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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL GLAZIELLE OLIVEIRA DE JESUS JULIA ANTUNES DAS NEVES JULIANA LEITE RIBEIRA DESAFIOS NO ACESSO À SAÚDE MENTAL: INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA E QUESTÃO SOCIAL SÃO PAULO 2023 GLAZIELLE OLIVEIRA DE JESUS JULIA ANTUNES DAS NEVE JULIANA LEITE RIBEIRA DESAFIOS NO ACESSO À SAÚDE MENTAL: INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA E QUESTÃO SOCIAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Cruzeiro do Sul. Orientadora: Profa. Maria Raimunda Vargas Chagas Rodriguez. SÃO PAULO 2023 RESUMO: Em suma, os desafios no acesso à saúde mental exigem abordagens abrangentes que incluam conscientização pública, financiamento adequado e intervenção social. A colaboração interdisciplinar e o compromisso com a igualdade de acesso são essenciais para enfrentar esses desafios de forma eficaz. O serviço social, como disciplina comprometida com a justiça social e a inclusão, desempenha um papel vital na promoção do acesso igualitário aos serviços de saúde mental e na mitigação dos impactos da questão social nesse contexto. O presente artigo oferece uma análise sobre a situação atual da saúde mental no país, enfatizando o papel crucial desempenhado pela alienação e segregação social e racial na tomada de decisões para internacionais que não se baseiam exclusivamente em critérios patológicos. Ao longo deste trabalho, serão apresentados estudos e abordagens que buscam compreender as complexidades do acesso à saúde mental e as contribuições do serviço social, mantendo o compromisso com a imparcialidade e a impessoalidade, a fim de contribuir para uma discussão informada e embasada sobre esse tema crucial para a sociedade contemporânea. Palavras Chaves: Saúde Mental, Políticas de Saúde, Questão Social, Invisibilidade Social, Luta antimanicomial, Atenção Psicossocial. INTRODUÇÃO O acesso à saúde mental representa um desafio complexo e multidimensional nas políticas de saúde pública. É possível destacar a importância de abordagens interdisciplinares e políticas sociais integradas para enfrentar esse problema de forma eficaz. A assistência psicológica é uma preocupação central nas políticas de saúde pública em todo o mundo (CARRASCO et al, 2023). A falta de compreensão e a perpetuação de estereótipos negativos prejudicam a busca por tratamento e apoio por parte dos indivíduos afetados. Portanto, é essencial desenvolver estratégias de conscientização pública e educação que contribuam para a desestigmatização das doenças mentais. Além disso, a falta crônica de financiamento adequado aos serviços de saúde mental representa um desafio significativo que impacta níveis tanto na disponibilidade quanto na qualidade dos tratamentos disponíveis (ARAUJO, TORRENTÉ, 2023). A falta de recursos financeiros adequados compromete a capacidade de oferecer serviços eficazes e acessíveis a todos que deles necessitam. Santos (2023) ressalta a necessidade de priorizar o investimento em saúde mental como parte integral das políticas de saúde pública, a fim de garantir o acesso igualitário a tratamentos e intervenções. Refletido nos movimentos sociais de Reforma Sanitária, concomitantemente ao da Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial, a relação do serviço social dentro desses movimentos, representava de forma nítida a intenção de ruptura, com positivismo, ressaltando a pouca associação destes profissionais dentro dos campos de serviço, de modo que concentram no processo da renovação da profissão de forma que buscavam fundamentar a teoria da profissão (CONCEIÇÃO, 2023). A questão social também desempenha um papel significativo nos desafios do acesso à saúde mental. A pobreza, a falta de moradia, o desemprego e a exclusão social são determinantes sociais que podem contribuir para o surgimento e o agravamento de transtornos mentais (SANCIO, 2022). Nesse contexto, o serviço social desempenha um papel crucial na abordagem dessas questões sociais complexas. Autores como Silvino (2021) destacam a importância do serviço social na promoção da inclusão social e no apoio às pessoas afetadas por determinantes sociais da saúde mental. O serviço social é uma disciplina que atua diretamente com indivíduos e comunidades, oferecendo suportes, encaminhamentos a fim de promover bem estar físico, psicológico e social. Os assistentes sociais trabalham para facilitar o acesso a serviços de saúde mental, fornecendo apoio emocional e prático às pessoas e suas famílias (FORTES, 2020). Sua presença em hospitais, clínicas, escolas e comunidades desempenha um papel crucial na promoção de ambientes acolhedores e inclusivos para aqueles que enfrentam desafios de saúde mental. METODOLOGIA DE PESQUISA O presente estudo foi realizado com o propósito de aprofundar a compreensão das dificuldades do serviço social no acesso à saúde mental. O escopo da pesquisa abrange não apenas as questões contemporâneas, mas também os desafios historicamente enraizados desde épocas antigas. Particular ênfase é dada à análise das lutas travadas contra estereótipos, destacando, por exemplo, o papel dos manicômios na estigmatização de pacientes com problemas mentais. O trabalho direciona sua atenção para a necessidade e relevância do serviço social no âmbito da saúde mental, uma área frequentemente negligenciada nas discussões contemporâneas. A função do serviço social é explorada como um componente crucial na abordagem integral dessas questões, contribuindo para a construção de políticas e práticas mais inclusivas e sensíveis às necessidades específicas dos indivíduos afetados. A metodologia adotada para este estudo envolve uma revisão bibliográfica, abrangendo artigos, publicações e revistas especializadas em serviço social e saúde mental. Essa abordagem proporcionou uma base sólida para a contextualização do tema, permitindo uma análise aprofundada das complexidades envolvidas no acesso à saúde mental no Brasil. A pesquisa não apenas busca identificar desafios existentes, mas também propõe perspectivas inovadoras e soluções para aprimorar a prestação de serviços nessa área tão vital para o bem- estar da sociedade. 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 A HISTÓRIA DA LOUCURA A loucura na Idade Clássica ocupava um espaço moral de segregação e exclusão, sendo associada à itinerância. Nesse período, uma das medidas adotadas para evitar que o indivíduo afetado pela loucura vagasse pela cidade, era ser transferido para outro local. Dessa forma, os insanos vivenciavam uma condição de peregrinação, deslocando-se de uma cidade para outra por meio de embarcações, que transportavam sua carga de insanidade (BARBOSA et al., 2021). Na transição da Idade Média para o Renascimento, o entendimento psicológico da loucura foi considerado inadmissível sob a perspectiva científica. Nesse contexto histórico, a loucura não era conceituada como uma enfermidade. Consequentemente, o tratamento da loucura era predominantemente empírico, envolvendo considerações vinculadas a ministérios e elementos sobrenaturais (SANTOS et al., 2021). Com o advento da Idade Moderna, observaram-se avanços substanciais na compreensão da loucura, foi promovido reformas em hospitais psiquiátricos, defendendo a humanização do tratamento de indivíduos afetados por distúrbios mentais. Essa abordagem representou uma alteração significativa na concepção da loucura, distanciando-se da perspectiva anterior que considerava os indivíduos com transtornos mentais como simplesmente perigosos ou impuros (PEGDEN, 2019). Até meados do século XX, o cuidado ao paciente mental era predominantemente centrado em hospitais psiquiátricos, caracterizado por um modelo de atenção que se limitava à internação e à medicalização dos sintomas manifestados pelo indivíduo afetado, resultando na exclusão desse paciente de vínculos sociais, interações e de todo o contexto que constitui elementos e produtos do seu conhecimento (BATISTA, 2018). Já oséculo XIX foi notabilizado pelo movimento de medicalização e institucionalização das práticas terapêuticas, com o tratamento de pacientes mentais sendo conduzido principalmente em grandes asilos. Esse cenário propiciou o afastamento de indivíduos afetados pela doença mental de sua comunidade (ALMEIDA, 2022). Com ênfase na humanização do tratamento, a desconstrução de estigmas e a busca por intervenções terapêuticas mais holísticas alteraram radicalmente o panorama da saúde mental. O século XXI viu uma ascensão de abordagens mais inclusivas, integrando pacientes mentais de volta à comunidade, promovendo a compreensão da doença mental como uma condição médica que merece compaixão e suporte (TORRE et al., 2018). 3.2 EVOLUÇÃO DA PERCEPÇÃO DA LOUCURA A percepção da loucura foi moldada pela atenção cuidadosa da sociedade clássica, sendo divulgada por meio de uma rede de instituições como a família, a justiça, a polícia e a igreja. Estas instâncias sociais não foram guiadas por um conhecimento médico, mas sim pela avaliação da transgressão das leis da razão e da moral. Como resultado, identificaram e apontaram os indivíduos afetados pela loucura, alterando o significado atribuído a essa condição desde o período renascentista (LIMA, 2021). A forma como a sociedade percebeu o comportamento duvidoso do indivíduo afetado pela loucura chamou a atenção, não apenas em relação aos que sofriam de delírios, mas também em relação aos pobres, aos ociosos e aos ‘’vagabundos’’. Como resultado, o aumento descontrolado dessa população passou a representar um perigo específico para o Estado e os interesses da classe burguesa (BORDIGNON, 2023). Diante desse cenário, as instituições de poder buscaram uma resposta para o problema, desde o início que Michel Foucault caracterizou como uma “grande internacionalização”. Dessa maneira, todos aqueles que não conseguiram se conformar às normas do mundo clássico foram obrigados a adentrar no regime de internamento (LIMA, 2021). Nesse sentido, Santos (2023) destaca a relevância de conceber a loucura como uma preocupação social, enfatizando a imperatividade de políticas públicas que fomentem a inclusão e o respeito pelos direitos das pessoas afetadas por transtornos mentais. Por isso, é pertinente abordar a desinstitucionalização como uma resposta às práticas de internação em hospitais psiquiátricos. Esse movimento teve impacto significativo na reforma psiquiátrica no Brasil, passando a explorar alternativas mais humanizadas para o tratamento da loucura (ESCARIÃO et al., 2023). A transformação na compreensão da loucura ao longo da história não se limita a um tema puramente histórico; ela também serve como um guia para a reflexão contemporânea sobre como nossa sociedade aborda a saúde mental e promove a inclusão de pessoas com transtornos mentais. Essa jornada instiga a questionar preconceitos, estigmatização e práticas desumanas, incentivando a busca por uma abordagem mais compassiva e inclusiva em relação à loucura (COSTA, SOUSA, 2023). 3.3 A INVISIBILIDADE DO SERVIÇO SOCIAL DENTRO DOS HOSPITAIS A dinâmica hospitalar, por sua natureza eminentemente clínica e biomédica, muitas vezes relega a dimensão social, perpetuando a invisibilidade do serviço social no ambiente de saúde. Esta questão surge como um ponto crítico de reflexão, exigindo uma análise acadêmica e social aprofundada sobre os fatores subjacentes a essa invisibilidade. A relevância do serviço social no contexto hospitalar é indiscutível, visto que transcende o âmbito meramente assistencial, estendendo-se à promoção do bem-estar e à compreensão holística do paciente como um sujeito inserido em redes sociais complexas. A falta de visibilidade do serviço social no contexto hospitalar pode ser comprovada à luz de vários fatores interconectados. Num primeiro momento, destaca-se a predominância do paradigma biomédico na prática hospitalar, o qual historicamente marginalizou abordagens que transcendem as fronteiras da patologia física, relegando as questões sociais para um plano secundário. A hegemonia dessa perspectiva biomédica contribui significativamente para a subvalorização do papel do serviço social, restringindo sua visibilidade e impacto nos protocolos de tratamento (CARVALHO, 2019). Outro aspecto crucial é a falta de compreensão ampla sobre o escopo e as contribuições do serviço social por parte dos profissionais de saúde. A ausência de uma consciência coletiva sobre as habilidades especializadas dos assistentes sociais, como a mediação de conflitos familiares, a identificação de recursos comunitários e o planejamento do pós-tratamento, perpetua a invisibilidade do papel desempenhado por esses profissionais na equipe multidisciplinar (MOTA et al., 2022). A fragmentação dos sistemas de saúde e a escassez de recursos também desempenham um papel significativo na invisibilidade do serviço social nos hospitais. Frequentemente, os recursos são alocados de maneira prioritária para áreas que se alinham mais diretamente às expectativas do modelo biomédico, deixando o serviço social em segundo plano e relegando-o para um papel secundário na estrutura hospitalar (FORTES, 2020). Para abordar a invisibilidade do serviço social em hospitais, é imperativo considerar a integralidade do cuidado e a interconexão entre as dimensões físicas e sociais do paciente (MORÉS, 2020). A implementação de políticas organizacionais que valorizem e integrem o serviço social como uma peça fundamental na abordagem de saúde é essencial. Além disso, é crucial promover uma educação continuada entre os profissionais de saúde, enfatizando o papel do serviço social na otimização do tratamento e na promoção do paciente como um ser social (MOTA et al., 2022). Em resumo, a invisibilidade social nos hospitais, especificamente no que diz respeito ao serviço social, é uma característica multifacetada e complexa, enraizada em dinâmicas estruturais, culturais e organizacionais. A superação desse desafio exige não apenas uma mudança de perspectiva no seio da comunidade médica, mas também a implementação de políticas e práticas que reconheçam e valorizem cumprindo a contribuição vital do serviço social para a eficácia e humanização dos cuidados hospitalares (JACHETTA, 2020). 3.4 O PAPEL DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL O serviço social na saúde mental desempenha um papel fundamental na identificação e abordagem dos determinantes sociais que impactam diretamente a saúde mental dos indivíduos. A compreensão das condições socioeconômicas, históricas e culturais permite uma intervenção mais precisa, direcionando recursos e estratégias de suporte para as áreas mais críticas. Nesse contexto, o assistente social atua como um elo entre as dimensões clínicas e sociais, promovendo uma visão integrativa que transcende a abordagem tradicionalmente fragmentada da saúde (BISNETO, 2020). Além disso, o serviço social desempenha um papel crucial na criação e implementação de estratégias de intervenção que visam fortalecer a resiliência e a capacidade de enfrentamento dos indivíduos em situação de vulnerabilidade mental. A promoção de redes de apoio social, o estímulo à participação comunitária e a facilitação do acesso aos recursos são elementos-chave na intervenção do assistente social, não apenas mitigar crises, mas também promover a sustentabilidade do bem-estar mental a longo prazo (SANTOS, 2023). A dimensão preventiva da assistência social na saúde mental também merece destaque, pois a identificação precoce de fatores de risco e a implementação de programas de prevenção são essenciais na mitigação de transtornos mentais (FORTES, 2020). A atuação proativa do serviço social na educação pública, a conscientização e a promoção da saúde mental contribuem para a construção de uma sociedade mais informada e empática, facilitando o estigma associado às questões mentais e fomentando um ambiente propício ao cuidado integral (BORTOLOTTI, 2018). A abordagem centrada nopaciente é uma característica distintiva do serviço social na saúde mental. A ênfase na escuta ativa, na empatia e na compreensão das necessidades individuais permite ao assistente social construir uma relação terapêutica sólida, promovendo a autonomia e a participação ativa do indivíduo no seu processo de recuperação. Dessa forma, o serviço social não atua apenas como facilitador na gestão de crises, mas também como aprimoramento do fortalecimento da capacidade do paciente em lidar com os desafios mentais (SILVINO, 2021). Por isso, o papel do serviço social na saúde mental é intrínseco à construção de um sistema de cuidados abrangente e sensível às complexidades da condição humana. A atuação do assistente social, ancorada na compreensão das dinâmicas sociais, na promoção de estratégias preventivas e na construção de relações terapêuticas, é um elemento-chave na transformação do paradigma da saúde mental (VANDERLEY, 2020). A integração plena do serviço social neste contexto não apenas enriquece a qualidade do atendimento, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais saudável e resiliente em relação às questões mentais. 3.5 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS A abordagem do serviço social em hospitais psiquiátricos é multifacetada, não apenas a mitigação das crises imediatas, mas também a promoção da reintegração social e o fortalecimento da autonomia dos pacientes (JUNIOR, VICCARI, 2019). O assistente social atua como um agente de ligação entre as necessidades psicossociais dos indivíduos e os recursos disponíveis, promovendo uma abordagem centrada na pessoa e às complexidades sensíveis de cada caso (SANTOS, 2023). Um dos principais focos de intervenção do serviço social em hospitais psiquiátricos reside na avaliação e intervenção nas condições de vida dos pacientes após a alta hospitalar. O planejamento de estratégias de suporte, a identificação de redes de apoio social e a criação de planos de cuidado individualizados são aspectos cruciais desse processo (SUSTELO, 2019). O serviço social desempenha um papel estratégico na transição do paciente do ambiente hospitalar para a comunidade, minimizando os riscos de recuperação e promovendo a continuidade do tratamento (OLIVEIRA, 2022). Contudo, a intervenção do assistente social em ambulatórios psiquiátricos enfrenta desafios consideráveis, muitos dos quais relacionados com estigmatização associada a transtornos mentais (SANTOS et al., 2018). O estigma pode impactar a receptividade dos pacientes aos serviços sociais, exigindo uma abordagem sensível e destituída de preconceitos por parte dos profissionais. Além disso, a escassez de recursos e a falta de integração efetiva entre os setores de saúde mental e assistência social comprometem a eficácia das intervenções (CAMARA et al., 2020). A atuação desses profissionais em ambientes para pessoas com transtornos mentais abrange não apenas o suporte direto aos pacientes, mas também se estende ao auxílio às suas famílias, abordando questões emocionais, financeiras e sociais que frequentemente surgem como desdobramentos das doenças psicológicas (LIMA, 2018). A educação das famílias sobre os transtornos psiquiátricos, a apresentação de estratégias de manejo e a promoção de um ambiente de apoio destacam elementos fundamentais na prevenção de recaídas e na construção de uma base sólida para a reintegração social do paciente (SOUZA et al., 2019). Desta forma, a intervenção do serviço social em hospitais psiquiátricos é intrínseca e vital para o cuidado integral dos indivíduos em sofrimento mental. Superar os desafios requer uma abordagem colaborativa, envolvendo profissionais de saúde mental, assistentes sociais, familiares e a comunidade em geral. Ao integrar a dimensão social nos protocolos de tratamento, o serviço social desempenha um papel essencial na humanização do cuidado psiquiátrico e na promoção da qualidade de vida dos pacientes. 4. Luta Antimanicomial De acordo com Foucault (1961), o hospital psiquiátrico é a materialização mais completa da opressão, controle e violência em relação aos indivíduos considerados “loucos”. Os muros do hospital encobrem a violência física e testemunhada por meio de uma aparência protetora que absolve a sociedade de sua responsabilidade e desvincula os processos históricos e sociais envolvidos na produção e perpetuação da condição de insanidade. Segundo Amarante (1995), entre os anos de 1987 e 1993, várias articulações foram realizadas e diversos núcleos do movimento antimanicomial foram criados, de maneira que “os serviços já não serão locais de repressão, exclusão, disciplina, controle e vigilância panóptica1” (FOUCAULT, 1977 apud AMARANTE, 2013). De forma que, em 1993, o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial foi consolidado, por meio dos esforços por mudanças. A relação entre a sociedade e a loucura é transformada pelo Movimento Antimanicomial, baseado em fundamentos que abrangem diversas dimensões do processo da Reforma Psiquiátrica, envolvendo desenvolvimento social complexo e articulações de múltiplas dimensões simultâneas e interligadas. “Trata-se de uma luta pela inclusão de novos sujeitos de direito e de novos direitos para os sujeitos em sofrimento mental.” (AMARANTES,2013, p. 60). Permeando décadas de exclusão, tortura, invisibilidade social, o Movimento Antimanicomial, trás a reflexão de maneiras alternativas para o acolhimento dos doentes mentais. “A construção de cidadania diz respeito a um processo social e, tal qual nos referimos no campo da saúde mental e atenção psicossocial, um processo social complexo” (AMARANTE, 2013, p.61). O processo social se é refletido nos estigmas que essas pessoas passaram, sendo taxadas como perigosas e afastadas do convívio da sociedade. Como citado por Arbex (2013) em ‘Os Meninos de Oliveiras’, crianças com deficiências foram levadas ao hospital Colônia em Barbacena Minas Gerais, cresceram sem o convívio familiar e afastados da sociedade, sem receber qualquer tipo de assistência de maneira que: A psiquiatria contribuiu muito para que a sociedade entendesse que ‘o louco é perigoso’, que 1 Pan-óptico é um termo utilizado para designar uma penitenciária ideal. ‘lugar de louco é no hospício’, que ‘o doente mental é irracional’, que ‘o doente mental’. Você já parou para pensar em quantos preconceitos existem sobre as pessoas com problemas mentais? Quantas anedotas existem sobre loucos? Quantos casos de loucos furiosos, assassinos, pervertidos?” (AMARANTE, 2013, p.62). É por meio deste processo de instituições de correção moral, punição e afastamento social, é legitimado pelo Estado, pois é construído um senso comum de medo, afastamento e preconceito em relação ao que é diferente. Em última instância, todo o conjunto de transformações e inovações anteriores contribuem para a construção de um novo imaginário social em relação à loucura e aos sujeitos em sofrimento, que não seja de rejeição ou tolerância, mas de reciprocidade e solidariedade. Por meio da inserção social e do envolvimento da sociedade na reforma psiquiátrica, com o objetivo de estimular e promover discussões sobre o tema e a luta antimanicomial, é possível alcançar o engajamento social ao movimento. Se faz necessário ressaltar o contexto político que o país passava durante o período da Luta Antimanicomial, que está concomitantemente a Reforma Sanitária e Reforma Psiquiátrica. Dado que o movimento da Reforma Psiquiátrica se inicia nos anos 1970 em plena Ditadura Militar, sendo resposta para crise que o Brasil passava, assim os trabalhadores da área se articulam por esse movimento. “No ano de 1989, da entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país” (Brasil 2005), dando-se o início as lutas do movimento, dentro do Congresso Nacional, ressalto que esse projeto sófoi sancionado doze anos depois da sua entrada no Congresso Nacional. 4 CONCLUSÃO / CONSIDERAÇÕES Uma análise aprofundada dos desafios no acesso à saúde mental e da intervenção do serviço social nas políticas de saúde pública e na questão social revela a complexidade desse campo e a necessidade de abordagens multidisciplinares e ampla. Ao longo deste texto, exploramos as barreiras que dificultam o acesso aos serviços de saúde mental, as desigualdades sociais que permeiam essa questão e o papel crucial do serviço social na promoção da equidade e do bem-estar. É evidente que o estigma e a discriminação associados aos transtornos mentais continuam a ser obstáculos significativos para muitos indivíduos. A falta de consciência e compreensão sobre as doenças mentais ainda persiste em muitas comunidades, reforçando a invisibilidade social daqueles que enfrentam esses desafios. Nesse contexto, a educação pública e a disseminação de informações precisas desempenham um papel fundamental na superação dessas barreiras. Além disso, a escassez de recursos financeiros e o subfinanciamento específico dos serviços de saúde mental são obstáculos que não podem ser negligenciados. A falta de investimento adequado impacta diretamente na disponibilidade e na qualidade dos serviços oferecidos, tornando a acessibilidade a tratamentos e terapias eficazes uma luta para muitos. É imperativo que os governos e as autoridades de saúde priorizem o financiamento adequado da saúde mental como parte essencial da saúde pública. Os desafios da questão social também estão intrinsecamente ligados à saúde mental. A pobreza, o desemprego, a falta de moradia e a exclusão social são fatores que podem contribuir significativamente para o surgimento e agravamento de transtornos mentais. O serviço social desempenha um papel crucial na abordagem dessas questões, trabalhando diretamente com indivíduos e comunidades para mitigar os efeitos desses determinantes sociais na saúde mental. A profissão de serviço social, comprometida com a justiça social e a inclusão, tem um papel vital na intervenção nos desafios do acesso à saúde mental. Os assistentes sociais são agentes de mudança que podem ajudar a combater o estigma, promover a conscientização, facilitar o acesso a serviços e recursos, e apoiar indivíduos e famílias em momentos de crise. Sua presença em hospitais, clínicas, escolas e comunidades é essencial para criar um ambiente mais acolhedor e inclusivo para aqueles que enfrentam desafios de saúde mental. Assim, os desafios no acesso à saúde mental estão entrelaçados com questões sociais complexas, como estigma, discriminação, falta de financiamento e desigualdades sociais. No entanto, o serviço social desempenha um papel fundamental na mitigação desses desafios, trabalhando em colaboração com outras disciplinas para promover a igualdade de acesso a serviços de saúde mental de qualidade. A conscientização, o engajamento público e o compromisso contínuo com a melhoria dos sistemas de saúde mental são essenciais para enfrentar esses desafios e garantir que todos tenham a oportunidade de alcançar uma boa saúde mental e bem-estar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013. AMARANTE, P. Loucos Pela Vida: a Trajetória Da Reforma Psiquiátrica No Brasil. 4ª Ed. Rio De Janeiro: Editora Fiocruz, 2013. ALMEIDA, Sérgio Medeiros de. A loucura está na rua: práticas e definições sobre a loucura em Caicó-RN (1926-1960). 2022. ARAÚJO, Tânia Maria de; TORRENTÉ, Mônica de Oliveira Nunes de. Saúde Mental no Brasil: desafios para a construção de políticas de atenção e de monitoramento de seus determinantes. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 32, p. e2023098, 2023. BARBOSA, Bruno Daemon et al. Sobre a História da Loucura: aspectos metodológicos e historiográficos em Michael Foucault. 2021. BATISTA, Eraldo Carlos. 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