são descritos tal e qual surgem nos noticiários jornalísticos. Pena (2006, 
p. 50), a partir de estudos de Michael Schudson (2001), diz que o conceito de 
objetividade se desenvolveu por três principais motivos: 
1) a partir do ceticismo da sociedade americana no começo do Século XX, 
influenciada pelas críticas à razão promovidas pela psicanálise; 
2) pelo nascimento da profissão de relações públicas, capaz de produzir fatos 
para beneficiar determinadas empresas; 
3) e pela influência da propaganda, cuja eficácia pode ser comprovada no 
apoio dado pela população americana à entrada dos Estados Unidos na Pri-
meira Guerra Mundial.
Diante da inevitabilidade das escolhas subjetivas feitas por jornalistas, 
foi preciso criar um método que desse conta de narrar uma versão do fato de 
forma mais objetiva possível. Essa era a ideia original. O jornalismo precisava 
encontrar um modo de se diferenciar dos textos de relações públicas (asses-
3Jornalismo como agendamento social
sores de imprensa) e publicidade. Assim, adjetivos, juízos e versões únicas 
passaram a ser condenados. 
A prática jornalística passou a ser orientada de forma a narrar um fato a 
partir de vários olhares, que seriam obtidos de fontes diversas. A premissa de 
que “é preciso ouvir os dois lados” se tornou um mantra repetido em manuais 
de redação e livros jornalísticos. Com o passar do tempo, no entanto, a ideia 
de objetividade como método foi se perdendo, e passou-se a exigir dos pro-
fissionais jornalistas que essa característica fosse algo pessoal e inalienável. 
A sociedade passou a confundir a objetividade como método com a própria 
objetividade do jornalista, deixando de considerar que os sujeitos jamais 
deixarão de ser subjetivos. Esse entendimento teve repercussões na própria 
divisão feita no jornalismo, que passou a separar opinião de informação, 
confundindo o texto com o discurso. 
As discussões sobre objetividade e subjetividade no jornalismo ganharam novos 
contornos com a cultura digital, ou cultura da conexão, devido a mudanças no modo 
de produzir, mas não apenas isso. As relações em rede, possibilitadas pela Internet e 
potencializadas com as ferramentas que permitema conexão — principalmente os 
dispositivos móveis —, fizeram surgir novas possibilidades para o jornalismo. Esse novo 
modo de entender, não o jornalismo especificamente, mas a produção e a circulação de 
notícias, surge a partir dos anos de 1999 e se estende até hoje. Esse modo de jornalismo 
ficou conhecido como jornalismo colaborativo, jornalismo participativo, open source ou 
jornalismo cidadão. Trata-se de um modelo que colocou em questão a tão apregoada 
objetividade e neutralidade no jornalismo. Isso porque pessoas comuns passaram a 
ter acesso aos meios de produção da notícia e a criar seus próprios conteúdos. Ou 
seja, apenas com um celular dotado de uma câmera, passou a ser possível a qualquer 
pessoa capturar uma cena, interpretá-la e transmiti-la na internet, em blogs, em sites, 
ou em conversas nas redes sociais. 
A construção social por meio dos fatos 
jornalísticos 
Pensar a objetividade como a capacidade de se posicionar de forma neutra 
diante de um fato e de narrar esse fato tal e qual ele ocorreu implica em re-
tomar alguns conceitos intimamente imbricados: verdade e realidade. Nesse 
Jornalismo como agendamento social4
ponto, cabe uma pergunta que tem sido feita por pesquisadores e que ainda 
não encontra eco nas redações de veículos de comunicação e nas práticas 
jornalísticas: “Pode um sujeito descolar-se da realidade de forma a fazer uma 
narrativa isenta e objetiva?” Eu diria que, do ponto de vista do método da 
produção jornalística, isso seria possível. 
Para os que defendem cegamente a objetividade jornalística, a verdade 
está lá, colada no fato, e basta ao repórter fazer as perguntas certas para que 
ela se reflita na notícia tal qual um espelho. A verdade, nessa perspectiva, 
portanto, permitiria ao jornalismo produzir notícias que seriam o espelho da 
realidade. Pode-se pensar a verdade a partir de, pelo menos, duas perspectivas 
(HENRIQUES, 2016). Na primeira, a verdade seria concebida como resultado 
de uma adaptação ou correspondência correta do intelecto ao real. Sendo 
assim, o jornalismo deve perseguir essa verdade pressuposta, ou seja, ele deve 
fazer “seus” produtos serem uma reprodução fiel desse real autônomo. Já na 
segunda perspectiva, a verdade é entendida como resultado de um consenso 
entre uma certa comunidade e os atores que a integram. Nesse caso, a tarefa 
do jornalismo seria produzir notícias que estivessem de acordo com “[...] o 
entendimento e compreensão do mais amplo público possível” (HENRIQUES, 
2016, documento on-line).
O que se deve ter em mente é que, mais importante do que discutir qual 
noção de verdade é a correta, é problematizar os efeitos de cada uma dessas 
perspectivas para a sociedade e para o jornalismo. Pode-se considerar que 
a verdade, como aquilo que pode ser verificado pelo jornalista na produção 
da notícia, nos coloca diante de fatos que deveriam existir por si mesmos, 
independentemente da relação que se estabelece entre os sujeitos envolvidos 
nos fatos. 
No entanto, uma vez que os fatos só podem existir quando articulados 
a uma série de circunstâncias e sujeitos, acredita-se que essa noção de ver-
dade — existente por si só e externa ao sujeito — é uma impossibilidade. O 
jornalista encontrará pela frente uma série de obstáculos para chegar a uma 
verdade dos fatos: preconceito, interesses materiais, pressa, dificuldade de 
tempo e espaço, omissão, falta de acesso às fontes. 
Todavia, ao pensar a produção da notícia, principal matéria-prima do 
jornalismo, deve-se levar em consideração que não há linguagem neutra e 
que o jornalista não tem como transmitir uma versão isenta do fato, ainda que 
ele acredite nisso. O olhar do jornalista, o modo de produção jornalística, a 
estrutura das redações e mais uma série de elementos operam como filtros no 
processo de mediação da realidade. O público não tem acesso direto ao fato, 
5Jornalismo como agendamento social
mas sim a uma versão dele. A notícia sempre será a representação de um ou 
mais fatos, narrados sob a lógica do jornalismo. 
Essa ideia de transmissão do fato reflete um paradigma da notícia como um 
espelho da realidade. Por meio da teoria do espelho, os fatos são narrados tal e 
qual aconteceram, e a versão apresentada pela imprensa é apenas um reflexo 
da verdade. A crença, nesse caso, é de que as notícias refletem a realidade, o 
que confere a credibilidade necessária ao jornalismo. Nos estudos das teorias 
da notícia, pesquisadores se debruçam sobre as práticas jornalísticas e lançam 
argumentos que refutam a teoria do espelho. Essas teorias propõem olhar para 
as notícias como construções sociais. 
Teoria do newsmaking 
O jornalismo e os fatos que ele produz não são o espelho do real, e sim uma 
construção social da realidade. É por meio de uma série de procedimentos e 
negociações que os jornalistas produzem o que se chama de notícia, entendida 
como informação jornalística. Essa é uma teoria construtivista, ou seja, trabalha 
com a perspectiva da construção da notícia. Entretanto, isso não signifi ca que 
as notícias são obras de fi cção. 
As notícias, necessariamente, possuem correspondência com a realidade 
exterior. A notícia como construção social da realidade leva em consideração 
que há toda uma lógica de produção e de modos de fazer compartilhados por 
uma comunidade — a comunidade de jornalistas. Esses saberes compartilhados 
e internalizados influenciam o processo de construção do real. 
Deve-se considerar, ainda, que o processo de produção da notícia é pla-
nejado como um processo industrial e tem seus procedimentos e limites 
organizacionais. O jornalista, portanto, é um participante ativo na construção 
dos fatos jornalísticos, mas não possui autonomia para sua produção. Pena 
(2006) destaca a imprevisibilidade dos acontecimentos como um elemento a 
ser considerado na produção das notícias. Segundo ele, “[...] diante da impre-
visibilidade dos acontecimentos, as empresas jornalísticas precisam colocar 
ordem no tempo e no espaço. Para isso, estabelecem determinadas práticas 
unificadas na produção de notícias. É dessas práticas que se ocupa a teoria 
do newsmaking” (PENA, 2006, p. 130).
Pode-se destacar duas práticas das quais se ocupa a teoria do newsmaking: 
1. Noticiabilidade: um conjunto de critérios, operações e instrumentos 
para que se escolha entre um número incontável de fatos aqueles que irão 
compor o universo limitado de notícias nos veículos de comunicação. 
Jornalismo como agendamento social6
A noticiabilidade é negociada pelos atores que integram o processo 
produtivo das notícias, com base nos valores-notícia e em critérios 
pretensamente objetivos, a fim de definir o quanto eles são significativos 
para serem transformados em notícia. 
2. Sistematização do trabalho jornalístico: essa sistematização ocorre 
por meio das rotinas produtivas, que organizam, por sua vez, o trabalho 
dos jornalistas dentro das redações. Há uma divisão entre pauteiros, 
editores e repórteres. Cada um ocupa uma função específica e interligada 
às demais. Além da divisão por funções, há a divisão por editorias e 
horários de fechamento, que integram e interferem na rotina de produção 
e no produto, a notícia. Essa sistematização do trabalho permite que os 
jornalistas incorporem modos comuns de realizar determinada tarefa e 
saibam quais valores-notícia devem ser considerados em dado momento.
A perspectiva da construção social da realidade, na qual se fundamenta 
a teoria do newsmaking, tem suas origens na sociologia do conhecimento. É 
preciso destacar que não se pode pressupor que os processos de rotinização 
do trabalho jornalístico sejam determinantes, por si só, da construção da 
realidade por meio das suas narrativas. A construção social da realidade 
supõe que vários aspectos devem interagir, uma vez que a existência na vida 
cotidiana, de onde surgem os fatos, não existe sem a contínua interação com 
outras forças sociais, entendidas não apenas como indivíduos, mas como 
instituições e culturas. 
O papel do jornalismono agendamento social
Já parou para pensar que muitas coisas acontecem todos os dias, mas que ape-
nas uma quantidade bem pequena é transformada em notícias nos programas 
jornalísticos de informação diária? A explicação mais simples é que nem tudo 
é notícia, ou seja, nem tudo tem potencial para ser transformado em notícia. 
E essa explicação faz sentido, afi nal, o tempo e o espaço do jornalismo são 
limitados, o que leva a uma seleção do que será objeto de pauta e de produ-
ção para os meios. A justifi cativa do jornalismo é que, uma vez que se pauta 
pelo interesse público, deve-se buscar produzir notícias que atendam a esses 
interesses. A questão, então, parece residir no que se considera de interesse 
público e para qual público esse interesse se destina.
Pode-se pressupor, então, que o jornalismo pauta o interesse público ao 
mesmo tempo que pretende contemplá-lo. Esse agendamento do que interessa ao 
7Jornalismo como agendamento social
público se relaciona muito estreitamente com a construção social das notícias, 
conforme apontado na seção anterior. Ao tomar para si a tarefa de definir o 
que é de interesse público, o jornalismo se consolida como a instituição que 
sabe o que é notícia e o que é importante para a sociedade saber. Ocorre que 
a sociedade é formada por atores com interesses diversos, e os fatos, nessa 
tarefa de definir o interesse público, se pautam pelo tipo de público que se 
pretende atingir. 
A teoria do agendamento, ou agenda setting, tem como preocupação central 
a forma como as pessoas apreendem as informações e formam o seu conhe-
cimento de mundo. Ou seja, não importa, nesse paradigma do agendamento, 
saber a ação dos meios ou o modo como eles interagem, mas sim compreender 
o que as pessoas fazem com as informações que recebem dos meios de co-
municação. Para esse paradigma, não há persuasão, e sim a adesão ao que 
está sendo informado. 
A teoria do agendamento assegura que os consumidores de notícias tendam 
a considerar mais importantes os assuntos veiculados na imprensa, sugerindo 
que os meios de comunicação agendam nossas conversas. Em suma, a mídia 
nos diz sobre o que falar, de certa forma, pautando nossos relacionamentos.
Podemos dizer que, então, que os meios nos dizem sobre o que falar. Essa 
premissa parte da observação de que havia uma relação causal entre a agenda 
midiática e a agenda pública. Essa influência é verificada não apenas em mu-
danças de atitudes, mas em mudanças no modo de pensar sobre determinado 
assunto por meio de sua exposição na mídia. Na prática, pode-se observar que, 
em casos de violência com ampla cobertura na mídia, essa notícia torna-se 
também um assunto da agenda pública.
A ação da mídia no conjunto de conhecimentos sobre a realidade possui 
três características básicas:
1. Acumulação: a capacidade da mídia de criar e manter a relevância de 
um tema. 
2. Consonância: as semelhanças entre os processos produtivos de infor-
mação tendem a ser mais significativas do que as diferenças.
3. Ubiquidade: o fato de a mídia estar em todos os lugares com o con-
sentimento do público e sua influência. 
Atualmente, há de considerar a ação das redes sociais digitais nesse agen-
damento, uma vez que essas redes são disseminadoras de informações que, 
muitas vezes, não estão pautadas pelos grandes veículos de comunicação. As 
redes sociais na internet são espaços de ampla circulação de informações, 
Jornalismo como agendamento social8
capazes de gerar mobilizações na sociedade. Exemplos são as manifestações 
que se iniciam a partir de movimentações de grupos nas redes e acabam por 
pautar o jornalismo.
Apesar de não se considerar o material produzido nas redes sociais como 
jornalístico, deve-se considerar que há, naqueles espaços, filtragem de infor-
mações e grande engajamento em determinados assuntos. As redes sociais 
digitais não produzem notícias, em uma perspectiva jornalística, mas produzem 
versões para os fatos e os colocam em circulação na esfera pública, agendando, 
dessa forma, o espaço público e a própria construção da realidade. 
Apesar de se relacionarem à mídia, os conceitos de esfera pública e de opinião pública 
não dizem respeito ao mesmo fenômeno. Esfera pública é a dimensão na qual os 
assuntos públicos são discutidos pelos atores públicos e privados. Esse processo culmina 
na formação da opinião pública, que, por sua vez, age como uma força oriunda da 
sociedade civil em direção aos governos, no sentido de pressioná-los, de acordo com 
seus anseios. O espaço público se constitui, portanto, na arena da discussão e do 
debate público nas sociedades modernas, tanto em espaços formais como informais. 
O conceito de esfera pública remonta aos salões e cafés dos séculos XVII e XVIII, em 
Londres e Paris, além de outras cidades europeias, onde as pessoas se encontravam 
para discutir os assuntos do dia. Atualmente, o cidadão comum não mais se informa 
pelos relatos da praça ou pelos encontros nos cafés, mas sim pela mediação da mídia. 
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, documento que pode ser consultado no 
site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), apresenta uma série de preceitos 
e recomendações para a prática jornalística. Para saber mais, acesse o link a seguir.
https://qrgo.page.link/CVLqW
9Jornalismo como agendamento social
Um exemplo de técnica de objetivação dos fatos está na própria estrutura do texto 
jornalístico, que envolve, entre outros, o título e o lead da matéria. Essa objetividade, 
como método e como técnica narrativa, confere profissionalismo e garante credibilidade 
ao texto jornalístico, conforme já apontado. Exemplos de como a objetividade se 
encontra imbricada com a subjetividade na informação jornalística são encontrados 
facilmente, mas nem sempre são identificados dessa forma. Como exemplo, serão 
analisados os títulos de duas matérias sobre o corte de verba do governo alemão 
para o Brasil, publicadas em veículos diferentes. A primeira delas tem o seguinte 
título: “Alemanha confirma bloqueio de verba e põe em xeque acordo Mercosul-UE”, 
publicada na Revista Época, integrante do Grupo Globo. A segunda matéria, publicada 
no Portal Brasil 247, tem como título “Alemanha retalia Brasil e corta verba da Amazônia 
após estímulo de Bolsonaro ao desmatamento”. As duas matérias têm o mesmo 
objetivo, que é abordar a decisão do governo Alemão de cortar as verbas destinadas 
ao Fundo de Preservação da Amazônia. No entanto, em cada uma delas, há a intenção 
de despertar sentidos diferentes nos leitores. Pode-se perceber o caráter subjetivo das 
matérias já nos seus títulos, que carregam uma carga ideológica orientada pela linha 
editorial de cada veículo. Enquanto a Revista Época foca as questões econômicas de 
forma ampliada, o Portal Brasil 247 especifica o fato (o corte de verba), tratando-o a 
partir de uma perspectiva individualizada. A escolha por colocar ênfase em um ou 
outro aspecto já demonstra o caráter subjetivo do texto jornalístico, uma vez que essa 
escolha está atrelada à linha editorial dos veículos, com suas intencionalidades, e ao 
público para o qual se destinam as publicações. No caso do Portal Brasil 247, o uso da 
expressão “retaliação” pretende dar a dimensão de poder, ao passo que, na Revista 
Época, busca-se uma aparente neutralidade ao se evitar expressões que conduzam o 
leitor a formar juízos. Se analisarmos apenas os aspectos objetivos, nos dois casos, os 
textos serão identificados como jornalísticos e informativos. As matérias podem ser 
conferidas nos links a seguir:
https://qrgo.page.link/JGxe2
https://qrgo.page.link/zAZbC
Jornalismo como agendamento social10
ABI. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. 2013. Disponível em: http://www.abi.org.
br/institucional/legislacao/codigo-de-etica-dos-jornalistas-brasileiros/. Acesso em: 
23 ago. 2019.
FORECHI, M. Jornalismo e educação: da invenção da realidade à formação de jovens. 
2006. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Espírito Santo, 
Vitória,2006. Disponível em: http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/nometese_62_MAR-
CILENE%20FORECHI.pdf. Acesso em: 23 ago. 2019.
HENRIQUES, R. P. O conceito de objetividade jornalística em Luiz Amaral e Wilson 
Gomes. In: ENCONTRO DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, 14., 2016, Palhoça. Anais 
[...]. Santa Catarina: Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), 2016. 
Disponível em: http://sbpjor.org.br/congresso/index.php/sbpjor/sbpjor2016/paper/
viewFile/284/113. Acesso em: 23 ago. 2019.
PENA, F. Teoria do jornalismo. 2. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 2. ed. Florianó-
polis: Editora Insular, 2005. v. 1.
Leituras recomendadas
FOLHA DE S. PAULO. Manual da redação: as normas de escrita e conduta do principal 
jornal do país. 21. ed. São Paulo: Publifolha, 2018.
MELLO, J. M. História social da imprensa. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2003.
RODRIGUES, C.; AGUIAR, L. Práticas de jornalismo amador em plataformas interativas: 
uma revisão bibliográfica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 
38., 2015, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: http://portalin-
tercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R10-2912-1.pdf. Acesso em: 23 ago. 2019.
11Jornalismo como agendamento social

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