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Episódio - O Jornalismo Impresso no Brasil (século XIX)

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INTRODUÇÃO AO 
JORNALISMO
Guaracy Carlos
O jornalismo 
impresso no Brasil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Justificar os motivos para o desenvolvimento tardio da imprensa no 
Brasil. 
 � Reconhecer as publicações de destaque no período.
 � Sintetizar a história do jornalismo brasileiro no período de 1808 a 1970.
Introdução
O começo da imprensa e da prática jornalística no Brasil aconteceu 
de forma conturbada e com atraso em comparação com o resto da 
América. Neste capítulo, vamos entender um pouco dos motivos e das 
consequências disso. 
A imprensa no tempo do Império 
Romancini e Lago (2007, p. 22) afirmam que a imprensa e o jornalismo bra-
sileiros surgiram apenas 14 anos antes da separação do Brasil de Portugal. 
Nunca é demais lembrar que o país viveu mais de 300 anos sob o domínio 
colonial. A impressão tipográfica foi introduzida nas colônias pouco após a 
conquista de territórios do Novo Mundo. Assim ocorreu no México (1539), 
no Peru (1583) e na Nova Inglaterra (1650). 
No Brasil foi diferente. Os instrumentos para impressão (os prelos) só 
chegaram ao país com a Corte Portuguesa, que se transferiu para cá em 1808 
fugindo da invasão napoleônica. E ainda assim, era necessária a importação 
de material impresso da metrópole, seja pelos canais oficiais ou por contra-
bando. O primeiro jornal brasileiro, Correio Braziliense, era de fato impresso 
na Inglaterra. 
Algumas razões ajudam a explicar o atraso no surgimento da imprensa entre 
nós: a natureza da colonização brasileira (voltada à produção de bens para o 
mercado externo), a predominância do analfabetismo, a ausência de urbanização, 
a burocracia do Estado, a incipiência das atividades comerciais e as industriais. 
Além disso havia a censura e o obscurantismo impostos por Portugal e 
pela Igreja Católica. Nas palavras de Sodré (1999, p. 9), em Portugal, os livros 
estavam sujeitos a três censuras – a episcopal, a da Inquisição e a Régia, que 
proibiam a impressão de qualquer obra “sem primeiro ser examinada pelos 
desembargadores do Paço, depois de vista e aprovada pelos oficiais do Santo 
Ofício da Inquisição”. 
Conforme Martins e De Luca (2008, p. 30), havia jornais produzidos na 
Europa e recebidos no Brasil desde o século XVIII. Embora disseminasse 
informações, opiniões e ideias, essa imprensa periódica não praticava, até 
1808, o debate político publicamente. A chegada do príncipe regente D. João, 
em 1808, representou o início da imprensa no Brasil. 
A Imprensa Régia
Com a vinda do príncipe regente acompanhado por parte da corte, foram 
embarcados os 60 mil volumes da Biblioteca Real. Instalados na capital, D. 
João e seus ministros deram início a uma série de ações: abriram os portos 
às nações amigas, elevaram o Brasil à condição de reino, criaram escolas, 
melhoraram as condições urbanas e fundaram instituições como o Banco do 
Brasil, o Jardim Botânico, a Academia de Belas Artes, a Escola de Medicina, 
o Museu Nacional e a Biblioteca Real. 
Teve início também a Imprensa Régia, que durante 14 anos de existência e 
efetivo monopólio, produziu mais de mil itens, como documentos do governo, 
cartazes, panfletos e o primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de 
Janeiro (1808). Até 1821, havia censura prévia do governo a todos os impressos. 
Para Sodré (1999, p. 29), a Gazeta do Rio de Janeiro foi criada, na verdade, 
para reagir às ideias contrárias ao decadente absolutismo. 
Segundo Romancini e Lago (2007, p. 23), o fato de a Gazeta do Rio de 
Janeiro ser muito próxima do poder (bajuladora, subserviente, “chapa branca”), 
faz com que os pesquisadores a considerem de menor importância na formação 
da opinião pública, em comparação com jornais mensais, como o Correio 
Braziliense, ou o Armazém Literário, editado por Hipólito José da Costa desde 
junho de 1808, em Londres, cidade onde podia ser impresso sem censura. De 
fato, dado o pioneirismo desta publicação, Hipólito da Costa é considerado 
O jornalismo impresso no Brasil2
o primeiro jornalista brasileiro. O jornal sobreviveu sem alterar sua linha 
editorial até 1822. Mas, com a Independência do Brasil, Hipólito interrompeu 
sua publicação julgando que a proliferação de novos periódicos diminuiria a 
necessidade de seu jornal. 
A Revolução Constitucionalista do Porto (1820), movimento liberal que exigiu 
o retorno de D. João VI a Portugal (e que também estabeleceu por decreto a 
liberdade de imprensa), teve grande influência no processo que levaria à Inde-
pendência do Brasil. Depois da partida de D. João (1821), houve uma expansão do 
jornalismo luso-brasileiro, reflexo do ambiente de discussão que se instaurava. 
Surgiram 39 novos jornais em Portugal, e 20 periódicos circulavam no Rio de 
Janeiro. Estes supriam a carência dos livros e de outros meios de informação. 
Para Martins e De Luca (2008, p. 33), os impressos no Brasil propiciaram 
o surgimento da chamada opinião pública, compreendida como um recurso 
para legitimar posições políticas e um instrumento simbólico que visa a trans-
formar algumas demandas setoriais numa vontade geral. Com o nascimento 
da opinião pública houve o desenvolvimento de uma consciência política no 
seio da esfera pública. Diante do poder absolutista havia um público letrado, 
que fazia uso da razão e construía leis morais. 
Principais jornais do período
 � Diário do Rio de Janeiro (1821): distanciado das questões políticas, pode ser conside-
rado o primeiro jornal informativo do país, com informações variadas e publicidade 
gratuita (notícias de crimes, espetáculos, avisos de escravos fugidos).
 � O Conciliador do Reino Unido (1821): defendia a união Brasil-Portugal e era publicado 
por José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu (que era íntimo da família real). 
 � O Espelho (1821–1827): jornal conservador e “oficial”, fazia um jornalismo agressivo e 
cheio de insultos. D. Pedro publicava artigos nele com vários pseudônimos, entre 
os quais: “Derrete-Chumbo-a-Cacete”. 
 � Correio do Rio de Janeiro (1822): foi uma tribuna de propostas mais democráticas, que 
pedia, por exemplo, a convocação de uma Constituinte com representação popular. 
Era dirigido pelo jornalista João Soares Lisboa (primeiro jornalista processado pela 
Lei de Imprensa, posteriormente absolvido). 
 � Reverbero Constitucional Fluminense (1821): representante da imprensa liberal no 
país, bem como do jornalismo politicamente independente. O jornal era ligado à 
Maçonaria e teve papel importante na separação do Brasil de Portugal. 
 � A Malagueta (1821): um dos jornais mais ambíguos do período. Escrito no formato 
de um longo artigo, procurava inspirar o debate público atacando muitas figuras 
ilustres daquele tempo.
3O jornalismo impresso no Brasil
O Segundo Reinado: campanhas abolicionistas 
e republicanas. 
A imprensa desenvolvia-se lentamente no Brasil. Ainda assim, o jornalismo 
teve influência em vários assuntos do contexto sociopolítico, como as revoltas 
ocorridas durante as regências. Após esse período, o jornal participou dos 
debates ligados ao fim do trabalho escravo e à adoção do regime republicano. 
O período das regências e o reinado de D. Pedro II foram muito atribulados. 
O jornalismo no Brasil passou por gradual transformação. O fator econômico 
explica o lento ritmo da mudança. A independência política do Brasil não 
levou à sua autonomia econômica. Assim, até a formação da República, havia 
traços do jornalismo pré-independência (opinativo, radical e sem compromisso 
comercial) e o embrião de um modelo que passaria a crescer a partir de então 
até se tornar hegemônico (organizado como empresa, buscando conciliação 
comercial e tecnicamente mais bem aparelhado).
Os pasquins 
Pasquim é um tipo de publicação panfletária, crítica e eventualmente satírica, presente 
no país até antes da Independência. A imprensa política (que incluía os pasquins) 
direcionava-se a três campos, espelhos da divisão política da época: conservadores 
de direita, liberaisde direita e liberais de esquerda. Os pasquins diferenciavam-se dos 
jornais em sua motivação política e aspecto doutrinário. Por terem caráter de ocasião, 
muitas vezes não passavam do primeiro número. Eram geralmente concebidos e feitos 
por um homem só. A publicação de um pasquim com frequência preparava terreno 
para revoltas por meio de uma insuflada pregação. 
Sodré (1999, p. 155) dá uma ideia do clima tenso da época, ao relatar que segundo 
dados oficiais da corte, “entre 7 de abril e 30 de maio de 1831, 108 homens livres e 50 
escravos haviam sido presos por desordem e pancadaria, 102 pessoas tiveram suas 
armas apreendidas, ocorreram oito assassinatos e cinco cadáveres foram encontrados”.
Conforme se consolidava o uso dos prelos pelas províncias – alimenta-
dos pelos avanços da imprensa –, havia uma modernização do maquinário, 
permitindo aos jornais tiragens maiores e o uso de ilustrações. Fatores que 
contribuíram muito para o jornalismo da época foram a introdução do telégrafo 
(1852), e o uso de cabos submarinos para transmissão de mensagens (1874). 
O jornalismo impresso no Brasil4
Também houve o crescimento da especialização do setor, em contraste com 
o jornalismo artesanal de um homem só. 
Uma marca do período é a confluência entre o jornalismo e a literatura, e 
uma tendência à diversificação da imprensa brasileira. Surgiram os periódicos 
literários como a Minerva Brasiliense (1843) e o Ostensor Brasileiro (1845); 
humorísticos ilustrados como A Mutuca Picante (1834), Semana Ilustrada 
(1860) e O Mosquito (1869); jornais acadêmicos e científicos como a Revista 
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839) e A Imprensa Acadêmica 
(1864); com foco na família e na mulher, O Espelho Diamantino (1827), O Jornal 
das Senhoras (1852) e A Família (1888). Nesse período consolidaram-se também 
jornais mais estáveis economicamente (tanto que alguns existem até hoje) como 
O Correio Paulistano (1854), o Jornal do Commércio (1827), o Diário de Per-
nambuco (1825), A Província de São Paulo (1875) e o Jornal do Brasil (1891). 
A relação entre literatura e jornalismo explica o pé que o jornalismo tem na 
oratória política, e também o desenvolvimento do folhetim. Primeiro, por meio 
de traduções, e depois com autores nacionais que irão escrever ficção para os 
jornais. Assim, o romance de costumes Memórias de Um Sargento de Milícias, 
de Manuel Antônio de Almeida, foi publicado no Correio Mercantil, do Rio, 
entre 1852-1853. O Guarani, de José de Alencar, impresso no Diário do Rio 
de Janeiro em 1857 foi um imenso sucesso. Aliás, grande parte dos escritores 
da época colaborou para os jornais, produzindo artigos jornalísticos ou ficção. 
Machado de Assis, por exemplo, passou por várias funções como aprendiz de 
tipógrafo, revisor, repórter e redator até virar cronista em publicações como 
o Jornal das Famílias (1863) e A Estação (1879). 
O folhetim
Duas são as características fundamentais dos folhetins. A primeira diz respeito à sua pe-
riodicidade, ou seja, ele é sempre publicado parcialmente dividido em capítulos, sendo 
necessário esperar a próxima edição para acompanhar o texto. A segunda é seu enredo que 
precisa prender a atenção do leitor e criar expectativa para garantir que vai acompanhar a 
narrativa, podendo o gênero ser entendido como “romance de entretenimento”. 
Autores brasileiros como José de Alencar, Machado de Assis, Manuel Antônio de Almeida, 
Lima Barreto e Joaquim Manuel de Macedo tiveram suas obras inicialmente publicadas no 
formato folhetim para depois serem editadas em livros. O romance A Moreninha, de Joaquim 
Manuel de Macedo, é considerado o folhetim mais popular da história do Brasil, tendo 
sido um sucesso de vendas numa época em que a maioria da população era analfabeta. 
Fonte: Bettio (2017).
5O jornalismo impresso no Brasil
O aspecto mais marcante da imprensa no Segundo Reinado foi sua parti-
cipação nas campanhas de abolição da escravatura e em defesa da República. 
Nesse processo de modernização da imprensa no período, destacamos o 
surgimento de periódicos, em particular os de cunho satírico, que começavam 
a usar ilustrações. Para Romancini e Lago (2007, p. 59), o primeiro periódico 
ilustrado brasileiro com existência duradoura foi A Semana ilustrada (1860-
1876). Este contava com a proteção do Imperador e a colaboração de intelectuais 
ilustres, como Joaquim Nabuco e Machado de Assis.
Martins e De Luca (2008, p. 64) afirmam que a comunicação pelo humor 
ganhou relevo em um país de difícil a propagação da palavra escrita. A válvula 
de escape do humor funcionou como antídoto contra a censura vigente. 
O jornal satírico mais popular do século XIX, com uma tiragem de 5 mil 
exemplares, foi a Revista Ilustrada (1876). Segundo afirma Joaquim Nabuco, 
foi “a bíblia da abolição para os que não sabiam ler”. De fato, num país com 
muitos analfabetos, um jornal ilustrado tinha extrema relevância, ao usar 
do humor para denunciar crimes de escravidão e a decadência política do 
Império. Seu criador, Angelo Agostini, também trabalhou na primeira revista 
em quadrinhos do Brasil, chamada O Tico-Tico, onde desenvolveu o logotipo 
da publicação em 1905. Outros periódicos que seguiram os mesmos passos 
foram: A Comédia Social (1870), O Mosquito e O Besouro. 
Para sua sorte, todas as edições da Revista Ilustrada estão disponíveis na Hemeroteca 
Digital Brasileira (BIBLIOTECA NACIONAL, 2017). Dê uma conferida. 
https://goo.gl/pmu9XR
A imprensa ilustrada criou nos leitores o hábito do consumo de “imagens 
noticiosas”, antes que melhores técnicas permitissem a reprodução de foto-
grafias. Os jornais ilustrados não usavam somente caricaturas, mas também a 
representação realista das pessoas e dos fatos, mapas e paisagens, ilustrações, 
por meio da gravura em metal, xilogravura e litografia. A fotorreportagem só 
se desenvolveu a partir de 1880, com a melhoria da sensibilidade dos filmes 
fotográficos e a construção de máquinas fotográficas de manejo mais prático. 
Seu uso tornou-se comum nos jornais a partir desse período. 
O jornalismo impresso no Brasil6
A Primeira República: a consolidação do 
jornalismo empresarial 
O jornal consolidou-se na Europa no fim do século XVIII, e sua 
massificação aconteceu nos Estados Unidos no final do século XIX. Tal 
crescimento do jornal nos países ocidentais está ligado a fatores como 
aumento do nível de instrução, democratização da vida política, 
urbanização, desenvolvimento dos transportes e dos meios de comunicação. 
Os jornais passaram a ter mais páginas e se diversificaram em função dos 
públicos, surgindo revistas e jornais especializados (esportivo, feminino, 
etc.).
Nesse período surgiram também as agências de notícias. A primeira, a 
Havas, foi criada em Paris, em 1835, por Charles-Louis Havas. Depois 
vieram a Reuters, na Inglaterra, e a Wolff, na Alemanha. Em 1865, as três 
agências estabeleceram um acordo de divisão de áreas, dominando o mercado 
da notícia até a Primeira Guerra Mundial. Ao fim do conflito, duas agências 
americanas apresentam crescimento, a Associated Press (AP) e a United 
Press Associa-tion. Esta última atuava não só nos mercados tradicionais, 
mas também na América do Sul. Após a Segunda Guerra Mundial, a Havas 
foi desmantelada, sucedida pela Agence France-Presse (AFP), e a Wolff 
desapareceu. Desse modo, o mercado mundial de notícias passa a ser 
dominado por quatro grandes agências: Reuters, AP, UPI e AFP. Um grande 
número de jornais dependia exclusivamente dessas agências para suprir seu 
noticiário internacional. 
No Brasil esta tendência de mudança no período da Primeira República 
(1889-1930) foi mais gradual. Os grandes veículos ainda eram do tempo do 
Império. A consolidação empresarial deles só se daria após algumas décadas 
do novo regime. A exceção foi Jornal do Brasil (1891), um diário 
estruturado 
7O jornalismo impresso no Brasil
como empresa e que trazia inovações importantes para a época, como a dis-
tribuição em carroças e a presença de correspondentesestrangeiros (entre 
os quais Joaquim Nabuco). Assim, logo se destacaria como um dos maiores 
jornais da época. 
No período da República, o jornalismo feito de forma artesanal começou 
a declinar pelos altos custos. A atividade da imprensa passou a exigir uma 
organização capitalista. Segundo Romancini e Lago (2007, p. 67), a produção 
que não se organizasse segundo uma lógica empresarial, com a adoção de 
equipamentos e práticas modernas (rotativas, telégrafo, trabalho assalariado, 
divisão de tarefas, etc.) desapareceria. Sodré (1999, p. 275), conta que o jornal 
como empreendimento individual, como aventura isolada, deixou então de 
existir nas grandes cidades, sendo relegado ao interior. Uma das consequências 
diretas dessa transição é a diminuição do número de periódicos. 
Ao mesmo tempo em que a imprensa de cunho opinativo perdia força, 
acentuava-se o teor informativo. Tal tendência moldou o jornalismo a partir 
das primeiras décadas do século XX, e perdura até hoje. Nesse sentido, ações 
como as de Euclides da Cunha e João do Rio (pseudônimo utilizado por Paulo 
Barreto) na imprensa são exemplos dessa mudança. Euclides visitou Canudos 
para acompanhar a revolta, e João do Rio fez reportagens sobre a Belle Époque 
(aliás, este é tido como o criador da crônica social moderna), sendo considerado 
um dos maiores jornalistas de sua época. 
Os três principais nomes do pré-modernismo literário brasileiro tiveram 
atuações destacadas no jornalismo do período. Além de Euclides da Cunha, 
Monteiro Lobato escrevia para O Estado de S. Paulo em meados da década 
de 1910, além de comprar e animar a Revista do Brasil a partir de 1918. Lima 
Barreto atuou esporadicamente na grande imprensa e fundou a revista literária 
Floreal (1907). Nesse período os anúncios tornaram-se mais elaborados, e 
escritores como Olavo Bilac, Emílio de Meneses e Bastos Tigre atuavam 
como redatores. Cresceu a venda avulsa dos jornais por ambulantes. Toda 
essa reorganização, contudo, não implicou numa independência do meio em 
relação à República. Ao lado de jornais de oposição, como o Correio da Manhã, 
existiam aqueles com opinião e voz compradas pelo governo. 
As revistas ilustradas mantinham-se em funcionamento, absorvendo as 
melhorias do processo de impressão, como o uso de cores e fotografias. Passa-
ram também por um processo de especialização. Algumas focaram no público 
feminino, outras em interesses literários ou cotidianos. O Malho (1902), Fon-Fon 
(1907) e Careta (1908) foram revistas populares. Uma geração de talentosíssimos 
cartunistas destacava-se na crítica de costumes, como Raul Pederneiras, Kalixto 
O jornalismo impresso no Brasil8
e J. Carlos. No campo do humor teve destaque Aparício Torelly, mais conhecido 
pelo pseudônimo que adotou depois de 1931: Barão de Itararé. 
Martins e De Luca (2008, p. 90) citam Kosmos (1904-1909) como o para-
digma do mais bem-acabado empreendimento entre as revistas consideradas 
modernas. A cada edição trazia a colaboração de renomados homens de letras 
da época, como do crítico João Ribeiro, do poeta Olavo Bilac, do romancista 
Coelho Neto, do teatrólogo Artur de Azevedo, do jornalista João do Rio, do 
historiador Capistrano de Abreu, do crítico de arte Gonzaga Duque. Na revista 
é perceptível o progresso material e civilizatório que permeou aqueles “tempos 
eufóricos” que foram a Belle Époque brasileira. 
O Barão de Itararé, grande humorista e colaborador do jornal A Manha, ridicularizava 
os ricos, a classe média e os pobres. Não perdoava ninguém. Os políticos, os donos 
de jornais e os intelectuais eram os alvos preferenciais. Apesar de não ser um barão, 
reivindicava o título como forma de deboche. Conheça algumas de suas frases mais 
famosas:
“A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota, o que vai fazer.”
“Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.”
“Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.”
“Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.”
“O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.”
“De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”
“Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.”
“O fígado faz muito mal à bebida.”
“O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.”
Graças ao desenvolvimento regional ligado ao café e ao início da industria-
lização, a imprensa paulistana teve um um grande crescimento, destacando-se 
revistas como O Pirralho (1911), A Cigarra (1914) e mais tarde jornais como 
O Diário da Noite, a Folha da Manhã (1925) e o Diário de São Paulo (1929). 
Um dos indicadores do crescimento da imprensa no país na Primeira República 
foi o fato de aparecerem, além da grande mídia, outros tipos de jornalismo pro-
duzidos por grupos sociais específicos. Casos da imprensa negra, dos jornais de 
operários e, em menor grau, dos meios de divulgação do movimento modernista. 
Estes, além de colaborarem com jornais, criaram uma série de revistas durante a 
9O jornalismo impresso no Brasil
década de 1920, destacando-se a Klaxon (1922) e a Revista de Antropofagia (1928) 
em São Paulo, e a Estética (1924) e a Festa (1927), no Rio de Janeiro. 
A Revolução de 1930 marcou uma mudança no desenvolvimento brasileiro. 
E meio à nova organização política, em particular o Estado Novo, grandes 
avanços tecnológicos e de mercado consolidaram-se no jornalismo. O rádio 
assumiu papel importante na década de 1930, atuando nos processos socio-
políticos nacionais. O cenário caracterizou-se por forte centralização política, 
com Getúlio Vargas em evidência, seja como chefe do Governo Provisório 
(1930-1934), presidente por voto indireto (1934-1937), ou como ditador (1937-
1945). Vargas ficou no poder por 15 anos até ser deposto, voltando à Presidência 
pelo voto popular em 1950. Lá ficou até seu suicídio em 1954.
As características administrativas e empresariais da imprensa mudaram 
com o surgimento das grandes corporações (que irão lidar com o rádio e, 
posteriormente, com a TV). Isso conduziu à concentração também na imprensa 
e ao desaparecimento de muitos veículos. Segundo Sodré (1999, p. 389), a 
complexidade de sua operação atingiu então um grau tão elevado que poucos 
teriam dinheiro para enfrentar a empreitada”. 
No governo de Getúlio Vargas o jornalismo passou por grande transforma-
ção. Nesse período, a imprensa foi muito reprimida. Em 1935 governo decretou 
estado de sítio e censura à imprensa. Em 1937, o legislativo foi fechado e foi 
instaurada a ditadura. O término da Segunda Guerra Mundial representou 
também o fim do Estado Novo. 
Em, 1946 foi votada a nova Constituição. As liberdades de pensamento 
e de expressão retornaram, mas já não era tão fácil chegar ao público por 
intermédio da imprensa.
Novos tempos, nova imprensa. As publicações isoladas não conseguiam 
mais sobreviver. A tendência era a formação de empresas robustas, com grande 
capital que englobavam vários jornais e revistas. E, às vezes, até outros meios 
de comunicação como o rádio e a televisão.
No período de 1955 a 1964, dos governos de Juscelino, Jânio e Jango, o 
país passou por intenso progresso econômico e crescente industrialização. A 
reforma do Jornal do Brasil, com melhorias no padrão gráfico, influenciaria 
outros veículos de comunicação. É o destaque dessa fase. 
O golpe de 1964 deu início a um período em que a liberdade civil e o jor-
nalismo foram cerceados. A imprensa procurava conviver, em maior ou menor 
grau de resistência, com tal situação. Parte dela até apoiou o golpe. No período 
foi lançada a revista Realidade (1966), inspirada no modelo do New Journalism, 
que alcançaria imensa popularidade. O sucesso da revista foi tão grande que 
sua tiragem dobrou de cerca de 250 mil exemplares para 505 mil em um ano.
O jornalismo impresso no Brasil10
BETTIO, M. A. Folhetim. InfoEscola, 2017. Disponível em: <https://www.infoescola.
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Virtuais do Arquivo Nacional, Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://www.exposico-
esvirtuais.arquivonacional.gov.br/pt-br/catalogo-exposicoes/a-historia-em-preto-
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ROMANCINI, R;. LAGO, C. História do Jornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2007. 
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Leituras recomendadas
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ção, Brasília, DF, v. 25, n. 3, 1996. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/article/
view/643/647>. Acesso em: 01 dez. 2017.
FONSECA, S. C. P. B.; CORRÊA, M. L. 200 anos de imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: 
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PONTES, I. A manha do barão. São Paulo: Girafa, 2006. 
O jornalismo impresso no Brasil12

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