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Débora Rodrigues – MED XXX DEFINIÇÃO … . Hanseníase (lepra, mal de Hansen) é uma doença infectocontagiosa, de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium leprae. Um caso de hanseníase é uma pessoa que apresenta uma ou mais de uma das seguintes características e que requer quimioterapia Lesão/ões de pele com alteração de sensibilidade, principalmente mãos e pés; Acometimento de nervo(s) com espessamento neural; Baciloscopia positiva. EPIDEMIOLOGIA … . Fatores climáticos, nutricionais, econômicos, movimentos migratórios e, principalmente, terapia inadequada facilitavam a propagação da endemia. Maior em homens. O Brasil é um dos poucos países que não atingiram a meta da eliminação e registra, até o momento, cerca de 85% dos casos registrados nas Américas. Em 2009, considerando-se a prevalência por 10 mil habitantes, na região Sul a prevalência foi de 0,50; no Sudeste, de 0,75; no Nordeste, de 2,98; no Centro-Oeste, de 5,04; e, no Norte, de 5,02. No período entre 2015 e 2019, o país registrou 137.385 casos novos, com predomínio de homens (55,3%), de 30 a 59 anos (54,4%), da raça/cor parda (58,7%) e branca (24,3%) e de indivíduos com ensino fundamental incompleto (42,2%). ETIOPATOGÊNIA … . O tempo de multiplicação do bacilo é lento, podendo durar, em média, de 11 a 16 dias. O M.leprae tem alta infectividade e baixa patogenicidade, isto é infecta muitas pessoas no entanto só poucas adoecem. tempo médio de incubação é variável, de 2 a 5 anos para os casos paucibacilares e 5 a 10 anos para os multibacilares. O risco de adoecer, em relação à população geral, é 2 a 3 vezes maior entre os comunicantes de pacientes paucibacilares e 5 a 10 vezes entre os comunicantes dos multibacilares. O homem é reconhecido como única fonte de infecção (reservatório), embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados. A hanseníase é causada pelo M. leprae, ou bacilo de Hansen (BH), que é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos, que se instala no organismo da pessoa infectada, podendo se multiplicar. É um bacilo gram-positivo, álcool- ácido resistente. Fatores de virulência do M. leprae: na parede do BH, há componentes comuns a outras micobactérias, como ácidos micólicos, lipídeos, arabinomananas etc., mas apenas no BH existe o glicolipídio fenólico-1 (PGL-1-Phenolic glicolipid 1); um trissacarídeo que serve de aceptor de laminina α-2 da célula de Schwann do SNP, o que explica o neurotropismo do BH. Os bacilos viáveis (sólidos ou íntegros) têm forma de bastonetes que se coram uniformemente em vermelho. Quando os bacilos apresentam falhas na sua coloração, são considerados inviáveis. ANATOPATOLOGIA … . HANSENÍASE INDETERMINADA HANSENÍASE TUBERCULOIDE Débora Rodrigues – MED XXX HANSENÍASE VIRCHOWIANA HANSENÍASE DIMORFA TRANSMISSÃO … . O homem é considerado a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio dá-se através de uma pessoa doente, portadora do bacilo de Hansen, não tratada, que o elimina para o meio exterior, contagiando pessoas susceptíveis. A principal via de eliminação do bacilo, pelo indivíduo doente de hanseníase, e a mais provável porta de entrada no organismo passível de ser infectado são as vias aéreas superiores, o trato respiratório, embora o bacilo também possa ser eliminado por meio de solução de continuidade da pele. No entanto, para que a transmissão do bacilo ocorra, é necessário um contato direto com a pessoa doente não tratada. O bacilo de Hansen é um germe de alta infectividade e baixa patogenicidade e virulência. Admite-se que muitas pessoas se infectam em áreas endêmicas, mas somente uma minoria adoece. O aparecimento da doença na pessoa infectada pelo bacilo, e suas diferentes manifestações clínicas, dependem dentre outros fatores, da relação parasita / hospedeiro e pode ocorrer após um longo período de incubação, de 2 a 7 anos. A evolução é lenta e insidiosa. ……. FORMAS CLÍNICAS …… ..…… Quando o bacilo de Hansen penetra no organismo humano, ocorre estímulo do sistema imune celular e a infecção pode evoluir de várias maneiras: Há uma resistência natural que abortará a infecção; A infecção evolui para manifestação subclínica, que pode regredir espontaneamente, ou para a forma de hanseníase indeterminada (MHI); A hanseníase indeterminada também pode ser abortada espontaneamente pela contínua estimulação da imunidade celular com destruição dos bacilos, ou poderá evoluir para: HANSENÍASE TUBERCULOIDE POLAR (PAUCIBACILAR): Quando o doente tem alto grau de resistência (reação de Mitsuda positiva), haverá boa resposta imune celular. Não ocorre multiplicação dos bacilos que, na grande maioria, serão eliminados. Surgirá granuloma tuberculoide e a pesquisa anti-PGL-1 mostrará títulos baixos similares aos da população sem a doença. São lesões mais precoces, agressivas e assimétricas, muitas vezes, mononeurais. HANSENÍASE VIRCHOWIANA POLAR (MULTICIBACILAR): Quando o doente não tem resistência (reação de Mitsuda negativa), os bacilos se multiplicarão livremente nos macrófagos (granulomas macrofágicos) e se disseminarão pela grande maioria dos tecidos, caracterizando a forma grave e contagiante da moléstia (hanseníase virchowiana lepromatosa polar). Essa forma apresenta níveis elevados de anti-PGL-1. São lesões extensas, simétricas e pouco intensas, que se manifestam tardiamente. Débora Rodrigues – MED XXX HANSENÍASE GRUPO DIMORFO OU BODERLINE: Grau de resistência imune celular intermediário entre a forma tuberculoide polar e a lepromatosa polar. Pode apresentar manifestações muito semelhantes à forma tuberculoide ou à virchowiana ou equidistantes entre os dois polos (DD). Nesses doentes, a reação de Mitsuda pode ser fracamente positiva ou negativa e a imunidade celular será tanto maior quanto mais próximo estiver do polo tuberculoide. São lesões extensas e intensas, com destruição generalizada. CLASSIFICAÇÃO … . MADRI A hanseníase passou a ser dividida em dois tipos polares, estáveis sob o aspecto imunológico (tuberculoide e lepromatoso), e os mutuamente incompatíveis, dois grupos instáveis (indeterminado e dimorfo ou borderline). RIDLEY & JOPLING Nela, a doença é considerada um espectro que apresenta dois tipos polares estáveis, o tuberculoide polar (TTp) e o virchowiano polar (VVp), e os interpolares, imunologicamente instáveis, tuberculoide secundário (TTs), os borderlines ou dimorfos tuberculoides (DT), dimorfo- dimorfo (DD), dimorfo-virchowiano (DV) e o virchowiano subpolar (VVs). OMS Nela, os doentes são divididos em: Paucibacilares (PB): casos com até 5 lesões de pele e baciloscopia negativa, abrangendo todos os tuberculoides e indeterminados. Multibacilares (MB): casos com mais de 5 lesões de pele e baciloscopia positiva, dos quais fazem parte todos os lepromatosos ou virchowianos e dimorfos. Esta classificação e os esquemas terapêuticos propostos pela OMS, universalmente adotados, possibilitaram eliminar a hanseníasecomo problema de saúde em quase todos os países. ASPECTOS CLÍNICOS … . A hanseníase manifesta-se através de sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos que podem levar à suspeição diagnóstica da doença. As alterações neurológicas, quando não diagnosticadas e tratadas adequadamente, podem causar incapacidades físicas que podem evoluir para deformidades. ……. DERMATOLÓGICOS …… ..… A hanseníase manifesta-se através de lesões de pele que se apresentam com diminuição ou ausência de sensibilidade. A sensibilidade nas lesões pode estar diminuída (hipoestesia) ou ausente (anestesia), podendo também haver aumento da sensibilidade (hiperestesia). Essas lesões podem estar localizadas em qualquer região do corpo e podem, também, acometer a mucosa nasal e a cavidade oral. Ocorrem, porém, com maior frequência, na face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas. As lesões mais comuns são: Manchas pigmentares ou discrômicas: resultam da ausência, diminuição ou aumento de melanina ou depósito de outros pigmentos ou substâncias na pele. Placa: é lesão que se estende em superfície por vários centímetros. Pode ser individual ou constituir aglomerado de placas. Infiltração: aumento da espessura e consistência da pele, com menor evidência dos sulcos, limites imprecisos, acompanhando-se, às vezes, de eritema discreto. Pela vitropressão, surge fundo de cor café com leite. Resulta da presença na derme de infiltrado celular, às vezes com edema e vasodilatação. Tubérculo: designação em desuso, significava pápula ou nódulo que evolui deixando cicatriz. Nódulo: lesão sólida, circunscrita, elevada ou não, de 1 a 3 cm de tamanho. É processo patológico que se localiza na epiderme, derme e/ou hipoderme. Pode ser lesão mais palpável que visível. Débora Rodrigues – MED XXX HANSENÍASE INDETERMINADA 1ª manifestação da doença e caracteriza-se pelo aparecimento de máculas ou áreas circunscritas com distúrbios da sensibilidade, sudorese e vasomotores. As máculas podem ser hipocrômicas ou eritêmato-hipocrômicas com eritema marginal ou difuso. Podem apresentar alopecia total ou parcial. Se o número de lesões for pequeno, é possível que o portador apresente resistência à doença e cure-se ou evolua para a forma tuberculoide. Se apresentar muitas lesões com distúrbios de sensibilidade não muito intensos, a resistência do portador é baixa ou nula, podendo evoluir para as formas dimorfa ou virchowiana. Os nervos mais calibrosos não são comprometidos e, portanto, nessa forma, não há a ocorrência de incapacidades. A baciloscopia é negativa. O teste de Mitsuda pode ser positivo ou negativo. HANSENÍASE TUBERCULOIDE Caracteriza-se por placas bem delimitadas, cor róseo-eritematosa, ou eritêmato-acastanhada, contornos regulares ou irregulares formando lesões circulares, anulares, circinadas ou geográficas. São, em geral, únicas ou em pequeno número com distribuição assimétrica. Podem localizar-se em qualquer lugar da pele. O comprometimento neural é intenso, precoce e assimétrico. Os distúrbios sensitivos são, em geral, bastante acentuados, assim como a sudorese e alterações vasomotoras. Causa incapacidades. A ocorrência de necrose caseosa nos nervos é uma característica dos casos tuberculoides. Pode haver alopecia parcial ou total. Há espessamento do nervo. O teste de Mitsuda é fortemente positivo e a baciloscopia nas lesões é negativa. HANSENÍASE VIRCHOWIANA Apresenta polimorfismo muito grande de lesões. Inicialmente, são manchas muito discretas, hipocrômicas, eritêmato-hipocrômicas, múltiplas e de limites imprecisos, com distribuição mais ou menos simétrica, às vezes observáveis somente em diferentes incidências de luz. Insidiosa e progressivamente, as manchas tornam-se eritematosas, eritematopigmentadas, vinhosas, eritematocúpricas, ferruginosas e espessadas. Após tempo variável, podem surgir lesões sólidas – papulosas, papulonodulares, nodulares, placas isoladas, agrupadas e/ou confluentes, simetricamente distribuídas, em geral, poupando regiões axilares, inguinais, perineais e coluna vertebral. Ocorre progressiva alopecia de cílios e supercílios (madarose) e alopecia parcial ou total nos antebraços, pernas e coxas. Os pavilhões auriculares frequentemente estão espessados. Quando as lesões se apresentam infiltradas, ela assume um aspecto de fácies leonina. A baciloscopia é sempre muito positiva e o teste de Mitsuda é negativo. O comprometimento difuso, observado na pele e no SNP, também alcança: nariz, mucosa oral, laringe, olhos, linfonodos, fígado, baço, suprarrenais, testículos, medula óssea, alterações ósseas e músculos. HANSENÍASE DIMORFA A maioria dos doentes enquadra-se nesse grupo clínico. Constitui um conjunto de manifestações são semelhantes à forma tuberculoide (DT), ou bem parecidas com a virchowiana (DV), ou são, realmente, intermediárias entre as formas polares (DD). VARIEDADE DT: Lesões com aspecto tuberculoide, porém mais numerosas, com comprometimento de vários troncos nervosos, causando incapacidades com frequência. A baciloscopia é muitas vezes negativa e o teste de Mitsuda é, em geral, fracamente positivo. VARIEDADE DV: Apresenta lesões não tão polimorfas. As lesões, muitas vezes, não apresentam delimitação muito precisa e o comprometimento neural se assemelha ao que ocorre na forma virchowiana, mas pode haver a ocorrência de incapacidades graves durante as reações tipo 1. A baciloscopia é sempre positiva e o teste de Mitsuda é negativo. Débora Rodrigues – MED XXX VARIEDADE DD: Tem lesões bizarras “em alvo” ou anulares que podem confluir formando aspecto característico desse grupo clinico. A borda interna da lesão foveolar é bem delimitada, enquanto a externa espessada, eritematopigmentada, é mal delimitada e gradativamente menos espessada, até misturar-se com a pele aparentemente normal. Há também nódulos e placas, sempre de tonalidade eritematopigmentar. O comprometimento neural é significativo. A baciloscopia é positiva e o teste de Mitsuda é, na maioria das vezes, negativo. ……. NEUROLÓGICOS … … ..… A hanseníase manifesta-se através de lesões decorrentes de processos inflamatórios dos nervos periféricos (neurites) e podem ser causados tanto pela ação do bacilo nos nervos como pela reação do organismo ao bacilo ou por ambas. Elas manifestam-se através de: Dor e espessamento dos nervos periféricos; Perda de sensibilidade nas áreas inervadas por esses nervos, principalmente nos olhos, mãos e pés; Perda de força nos músculos inervados por esses nervos principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores. Os bacilos multiplicam-se no SNP e na pele, podendo também atingir outros órgãos e sistemas, com exceção do SNC. A neurite, geralmente, manifesta-se através de um processo agudo, acompanhado de dor intensa e edema. Quando o comprometimento é ramuscular, as alterações são essencialmente sensitivas e a primeira sensibilidade a ser alterada é a térmica, seguida pela dolorosa e, finalmente, a tátil. Após, a doença progride em direção proximal afetando ramos secundários e troncos neurais periféricos. Estes podem tornar- se espessados e dolorosos à palpação e/ou percussão. As lesões motoras levam aparesias ou paralisias com a correspondente fraqueza muscular, amiotrofia, retrações tendíneas e fixações articulares. NERVOS COMPROMETIDOS: SEGMENTO CEFÁLICO Trigêmeo: responsável pela sensibilidade da córnea e da face; Facial: subordinada toda a musculatura da mimica da face. Podem ser lesões completas, unilaterais, bilaterais ou somente provocarem danos a musculo das pálpebras, levando ao Lagoftalmo. MEMBROS SUPERIORES Ulnar: produzem paresiais ou paralisias, hipo ou anestesia do 4º e 5º dedos. Mediano: normalmente secundaria às lesos do nervo ulnar. Paresias ou paralisias; hipo ou anestesia dos 1º, 2º e 3º dedos. Radial: paralisia conhecida como “mão caída”. MEMBROS INFERIORES Fibular: responsável pela inervação da musculatura anterolateral da perna que produz dorsiflexão do pé. Quando lesado provoca “pé caído” e alterações de sensibilidade. Tibial posterior: paralisa dos músculos intrínsecos do pé “dedos em garra”. Causa hipo ou anestesia plantar e alterações simpáticas vasculares cutâneas e das glândulas sudoríparas. As alterações sensitivas e motoras conjugam-se na fisiopatologia da ulcera plantar. DIAGNÓSTICO … . O roteiro de diagnóstico clínico constitui-se das seguintes atividades: ANAMNESE: A anamnese deve ser realizada conversando com o paciente sobre os sinais e sintomas da doença e possíveis vínculos epidemiológicos. As pessoas que têm hanseníase, geralmente, queixam-se de manchas dormentes na pele, dores, cãibras, formigamento, dormência e fraqueza nas mãos e pés. Identificar as seguintes questões: alguma alteração na sua pele - manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e há quanto tempo eles apareceram; possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do seu corpo; presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés e se usou algum medicamento para tais problemas e qual o resultado. AVALIAÇÃO DERMATOLÓGICA: Devem ser realizadas as seguintes pesquisas de sensibilidade nas lesões de pele: térmica, dolorosa, e tátil, que se complementam. Para a pesquisa da sensibilidade térmica, utiliza-se um tubo com água quente (a mais ou menos 45°C) e outro com água fria. Explica-se o teste ao paciente e pede-se que ele feche os olhos e diga quando está sendo tocado pelo tubo quente ou pelo frio. Procura-se aplicar os tubos de maneira irregular na área de pele sadia e na pele suspeita. Para a pesquisa da sensibilidade dolorosa, utiliza-se uma agulha de ponta romba; a sensibilidade tátil é pesquisada com um chumaço de algodão ou filamentos de nylon. AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA: Clinicamente, a neurite pode ser silenciosa, sem sinais ou sintomas, ou pode ser evidente, aguda, acompanhada de dor intensa, hipersensibilidade, edema, perda de sensibilidade e paralisia dos músculos. A identificação das lesões neurológicas é feita através da avaliação neurológica e é constituída pela inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés, palpação dos troncos nervosos periféricos, avaliação da força muscular e avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e membros inferiores. Débora Rodrigues – MED XXX PALPAÇÃO: AVALIAÇÃO DA FORÇA MUSCULAR: AVALIAÇÃO DA SENSIBILIDADE: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: GRUPO INDETERMINADO Nenhuma lesão hipocrômica é hanseníase indeterminada se tiver sensibilidade térmica ou dolorosa conservada e prova de histamina completa. Ex: nevo acrômico, pitiríase alba, pitiríase versicolor e vitiligo. TIBO TURBECULOIDE Nenhuma lesão papulosa ou papulonodular que não for anestésica é hanseníase tuberculoide. Ex: lesões de dermatite seborreica figurada, dermatofitose, esclerodermia, pitiríase rósea, eritema fixo por droga, eritema anular, líquen plano anular, granuloma anular, sífilis, tubercúlides, lesões sarcoídicas (paracoccidioidomicose, leishmaniose, esporotricose e sarcoidose) e eritema crônico migratório (Lyme). TIPO VIRCHOWIANO E GRUPO DIMORFO Nenhuma lesão suspeita como hanseníase virchowiana, com baciloscopia negativa para bacilos álcool-acidorresistentes (BAAR), é hanseníase virchowiana. A pesquisa da sensibilidade nessas lesões não auxilia na diagnose. Ex: micose fungoide e outros linfomas cutâneos, leishmaniose cútis difusa, sífilis secundária ou secundo- terciária, dermatite seborreica, dermatomiosite, lúpus eritematoso sistêmico, xantoma tuberoso, neurofibromatose, neoplasias com metástases cutâneas e paracoccidioidomicose. EXAMES LABORATORIAIS: Bacterioscopia, índices bacilares, exames histopatológicos. BACILOSCOPIA A baciloscopia é o exame microscópico onde se observa o Mycobacterium leprae, diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas ou de outros locais de coleta selecionados: lóbulos auriculares e/ou cotovelos, e lesão quando houver. Mesmo sendo a baciloscopia um dos parâmetros integrantes da definição de caso, ratifica-se que o diagnóstico da hanseníase é clínico. Quando a baciloscopia estiver disponível e for realizada, não se deve esperar o resultado para iniciar o tratamento do paciente. O tratamento é iniciado imediatamente após o diagnóstico de hanseníase e a classificação do paciente em pauci ou multibacilar baseado no número de lesões de pele. Débora Rodrigues – MED XXX PROGNÓSTICO … . Se a hanseníase não for tratada, pode causar lesões severas e irreversíveis. O tratamento cura a doença, interrompe sua transmissão e previne incapacidades físicas. Quanto mais cedo for iniciado, menores são as chances de agravamento da doença. REAÇÕES HANSÊNICAS . As reações hansênicas são fenômenos inflamatórios agudos que cursam com exacerbação dos sinais e sintomas da doença e acometem um percentual elevado de casos. Resultam da ativação de resposta imune contra o M. leprae e podem ocorrer antes, durante ou após o tratamento da infecção. ……. REAÇÃO TIPO I (REVERSA) …… … Ocorre em pacientes com algum grau de imunidade celular, como os tuberculoides e dimorfos. Trata-se de reação de hipersensibilidade de tipo tardio, em que há aumento da imunidade celular correspondendo à reação do tipo IV. Reação do tipo IV, são reações causadas por linfócitos T sensibilizados após contato com um antígeno especifico. Ocorre aumento de citocinas IL-2, IL-12, INF-γ e TNF-α sugerindo resposta predominantemente TH1. Ocorre abruptamente, com piora das lesões de pele preexistentes. As lesões tornam-se mais eritematodematosas e aparecem novas lesões. Com a involução da reação, as lesões mostram descamação. O acometimento neural pode ser muito intenso, gerando dor aguda, que pode ser de forte intensidade. As reações reversas devem ser diferenciadas das recidivas. REAÇÕES REVERSAS REAÇÕES RECIDIVAS O início é abrupto; aparece durante a poliquimioterapia ou nos seis meses após alta terapêutica; lesões novas são raras; descamação é frequente; os nervos são acometidos e apresentam-se espessados e dolorosos havendo alteração aguda da sensibilidade; resposta à corticoterapia é geralmente boa. Surgem nos doentes que fizeram o tratamento de forma irregular; instalam-se lentamente, em semanas ou meses; o processo ocorre geralmente vários meses após a alta terapêutica; lesões novas são frequentes; ausência de descamação;os nervos são atingidos lentamente; resposta à corticoterapia é ausente. ……. REAÇÃO TIPO II (ERITEMA NODOSO) …… … Reações mediadas por imunocomplexos (anticorpo, antígeno e complemento). Trata-se de hipersensibilidade tipo III. A resposta é predominantemente Th2. Admite-se que as reações tipo 2 estejam ligadas à destruição de bacilos com exposição de antígenos e estímulo à produção de anticorpos e à formação de imunocomplexos. Admite-se que as reações tipo 2 estejam ligadas à destruição de bacilos com exposição de antígenos e estímulo à produção de anticorpos e à formação de imunocomplexos. Essa reação, denominada “tipo 2 necrosante”, é grave e pode evoluir com êxito letal do doente. Resulta em um quadro sistêmico e acomete diversos órgãos e tecidos. Na pele, a manifestação clássica da reação hansênica do tipo 2 é o eritema nodoso hansênico (ENH), que são nódulos subcutâneos, dolorosos, geralmente múltiplos e caracterizados histopatologicamente por paniculite. As lesões desaparecem quando os antígenos são eliminados. TRATAMENTO … . ……. ANTIBIÓTICOS …… … Dapsona, clofazimina, rifampicina. ……. ESQUEMA TERAPÊUTICO … … … PAUCIBACILARES (PB): Doentes com baciloscopia de rotina negativa. Englobam todos os indeterminados, tuberculoides. Dapsona 100 mg/dia (autoadministrada) e rifampicina (600 mg/mês), supervisionada (isto é, o doente toma a medicação na presença do médico ou de outro membro da equipe da saúde). Duração: 6 - 9 meses. Ocorrendo recidiva, repetir o tratamento. Havendo mudança para a forma multibacilar, passar para o esquema dessa forma. MULTIBACILARES (MB): Baciloscopia positiva, em que se enquadram todos os lepromatosos (virchowianos) e a maior parte dos dimorfos. Dapsona 100 mg/dia (autoadministrada) + clofazimina 50 mg/dia autoadministrada e 300 mg/mês supervisionada e rifampicina 600 mg/mês supervisionada. Duração do tratamento: 12 - 24 meses. Os resultados com o esquema terapêutico multidroga/poliquimioterapia (MDT/PQT) têm sido muito bons. ……. T. DOS ESTADOS REACIONAIS …… … REAÇÃO TIPO 1: Manter a medicação específica. Utilizar prednisona 40 a 60 mg/dia (1 mg/kg/dia), principalmente se houver neurite. A diminuição do corticoide deve ser progressiva. Analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais podem eventualmente ser empregados. REAÇÃO TIPO 2: Manter a medicação específica. Reações leves: analgésicos e anti-inflamatórios não hormonais. Reações moderadas ou intensas: talidomida (sedativo) 100 a 400 mg/dia. Quando a corticoterapia não for suficiente para tratar a neurite, deve ser feita uma descompressão neurocirúrgica. ……. TERAPÊUTICA …… … Recomenda-se fisioterapia, com massagens e exercícios. Órteses, próteses e adaptações de calçados complementam as medidas para evitar que as incapacidades se acentuem, já que estas, uma vez instaladas, podem ser corrigidas cirurgicamente por técnicas que utilizam principalmente transferências tendinosas. Para deformidades causadas exclusivamente pelo bacilo e por reação inflamatória como madarose supraciliar, desabamento da pirâmide nasal e atrofia intensa da pele da face, há indicação de cirurgia plástica, inclusive para readaptação social e profissional. ……. PROFILAXIA …… v … Admite-se que a vacina BCG isolada confira certo grau de proteção contra a doença, principalmente quando deixa cicatriz. Por esse motivo, o Ministério da Saúde recomenda a aplicação de duas doses dessa vacina a todos os contatos intradomiciliares. Somente devem receber as duas doses os contatos que não apresentarem cicatriz de BCG. REABILITAÇÃO … . Fisioterapia, cirurgia, adaptação de calcados. REINTEGRAÇÃO … . Enquanto não tratar deve-se ficar em isolamento. Quando tratado pode voltar a reintegrar, pois o paciente já para de transmitir a doença.
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