Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O RA TO RIA E TECN ICA S D E A PRESEN TA Çà O FA BIA N O CA XITO FA BIA N O CA XITO ISBN 978-65-5821-178-5 9 786558 211785 Código Logístico I000935 Oratória e técnicas de apresentação Fabiano Caxito IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: GekaDe/Shutterstock - samui/Shutterstock - Singleline/shutterstock Fabiano Caxito Mestre em Administração Estratégica pela Universidade Nove de Julho (Uninove). Na área da administração, é MBA em Recursos Humanos pela Fundação Instituto de Administração (FIA); MBA em Economia e Finanças e em Gestão de Equipes e Liderança, ambos pela Faculdade Dynamus de Campinas (Fadyc). É pós- graduado em Business Intelligence, Big Data e Analytics pela Universidade Anhanguera, e em Coaching pela UniBF. Na área da educação, é pós-graduado em Língua Portuguesa: redação e oratória pela Universidade São Francisco; em Educação Financeira, em Educação Corporativa e em Tecnologias e Educação a Distância pela Faculdade UniBF. Na área de ciências sociais, é pós-graduado em Filosofia pela Universidade Estácio de Sá; em Antropologia e em Sociologia Política e Urbana pela UniBF; e em Ciências Políticas pela Fadyc. É graduado em Administração Financeira pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Graduado em Gerontologia pelo Centro Universitário Estácio. É licenciado em Filosofia pela Faculdade Mozarteum de São Paulo e em Pedagogia pela FaBras. Atuou nas áreas comerciais, de logística e de recrutamento e seleção, bem como no treinamento e desenvolvimento em diversas empresas de distribuição de produtos de consumo. Foi coordenador de cursos de pós-graduação lato sensu. Atualmente, é consultor empresarial, professor universitário e influenciador digital. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Importância da escuta ativa na comunicação 9 1.1 Conceitos de comunicação: falar e escutar 10 1.2 Canais de comunicação 15 1.3 Ouvir e escutar 19 1.4 Importância da escuta ativa 22 1.5 Como desenvolver a escuta ativa 27 2 Oratória 35 2.1 Conceitos básicos da oratória 36 2.2 Retórica e argumentação 40 2.3 Oralidade 45 2.4 Dicção 48 2.5 Ferramentas da voz 52 2.6 Comunicação verbal e não verbal 54 3 Preparação da Apresentação 63 3.1 Definição do tema e do conteúdo 64 3.2 Roteiros da apresentação 69 3.3 Como usar o storytelling 75 3.4 Tipos, recursos e ferramentas de apresentação 80 3.5 Construção dos slides 82 4 A apresentação 93 4.1 Vestuário e recursos visuais 94 4.2 Postura e linguagem corporal durante a apresentação 99 4.3 Construindo empatia com o público 104 4.4 Planejamento e improviso 109 Resolução das atividades 116 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! A capacidade de se comunicar de forma eficiente é fundamental para que o indivíduo possa atingir seus objetivos nas diversas áreas de sua vida, seja no ambiente profissional, social ou educacional. No mundo contemporâneo, marcado pela centralidade da informação e da comunicação, a capacidade de usar as técnicas e ferramentas da oratória é uma competência cada vez mais exigida e importante. Porém, a oratória não se resume apenas a um conjunto de técnicas usadas por palestrantes, professores e apresentadores para realizar um discurso voltado a um grande público. Exercemos a arte da oratória em diversos momentos do cotidiano, a cada vez que participamos de uma conversa ou de uma interação social. Por isso, o primeiro capítulo da obra apresenta os conceitos básicos do processo de comunicação e descreve os papéis desempenhados pelos participantes, pois a comunicação é um processo de troca e comunhão no qual os interlocutores podem desempenhar tanto o papel de emissores quanto de receptores das mensagens e informações. Nos processos de comunicação, tão fundamental como a capacidade de falar ou de se expressar é a competência de escutar. A diferença entre os conceitos de ouvir e escutar assim como a importância de desenvolver a capacidade da escuta ativa também são abordadas no primeiro capítulo. Oratória e retórica são conceitos relacionados que serão tratados no segundo capítulo da obra. Enquanto a oratória está relacionada às ferramentas e técnicas usadas durante o discurso, o conceito de retórica descreve a relevância da estrutura lógica e formal dessa fala, essenciais para que as ideias, conceitos e opiniões do orador possam ser transmitidas de maneira a serem entendidas pelos interlocutores. O capitulo também discute o valor da oralidade desde os primeiros anos da infância e o papel da educação no desenvolvimento da capacidade de o indivíduo se expressar oralmente. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Oratória e técnicas de apresentação A voz é um importante instrumento nos processos de comunicação e, especialmente, na oratória. Por isso, técnicas de uso da voz – entonação, ritmo, altura, volume, rapidez e dicção – serão apresentadas na parte final do capitulo. O terceiro capítulo é dedicado ao processo de planejamento, organização e preparação de uma apresentação, um discurso ou uma aula, para que o orador possa atingir seus objetivos. Será indicado um passo a passo do planejamento, definição do tema e estruturação do roteiro do discurso, bem como o entendimento da infraestrutura do local, o tempo disponível e o contexto no qual a apresentação ocorrerá. O discurso pode ser estruturado de diversas formas, tais como discursos argumentativos, narrativos ou expositivos, a depender do contexto, tema e objetivos do orador. O discurso narrativo, em especial o do storytelling, será analisado de forma aprofundada, pela importância desse tipo de estrutura nos discursos realizados nos mais diversos tipos de contextos, porque o uso de histórias ajuda na construção de uma relação de empatia que engaja e motiva a plateia. Também serão estudados no terceiro capítulo os programas e softwares que podem ser usados para realizar a apresentação dos dados e informações que o orador pretende transmitir, com ênfase na construção de slides e do uso de recursos visuais, ferramentas fundamentais para o sucesso de uma apresentação. O último capitulo é dedicado a discutir o momento da apresentação e do discurso e abordar temas como a preparação do orador e a adequação do vestuário ao contexto no qual a apresentação ocorre, mas também o uso da comunicação verbal e não verbal como elementos fundamentais da oratória. O estabelecimento de uma relação de empatia e confiança entre o orador e o público guarda relação direta com a coerência entre os diversos tipos de comunicação utilizados pelo orador em seu discurso. Ao final desta obra, espera-se que o leitor tenha a capacidade de entender a importância da oratória e da capacidade de comunicação em sua vida e possa usar as ferramentas, metodologias e conhecimentos adquiridos para realizar apresentaçõesde alta qualidade. Importância da escuta ativa na comunicação 9 1 Importância da escuta ativa na comunicação Quando se discutem os processos de comunicação e o desenvolvi- mento de competências relacionadas à comunicação, é comum que o foco seja direcionado à capacidade de oratória, à retórica, à argumenta- ção e à competência de falar em público e fazer apresentações. Porém, a comunicação é um processo de troca e comunhão no qual os interlocutores podem desempenhar tanto o papel de emissores quan- to de receptores das mensagens e informações. Assim, tão importante quanto a capacidade de saber falar, é a capacidade de saber escutar. Na primeira parte do capítulo, são discutidos os conceitos fundamen- tais do processo de comunicação, que tem como pilares tanto o falar quanto o escutar. Emissor, receptor, meio, canal, mensagem, códigos e ruídos são alguns dos conceitos discutidos. Já a segunda parte do capítulo tem por objetivo discutir em profundi- dade os canais de comunicação, desde o desenvolvimento da linguagem, nos primórdios da civilização humana, até os canais digitais, que têm trans- formado os processos de comunicação na sociedade contemporânea. Ouvir e escutar são conceitos complementares, mas diferentes. A ter- ceira parte do capítulo é dedicada a esclarecer cada um desses conceitos e mostrar como – mais do que audição – a capacidade de escuta é fun- damental para que a comunicação ocorra. A importância da escuta ativa, nos mais diversos contextos nos quais os indivíduos estão inseridos em seu cotidiano, é o tema da quarta parte do capítulo, que aprofunda os conceitos discutidos na parte anterior. Por fim, a última parte do capítulo apresenta exercícios e exemplos práticos de como desenvolver a escuta ativa, competência fundamental para aqueles que buscam melhorar sua capacidade de comunicação. 10 Oratória e técnicas de apresentação Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os conceitos relacionados à comunicação no contexto pessoal, acadêmico e profissional; • entender os canais de comunicação e como são usados para os diversos tipos de comunicação; • diferenciar os conceitos de ouvir e escutar; • reconhecer a importância da escuta ativa nos processos de comu- nicação e nos relacionamentos estabelecidos nos grupos sociais; • conhecer ferramentas e exercícios para desenvolver a escuta ativa. Objetivos de aprendizagem 1.1 Conceitos de comunicação: falar e escutar Vídeo Vivemos a era da comunicação! Essa frase é repetida frequentemente em diversos contextos, prin- cipalmente para demonstrar a centralidade da comunicação no mundo contemporâneo. O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação – com destaque para a internet – tornou a comunica- ção um dos pilares da cultura e da sociedade contemporânea. Porém, como destaca Ribeiro (2021), a capacidade de comunicação foi fundamental para o desenvolvimento da sociedade humana, pois possibilitou que os indivíduos dos primeiros grupos humanos, que ainda dependiam da caça e da coleta de alimentos, pudessem com- partilhar informações e estabelecer relações fundamentais para a so- brevivência do grupo. Para que se possa compreender a importância da comunicação, é preciso entender o significado do termo comunicar. Segundo Nöth (2011), essa é uma palavra de origem latina, que tem em sua raiz a ideia de comum, comunidade. Comunicar é algo que se faz com outra pessoa, em uma relação de dualidade e troca. Nöth (2011, p. 86) também afirma que a palavra se relaciona com a ideia de mudança, troca e reciprocidade, e nesse sentido destaca: Todos estes sentidos são bem compatíveis ou estreitamente rela- cionados com o sentido da palavra comunicação, pois comunica- ção é um ‘fazer comum’, que implica ‘participação’, ‘convivência’ Importância da escuta ativa na comunicação 11 e ‘convívio’, comunicação tem a haver com intercâmbio social e troca de informação e pode levar a mudanças do pensamento ou do conhecimento. Salgado e Mattos (2020) explicam que as palavras comunicar e co- mungar apresentam origens semelhantes. Ambas expressam a ideia de dividir, compartilhar, fazer junto. Segundo os autores, durante o perío- do da Idade Média, nos mosteiros os monges se reuniam para a refei- ção da noite. Neste momento, praticavam o ato de comungar, ou seja, repartiam entre si o pão. A ação de se reunir com o objetivo de realizar a comunhão era chamada de comunicação. As duas acepções da palavra, apontadas por Nöth (2011) e Salgado e Mattos (2020), são sintetizadas na explicação de Silva (2011), para quem a palavra comunicar expressa tanto o sentido de comum – ou seja, aquele que pertence a todos – como o sentido de troca, de participação em uma relação em que se dá algo em troca de receber um benefício. É a partir dessas origens que foi construído o sentido atual da pa- lavra comunicação, relacionado a falar, ouvir, escutar, compartilhar e discutir ideias, conceitos, conhecimentos e opiniões. Segundo Kotler e Armstrong (2014) o processo de comunicação apresenta uma série de etapas e características específicas, como mostra a Figura 1: Figura 1 Elementos no processo de comunicação Emissor Feedback Resposta Ruído MensagemCodificador Meio Decodificador Receptor po ko ta /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kotler; Armstrong, 2014. O processo se inicia quando um indivíduo deseja emitir uma men- sagem a outro indivíduo ou grupo de indivíduos, que desempenham o papel de receptores. Por exemplo, o emissor pode ser um palestrante, um professor, um vendedor ou uma pessoa que transmite informa- ções ou expõe suas ideias a uma ou mais pessoas. 12 Oratória e técnicas de apresentação Já os receptores podem ser a audiência da palestra, os alunos de uma aula, um cliente de uma empresa ou qualquer indivíduo que este- ja recebendo a mensagem emitida. Para que a mensagem possa ser transmitida, é utilizado um processo de codificação. A língua de um determinado povo ou cultura é um exem- plo de um código utilizado na transmissão de uma mensagem. Diversos tipos de códigos podem ser usados para transmitir uma mensagem. A Li- bras (Língua Brasileira de Sinais) é um exemplo de um código usado na comunicação. Os símbolos matemáticos, a notação musical, os símbolos utilizados em placas ou mesmo os emojis usados na comunicação estabe- lecida em sites e aplicativos de comunicação são códigos que podem ser usados no processo de transmissão de uma mensagem. A mensagem é transmitida do emissor para o receptor através de um meio ou canal de comunicação. Esse meio pode ser a fala direta – que ocorre na interação física entre emissor e receptor – ou utilizar algum suporte que possibilite a transmissão da mensagem. Textos impressos em jornais, livros ou revistas; canais de transmis- são de voz, como o rádio, telefone e aplicativos de mensagens; ou de transmissão de imagens, como a televisão, o cinema, a internet e os aplicativos de comunicação por vídeo são exemplos de canais de co- municação que podem ser utilizados na transmissão da mensagem. A Figura 2 mostra uma linha do tempo com as datas de desenvolvimento de alguns dos mais utilizados meios de comunicação: 1 ic on de si gn er /S hu tte rs to ck - 2 s um be ra rto /S hu tte rs to ck - 3 b io ra ve n/ Sh ut te rs to ck - 4 Z ai n St ud io /S hu tte rs to ck - 5 V la dv m /S hu tte rs to ck - 6 o ffi ce ku /S hu tte rs to ck - 7 B AR S gr ap hi cs /S hu tte rs to ck - 8 qu in ne ni /S hu tte rs to ck 1 2 4 5 6 3 Figura 2 Linha do tempo dos meios de comunicação 7 8 Imprensa de Gutenberg: 1436 Primeiro Telefone celular: 1973 Popularização da internet: década de 1990 Fundação do primeiro jornal: 1631 Primeiro Computador: 1951 Mídias sociais: década de 2000 Rádio: 1906 Televisão: 1927 Os emojis são símbolos, ideogramas ou pictogra- mas utilizados princi- palmente redes sociais para transmitir uma ideia,palavra ou frase. Apesar de terem se popularizado na internet, os emojis se tornaram cada vez mais populares e passaram a ser utilizados também em outros meios de comuni- cação. Na animação Emoji: O Filme, os símbolos ganham vida e mostram a relação entre sua perso- nalidade e os significados que representam. Direção: Tony Leondis. Estados Unidos: Sony Pictures Animation/ Columbia Pictures, 2017. Filme Importância da escuta ativa na comunicação 13 Fonte: Elaborada pelo autor. Para que a mensagem seja entendida, o receptor precisa enten- der o código utilizado e saber decodificar as informações contidas na mensagem. Um dos principais problemas observados no processo de comunicação é a falta de entendimento ou o entendimento incorreto da mensagem, causada pela decodificação incorreta, seja pela falta de conhecimento do código utilizado pelo emissor, seja por diferenças no uso do código. Segundo Treasure (2011), durante o processo de codificação e de- codificação da mensagem, diversos filtros podem prejudicar o entendi- mento do conteúdo, como mostra a Figura 3: Figura 3 Filtros da comunicação 1 B oy ko .P ic tu re s/ Sh ut te rs to ck - 2 A VI co n/ Sh ut te rs to ck - 3 B en ve nu to C el lin i/S hu tte rs to ck - 4 M D. D el wa r h os sa in /S hu tte rs to ck - 5 N ob el us /S hu tte rs to ck - 6 d av oo da /S hu tte rs to ck 1 4 2 5 3 6 Cultura Atitudes Idioma Expectativas Crenças Intenções Fonte: Elaborada pelo autor com base em Treasure, 2011. Cada indivíduo apresenta características culturais diferentes, o que tanto tem a ver com o país, região ou grupo social do qual faz parte e em que se desenvolveu, quanto se relaciona com seu nível de escolari- dade, interesses, hábitos culturais e sociais. Assim, uma mensagem que pode ser facilmente interpretada por um determinado indivíduo pode não ser totalmente compreendida por outro indivíduo que não faz parte da mesma cultura. Por exemplo, uma pessoa que tem como hábito cultural assistir partidas de futebol fre- quentemente pode, ao emitir uma mensagem, utilizar uma referência ao esporte. Se o emissor não compartilha o mesmo hábito, pode não entender a referência utilizada, o que leva a uma compreensão equivo- cada da mensagem. 14 Oratória e técnicas de apresentação O idioma é um dos principais filtros da comunicação. Eventuais problemas na decodificação de mensagens por questões de idioma, porém, não ocorrem apenas quando a língua do emissor não é com- preendida pelo receptor. Gírias, termos técnicos, regionalismos e neo- logismos usados pelo emissor também podem não ser totalmente entendidos pelo receptor. Nas empresas e instituições, é comum que cada organização ou de- partamento utilize termos, siglas, palavras criadas pelo próprio grupo de colaboradores. Uma pessoa que não faz parte do grupo ou da pro- fissão pode não compreender os termos usados. Nos grupos sociais, gírias e expressões específicas são usadas como forma de identificar os membros do grupo, ao mesmo tempo que ex- clui quem não entende os significados das palavras e, portanto, não faz parte do grupo. As crenças são outro importante filtro da comunicação, de acordo com Treasure (2011). Sejam religiosas, políticas, esportivas ou culturais, as crenças estão relacionadas aos valores do indivíduo, assim, ao ser impactado por uma mensagem que se choca com suas crenças, o indi- víduo pode se sentir atingido ou até ofendido, o que dificulta o processo de decodificação da mensagem. Essa característica pode ser observada nas discussões sobre política estabelecidas nas redes sociais, nas quais cada um dos lados defende suas crenças sem se permitir entender as ideias e argumentos de seus interlocutores. Os filtros da comunicação que Treasure (2011) chama de Atitudes, Expectativas e Intenções expressam o relacionamento estabelecido en- tre os interlocutores em um processo de comunicação. O indivíduo pode adotar uma atitude mais aberta e colaborativa du- rante a comunicação, a depender de suas expectativas a respeito do tema, dos objetivos do interlocutor e da relação entre os participantes. Suas intenções no processo de comunicação – por exemplo, convencer o interlocutor, discordar das ideias ou defender seus pontos de vista – também influenciam as atitudes e posturas que adota durante o pro- cesso de comunicação. Os filtros da comunicação podem ser relacionados com o conceito dos ruídos, um dos elementos do processo de comunicação do modelo O vídeo Julian Treasure: 5 maneiras de escutar melhor, do canal TED, traz uma instrutiva palestra proferida por Julian Treasure, especialista em comunicação, que apresenta os filtros da comunicação e mostra como esses filtros inter- ferem no entendimento da mensagem, é possível aprender a se comunicar melhor. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas para melhor compreensão. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=cSohjlYQI2A. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A Importância da escuta ativa na comunicação 15 desenvolvido por Kotler e Armstrong (2014). Os ruídos são todo e qual- quer tipo de interferência que pode atrapalhar o processo de comuni- cação, como um simples barulho que atrapalha a audição do receptor, ou um filtro que dificulta o entendimento da mensagem. No modelo Kotler e Armstrong (2014), o emissor espera, do recep- tor, algum tipo de resposta ou feedback, que pode ser a transmissão de uma nova mensagem, uma reação ou a tomada de uma ação es- pecífica. A partir dessa resposta se estabelece um diálogo, no qual o receptor assume o papel de emissor, transmitindo sua mensagem, em um processo contínuo de troca e comunhão. 1.2 Canais de comunicação Vídeo O processo de comunicação que ocorre entre um emissor e um ou mais receptores é estabelecido em um canal ou meio de comunicação. Cunha, Cruz e Bizelli (2018) explicam que os canais de comunicação po- dem ser qualquer tipo de meio que possibilite a transmissão de dados, informações ou conhecimentos entre pessoas, grupos, instituições ou culturas. Já Parry (2017) classifica os canais de comunicação em três diferentes grupos, que mostraremos na Figura 4: 1 B es t V ec to r E le m en ts /S hu tte rs to ck - 2 s ob ah us s ur ur / Sh ut te rs to ck - 3 s up an ut p iya ka no nt /S hu tte rs to ck 1 2 3 Visual: • Componentes visuais • Signos • Imagens • Desenhos • Gráficos Auditivo: • Som é predominante • Volume • Tonalidade • Vocabulário • Ruídos • Discursos • Conversas • Discussões. Sinestésico: • Comunicação não verbal • Sentimentos • Emoções Figura 4 Tipos de canais de comunicação Fonte: Elaborada pelo autor com base em Parry, 2017. 16 Oratória e técnicas de apresentação Nos canais de comunicação auditivos, a forma sonora é predomi- nante; a música, o rádio, o podcast e os audiolivros são exemplos de ca- nais de comunicação que usam o som como principal ferramenta para a transmissão de informação. Para Cunha, Cruz e Bizelli (2018), a fala é o mais básico dos meios de comunicação, sendo a comunicação verbal um dos pilares do desenvolvimento da civilização humana. Assim, os seres hu- manos conseguem perceber muitas nuances na fala de outros indivíduos. Além da própria informação transmitida, também são usados volu- me, tonalidade, vocabulário, velocidade e altura da voz para dar sen- tido e contexto ao processo de comunicação. Forma e conteúdo se completam na comunicação verbal. As interjeições características da fala de alguns estados brasileiros, como o uai do mineiro, o tchê do gaúcho ou a égua do paraense, são exemplos de que a forma como as palavras são faladas muda total- mente o sentido da comunicação. Os canais de comunicação visuais e sinestésicos, apontados no mo- delo de Parry (2017), estão relacionados à comunicação não verbal,que representa uma parte significativa dos processos de comunicação. Um canal de comunicação visual ocorre quando se usa, de for- ma predominante, os componentes visuais, tais como desenhos, fer- ramentas gráficas, imagens, cores, movimento, símbolos e signos. São exemplos de meios ou canais de comunicação visual as produ- ções artísticas como a pintura e a escultura, o cinema, o teatro, a televisão e a imprensa. Já os canais de comunicação sinestésicos, segundo explicam Cam- pos e Hildebrand (2022), estão ligados à comunicação interpessoal, ca- racterística das conversas, reuniões ou encontros físicos, e envolvem gestos, linguagem corporal, sinais físicos e emoções para expressar as informações que se deseja transmitir. Os tipos de canais de comunicação apontados por Parry (2017) não são excludentes, pois o nome de cada tipo representa a forma de co- municação predominante. Assim, canais visuais, como o cinema e a televisão, também utilizam elementos sonoros no processo de comuni- cação, assim como a comunicação não verbal inclui elementos visuais. Em um divertido vídeo, o comediante Paulo Araújo explica os diversos signi- ficados da interjeição uai, típica do sotaque mineiro. De acordo com o tom, o volume, a velocidade e a posição da interjeição na frase, o sentido pode mudar completamente. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=4Go36zKZ9l8. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 Importância da escuta ativa na comunicação 17 Segundo o autor, alguns desses canais são unidirecionais, em que os indivíduos desempenham um papel definido no processo de comunica- ção: o emissor transmite a informação, enquanto o receptor apenas a re- cebe. Palestra e filmes de cinema são exemplos de canais unidirecionais. Outros canais são bidirecionais, ou seja, possibilitam que os indiví- duos desempenhem tanto o papel de emissor quanto de receptor. Nes- se tipo de canal, a comunicação entre os indivíduos se configura como um diálogo, no qual as visões, crenças, ideias e pensamentos de cada indivíduo podem ser expressos durante o processo de comunicação. Como exemplo dos canais bidirecionais, podem ser citadas a con- versa pessoal, uma ligação telefônica ou as redes sociais baseadas na internet. Sobre o processo de comunicação estabelecido virtualmente nas redes sociais, Rodrigues Júnior e Véras (2019, p. 150) destacam: As interações sociais que ocorrem na Internet (em weblogs, fo- tologs, blogs, grupos de discussão, comunidades virtuais e redes sociais) buscam conectar pessoas e proporcionar a comunicação entre elas, permitindo a instauração da dialogicidade. A constru- ção do diálogo acontece em ambientes colaborativos em que os personagens demonstram interesse pelo discurso do outro, per- mitem a transparência e constroem novos conhecimentos. Ainda segundo os autores, alguns canais são unidirecionais, como a televisão e o rádio. Nesse tipo de canal as comunicações apresentam uma característica de monólogo: somente o emissor expressa suas ideias. Mesmo que existam formas de capturar ou coletar as percep- ções e ideias dos receptores da mensagem, essa interação não ocorre de forma imediata. A evolução dos meios de comunicação acompanhou tanto o desen- volvimento da sociedade quanto os avanços tecnológicos que criaram formas de comunicação, que não substituíram totalmente os meios já estabelecidos, mas possibilitaram novas formas de estabelecer proces- sos comunicativos. Cada novo canal de comunicação criado proporciona melhorias e a evolução da capacidade humana de comunicar suas ideias, crenças e conhecimentos. A Figura 5 mostra uma linha do tempo do desenvolvi- mento dos diversos meios de comunicação, destacando as principais características de cada canal: 18 Oratória e técnicas de apresentação GRÁFICA: Desenhos/ Pinturas/ Placas ORAL: Sermões/ Discursos/ Teatro ESCRITA: Manuscritos/ Cartas/ Cartazes IMPRESSA: Livros/ Jornais/ Revistas AUDITIVA: Rádio/ Telefone/ Gravação VISUAL: Cinema/TV/ Fotografia DIGITAL: Web/ Multimídia Figura 5 A evolução dos meios de comunicação Fonte: Elaborado pelo autor com base em Parry, 2017. Os canais de comunicação digital, como a internet, as redes sociais, os sites de streaming de áudio (tais como Spotify e Deezer) e de vídeo (como Youtube e Netflix), aplicativos de mensagens (WhatsApp e Tele- gram) e plataformas de reuniões online (Zoom, Teams, Skype e Google Meet) transformaram os processos de comunicação, tanto no contexto social quanto profissional e educacional. A quarentena causada pela COVID-19, a partir do ano de 2020, ace- lerou ainda mais o processo de adoção desses canais de comunicação, exigindo das pessoas uma profunda adaptação dos seus processos de co- municação. Nas empresas, reuniões e apresentações, antes presenciais, precisaram ser realizadas on-line, com uma dinâmica de organização to- talmente diferente do modelo conhecido e praticado pelos profissionais. Na educação, professores precisaram reformular totalmente suas metodologias de ensino e a forma de organização de suas aulas. Pas- qualeto, Domingos e Rios (2021, p. 3) descrevem, a partir de sua pró- pria experiência como docentes, o complexo processo de adaptação ao modelo de educação on-line durante a pandemia: Fomos forçados a viver um novo momento na educação. Da noite para o dia, professores, sem o preparo técnico ou emocional ne- cessário, foram obrigados a ministrar aulas por plataformas di- gitais. Sem nenhum precedente, a pandemia mudou a forma da comunicação e de relacionamento, na educação não foi diferente. Importância da escuta ativa na comunicação 19 Como destacam os autores, a necessidade de adaptação das me- todologias, dinâmicas e processos avaliativos representou um grande desafio para os professores. Como professor, minha primeira experiência com a Educação à Distância foi no ano de 2007, quando desenvolvi meu primeiro con- teúdo para uma disciplina de graduação EAD. Naquele momento, ao assistir aos vídeos de minhas aulas, percebi que as técnicas de apre- sentação e de oratória que utilizava nas salas de aula não eram ade- quadas ao modelo da Educação à Distância. A partir dessa experiência senti a necessidade de buscar desenvolver competências relacionadas à oratória, à comunicação não verbal durante as apresentações, ao de- senvolvimento de materiais visuais, a melhorar aspectos relacionados à voz, como dicção, tonalidade, volume e velocidade. Essas compe- tências foram fundamentais para a minha carreira como professor e, durante a quarentena da pandemia da COVID-19, foram fundamentais para manter a qualidade de minhas aulas. Exemplo Como aprendizados proporcionados pela pandemia, Pasqualeto, Domingos e Rios (2021) afirmam que o momento mostrou a impor- tância do desenvolvimento contínuo dos docentes, da adoção de uma postura aberta à mudança e ao aprendizado e da comunicação entre professores e alunos para o processo de ensino-aprendizagem. 1.3 Ouvir e escutar Vídeo Apesar de frequentemente serem usadas como palavras sinônimas, ouvir e escutar apresentam significados diferentes, especialmente no contexto da comunicação. Ouvir é um processo fisiológico e mecânico, relacionado à captação, pelas estruturas do ouvido humano, das ondas sonoras de qualquer natureza, como um barulho, uma música ou uma conversa. Segundo Menezes (2008), o sentido da audição se desenvolve ainda durante a gestação, entre o quarto e o quinto mês, período em que o feto já per- cebe sons e reage a estímulos sonoros. Para o autor, após o nascimento, é a partir da audição que o bebê es- tabelece os primeiros vínculos com o mundo. A visão ainda não está total- mente desenvolvida, mas o bebê percebe características da voz humana – como timbre, altura, volume e tonalidade – bem como ruídos externos. 20 Oratória e técnicas de apresentação Durante o seu desenvolvimento, acriança identifica sons que reme- tem a situações que se repetem em seu cotidiano, como a voz dos pais, os ruídos da casa e os sons específicos de sua rotina, como o barulho da água do banho e a música de ninar. Assim, o som o ajuda a se situar no tempo e no espaço. Treasure (2011) destaca que essa relação do tempo com a sonoridade nos acompanha durante toda a vida. Sons relaxantes, como as ondas do mar, apresentam ciclos de repetição que se aproximam dos ciclos fisioló- gicos, como o da respiração e dos batimentos cardíacos. Esse tipo de som possibilita que o indivíduo entre em sintonia com o ambiente que o cerca, o que proporciona uma sensação de paz e tranquilidade. Ainda segundo o autor, o som também influencia a motivação, o estado de espírito e as emoções das pessoas. A música tem um grande poder de mudar a forma como as pessoas se sentem em um determi- nado momento. As músicas aceleradas e intensas ouvidas nas acade- mias de ginástica ou em eventos esportivos aumentam a excitação e o desejo de se movimentar. As músicas alegres e motivadoras tocadas durante o Carnaval convidam à festa e à dança. Já a música clássica, para Treasure (2011), leva a um momento de calma e reflexão. As baladas românticas colocam as emoções à flor da pele. Os gritos de guerra e hinos cantados nos estádios esportivos e eventos populares criam um sentimento de pertencimento e orgulho, que leva muitos às lágrimas. Por outro lado, sons estridentes, em alto volume, que surgem de forma abrupta, como os barulhos de uma obra, um equipamento ou máquina, o escapamento de um carro ou uma buzina – característicos da vida nas cidades – causam instabilidade, insegurança e desconforto. Treasure (2011) dá o nome de esquizofonia a essa cacofonia que nos cerca cotidianamente, que gera estresse e diminui a capacidade de concentração e de comunicação. Já Sapucaia (2021, p. 72) conceitua a esquizofonia como a construção de uma paisagem sonora, em cons- tante transição e mudança: a esquizofonia pode ser desassociada desse perfil de loucura e pensada enquanto máquina produtora de sentido [...] assu- mimos o som em suas variantes, não apenas como um objeto sonoro isolado, mas também em meio a essas múltiplas possi- bilidades que existem no caos, no dia a dia de cada ser ouvinte. Importância da escuta ativa na comunicação 21 No mundo contemporâneo é cada vez mais comum que, para fugir do caos sonoro, muitas pessoas utilizem fones de ouvido para ouvi- rem suas músicas, podcasts e audiolivros. Essa característica é pos- sível de ser identificada ao se observar as pessoas nos transportes públicos ou mesmo nas ruas. Para Treasure (2011) essa é uma realidade preocupante, pois cada pessoa passa a viver em sua pequena bolha sonora, alheia aos sons externos e fechadas ao diálogo, à comunicação ou à conversa. Para o autor, estamos perdendo nossa capacidade de ouvir e, principalmen- te, de escutar. O especialista americano, em seu livro Sound Business, lançado em 2011, chega a essa conclusão ao analisar os impactos das tecnologias da comunicação, especialmente os celulares, sobre o com- portamento das pessoas. Porém, um dos mais destacados intelectuais brasileiros, Rubem Al- ves (1999, p. 65), chegou à conclusão semelhante duas décadas antes, em um belíssimo poema intitulado Escutatória. Com sua forma simples e direta de filosofar, Rubem Alves já inicia seu texto com a constatação da pouca relevância que a capacidade de ouvir, e principalmente de escutar, tem em nossa sociedade: Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. As conclusões a que chegam Rubem Alves (de que ninguém quer aprender a ouvir, e de que escutar é complicado e sutil) e Julian Treasu- re (de que estamos perdendo a nossa capacidade de escutar) mostram a profunda diferença entre o conceito de ouvir e de escutar. Enquanto ouvir é um processo fisiológico, que ocorre de forma auto- mática, mas que afeta os indivíduos tanto física quanto psicologicamen- te, escutar é um processo cognitivo, que exige esforço e concentração. Como aponta Marcondes Filho (2011), a escuta, no processo de co- municação, depende da capacidade de o indivíduo se abrir para rece- ber, entender, aceitar ou refutar as ideias, opiniões, crenças e valores do outro, respeitando a alteridade que existe entre os indivíduos. 22 Oratória e técnicas de apresentação Já Braga (2012) considera que ao se abrir para escutar o outro, o indi- víduo passa por um processo de mudança, pois aceita o diferente, aco- lhe o novo e conhece outras formas de enxergar o mundo. Para o autor, a verdadeira comunicação está na escuta, pois a mensagem transmitida pelo emissor só atinge seu objetivo de comunicar algo se o receptor não apenas ouve, mas escuta e compreende aquilo que foi comunicado. A escuta, no processo de comunicação, não se resume apenas à captação dos sinais sonoros pelo aparelho auditivo e pela decodifica- ção das informações. A escuta exige um trabalho de interpretação dos sentidos e nuances da comunicação e envolve tanto o que está sendo dito quanto os aspectos relacionados ao tom, velocidade, altura e volu- me da voz, além da comunicação não verbal do emissor. Para Braga (2012, p. 31), o processo de escutar não pode ser com- parado como uma chave ou interruptor que o receptor pode ligar ou desligar, alternando imediatamente entre um estado de escuta ativa ou outro de simples audição. Como destaca o autor: Podemos estar dispostos a nos modificar em presença da alte- ridade – mas nem sempre conseguimos efetivamente sintonizar de modo fino as proposições. Entendemos e não entendemos. Acolhemos e resistimos. Se observarmos ao redor, em sim- ples consulta às práticas sociais, é inevitável constatar que há graus de escuta, variações complexas na disponibilidade e no acolhimento. Pereira (2012) complementa a afirmação de Braga sobre a alternância entre posturas de acolhimento e resistência durante a comunicação e des- taca que a escuta possibilita o entendimento e a construção de sentidos e interpretações sobre as relações que o indivíduo estabelece com o outro, com diferentes culturas e formas diversas de se enxergar o mundo. 1.4 Importância da escuta ativa Vídeo Escutar é um processo complexo, que envolve aspectos fisiológicos relacionados à audição, aspectos ambientais como o local e o contex- to no qual a comunicação ocorre e aspectos relacionados ao próprio processo de comunicação, como o meio ou canal na qual ocorre e a capacidade de o receptor compreender e decodificar as linguagens e sinais utilizados pelo emissor. Importância da escuta ativa na comunicação 23 Envolve também, como apontam Braga (2012) e Marcondes Filho (2011), a predisposição e a abertura do receptor ao processo comuni- cativo. Ou seja, mais do que apenas ouvir a comunicação, o receptor concentra sua atenção naquilo que está sendo comunicado e empreen- de esforços cognitivos para receber, decodificar, entender e acolher a mensagem comunicada. Nesse contexto, surge o conceito de escuta ativa, que, segundo Gi- menez e Taborda (2018, p. 209), é um processo por meio do qual se deixa a outra pessoa saber que você está prestando atenção, busca estimular as pessoas a ouvirem umas às outras, provocando a expressão das emoções. Oportuniza o entendimento e a amenização dos conflitos, pois considera de ex- trema relevância a linguagem e corporal e falada. Aqui pode-se falar em reciprocidade, uma vez que existem pessoas que estão de fato comprometidas no processo de ouvir, existe atenção, o que leva os indivíduos a estarem conectados e comprometidos. O ato de escutar de forma ativa pressupõe que o receptor da men- sagem busca diminuir os possíveis entraves e obstáculos que possam surgir durante o processo de comunicação. Durante a escuta ativa,o receptor deve procurar entender e aceitar as diferenças culturais e de crenças em relação aos demais participantes do processo de comuni- cação, bem como identificar se suas atitudes, expectativas e intenções estão impedindo ou dificultando o entendimento da mensagem. Gimenez e Taborda (2018) destacam que na escuta ativa o receptor não busca entender apenas a mensagem transmitida, mas também as emoções e sentimentos implícitos e o contexto geral que originou a comunicação e no qual ela ocorre. Assim, o processo de escuta ativa vai além do simples escutar; envolve também a postura e a atitude do receptor, que deve buscar encorajar seu interlocutor, deixando-o à vontade e incentivando a comunicação. A escuta ativa pode ser usada em diversos contextos nos quais ocor- rem processos de comunicação que envolvem a interlocução e o diálogo entre os participantes, como no contexto social, profissional e educacional. Arruda e Vidal (2020, p. 38) destacam a importância da escuta ativa na resolução de conflitos, tanto os que ocorrem nas esferas sociais ou profissionais, quanto aqueles que se transformam em litígios e ações jurídicas. Na mediação de conflitos, segundo os autores, a escuta ativa 24 Oratória e técnicas de apresentação é uma das mais importantes ferramentas na busca do consenso entre as partes em litígio: Pela escuta empática e pela escuta ativa, por exemplo, podem ser buscados os componentes de uma relação de apoio e re- forço a um método de resolução pacífica de conflitos em casos mais difíceis de rupturas e má comunicação, em uma “cultura de guerra”, que permeia tanto nossa linguagem quanto os relacio- namentos – e assim promover a sua regeneração. No ambiente profissional, seja nas relações que se estabelecem entre os diversos colaboradores que compõem uma empresa, seja na relação desta com outras organizações, instituições e indivíduos exter- nos, a comunicação apresenta um papel fundamental. É por meio de uma comunicação de qualidade que a empresa desenvolve suas ativi- dades de forma eficiente e eficaz, entendendo as demandas, desejos e opiniões de seus colaboradores, clientes e consumidores. Porém, devido à própria forma de organização das empresas, em geral baseadas em uma estrutura piramidal e hierárquica, na qual as decisões são tomadas pelos gestores posicionados nos mais altos es- calões da estrutura, a comunicação costuma ser descendente e orien- tativa. As decisões tomadas são meramente informadas aos escalões inferiores, no formato de ordens, orientações ou determinações a se- rem seguidas, sem levar em consideração as opiniões, conhecimentos, informações e visões dos colaboradores. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) identificam esse tipo de comu- nicação centralizada e dominada pela empresa também na comunica- ção de marketing tradicional, na qual as organizações comunicavam ao mercado informações sobre seus produtos e serviços sem levar em consideração a voz do consumidor. Porém, no mundo contemporâneo, as inovações e o desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação transformaram profun- damente os processos de comunicação no ambiente organizacional e de negócios. Para Sólio (2010), as organizações que otimizam seus processos de escuta aumentam sua capacidade de atingir seus objetivos. A comunicação que ocorre dentro da empresa, entre os colabora- dores de diversos níveis hierárquicos e das diferentes áreas da empre- sa, precisa levar em consideração não apenas os aspectos objetivos e técnicos a serem transmitidos, mas também questões subjetivas como Importância da escuta ativa na comunicação 25 relacionamento, motivação, respeito às diferenças e gerenciamento de situações de conflito. Além do fluxo de comunicação descendente, precisam ser desen- volvidos canais de comunicação ascendentes e transversais que pos- sibilitem que os conhecimentos e opiniões dos colaboradores sejam compartilhados tanto com os superiores hierárquicos quanto com as demais áreas da empresa. Os colaboradores que atuam na linha de frente da empresa, em contato direto com clientes, fornecedores e o mercado, precisam ter a competência de exercer a escuta ativa em cada oportunidade de inte- ração que ocorra no cotidiano de suas atividades. Da mesma forma, gestores precisam estar preparados para exercer a escuta ativa nas suas relações com a equipe, para capturar e orga- nizar informações relevantes que possam ser transmitidas aos níveis hierárquicos superiores, para direcionar as estratégias da empresa em relação ao mercado. Para Sólio (2010) a competência da escuta ativa não pode ser sim- plesmente implantada, como um programa ou um evento específico. As competências e capacidades relacionadas à escuta ativa devem fa- zer parte da cultura empresarial e precisam existir canais e processos claros e bem definidos que possibilitem que a comunicação ocorra em todos os sentidos da estrutura. Já acerca da relação da empresa com o mercado, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) apontam que o desenvolvimento de tecnologias de comunicação, em especial a internet e as redes sociais, transformaram totalmente a comunicação da empresa com o cliente. A comunicação de marketing, antes um monólogo no qual apenas a voz da empresa era ouvida, passou a ser um diálogo, no qual o cliente tem espaço para expor suas opiniões, crenças, desejos e demandas. A empresa precisa usar a escuta ativa em relação às redes sociais e ao ambiente virtual para tanto identificar oportunidades, como quando os clientes elogiam seus produtos ou sugerem melhorias, quanto para lidar com os problemas, críticas e avaliações negativas divulgadas pelos clientes nos canais digitais de comunicação. Outro contexto no qual a escuta ativa se apresenta como uma ferra- menta fundamental na melhoria dos processos de comunicação é a edu- O conceito da pedagogia da escuta na educação foi desenvolvido a partir da experiência implantada pelo professor Loris Mala- guzzi na escola infantil da cidade de Reggio Emilia, na Itália, considerada um referencial em termos de qualidade da educação. O livro de Carla Rinaldi e traduzido por Vania Cury, Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender, relata as ex- periências desenvolvidas na cidade e relata como o conceito da pedagogia da escuta se tornou fun- damental para entender e enfrentar os desafios da educação no mundo contemporâneo. RINALDI, C. São Paulo: Paz & Terra, 2012. Livro 26 Oratória e técnicas de apresentação cação. Segundo Pimenta (2018) os professores, além dos conhecimentos específicos de sua área de atuação, precisam desenvolver competências relacionadas à comunicação, tanto aquelas ligadas à oratória, quanto as de escuta ativa. É por meio da escuta ativa que o professor pode enten- der a diversidade de experiências, vivências, capacidades e potencialida- des de seus alunos, seja na pedagogia (o ensino direcionado à formação das crianças) seja na andragogia (a educação de adultos). No contexto da pedagogia, Wilmsen, Ramos e Maciel (2021) desta- cam que cada criança entende, percebe e interpreta as informações e mensagens emitidas pelo professor no processo de educação de forma própria e individual. Para os autores (2021, p. 302), as crianças são “pro- tagonistas dos processos de conhecer”, de modo que os verbos mais presentes na prática pedagógica – falar, explicar ou transmitir – passam a ser substituídos por escutar. Os autores denominam esse novo olhar para o trabalho da educação de pedagogia da escuta. A pedagogia da escuta é uma abordagem fundamentada na ideia de que o processo da educação não se configura como uma transmissão de conhecimentos, e sim como uma construção de sentidos a partir do diálogo mediado pelo professor. Para Machado e Barbosa (2018), por exemplo, seria com base na relação com o aluno, na escuta e no diálogo que os professores colaborariam para que as crianças construíssem seu saber. Para isso, segundo os autores, a formação docentepara atuar na Educação Infantil deveria preparar melhor o profissional para utilizar a escuta ativa como ferramenta pedagógica nesta etapa do ensino. Porém, como destacam os autores, a formação de professores que atuam na educação infantil nem sempre prepara o profissional para utilizar a escuta ativa como ferramenta pedagógica. Já na andragogia, o uso da escuta ativa se torna ainda mais fundamen- tal no processo de ensino-aprendizagem. Como explica Carvalho (2017), o ensino de adultos não é baseado apenas na transmissão do conheci- mento e do saber do professor. No decorrer de sua vida, o aluno já acu- mulou experiências, informações, vivências e conhecimentos que podem ser compartilhados tanto com o professor quanto com os demais alunos. A aprendizagem, no contexto da andragogia, não é baseada na transmissão, memorização e assimilação de conteúdos, mas na cons- trução de saberes complexos que possibilitem o entendimento do con- texto no qual o adulto está inserido. Importância da escuta ativa na comunicação 27 Assim, mais do que proporcionar uma melhoria no processo de en- sino-aprendizagem, a escuta ativa é um dos pilares da educação de adultos, pois possibilita entender e compartilhar os conhecimentos de cada aluno e, a partir deles, construir novos conhecimentos na turma. Nesse sentido, o professor passa a ter um papel de tutor dos processos de comunicação que se estabelecem no ambiente de ensino, seja ele físico ou virtual. 1.5 Como desenvolver a escuta ativa Vídeo No processo de comunicação, saber escutar é uma competência tão importante quanto saber falar bem. Mas, como destaca Rubem Alves (1999), existem diversos cursos sobre oratória, sobre como falar em público, sobre como fazer apresentações ou sobre como usar a retóri- ca, mas quase nenhum material sobre como desenvolver a competên- cia de escutar. Sapucaia (2021) afirma que as pessoas estão frequentemente envol- vidas em uma paisagem sonora, composta por sons, ruídos, conversas, músicas e barulhos que não podem deixar de ouvir, pois o aparelho auditivo humano capta esses sinais de forma indistinta. Como explica Meneghello (2017), mesmo que o aparelho auditivo do ser humano registre qualquer som do meio ambiente no qual está inserido, os sons que fazem parte da paisagem sonora e que não apre- sentam nenhum significado específico são descartados pelo cérebro. De acordo com Treasure (2011), o cérebro desenvolveu uma série de mecanismos para definir os sons que são relevantes e que devem ser escutados, como mostra a Figura 6: 1 S to ck Ap pe al /S hu tte rs to ck - 2 s M ar tia l R ed / Sh ut te rs to ck - 3 8 ic on s/ Sh ut te rs to ck Figura 6 Mecanismos de seleção de sons Fonte: Elaborada pelo autor com base em Treasure, 2011. Reconhecimento de padrões 1 Diferenciação 2 Filtros 3 28 Oratória e técnicas de apresentação Ao se tomar consciência de como ocorre o processo de seleção do que está sendo ouvido e sobre as diferenças entre ouvir e escutar, é possível desenvolver formas de melhorar a competência da escuta. O mecanismo de reconhecimento de padrões permite ao cérebro identificar sons específicos, mesmo que estejam envolvidos por outros barulhos ou ruídos. Por exemplo, mesmo em um ambiente barulhen- to, como uma festa ou um evento, se o nome da pessoa for citado, o cérebro identifica esse padrão e direciona a atenção para identificar de onde veio a mensagem. Esse mecanismo também possibilita que se identifique a voz de pes- soas conhecidas ou uma música com apenas algumas notas musicais. O reconhecimento de padrões possibilita que o cérebro, mesmo que esteja recebendo outros sinais sonoros, possa se manter em alerta para identificar sons relevantes. O mecanismo de diferenciação atua de forma conjunta com o me- canismo de reconhecimento de padrões. Sons repetitivos ou monóto- nos são identificados pelo cérebro e, apesar de continuarem ativando o aparelho auditivo, são desligados pelo cérebro. Vamos fazer uma pequena experiência para demonstrar como funcio- na esse processo. Pare de fazer qualquer movimento que gere algum som ou ruído. Feche seus olhos e comece a identificar os diversos sons triviais que podem ser ouvidos neste momento. Talvez o seu computador tenha um leve som de interferências elétricas; o motor do ar-condicionado, do ventilador ou da geladeira pode estar fazendo um barulho repetitivo e monótono. Você consegue ouvir pessoas falando, carros passando, o som de algum animal? Se prestar bem atenção, pode até mesmo ouvir alguns sons de seu corpo, como sua respira- ção. Quantos desses sons você estava realmente ouvindo antes de começarmos esse exercício? Quantos você só percebeu depois que começou a prestar atenção? Na prática Esse pequeno exercício mostra como o cérebro lida com a grande quantidade de sons triviais que cercam os indivíduos e que poderiam tirar completamente sua atenção e concentração. O terceiro mecanismo de seleção de sons, apontado por Treasure (2011) são os filtros da comunicação, já discutidos na primeira parte deste capítulo. A mensagem transmitida pelo emissor, ao passar pelos filtros do receptor, pode ser compreendida de forma completamente diferente. Importância da escuta ativa na comunicação 29 Um exemplo disso pode ocorrer durante uma conversa, quando uma pessoa fala uma palavra que o interlocutor não conhece, fazendo com que ele leve alguns instantes para processar e tentar entender o sentido dessa palavra dentro do contexto da conversa. Durante esse momento, o cére- bro do interlocutor para de prestar atenção ao que está sendo dito, o que leva a perda da linha de raciocínio e de compreensão da fala. Esse tipo de problema na comunicação é muito comum quando os interlocutores do processo de comunicação apresentam diferenças culturais, de linguagem e de conhecimento específico sobre o tema. Uma forma de entender como os filtros da comunicação influenciam os processos de comunicação é buscar, durante uma conversa, mudar sua atitude em relação a um determinado filtro. Por exemplo, se você começa a conversa com uma atitude de desconfiança em relação ao interlocutor, tente adotar uma nova postura de confiança. Se sua expectativa inicial é de que a conversa será difícil ou conflituosa, tente mudar sua expectativa para uma postura de acolhimento e empatia. Se o interlocutor fala algo que se choca com suas crenças e sua primeira reação é discutir, busque adotar uma postura de respeito à alteridade e às diferenças. Na prática Outro exercício para melhorar a capacidade de escuta é buscar o silêncio. O mundo contemporâneo é ruidoso e cheio de sons que inva- dem cada momento da vida do indivíduo. Pereira (2020) destaca a im- portância de resgatar os espaços e momentos de silêncio no cotidiano, como forma de reequilibrar a capacidade de audição. Busque um ambiente silencioso ou, se possível, totalmente isolado de sons externos. Desligue seus aparelhos eletrônicos e durante alguns minutos busque se manter em silêncio. O objetivo não é meditar ou evitar pensar em algo, mas sim experimentar o silêncio. Provavelmente seu cérebro continuará ouvindo sons do ambiente, e se não for possível encontrar o silêncio absoluto, tente ao máximo se desligar dos sons externos. Crie o hábito de realizar esse exercício pelo menos uma vez por dia. Na prática Além de ajudar a recalibrar o aparelho auditivo, o exercício possi- bilita perceber a importância do silêncio no processo de comunicação. Durante uma conversa é fundamental manter o silêncio quando o inter- locutor está falando. É comum, em processos de comunicação, que os 30 Oratória e técnicas de apresentação interlocutores invadam o espaço de fala do outro, sem deixar que este conclua seu raciocínio. Pessoas mais tímidas, ao participarem de pro- cessos de comunicação com pessoas que as interrompem frequente- mente, tendem a se calar e evitar emitir suas opiniões e considerações. Manter o silêncio também possibilita descobriros interesses, as- suntos prediletos, pontos de vista e opiniões do interlocutor. O uso de perguntas direcionadas possibilita o exercício da escuta ativa. Ao per- ceber o interesse e respeito do espaço de fala, o interlocutor se sente motivado a transmitir ainda mais informações. O mundo contemporâneo é ruidoso e os indivíduos estão cons- tantemente cercados por uma paisagem sonora, que o ouvido capta de forma indistinta, como uma grande massa de ruídos e barulhos. Para Cardoso (2014, p. 72) “Os sons constroem o mundo para o ho- mem. Por que não dizer, auxiliam a criar o próprio homem. Os fluxos de ruídos passam pelo ‘ser’ e deixam nele o conhecimento, a expe- riência, o sentido.” Se é impossível fugir desta massa sonora, Treasure (2011) acredita que se deve entender cada um desses sons e ruídos que fazem parte da paisagem sonora. Uma forma de exercitar essa capacidade é tentar identificar, no ambiente em que se está, os ruídos, sons, barulhos, mú- sicas e vozes ouvidos. Em um ambiente ruidoso, com muitas pessoas e diferentes sons, tais como um restaurante, bar ou mesmo em uma rua movimentada, tente identificar cada um dos sons que compõem a massa sonora. Preste atenção nas vozes ouvidas, depois tente isolar cada uma delas e com- preender o que está sendo dito. Identifique outros sons, como talheres tocando os pratos, cadeiras sendo arrastadas ou a música ambiente, caso esteja em um restaurante. A cada som identificado, tente ouvi-lo de forma isolada, e perceba quais detalhes desse som você não havia percebido antes. Em seguida, volte a ouvir a massa sonora de forma indistinta e identifique outro som, repetindo o processo. Na prática Esse exercício que acabamos de ver ajuda a desenvolver, durante o processo de comunicação, a capacidade de identificar as diversas in- formações transmitidas pelo interlocutor. Além de prestar atenção ao que está sendo falado, a escuta ativa também envolve a identificação de mensagens transmitidas por aspectos da fala e da voz, e principal- mente, pela comunicação não verbal. Importância da escuta ativa na comunicação 31 Outro exercício para melhorar a capacidade de ouvir e escutar é identificar novos significados nos diversos sons que fazem parte do co- tidiano. Alguns deles disparam gatilhos mentais e emocionais, como uma música que remete a um momento importante da vida poder res- gatar memórias e gerar emoções. Já outros passam desapercebidos. Porém, mesmo os sons banais do cotidiano podem ser importantes e gerar sensações ou estados de espírito específicos. O som da água fervendo para fazer o café da manhã, ou o som do televisor ligado, mesmo que não se esteja assistindo a um programa, são exemplos de sons banais que embutem significados e sensações reconfortantes ou, por outro lado, desconfortáveis. No processo de escuta, exercitar a capacidade de buscar novas for- mas de ouvir os sons cotidianos ajuda a desenvolver a capacidade de identificar significados e sentidos ocultos na mensagem transmitida pelo emissor, como a escolha das palavras, a entonação do discurso ou mesmo o contexto e momento escolhidos para a comunicação. Os exercícios propostos são apenas alguns exemplos de como se desenvolver a capacidade de escuta e exercitar a escuta ativa, atitudes fundamentais para que se possa melhorar a capacidade de comunica- ção. Porém, a competência da escuta, assim como qualquer tipo de ca- pacidade que se deseja desenvolver, depende de esforço e constância de propósito. A melhor forma de desenvolver a capacidade de escutar é praticando a escuta em qualquer oportunidade que surja. O músico Aaron Attaboy McAvoy percebeu que sua máquina de lavar roupas produzia um som ritmado ao realizar o processo de lavagem. Usando o som como base rítmica, o músico grava diversas músicas, acompanhando a máquina com sua gui- tarra. Em um dos vídeos mais populares de seu canal, The Devil Went Down To Georgia White Trash Washing Machine Cover, conta com mais de 11 milhões de visualizações. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=u1hnBv12- uk. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS No mundo contemporâneo, os indivíduos estão constantemente cer- cados por uma cacofonia ruidosa. Para conviver neste mundo ruidoso, as pessoas se isolam em bolhas sonoras com seus fones de ouvidos e smar- tphones. As tecnologias da informação e da comunicação, se por um lado facilitaram a comunicação entre pessoas, empresas, organizações, socie- dades e culturas, por outro lado tornaram a comunicação fragmentada. Neste contexto, desenvolver a capacidade de escutar de forma ativa e empática se torna uma competência fundamental para a convivência nos mais diversos ambientes, como o social, profissional e educacional. https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk 32 Oratória e técnicas de apresentação ATIVIDADES Atividade 1 Explique os elementos que fazem parte do processo de comunicação. Atividade 2 Cite, explique e dê exemplos dos tipos de canais de comunicação. Atividade 3 Qual é a diferença entre canais de comunicação unidirecionais e bidirecionais? REFERÊNCIAS ALVES, R. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 1999. ARRUDA, D. P.; VIDAL, R. F. Lugar de escuta: uma proposta metodológica para a mediação de conflito. Revista Ciências Jurídicas e Sociais, v. 10, n. 1, p. 35-46, 2020. Disponível em: http://revistas.ung.br/index.php/cienciasjuridicasesociais/article/view/4355/3126. Acesso em: 25 ago. 2022. BRAGA, J. L. Interação como contexto da comunicação. Matrizes, v. 6, n. 1, p. 25-41, dez. 2012. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1430/143024819003.pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. CAMPOS, A. M. A.; HILDEBRAND, H. R. O imaginário nos jogos digitais para o ensino de matemática e a teoria do flow. In: LEMES, D. O.; OLIVEIRA, F. M.; ESCOBAR, F.; CESTARI, G.; BITTENCOURT, L. H. (org.) Imaginação no jogo: criar, desenvolver e compartilhar. São Paulo: Editora da PUC-SP, 2022. p. 134-148. Disponível em: https://www.pucsp.br/educ/ downloads/Imaginacao_no_jogo.pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. CARDOSO, M. Os sons das megalópoles e a loucura do homem contemporâneo: indícios para a cura pelo silêncio. Revista Alterjor, v. 1, p. 68-83, 2014. Disponível em: https://docplayer.com.br/60938342-Os-sons-das-megalopoles-e-a-loucura-do-homem- contemporaneo-indicios-para-a-cura-pelo-silencio.html. Acesso em: 21 jul. 2022. CARVALHO, J. R. Andragogia: saberes docentes na educação de adultos. Revista Diálogos Acadêmicos, v. 5, n. 2, dez. 2017. Disponível em: http://revista.fametro.com.br/index.php/ RDA/article/view/121/128. Acesso em: 25 ago. 2022. http://revistas.ung.br/index.php/cienciasjuridicasesociais/article/view/4355/3126 https://www.redalyc.org/pdf/1430/143024819003.pdf https://www.pucsp.br/educ/downloads/Imaginacao_no_jogo.pdf https://www.pucsp.br/educ/downloads/Imaginacao_no_jogo.pdf https://docplayer.com.br/60938342-Os-sons-das-megalopoles-e-a-loucura-do-homem-contemporaneo-indicios-para-a-cura-pelo-silencio.html https://docplayer.com.br/60938342-Os-sons-das-megalopoles-e-a-loucura-do-homem-contemporaneo-indicios-para-a-cura-pelo-silencio.html http://revista.fametro.com.br/index.php/RDA/article/view/121/128 http://revista.fametro.com.br/index.php/RDA/article/view/121/128 Importância da escuta ativa na comunicação 33 CUNHA, A. K.; CRUZ, J. A. S.; BIZELLI, J. L. Os meios de comunicação como extensão do homem e a construção coletiva do conhecimento. In: 6º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LINGUAGENS EDUCATIVAS (SILE). Anais [...] Bauru: UNISAGRADO, maio 2018. Disponível em: https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/sile_2018/atualizado/CO/ OS_MEIOS_DE_COMUNICACAO_COMO_EXTENSAO_DO_HOMEM_E_A_CONSTRUCAO_ COLETIVA_DO_CONHECIMENTO_copia.pdf. Acesso em: 21 jul. 2022. GIMENEZ, C. P. C.; TABORDA, A. B. S. A escuta ativa e a alteridade como pressupostos para a liberação do perdão pela mediação. Em Tempo – Revistada área de Direito da UNIVEM, v. 16, n. 1, p. 206-222, fev. 2018. Disponível em: https://revista.univem.edu.br/emtempo/ article/view/2418. Acesso em: 25 ago. 2022. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 15. ed. São Paulo: Pearson Universidades, 2014. KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I. Marketing 4.0: do tradicional ao digital. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2017. MACHADO, N. S.; BARBOSA, M. C. S. Redimensionando a formação de professores e o fazer docente a partir da pedagogia da escuta. Poiésis-Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação, v. 12, n. 21, p. 135-153, jun. 2018. Disponível em: https://portaldeperiodicos. animaeducacao.com.br/index.php/Poiesis/article/view/5927/3939. Acesso em: 21 jul. 2022. MARCONDES FILHO, C. Duas doenças infantis da comunicação: a insuficiência ontológica e a submissão à política. Uma discussão com José Luiz Braga. Matrizes, v. 5, n. 1, p. 169-178, dez. 2011. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38314/41160. Acesso em: 25 ago. 2022. MENEGHELLO, C. Das ruas para os museus: a paisagem sonora como memória, registro e criação. MÉTIS: história & cultura, v. 16, n. 32, p. 22-42, dez. 2017. Disponível em: http:// www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/5674. Acesso em: 21 jul. 2022. MENEZES, J. E. O. Cultura do ouvir: os vínculos sonoros na contemporaneidade. Líbero, n. 21, p. 111-118, 2008. Disponível em: https://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/ article/view/610. Acesso em: 25 ago. 2022. NÖTH, W. Comunicação: os paradigmas da simetria, antissimetria e assimetria. Matrizes, v. 5, n. 1, p. 85-107, dez. 2011. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1430/143022280005. pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. PARRY, R. A ascensão da mídia: a história dos meios de comunicação de Gilgamesh ao Google. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2017. PASQUALETO, O. Q. F.; DOMINGOS, S. O.; RIOS, V. C. De repente, aulas online: um relato de experiência docente no Ensino Superior em Direito durante a pandemia. Olhar de Professor, v. 24, p. 1-8, 2021. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/ article/view/16043/209209214318. Acesso em: 21 jul. 2022. PEREIRA, S. L. Sobre a possibilidade de escutar o outro: voz, world music, interculturalidade. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – E-compós, v. 15, n. 2, ago. 2012. Disponível em: https://e-compos.org.br/e- compos/article/view/791/589. Acesso em: 21 jul. 2022. PEREIRA, V. A. Sonlêncio: modulações da experiência de silêncio na cultura aural contemporânea. Revista ECO-Pós, v. 23, n. 2, p. 279-304, 2020. Disponível em: https://scholar. archive.org/work/h55oywrclzhipkjyhn3brnpeoe/access/wayback/https://revistaecopos. eco.ufrj.br/eco_pos/article/download/27459/pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática? 11. ed. São Paulo: Cortez, 2018. RIBEIRO, L. O poder da comunicação. 1. ed. Votuporanga: Editora Sintonia. 2021. RODRIGUES JÚNIOR, J. F.; VÉRAS, S. C. L. M. A comunicação, a colaboração e o diálogo pela Web: uma evidência. In: 4º CONGRESSO SOBRE TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO (CTRL+E). Anais [...] Pernambuco, ago. 2019. Disponível em: https://sol.sbc.org.br/index.php/ctrle/ article/view/8885/8786. Acesso em: 25 ago. 2022. https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/sile_2018/atualizado/CO/OS_MEIOS_DE_COMUNICACAO_COMO_EXTENSAO_DO_HOMEM_E_A_CONSTRUCAO_COLETIVA_DO_CONHECIMENTO_copia.pdf https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/sile_2018/atualizado/CO/OS_MEIOS_DE_COMUNICACAO_COMO_EXTENSAO_DO_HOMEM_E_A_CONSTRUCAO_COLETIVA_DO_CONHECIMENTO_copia.pdf https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/sile_2018/atualizado/CO/OS_MEIOS_DE_COMUNICACAO_COMO_EXTENSAO_DO_HOMEM_E_A_CONSTRUCAO_COLETIVA_DO_CONHECIMENTO_copia.pdf https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/2418 https://revista.univem.edu.br/emtempo/article/view/2418 https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Poiesis/article/view/5927/3939 https://portaldeperiodicos.animaeducacao.com.br/index.php/Poiesis/article/view/5927/3939 https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/38314/41160 http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/5674 http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/metis/article/view/5674 https://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/610 https://seer.casperlibero.edu.br/index.php/libero/article/view/610 https://www.redalyc.org/pdf/1430/143022280005.pdf https://www.redalyc.org/pdf/1430/143022280005.pdf https://revistas.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/16043/209209214318 https://revistas.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/16043/209209214318 https://e-compos.org.br/e-compos/article/view/791/589 https://e-compos.org.br/e-compos/article/view/791/589 https://scholar.archive.org/work/h55oywrclzhipkjyhn3brnpeoe/access/wayback/https://revistaecopos.eco https://scholar.archive.org/work/h55oywrclzhipkjyhn3brnpeoe/access/wayback/https://revistaecopos.eco https://scholar.archive.org/work/h55oywrclzhipkjyhn3brnpeoe/access/wayback/https://revistaecopos.eco https://sol.sbc.org.br/index.php/ctrle/article/view/8885/8786 https://sol.sbc.org.br/index.php/ctrle/article/view/8885/8786 34 Oratória e técnicas de apresentação SALGADO, T. B. P.; MATTOS, M. A. Voltar à comunicação: perspectivas etimológicas e epistemológicas do termo. In: 29º ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. Anais [...] Campo Grande: UFMS, jun. 2020. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/ Tiago-Salgado-3/publication/341580023_VOLTAR_A_COMUNICACAO_perspectivas_ etimologicas_e_epistemologicas_do_termo/links/5ec8325292851c11a8815562/VOLTAR-A- COMUNICACAO-perspectivas-etimologicas-e-epistemologicas-do-termo.pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. SAPUCAIA, R. Paisagens sonoras: o cotidiano nas poéticas da contemporaneidade. Rotura – Revista De Comunicação, Cultura e Artes, v. 1, n. 2, p. 70-77, 2021. Disponível em: https:// sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/17816/1/Paisagens_sonoras-O_cotidiano_nas_poA_ ticas_da_contemporaneidade.pdf. Acesso em: 25 ago. 2022. SILVA, J. A. Comunicação litúrgica: ação sinergeticamente divino-humana. Revista Eclesiástica Brasileira, v. 71, n. 283, p. 642-658, fev. 2011. Disponível em: https:// revistaeclesiasticabrasileira.itf.edu.br/reb/article/view/1003. Acesso em: 25 ago. 2022. SÓLIO, M. B. O papel fundante da escuta na comunicação organizacional. Organicom, v. 7, n. 12, p. 25-51, jun. 2010. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/321201121_O_papel_fundante_da_escuta_na_Comunicacao_Organizacional. Acesso em: 25 ago. 2022. TREASURE, J. Sound business: how to use sound to grow profits and brave value. 2. ed. Oxford: Management Books 2000, 2011. WILMSEN, L.; RAMOS, F. B.; MACIEL, R. R. A. Ser professor de criança: a escuta atenta das infâncias. Revista didática sistêmica, v. 23, n. 1, p. 301-313, 2021. Disponível em: https:// periodicos.furg.br/redsis/article/view/11769/9255. Acesso em: 25 ago. 2022. https://www.researchgate.net/profile/Tiago-Salgado-3/publication/341580023_VOLTAR_A_COMUNICACAO_pers https://www.researchgate.net/profile/Tiago-Salgado-3/publication/341580023_VOLTAR_A_COMUNICACAO_pers https://www.researchgate.net/profile/Tiago-Salgado-3/publication/341580023_VOLTAR_A_COMUNICACAO_pers https://www.researchgate.net/profile/Tiago-Salgado-3/publication/341580023_VOLTAR_A_COMUNICACAO_pers https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/17816/1/Paisagens_sonoras-O_cotidiano_nas_poA_ticas_da_contemporaneidade.pdf https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/17816/1/Paisagens_sonoras-O_cotidiano_nas_poA_ticas_da_contemporaneidade.pdf https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/17816/1/Paisagens_sonoras-O_cotidiano_nas_poA_ticas_da_contemporaneidade.pdf https://revistaeclesiasticabrasileira.itf.edu.br/reb/article/view/1003 https://revistaeclesiasticabrasileira.itf.edu.br/reb/article/view/1003 https://www.researchgate.net/publication/321201121_O_papel_fundante_da_escuta_na_Comunicacao_Organizhttps://www.researchgate.net/publication/321201121_O_papel_fundante_da_escuta_na_Comunicacao_Organiz https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/11769/9255 https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/11769/9255 Oratória 35 2 Oratória A primeira parte deste capítulo aborda os conceitos principais da ora- tória, e mostra a sua importância como competência que possibilita ao indivíduo desenvolver todo o seu potencial. Por outro lado, a experiência de falar em público é uma das mais temidas pelas pessoas. Medo, ansie- dade, estresse e até mesmo sintomas físicos são algumas das emoções que podem levar uma pessoa à paralisia frente a uma plateia. Assim, o desenvolvimento da competência da oratória é fundamental para que o indivíduo esteja preparado para usar as oportunidades de fa- lar em público da melhor forma. Já a segunda parte do capítulo é dedicada a explicar o conceito da retó- rica, intimamente relacionado à oratória. Enquanto a retórica se relaciona à construção do conteúdo do discurso e das estratégias usadas para que o orador possa atingir seus objetivos, a oratória trata das ferramentas, competências e práticas necessárias para que a apresentação transmita as informações, conhecimentos, emoções e motivações do discurso. A terceira parte do capítulo aborda a importância da oralidade no processo de comunicação e mostra como, no modelo educacional adota- do no Brasil, o foco está direcionado ao aprendizado da linguagem escri- ta, o que faz com que as competências relacionadas à fala e à oralidade sejam, muitas vezes, relegadas a um segundo plano. A língua falada está em constante evolução e, assim, a oralidade se torna cada vez mais funda- mental para que os indivíduos possam conviver em sociedade. Por fim, na última parte do capítulo, o tema é a voz, ferramenta fun- damental da oratória. As técnicas de uso da voz, como entonação, ritmo, altura, volume, rapidez e dicção serão abordadas, com exemplos práticos de sua utilização pelos oradores. 36 Oratória e técnicas de apresentação Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os conceitos básicos da oratória e seu uso em situações diversas; • compreender os conceitos de retórica e seu uso nas áreas da comunicação; • compreender os conceitos e o desenvolvimento da oralidade, da capacidade de se expressar verbalmente, dos regionalismos e neologismos; • conhecer as técnicas de dicção na comunicação oral; • discutir sobre o uso da voz na comunicação e na oratória; • assimilar os conceitos de comunicação verbal e não verbal. Objetivos de aprendizagem 2.1 Conceitos básicos da oratória Vídeo A capacidade de falar, conversar, convencer e se comunicar repre- senta uma das principais competências no mundo contemporâneo, tanto em contextos sociais, quanto educacionais e profissionais. A oratória é um dos temas mais abordados no contexto da formação de competências comportamentais em profissionais dos mais varia- dos ramos de atuação. Centenas de livros, cursos de extensão, palestras e treinamentos são disponibilizados por instituições de ensino, tendo como foco o de- senvolvimento da oratória. A palavra oratória, no contexto atual, muitas vezes remete à ideia de uma apresentação de uma pessoa para um determinado público, seja em um ambiente físico, em que o orador ocupa um púlpito, palco ou um local de destaque, e fale para a uma plateia, usando um microfone e slides projetados em uma tela, seja em um canal de comunicação como a televisão ou uma plataforma de streaming. Mas a arte da oratória não se restringe apenas a esse tipo de inte- ração ou comunicação, ela está presente em grande parte das intera- ções sociais que ocorrem entre os membros de uma sociedade. Como Oratória 37 apontava o Abade Trublet, já no ano de 1735: “Os homens estão em sociedade uns com os outros apenas pela comunicação mútua de seus pensamentos. A palavra, modificada de uma infinidade de maneiras, pela expressão do rosto, pelo gesto, pelos diferentes tons da voz, é o meio dessa comunicação” (Trublet, 1735. In: Caxito, 2009, p. 85). A capacidade de se expressar de forma clara e objetiva não é necessária apenas para os profissionais que precisam constantemente realizar exposições orais ou apresentações, como professores, pales- trantes, treinadores ou políticos. Qualquer pessoa que queira partici- par ativamente de seu grupo social, seja no trabalho, na comunidade ou na escola, precisa conhecer os conceitos e técnicas da oratória. Porém, falar em público é um dos grandes medos das pessoas. Como afirmam Marinho et. al (2019), esse temor está ligado a inse- guranças com relação à imagem, à capacidade de se expressar, à percepção negativa da própria voz e ao receio de julgamento pela plateia. Assim, muitas pessoas evitam o ato de falar em público ou de fazer uma apresentação. Em uma pesquisa realizada com alunos de cursos superiores, os auto- res identificaram que, quando se veem obrigados a realizar apresentações, muitos alunos apresentam sintomas como ansiedade, estresse, esqueci- mento do conteúdo e diversos sintomas físicos, como suor e tremores. A oratória é conceituada por Portugal; Germinari (2010), como a capacidade de usar o discurso e a fala para argumentar, com o ob- jetivo de convencer outras pessoas. Já Moreira (2020, p. 2) define a oratória como: a arte de falar em público, primeiro, porque a oratória é com- posta de métodos de comunicação e linguagens (verbais e não verbais), segundo, porque envolve nesse processo a persuasão como um ponto central, e persuadir-se a si mesmo ou alguém, é um desafio, uma arte quase teatral, cheia de entonação, expres- são, articulação, postura e empatia. O fato de que muitos autores definem a oratória como uma arte pode levar à crença de que falar em público é um dom, uma capacidade que algumas pessoas apresentam de forma inata. Porém, como qualquer competência, a capacidade de falar bem em público pode ser aprendida. O conceito de competência, segundo Chia- venato (2020) é composto por três pilares, como mostra a Figura 1: 38 Oratória e técnicas de apresentação Conhecimento: Saber • informações • formação • treinamento Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato, 2020. Habilidade: Saber fazer • capacidade de realizar • prática • experiência Atitude: Fazer acontecer • realizar • motivação • comportamento Ma xim Ku lik ov /S hu tte rst oc k po ko ta/ Sh utt ers toc k Figura 1 Os pilares da competência Relacionando o conceito da competência com a oratória, é possível desenvolver os conhecimentos sobre o conjunto de técnicas que podem ser utilizadas para realizar um discurso ou apresentação, por meio de cursos, livros, materiais de ensino e treinamentos. Já a habilidade será conquistada com a prática. Quanto mais oportunidades e experiência o indivíduo tiver, me- lhor será sua capacidade de se expressar bem no contexto de uma apresentação. Mas para desenvolver essa habilidade, é preciso ter a atitude de querer realizar apresentações, sair de sua zona de conforto, enfrentar os medos e aprender. A importância da oratória não é um fenômeno contemporâneo. Desde as primeiras civilizações humanas, a capacidade de expor ideias e convencer sempre foi fundamental para aqueles que buscavam se destacar entre os demais membros do grupo social. Ao longo dos séculos, a arte da oratória, suas técnicas, ferra- mentas e os canais de comunicação utilizados evoluíram. O estudo da oratória sempre foi uma parte importante de diversas áreas do saber, como a filosofia, a política e a educação. No mundo contem- porâneo, o uso da oratória pode ser relacionado a quatro objetivos principais, como mostra a Figura 2: Oratória 39 Estimular a imaginação e a criatividade. Possibilitar o entendimento e a compreensão. Inspirar a determinação e incentivar a ação. Despertar ou aumentar a motivação e a paixão por um tema. Figura 2 Objetivos da oratória Ma xim Ku lik ov /S hu tte
Compartilhar