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O RA TO RIA E TECN ICA S D E A PRESEN TA Çà O FA BIA N O CA XITO FA BIA N O CA XITO ISBN 978-65-5821-178-5 9 786558 211785 Código Logístico I000935 Oratória e técnicas de apresentação Fabiano Caxito IESDE BRASIL 2022 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2022 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: GekaDe/Shutterstock - samui/Shutterstock - Singleline/shutterstock Fabiano Caxito Mestre em Administração Estratégica pela Universidade Nove de Julho (Uninove). Na área da administração, é MBA em Recursos Humanos pela Fundação Instituto de Administração (FIA); MBA em Economia e Finanças e em Gestão de Equipes e Liderança, ambos pela Faculdade Dynamus de Campinas (Fadyc). É pós- graduado em Business Intelligence, Big Data e Analytics pela Universidade Anhanguera, e em Coaching pela UniBF. Na área da educação, é pós-graduado em Língua Portuguesa: redação e oratória pela Universidade São Francisco; em Educação Financeira, em Educação Corporativa e em Tecnologias e Educação a Distância pela Faculdade UniBF. Na área de ciências sociais, é pós-graduado em Filosofia pela Universidade Estácio de Sá; em Antropologia e em Sociologia Política e Urbana pela UniBF; e em Ciências Políticas pela Fadyc. É graduado em Administração Financeira pela Universidade Cidade de São Paulo (Unicid). Graduado em Gerontologia pelo Centro Universitário Estácio. É licenciado em Filosofia pela Faculdade Mozarteum de São Paulo e em Pedagogia pela FaBras. Atuou nas áreas comerciais, de logística e de recrutamento e seleção, bem como no treinamento e desenvolvimento em diversas empresas de distribuição de produtos de consumo. Foi coordenador de cursos de pós-graduação lato sensu. Atualmente, é consultor empresarial, professor universitário e influenciador digital. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Importância da escuta ativa na comunicação 9 1.1 Conceitos de comunicação: falar e escutar 10 1.2 Canais de comunicação 15 1.3 Ouvir e escutar 19 1.4 Importância da escuta ativa 22 1.5 Como desenvolver a escuta ativa 27 2 Oratória 35 2.1 Conceitos básicos da oratória 36 2.2 Retórica e argumentação 40 2.3 Oralidade 45 2.4 Dicção 48 2.5 Ferramentas da voz 52 2.6 Comunicação verbal e não verbal 54 3 Preparação da Apresentação 63 3.1 Definição do tema e do conteúdo 64 3.2 Roteiros da apresentação 69 3.3 Como usar o storytelling 75 3.4 Tipos, recursos e ferramentas de apresentação 80 3.5 Construção dos slides 82 4 A apresentação 93 4.1 Vestuário e recursos visuais 94 4.2 Postura e linguagem corporal durante a apresentação 99 4.3 Construindo empatia com o público 104 4.4 Planejamento e improviso 109 Resolução das atividades 116 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! A capacidade de se comunicar de forma eficiente é fundamental para que o indivíduo possa atingir seus objetivos nas diversas áreas de sua vida, seja no ambiente profissional, social ou educacional. No mundo contemporâneo, marcado pela centralidade da informação e da comunicação, a capacidade de usar as técnicas e ferramentas da oratória é uma competência cada vez mais exigida e importante. Porém, a oratória não se resume apenas a um conjunto de técnicas usadas por palestrantes, professores e apresentadores para realizar um discurso voltado a um grande público. Exercemos a arte da oratória em diversos momentos do cotidiano, a cada vez que participamos de uma conversa ou de uma interação social. Por isso, o primeiro capítulo da obra apresenta os conceitos básicos do processo de comunicação e descreve os papéis desempenhados pelos participantes, pois a comunicação é um processo de troca e comunhão no qual os interlocutores podem desempenhar tanto o papel de emissores quanto de receptores das mensagens e informações. Nos processos de comunicação, tão fundamental como a capacidade de falar ou de se expressar é a competência de escutar. A diferença entre os conceitos de ouvir e escutar assim como a importância de desenvolver a capacidade da escuta ativa também são abordadas no primeiro capítulo. Oratória e retórica são conceitos relacionados que serão tratados no segundo capítulo da obra. Enquanto a oratória está relacionada às ferramentas e técnicas usadas durante o discurso, o conceito de retórica descreve a relevância da estrutura lógica e formal dessa fala, essenciais para que as ideias, conceitos e opiniões do orador possam ser transmitidas de maneira a serem entendidas pelos interlocutores. O capitulo também discute o valor da oralidade desde os primeiros anos da infância e o papel da educação no desenvolvimento da capacidade de o indivíduo se expressar oralmente. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Oratória e técnicas de apresentação A voz é um importante instrumento nos processos de comunicação e, especialmente, na oratória. Por isso, técnicas de uso da voz – entonação, ritmo, altura, volume, rapidez e dicção – serão apresentadas na parte final do capitulo. O terceiro capítulo é dedicado ao processo de planejamento, organização e preparação de uma apresentação, um discurso ou uma aula, para que o orador possa atingir seus objetivos. Será indicado um passo a passo do planejamento, definição do tema e estruturação do roteiro do discurso, bem como o entendimento da infraestrutura do local, o tempo disponível e o contexto no qual a apresentação ocorrerá. O discurso pode ser estruturado de diversas formas, tais como discursos argumentativos, narrativos ou expositivos, a depender do contexto, tema e objetivos do orador. O discurso narrativo, em especial o do storytelling, será analisado de forma aprofundada, pela importância desse tipo de estrutura nos discursos realizados nos mais diversos tipos de contextos, porque o uso de histórias ajuda na construção de uma relação de empatia que engaja e motiva a plateia. Também serão estudados no terceiro capítulo os programas e softwares que podem ser usados para realizar a apresentação dos dados e informações que o orador pretende transmitir, com ênfase na construção de slides e do uso de recursos visuais, ferramentas fundamentais para o sucesso de uma apresentação. O último capitulo é dedicado a discutir o momento da apresentação e do discurso e abordar temas como a preparação do orador e a adequação do vestuário ao contexto no qual a apresentação ocorre, mas também o uso da comunicação verbal e não verbal como elementos fundamentais da oratória. O estabelecimento de uma relação de empatia e confiança entre o orador e o público guarda relação direta com a coerência entre os diversos tipos de comunicação utilizados pelo orador em seu discurso. Ao final desta obra, espera-se que o leitor tenha a capacidade de entender a importância da oratória e da capacidade de comunicação em sua vida e possa usar as ferramentas, metodologias e conhecimentos adquiridos para realizar apresentaçõesde alta qualidade. Importância da escuta ativa na comunicação 9 1 Importância da escuta ativa na comunicação Quando se discutem os processos de comunicação e o desenvolvi- mento de competências relacionadas à comunicação, é comum que o foco seja direcionado à capacidade de oratória, à retórica, à argumenta- ção e à competência de falar em público e fazer apresentações. Porém, a comunicação é um processo de troca e comunhão no qual os interlocutores podem desempenhar tanto o papel de emissores quan- to de receptores das mensagens e informações. Assim, tão importante quanto a capacidade de saber falar, é a capacidade de saber escutar. Na primeira parte do capítulo, são discutidos os conceitos fundamen- tais do processo de comunicação, que tem como pilares tanto o falar quanto o escutar. Emissor, receptor, meio, canal, mensagem, códigos e ruídos são alguns dos conceitos discutidos. Já a segunda parte do capítulo tem por objetivo discutir em profundi- dade os canais de comunicação, desde o desenvolvimento da linguagem, nos primórdios da civilização humana, até os canais digitais, que têm trans- formado os processos de comunicação na sociedade contemporânea. Ouvir e escutar são conceitos complementares, mas diferentes. A ter- ceira parte do capítulo é dedicada a esclarecer cada um desses conceitos e mostrar como – mais do que audição – a capacidade de escuta é fun- damental para que a comunicação ocorra. A importância da escuta ativa, nos mais diversos contextos nos quais os indivíduos estão inseridos em seu cotidiano, é o tema da quarta parte do capítulo, que aprofunda os conceitos discutidos na parte anterior. Por fim, a última parte do capítulo apresenta exercícios e exemplos práticos de como desenvolver a escuta ativa, competência fundamental para aqueles que buscam melhorar sua capacidade de comunicação. 10 Oratória e técnicas de apresentação Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os conceitos relacionados à comunicação no contexto pessoal, acadêmico e profissional; • entender os canais de comunicação e como são usados para os diversos tipos de comunicação; • diferenciar os conceitos de ouvir e escutar; • reconhecer a importância da escuta ativa nos processos de comu- nicação e nos relacionamentos estabelecidos nos grupos sociais; • conhecer ferramentas e exercícios para desenvolver a escuta ativa. Objetivos de aprendizagem 1.1 Conceitos de comunicação: falar e escutar Vídeo Vivemos a era da comunicação! Essa frase é repetida frequentemente em diversos contextos, prin- cipalmente para demonstrar a centralidade da comunicação no mundo contemporâneo. O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação – com destaque para a internet – tornou a comunica- ção um dos pilares da cultura e da sociedade contemporânea. Porém, como destaca Ribeiro (2021), a capacidade de comunicação foi fundamental para o desenvolvimento da sociedade humana, pois possibilitou que os indivíduos dos primeiros grupos humanos, que ainda dependiam da caça e da coleta de alimentos, pudessem com- partilhar informações e estabelecer relações fundamentais para a so- brevivência do grupo. Para que se possa compreender a importância da comunicação, é preciso entender o significado do termo comunicar. Segundo Nöth (2011), essa é uma palavra de origem latina, que tem em sua raiz a ideia de comum, comunidade. Comunicar é algo que se faz com outra pessoa, em uma relação de dualidade e troca. Nöth (2011, p. 86) também afirma que a palavra se relaciona com a ideia de mudança, troca e reciprocidade, e nesse sentido destaca: Todos estes sentidos são bem compatíveis ou estreitamente rela- cionados com o sentido da palavra comunicação, pois comunica- ção é um ‘fazer comum’, que implica ‘participação’, ‘convivência’ Importância da escuta ativa na comunicação 11 e ‘convívio’, comunicação tem a haver com intercâmbio social e troca de informação e pode levar a mudanças do pensamento ou do conhecimento. Salgado e Mattos (2020) explicam que as palavras comunicar e co- mungar apresentam origens semelhantes. Ambas expressam a ideia de dividir, compartilhar, fazer junto. Segundo os autores, durante o perío- do da Idade Média, nos mosteiros os monges se reuniam para a refei- ção da noite. Neste momento, praticavam o ato de comungar, ou seja, repartiam entre si o pão. A ação de se reunir com o objetivo de realizar a comunhão era chamada de comunicação. As duas acepções da palavra, apontadas por Nöth (2011) e Salgado e Mattos (2020), são sintetizadas na explicação de Silva (2011), para quem a palavra comunicar expressa tanto o sentido de comum – ou seja, aquele que pertence a todos – como o sentido de troca, de participação em uma relação em que se dá algo em troca de receber um benefício. É a partir dessas origens que foi construído o sentido atual da pa- lavra comunicação, relacionado a falar, ouvir, escutar, compartilhar e discutir ideias, conceitos, conhecimentos e opiniões. Segundo Kotler e Armstrong (2014) o processo de comunicação apresenta uma série de etapas e características específicas, como mostra a Figura 1: Figura 1 Elementos no processo de comunicação Emissor Feedback Resposta Ruído MensagemCodificador Meio Decodificador Receptor po ko ta /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor com base em Kotler; Armstrong, 2014. O processo se inicia quando um indivíduo deseja emitir uma men- sagem a outro indivíduo ou grupo de indivíduos, que desempenham o papel de receptores. Por exemplo, o emissor pode ser um palestrante, um professor, um vendedor ou uma pessoa que transmite informa- ções ou expõe suas ideias a uma ou mais pessoas. 12 Oratória e técnicas de apresentação Já os receptores podem ser a audiência da palestra, os alunos de uma aula, um cliente de uma empresa ou qualquer indivíduo que este- ja recebendo a mensagem emitida. Para que a mensagem possa ser transmitida, é utilizado um processo de codificação. A língua de um determinado povo ou cultura é um exem- plo de um código utilizado na transmissão de uma mensagem. Diversos tipos de códigos podem ser usados para transmitir uma mensagem. A Li- bras (Língua Brasileira de Sinais) é um exemplo de um código usado na comunicação. Os símbolos matemáticos, a notação musical, os símbolos utilizados em placas ou mesmo os emojis usados na comunicação estabe- lecida em sites e aplicativos de comunicação são códigos que podem ser usados no processo de transmissão de uma mensagem. A mensagem é transmitida do emissor para o receptor através de um meio ou canal de comunicação. Esse meio pode ser a fala direta – que ocorre na interação física entre emissor e receptor – ou utilizar algum suporte que possibilite a transmissão da mensagem. Textos impressos em jornais, livros ou revistas; canais de transmis- são de voz, como o rádio, telefone e aplicativos de mensagens; ou de transmissão de imagens, como a televisão, o cinema, a internet e os aplicativos de comunicação por vídeo são exemplos de canais de co- municação que podem ser utilizados na transmissão da mensagem. A Figura 2 mostra uma linha do tempo com as datas de desenvolvimento de alguns dos mais utilizados meios de comunicação: 1 ic on de si gn er /S hu tte rs to ck - 2 s um be ra rto /S hu tte rs to ck - 3 b io ra ve n/ Sh ut te rs to ck - 4 Z ai n St ud io /S hu tte rs to ck - 5 V la dv m /S hu tte rs to ck - 6 o ffi ce ku /S hu tte rs to ck - 7 B AR S gr ap hi cs /S hu tte rs to ck - 8 qu in ne ni /S hu tte rs to ck 1 2 4 5 6 3 Figura 2 Linha do tempo dos meios de comunicação 7 8 Imprensa de Gutenberg: 1436 Primeiro Telefone celular: 1973 Popularização da internet: década de 1990 Fundação do primeiro jornal: 1631 Primeiro Computador: 1951 Mídias sociais: década de 2000 Rádio: 1906 Televisão: 1927 Os emojis são símbolos, ideogramas ou pictogra- mas utilizados princi- palmente redes sociais para transmitir uma ideia,palavra ou frase. Apesar de terem se popularizado na internet, os emojis se tornaram cada vez mais populares e passaram a ser utilizados também em outros meios de comuni- cação. Na animação Emoji: O Filme, os símbolos ganham vida e mostram a relação entre sua perso- nalidade e os significados que representam. Direção: Tony Leondis. Estados Unidos: Sony Pictures Animation/ Columbia Pictures, 2017. Filme Importância da escuta ativa na comunicação 13 Fonte: Elaborada pelo autor. Para que a mensagem seja entendida, o receptor precisa enten- der o código utilizado e saber decodificar as informações contidas na mensagem. Um dos principais problemas observados no processo de comunicação é a falta de entendimento ou o entendimento incorreto da mensagem, causada pela decodificação incorreta, seja pela falta de conhecimento do código utilizado pelo emissor, seja por diferenças no uso do código. Segundo Treasure (2011), durante o processo de codificação e de- codificação da mensagem, diversos filtros podem prejudicar o entendi- mento do conteúdo, como mostra a Figura 3: Figura 3 Filtros da comunicação 1 B oy ko .P ic tu re s/ Sh ut te rs to ck - 2 A VI co n/ Sh ut te rs to ck - 3 B en ve nu to C el lin i/S hu tte rs to ck - 4 M D. D el wa r h os sa in /S hu tte rs to ck - 5 N ob el us /S hu tte rs to ck - 6 d av oo da /S hu tte rs to ck 1 4 2 5 3 6 Cultura Atitudes Idioma Expectativas Crenças Intenções Fonte: Elaborada pelo autor com base em Treasure, 2011. Cada indivíduo apresenta características culturais diferentes, o que tanto tem a ver com o país, região ou grupo social do qual faz parte e em que se desenvolveu, quanto se relaciona com seu nível de escolari- dade, interesses, hábitos culturais e sociais. Assim, uma mensagem que pode ser facilmente interpretada por um determinado indivíduo pode não ser totalmente compreendida por outro indivíduo que não faz parte da mesma cultura. Por exemplo, uma pessoa que tem como hábito cultural assistir partidas de futebol fre- quentemente pode, ao emitir uma mensagem, utilizar uma referência ao esporte. Se o emissor não compartilha o mesmo hábito, pode não entender a referência utilizada, o que leva a uma compreensão equivo- cada da mensagem. 14 Oratória e técnicas de apresentação O idioma é um dos principais filtros da comunicação. Eventuais problemas na decodificação de mensagens por questões de idioma, porém, não ocorrem apenas quando a língua do emissor não é com- preendida pelo receptor. Gírias, termos técnicos, regionalismos e neo- logismos usados pelo emissor também podem não ser totalmente entendidos pelo receptor. Nas empresas e instituições, é comum que cada organização ou de- partamento utilize termos, siglas, palavras criadas pelo próprio grupo de colaboradores. Uma pessoa que não faz parte do grupo ou da pro- fissão pode não compreender os termos usados. Nos grupos sociais, gírias e expressões específicas são usadas como forma de identificar os membros do grupo, ao mesmo tempo que ex- clui quem não entende os significados das palavras e, portanto, não faz parte do grupo. As crenças são outro importante filtro da comunicação, de acordo com Treasure (2011). Sejam religiosas, políticas, esportivas ou culturais, as crenças estão relacionadas aos valores do indivíduo, assim, ao ser impactado por uma mensagem que se choca com suas crenças, o indi- víduo pode se sentir atingido ou até ofendido, o que dificulta o processo de decodificação da mensagem. Essa característica pode ser observada nas discussões sobre política estabelecidas nas redes sociais, nas quais cada um dos lados defende suas crenças sem se permitir entender as ideias e argumentos de seus interlocutores. Os filtros da comunicação que Treasure (2011) chama de Atitudes, Expectativas e Intenções expressam o relacionamento estabelecido en- tre os interlocutores em um processo de comunicação. O indivíduo pode adotar uma atitude mais aberta e colaborativa du- rante a comunicação, a depender de suas expectativas a respeito do tema, dos objetivos do interlocutor e da relação entre os participantes. Suas intenções no processo de comunicação – por exemplo, convencer o interlocutor, discordar das ideias ou defender seus pontos de vista – também influenciam as atitudes e posturas que adota durante o pro- cesso de comunicação. Os filtros da comunicação podem ser relacionados com o conceito dos ruídos, um dos elementos do processo de comunicação do modelo O vídeo Julian Treasure: 5 maneiras de escutar melhor, do canal TED, traz uma instrutiva palestra proferida por Julian Treasure, especialista em comunicação, que apresenta os filtros da comunicação e mostra como esses filtros inter- ferem no entendimento da mensagem, é possível aprender a se comunicar melhor. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas para melhor compreensão. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=cSohjlYQI2A. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A https://www.youtube.com/watch?v=cSohjlYQI2A Importância da escuta ativa na comunicação 15 desenvolvido por Kotler e Armstrong (2014). Os ruídos são todo e qual- quer tipo de interferência que pode atrapalhar o processo de comuni- cação, como um simples barulho que atrapalha a audição do receptor, ou um filtro que dificulta o entendimento da mensagem. No modelo Kotler e Armstrong (2014), o emissor espera, do recep- tor, algum tipo de resposta ou feedback, que pode ser a transmissão de uma nova mensagem, uma reação ou a tomada de uma ação es- pecífica. A partir dessa resposta se estabelece um diálogo, no qual o receptor assume o papel de emissor, transmitindo sua mensagem, em um processo contínuo de troca e comunhão. 1.2 Canais de comunicação Vídeo O processo de comunicação que ocorre entre um emissor e um ou mais receptores é estabelecido em um canal ou meio de comunicação. Cunha, Cruz e Bizelli (2018) explicam que os canais de comunicação po- dem ser qualquer tipo de meio que possibilite a transmissão de dados, informações ou conhecimentos entre pessoas, grupos, instituições ou culturas. Já Parry (2017) classifica os canais de comunicação em três diferentes grupos, que mostraremos na Figura 4: 1 B es t V ec to r E le m en ts /S hu tte rs to ck - 2 s ob ah us s ur ur / Sh ut te rs to ck - 3 s up an ut p iya ka no nt /S hu tte rs to ck 1 2 3 Visual: • Componentes visuais • Signos • Imagens • Desenhos • Gráficos Auditivo: • Som é predominante • Volume • Tonalidade • Vocabulário • Ruídos • Discursos • Conversas • Discussões. Sinestésico: • Comunicação não verbal • Sentimentos • Emoções Figura 4 Tipos de canais de comunicação Fonte: Elaborada pelo autor com base em Parry, 2017. 16 Oratória e técnicas de apresentação Nos canais de comunicação auditivos, a forma sonora é predomi- nante; a música, o rádio, o podcast e os audiolivros são exemplos de ca- nais de comunicação que usam o som como principal ferramenta para a transmissão de informação. Para Cunha, Cruz e Bizelli (2018), a fala é o mais básico dos meios de comunicação, sendo a comunicação verbal um dos pilares do desenvolvimento da civilização humana. Assim, os seres hu- manos conseguem perceber muitas nuances na fala de outros indivíduos. Além da própria informação transmitida, também são usados volu- me, tonalidade, vocabulário, velocidade e altura da voz para dar sen- tido e contexto ao processo de comunicação. Forma e conteúdo se completam na comunicação verbal. As interjeições características da fala de alguns estados brasileiros, como o uai do mineiro, o tchê do gaúcho ou a égua do paraense, são exemplos de que a forma como as palavras são faladas muda total- mente o sentido da comunicação. Os canais de comunicação visuais e sinestésicos, apontados no mo- delo de Parry (2017), estão relacionados à comunicação não verbal,que representa uma parte significativa dos processos de comunicação. Um canal de comunicação visual ocorre quando se usa, de for- ma predominante, os componentes visuais, tais como desenhos, fer- ramentas gráficas, imagens, cores, movimento, símbolos e signos. São exemplos de meios ou canais de comunicação visual as produ- ções artísticas como a pintura e a escultura, o cinema, o teatro, a televisão e a imprensa. Já os canais de comunicação sinestésicos, segundo explicam Cam- pos e Hildebrand (2022), estão ligados à comunicação interpessoal, ca- racterística das conversas, reuniões ou encontros físicos, e envolvem gestos, linguagem corporal, sinais físicos e emoções para expressar as informações que se deseja transmitir. Os tipos de canais de comunicação apontados por Parry (2017) não são excludentes, pois o nome de cada tipo representa a forma de co- municação predominante. Assim, canais visuais, como o cinema e a televisão, também utilizam elementos sonoros no processo de comuni- cação, assim como a comunicação não verbal inclui elementos visuais. Em um divertido vídeo, o comediante Paulo Araújo explica os diversos signi- ficados da interjeição uai, típica do sotaque mineiro. De acordo com o tom, o volume, a velocidade e a posição da interjeição na frase, o sentido pode mudar completamente. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=4Go36zKZ9l8. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 https://www.youtube.com/watch?v=4Go36zKZ9l8 Importância da escuta ativa na comunicação 17 Segundo o autor, alguns desses canais são unidirecionais, em que os indivíduos desempenham um papel definido no processo de comunica- ção: o emissor transmite a informação, enquanto o receptor apenas a re- cebe. Palestra e filmes de cinema são exemplos de canais unidirecionais. Outros canais são bidirecionais, ou seja, possibilitam que os indiví- duos desempenhem tanto o papel de emissor quanto de receptor. Nes- se tipo de canal, a comunicação entre os indivíduos se configura como um diálogo, no qual as visões, crenças, ideias e pensamentos de cada indivíduo podem ser expressos durante o processo de comunicação. Como exemplo dos canais bidirecionais, podem ser citadas a con- versa pessoal, uma ligação telefônica ou as redes sociais baseadas na internet. Sobre o processo de comunicação estabelecido virtualmente nas redes sociais, Rodrigues Júnior e Véras (2019, p. 150) destacam: As interações sociais que ocorrem na Internet (em weblogs, fo- tologs, blogs, grupos de discussão, comunidades virtuais e redes sociais) buscam conectar pessoas e proporcionar a comunicação entre elas, permitindo a instauração da dialogicidade. A constru- ção do diálogo acontece em ambientes colaborativos em que os personagens demonstram interesse pelo discurso do outro, per- mitem a transparência e constroem novos conhecimentos. Ainda segundo os autores, alguns canais são unidirecionais, como a televisão e o rádio. Nesse tipo de canal as comunicações apresentam uma característica de monólogo: somente o emissor expressa suas ideias. Mesmo que existam formas de capturar ou coletar as percep- ções e ideias dos receptores da mensagem, essa interação não ocorre de forma imediata. A evolução dos meios de comunicação acompanhou tanto o desen- volvimento da sociedade quanto os avanços tecnológicos que criaram formas de comunicação, que não substituíram totalmente os meios já estabelecidos, mas possibilitaram novas formas de estabelecer proces- sos comunicativos. Cada novo canal de comunicação criado proporciona melhorias e a evolução da capacidade humana de comunicar suas ideias, crenças e conhecimentos. A Figura 5 mostra uma linha do tempo do desenvolvi- mento dos diversos meios de comunicação, destacando as principais características de cada canal: 18 Oratória e técnicas de apresentação GRÁFICA: Desenhos/ Pinturas/ Placas ORAL: Sermões/ Discursos/ Teatro ESCRITA: Manuscritos/ Cartas/ Cartazes IMPRESSA: Livros/ Jornais/ Revistas AUDITIVA: Rádio/ Telefone/ Gravação VISUAL: Cinema/TV/ Fotografia DIGITAL: Web/ Multimídia Figura 5 A evolução dos meios de comunicação Fonte: Elaborado pelo autor com base em Parry, 2017. Os canais de comunicação digital, como a internet, as redes sociais, os sites de streaming de áudio (tais como Spotify e Deezer) e de vídeo (como Youtube e Netflix), aplicativos de mensagens (WhatsApp e Tele- gram) e plataformas de reuniões online (Zoom, Teams, Skype e Google Meet) transformaram os processos de comunicação, tanto no contexto social quanto profissional e educacional. A quarentena causada pela COVID-19, a partir do ano de 2020, ace- lerou ainda mais o processo de adoção desses canais de comunicação, exigindo das pessoas uma profunda adaptação dos seus processos de co- municação. Nas empresas, reuniões e apresentações, antes presenciais, precisaram ser realizadas on-line, com uma dinâmica de organização to- talmente diferente do modelo conhecido e praticado pelos profissionais. Na educação, professores precisaram reformular totalmente suas metodologias de ensino e a forma de organização de suas aulas. Pas- qualeto, Domingos e Rios (2021, p. 3) descrevem, a partir de sua pró- pria experiência como docentes, o complexo processo de adaptação ao modelo de educação on-line durante a pandemia: Fomos forçados a viver um novo momento na educação. Da noite para o dia, professores, sem o preparo técnico ou emocional ne- cessário, foram obrigados a ministrar aulas por plataformas di- gitais. Sem nenhum precedente, a pandemia mudou a forma da comunicação e de relacionamento, na educação não foi diferente. Importância da escuta ativa na comunicação 19 Como destacam os autores, a necessidade de adaptação das me- todologias, dinâmicas e processos avaliativos representou um grande desafio para os professores. Como professor, minha primeira experiência com a Educação à Distância foi no ano de 2007, quando desenvolvi meu primeiro con- teúdo para uma disciplina de graduação EAD. Naquele momento, ao assistir aos vídeos de minhas aulas, percebi que as técnicas de apre- sentação e de oratória que utilizava nas salas de aula não eram ade- quadas ao modelo da Educação à Distância. A partir dessa experiência senti a necessidade de buscar desenvolver competências relacionadas à oratória, à comunicação não verbal durante as apresentações, ao de- senvolvimento de materiais visuais, a melhorar aspectos relacionados à voz, como dicção, tonalidade, volume e velocidade. Essas compe- tências foram fundamentais para a minha carreira como professor e, durante a quarentena da pandemia da COVID-19, foram fundamentais para manter a qualidade de minhas aulas. Exemplo Como aprendizados proporcionados pela pandemia, Pasqualeto, Domingos e Rios (2021) afirmam que o momento mostrou a impor- tância do desenvolvimento contínuo dos docentes, da adoção de uma postura aberta à mudança e ao aprendizado e da comunicação entre professores e alunos para o processo de ensino-aprendizagem. 1.3 Ouvir e escutar Vídeo Apesar de frequentemente serem usadas como palavras sinônimas, ouvir e escutar apresentam significados diferentes, especialmente no contexto da comunicação. Ouvir é um processo fisiológico e mecânico, relacionado à captação, pelas estruturas do ouvido humano, das ondas sonoras de qualquer natureza, como um barulho, uma música ou uma conversa. Segundo Menezes (2008), o sentido da audição se desenvolve ainda durante a gestação, entre o quarto e o quinto mês, período em que o feto já per- cebe sons e reage a estímulos sonoros. Para o autor, após o nascimento, é a partir da audição que o bebê es- tabelece os primeiros vínculos com o mundo. A visão ainda não está total- mente desenvolvida, mas o bebê percebe características da voz humana – como timbre, altura, volume e tonalidade – bem como ruídos externos. 20 Oratória e técnicas de apresentação Durante o seu desenvolvimento, acriança identifica sons que reme- tem a situações que se repetem em seu cotidiano, como a voz dos pais, os ruídos da casa e os sons específicos de sua rotina, como o barulho da água do banho e a música de ninar. Assim, o som o ajuda a se situar no tempo e no espaço. Treasure (2011) destaca que essa relação do tempo com a sonoridade nos acompanha durante toda a vida. Sons relaxantes, como as ondas do mar, apresentam ciclos de repetição que se aproximam dos ciclos fisioló- gicos, como o da respiração e dos batimentos cardíacos. Esse tipo de som possibilita que o indivíduo entre em sintonia com o ambiente que o cerca, o que proporciona uma sensação de paz e tranquilidade. Ainda segundo o autor, o som também influencia a motivação, o estado de espírito e as emoções das pessoas. A música tem um grande poder de mudar a forma como as pessoas se sentem em um determi- nado momento. As músicas aceleradas e intensas ouvidas nas acade- mias de ginástica ou em eventos esportivos aumentam a excitação e o desejo de se movimentar. As músicas alegres e motivadoras tocadas durante o Carnaval convidam à festa e à dança. Já a música clássica, para Treasure (2011), leva a um momento de calma e reflexão. As baladas românticas colocam as emoções à flor da pele. Os gritos de guerra e hinos cantados nos estádios esportivos e eventos populares criam um sentimento de pertencimento e orgulho, que leva muitos às lágrimas. Por outro lado, sons estridentes, em alto volume, que surgem de forma abrupta, como os barulhos de uma obra, um equipamento ou máquina, o escapamento de um carro ou uma buzina – característicos da vida nas cidades – causam instabilidade, insegurança e desconforto. Treasure (2011) dá o nome de esquizofonia a essa cacofonia que nos cerca cotidianamente, que gera estresse e diminui a capacidade de concentração e de comunicação. Já Sapucaia (2021, p. 72) conceitua a esquizofonia como a construção de uma paisagem sonora, em cons- tante transição e mudança: a esquizofonia pode ser desassociada desse perfil de loucura e pensada enquanto máquina produtora de sentido [...] assu- mimos o som em suas variantes, não apenas como um objeto sonoro isolado, mas também em meio a essas múltiplas possi- bilidades que existem no caos, no dia a dia de cada ser ouvinte. Importância da escuta ativa na comunicação 21 No mundo contemporâneo é cada vez mais comum que, para fugir do caos sonoro, muitas pessoas utilizem fones de ouvido para ouvi- rem suas músicas, podcasts e audiolivros. Essa característica é pos- sível de ser identificada ao se observar as pessoas nos transportes públicos ou mesmo nas ruas. Para Treasure (2011) essa é uma realidade preocupante, pois cada pessoa passa a viver em sua pequena bolha sonora, alheia aos sons externos e fechadas ao diálogo, à comunicação ou à conversa. Para o autor, estamos perdendo nossa capacidade de ouvir e, principalmen- te, de escutar. O especialista americano, em seu livro Sound Business, lançado em 2011, chega a essa conclusão ao analisar os impactos das tecnologias da comunicação, especialmente os celulares, sobre o com- portamento das pessoas. Porém, um dos mais destacados intelectuais brasileiros, Rubem Al- ves (1999, p. 65), chegou à conclusão semelhante duas décadas antes, em um belíssimo poema intitulado Escutatória. Com sua forma simples e direta de filosofar, Rubem Alves já inicia seu texto com a constatação da pouca relevância que a capacidade de ouvir, e principalmente de escutar, tem em nossa sociedade: Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. As conclusões a que chegam Rubem Alves (de que ninguém quer aprender a ouvir, e de que escutar é complicado e sutil) e Julian Treasu- re (de que estamos perdendo a nossa capacidade de escutar) mostram a profunda diferença entre o conceito de ouvir e de escutar. Enquanto ouvir é um processo fisiológico, que ocorre de forma auto- mática, mas que afeta os indivíduos tanto física quanto psicologicamen- te, escutar é um processo cognitivo, que exige esforço e concentração. Como aponta Marcondes Filho (2011), a escuta, no processo de co- municação, depende da capacidade de o indivíduo se abrir para rece- ber, entender, aceitar ou refutar as ideias, opiniões, crenças e valores do outro, respeitando a alteridade que existe entre os indivíduos. 22 Oratória e técnicas de apresentação Já Braga (2012) considera que ao se abrir para escutar o outro, o indi- víduo passa por um processo de mudança, pois aceita o diferente, aco- lhe o novo e conhece outras formas de enxergar o mundo. Para o autor, a verdadeira comunicação está na escuta, pois a mensagem transmitida pelo emissor só atinge seu objetivo de comunicar algo se o receptor não apenas ouve, mas escuta e compreende aquilo que foi comunicado. A escuta, no processo de comunicação, não se resume apenas à captação dos sinais sonoros pelo aparelho auditivo e pela decodifica- ção das informações. A escuta exige um trabalho de interpretação dos sentidos e nuances da comunicação e envolve tanto o que está sendo dito quanto os aspectos relacionados ao tom, velocidade, altura e volu- me da voz, além da comunicação não verbal do emissor. Para Braga (2012, p. 31), o processo de escutar não pode ser com- parado como uma chave ou interruptor que o receptor pode ligar ou desligar, alternando imediatamente entre um estado de escuta ativa ou outro de simples audição. Como destaca o autor: Podemos estar dispostos a nos modificar em presença da alte- ridade – mas nem sempre conseguimos efetivamente sintonizar de modo fino as proposições. Entendemos e não entendemos. Acolhemos e resistimos. Se observarmos ao redor, em sim- ples consulta às práticas sociais, é inevitável constatar que há graus de escuta, variações complexas na disponibilidade e no acolhimento. Pereira (2012) complementa a afirmação de Braga sobre a alternância entre posturas de acolhimento e resistência durante a comunicação e des- taca que a escuta possibilita o entendimento e a construção de sentidos e interpretações sobre as relações que o indivíduo estabelece com o outro, com diferentes culturas e formas diversas de se enxergar o mundo. 1.4 Importância da escuta ativa Vídeo Escutar é um processo complexo, que envolve aspectos fisiológicos relacionados à audição, aspectos ambientais como o local e o contex- to no qual a comunicação ocorre e aspectos relacionados ao próprio processo de comunicação, como o meio ou canal na qual ocorre e a capacidade de o receptor compreender e decodificar as linguagens e sinais utilizados pelo emissor. Importância da escuta ativa na comunicação 23 Envolve também, como apontam Braga (2012) e Marcondes Filho (2011), a predisposição e a abertura do receptor ao processo comuni- cativo. Ou seja, mais do que apenas ouvir a comunicação, o receptor concentra sua atenção naquilo que está sendo comunicado e empreen- de esforços cognitivos para receber, decodificar, entender e acolher a mensagem comunicada. Nesse contexto, surge o conceito de escuta ativa, que, segundo Gi- menez e Taborda (2018, p. 209), é um processo por meio do qual se deixa a outra pessoa saber que você está prestando atenção, busca estimular as pessoas a ouvirem umas às outras, provocando a expressão das emoções. Oportuniza o entendimento e a amenização dos conflitos, pois considera de ex- trema relevância a linguagem e corporal e falada. Aqui pode-se falar em reciprocidade, uma vez que existem pessoas que estão de fato comprometidas no processo de ouvir, existe atenção, o que leva os indivíduos a estarem conectados e comprometidos. O ato de escutar de forma ativa pressupõe que o receptor da men- sagem busca diminuir os possíveis entraves e obstáculos que possam surgir durante o processo de comunicação. Durante a escuta ativa,o receptor deve procurar entender e aceitar as diferenças culturais e de crenças em relação aos demais participantes do processo de comuni- cação, bem como identificar se suas atitudes, expectativas e intenções estão impedindo ou dificultando o entendimento da mensagem. Gimenez e Taborda (2018) destacam que na escuta ativa o receptor não busca entender apenas a mensagem transmitida, mas também as emoções e sentimentos implícitos e o contexto geral que originou a comunicação e no qual ela ocorre. Assim, o processo de escuta ativa vai além do simples escutar; envolve também a postura e a atitude do receptor, que deve buscar encorajar seu interlocutor, deixando-o à vontade e incentivando a comunicação. A escuta ativa pode ser usada em diversos contextos nos quais ocor- rem processos de comunicação que envolvem a interlocução e o diálogo entre os participantes, como no contexto social, profissional e educacional. Arruda e Vidal (2020, p. 38) destacam a importância da escuta ativa na resolução de conflitos, tanto os que ocorrem nas esferas sociais ou profissionais, quanto aqueles que se transformam em litígios e ações jurídicas. Na mediação de conflitos, segundo os autores, a escuta ativa 24 Oratória e técnicas de apresentação é uma das mais importantes ferramentas na busca do consenso entre as partes em litígio: Pela escuta empática e pela escuta ativa, por exemplo, podem ser buscados os componentes de uma relação de apoio e re- forço a um método de resolução pacífica de conflitos em casos mais difíceis de rupturas e má comunicação, em uma “cultura de guerra”, que permeia tanto nossa linguagem quanto os relacio- namentos – e assim promover a sua regeneração. No ambiente profissional, seja nas relações que se estabelecem entre os diversos colaboradores que compõem uma empresa, seja na relação desta com outras organizações, instituições e indivíduos exter- nos, a comunicação apresenta um papel fundamental. É por meio de uma comunicação de qualidade que a empresa desenvolve suas ativi- dades de forma eficiente e eficaz, entendendo as demandas, desejos e opiniões de seus colaboradores, clientes e consumidores. Porém, devido à própria forma de organização das empresas, em geral baseadas em uma estrutura piramidal e hierárquica, na qual as decisões são tomadas pelos gestores posicionados nos mais altos es- calões da estrutura, a comunicação costuma ser descendente e orien- tativa. As decisões tomadas são meramente informadas aos escalões inferiores, no formato de ordens, orientações ou determinações a se- rem seguidas, sem levar em consideração as opiniões, conhecimentos, informações e visões dos colaboradores. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) identificam esse tipo de comu- nicação centralizada e dominada pela empresa também na comunica- ção de marketing tradicional, na qual as organizações comunicavam ao mercado informações sobre seus produtos e serviços sem levar em consideração a voz do consumidor. Porém, no mundo contemporâneo, as inovações e o desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação transformaram profun- damente os processos de comunicação no ambiente organizacional e de negócios. Para Sólio (2010), as organizações que otimizam seus processos de escuta aumentam sua capacidade de atingir seus objetivos. A comunicação que ocorre dentro da empresa, entre os colabora- dores de diversos níveis hierárquicos e das diferentes áreas da empre- sa, precisa levar em consideração não apenas os aspectos objetivos e técnicos a serem transmitidos, mas também questões subjetivas como Importância da escuta ativa na comunicação 25 relacionamento, motivação, respeito às diferenças e gerenciamento de situações de conflito. Além do fluxo de comunicação descendente, precisam ser desen- volvidos canais de comunicação ascendentes e transversais que pos- sibilitem que os conhecimentos e opiniões dos colaboradores sejam compartilhados tanto com os superiores hierárquicos quanto com as demais áreas da empresa. Os colaboradores que atuam na linha de frente da empresa, em contato direto com clientes, fornecedores e o mercado, precisam ter a competência de exercer a escuta ativa em cada oportunidade de inte- ração que ocorra no cotidiano de suas atividades. Da mesma forma, gestores precisam estar preparados para exercer a escuta ativa nas suas relações com a equipe, para capturar e orga- nizar informações relevantes que possam ser transmitidas aos níveis hierárquicos superiores, para direcionar as estratégias da empresa em relação ao mercado. Para Sólio (2010) a competência da escuta ativa não pode ser sim- plesmente implantada, como um programa ou um evento específico. As competências e capacidades relacionadas à escuta ativa devem fa- zer parte da cultura empresarial e precisam existir canais e processos claros e bem definidos que possibilitem que a comunicação ocorra em todos os sentidos da estrutura. Já acerca da relação da empresa com o mercado, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) apontam que o desenvolvimento de tecnologias de comunicação, em especial a internet e as redes sociais, transformaram totalmente a comunicação da empresa com o cliente. A comunicação de marketing, antes um monólogo no qual apenas a voz da empresa era ouvida, passou a ser um diálogo, no qual o cliente tem espaço para expor suas opiniões, crenças, desejos e demandas. A empresa precisa usar a escuta ativa em relação às redes sociais e ao ambiente virtual para tanto identificar oportunidades, como quando os clientes elogiam seus produtos ou sugerem melhorias, quanto para lidar com os problemas, críticas e avaliações negativas divulgadas pelos clientes nos canais digitais de comunicação. Outro contexto no qual a escuta ativa se apresenta como uma ferra- menta fundamental na melhoria dos processos de comunicação é a edu- O conceito da pedagogia da escuta na educação foi desenvolvido a partir da experiência implantada pelo professor Loris Mala- guzzi na escola infantil da cidade de Reggio Emilia, na Itália, considerada um referencial em termos de qualidade da educação. O livro de Carla Rinaldi e traduzido por Vania Cury, Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender, relata as ex- periências desenvolvidas na cidade e relata como o conceito da pedagogia da escuta se tornou fun- damental para entender e enfrentar os desafios da educação no mundo contemporâneo. RINALDI, C. São Paulo: Paz & Terra, 2012. Livro 26 Oratória e técnicas de apresentação cação. Segundo Pimenta (2018) os professores, além dos conhecimentos específicos de sua área de atuação, precisam desenvolver competências relacionadas à comunicação, tanto aquelas ligadas à oratória, quanto as de escuta ativa. É por meio da escuta ativa que o professor pode enten- der a diversidade de experiências, vivências, capacidades e potencialida- des de seus alunos, seja na pedagogia (o ensino direcionado à formação das crianças) seja na andragogia (a educação de adultos). No contexto da pedagogia, Wilmsen, Ramos e Maciel (2021) desta- cam que cada criança entende, percebe e interpreta as informações e mensagens emitidas pelo professor no processo de educação de forma própria e individual. Para os autores (2021, p. 302), as crianças são “pro- tagonistas dos processos de conhecer”, de modo que os verbos mais presentes na prática pedagógica – falar, explicar ou transmitir – passam a ser substituídos por escutar. Os autores denominam esse novo olhar para o trabalho da educação de pedagogia da escuta. A pedagogia da escuta é uma abordagem fundamentada na ideia de que o processo da educação não se configura como uma transmissão de conhecimentos, e sim como uma construção de sentidos a partir do diálogo mediado pelo professor. Para Machado e Barbosa (2018), por exemplo, seria com base na relação com o aluno, na escuta e no diálogo que os professores colaborariam para que as crianças construíssem seu saber. Para isso, segundo os autores, a formação docentepara atuar na Educação Infantil deveria preparar melhor o profissional para utilizar a escuta ativa como ferramenta pedagógica nesta etapa do ensino. Porém, como destacam os autores, a formação de professores que atuam na educação infantil nem sempre prepara o profissional para utilizar a escuta ativa como ferramenta pedagógica. Já na andragogia, o uso da escuta ativa se torna ainda mais fundamen- tal no processo de ensino-aprendizagem. Como explica Carvalho (2017), o ensino de adultos não é baseado apenas na transmissão do conheci- mento e do saber do professor. No decorrer de sua vida, o aluno já acu- mulou experiências, informações, vivências e conhecimentos que podem ser compartilhados tanto com o professor quanto com os demais alunos. A aprendizagem, no contexto da andragogia, não é baseada na transmissão, memorização e assimilação de conteúdos, mas na cons- trução de saberes complexos que possibilitem o entendimento do con- texto no qual o adulto está inserido. Importância da escuta ativa na comunicação 27 Assim, mais do que proporcionar uma melhoria no processo de en- sino-aprendizagem, a escuta ativa é um dos pilares da educação de adultos, pois possibilita entender e compartilhar os conhecimentos de cada aluno e, a partir deles, construir novos conhecimentos na turma. Nesse sentido, o professor passa a ter um papel de tutor dos processos de comunicação que se estabelecem no ambiente de ensino, seja ele físico ou virtual. 1.5 Como desenvolver a escuta ativa Vídeo No processo de comunicação, saber escutar é uma competência tão importante quanto saber falar bem. Mas, como destaca Rubem Alves (1999), existem diversos cursos sobre oratória, sobre como falar em público, sobre como fazer apresentações ou sobre como usar a retóri- ca, mas quase nenhum material sobre como desenvolver a competên- cia de escutar. Sapucaia (2021) afirma que as pessoas estão frequentemente envol- vidas em uma paisagem sonora, composta por sons, ruídos, conversas, músicas e barulhos que não podem deixar de ouvir, pois o aparelho auditivo humano capta esses sinais de forma indistinta. Como explica Meneghello (2017), mesmo que o aparelho auditivo do ser humano registre qualquer som do meio ambiente no qual está inserido, os sons que fazem parte da paisagem sonora e que não apre- sentam nenhum significado específico são descartados pelo cérebro. De acordo com Treasure (2011), o cérebro desenvolveu uma série de mecanismos para definir os sons que são relevantes e que devem ser escutados, como mostra a Figura 6: 1 S to ck Ap pe al /S hu tte rs to ck - 2 s M ar tia l R ed / Sh ut te rs to ck - 3 8 ic on s/ Sh ut te rs to ck Figura 6 Mecanismos de seleção de sons Fonte: Elaborada pelo autor com base em Treasure, 2011. Reconhecimento de padrões 1 Diferenciação 2 Filtros 3 28 Oratória e técnicas de apresentação Ao se tomar consciência de como ocorre o processo de seleção do que está sendo ouvido e sobre as diferenças entre ouvir e escutar, é possível desenvolver formas de melhorar a competência da escuta. O mecanismo de reconhecimento de padrões permite ao cérebro identificar sons específicos, mesmo que estejam envolvidos por outros barulhos ou ruídos. Por exemplo, mesmo em um ambiente barulhen- to, como uma festa ou um evento, se o nome da pessoa for citado, o cérebro identifica esse padrão e direciona a atenção para identificar de onde veio a mensagem. Esse mecanismo também possibilita que se identifique a voz de pes- soas conhecidas ou uma música com apenas algumas notas musicais. O reconhecimento de padrões possibilita que o cérebro, mesmo que esteja recebendo outros sinais sonoros, possa se manter em alerta para identificar sons relevantes. O mecanismo de diferenciação atua de forma conjunta com o me- canismo de reconhecimento de padrões. Sons repetitivos ou monóto- nos são identificados pelo cérebro e, apesar de continuarem ativando o aparelho auditivo, são desligados pelo cérebro. Vamos fazer uma pequena experiência para demonstrar como funcio- na esse processo. Pare de fazer qualquer movimento que gere algum som ou ruído. Feche seus olhos e comece a identificar os diversos sons triviais que podem ser ouvidos neste momento. Talvez o seu computador tenha um leve som de interferências elétricas; o motor do ar-condicionado, do ventilador ou da geladeira pode estar fazendo um barulho repetitivo e monótono. Você consegue ouvir pessoas falando, carros passando, o som de algum animal? Se prestar bem atenção, pode até mesmo ouvir alguns sons de seu corpo, como sua respira- ção. Quantos desses sons você estava realmente ouvindo antes de começarmos esse exercício? Quantos você só percebeu depois que começou a prestar atenção? Na prática Esse pequeno exercício mostra como o cérebro lida com a grande quantidade de sons triviais que cercam os indivíduos e que poderiam tirar completamente sua atenção e concentração. O terceiro mecanismo de seleção de sons, apontado por Treasure (2011) são os filtros da comunicação, já discutidos na primeira parte deste capítulo. A mensagem transmitida pelo emissor, ao passar pelos filtros do receptor, pode ser compreendida de forma completamente diferente. Importância da escuta ativa na comunicação 29 Um exemplo disso pode ocorrer durante uma conversa, quando uma pessoa fala uma palavra que o interlocutor não conhece, fazendo com que ele leve alguns instantes para processar e tentar entender o sentido dessa palavra dentro do contexto da conversa. Durante esse momento, o cére- bro do interlocutor para de prestar atenção ao que está sendo dito, o que leva a perda da linha de raciocínio e de compreensão da fala. Esse tipo de problema na comunicação é muito comum quando os interlocutores do processo de comunicação apresentam diferenças culturais, de linguagem e de conhecimento específico sobre o tema. Uma forma de entender como os filtros da comunicação influenciam os processos de comunicação é buscar, durante uma conversa, mudar sua atitude em relação a um determinado filtro. Por exemplo, se você começa a conversa com uma atitude de desconfiança em relação ao interlocutor, tente adotar uma nova postura de confiança. Se sua expectativa inicial é de que a conversa será difícil ou conflituosa, tente mudar sua expectativa para uma postura de acolhimento e empatia. Se o interlocutor fala algo que se choca com suas crenças e sua primeira reação é discutir, busque adotar uma postura de respeito à alteridade e às diferenças. Na prática Outro exercício para melhorar a capacidade de escuta é buscar o silêncio. O mundo contemporâneo é ruidoso e cheio de sons que inva- dem cada momento da vida do indivíduo. Pereira (2020) destaca a im- portância de resgatar os espaços e momentos de silêncio no cotidiano, como forma de reequilibrar a capacidade de audição. Busque um ambiente silencioso ou, se possível, totalmente isolado de sons externos. Desligue seus aparelhos eletrônicos e durante alguns minutos busque se manter em silêncio. O objetivo não é meditar ou evitar pensar em algo, mas sim experimentar o silêncio. Provavelmente seu cérebro continuará ouvindo sons do ambiente, e se não for possível encontrar o silêncio absoluto, tente ao máximo se desligar dos sons externos. Crie o hábito de realizar esse exercício pelo menos uma vez por dia. Na prática Além de ajudar a recalibrar o aparelho auditivo, o exercício possi- bilita perceber a importância do silêncio no processo de comunicação. Durante uma conversa é fundamental manter o silêncio quando o inter- locutor está falando. É comum, em processos de comunicação, que os 30 Oratória e técnicas de apresentação interlocutores invadam o espaço de fala do outro, sem deixar que este conclua seu raciocínio. Pessoas mais tímidas, ao participarem de pro- cessos de comunicação com pessoas que as interrompem frequente- mente, tendem a se calar e evitar emitir suas opiniões e considerações. Manter o silêncio também possibilita descobriros interesses, as- suntos prediletos, pontos de vista e opiniões do interlocutor. O uso de perguntas direcionadas possibilita o exercício da escuta ativa. Ao per- ceber o interesse e respeito do espaço de fala, o interlocutor se sente motivado a transmitir ainda mais informações. O mundo contemporâneo é ruidoso e os indivíduos estão cons- tantemente cercados por uma paisagem sonora, que o ouvido capta de forma indistinta, como uma grande massa de ruídos e barulhos. Para Cardoso (2014, p. 72) “Os sons constroem o mundo para o ho- mem. Por que não dizer, auxiliam a criar o próprio homem. Os fluxos de ruídos passam pelo ‘ser’ e deixam nele o conhecimento, a expe- riência, o sentido.” Se é impossível fugir desta massa sonora, Treasure (2011) acredita que se deve entender cada um desses sons e ruídos que fazem parte da paisagem sonora. Uma forma de exercitar essa capacidade é tentar identificar, no ambiente em que se está, os ruídos, sons, barulhos, mú- sicas e vozes ouvidos. Em um ambiente ruidoso, com muitas pessoas e diferentes sons, tais como um restaurante, bar ou mesmo em uma rua movimentada, tente identificar cada um dos sons que compõem a massa sonora. Preste atenção nas vozes ouvidas, depois tente isolar cada uma delas e com- preender o que está sendo dito. Identifique outros sons, como talheres tocando os pratos, cadeiras sendo arrastadas ou a música ambiente, caso esteja em um restaurante. A cada som identificado, tente ouvi-lo de forma isolada, e perceba quais detalhes desse som você não havia percebido antes. Em seguida, volte a ouvir a massa sonora de forma indistinta e identifique outro som, repetindo o processo. Na prática Esse exercício que acabamos de ver ajuda a desenvolver, durante o processo de comunicação, a capacidade de identificar as diversas in- formações transmitidas pelo interlocutor. Além de prestar atenção ao que está sendo falado, a escuta ativa também envolve a identificação de mensagens transmitidas por aspectos da fala e da voz, e principal- mente, pela comunicação não verbal. Importância da escuta ativa na comunicação 31 Outro exercício para melhorar a capacidade de ouvir e escutar é identificar novos significados nos diversos sons que fazem parte do co- tidiano. Alguns deles disparam gatilhos mentais e emocionais, como uma música que remete a um momento importante da vida poder res- gatar memórias e gerar emoções. Já outros passam desapercebidos. Porém, mesmo os sons banais do cotidiano podem ser importantes e gerar sensações ou estados de espírito específicos. O som da água fervendo para fazer o café da manhã, ou o som do televisor ligado, mesmo que não se esteja assistindo a um programa, são exemplos de sons banais que embutem significados e sensações reconfortantes ou, por outro lado, desconfortáveis. No processo de escuta, exercitar a capacidade de buscar novas for- mas de ouvir os sons cotidianos ajuda a desenvolver a capacidade de identificar significados e sentidos ocultos na mensagem transmitida pelo emissor, como a escolha das palavras, a entonação do discurso ou mesmo o contexto e momento escolhidos para a comunicação. Os exercícios propostos são apenas alguns exemplos de como se desenvolver a capacidade de escuta e exercitar a escuta ativa, atitudes fundamentais para que se possa melhorar a capacidade de comunica- ção. Porém, a competência da escuta, assim como qualquer tipo de ca- pacidade que se deseja desenvolver, depende de esforço e constância de propósito. A melhor forma de desenvolver a capacidade de escutar é praticando a escuta em qualquer oportunidade que surja. O músico Aaron Attaboy McAvoy percebeu que sua máquina de lavar roupas produzia um som ritmado ao realizar o processo de lavagem. Usando o som como base rítmica, o músico grava diversas músicas, acompanhando a máquina com sua gui- tarra. Em um dos vídeos mais populares de seu canal, The Devil Went Down To Georgia White Trash Washing Machine Cover, conta com mais de 11 milhões de visualizações. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=u1hnBv12- uk. Acesso em: 25 ago. 2022. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS No mundo contemporâneo, os indivíduos estão constantemente cer- cados por uma cacofonia ruidosa. Para conviver neste mundo ruidoso, as pessoas se isolam em bolhas sonoras com seus fones de ouvidos e smar- tphones. As tecnologias da informação e da comunicação, se por um lado facilitaram a comunicação entre pessoas, empresas, organizações, socie- dades e culturas, por outro lado tornaram a comunicação fragmentada. Neste contexto, desenvolver a capacidade de escutar de forma ativa e empática se torna uma competência fundamental para a convivência nos mais diversos ambientes, como o social, profissional e educacional. https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk https://www.youtube.com/watch?v=u1hnBv12-uk 32 Oratória e técnicas de apresentação ATIVIDADES Atividade 1 Explique os elementos que fazem parte do processo de comunicação. Atividade 2 Cite, explique e dê exemplos dos tipos de canais de comunicação. Atividade 3 Qual é a diferença entre canais de comunicação unidirecionais e bidirecionais? REFERÊNCIAS ALVES, R. O amor que acende a lua. Campinas: Papirus, 1999. ARRUDA, D. P.; VIDAL, R. F. Lugar de escuta: uma proposta metodológica para a mediação de conflito. Revista Ciências Jurídicas e Sociais, v. 10, n. 1, p. 35-46, 2020. Disponível em: http://revistas.ung.br/index.php/cienciasjuridicasesociais/article/view/4355/3126. Acesso em: 25 ago. 2022. 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Por outro lado, a experiência de falar em público é uma das mais temidas pelas pessoas. Medo, ansie- dade, estresse e até mesmo sintomas físicos são algumas das emoções que podem levar uma pessoa à paralisia frente a uma plateia. Assim, o desenvolvimento da competência da oratória é fundamental para que o indivíduo esteja preparado para usar as oportunidades de fa- lar em público da melhor forma. Já a segunda parte do capítulo é dedicada a explicar o conceito da retó- rica, intimamente relacionado à oratória. Enquanto a retórica se relaciona à construção do conteúdo do discurso e das estratégias usadas para que o orador possa atingir seus objetivos, a oratória trata das ferramentas, competências e práticas necessárias para que a apresentação transmita as informações, conhecimentos, emoções e motivações do discurso. A terceira parte do capítulo aborda a importância da oralidade no processo de comunicação e mostra como, no modelo educacional adota- do no Brasil, o foco está direcionado ao aprendizado da linguagem escri- ta, o que faz com que as competências relacionadas à fala e à oralidade sejam, muitas vezes, relegadas a um segundo plano. A língua falada está em constante evolução e, assim, a oralidade se torna cada vez mais funda- mental para que os indivíduos possam conviver em sociedade. Por fim, na última parte do capítulo, o tema é a voz, ferramenta fun- damental da oratória. As técnicas de uso da voz, como entonação, ritmo, altura, volume, rapidez e dicção serão abordadas, com exemplos práticos de sua utilização pelos oradores. 36 Oratória e técnicas de apresentação Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • conhecer os conceitos básicos da oratória e seu uso em situações diversas; • compreender os conceitos de retórica e seu uso nas áreas da comunicação; • compreender os conceitos e o desenvolvimento da oralidade, da capacidade de se expressar verbalmente, dos regionalismos e neologismos; • conhecer as técnicas de dicção na comunicação oral; • discutir sobre o uso da voz na comunicação e na oratória; • assimilar os conceitos de comunicação verbal e não verbal. Objetivos de aprendizagem 2.1 Conceitos básicos da oratória Vídeo A capacidade de falar, conversar, convencer e se comunicar repre- senta uma das principais competências no mundo contemporâneo, tanto em contextos sociais, quanto educacionais e profissionais. A oratória é um dos temas mais abordados no contexto da formação de competências comportamentais em profissionais dos mais varia- dos ramos de atuação. Centenas de livros, cursos de extensão, palestras e treinamentos são disponibilizados por instituições de ensino, tendo como foco o de- senvolvimento da oratória. A palavra oratória, no contexto atual, muitas vezes remete à ideia de uma apresentação de uma pessoa para um determinado público, seja em um ambiente físico, em que o orador ocupa um púlpito, palco ou um local de destaque, e fale para a uma plateia, usando um microfone e slides projetados em uma tela, seja em um canal de comunicação como a televisão ou uma plataforma de streaming. Mas a arte da oratória não se restringe apenas a esse tipo de inte- ração ou comunicação, ela está presente em grande parte das intera- ções sociais que ocorrem entre os membros de uma sociedade. Como Oratória 37 apontava o Abade Trublet, já no ano de 1735: “Os homens estão em sociedade uns com os outros apenas pela comunicação mútua de seus pensamentos. A palavra, modificada de uma infinidade de maneiras, pela expressão do rosto, pelo gesto, pelos diferentes tons da voz, é o meio dessa comunicação” (Trublet, 1735. In: Caxito, 2009, p. 85). A capacidade de se expressar de forma clara e objetiva não é necessária apenas para os profissionais que precisam constantemente realizar exposições orais ou apresentações, como professores, pales- trantes, treinadores ou políticos. Qualquer pessoa que queira partici- par ativamente de seu grupo social, seja no trabalho, na comunidade ou na escola, precisa conhecer os conceitos e técnicas da oratória. Porém, falar em público é um dos grandes medos das pessoas. Como afirmam Marinho et. al (2019), esse temor está ligado a inse- guranças com relação à imagem, à capacidade de se expressar, à percepção negativa da própria voz e ao receio de julgamento pela plateia. Assim, muitas pessoas evitam o ato de falar em público ou de fazer uma apresentação. Em uma pesquisa realizada com alunos de cursos superiores, os auto- res identificaram que, quando se veem obrigados a realizar apresentações, muitos alunos apresentam sintomas como ansiedade, estresse, esqueci- mento do conteúdo e diversos sintomas físicos, como suor e tremores. A oratória é conceituada por Portugal; Germinari (2010), como a capacidade de usar o discurso e a fala para argumentar, com o ob- jetivo de convencer outras pessoas. Já Moreira (2020, p. 2) define a oratória como: a arte de falar em público, primeiro, porque a oratória é com- posta de métodos de comunicação e linguagens (verbais e não verbais), segundo, porque envolve nesse processo a persuasão como um ponto central, e persuadir-se a si mesmo ou alguém, é um desafio, uma arte quase teatral, cheia de entonação, expres- são, articulação, postura e empatia. O fato de que muitos autores definem a oratória como uma arte pode levar à crença de que falar em público é um dom, uma capacidade que algumas pessoas apresentam de forma inata. Porém, como qualquer competência, a capacidade de falar bem em público pode ser aprendida. O conceito de competência, segundo Chia- venato (2020) é composto por três pilares, como mostra a Figura 1: 38 Oratória e técnicas de apresentação Conhecimento: Saber • informações • formação • treinamento Fonte: Elaborada pelo autor com base em Chiavenato, 2020. Habilidade: Saber fazer • capacidade de realizar • prática • experiência Atitude: Fazer acontecer • realizar • motivação • comportamento Ma xim Ku lik ov /S hu tte rst oc k po ko ta/ Sh utt ers toc k Figura 1 Os pilares da competência Relacionando o conceito da competência com a oratória, é possível desenvolver os conhecimentos sobre o conjunto de técnicas que podem ser utilizadas para realizar um discurso ou apresentação, por meio de cursos, livros, materiais de ensino e treinamentos. Já a habilidade será conquistada com a prática. Quanto mais oportunidades e experiência o indivíduo tiver, me- lhor será sua capacidade de se expressar bem no contexto de uma apresentação. Mas para desenvolver essa habilidade, é preciso ter a atitude de querer realizar apresentações, sair de sua zona de conforto, enfrentar os medos e aprender. A importância da oratória não é um fenômeno contemporâneo. Desde as primeiras civilizações humanas, a capacidade de expor ideias e convencer sempre foi fundamental para aqueles que buscavam se destacar entre os demais membros do grupo social. Ao longo dos séculos, a arte da oratória, suas técnicas, ferra- mentas e os canais de comunicação utilizados evoluíram. O estudo da oratória sempre foi uma parte importante de diversas áreas do saber, como a filosofia, a política e a educação. No mundo contem- porâneo, o uso da oratória pode ser relacionado a quatro objetivos principais, como mostra a Figura 2: Oratória 39 Estimular a imaginação e a criatividade. Possibilitar o entendimento e a compreensão. Inspirar a determinação e incentivar a ação. Despertar ou aumentar a motivação e a paixão por um tema. Figura 2 Objetivos da oratória Ma xim Ku lik ov /S hu tterst oc k Sib eri an Ar t/S hu tte rst oc k Fonte: Elaborada pelo autor. A estrutura do discurso realizado pelo orador depende do objetivo que se pretende. Um discurso que busca estimular a criati- vidade pode usar termos ligados a imaginação, a cenários positivos e idealizados. Já um discurso feito durante um treinamento ou aula pode ter o objetivo de promover o entendimento de um conceito ou ideia. Assim, usará uma linguagem descritiva e objetiva, com exemplos e explicações. Um discurso motivacional usa palavras positivas, um tom de voz animado e uma dinâmica agitada para aumentar o interesse por um tema. Um discurso que busca inspi- rar a determinação usará uma linguagem imperativa e orientativa, com palavras de ordem que incentivam a ação. Os conceitos e técnicas da oratória estão presentes nas con- versas entabuladas entre dois interlocutores, seja em uma reunião de trabalho ou social, em uma ligação, ou em qualquer oportu- nidade na qual uma pessoa expõe suas ideias, crenças, valores, conhecimentos e experiências; conta uma história, tenta convencer alguém ou procura argumentar sobre um tema, situação ou evento. 40 Oratória e técnicas de apresentação Esses discursos eram realizados na principal praça da cidade – chamada de ágora – e era com base neles que leis, políticas e ações administrativas da cidade eram definidas. A cidade de Atenas se tornou um grande centro de estudo da oratória e da retórica. É nesse contexto que surgem os primeiros estudos sobre as técnicas da retórica e da oratória. Surgem também professores especializados em desenvolver, nos cidadãos e nos jovens das famílias mais ricas, a capaci- dade de se expressar em público, competência que passou a ser consi- derada como fundamental para a vida dos indivíduos. Conhecidos como sofistas, esses professores eram mestres na arte da retórica e da oratória. Segundo Almeida et. al (2018), a capacidade de argumentação dos sofistas mais destacados, como Protágoras e Górgias, era tão desenvolvida que eles poderiam convencer a audiência a chegar a uma conclusão falsa ou errada, mesmo usando argumentos formalmente válidos, a partir de fatos verdadeiros. O termo sofista passou a ter um sentido negativo, como alguém que usa sua capacidade de oratória para ludibriar o público. Como destacam Almeida et. al (2018, p. 3): os sofistas foram intensamente criticados por filósofos da época, tais como Sócrates, e perderam gradativamente o prestígio, sendo no século XIX incorporadas concepções a esse respeito de maneira a deslegitimar o trabalho dos mestres da retórica e da oratória, gerando uma espécie de preconceito histórico. Aristóteles (2019), um dos principais filósofos gregos, dedicou uma de suas principais obras à arte da oratória e da retórica. Composta por três li- vros, a obra sobreviveu aos séculos e ainda hoje é leitura fundamental para aqueles que buscam conhecer os conceitos fundamentais da oratória. No primeiro livro da obra, o filósofo se debruça sobre a estrutura do discurso, tomando como ponto de vista o emissor da mensagem. Faz uma crítica aos sofistas, que concentravam seus ensinamentos nos meios de persuasão e convencimento, sem levar em consideração outros elementos da oratória. Segundo Yamin (2016), Aristóteles propõe que existem três gêneros diferentes de discurso, cada um deles com estruturas, formas e objeti- vos distintos, como mostra a Figura 3: Um exemplo da oratória judiciária, o vídeo Tribunal do Júri defesa criminal por Rodrigo Stochiero. Medo. Legítima defesa, do canal Rodrigo Stochiero, mostra o discurso de um advoga- do no tribunal do júri da cidade de Campo Grande, no ano de 2019. Diversas técnicas de oratória, como o uso de modulações da voz e comunicação não verbal, são usados pelo orador para defender a sua tese. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=5boy- 2TPfiwo&t=123s. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo O vídeo Discurso de posse do presidente Kennedy - editado e legendado em português, do canal Marcos Marinho, traz o discurso de posse do 35º presidente americano. Realizado no ano de 1961, o discurso marca um momento no qual o mun- do passava por tensões políticas, causadas pela guerra fria entre os EUA e a URSS. Kennedy fala de forma apaixonada, conclamando os cidadãos americanos a se unir para incentivar o crescimento do país. Sua frase mais significativa mostra esse objetivo: “Por isso, meus compatriotas, não perguntem o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país”. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=h- O7G78ftPg. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo 2.2 Retórica e argumentação Vídeo Os conceitos de oratória e retórica são intimamente relacionados. A retórica está relacionada à arte de construir argumentos sólidos, que usem a lógica e estruturas claras e bem referenciadas, que incluem tanto aspectos emocionais quanto racionais. A oratória pode ser entendida como a arte de falar bem em público, ou seja, o uso de técnicas, ferramentas e competências relacionadas à capacidade de comunicação verbal e não verbal para realizar um discurso eloquente, que transmita de forma adequada a informação à plateia. Já a retórica pode ser entendida como a arte de falar bem, seja qual for o contexto no qual ocorre o processo de comunicação. Esses dois conceitos são complementares, pois um discurso com boa retórica, ou seja, bem construído, com referenciais teóricos sólidos e estru- tura lógica, mas que seja apresentado por alguém que não tenha a com- petência da oratória, pode não alcançar o objetivo de convencer a plateia. Por outro lado, um bom orador, que saiba utilizar bem as técnicas de apresentação, mas que faz um discurso vazio e sem sentido, pode até iludir uma parte da plateia, mas não conseguirá convencer aqueles que tem a capacidade de analisar o conteúdo da fala. O estudo e a prática da retórica e da oratória como uma arte ou técnica estão presentes na história humana desde o desenvolvimento das primei- ras civilizações. Segundo Portugal; Germinari (2010), a retórica e a oratória já eram ensinadas nas civilizações gregas e romanas na Idade Antiga. Nes- sas sociedades, eram consideradas competências fundamentais para a formação do cidadão, habilitando-o a assumir posições na gestão pública. Por volta do século V a.C., o modelo de governo adotado na cidade- -estado de Atenas era baseado, segundo Barth et. al (2021), no poder da elite aristocrática. O fortalecimento do poder econômico das classes ligadas ao comércio levou ao surgimento de uma nova forma de gover- no: a democracia. Nessa nova forma, todos os indivíduos considerados como cidadãos atenienses tinham o direito de expressar suas ideias, propostas e convicções sobre a gestão da cidade. https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg Oratória 41 Esses discursos eram realizados na principal praça da cidade – chamada de ágora – e era com base neles que leis, políticas e ações administrativas da cidade eram definidas. A cidade de Atenas se tornou um grande centro de estudo da oratória e da retórica. É nesse contexto que surgem os primeiros estudos sobre as técnicas da retórica e da oratória. Surgem também professores especializados em desenvolver, nos cidadãos e nos jovens das famílias mais ricas, a capaci- dade de se expressar em público, competência que passou a ser consi- derada como fundamental para a vida dos indivíduos. Conhecidos como sofistas, esses professores eram mestres na arte da retórica e da oratória. Segundo Almeida et. al (2018), a capacidade de argumentação dos sofistas mais destacados, como Protágoras e Górgias, era tão desenvolvida que eles poderiam convencer a audiência a chegar auma conclusão falsa ou errada, mesmo usando argumentos formalmente válidos, a partir de fatos verdadeiros. O termo sofista passou a ter um sentido negativo, como alguém que usa sua capacidade de oratória para ludibriar o público. Como destacam Almeida et. al (2018, p. 3): os sofistas foram intensamente criticados por filósofos da época, tais como Sócrates, e perderam gradativamente o prestígio, sendo no século XIX incorporadas concepções a esse respeito de maneira a deslegitimar o trabalho dos mestres da retórica e da oratória, gerando uma espécie de preconceito histórico. Aristóteles (2019), um dos principais filósofos gregos, dedicou uma de suas principais obras à arte da oratória e da retórica. Composta por três li- vros, a obra sobreviveu aos séculos e ainda hoje é leitura fundamental para aqueles que buscam conhecer os conceitos fundamentais da oratória. No primeiro livro da obra, o filósofo se debruça sobre a estrutura do discurso, tomando como ponto de vista o emissor da mensagem. Faz uma crítica aos sofistas, que concentravam seus ensinamentos nos meios de persuasão e convencimento, sem levar em consideração outros elementos da oratória. Segundo Yamin (2016), Aristóteles propõe que existem três gêneros diferentes de discurso, cada um deles com estruturas, formas e objeti- vos distintos, como mostra a Figura 3: Um exemplo da oratória judiciária, o vídeo Tribunal do Júri defesa criminal por Rodrigo Stochiero. Medo. Legítima defesa, do canal Rodrigo Stochiero, mostra o discurso de um advoga- do no tribunal do júri da cidade de Campo Grande, no ano de 2019. Diversas técnicas de oratória, como o uso de modulações da voz e comunicação não verbal, são usados pelo orador para defender a sua tese. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=5boy- 2TPfiwo&t=123s. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo O vídeo Discurso de posse do presidente Kennedy - editado e legendado em português, do canal Marcos Marinho, traz o discurso de posse do 35º presidente americano. Realizado no ano de 1961, o discurso marca um momento no qual o mun- do passava por tensões políticas, causadas pela guerra fria entre os EUA e a URSS. Kennedy fala de forma apaixonada, conclamando os cidadãos americanos a se unir para incentivar o crescimento do país. Sua frase mais significativa mostra esse objetivo: “Por isso, meus compatriotas, não perguntem o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país”. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=h- O7G78ftPg. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=5boy2TPfiwo&t=123s https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg https://www.youtube.com/watch?v=h-O7G78ftPg 42 Oratória e técnicas de apresentação Figura 3 Os gêneros do discurso Fonte: Elaborada pelo autor com base em Aristóteles, 2019. Judiciário Deliberativo Epidíctico bs d s tud io/ Sh utt ers toc k Ma xim Ku lik ov /S hu tte rst oc k tin i01 4/ Sh utt ers toc k O discurso judiciário é aquele usado nos tribunais, tendo como objetivo principal a acusação ou defesa de um determinado cidadão ou indivíduo. É, ainda hoje, um dos mais destacados ramos da oratória e da retórica, sendo utilizado por advogados, promotores e juízes. Já o discurso deliberativo era usado – no período no qual o filósofo escreve sua obra – nas discussões desenvolvidas na Assembleia ou Senado, com o objetivo de convencer os demais cidadãos da cidade. É a base da oratória hoje utilizada por políticos, que usam discursos inflamados e emocionais para convencer a população de suas ideias. Por fim, o discurso epidíctico – segundo Guedes (2014) – era utiliza- do nas discussões pessoais ou públicas, nas quais o orador usa elogios, censura, críticas e exemplos para apresentar suas ideias e fazer com que o público analise, reflita, ou mude de opinião sobre um tema. É a base da oratória usada por líderes religiosos ou comunitários. No contexto atual, além dos tipos ou gêneros de oratória descritos por Aristóteles, pode se identificar um quarto tipo: a chamada oratória pedagógica, como mostra a Figura 4: Figura 4 Principais tipos de oratória Fonte: Elaborada pelo autor. Oratória política Oratória religiosa Oratória forense Oratória pedagógica Ja ni s Ab ol in s/ Sh ut te rs to ck ch ru pk a/ Sh ut te rs to ck Le _M on /S hu tte rs to ck M ax im K ul ik ov /S hu tte rs to ck M AK SI M A NK UD A/ Sh ut te rs to ck A oratória pedagógica tem por objetivo o desenvolvimento das ações e estratégias de ensino-aprendizagem. Tradicionalmente, ela era desenvolvida em salas de aulas presenciais ou palestras, mas, com o Uma das mais atuantes ativistas ambientais da atualidade, Greta Thun- berg coloca diversas emo- ções, como raiva, angústia e indignação em suas falas. O vídeo Discurso na íntegra de Greta Thunberg nas Nações Unidas, do canal ONU News, traz o discurso realizado por ela na abertura da Cúpula so- bre Ação Climática, no ano de 2019. A jovem, com apenas 16 anos na época, usa os recursos da orató- ria para criticar políticos, empresários e capitalistas pelos impactos negativos da ação humana sobre o meio ambiente. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=mbnRv81s_9Q. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=mbnRv81s_9Q https://www.youtube.com/watch?v=mbnRv81s_9Q https://www.youtube.com/watch?v=mbnRv81s_9Q Oratória 43 desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, a oratória pedagógica – assim como os demais tipos de oratória – passou por uma profunda transformação, e pode usar meios de comunicação como transmissões ao vivo via streaming, vídeos pré-gravados, áudios e outras plataformas. O segundo livro da obra de Aristóteles é dedicado a discutir a retórica a partir do ponto de vista do receptor da mensagem. Segundo Silva (2010) o filósofo mostra como as emoções, sentimentos e motivações do indiví- duo interferem no entendimento do discurso e da mensagem. As diversas emoções detalhadas por Aristóteles são apresentadas no Quadro 1: Quadro 1 As emoções da plateia Emoção Características Como pode ser usada pelo orador Ira Dor, vexame, insatisfação Criar sensação de vingança. Incitar ação contra um adversário. Calma Paz, prosperidade, justiça Pacificar a plateia, colocar os ouvintes em estado de bem-estar. Amizade Amor, empatia, lealdade Fazer com que a plateia entre em sintonia uns com os outros. Inimizade Benefício próprio, cólera Incitar a plateia contra uma pessoa ou grupo de pessoas. Temor Medo, perigo, perturbação Levar a plateia a acreditar que algo muito ruim pode acontecer. Confiança Certeza, tranquilidade, paz Mostrar que os riscos e situações negativas estão sob controle. Vergonha Perturbação, constrangimento Julgar. Mostrar que ações negativas geram consequências. Desvergonha Desprezo, insensibilidade Incitar o preconceito contra pessoas ou grupos sociais. Amabilidade Piedade, empatia, gratidão Motivar a postura de ajuda ao próximo. Incentivar a empatia. Piedade Pena, compaixão Motivar a postura de ajuda àqueles que sofrem uma injustiça. Indignação Revolta, sensação de injustiça Unir contra situação ou pessoa que adota uma postura injusta. Inveja Ambição, injustiça, comparação Criar imagem de que alguém não merece a posição que alcançou. Incitar a plateia contra uma pessoa de destaque. Emulação Competitividade, disputa Mostrar que todos podem alcançar seus objetivos, comparar a situação de cada um com um modelo ou pessoa bem-sucedida. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Aristóteles, 2019. 44 Oratória e técnicas de apresentação É possível observar as diversas emoções e as estratégias de construção de discurso apontadas por Aristóteles nos oradores contemporâneos. Emoções como ira,inimizade, temor e desvergonha são bastante exploradas por políticos, especialmente aqueles que ado- tam posturas mais radicais e extremas. Calma, amizade, confiança, amabilidade e piedade são emoções que os oradores religiosos utilizam com frequência em seus discursos. Já oradores que representam grupos sociais, comunitários ou culturais usam a indig- nação nos discursos. A emulação é a base dos discursos de autoajuda e de motivação. O terceiro livro da obra de Aristóteles dedica-se à retórica, tendo como foco a estrutura do discurso e a mensagem. O filósofo aborda a importância da clareza de ideias, da correta dicção e uso da voz, ritmo e das técnicas da oratória para que o discurso atinja seus objetivos. Para Aristóteles (2019), o discurso é dividido em três diferentes elementos. O ethos está relacionado à figura do orador, seu conhe- cimento e sua capacidade de transmitir credibilidade e gerar empatia na plateia. No mundo contemporâneo, o ethos pode ser relacionado à marca pessoal construída pelo orador. Um professor, em geral, trans- mite credibilidade ao público, pois seu discurso está sedimentado em um sólido referencial teórico e seu conhecimento é reconhecido pelos órgãos e institutos que o credenciaram a atuar na profissão. Por outro lado, oradores que realizam discursos políticos nem sempre transmitem total credibilidade ao público, e suas motivações, dados e argumentos podem ser questionados por parte da plateia. O segundo elemento do discurso é o páthos, que para Galinari (2011), está relacionado ao conteúdo subjetivo, emocional e motivacio- nal do discurso, que deve não apenas convencer a plateia, mas desper- tar sentimentos como compaixão, medo, empatia ou paixão, levando-a a tomar uma ação efetiva. Por fim, o logos é um último elemento do discurso, segundo Aris- tóteles (2019), e está relacionado aos referenciais teóricos, à base de conhecimento e à estrutura lógica do discurso. Os pontos a serem de- fendidos ou questionados pelo discurso devem ser claros e apresen- tados em uma sequência lógica, para que a plateia possa entender o encadeamento das ideias. Obra fundamental para o estudo da oratória, o livro Retórica é escrito por ninguém menos que Aris- tóteles, um dos principais filósofos gregos e discípulo de Platão. Apesar de não ser um orador, Aristóteles faz uma profunda análise dos componentes do discurso e das técnicas da oratória. Traz conceitos fundamentais sobre o tema, e se mantém uma leitura atualizada e relevante no mundo contemporâneo. ARISTÓTELES. 1 ed. São Paulo: Edipro, 2019. Livro Oratória 45 2.3 Oralidade O acelerado desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, especialmente a internet, as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas, transformou os processos de comunica- ção nos diversos contextos do cotidiano dos indivíduos, como o profis- sional, social e educacional. A facilidade com que as informações são geradas, transmitidas e compartilhadas impactou a própria forma como as pessoas se comu- nicam. Uma das características que podem ser observadas, nesse con- texto, é uma valorização da fala e da oralidade. Vídeos postados em canais da internet e podcasts substituíram os jornais impressos. Mensagens de áudio ocuparam o espaço de cartas e dos e-mails. Audiolivros são cada vez mais utilizados por alunos e pessoas que buscam aprender novas competências. Como destaca Furst (2017), a linguagem usada nas comunicações cotidianas é predominantemente oral. Seja na escola, no trabalho ou em situações sociais, os indivíduos constantemente se encontram em situações nas quais precisam realizar apresentações, defender suas opiniões e convicções frente a um público ou a um grupo, apresentar trabalhos, resultados, participar de entrevistas ou de reuniões. Em todos esses contextos, a oralidade ocupa um papel central no processo de comunicação. A oralidade e a palavra falada antecedem a escrita; é a partir da comunicação oral que se desenvolveu a escrita. Furst (2017) destaca o fato de que, das cerca de quase três mil línguas faladas atualmente no mundo, apenas uma centena conta com um pa- drão de escrita e gramática organizada a ponto de possibilitar o desen- volvimento de uma literatura. Durante a leitura de um texto, ele é traduzido para a comunicação oral, e mesmo ao ler um texto sem vocalizá-lo, a pessoa “ouve” as pala- vras em sua mente, transformando os sinais gráficos da escrita em som. Apesar do papel central da oralidade na comunicação, o processo educacional brasileiro é baseado no desenvolvimento da linguagem e da comunicação escrita. Como destacam Nogueira; Faria (2013, p. 1): Vídeo Para o filósofo, as três partes ou elementos do discurso precisam ser coesos e bem relacionados, para que o orador atinja seus objetivos. 46 Oratória e técnicas de apresentação Mesmo com as atuais discussões acerca da necessidade de se reavaliar o processo de ensino e aprendizagem de Língua Por- tuguesa decorre há vários decênios, as unidades escolares per- sistem em desenvolver as aulas de Língua Portuguesa pautadas essencialmente na produção escrita, desincentivando a expres- são oral do aluno, condição de irrefutável relevância para sua interação social. A própria forma como o meio acadêmico se refere aos processos de aprendizagem da linguagem remetem à centralidade da comuni- cação escrita na educação. Como destacam Oliveira; Silva (2021), os termos alfabetização e letramento embutem em si o conceito de que para aprender a linguagem, é preciso dominar e conhecer os símbolos, letras, regras e a gramática da língua escrita. Ou seja, ser alfabetizado ou ser letrado é aprender a codificar a comunicação oral em escrita e, também, saber decodificar um texto. Para Furst (2017), a valorização da oralidade no ensino tem ganhado mais destaque nos últimos anos, especialmente a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que orientam o desen- volvimento dos conteúdos e metodologias a serem desenvolvidos pelas escolas. O documento reafirma a importância do desenvolvi- mento de todas as modalidades da comunicação como ocorrem nos contextos cotidianos do aluno, tendo a oralidade e a escuta tanta importância quanto a escrita e a leitura: Dada a importância da linguagem na mediação do conhecimento, é atribuição de todas as áreas, e não só da de Língua Portu- guesa, o trabalho com a escrita e a oralidade do aluno no que for essencial ao tratamento dos conteúdos. [...] O exercício do diálogo na explicitação, contraposição e argumentação de ideias é fundamental na aprendizagem da cooperação e no desenvolvimento de atitudes de confiança, de capacidade para interagir e de respeito ao outro. (BRASIL, 1998, p. 41) O ensino da oralidade no contexto escolar embute ainda outro desafio. Enquanto as regras da língua escrita, mais formais e rígidas, evoluem de forma lenta e controlada pelos acordos ortográficos e ou- tras normas, a língua falada está em constante mutação e evolução. Gírias, novos termos e neologismos são constantemente criados e pas- sam a ser usados por grupos, parcelas da população ou até mesmo pela totalidade dos falantes da língua. Oratória 47 Boudens (2017) analisa o impacto da internet e das redes sociais sobre a linguagem falada pelos jovens alunos dos ensinos básico e fundamental. Segundo a autora, os nativos digitais – isto é, os indiví- duos que nasceram após a popularização da internet e dos telefones celulares – aprenderam a se comunicar a partir das interações com o meio digital. Para a autora, é um novo dialeto que surge: o internetês. Assim, a comunicação oral desses indivíduos é marcada por carac- terísticas relacionadas ao meio digital. Como explicam Sousa; Lima (2020), o internetês é repleto de termos em outras línguas, frases e palavras abreviadas, siglas, uso de sinais de pontuação repetidos, gírias e símbolos. Esses últimos surgem, são usados, se tornam recorrentes e – coma mesma rapidez – deixam de ser utilizados. A língua falada, que historicamente sempre evoluiu e mudou, passou a ser ainda mais viva. Além de mudar a forma como os indivíduos se comunicam oralmente, o internetês também é cada vez mais utilizado na linguagem escrita. Empresas usam frases com as características desse novo diale- to em suas comunicações de marketing, como forma de estabelecer um vínculo emocional com os jovens. Blogs, sites e livros voltados a esse público passam a transcrever, para os textos, a forma de falar e de construir frases típicas da internet. Até mesmo nas salas de aula e nos planos de ensino dos professores, a linguagem formal começa a passar por transformações. Para Boudens (2017, p. 1896): essa linguagem, em virtude de apresentar estruturas diferentes da língua portuguesa na variedade culta, ainda divide opiniões no cenário educacional: alguns professores defendem que ela atrapalha e que prejudica a escrita dos alunos, enquanto outros julgam pertinente reconhecer o valor linguístico dela. De fato, não se pode negar o uso dessa linguagem e muito menos fingir que ela não existe. Apenas tecer críticas negativas ao “internetês” não vai fazê-lo deixar de ser utilizado. A constante evolução da linguagem falada mostra a importância da oralidade nos diversos contextos da vida cotidiana. O desenvolvimento da capacidade de se expressar oralmente é fundamental para que os indivíduos possam atuar em sociedade e ocupar espaços sociais, pro- fissionais e educacionais. No vídeo Rodrigo Maia fala sobre o internetês, a língua da internet, do canal Record News, o professor de português Rodrigo Maia fala sobre a influência da internet e das redes sociais no desenvolvimento de novas palavras e formas de alfabetização de crianças e adolescentes. O professor mostra exemplos de mensa- gens, palavras e frases usadas nos aplicativos de mensagens e aborda a adequação da linguagem com o contexto no qual está sendo utilizada. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=pCVAgXE5_cE. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=pCVAgXE5_cE https://www.youtube.com/watch?v=pCVAgXE5_cE https://www.youtube.com/watch?v=pCVAgXE5_cE 48 Oratória e técnicas de apresentação 2.4 Dicção Vídeo Um importante elemento da oratória é a dicção, que pode ser conceituada como a forma com que o indivíduo articula e pronuncia as palavras durante a fala. Segundo Behlau, Pontes e Moreti (2018), a dicção está relacionada tanto a fatores físicos, como a saúde e as es- truturas dos órgãos fonadores, quanto a fatores culturais, regionais e educacionais, como sotaques, desenvolvimento da oralidade, extensão do vocabulário e conhecimento da língua. Fatores psicológicos, como estresse, ansiedade, raiva ou tristeza também podem afetar, de forma temporária, a dicção de uma pessoa. Do ponto de vista físico, diversos órgãos estão relacionados à dicção. Lábios e língua são os mais diretamente relacionados à capacidade de fala, mas outras estruturas, como a arcada dentária e o palato, podem interferir na dicção. Por exemplo, uma afta, ou seja, uma ferida na língua ou nas bochechas, segundo Boraks (2009), pode mudar completamente a dicção de algumas palavras. Da mesma forma, o uso de um aparelho ortodôntico ou a retirada de um dente podem interferir na capacidade do indivíduo pronunciar corretamente determinadas sílabas. Já do ponto de vista cultural ou regional, como explica Hoepfner (2018), o desenvolvimento da fala e da oralidade, na criança, é marcado por fatores como o sotaque e o nível de desenvolvimento do vocabu- lário. No sotaque dos nativos do estado de Minas Gerais, por exemplo, muitas palavras, letras e sílabas são aglutinadas, formando novas pala- vras ou excluindo sílabas ou terminações. O sotaque do Estado de São Paulo, principalmente nas cidades do interior, é marcado pelo uso da consoante “R” de forma arrastada, enquanto no Rio de Janeiro é a con- soante “S” que ganha destaque. Os sotaques brasileiros são tão claramente definidos que po- dem ser identificados até mesmo por sistemas de informações e inteligências artificiais. Tostes et. al (2021) desenvolveram um apli- cativo que consegue identificar, a partir de áudios, a região na qual o falante foi educado. Oratória 49 De acordo com Lima (2018), problemas de dicção, principalmente aqueles relacionados à fatores físicos, podem surgir logo nos primeiros anos do desenvolvimento da oralidade na criança. Se não forem adequa- damente tratados, podem gerar problemas de fala na idade adulta que, para serem sanados, dependerão de muito mais esforço e dedicação. Muitos indivíduos não têm consciência de seus problemas de dicção, principalmente aqueles relacionados a fatores culturais, pois convi- vem com pessoas que apresentam as mesmas características de fala. Somente quando são colocados em uma situação na qual precisam exer- citar a oratória, como uma apresentação, uma palestra ou a gravação de um vídeo, que percebem os impactos dos problemas de dicção sobre a capacidade de transmitir adequadamente uma mensagem. Dentre os problemas mais comuns de dicção, Santos; Oliveira (2016) citam a inversão de letras (como a troca da letra “R” pela letra “L” em problema/ploblema), a inclusão de letras, sílabas ou fonemas nas palavras (como nós/nois, advogado/adevogado), a omissão de letras (em especial da letra “S” como indicadora do plural no final da palavra) e a pronúncia equivocada de determinadas palavras, como mostra o Quadro 2: Quadro 2 Palavras pronunciadas na oralidade. Como são pronunciadas Pronúncia de acordo com a norma padrão Asterístico Asterisco Beneficiente Beneficente Bicabornato Bicarbonato Célebro Cérebro Estrupo Estupro Indiota Idiota Iorgute Iogurte Menas Menos Metereologia Meteorologia Mortandela Mortadela Previlégio Privilégio Seje Seja Sombrancelha Sobrancelha Tauba Tábua Trabisseiro Travesseiro Fonte: Elaborado pelo autor. 50 Oratória e técnicas de apresentação A boa dicção é fundamental para a comunicação, especialmente na oratória, pois possibilita que os interlocutores compreendam a mensagem e ajuda na construção da imagem pessoal do orador, ao transmitir segurança, boa cultura e credibilidade. Alguns exercícios e treinamentos podem ser utilizados para melhorar a dicção. Gravar a própria voz fazendo um discurso, lendo um texto ou falando normalmente durante uma conversa possibilita identificar e to- mar consciência dos possíveis problemas de fala e de pronúncia. A partir dos problemas identificados na fala, é possível utilizar exercícios específicos para melhorar a dicção. Caso se identifique, por exemplo, um problema de pronúncia de determinadas palavras, um sotaque exagerado que dificulte a compreensão das palavras ou o uso de uma muleta verbal (a repetição de palavras ou expressões, como “né”, “assim”, “tipo”), a pessoa pode tentar refazer o discurso tomando o cuidado de evitar esses problemas. Atuo como treinador e palestrante desde o ano de 2000 e como professor universitário desde 2005. Sou nascido em Minas Gerais e, por ter vivido em vários estados diferentes, considerava que meu sotaque mineiro não era muito perceptível. Ao gravar minha primeira videoaula, no ano de 2007, percebi como usava com muita frequência a aglutinação de palavras e sílabas e a omissão de letras, típicas do sotaque mineiro. Também percebi o uso exagerado da muleta verbal “né”, no final de cada frase. A partir dessa experiência, busquei um fonoaudiólogo para melhorar minha dicção, ainda hoje o sotaque é perceptível, mas melhorei muito a pronúncia das palavras. Exemplo O uso de exercícios conhecidos como trava línguas é uma ótima for- ma de melhorar a dicção e a pronúncia das palavras. Esse tipo de exercí- cio, composto de frases que utilizam fonemas difíceis de serem falados rapidamente, possibilita desenvolver a capacidade de articulação da fala. São exemplos de exercíciostrava línguas: • Atrás da pia tem um prato, um pinto e um gato. Pinga a pia, para o prato, pia o pinto e mia o gato. • A vaca malhada foi molhada por outra vaca molhada e malhada. • O veio Veiga vende aveia. • Seja sua sucessão de sucessos sucessivos. • O princípio principal do príncipe principiava principalmente no princípio principesco da princesa. Oratória 51 A prática da leitura em voz alta, articulando bem as palavras e as consoantes, é outra ferramenta que ajuda na melhoria da dicção. Essa leitura pode ser feita de forma mais lenta, para que cada palavra seja lida de forma correta, evitando aglutinações ou erros de pronúncia. A leitura também ajuda na melhoria do vocabulário, tornando a fala mais rica e expressiva. Questões de postura e de respiração também podem interferir na dicção. A correta respiração, principalmente em palestras e apresen- tações, é fundamental para manter o ritmo, a prosódia, o volume e o timbre da voz. Ao ficar ansiosa, durante a fala, a pessoa pode ficar ofegante e realizar paradas e cortes inadequados nas frases. A respiração também está ligada a questões posturais. A posição do orador pode ter grande impacto sobre o controle da respiração e da voz. Ao ficar em pé, é possível controlar melhor o diafragma, o que possibilita usar a voz de forma mais firme e segura. Ao se sentar, o orador perde sua liberdade de movimentos e tem sua respiração dificultada. Uma postura ereta, ao se sentar, pode ajudar a manter o controle da respiração. Os exercícios recomendados devem ser realizados com frequência e regularidade, como forma de melhorar a dicção e a pronúncia das palavras. Já nos momentos que antecedem uma apresentação ou discurso, outros exercícios podem ajudar o orador a relaxar e se concentrar. O relaxamento da voz pode ser feito com a repetição de palavras, a emissão de ruídos que forcem a vibração das cordas vocais. Um exemplo desse tipo de exercício é fechar as narinas usan- do os dedos e, ao mesmo tempo, emitir um som semelhante a um zumbido de um inseto, durante alguns segundos. A vibração causa- da pelo som na boca, língua e garganta ajuda a relaxar as estruturas dos órgãos fonadores. Outro exercício recomendado por fonoaudiólogos é fazer movimentos faciais, como caretas, abrir e fechar a boca de forma exagerada e falar trava línguas ou frases complexas e rimas. Esse exercício destrava os músculos usados na pronúncia e ajuda na arti- culação da fala. Realizar gargarejos apenas com água também ajuda a limpar a garganta e preparar as cordas vocais para o exercício da fala. Pessoas que farão apresentações ou discursos com frequência, como professores, treinadores, palestrantes, advogados ou políticos, podem buscar a ajuda de um profissional da fala, como um treinador 52 Oratória e técnicas de apresentação vocal ou um fonoaudiólogo. É um investimento seguro para aqueles que querem desenvolver tanto sua capacidade de oratória quanto me- lhorar o uso da voz. 2.5 Ferramentas da voz Vídeo Na oratória, a competência de usar a voz da forma adequada a cada momento do discurso é fundamental. Treasure (2011) afirma que a voz é um poderoso instrumento quando se pretende expor ideias, valores, posições, com o objetivo de convencer uma ou mais pessoas. Para o autor, uma série de ferramentas possibilita o uso da voz de forma mais efetiva nos processos de comunicação, especialmente na oratória, como mostra a Figura 5: Figura 5 As ferramentas da voz Fonte: Elaborada pelo autor com base em Treasure, 2011. ProsódiaTimbreRegistro Ritmo Volume Go od S hr ek /S hu tte rs to ck Ko ro si F ra nc oi s- Zo lta n/ Sh ut te rs to ck ek le r/ Sh ut te rs to ck O registro está relacionado aos tipos de vozes, tais como falsete (um registro de voz mais agudo) e baixo (o registro mais grave). No can- to lírico, segundo Cruz e Loureiro (2020) as vozes são classificadas em diversos tipos: baixo, barítono e tenor, mais comumente observadas em homens; e soprano, mezzo e contralto, geralmente encontradas em vozes femininas. O falsete é um registro ainda mais agudo, que normal- mente é usado durante breves momentos, no canto e na fala. O registro é uma característica específica da voz de cada pessoa, mas pode ser trabalhado com exercícios de fonoaudiologia. Novaes (2022) explica que é possível, com o treinamento adequado, alternar entre aquilo que chama de voz de cabeça, que gera um som mais leve e brilhante, e a voz de peito, que tem um registro mais denso e em geral mais grave. Para a autora, a voz de cabeça, por ser usada mais frequentemen- te na fala, é mais natural. Já a voz de peito é chamada pela autora de voz fingida, pois transmite a impressão de ser empostada e forçada. Oratória 53 Já para Treasure (2011), no contexto da oratória, vozes mais graves transmitem mais segurança, e passam uma sensação de credibilidade, poder e autoridade, envolvendo a plateia, enquanto vozes mais agudas podem transmitir fragilidade e insegurança. Outra ferramenta da voz é o timbre, que está relacionado à percepção da voz do orador pelo ouvinte. Pereira (2012) compara o timbre da voz à cor de um objeto e explica que o timbre transmite a emoção do orador. Através da modulação da voz, entonação, dicção e pronúncia de consoantes e vogais, o timbre pode transmitir emoções como tristeza, alegria, raiva e medo. Treasure (2011) afirma que os ouvintes preferem vozes ricas, suaves e carregadas de emoção. A próxima ferramenta da voz, segundo Treasure (2011), é a prosódia, o que o autor chama de melodia da voz. De acordo com Silveira (2018), a prosódia é uma parte do estudo da gramática relacionada ao uso da entonação, acento, ritmo, intensidade e duração durante a fala. Um orador que sabe usar a prosódia faz um discurso melodioso, em que alterna o tom da voz, destaca palavras e fonemas específicos para chamar a atenção para um ponto ou ideia, acelera ou retarda o ritmo, aumenta e diminui a intensi- dade, de acordo com o texto e a impressão que deseja passar. Na oratória, o contrário da prosódia é o discurso monotônico, ou seja, quando o orador usa sempre o mesmo tom, ritmo, altura e intensidade durante o discurso. Discursos monótonos são cansativos e pouco interes- santes. A constância do ritmo e da altura da voz, sem as variações trazidas pela prosódia, diminuem o interesse da plateia e distraem a atenção. O ritmo é uma ferramenta que pode ser usada, durante o discurso, para destacar ideias centrais que o orador deseja salientar. Um rit- mo de fala mais rápido e acelerado traz uma sensação de empolga- ção e anima a plateia. Por outro lado, como destaca Treasure (2011), as pausas e o silêncio dão peso a uma afirmação e criam espaços no discurso para que a plateia possa refletir sobre um determinado ponto. Assim como ocorre com a prosódia, o orador deve variar o ritmo de sua fala para criar um dinamismo na apresentação. Uma fala sempre acelerada, como a utilizada pelos locutores de corridas de cavalo, pode ser engraçada e interessante por alguns minutos, mas é cansativa e não possibilita que a plateia compreenda e reflita sobre o que está sendo dito. Por outro lado, uma fala arrastada e lenta pode dispersar a atenção da plateia. Um dos mais conhecidos e premiados atores ameri- canos, Morgan Freeman emprega sua voz grave e melodiosa como narrador de documentários. A profundidade do registro da voz do ator transmite serenidade e seriedade à narração, por isso, Freeman é constante- mente convidado para atuar como apresenta- dor de programas que abordam temas religiosos ou filosóficos, como no vídeo Trailer: A História de Deus, do canal National Geographic Brasil, que traz uma prévia de um documentário produzido pelo canal. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=P8T_ RqcwgBE. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo Martin Luther King Jr. foi um dos mais destacados líderes do movimento de luta pelos diretos civis nos EUA. No vídeo Eutenho um discurso de sonho de Martin Luther King .Jr HD (subtitulado) (Remasterizado) é possível observarmos a prosódia de King, uma das razões da qualidade do discurso, que alterna pausas e silêncios com momentos de grande intensidade vocal. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=vP4iY1TtS3s. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=P8T_RqcwgBE https://www.youtube.com/watch?v=P8T_RqcwgBE https://www.youtube.com/watch?v=P8T_RqcwgBE https://www.youtube.com/watch?v=vP4iY1TtS3s https://www.youtube.com/watch?v=vP4iY1TtS3s https://www.youtube.com/watch?v=vP4iY1TtS3s 54 Oratória e técnicas de apresentação Já o volume está relacionado à altura ou quantidade de decibéis alcançados pela voz. Locutores que trabalham em lojas de varejo ou supermercados, ou em festas como rodeios e exposições, costumam falar em voz alta, mesmo usando aparelhos amplificadores da voz, como microfones e caixas de som. Aumentar o volume da voz em uma determinada frase ou momento pode chamar a atenção da plateia, destacar uma ideia ou gerar comoção. Porém, um discurso falado total- mente em alto volume, quase aos gritos, é irritante e cansativo. Por outro lado, abaixar o volume da voz ao fazer uma pergunta ou afirmação, principalmente se este momento é seguido de uma pequena pausa ou silêncio, pode dar peso e levar a plateia a refletir sobre o que está sendo dito. A capacidade de utilizar as diversas ferramentas da voz não trans- forma, isoladamente, um indivíduo em um bom orador. Outros ele- mentos, como a retórica, o conhecimento do tema, a capacidade de estabelecer uma relação de empatia com a plateia e a comunicação não verbal também são fundamentais na oratória. Mas a voz, como instrumento, é fundamental para que o orador possa usar o discurso para atingir seus objetivos. 2.6 Comunicação verbal e não verbal Vídeo Nos processos de comunicação, diversos tipos de linguagens podem ser usados na transmissão da mensagem do emissor para o receptor. Segundo Parry (2017), a depender do tipo de canal de comunicação utilizado (auditivo, visual ou sinestésico), o orador pode utilizar de for- ma mais intensa linguagens baseadas na fala, no uso de sinais ou na comunicação não verbal. A comunicação não verbal é composta por posturas, gestos, expressões faciais e movimentos corporais que podem ser usados de for- ma isolada ou em conjunto com a linguagem falada como forma de me- lhorar a comunicação e transmitir informações diversas ao interlocutor. Segundo Mantovani; Ribeiro (2018), a leitura das mensagens e infor- mações transmitidas pela linguagem corporal possibilita captar uma série de informações sobre as emoções, reações e interações que ocor- rem durante a interlocução. Considerada um dos maiores clássicos da música, Bohemian Rhapsody, composta por Freedie Mercury e interpretada pela banda inglesa Queen, tem diversos segmentos com estruturas musicais diferentes. Em cada um dos momentos da música, Mercury muda o timbre e a emoção transmiti- da pela voz: na parte inicial, o timbre é suave e delicado; na segunda parte, o timbre usado é carregado de ansiedade e conflito; na terceira parte. a voz transmite raiva e enfrentamento; e na parte final, o timbre volta a ser melodioso e sereno. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=fJ9rUzIMcZQ. Acesso em: 24 ago. 2022. Música https://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ https://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ https://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ Oratória 55 Um dos mais importantes cientistas da história humana, Charles Darwin identificou a importância da comunicação não verbal tanto entre os animais quanto na sociedade humana. Em sua obra A expressão das emoções no homem e nos animais – publicada originalmente em 1872 – Darwin (2009) demonstra que uma parte significativa da comunicação estabelecida entre os indivíduos de uma espécie é baseada em gestos, sinais, posturas, expressões e movimentos. Como destacam Murini; Lu- quetti; Bento (2018, p.14): Analisa-se que o processo de comunicação face a face é com- posto por 55% de mensagens corporais (linguagem do corpo), 38% de expressões vocais (tom de voz) e 7% de palavras faladas (conteúdo). Mensagens não-verbais são ponderadas mais fran- cas que as demais. A maior parte desses sinais são considera- dos de difícil domínio, pois são emitidos de forma involuntária e inconsciente. São sinais indicativos de personalidade, status e nível de receptividade dos comunicadores, considerados fontes importantes de informações [...]. O uso da comunicação não verbal é aprendido pelo indivíduo até mesmo antes do desenvolvimento da comunicação verbal. Por isso, segundo Nogueira; Faria (2013), pode ocorrer de forma inconsciente, durante o processo de comunicação, transmitindo informações que podem estar desalinhadas com o discurso falado. A percepção da discrepância entre a mensagem oral e a comuni- cação não verbal pode fazer o interlocutor se sentir desconfortável ou inseguro com o que está sendo dito, mesmo que isso ocorra de forma subliminar. De forma complementar, Gois; Nogueira; Vieira (2011) salientam que a comunicação não verbal pode expor as verdadeiras intenções do emissor, o que, dependendo do contexto em que ocorre a comu- nicação, pode favorecer ou, ao contrário, dificultar o entendimento. A comunicação não verbal também pode ser usada de forma consciente pelo emissor, para reforçar ideias, destacar pontos, mostrar emoções ou criar motivação e credibilidade. Diversas ca- tegorias de características compõem a comunicação não verbal, como mostra a Figura 6: 56 Oratória e técnicas de apresentação Proxêmica Aparência física Cinésica Ambiente M ax im K ul ik ov /S hu tte rs to ck Figura 6 Características da comunicação não verbal Fonte: Elaborada pelo autor. Vo lh a Hl in sk ay a/ Sh ut te rs to ck A comunicação proxêmica é definida por Mantovani; Ribeiro (2018, p. 5-6) como o estudo do uso do espaço pelos interlocutores durante o processo de comunicação. A característica proxêmica da comunicação não verbal está relacionada à distância adotada pelos interlocutores durante o processo de comunicação. Os autores relacionam a distância ao nível de intimidade dos interlocutores e a classificam em quatro tipos: a) Distância íntima (0-50) ocorre contato físico através de pequenos movimentos; a visão, o cheiro e o calor do corpo são perceptíveis; b) Distância pessoal (50-120 cm), não há contato corporal; o calor e o odor do outro não são perceptíveis; c) Distância social (120- 360 cm), não há contato físico e o tom de voz é normal; d) Distância pública (acima de 360) refere-se àquela mantida nas conferências e comícios, a voz pode ser alta e o contato visual opcional. A aparência física é uma importante característica da comunicação não verbal. O tipo de roupa, acessórios, cabelo e outras características físicas podem transmitir diversas informações, como confiança, conhe- cimento, segurança ou, por outro lado, ansiedade e despreparo para o momento. É importante salientar que não se pode afirmar que exista um tipo de aparência ou de vestuário corretos. É a adequação do vestuário ao ambiente e ao contexto no qual a comunicação ocorre que pode influenciar as percepções dos interlocutores. Motta; Oliveira (2021) analisaram o vestuário adotado por profissio- nais que trabalharam no regime de home office durante o período de quarentena da pandemia causada pelo COVID-19. Doutor em filosofia, Mario Sérgio Cortella se tornou um dos mais conhecidos palestrantes brasileiros nos últimos anos. Além da qualidade de seu discurso e de suas argumentações, Cortella é um excelente orador, usando as diver- sas ferramentas da voz com maestria. Sua voz grave e calma gera empa- tia e transmite confiança. O palestrante usa com bastante frequência as modulações de volume, em conjunto com pausas, para destacar os pontos centrais de seus discur-sos. No vídeo Mario Sergio Cortella - Minha maior gafe em uma palestra foi..., do canal Canal Cortella, mostra que – mesmo com toda sua experiência – ele ainda comete erros e gafes durante seus discur- sos, o que mostra que a competência da oratória precisa ser constante- mente desenvolvida. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=QlW4RHkqVPU. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=QlW4RHkqVPU https://www.youtube.com/watch?v=QlW4RHkqVPU https://www.youtube.com/watch?v=QlW4RHkqVPU Oratória 57 Segundo os autores, o uso de roupas confortáveis, incluindo pijamas, durante o período de trabalho, influenciam a autoimagem, a construção da imagem do profissional no grupo social formado pelos colaboradores, além de impactar a produtividade do trabalhador. Mesmo em uma situação na qual a interação social é limitada, como durante a quarentena, a aparência física e o vestuário são importantes elementos da comunicação não verbal dos profissionais. O ambiente no qual ocorre a comunicação também transmite importantes informações não verbais. Essa característica da comunicação é utilizada por prestadores de serviços como forma de tangibilizar a qualidade de seu trabalho. O escritório de um advogado, o consultório de um profissional médico ou o ambiente de trabalho de um mecânico informam a seus clientes importantes aspectos sobre o profissional, como sua competência, nível de qualidade, sucesso e credibilidade. A comunicação cinésica está relacionada aos movimentos do corpo e à postura adotada pelos interlocutores durante o processo de comunicação. Como explicam Nogueira; Faria (2013), o uso de gestos e posturas durante a fala carrega um forte fator cultural. Um exemplo é o uso dos movimentos das mãos durante a fala na cultura italiana. Schimidt; Silva (2012) apontam que os gestos e movimentos usados na comunicação são específicos de cada cultura ou povo. Um mesmo gesto pode ter diferentes significados em culturas diversas. Segundo os autores, os sinais não verbais emitidos durante a comunicação devem ser analisados a partir do contexto no qual são usados. Segundo Silva (2018) os gestos realizados durante o processo de comunicação podem ser classificados em cinco diferentes tipos. Os emblemas são movimentos e gestos que têm um significado e podem substituir diretamente uma palavra ou uma expressão, como os gestos que representam o “não” ou o “sim” feitos com a movimentação da cabeça e o “ok” com o a mão fechada e o polegar levantado. Os emblemas são conhecidos pelos membros de um determinado grupo social e por isso, podem ser usados na comunicação entre eles. São usados de forma consciente, com a intenção de complementar ou substituir a comunicação verbal. Uma das mais belas e divertidas animações do estúdio Pixar, o filme Wall-e demonstra como a comunicação não verbal pode transmitir informa- ções, ideias, sentimentos e emoções. No filme, o simpático robô Wall-e tem sua pacata e organizada vida transformada pela chegada, em seu planeta, da simpática robô Eve. Os dois autômatos são opos- tos: Eve é uma moderna máquina de design limpo e minimalista e Wall-e é um enferrujado robô, cujos movimentos e per- sonalidade são inspiradas no personagem Carlitos, de Charles Chaplin. Em quase uma hora de filme, não há qualquer tipo de comunicação verbal, porém, usando apenas gestos mecâni- cos os robôs expressam sentimentos como medo, ansiedade, raiva, alegria e principalmente, amor. Direção: Andrew Stanton. Estados Unidos: Pixar Films, 2008. Filme 58 Oratória e técnicas de apresentação Figura 7 Emoções básicas transmitidas pela expressão facial. Va le ry S id el ny ko v/ Sh ut te rs to ck Segundo Gonçalves; Peppi (2019), o entendimento do significado des- sas microexpressões, segundo os autores, é uma importante ferramenta utilizada na área das investigações criminais, pois podem ajudar na análi- se da veracidade das informações prestadas por um entrevistado. Como se pode observar, a comunicação não verbal é composta de diversos tipos de sinais, relacionados à forma como as pessoas se com- portam, se movem e se interrelacionam durante o processo de comu- nicação. É uma forma complexa e rica de comunicação, que tanto pode substituir quanto pode enriquecer a comunicação verbal. O conhecimento de como os gestos, movimentos e, principalmente, expressões faciais são usados para expressar sentimentos e emoções, bem como possibilitam transmitir mensagens, é fundamental para que se possa tanto utilizar essas ferramentas para melhorar a comunicação, quanto identificar, nos interlocutores de uma comunicação, informa- ções que estejam sendo transmitidas pelo corpo. Com mais de cinco milhões de inscritos e quase 400 milhões de visualizações em seus vídeos, o canal do youtube Metaforando é um grande sucesso, e aborda a análise da comunicação não verbal e, principalmente, das microexpres sões faciais. Nos vídeos, o especialista em comunicação não verbal Vitor Santos analisa entrevistas, depoimentos e discursos de pessoas conhecidas, identificando a comunicação não verbal e as expressões faciais. Disponível em: https://www. youtube.com/c/Metaforando/ featured. Acesso em: 24 ago. 2022. Dica Como falar de um tema complexo, como a saúde pública, usando um extenso banco de dados, composto por estatísticas de mais de uma centena de países, coletados durante séculos, e ainda assim tornar a apresenta- ção interessante e diverti- da? Nesse vídeo, Os meus dados vão mudar a vossa mentalidade, o especialista em saúde pública Hans Rosling usa o ritmo e a prosódia para criar uma fascinante experiência de oratória. Entre os minutos 15m00s e 16m00s do ví- deo, Rosling acelera a fala, simulando uma corrida, o que leva a plateia a participar ativamente do discurso. Disponível em: https://www.ted. com/talks/hans_rosling_let_ my_dataset_change_your_ mindset?language=pt. Acesso em: 25 jul. 2022. Vídeo Já os gestos ilustradores são usados para enfatizar uma comuni- cação verbal, dando destaque a uma palavra ou expressão, como, por exemplo, o gesto de apontar o dedo para o interlocutor durante uma altercação ou discussão, ou o gesto de abrir os braços para mostrar o tamanho ou a dimensão de um objeto a que o emissor está se referindo. Os gestos reguladores são usados para controlar ou direcionar o processo de comunicação, como gestos utilizados para pedir que um interlocutor que está um pouco mais exaltado em uma conversa se acalme, ou o ato de levantar o braço para pedir o espaço de fala em um diálogo. As expressões de afeto são, em geral, utilizadas com pessoas íntimas ou com as quais se tem algum nível de relacionamento, como o toque no braço durante a fala ou passar a mão pelos cabelos do interlocutor. Por fim, os gestos adaptadores são gestos involuntários que não têm função de comunicação. São exemplos desse tipo os gestos esfregar os olhos quando se está cansado, bocejar, ou passar a mão pelos cabelos. A movimentação pode transmitir, durante o processo de comunicação, informações importantes sobre os sentimentos e emoções dos interlocutores. Pessoas exaltadas ou nervosas tendem a gesticular de forma mais enfática, enquanto pessoas seguras e calmas usam gestos mais lentos e contidos. Farsani; Rodrigues (2021) destacam a importância do contato visual como uma ferramenta de comunicação não verbal. A depender da forma que for estabelecido, pode transmitir tanto confiança e credibilidade, quanto, ao contrário, desafio e enfrentamento. Palestrantes, professores e vendedores são exemplos de profissionais que podem usar o contato visual como forma de estabelecer vínculos com seus interlocutores. A expressão facial é outro importante instrumento da comunicação não verbal. As expressões podem ser controladas pelo emissor, de forma a transmitir um determinado estado de espírito ou emoção, como alegria ou motivação. Porém,como mostram Gonçalves; Peppi (2019), podem ser identificadas diversas microexpressões que são realizadas pelos indivíduos, durante o processo de comunicação, de forma não consciente. As emoções básicas transmitidas pelas microexpressões são apresentadas na Figura 7: https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt Oratória 59 Figura 7 Emoções básicas transmitidas pela expressão facial. Va le ry S id el ny ko v/ Sh ut te rs to ck Segundo Gonçalves; Peppi (2019), o entendimento do significado des- sas microexpressões, segundo os autores, é uma importante ferramenta utilizada na área das investigações criminais, pois podem ajudar na análi- se da veracidade das informações prestadas por um entrevistado. Como se pode observar, a comunicação não verbal é composta de diversos tipos de sinais, relacionados à forma como as pessoas se com- portam, se movem e se interrelacionam durante o processo de comu- nicação. É uma forma complexa e rica de comunicação, que tanto pode substituir quanto pode enriquecer a comunicação verbal. O conhecimento de como os gestos, movimentos e, principalmente, expressões faciais são usados para expressar sentimentos e emoções, bem como possibilitam transmitir mensagens, é fundamental para que se possa tanto utilizar essas ferramentas para melhorar a comunicação, quanto identificar, nos interlocutores de uma comunicação, informa- ções que estejam sendo transmitidas pelo corpo. Com mais de cinco milhões de inscritos e quase 400 milhões de visualizações em seus vídeos, o canal do youtube Metaforando é um grande sucesso, e aborda a análise da comunicação não verbal e, principalmente, das microexpres sões faciais. Nos vídeos, o especialista em comunicação não verbal Vitor Santos analisa entrevistas, depoimentos e discursos de pessoas conhecidas, identificando a comunicação não verbal e as expressões faciais. Disponível em: https://www. youtube.com/c/Metaforando/ featured. Acesso em: 24 ago. 2022. Dica Como falar de um tema complexo, como a saúde pública, usando um extenso banco de dados, composto por estatísticas de mais de uma centena de países, coletados durante séculos, e ainda assim tornar a apresenta- ção interessante e diverti- da? Nesse vídeo, Os meus dados vão mudar a vossa mentalidade, o especialista em saúde pública Hans Rosling usa o ritmo e a prosódia para criar uma fascinante experiência de oratória. Entre os minutos 15m00s e 16m00s do ví- deo, Rosling acelera a fala, simulando uma corrida, o que leva a plateia a participar ativamente do discurso. Disponível em: https://www.ted. com/talks/hans_rosling_let_ my_dataset_change_your_ mindset?language=pt. Acesso em: 25 jul. 2022. Vídeo CONSIDERAÇÕES FINAIS A quantidade de cursos, treinamentos, livros, materiais, vídeos e expe- riências educacionais tendo como tema a oratória mostra a importância do tema no mundo contemporâneo. Saber se comunicar, conversar, convencer, influenciar e principal- mente fazer apresentações ou discursos, é uma das competências mais desejadas tanto no mercado de trabalho, quanto no ambiente escolar e, também, na sociedade. https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.youtube.com/c/Metaforando/featured https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt https://www.ted.com/talks/hans_rosling_let_my_dataset_change_your_mindset?language=pt 60 Oratória e técnicas de apresentação ATIVIDADES Atividade 1 Explique a diferença entre os conceitos de oratória e retórica. Atividade 2 Cite os principais tipos de oratória utilizados atualmente. Atividade 3 Explique o conceito da comunicação proxêmica. REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. P. 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Este ca- pítulo tem o objetivo de discutir as etapas necessárias para se construir uma apresentação bem estruturada que ajude o orador durante o seu discurso. Na primeira parte do capítulo, serão apresentados os passos do plane- jamento da apresentação, que engloba a definição do tema, o levantamen- to das informações, o entendimento da infraestrutura do local, o tempo disponível e o contexto no qual a apresentação ocorrerá. A segunda parte do capítulo é dedicada a discutir a criação do roteiro da apresentação, que inclui a definição do tipo de discurso a ser usado – argumentativo, narrativo ou expositivo – e a linguagem que o orador utilizará. O uso do discurso narrativo – e em especial do chamado storytelling – será aprofundado na terceira parte do capítulo, a qual mostra como o uso de histórias ajuda na construção de uma relação de empatia que engaja e motiva a plateia. A quarta parte do capítulo apresenta diversos progra- mas, aplicativos e sistemas que podem ser usados para desenvolver os materiais de apresentação que darão suporte ao discurso. Por fim, na última parte do capítulo, o tema é a construção dos slides e a definição da comunicação visual do conteúdo, ferramentas fundamen- tais para o sucesso de uma apresentação. Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • acompanhar o processo de planejamento da apresentação, a defi- nição do tema a ser abordado e a escolha dos conteúdos; • assimilar os roteiros de apresentação; • conceituar o storytelling e compreender o seu uso nas apresentações; • conhecer os diversos tipos de apresentação em público, os recursos audiovisuais e as principais ferramentas usadas em apresentações; • conhecer ferramentas para a construção dos slides e materiais visuais de apresentação. Objetivos de aprendizagem 64 Oratória e técnicas de apresentação 3.1 Definição do tema e do conteúdo Vídeo Fazer uma palestra, uma apresentação, uma aula ou uma reunião. Diversos podem ser os motivos que levam uma pessoa a usar a arte e as técnicas da oratória, mas seja qual for a motivação, a preparação do orador deve ser feita de forma organizada, mesmo que o tempo dispo- nível seja escasso. Uma apresentação feita em uma reunião com os membros de uma empresa pode ter como objetivo demonstrar os resultados de um determinado período, ou justificar o fato de uma meta não ter sido alcançada. Já uma apresentação feita para um cliente pode ter como objetivo realizar uma venda ou fechar um contrato. No ambiente escolar, um professor pode definir como objetivo de uma aula que os alunos aprendam um determinado conceito ou desenvolvam uma certa competência. Já os alunos, quando precisam realizar uma apresentação de um trabalho, têm como objetivo mostrar as pesquisas, leituras, informações e conclusões a que chegaram. Um advogado pode usar um discurso para acusar um réu ou para defender um acusado. Um político pode tanto usar o palanque para expor suas ideias, defender um projeto, acusar um adversário quanto para se defender de uma acusação. No contexto social, as pessoas fazem discursos em momentos comemorativos, em apresentações frente a comunidade ou participa- ções em uma reunião de condôminos, por exemplo. Podem se apre- sentar em uma igreja, para ler os livros sagrados de sua religião, ou fazer um discurso exortando a ética e a moral de sua crença. Em cada um desses exemplos, os objetivos, o contexto, o público, os recursos e o tempo de fala são diferentes. Por isso, é fundamental desenvolver um planejamento detalhado, que orientará cada um dos passos da preparação de uma apresentação, como mostra a Figura 1: Figura 1 Passos da preparação da apresentação Definir objetivo Criar o slogan Entender a estrutura Estabelecer a duração Conhecer a plateia Validar as informações Ra sh ad A sh ur /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor. Preparação da Apresentação 65 Para tangibilizar os conceitos e passos da preparação de uma apre- sentação discutidos neste capítulo, serão usados dois exemplos: Caso 1: Um gestor comercial precisa apresentar os resultados da implantação de um novo projeto baseado em um produto inovador, alinhado às estratégias da empresa. Caso 2: Um professor que precisa desenvolver uma aula para uma turma de alunos do 7º ano do ensino fundamental II. O planejamento de uma apresentação se inicia com um levanta- mento de diversas informações sobre o contexto no qual o discurso ocorrerá. O primeiro questionamento a ser feito é qual o objetivo da apresentação. O que o orador espera alcançar ou atingir ao final do discurso? Que ação, atitude ou conclusão espera que a plateia adote a partir das ideias e informações transmitidas? O objetivo deste momento é definir os pontos e ideais principais que a audiência deve compreender, e como essas ideias ajudam ou trazem algum tipo de benefício para os participantes. O orador pode também definir que emoções, sentimentos ou motivações pretende que o público sinta durante o discurso. A correta definição do tema é o ponto de partida sobre o qual será construída toda a apresentação,pois é a partir dele que serão definidos o tipo de linguagem a ser utilizado, os recursos, o tempo de fala e a estrutura do discurso. Uma forma de deixar claro o tema de um discur- so, tanto para orientar o orador no planejamento quanto para que o público entenda e relembre o conteúdo, é transformar o ponto central da fala em um mote ou slogan, isto é, uma frase curta e sonora que seja de fácil entendimento ou lembrança, por exemplo: Caso 1: O principal objetivo da palestra do gestor é fazer com que a equipe entenda o novo projeto e compreenda quais serão as etapas da implantação. É necessário também gerar motivação nos colaborado- res, para que eles estejam engajados e dispostos a sair de sua zona de conforto. Assim, ficou definido como slogan de sua apresentação a frase “Juntos vamos revolucionar nosso mercado”. Caso 2: O professor definiu dois conceitos centrais que os alunos precisam aprender ao final da aula. Os alunos precisam compreender dois fatores: como esses conceitos se relacionam com o conteúdo geral da disciplina e como eles podem afetar sua vida cotidiana e seu futu- ro profissional. Para resumir os pontos principais, foi definida a frase “Ligando os pontos entre a teoria e a prática”. 66 Oratória e técnicas de apresentação A próxima etapa do planejamento é definir as condições nas quais a palestra ocorrerá. Envolve itens como o local no qual será feita a apre- sentação, espaço físico disponível para atividades, recursos e equipa- mentos disponíveis e tempo disponível. O uso de recursos, ferramentas, metodologias e materiais de suporte depende do tipo de evento e local de realização. Por exemplo, uma sala de aula de uma escola apresenta um espaço físico limitado, em geral com alguns recursos já instalados – como lousas, televisores ou aparelhos de projeção de slides – mas em geral, não é necessário utilizar equipamentos para ampliar a voz do professor. Por outro lado, em um auditório com espaço para uma plateia numerosa o orador precisará utilizar um microfone. Pode parecer um detalhe simples, mas dependendo do tipo de apa- relho utilizado, o orador precisará fazer adaptações em sua dinâmica de fala e movimentação. Caso haja um púlpito no local, a movimenta- ção ficará restrita, o que dificultará o uso da linguagem não verbal. O tipo de microfone utilizado (com fio ou sem fio) também pode limitar o espaço a ser usado pelo orador, bem como dificultar sua gesticulação. A disponibilidade de equipamentos e a infraestrutura do local são fundamentais para a definição do roteiro e da metodologia utilizada na apresentação. Se não há um equipamento de projeção de imagens, o orador não poderá utilizar slides ou programas de apresentação. Se o local conta com cadeiras fixas, como em um auditório, o orador não poderá incluir em seu roteiro a aplicação de dinâmicas nas quais os participantes precisem se deslocar. O tempo é outro fator determinante para a definição da estrutu- ra da apresentação. Apresentações longas, com mais de uma hora de duração, precisam ser dinâmicas, contar com momentos de descontra- ção e de participação do público, além de utilizar recursos visuais para manter sua atenção. Já apresentações mais curtas, com menos de 30 minutos, podem ter uma estrutura mais linear e contar com menos recursos visuais ou didáticos. É preciso levar em consideração, no cálculo do tempo, o nível de interação que o orador estabelecerá com a plateia. Em uma reunião anterior, é necessário definir um momento específico para a resolução de dúvidas que podem surgir durante a apresentação, bem como um Um dos mais conhecidos eventos de palestras, o TED conta tanto com edições globais – que reúnem palestrantes de todo o mundo – quanto edições locais em diversos países do mundo. O conceito do evento é que as palestras tenham no máximo 18 minutos, o que é uma forma de ga- rantir que as elas sejam relevantes e ao mesmo tempo dinâmicas. Alguns dos mais relevantes especialistas globais em suas respectivas áreas já realizaram palestras nas edições do evento. Em seu site oficial, as pales- tras contam com legendas em dezenas de línguas, inclusive em português. Disponível em: https://www.ted. com/. Acesso em: 02 ago. 2022. Site https://www.ted.com/ https://www.ted.com/ Preparação da Apresentação 67 período mais extenso – preferencialmente ao final – para que as infor- mações e propostas sejam analisadas e discutidas. Em uma palestra, o orador pode usar todo o tempo disponível em seu discurso, ou pode reservar um pequeno período ao final da apresentação para responder perguntas e esclarecer dúvidas, coleta- das pelos organizadores durante a fala e selecionadas com base na relevância e na adequação. Já perguntas mais específicas podem ser respondidas após o final do evento. Em uma aula, o professor precisar reservar um percentual de tempo maior para a interação com os alunos durante a explanação do conteúdo, bem como momentos de esclarecimento de dúvidas e espaços para que os alunos opinem e debatam os conceitos discutidos. No contexto das apresentações e aulas realizadas virtualmente, por meio de plataformas de reuniões ou de educação à distância, a divi- são de tempo entre os momentos de fala do apresentador, respostas e esclarecimento de dúvidas e espaços de comentários é diferente do que ocorre em eventos nos quais há a interação física. Uma das dificuldades encontradas pelos professores dos mais variados níveis educacionais durante o período da Pandemia de Covid-19 – entre 2020 e 2021 – foi a adaptação do conteúdo das aulas com relação ao tempo disponível, pois as aulas de turmas presenciais passaram a ser realizadas pelas plataformas de reuniões ou por vídeo aulas, muitas vezes sem a devida preparação para isso. Um conteúdo que em uma sala de aula presencial ocupava todo o período da aula, devido justamente à intensa interação dos alunos, se mostrava, muitas vezes, insuficiente para ocupar o tempo de aula nas plataformas virtuais. Essa insuficiência do conteúdo em preencher todo o tempo disponível também era causada pela interação entre os alunos, a diferença é que nos ambientes virtuais os alunos interagiam muito menos. Além da questão do tempo, outro desafio que a pandemia trouxe para os professores que precisaram, de uma hora para outra, adaptar suas metodologias de ensino para a educação à distância, foi a falta de feedback e de percepção do nível de atenção e de entendimento dos alunos em relação ao conteúdo apresentado. Para exemplificar essa questão da organização do tempo, seja em uma apresentação no meio corporativo ou em uma sala de aula, temos os dois casos a seguir: 68 Oratória e técnicas de apresentação Caso 1: A apresentação do gerente será realizada na sala de reuniões da empresa com a presença de uma equipe de 30 colaborares, além de três membros da diretoria da empresa. A sala conta com um equipa- mento de projeção de slides em uma tela apropriada, além de uma lousa branca, na qual o gestor pode fazer anotações durante a fala. Apesar de contar com equipamento de som e microfone, o gestor definiu que não utilizará o recurso, para que sua mobilidade não seja prejudicada. Cada participante tem a sua disposição uma cadeira e uma mesa individual, que podem ser movimentadas no espaço para criar mesas maiores com vários participantes, formando um grupo. O gestor dispõe de duas horas para realizar a apresentação, por isso, definiu que dedicará cerca de 60% do tempo à apresentação e 40% do tempo para sanar dúvidas e desenvolver uma dinâmica de grupo na qual os participantes discutirão os pontos centrais do projeto. Caso 2: O professor tem a sua disposição uma sala de aula com capa- cidade para 40 alunos, que conta com uma grande lousa na parte da frente do espaço. A sala conta com um televisor que pode ser usado tanto para apresentar slides, quanto para reproduzir filmes e áudios. O aparelho está conectado à internet e pode ser usado para acessar sitese fazer pesquisas. Os alunos se sentam em cadeiras do tipo universi- tária, que contam com uma prancheta fixa que possibilita aos alunos apoiarem seus cadernos. As cadeiras podem ser movimentadas, mas a sala não conta com mesas. A aula terá duração de 01h40min e o profes- sor pretende usar os últimos trinta minutos para que os alunos realizem um trabalho em grupo. Conhecer a audiência é um dos pontos mais importantes do processo de preparação da apresentação. Quando a apresentação é realizada para os membros de uma equipe, os participantes de um grupo social, ou os alunos de um curso, o apresentador pode ter aces- so a uma grande quantidade de informações sobre os participantes, o que facilita tanto a definição das informações relevantes, quanto as motivações e comportamentos do grupo. Porém, nem sempre o apresentador tem a possibilidade de conhe- cer em profundidade sua plateia, como em eventos públicos, palestras abertas realizadas para uma grande quantidade de pessoas, discur- sos realizados por líderes políticos, sociais ou religiosos, bem como as apresentações realizadas virtualmente em plataformas abertas, como sites de streaming ou redes sociais. Nesse contexto, o apresentador pode tentar identificar características gerais de sua plateia, com base nos dados demográficos disponíveis. Preparação da Apresentação 69 Além de aspectos demográficos da plateia – como média de idade, nível de escolaridade, crenças, cultura e comportamentos gerais – é importante também identificar aspectos mais específicos, relaciona- dos ao conteúdo e ao contexto no qual o discurso vai ocorrer. O nível de conhecimento da plateia sobre o assunto, as crenças, opiniões e valores que expressam, as restrições sobre aspectos relacionados ao tema, dúvidas, medos e anseios relacionados ao contexto são aspectos fundamentais para que o planejamento do discurso possa ser adequa- do e o orador atinja seus objetivos. Como profissional de treinamento, uma das áreas em que atuo com mais frequência é o desenvolvimento de equipes comerciais. Treinar uma equipe de vendas é um grande desafio. Em geral, vendedores mais experientes não gostam de participar de palestras e treinamentos. Por outro lado, vendedores que atuam há pouco tempo na área estão aber- tos a conhecer conceitos básicos sobre o mercado e o processo de vendas. Assim, como treinador, preciso equilibrar temas mais básicos, para que os vendedores novos possam acompanhar, com temas mais densos, de forma a manter o interesse dos mais experientes. Exemplo Dependendo do contexto no qual o evento ocorre, os participantes podem estar presentes por obrigação, como por exemplo, uma aula de um curso no qual estão matriculados, ou um treinamento dado em uma empresa do qual os funcionários são obrigados a participar. Já em pales- tras abertas, o currículo e o nome do palestrante – bem como o conteúdo divulgado – podem atrair pessoas interessadas. Assim, ajustar o discurso à plateia é um dos pontos fundamentais de uma apresentação. 3.2 Roteiros da apresentação Vídeo Para que uma apresentação seja bem estruturada e aborde todos os pontos considerados importantes pelo orador, é fundamental que se escreva um roteiro que oriente o desenvolvimento dos materiais de apoio e dos slides a serem utilizados no momento da apresentação. Após o tema, o conteúdo, o contexto, local de apresentação e públi- co-alvo serem definidos, o roteiro possibilita que o orador possa esco- lher o tipo de estrutura de discurso, as informações, fatos e ideias que serão apresentados, e qual a melhor forma de atingir seu propósito. 70 Oratória e técnicas de apresentação Um erro recorrente entre oradores pouco experientes é tratar de uma grande quantidade de temas e ideias durante uma apresentação. O roteiro deve ter poucos ou, se possível, apenas um ponto principal, que deve ser definido durante a preparação para a apresentação – discutida na parte anterior deste capítulo – e que será a base sobre a qual o orador vai definir pontos importantes do roteiro, como o tipo de estrutura de discurso a ser utilizado. Henriques (2019), apresenta três diferentes tipos de estrutura do discurso, como mostra a Figura 2: Figura 2 Tipos de estrutura do discurso yu t5 48 /S hu tte rs to ck Expositiva Narrativa Argumentativa Fonte: Elaborada pelo autor com base em Henriques, 2019. O discurso argumentativo, também chamado de persuasivo, é uti- lizado quando o orador busca mostrar seus pontos de vista, ideias, crenças ou valores, com o objetivo de convencer a plateia a tomar uma determinada ação ou comportamento. Líderes empresariais, comunitários, religiosos ou políticos, juristas e pes- soas que defendem uma ideia, em geral, utilizam essa estrutura de discurso em suas apresentações. Normalmente não há utilização de qualquer tipo de suporte visual em suas falas, e mesmo assim, eles conseguem transmitir suas ideias, convencer a plateia e mudar comportamentos e ações. Esse tipo de discurso também é utilizado, no contexto empresarial, por vendedores e gestores que precisam convencer seus interlocuto- res a seguir um determinado plano de ação. No contexto social, é usa- do quando se faz um pedido de casamento ou se busca convencer o grupo social a realizar uma atividade. O uso de recursos de apoio não é tão necessário no discur- so argumentativo, apesar de ser possível utilizar recursos visuais, principalmente para apresentar fatos e dados que apoiem a linha de argumentação do orador. Para que alcance seu objetivo, ao defender seus argumentos, o orador precisa estar bem-preparado, com dados sólidos que embasem suas ideias para que possa enfrentar qualquer tipo de questionamento feito pela plateia. Preparação da Apresentação 71 O roteiro de uma palestra que usa o discurso argumentativo é dividido em três partes, que devem ficar claras para a plateia durante a apresentação. A primeira parte é chamada de introdução, e ocorre quan- do o apresentador expõe a ideia central do texto, chamada de tese. A palestra de Simon Sinek 1 (2010) será utilizada como exemplo para ilustrar a importância do roteiro em uma palestra. Na fala do pales- trante, a tese ou ideia central que será discutida está apresentada no primeiro minuto da fala e pode ser resumida na frase inicial e na frase final dessa parte: “Como você explica quando as coisas não saem como previsto? Ou melhor, como você explica quando os outros são capazes de alcançar coisas que parecem desafiar todas as suposições? Há algo mais em jogo aqui. ” A segunda parte do discurso argumentativo, chamado de desenvol- vimento, é na qual o orador vai apresentar sua visão, seus conhecimen- tos, fatos e dados que embasam sua opinião e como o tema impacta a plateia. O orador pode também apresentar argumentos contrários à sua ideia ou ponto de vista, e rebater cada um desses argumentos. Na palestra de Sinek, o desenvolvimento ocupa toda a parte cen- tral do vídeo, do minuto 2:00 até o minuto 16:00. Nessa parte, o ora- dor defende a ideia de que os líderes que realmente inspiram a ação são aqueles que tem um propósito, ou seja, aqueles que transmitem a seus seguidores uma razão ou um porquê de tomar uma determi- nada ação. Sinek (2010) explica o conceito do círculo dourado: todos os líderes sabem o que fazer; apenas alguns sabem como fazer; mas apenas os líderes inspiradores sabem o porquê, o motivo e o propó- sito de se fazer algo. O discurso argumentativo se encerra com a chamada conclusão, na qual se apresenta uma nova forma de se pensar, um novo ponto de vista sobre o tema. Na palestra de Sinek (2010), a conclusão ocupa os 40 segundos finais da fala: Sejam eles indivíduos ou organizações, nós seguimos aqueles que lideram, não porque temos de seguir, mas porque quere- mos seguir. Seguimos aqueles que lideram, não por eles, mas por nós mesmos. E esses que começam com “por que” possuem a habilidade de inspirar aqueles a sua volta ou encontrar aqueles que os inspiram. A palestra podeser assistida na íntegra no link a seguir; o vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas para melhor compreensão. Disponível em: https://www. ted.com/talks/simon_sinek_ how_great_leaders_inspire_ action?language=pt. Acesso em: 02 ago. 2022. 1 https://www.ted.com/talks/simon_sinek_how_great_leaders_inspire_action?language=pt https://www.ted.com/talks/simon_sinek_how_great_leaders_inspire_action?language=pt https://www.ted.com/talks/simon_sinek_how_great_leaders_inspire_action?language=pt https://www.ted.com/talks/simon_sinek_how_great_leaders_inspire_action?language=pt 72 Oratória e técnicas de apresentação É possível também usar argumentos que apelem a crenças e aspectos emocionais que sensibilizem a plateia. Porém, em geral, os discursos argumentativos são mais objetivos e racionais. Por outro lado, os discursos narrativos têm como um de seus principais recur- sos o uso das emoções. É baseado em histórias, fábulas ou metáforas utilizadas para apresentar uma ideia, conquistar a atenção ou con- vencer a plateia. O discurso narrativo pode ser utilizado nos mais diversos contextos nos quais ocorre uma apresentação. Um político pode contar sua histó- ria de vida como forma de ganhar a simpatia e o voto dos eleitores. Um líder religioso usa passagens históricas como metáforas para mostrar a importância dos valores que defende. Um professor pode contar histórias nas quais os conceitos centrais de seu conteúdo estejam presentes. Juristas usam o discurso narrativo para construir a linha do tempo de uma defesa ou acusação. A estrutura do discurso narrativo é composta de algumas partes, mostradas na Figura 3: Co lo rli fe /S hu tte rs to ck Enredo Narrador Personagens Tempo Espaço Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 3 Estrutura do discurso narrativo O enredo é a história a ser contada, que pode embutir um aprendi- zado, um conhecimento ou um ponto de vista que o orador pretende transmitir. O discurso pode ser narrado em primeira pessoa, quando o orador é o próprio personagem da história. Já quando conta uma histó- ria sobre outras pessoas, o discurso é em terceira pessoa. Os personagens geralmente são apresentados na primeira parte do roteiro, e podem incluir protagonistas, que são aqueles sobre os quais o enredo se concentra; antagonistas, que têm a função de re- presentar o rival ou oponente dos protagonistas; e os personagens secundários ou coadjuvantes, que ajudam na construção da história. Um roteiro narrativo também precisa esclarecer o tempo e o espaço nos quais a história acontece. Preparação da Apresentação 73 Durante séculos, professores desenvolveram suas aulas usando apenas a lousa e o giz. Esse é um exemplo da estrutura expositiva. Nesse tipo de discurso, o orador precisa apresentar ou explicar um ou mais conceitos, informações ou conhecimentos, com o objetivo de desenvolver na plateia um novo conhecimento ou uma competência. A exposição pode ser utilizada, também, em apresentações nas quais o orador dá orientações, apresenta projetos, explica uma ação ou ocor- rência e transmite algum tipo de conhecimento. Nesse tipo de discurso, o uso de recursos visuais – como gráficos, imagens, esquemas, imagens e textos – tem um papel fundamental. Quanto mais informações são transmitidas durante a palestra, mais importante é o uso dos recursos visuais. Os discursos expositivos apre- sentam uma estrutura organizada em três partes: introdução, na qual o tema é apresentado; desenvolvimento, em que os dados, informações e conceitos são apresentados; e conclusão, na qual o orador mostra a importância dos conceitos discutidos. O discurso pode ser totalmente objetivo, com a simples apresenta- ção dos fatos e dados, sem que o orador faça considerações ou juízos de valor; ou pode incluir elementos subjetivos, como opiniões e pontos de vista do orador. A escolha do tipo de estrutura do discurso também orienta o tipo de linguagem a ser utilizado pelo orador. O conhecimento sobre o público também ajuda a definir a linguagem. O nível de profundidade e conhecimentos dos participantes sobre o tema é um exemplo de como o conhecimento sobre a plateia interfere no planejamento do discurso. Se a plateia tem pouco ou nenhum conhecimento sobre os concei- tos, o orador precisará explicar, de forma didática, o significado das palavras, termos e expressões utilizadas, bem como relacionar esses conceitos a outros que podem ser entendidos pelos ouvintes. O orador pode usar metáforas baseadas em um assunto conhecido pela plateia, por exemplo: para explicar a importância do trabalho em equipe e da sinergia entre as competências de cada colaborador durante um projeto, o orador pode usar como metáfora uma equipe esportiva vitoriosa. Por outro lado, se a plateia já tem um bom conhecimento sobre os conceitos a serem discutidos, o orador não deve se alongar na explica- ção de termos básicos ou conceitos simples, pois pode gerar desinte- resse na equipe. 74 Oratória e técnicas de apresentação Outro ponto relacionado à linguagem a ser utilizada é o compri- mento das frases e parágrafos a serem falados pelo orador. Em uma apresentação, especialmente aquelas de maior duração, frases muito rebuscadas e parágrafos longos, cheios de comentários paralelos ou divagações, podem prejudicar o entendimento da plateia. Um exemplo de como a linguagem rebuscada pode mudar completamente a forma de uma frase são as descrições de comidas relati- vamente comuns presentes em cardápios de restaurantes de alto padrão. Em ambientes assim, um simples bolo de chocolate pode ser apresenta- do como: “Experiência sublime com refinados grãos de cacau banhados, apresentados sobre massa fofa e aveludada de farinhas especiais.” Em uma palestra, o orador pode simplesmente dizer o seguinte: “ viajei ao exterior para conhecer outras culturas”. No entanto, caso queira passar a mesma mensagem de forma mais rebuscada, pode afirmar: “realizei uma turnê por diversos países em que pude viven- ciar, de forma prática, as diversidades e especificidades de cada povo e cultura, o que me possibilita ter uma visão ampla e holística das rela- ções que ocorrem no seio de cada sociedade.” O roteiro pode prever momentos de interação com a plateia, para que o orador possa entender o nível de compreensão sobre o que está sendo apresentado. Também deve prever o uso de recursos de apoio, como slides, áudios, vídeos e inserções de conteúdo. A forma de abordagem que será dada ao conteúdo é outro ponto a ser definido no roteiro, sendo que o tema pode ser apresentado de duas formas: em tópicos, com cada assunto sendo abordado separa- damente; ou por uma estrutura lógica, na qual os diversos argumentos e informações são relacionados de forma a sustentar a tese principal. O orador também pode usar uma organização temporal e cronoló- gica do conteúdo, que é um tipo de recurso muito utilizado em discur- sos narrativos. O uso de perguntas que façam a plateia se questionar e interagir com o orador é uma forma interessante de abordar o conteú- do, mas que exige que o apresentador conte com informações sólidas e tenha a segurança necessária para defender suas convicções. A abordagem do roteiro pode apresentar o problema e, a partir de informações e análises, eliminar todas as possíveis argumentações contrárias ou, por outro lado, apresentar uma solução para o problema, e em seguida mostrar os pontos negativos dessa solução. Preparação da Apresentação 75 Seja qual for a abordagem utilizada, o roteiro deve prever um encerramento que cause impacto sobre a plateia, que pode ser tanto o desejo de conhecer mais sobre o assunto e buscar novos conteúdos sobre o tema, como tomar uma ação específica – comprar um produ- to, mudar uma opinião, votar em uma pessoa ou se engajar em um movimento. Assim, o encerramento deve contar com uma chamada para ação, ou seja, uma frase ou imagem que remeta ao tema principal e motive a plateia, por exemplo: Caso 1: Como a apresentação a ser feitapelo gerente contará com uma grande quantidade de dados, informações, processos e metas a serem atingidas, o orador optou por utilizar, na primeira parte de seu discurso, a estrutura expositiva. Porém, um dos objetivos da apresentação é moti- var os colaboradores a se engajar no projeto. Por isso, na segunda parte do discurso, o gerente decidiu usar uma estrutura narrativa, mostrando a história de crescimento da empresa e como ela se imagina no futuro, após a implantação do projeto Caso 2: O professor pretende desenvolver no grupo de alunos a capa- cidade de relacionar os conteúdos de sua aula com a vida cotidiana no contexto profissional. Assim, decidiu usar uma estrutura narrativa, na qual usará um personagem fictício, um ex-aluno que se tornou um profissional, para mostrar como ele usa os conhecimentos em seu trabalho. Um roteiro bem definido deixa claro para o orador qual a principal ideia a ser desenvolvida, o tipo de discurso a ser utilizado, as informações ne- cessárias para defender suas opiniões e convicções, os recursos de apoio que são coerentes com a apresentação, a linguagem adequada para se comunicar com a plateia e a forma como as informações serão apresenta- das. Assim, o roteiro orienta não só a organização dos materiais a serem utilizados na apresentação, como a própria preparação do orador. 3.3 Como usar o storytelling Vídeo As pessoas gostam de contar e de ouvir histórias, sejam os mitos e lendas repassados de geração a geração que foram responsáveis pela criação da cultura humana, sejam os contos de fadas e as histórias in- fantis contadas pelos pais e depois transformadas em livros e em filmes que se tornaram marcos da cultura contemporânea, ou os personagens criados pelas empresas para representar seus valores e seus produtos. 76 Oratória e técnicas de apresentação As histórias facilitam a comunicação entre as pessoas e estão presentes nos processos de comunicação e de educação dos mais variados povos. Contadores de histórias, ou seja, indivíduos que dominam a capacidade de prender a atenção da plateia, estabelecer uma relação de empatia com o público e usar o discurso narrativo de forma cativante sempre se destacaram na história da sociedade. O termo storytelling é formado por duas palavras em inglês: story, que significa história; e telling, que vem do verbo to tell, que significa contar. Assim, o termo pode ser traduzido como “contando histórias”. Borges, Gois e Tatto (2011, p. 110) explicam mais detalhadamente o conceito desse termo da língua inglesa: No conceito de narrativa no qual se insere a abordagem Story- telling o narrador reapresenta um conhecimento já existente, reconfigurando o modo como é contado, descrito e apresentado, acrescentando aspectos subjetivos que tornem o fato narrado uma linguagem contextualizada, agradável e simples, procuran- do aproximar os interlocutores. Seja nos contos de fadas, seja em um complexo enredo de um romance, as histórias apresentam alguns elementos em comum que podem ser usados na construção de uma apresentação. Personagens principais, protagonistas e antagonistas, coadjuvantes, um conflito a ser resolvido, uma jornada de crescimento ou descoberta, finalizados por um momento em que cada personagem conhece seu destino são alguns elementos que podem ser encontrados nos mais diversos tipos de história. O conceito da jornada do herói foi desenvolvido por Joseph Campbell (2004), na década de 1940, em seu livro O Herói de Mil Faces. O autor analisou mitos e histórias de diversas culturas diferentes ao longo do desenvolvimento da civilização humana, e identificou diversos pontos em comum, pontos esses que ele denominou de jornada do herói. A estrutura do roteiro narrativo é composta pela apresentação, na qual o contexto e os personagens são apresentados; desenvolvimento, quando a história é contada; clímax ou ponto central, no qual ocorre um fato importante que vai colocar o personagem principal em uma situação de risco ou mudança; e desfecho, em que o destino de cada personagem é apresentado e se apresenta uma moral da história, um aprendizado ou vitória do personagem principal. O Quadro 1 mostra as diversas fases da jornada do herói. No inglês, a palavra history apresenta o sentido de algo que aconteceu realmente no passado, como a história da civilização. Já o termo story pode ser entendido como algo inventado, com personagens ou situações fictícias, ou mesmo com personagens reais, mas em situações fictícias ou adaptadas de situações reais. No português, essa diferenciação não existe, e apesar de existir a palavra estória, que tem o mesmo sentido de story, ela não é aceita pelas normas da língua. Curiosidade Preparação da Apresentação 77 Quadro 1 A jornada do herói, de acordo com Campbell Primeiro ato - apresentação Mundo comum Conhecemos o herói em seu mundo cotidiano e ordinário, uma pessoa comum. Chamado à aventura Algo impele o nosso herói na direção de uma BUSCA, uma JORNADA ou uma AVENTURA. Recusa do chamado O herói reluta em empreender a jornada. Encontro com o mentor O herói recebe um conselho, item ou ajuda de um MENTOR. Travessia do primeiro limiar O herói diante do PONTO SEM RETORNO, o portal que leva ao mundo oculto. O herói atravessa o portal, cai e é arrebatado, transportado ou transformado. O herói deixa seu mundo e se aventura no mundo desconhecido. Segundo ato - conflitos Testes, aliados e inimigos O herói tem que enfrentar TESTES, que vão QUALIFICÁ-LO como digno de vencer. Aproximação da caver- na oculta De posse da ARMA MÁGICA, o herói se aproxima do COVIL DO INIMIGO. Provação Suprema O embate com o antagonista. Recompensa O herói conquista sua vitória e o prêmio. Terceiro ato - resolução Caminho de volta O herói inicia a jornada de volta para casa. Ressurreição O herói é revivido por poderes sobrenaturais. Provação Suprema O embate com o antagonista. Retorno com o elixir O herói emerge do mundo inferior com a solução mágica. Fonte: Ricón (2006, p.1) A estrutura geral da jornada do herói pode ser encontrada nos mitos gregos e helênicos, como na história dos doze trabalhos de Hércules, bem como em Ilíada de Homero (2013), escrita no século IX a. C. e considerada a primeira obra de literatura da civilização. Pode ser identificada também nas histórias religiosas, como a de Jesus e a de Buda: ambos vivem os primeiros anos de vida como pessoas comuns, até receberem um chamado divino. Passam por provações e sofrimen- tos, combatem antagonistas e retornam com uma mensagem divina. A jornada do herói também está presente nos grandes clássicos da literatura, como em Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez; e nos brasileiros Dom Casmurro, de Machado de Assis; e O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. 78 Oratória e técnicas de apresentação O cinema e a televisão usam de forma intensa a jornada do herói em suas histórias. Na saga do Homem de Ferro, depois de passar por um conflito que quase tira sua vida, um jovem gênio inconsequente se transforma em um herói apoiado por um grupo de aliados e se sacrifi- ca para salvar a humanidade, ao enfrentar seu maior inimigo. Na série de filmes Matrix, o jovem programador descobre que vive uma simula- ção da realidade e se torna o salvador da humanidade ao combater as máquinas, que nesse futuro são os inimigos dos seres humanos. Na série de livros e filmes, Harry Potter é um menino órfão e pobre que descobre ser uma lenda em um mundo cercado de magia e bruxaria e combate seu antagonista em uma luta de vida ou morte. Já na série Stranger Things, garotos comuns descobrem um mundo invertido e se transformam em heróis ao combater forças ocultas. O mais completo exemplo do uso da jornada do herói em uma obra ficcional é a série de filmes Star Wars, tanto na história da saga original quanto em sua sequência. Jovens que cresceram com uma vida comum em um planeta distante (Luke Skywalker e Rey) recebem umchamado para a aventura quando são encontrados pelos Jedis, guerrei- ros que lutam pela liberdade. Ao saírem de seus planetas, transpõem um limiar e suas vidas passam por um ponto sem retorno, e a par- tir daí encontram e são treinados por seus mentores (Yoda e Luke Skywalker, respectivamente). Conhecem seus aliados e enfrentam seus antagonistas (Darth Vader, no caso de Luke, e Kylo Ren, no caso de Rey). Passam por provações, perdem pessoas próximas e aliados e, ao final de sua saga, encontram o elixir mágico (a força) com a qual vencem seus inimigos e salvam a galáxia. O uso do storytelling é bastante consolidado na oratória. Líderes religiosos, comunitários, políticos e professores utilizam as histórias de forma bastante intensa em seus discursos, tanto para facilitar o entendimento de suas ideias, quanto para estabelecer uma relação empática com a plateia. No contexto da educação, o storytelling como metodologia de ensino é muito usado, principalmente na pedagogia. Como destacam Custódio e Fagundes (2022), pode também ser usado na transmissão de conteúdos complexos ligados às mais diversas áreas do saber e nos variados níveis educacionais. As autoras apontam que, no contex- In na M ar ch en ko /S hu tte rs to ck Para saber mais sobre a jornada do herói e visualizar todas as etapas de forma mais ilustrativa e completa, recomenda- mos o vídeo O que faz um herói? - Matthew Winkler, do canal TED-Ed. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Hhk4N9A0oCA. Acesso em: 26 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=Hhk4N9A0oCA https://www.youtube.com/watch?v=Hhk4N9A0oCA https://www.youtube.com/watch?v=Hhk4N9A0oCA Preparação da Apresentação 79 to da transformação da educação de presencial para a digital, virtual e à distância, o uso de narrativas baseadas em histórias aumentam o engajamento dos estudantes com os conteúdos. O conceito de storytelling é muito discutido atualmente, espe- cialmente no contexto das mídias digitais e do marketing. Empresas buscam construir laços afetivos com seus clientes por meio de histó- rias sobre seus fundadores e sobre si mesmas, sejam elas verdadeiras, sejam simples criações de profissionais publicitários. O storytelling pode ser utilizado, como ferramenta de comunicação, mesmo em contextos nos quais o foco é apresentar uma série de dados e informações a um público com pouco conhecimento sobre os concei- tos discutidos. Nesse contexto, Pagani, Schneider e Raupp (2021, p.8) apresentam como exemplo o uso do storytelling na divulgação de dados sobre as finanças pública e contas do governo. Segundo os autores: A mera disponibilização de dados, informações e documentos não informará ao cidadão a motivação para as ações no âmbi- to da administração pública [...]. Um recurso útil, neste ponto, é o storytelling, pois ele auxilia na transformação da linguagem técnica – predominante na administração pública –em lingua- gem comum e acessível ao cidadão. Como explica Martinez (2022), o desenvolvimento das mais diversas mídias, no decorrer da história humana, esteve ligado ao ato de contar histórias. A criação da escrita teve como um de seus objetivos o registro dos mitos e lendas de cada povo; o teatro, por sua vez, foi desenvolvi- do para contar histórias. A invenção da imprensa foi catapultada pela publicação de livros que contavam histórias reais ou imaginadas. O rádio teve, como um de seus principais produtos nos primeiros anos de sua criação, as novelas e histórias encenadas por rádio atores. Muitas dessas histórias foram transpostas para o cinema e posterior- mente, para a televisão. Mesmo atualmente, com a imensa diversida- de de mídias digitais e conteúdos disponíveis, a contação de histórias ainda ocupa um importante papel na cultura. Os videogames usam complexos enredos e histórias para engajar os jogadores nas jornadas propostas nos jogos. Pela capacidade de transmitir ideias, conhecimentos, engajar e motivar pessoas, o storytelling é uma ferramenta importante durante uma apresentação, como forma de criar empatia e gerar na plateia a ação desejada pelo orador. Se passando no território da antiga Las Vegas no ano de 2281, após uma grande guerra nuclear, o jogo Fallout New Vegas coloca o jogador em um cenário pós-apocalíptico repleto de desafios, que vão desde facções de humanos que o atacam ao primeiro sinal até cria- turas mutadas pela radia- ção. Utilizando a principal característica dos jogos, que é a interatividade com a narrativa contada, as ações e decisões tomadas pelo jogador irão influenciar diretamente o destino de personagens, organizações e até mes- mo de cidades inteiras. Direção: Josh Sawyer. EUA: Obsidian Entertainament, 2010. Jogo 80 Oratória e técnicas de apresentação 3.4 Tipos, recursos e ferramentas de apresentação Vídeo O uso de recursos visuais, como gráficos, textos e animações projeta- dos em uma tela, se tornou cada vez mais presente nas apresentações, discursos, aulas e palestras, especialmente devido ao desenvolvimen- to tecnológico que possibilitou a criação de aparelhos de projeção de imagens e a criação de programas e aplicativos de criação de slides. É importante salientar que, apesar dos recursos e ferramentas de apresentação possibilitarem que o discurso fique mais rico e ajudarem a plateia a entender e fixar os conceitos e ideias, é o conteúdo apresen- tado pelo orador que realmente importa para a plateia. Como desta- cam Galvão e Adas (2020, p.80): Uma ideia apoiada em uma boa história pode ser transmitida com propriedade por meio do discurso. No entanto, mesmo considerando que essa boa história, por si só, seja absoluta- mente capaz de encantar as mais exigentes audiências, não dá para negar que um bom suporte visual pode enaltecê-lo ainda mais. O uso de recursos e ferramentas de apresentação depende de uma série de características do contexto no qual o discurso será realiza- do, que podem ser identificadas durante o processo de planejamento da apresentação. Questões como espaço físico disponível, tamanho da plateia, tempo, existência de infraestrutura e equipamentos vão influenciar a escolha e o uso de recursos durante o discurso. Os softwares ou programas de apresentações são ferramentas digitais que permitem o desenvolvimento de apresentações visuais que podem ser usadas nos mais diversos contextos, como apoio para aulas, apresentações, palestras ou discursos. Existem diversos programas e aplicativos que podem ser usados pelo orador. Os principais serão apresentados a seguir: PowerPoint O PowerPoint é um programa desenvolvido pela empresa Microsoft e disponibilizado no pacote de aplicativos Windows, presente em cerca de 90% dos computadores utilizados no mundo, segundo Feres e Silva (2018). Preparação da Apresentação 81 Devido a essa alta participação no mercado, o PowerPoint se tornou a mais conhecida e utilizada ferramenta de preparação de apresentações. Esse programa se tornou tão importante no contexto das apresen- tações empresariais que existem agências especializadas no desen- volvimento de slides para empresas, palestrantes e professores. Em seu livro Superapresentações: como vender ideias e conquistar audiências, Galvão e Adas (2020) abordam diversos recursos disponibilizados pela ferramenta para desenvolver boas apresentações. Segundo os autores, um erro comum cometido por quem desenvol- ve os slides de uma apresentação é começar o trabalho diretamente no programa PowerPoint. Antes de começar a criar os slides, é fundamen- tal que o orador desenvolva o planejamento da apresentação e defina o roteiro e a estrutura do discurso. O roteiro define as informações, frases, dados, gráficos ou imagens necessários para dar sustentação ao conteúdo. Assim, é mais fácil defi- nir a comunicação visual da apresentação. Impress (BrOffice) O BrOffice, também conhecido como LibreOffice, é um pacote de aplicativos gratuitos, compatíveis com uma série de sistemas operacio-nais, que dispõe de programas de edição de texto, planilhas de cálculo e de criação e apresentação de slides. O Impress, aplicativo específico para apresentações, é bastante semelhante ao do aplicativo Power- Point, da Microsoft, com os mesmos conceitos de criação de slides e edição de imagens e de textos, bem como ferramentas de animação. Apesar de não contar com todos os recursos do PowerPoint, ainda é uma ótima opção para quem precisa desenvolver apresentações mas não pode investir em aplicativos ou sistemas pagos. Canva O Canva é uma ferramenta online e gratuita, bastante popular pela fa- cilidade de uso e pela qualidade dos gráficos e modelos de apresentação. Essa plataforma utiliza o mesmo conceito de criação de slides e edição de imagens disponível no PowerPoint, mas além da montagem de slides, oferece também recursos de criação gráfica e de edição de imagens, pos- sibilitando o desenvolvimento de diversos tipos de peças gráficas, como apresentações, infográficos, banners e materiais de divulgação. Caso queira saber um pouco mais sobre o BrOffice, ou até mesmo realizar o download do programa, acesse o site oficial. Disponível em: https://pt-br. libreoffice.org/descubra/impress/. Acesso em: 26 ago. 2022. Site Caso queira experimentar o Canva e conhecer mais as funções disponíveis, acesse o site oficial e faça um teste. Disponível em: https://www. canva.com/pt_br/. Acesso em: 26 ago. 2022 Site https://pt-br.libreoffice.org/descubra/impress/ https://pt-br.libreoffice.org/descubra/impress/ https://www.canva.com/pt_br/ https://www.canva.com/pt_br/ 82 Oratória e técnicas de apresentação O Canva está disponível em duas versões: uma paga e com recur- sos mais completos; e uma versão gratuita, que ainda assim é bastante completa e disponibiliza diversos modelos de apresentações. Prezi Diferentemente dos aplicativos citados, o Prezi apresenta um conceito diferente de apresentação. As informações, gráficos, imagens e textos são dispostos em uma área de trabalho, e a visualização é feita com a aplicação de zoom, que aumenta cada um dos slides para que a visualização deles seja mais fácil. Assim, o Prezi possibilita que a apre- sentação seja feita de forma sequencial ou não linear, como podemos ver em algumas apresentações disponíveis na plataforma. 2 O conceito de expandir e reduzir os slides durante a apresentação traz dinamismo ao discurso, e potencializa o engajamento da plateia. O espaço da área de trabalho se assemelha a uma grande lousa, o que permite ao orador uma ampla liberdade criativa. Os slides não precisam ser construídos sempre com a mesma estru- tura. Imagens, gráficos e textos são distribuídos pelo espaço de acor- do com a criatividade do orador e os objetivos que pretende alcançar, inclusive com o uso de linhas de raciocínio e argumentações paralelas. Os diversos programas, aplicativos e ferramentas que podem ser utilizados como apoio visual para o discurso trazem uma série de vantagens para o orador. Se bem utilizados, tornam a apresentação mais dinâmica e motivadora, ajudando no engajamento do público. Porém, é sempre importante lembrar que qualquer tipo de recurso visual será sempre um apoio. A qualidade, a coerência e a credibilidade do conteúdo devem ser o ponto central do discurso. 3.5 Construção dos slides Vídeo Diversos programas e aplicativos de criação de apresentações, como o PowerPoint, o Impress e o Canva, são baseados no conceito de slides sequenciais como forma de estruturar a apresentação. Como qualquer ferramenta, é preciso que se conheça bem o programa esco- lhido, para que se possa usá-lo corretamente. Para visualizar um exem- plo de uma apresentação na plataforma Prezi, basta acessar o link a seguir. Disponível em: https://prezi.com/ p/9pean4a81caf/collaboration- world-bee-day-prezi/. Acesso em: 26 ago. 2022. 2 https://prezi.com/p/9pean4a81caf/collaboration-world-bee-day-prezi/ https://prezi.com/p/9pean4a81caf/collaboration-world-bee-day-prezi/ https://prezi.com/p/9pean4a81caf/collaboration-world-bee-day-prezi/ Preparação da Apresentação 83 Ao criar uma apresentação, é preciso escolher cuidadosamente os elementos gráficos e textuais que comporão cada um dos slides. Quan- do o espectador vê um slide com um longo parágrafo de texto, sua rea- ção imediata é ler o que está escrito. Durante esse processo, desvia sua atenção do que está sendo falado pelo orador, o que pode prejudicar o seu entendimento da mensagem. Os programas de criação de apresentações também contam com di- versos recursos de transição e animação que, se usados em excesso ou de forma desconectada com o conteúdo, cansam a plateia e desviam sua atenção. Slides com excesso de informações, pouco claros e inadequados não prejudicam apenas a comunicação, podem também gerar gra- ves prejuízos e até mesmo desastres. Hertz (2014) aponta que um slide confuso e cheio de informações complexas pode ter sido uma das possíveis causas do acidente com o ônibus espacial Columbia, da National Aeronautics and Space Administration (NASA) no ano de 2003, que causou a morte de sete tripulantes. O slide 3 , além de contar com uma grande quantidade de informações, usa frases complexas e confusas, e usa uma estrutura de tópicos e subtó- picos que parece indicar que algumas informações são mais importantes do que outras. Porém, como indica Kestenbaum (2008, tradução nossa), a informação mais importante, que foi a causa do desastre, está coloca- da no quarto nível de subtópicos, em uma fonte menor que as demais li- nhas: “pequenas variações na energia total (acima do nível de penetração) podem causar danos significativos à proteção”. 4 O slide utilizado pela NASA é um bom exemplo de como as fer- ramentas de design e de estruturação do texto, disponibilizadas pelo PowerPoint, podem ser usadas de forma errada. Por outro lado, o uso adequado da ferramenta pode trazer grandes benefí- cios para o apresentador. Galvão e Adas (2020) apresentam uma série de orientações a serem seguidas durante o processo de construção dos slides, tendo como base o roteiro desenvolvido pelo orador durante o processo de plane- jamento da apresentação. O primeiro passo é definir o tamanho dos slides. Os programas utilizados oferecem a possibilidade de usar slides de diferentes dimen- sões e relações entre a largura e altura, e a escolha do mais adequa- Para saber mais sobre o desastre do ônibus espacial Columbia, e para ver o famigerado slide problemático, acesse o link a seguir. Disponível em: https://noticias. r7.com/tecnologia-e-ciencia/ fotos/a-historia-da-apresentacao- de-power-point-que-matou-sete- pessoas-12082020. Acesso em: 02 ago. 2022. 3 Em inglês, o trecho origi- nal é: “minor variations in total energy (above pe- netration level) can cause significant tile damage”. 4 https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/a-historia-da-apresentacao-de-power-point-que-matou-sete-pessoas-12082020 https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/a-historia-da-apresentacao-de-power-point-que-matou-sete-pessoas-12082020 https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/a-historia-da-apresentacao-de-power-point-que-matou-sete-pessoas-12082020 https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/a-historia-da-apresentacao-de-power-point-que-matou-sete-pessoas-12082020 https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/a-historia-da-apresentacao-de-power-point-que-matou-sete-pessoas-12082020 84 Oratória e técnicas de apresentação do depende do equipamento de projeção que será utilizado. Alguns permitem o uso de diversas dimensões diferentes. Outros usam ape- nas um tipo de relação largura versus altura. As dimensões mais utiliza- das são apresentadas na Figura 4: Figura 4 Tipos de dimensões de slides Dimensão 4 x 3 Dimensão 16 x 9 Imagem e informação em equílibrio e sintonia Fonte: Elaborada pelo autor. As medidas das dimensões se referem à relação entre a largura versus a altura do slide, logo, na dimensão 4 × 3, o slidetem quatro unidades de medida de largura por três unidades de medida de altu- ra. Conhecer os equipamentos que serão usados na apresentação é fundamental, pois o aparelho pode redimensionar automaticamente a medida do slide, desconfigurando e distorcendo as imagens. O próximo passo é hierarquizar as informações que fazem parte do ro- teiro. Algumas palavras e frases são títulos de temas ou partes da apresen- tação, já outras representam ideias centrais, que precisam ser destacadas; enquanto as demais são secundárias, usadas para explicar e aprofundar uma ideia central. Mesmo dentro de cada frase, uma palavra pode ser mais importante, resumindo o contexto geral da ideia a ser transmitida. A hierarquização facilita o processo de construção dos slides, pois orienta a estrutura a ser usada, as palavras a serem destaca- das e a relação entre as ideias. Permite que sejam escolhidas ima- gens que representem a ideia central ou que sirvam de metáfora para a mensagem. O tamanho, a cor e o tipo das fontes utilizadas também causam um grande impacto visual, podendo facilitar ou, ao contrário, dificultar a legibilidade e a compreensão do conteúdo. A Figura 5 mostra um slide que exemplifica tanto a hierarquização quanto o uso das fontes para organizar as informações. Ne w Af ric a/ Sh ut te rs to ck Preparação da Apresentação 85 Figura 5 Exemplo de hierarquização e escolha de fontes Slide sem hierarquia e com fonte inadequada Slide com hierarquia e com fonte adequada Fonte: Elaborada pelo autor. O uso de fontes e cores diferentes para destacar os títulos, bem como a hierarquização das informações em vários níveis, facilita a compreensão da imagem. Galvão e Adas (2020) destacam a importân- cia da escolha das fontes mais adequadas para a apresentação. Além da questão da legibilidade das fontes durante a projeção, detalhes como o alinhamento das fontes com os demais elementos do slide, o uso de tamanhos e cores diferentes para dar destaque a ideias e pa- lavras, tal qual a escolha de uma fonte coerente com a mensagem são aspectos importantes na construção de uma apresentação. Os slides também precisam apresentar um equilíbrio entre a quan- tidade de texto e de imagens. O uso excessivo de textos pode deixar o slide confuso. As imagens devem ser escolhidas de forma a represen- tar a ideia central apresentada no slide, sem, contudo, se sobrepor ao texto. A Figura 6 mostra a diferença entre um slide equilibrado e outro com excesso de informações: Figura 6 Equilíbrio entre texto e imagem sh in sh ila /S hu tte rs to ck Slide com excesso de informação e desequilibrado Imagem e informação em equilíbrio e sintonia O Brasil é líder mundial no mercado de perfumes Fonte: Elaborada pelo autor. 2009 7,3 bi 2010 9,7 bi 86 Oratória e técnicas de apresentação No segundo slide da Figura 8, a informação principal está destaca- da, e as informações complementares podem ser dadas pelo orador durante a palestra. Assim, o público não se distrai lendo as informações escritas no slide. A imagem é coerente com a mensagem transmitida, sendo que os dados do gráfico de crescimento foram incorporados à imagem e se encontram em sintonia com o contexto. O uso de gráficos em slides é um ponto de atenção. Dependendo da quantidade de dados apresentados no slide, a visualização pode ficar confusa e não transmitir a ideia central. Assim, sempre que possível, o ideal é simplificar os gráficos, usando as informações principais e in- corporando os dados aos demais elementos do slide, como mostra a Figura 7: Figura 7 O uso de gráficos nos slides 1 2 EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE CAMINHÕES X VEÍCULOS FABRICADOS NO BRASIL EM RELAÇÃO AO ANO BASE 2020 Gráfico com excesso de dados 100% ano 2002 ano 2010 ano 2006 ano 2014 ano 2004 ano 2012 ano 2008 ano 2016 ano 2018 ano 2003 ano 2011 ano 2007 ano 2015 ano 2005 ano 2013 ano 2009 ano 2017 ano 2019 114% 114% 165% 151% 196% 240% 188% 278% 327% 274% 205% 148% 133% 168% 176% 183% 208% 103% 130% 144% 147% 173% 87% 177% 107%109%195% 127% 193% 108% 89% 121% 154% 166% Caminhões TT veículos 1 P an da V ec to r/ Sh ut te rs to ck 2 F ab er 14 /S hu tte rs to ck 3 P ro St oc kS tu di o/ Sh ut te rs to ck 4 a rtm ak er bi t/ Sh ut te rs to ck 5 M od ve ct or /S hu tte rs to ck EUA 43% CHINA 37% 50% 13% BRASIL 14%62%24% 32% 25% 3 45 PESO DOS MODAIS DE TRANSPORTE Dados incorporados a imagem Fonte: Elaborada pelo autor. O uso de figuras que remetem a cada um dos tipos de transpor- tes utilizados (ferroviário, rodoviário e marítimo) dá ao segundo slide um aspecto lúdico que desperta a atenção da plateia. Facilita também a compreensão da diferença do peso de cada tipo de transporte nos diversos países. Os slides são um material de apoio ao discurso, que têm como principal característica ser um recurso visual. Por isso, as imagens representam um papel central na construção dos slides. Elas precisam ser coerentes com o conteúdo e apresentar uma unidade visual que faça com que a plateia compreenda a mensagem transmitida. Cada um dos slides precisa se relacionar com os demais, construin- do uma linha de raciocínio que facilita a compreensão dos conceitos discutidos, como mostra a Figura 8: Preparação da Apresentação 87 Figura 8 Unidade visual dos slides em uma apresentação VE CT OR -1 6/ Sh ut te rs to ck Xe ni a De si gn /S hu tte rs to ck Sequência de slides incoerente e sem identidade visual definida Sequência de slides coerente e com identidade visual clara e definida Fonte: Elaborada pelo autor. Galvão e Adas (2020) apontam que diversos tipos de imagens e de comunicação visual podem ser usados na construção dos slides, de forma a criar uma identidade visual para apresentação. O tipo mais comum e mais fácil de ser desenvolvido usa apenas textos. Porém, como destacam os autores, deve-se evitar usar somente um tipo de fonte, com apenas um tamanho. A tipografia permite diversos recursos visuais, como o deslocamento dos textos, uso de fontes e cores diferentes, que criam um ritmo visual, como mostra a Figura 9: Figura 9 Sequência de slides compostos apenas por textos. Fonte: Elaborada pelo autor. 88 Oratória e técnicas de apresentação O uso de formas geométricas é uma outra maneira simples de organizar o conteúdo e criar uma unidade visual, que exige pouco co- nhecimento de design e dos recursos da ferramenta. As figuras e formas geométricas podem tanto estar isoladas, quanto combinadas com textos, imagens ou desenhos. A localização das formas no espaço do slide permi- te criar referências visuais, quando colocadas sempre na mesma posição, ou um sentido de movimento, quando localizadas em pontos diferentes do slide. A Figura 10 mostra um exemplo desse tipo de slide: Figura 10 Sequência de slides com formas geométricas Fonte: Elaborada pelo autor. Imagens que cobrem totalmente o slide são um recurso simples que causa grande impacto visual. As imagens devem ser escolhidas de forma cri- teriosa, para representar os conceitos discutidos e criar uma unidade visual. Um fator importante é usar imagens que não tenham restrição quan- to a direitos autorais, especialmente em apresentações feitas para gran- des públicos. É possível definir, nos buscadores de imagens na internet, filtros que apresentem apenas aquelas com direitos livres. Outras ferra- mentas são os bancos de imagens que disponibilizam imagens gratuitas. Neste tipo de slide, o uso de textos é bastante restrito, se resumindo a fra- ses ou palavras, para que o slide não fique poluído, como mostra a Figura 11: Figura 11 Sequência de slides com fotos cobrindo todo o slide. AN NA G RA NT /S hu tte rs to ck m em ej /S hu tte rs to ck Ra wp ix el .c om /S hu tte rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor. EscutatóriaEscutatóriaEscutar é Escutar é intençãointenção Pessoas gostam Pessoas gostam de falarde falar Preparação da Apresentação 89 Outra formade usar as imagens e fotos é cobrir apenas parcialmen- te o slide, combinando-as com formas geométricas que mantenham a unidade visual, ao mesmo tempo que se pode incluir textos mais longos e outras informações, como mostra a Figura 12. Figura 12 Sequência de slides com imagens parciais combinadas com textos. Fe ng Y u/ Sh ut te rs to ckPromoção O que atrai um consumidor que recebe milhares de ofertas todos os dias? St oc kP ho to sL V/ Sh ut te rs to ckSegmentação Como atender a segmentos de mercado se a definição de grupos sociais é cada vez mais complexa? St oc kP ho to sL V/ Sh ut te rs to ckAgilidade Como proporcionar agilidade a um Shopper acostumado a receber em casa em pouco tempo? Fonte: Elaborada pelo autor. Ícones e símbolos também podem ser usados de forma dinâmica para gerar apresentações impactantes e visualmente integradas. Os ícones são tipos de figuras facilmente encontradas nos buscadores da internet e estão disponíveis gratuitamente nos bancos de imagens. A apresentação se torna leve e lúdica, o que atrai a atenção da plateia. A Figura 13 mostra um exemplo desse tipo de slide. Figura 13 Sequência de slides com ícones ou sinais gráficos Fonte: Elaborada pelo autor. Outro recurso visual que deixa a apresentação lúdica e divertida são os desenhos, que podem tanto cobrir todo o espaço do slide – como o que ocorre com as fotos – quanto podem ser usados de 90 Oratória e técnicas de apresentação forma combinada com textos e figuras geométricas. As imagens a seguir mostram dois tipos diferentes de desenhos usados em uma apresentação. Na Figura 14, são usados desenhos vetoriais, que criam uma sensação de terceira dimensão pela disposição dos ele- mentos no espaço: Figura 14 Sequência de slides com imagens vetoriais M ac ro ve ct or /S hu tte rs to ckESTOCAGEMESTOCAGEM Ig or M as s/ Sh ut te rs to ckROTEIRIZAÇÃOROTEIRIZAÇÃO M ag yr o/ Sh ut te rs to ckT.I. APLICADA À T.I. APLICADA À LOGÍSTICALOGÍSTICA Fonte: Elaborada pelo autor. Já a Figura 15 usa desenhos estilizados, do tipo conhecido como cartum, o que deixa a apresentação bastante divertida e envolvente. A grande quantidade de imagens desse tipo disponíveis representa uma vantagem, pois possibilita o uso da criatividade do orador na monta- gem dos slides. Por outro lado, embute um risco: os slides podem ficar poluídos e confusos. Figura 15 Sequência de slides com desenhos ba rri rre t/ Sh ut te rs to ck Na dy a_ Ar t/ Sh ut te rs to ck Na um ov a M ar in a/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor. Outro ponto que precisa ser considerado na criação do material de apoio para a apresentação é a quantidade de slides a serem usa- dos. Existe um mito de que o orador deve preparar um slide para cada minuto da apresentação. Porém, na prática, um slide pode ser expli- cado em poucos segundos, enquanto outros levam diversos minutos para serem abordados. É possível até que toda a apresentação seja feita com apenas um slide. Existem aplicativos especí- ficos que utilizam imagens do tipo cartum para produção de desenhos e slides, com milhares de figuras disponíveis. Dentre elas, destacamos duas plataformas: Powtoon: https://www.powtoon. com/. VideoScribe: https://www. videoscribe.co/en/. Acessos em: 26 ago. 2022. Site NecessidadesNecessidades ConflitoConflito Novo olhar Novo olhar Resultados positivosResultados positivos SentimentosSentimentos Novo pensarNovo pensar Necessidades básicasNecessidades básicas https://www.powtoon.com/ https://www.powtoon.com/ https://www.videoscribe.co/en/ https://www.videoscribe.co/en/ Preparação da Apresentação 91 Segundo Galvão e Adas (2020), uma forma de definir a quantidade de slides é testar a apresentação. Após transformar o roteiro em uma sequência de slides, o orador deve realizar a apresentação da mes- ma forma como será feita para a plateia. Esse teste pode ser grava- do – tanto em vídeo quanto em áudio – com o objetivo de calcular se a quantidade de slides está adequada ao tempo disponível, bem com identificar slides confusos ou que podem ser melhorados. O ensaio também é uma forma eficiente de ajustar o conteúdo, melhorar o discurso e desenvolver ideias de comunicação não verbal que podem ser usadas durante a apresentação. Outro ponto que precisa ser considerado na criação do material de apoio para a apresentação é a quantidade de slides a serem usa- dos. Existe um mito de que o orador deve preparar um slide para cada minuto da apresentação. Porém, na prática, um slide pode ser expli- cado em poucos segundos, enquanto outros levam diversos minutos para serem abordados. É possível até que toda a apresentação seja feita com apenas um slide. Existem aplicativos especí- ficos que utilizam imagens do tipo cartum para produção de desenhos e slides, com milhares de figuras disponíveis. Dentre elas, destacamos duas plataformas: Powtoon: https://www.powtoon. com/. VideoScribe: https://www. videoscribe.co/en/. Acessos em: 26 ago. 2022. Site CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim como ocorre com qualquer processo de comunicação, uma palestra, discurso ou aula será interessante se o tema e o conteúdo gerarem interesse na plateia. A audiência quer entender o motivo pelo qual o conteúdo apresentado é interessante, e como esse conhecimento pode impactar sua vida. Assim, definir claramente a estrutura da apre- sentação, o tipo de discurso a ser utilizado, criar um roteiro que engaje a plateia e usar recursos de apoio adequados aumenta de forma signi- ficativa a possibilidade de o orador alcançar seus objetivos ao final da apresentação. ATIVIDADES Atividade 1 A definição do tema do discurso é uma importante etapa do planejamento da apresentação. Portanto, explique a importância desse passo. Atividade 2 Explique a diferença entre o discurso argumentativo, o discurso narrativo e o discurso expositivo. https://www.powtoon.com/ https://www.powtoon.com/ https://www.videoscribe.co/en/ https://www.videoscribe.co/en/ 92 Oratória e técnicas de apresentação Atividade 3 Explique por que o uso do storytelling pelos oradores pode ajudar a estabelecer empatia com o público. REFERÊNCIAS BORGES, W. J.; GOIS, P. H.; TATTO, L. Storytelling e estratégia: a cognição como forma de integração. Revista Saber Acadêmico, n. 11, jun. 2011. Disponível em: http://uniesp.edu.br/ sites/_biblioteca/revistas/20180403120715.pdf. Acesso em: 26 ago. 2022. CAMPBELL, J. Herói de Mil Faces, Cidade da Guatemala: Fundación Cholsamj, 2004. CUSTÓDIO, C. R. S. N.; FAGUNDES, M. A. Storytelling e as tecnologias de informação durante a condução de aulas remotas síncronas em um curso de Biomedicina – Relato de experiência. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Matemática (RBECM), v. 5, p. 228-232, 2022. Disponível em: http://seer.upf.br/index.php/rbecm/article/view/13213/114116334. Acesso em: 26 ago. 2022. FERES, M. V. C.; SILVA, L. A. PARA ALÉM DO DEBATE WINDOWS x LINUX: efeito de aprisionamento e propriedade intelectual do software. Revista de Propriedade Intelectual Direito Contemporâneo e Constituição (PIDCC), v. 12, n. 3, p. 22-45, out. 2018. 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Porém, é no momento da apresentação que toda essa elaboração será colocada em prática. Assim, por mais que o orador esteja bem- -preparado, é preciso levar em consideração alguns pontos centrais na hora de realizar a palestra. Na primeira parte do capítulo, o tema é a importância da adequação do vestuário e da apresentação pessoal do palestrante. O tipo de pal- co, o microfone e os equipamentos a serem utilizados, a possibilidade de a palestra ser gravada ou transmitida para um público mais amplo são pontos a serem considerados pelo palestrante na hora de definir a forma como se vestirá para o evento. Outro aspecto a ser tratado é a questão da higiene e dos cuidados pessoais, especialmente para oradores que realizam apresentações com frequência, como acontece com professores. A segunda parte do capítulo é dedicada a discutir a postura e mo- vimentação na construção da comunicação não verbal, ferramenta im- portante na comunicação e na construção da relação de empatia com a plateia. O estabelecimento de um vínculo empático entre o orador e a pla- teia é discutido na terceira parte do capitulo. Tendo como base teórica os três elementos da retórica aristotélica – ethos, páthos e logos –, são apresentadas as diversas ferramentas e ações que podem ser adota- das pelo orador para construir essa conexão com o público. Por fim, na última parte do capítulo, o tema é a capacidade de o ora- dor lidar com situações inesperadas, que fogem de seu planejamento, e o uso do improviso durante o discurso. 94 Oratória e técnicas de apresentação res do evento que define o tipo de roupa a ser utilizado pelos pales- trantes. É importante também entender como o público estará vestido. Por exemplo, pense em um evento empresarial que ocorrerá no hotel de uma cidade do litoral, tendo como público os colaboradores da empresa. Provavelmente, o público estará vestido com roupas mais informais, adequadas ao local e ao clima. Nesse contexto, a roupa do palestrante pode também ser mais informal. A segunda pergunta que o orador deve se fazer é se sua palestra será filmada. Algumas cores não são adequadas para eventos que se- rão transmitidos ou gravadas. Roupas brancas podem refletir muito a luz, borrando a figura do orador na gravação. Roupas pretas – espe- cialmente em um palco com fundo escuro – podem causar um efeito contrário, diminuindo o destaque do orador. Roupas com desenhos pequenos, listras ou padrões repetidos podem causar problemas de definição da imagem. O uso de microfones é outro ponto de atenção para o orador. Mi- crofones do tipo auricular ou headset, por ficarem próximos ao rosto, podem gerar ruídos, sobretudo no caso de mulheres, devido ao uso de brincos ou correntes. Microfones sem fio, em geral, exigem que a uni- dade de bateria seja colocada em um bolso ou na cintura. Portanto, é preciso ter o cuidado de usar roupas que suportem esse equipamento. Já os microfones de mão não apresentam tantas limitações técni- cas. Por outro lado, podem atrapalhar a movimentação e a gesticula- ção do orador. Acessórios, joias, relógios e bijuterias devem ser escolhidos com cui- dado, pois, como supracitado, podem gerar barulhos captados pelos microfones, bem como reflexos e brilhos que podem prejudi- car a gravação das imagens. A última pergunta que o orador deve fazer para definir sua forma de se vestir, conforme Anderson (2016), é como será o palco. Um palco grande dá espaço para o orador se movimentar e andar, mas, ao mesmo tempo, pode fazer com que a figura do apresentador se torne pequena. Nesse sentido, roupas de cores mais claras e vibrantes podem destacar a figura do CEO do mais conhecido evento de palestras do mundo, o Ted Talks, Chris Anderson apresenta em seu livro, TED Talks: o guia oficial do TED para falar em público, uma série de dicas e orientações sobre como planejar e realizar uma palestra. Com a autoridade de quem já foi responsável pela or- ganização de milhares de apresentações, algumas delas entre as mais assis- tidas das plataformas de vídeo, Anderson oferece um verdadeiro manual de como realizar uma palestra de alto nível. ANDERSON, C. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. Livro A importância da ves- timenta na construção da imagem é o tema da surpreendente palestra A aparência não é tudo. Acre- ditem em mim, sou modelo. A apresentadora, que também é uma modelo, Cameron Russell, entra no palco com um vestido justo e curto, o que causa um grande impacto visual. Porém, durante a palestra, troca de roupa, vestindo uma saia e uma blusa confortáveis, mos- trando como uma simples mudança de roupa pode mudar totalmente a percepção das pessoas a respeito de um orador. A modelo aborda como a imagem e os padrões de beleza ocupam um papel importante na cultura contemporânea. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas em português. Disponível em: https://www. ted.com/talks/cameronru sselllooksarente verythingbelieveme imamodel?language=pt. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo Figura 1 Microfone tipo headset Com o estudo deste capítulo, você será capaz de: • entender a importância da adequação do vestuário e dos tipos de recursos visuais utilizados conforme o tema e o tipo de público; • notar a importância da postura e da comunicação não verbal du- rante a apresentação; • compreender a importância de conhecer e entender a plateia para construir relacionamento e empatia com o público; • entender a possibilidade de adaptar o planejamento e improvisar ao longo da apresentação em público, diante de situações cons- trangedoras ou imprevisíveis. Objetivos de aprendizagem 4.1 Vestuário e recursos visuais Vídeo A primeira impressão é a que fica! O dito popular faz sentido em diversas situações sociais e é prin- cipalmente verdadeiro quando se refere a um palestrante, orador ou professor que se apresenta pela primeira vez a uma plateia. A aparência pessoal e a forma como o apresentador se veste refle- tem pontos importantes de sua imagem e fazem parte de sua comuni- cação não verbal. Por isso, é preciso que haja coerência entre a forma como o orador se mostra e o conteúdo de sua mensagem. Roupas, acessórios, sapatos e cabelo constroem uma imagem que funciona como um suporte e um validadorda mensagem transmitida. O primeiro ponto a se destacar é que não há uma forma correta ou errada de se vestir. Depende do contexto, do conteúdo, do local onde ocorre a palestra e de seu público. Imagine uma apresentação desen- volvida por uma marca de roupas para skatistas na qual o palestrante está vestido com um terno. Ou uma palestra em um banco ou uma empresa ligada à administração pública na qual seu representante está vestido de bermuda e camiseta. Chris Anderson, criador de um dos mais importantes eventos de pa- lestras do mundo, o Ted Talks, explica que o orador deve fazer alguns questionamentos que irão direcionar a escolha do figurino. Segundo Anderson (2016), o principal questionamento é saber se há um dress code, ou seja, um guia de orientação desenvolvidos pelos organizado- https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt res do evento que define o tipo de roupa a ser utilizado pelos pales- trantes. É importante também entender como o público estará vestido. Por exemplo, pense em um evento empresarial que ocorrerá no hotel de uma cidade do litoral, tendo como público os colaboradores da empresa. Provavelmente, o público estará vestido com roupas mais informais, adequadas ao local e ao clima. Nesse contexto, a roupa do palestrante pode também ser mais informal. A segunda pergunta que o orador deve se fazer é se sua palestra será filmada. Algumas cores não são adequadas para eventos que se- rão transmitidos ou gravadas. Roupas brancas podem refletir muito a luz, borrando a figura do orador na gravação. Roupas pretas – espe- cialmente em um palco com fundo escuro – podem causar um efeito contrário, diminuindo o destaque do orador. Roupas com desenhos pequenos, listras ou padrões repetidos podem causar problemas de definição da imagem. O uso de microfones é outro ponto de atenção para o orador. Mi- crofones do tipo auricular ou headset, por ficarem próximos ao rosto, podem gerar ruídos, sobretudo no caso de mulheres, devido ao uso de brincos ou correntes. Microfones sem fio, em geral, exigem que a uni- dade de bateria seja colocada em um bolso ou na cintura. Portanto, é preciso ter o cuidado de usar roupas que suportem esse equipamento. Já os microfones de mão não apresentam tantas limitações técni- cas. Por outro lado, podem atrapalhar a movimentação e a gesticula- ção do orador. Acessórios, joias, relógios e bijuterias devem ser escolhidos com cui- dado, pois, como supracitado, podem gerar barulhos captados pelos microfones, bem como reflexos e brilhos que podem prejudi- car a gravação das imagens. A última pergunta que o orador deve fazer para definir sua forma de se vestir, conforme Anderson (2016), é como será o palco. Um palco grande dá espaço para o orador se movimentar e andar, mas, ao mesmo tempo, pode fazer com que a figura do apresentador se torne pequena. Nesse sentido, roupas de cores mais claras e vibrantes podem destacar a figura do CEO do mais conhecido evento de palestras do mundo, o Ted Talks, Chris Anderson apresenta em seu livro, TED Talks: o guia oficial do TED para falar em público, uma série de dicas e orientações sobre como planejar e realizar uma palestra. Com a autoridade de quem já foi responsável pela or- ganização de milhares de apresentações, algumas delas entre as mais assis- tidas das plataformas de vídeo, Anderson oferece um verdadeiro manual de como realizar uma palestra de alto nível. ANDERSON, C. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. Livro A importância da ves- timenta na construção da imagem é o tema da surpreendente palestra A aparência não é tudo. Acre- ditem em mim, sou modelo. A apresentadora, que também é uma modelo, Cameron Russell, entra no palco com um vestido justo e curto, o que causa um grande impacto visual. Porém, durante a palestra, troca de roupa, vestindo uma saia e uma blusa confortáveis, mos- trando como uma simples mudança de roupa pode mudar totalmente a percepção das pessoas a respeito de um orador. A modelo aborda como a imagem e os padrões de beleza ocupam um papel importante na cultura contemporânea. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas em português. Disponível em: https://www. ted.com/talks/cameronru sselllooksarente verythingbelieveme imamodel?language=pt. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo Figura 1 Microfone tipo headset Th eV is ua ls Yo uN ee d/ Sh ut te rs to ck A apresentaçãoA apresentação 9595 https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt https://www.ted.com/talks/cameron_russell_looks_aren_t_everything_believe_me_i_m_a_model?language=pt orador. Por outro lado, um púlpito limita a movimentação do orador e faz com que suas roupas não sejam totalmente visualizadas. O uso de cores fortes e vibrantes, assim como estampas e padrões, de- pende da imagem pessoal e da mensagem que o orador quer transmitir, todavia cores neutras e tons pasteis transmitem mais seriedade e credibilidade. As roupas precisam ser confortáveis e ajustadas ao corpo, porém deve- -se evitar roupas muito justas, que possam atrapalhar os movimentos e até mesmo a respiração. Roupas muito largas, apesar de confortáveis, podem parecer ainda maiores quando vistas a distância, sob a luz dos holofotes. Assim, o orador tem de escolher roupas com as quais se sinta confortável. A escolha dos sapatos deve privilegiar o conforto e a estabilidade, espe- cialmente em palestras longas ou palcos grandes, nos quais o palestran- te pode se movimentar. Essa é uma orientação especialmente importante para mulheres, pois o uso de sapatos com salto alto pode causar desequilí- brio durante a palestra, caso o palco tenha uma superfície irregular ou caso a palestrante não tenha o costume de utilizar esse tipo de sapato com muita frequência. Uma boa base de apoio dá ao palestrante segurança, ajuda na respiração, na atenção e na projeção da voz. Apesar das orientações gerais sobre as roupas, é fundamental que o apresentador mantenha a sua própria imagem e estilo pessoal. Tentar co- piar pessoas ou oradores famosos pode diminuir a credibilidade, ao pas- sar a impressão de que a pessoa tenta ser outra. Atenção especial deve ser dada às condições nas quais se encon- tram as roupas. Peças sujas, amarrotadas ou manchadas passam a impressão de desleixo e podem levar a plateia a concluir que o palestrante não dá a devida importância à apresentação. Por esse motivo, é essencial que o orador, se possível, tenha uma opção de troca de roupa, caso ocorra algum acidente, como manchas causadas por bebidas ou alimentos, muito comuns em eventos que contam com coffee breaks, lanches ou refeições. Seja em grandes palcos com telões que reproduzem a imagem do palestrante em tempo real, em palestras realizadas em espa- ços menores, reuniões ou até mesmo em aulas, a atenção da pla- Ne bo js a M ar ko vic /S hu tte rs to ck 96 Oratória e técnicas de apresentaçãoOratória e técnicas de apresentação A apresentação 97 teia irá se concentrar principalmente no rosto do orador. Por isso, a higiene é um dos mais importantes elementos da imagem pessoal. O cabelo deve estar limpo e arrumado, independentemente do tipo de corte ou penteado utilizado.No caso dos homens, a barba precisa estar bem cuidada, ainda mais se o apresentador usa barba comprida. As unhas devem estar limpas e bem-feitas, principalmente se o orador utiliza micro- fone de mão, pois esta passa a ser a parte mais visível do palestrante. Da mesma forma, é imprescindível ter cuidado com a maquiagem, que tem de ser, preferencialmente, discreta e condizente com as roupas e acessórios utilizados. Caso utilize roupas claras, é preciso ter cuidado com manchas de trans- piração que possam marcar a camisa. A forte iluminação utilizada em even- tos faz com que o palco seja mais quente do que o restante do espaço no qual o evento ocorre. Assim, pessoas que costumam transpirar em excesso devem escolher roupas que não fiquem marcadas com o suor. A preocupação com a higiene é relevante, sobretudo para os pro- fessores. Uma palestra é um evento específico, para o qual o orador tem tempo para se preparar e pensar em detalhes. Já para o professor, o ato de falar em público é diário, diversas vezes ao dia, e cada sala de aula é uma plateia diferente. Nas aulas matutinas, recomenda-se que o professor tome cuidado com o cabelo e garanta que as roupas estejam passadas e alinhadas. Após os intervalos e refeições, é preciso verificar se não há manchas nas roupas ou migalhas de alimentos no rosto. Nas aulas noturnas, deve-se ter cuidado redobrado com a aparência das roupas, principalmente no caso de professores que desenvolvem outras ati- vidades profissionais durante o dia. Ao final de um dia de trabalho, depois de diversas refeições e deslocamentos pela cidade, há uma grande probabi- lidade de que as roupas estejam amassadas ou sujas. Um dos mais conhecidos e respeitados empresários, reconhecido como um excepcional palestrante, Steve Jobs, usava sempre a mesma roupa em suas palestras: uma calça jeans, tênis brancos e uma camiseta preta de mangas longas, como mostra a Figura 2. 98 Oratória e técnicas de apresentação Porém, em uma de suas marcantes apresentações, usa algumas caixas plásticas e miniaturas para demonstrar a evolução do desen- volvimento econômico e o crescimento populacional global. Com estes simples recursos, o médico realiza uma palestra extremamente lúdica e educativa. Transmitindo sua mensagem de forma clara e estabele- cendo uma profunda relação de empatia com o público. Anderson (2016) cita diversos outros tipos de recursos e formatos de palestras e discursos que podem ser utilizados e traz alguns exemplos, como Bill Gates, que, para abordar como a malária ainda é um problema em muitos países, soltou no palco uma nuvem de mosquitos 1 . Outros tipos de recursos citados pelo autor são telas panorâmicas, uso de sons e aromas, óculos 3D distribuídos para a plateia, entrevistas pre- senciais ou por meio de ferramentas virtuais, poesias, música e dança. Hans Rosling se destacava por sua criatividade ao realizar suas palestras. Nascido na Suécia, sua fala em inglês era extre- mamente carregada de sotaque e, algumas vezes, de difícil compreensão para suas plateias nos EUA. Assim, usava com bastante frequência recursos visuais para fa- cilitar o entendimento de suas palestras. No vídeo Crescimento da população global, caixa a caixa, ele usa objetos como caixas e miniaturas de forma bri- lhante em uma divertida e instrutiva palestra. O ví- deo está em inglês, mas é possível ativar as legendas em português. Disponível em: https://www.ted. com/talks/hans_rosling_global_ population_growth_box_by_ box?subtitle=pt-br. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo Para ver a famosa apre- sentação em que Gates solta no palco mosquitos que não estão infectados com malária, basta aces- sar o link a seguir. Disponível em: https://www. ted.com/talks/bill_gates_ mosquitos_malaria_and_ education?language=pt-br. Acesso em: 22 ago. 2022. 1 Figura 2 O figurino de Steve Jobs An to n_ Iv an ov /S hu tte rs to ck Estátua de cera de Jobs no museu Madame Tussauds, em São Francisco, nos EUA. Sua imagem se tornou um ícone reconhecido tanto pelos entusias- tas de tecnologia quanto pelo público em geral. Em uma entrevista, Jobs explicou sua escolha pela roupa neutra: eram os produtos que deveriam chamar a atenção do público, não sua aparência. O uso de recursos visuais durante uma apresentação vai além dos projetores de slides ou vídeos. Existem diversas formas de ilustrar uma ideia ou as informações apresentadas pela palestra. O uso de objetos físicos ou dinâmicas com a participação do público, por não serem prá- ticas tão comum nas palestras e apresentações, podem ser uma forma de surpreender a plateia e fixar o conceito discutido. Hans Rosling (1948-2017), renomado médico sanitarista e professor de saúde internacional, ao sentir a necessidade de apresentar informa- ções extremamente complexas sobre saúde pública, as quais envolviam a evolução – durante décadas – de dados de áreas diversas, como renda, taxas de natalidade e mortalidade, educação e estrutura sanitária, de- senvolveu um sistema de computador chamado Gapminder, que facilita a visualização de dados estatísticos. Com essa ferramenta, Rosling apre- sentou palestras memoráveis em eventos globais. https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br A apresentação 99 Porém, em uma de suas marcantes apresentações, usa algumas caixas plásticas e miniaturas para demonstrar a evolução do desen- volvimento econômico e o crescimento populacional global. Com estes simples recursos, o médico realiza uma palestra extremamente lúdica e educativa. Transmitindo sua mensagem de forma clara e estabele- cendo uma profunda relação de empatia com o público. Anderson (2016) cita diversos outros tipos de recursos e formatos de palestras e discursos que podem ser utilizados e traz alguns exemplos, como Bill Gates, que, para abordar como a malária ainda é um problema em muitos países, soltou no palco uma nuvem de mosquitos 1 . Outros tipos de recursos citados pelo autor são telas panorâmicas, uso de sons e aromas, óculos 3D distribuídos para a plateia, entrevistas pre- senciais ou por meio de ferramentas virtuais, poesias, música e dança. Hans Rosling se destacava por sua criatividade ao realizar suas palestras. Nascido na Suécia, sua fala em inglês era extre- mamente carregada de sotaque e, algumas vezes, de difícil compreensão para suas plateias nos EUA. Assim, usava com bastante frequência recursos visuais para fa- cilitar o entendimento de suas palestras. No vídeo Crescimento da população global, caixa a caixa, ele usa objetos como caixas e miniaturas de forma bri- lhante em uma divertida e instrutiva palestra. O ví- deo está em inglês, mas é possível ativar as legendas em português. Disponível em: https://www.ted. com/talks/hans_rosling_global_ population_growth_box_by_ box?subtitle=pt-br. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo Para ver a famosa apre- sentação em que Gates solta no palco mosquitos que não estão infectados com malária, basta aces- sar o link a seguir. Disponível em: https://www. ted.com/talks/bill_gates_ mosquitos_malaria_and_ education?language=pt-br. Acesso em: 22 ago. 2022. 1 4.2 Postura e linguagem corporal durante a apresentação Vídeo A linguagem corporal ou não verbal representa notável parcela das mensagens e informações transmitidas nos processos de comunica- ção. No contexto da oratória e dasapresentações, torna-se ainda mais importante, porque a plateia consegue perceber, na comunicação não verbal do orador, aspectos como segurança, confiança e tranquilidade, que ajudam não só na construção de uma relação de empatia, mas também no aumento da credibilidade do palestrante. Algumas atitudes simples relacionadas à postura corporal podem ajudar o orador a transmitir as mensagens adequadas a plateia. Em seguida, algumas dessas posturas serão apresentadas e comentadas. Gesticulação Os gestos e a movimentação de braços e mãos são os instrumentos mais expressivos da comunicação não verbal. No entanto, esses gestos precisam ser naturais e alinhados com a mensagem e a comunicação verbal. Conforme Weil e Tompakow (2017), o desalinhamento entre o que está sendo dito é rapidamente percebido pelos interlocutores de uma conversa ou membros de uma plateia. Os gestos devem ser usados para destacar pontos importantes, enfatizar informações e opi- niões ou ilustrar o conteúdo da mensagem. A gesticulação não pode ser confundida com inquietação ou nervosismo. su m ire 8/ Sh ut te rs to ck du m ay ne /S hu tte rs to ck https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/hans_rosling_global_population_growth_box_by_box?subtitle=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br https://www.ted.com/talks/bill_gates_mosquitos_malaria_and_education?language=pt-br 100 Oratória e técnicas de apresentação Se o orador já tem o hábito de gesticular durante sua fala normal, consegue usar bem os gestos durante a palestra. Já pessoas que nor- malmente não utilizam com tanta intensidade os gestos no cotidiano podem apresentar certa dificuldade de usá-los adequadamente duran- te a palestra, ou exagerando demais a movimentação, ou, ao contrário, mantendo braços e mãos rígidos junto ao corpo. Por isso, é importante que o orador entenda sua forma de se movimentar durante a fala e use de forma natural durante a apresentação. Uma boa ferramenta para que o orador tome consciência de sua forma de movimentação é gravar suas palestras, de modo a entender como seus gestos se relacionam com cada momento de sua fala. Movimentos exagerados A gesticulação é um importante instrumen- to de comunicação. Porém, movimentação das mãos e braços de maneira muito ampla, principalmente com as mãos acima da cabe- ça, denotam que o orador busca exagerar a importância do que está falando, ainda mais se a movimentação é realizada em momentos nos quais dados e informações estão sendo transmitidas. Os movimentos exagerados podem também passar a impressão de agressividade e, por isso, intimidar a plateia, levando-a a se sentir coa- gida. O recomendado é que os gestos realizados com as mãos e os braços ocupem o espaço à frente do orador, tendo como limite inferior a linha da cintura, e limite superior a linha dos olhos. Cruzar os braços Uma postura que deve ser evitada é cruzar as pernas ou os bra- ços durante a fala. Weil e Tompakow (2017) defendem que adotar uma postura com os braços cruzados em frente ao corpo durante uma con- versa pode significar proteção, discordância ou insegurança. Em uma palestra, a plateia pode interpretar a postura defensiva, mostrando que o orador não está seguro de suas ideias ou se sente ameaçado pela plateia. A psicóloga Amy Cuddy, no vídeo A nossa lingua- gem corporal modela quem somos, fala da importância da consciência corporal e a forma como usamos os movimentos e gestos durante a comunicação. Cuddy mostra que a postura corporal influen- cia na predisposição, motivação e no estado de espirito da pessoa. Uma de suas dicas é que, antes de um evento que irá exigir muito da linguagem corporal, a pessoa deve adotar durante cerca de dois minutos uma pos- tura a que ela chama de “mulher-maravilha”, que aumenta a segurança e a confiança. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar legendas. Disponível em: https://www. ted.com/talks/amy_cuddy_ your_body_language_ may_shape_who_you_are/ transcript?language=pt. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo du m ay ne /S hu tte rs to ck Ge lp i/S hu tte rs to ck du m ay ne /S hu tte rs to ck Ph ru et /S hu tte rs to ck https://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_language_may_shape_who_you_are/transcript?language=pt https://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_language_may_shape_who_you_are/transcript?language=pt https://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_language_may_shape_who_you_are/transcript?language=pt https://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_language_may_shape_who_you_are/transcript?language=pt https://www.ted.com/talks/amy_cuddy_your_body_language_may_shape_who_you_are/transcript?language=pt A apresentação 101 O gesto pode ser usado em momentos específicos, para chamar a atenção para um ponto da fala, por exemplo, quando o orador quer demonstrar indignação ou criticar uma ideia ou comportamento adota- do por outras pessoas. A postura ideal é manter as costas eretas, cabe- ça erguida, olhando em direção à plateia, com peito aberto e braços livres para gesticular quando for necessário. Mãos travadas Essa é outra postura que dificulta a movimentação e a gesticula- ção. Na comunicação não verbal, as mãos travadas pode apresentar o sentido de submissão, ou insegurança. Na palestra, revela que o ora- dor está se sentindo desconfortável e busca conter os movimentos dos braços para não demonstrar o nervosismo. Outra forma de travar os movimentos das mãos é colocá-la nos bolsos. Esta postura limita ainda mais o movimento das mãos e, caso o palco permita a movimentação, pode inclusive dificultar ou impedir o deslocamento do orador. Complica também a expressivi- dade e possivelmente gera desconfiança e falta de empatia na plateia. Gestos repetitivos Coçar a cabeça, arrumar a roupa, apertar as mãos, passar a mão no rosto. Todos esses gestos podem ser feitos durante uma palestra. To- davia, se forem realizados de forma repetida, demonstram para a pla- teia que o orador está nervoso e não se sente seguro sobre o que está dizendo. Algumas pessoas apresentam gestos repetitivos mesmo em momentos em que não estão se comunicando. Porém, em uma apre- sentação, é necessário tomar cuidado redobrado com esses tipos de gestos, pois geram extremo desconforto na plateia. Virar de costas para a audiência É uma postura que pode causar na plateia uma impressão bastante negativa em relação ao orador. Pode ocorrer principalmente em pal- cos nos quais a projeção dos slides ou dos recursos visuais é feita na parede do fundo, atrás da posição do orador. Ao virar as costas para ler o que está sendo projetado, a plateia pode se sentir desrespeitada, considerando que o orador não se im- du m ay ne /S hu tte rs to ck Ph ru et /S hu tte rs to ck du m ay ne /S hu tte rs to ck ru kx st oc kp ho to /S hu tte rs to ck 102 Oratória e técnicas de apresentação porta com ela, sobretudo se a postura for adotada com frequência e durante longos períodos. O rosto do palestrante é um dos pontos que mais chamam a atenção dos espectadores. Caso o orador precise olhar os slides para se relembrar de alguns pontos da palestra, o ideal é que use um recurso como um telepromp- ter (equipamento em que os textos são projetados em uma tela trans- parente, para auxiliar o palestrante a relembrar os textos). Outra solução é se posicionar na lateral do palco, de tal forma que, se for preciso ler o slide, o orador fique de lado para a plateia. Além disso, o uso de um apontador laser ajuda a guiar o olhar da plateia para ospontos e tópicos do slide que o orador quer destacar. Contato visual O olhar é uma das mais importantes ferramentas da comunicação. Weil e Tompakow (2017) afirmam que o olhar demonstra o interesse do interlocutor na mensagem transmitida pelo falante. A forma de uso do olhar, pelo palestrante, depende do tamanho da plateia e da confi- guração do palco. Palcos grandes, nos quais a plateia está distante e, em geral, na penumbra dificultam o uso do olhar como ferramenta de comunicação. Mesmo com essa restrição, o orador não deve manter os olhos fixos em apenas um lugar. Essa postura pode passar a impressão de desco- nexão com a plateia, que o orador não tem consciência de que há um público presente. O olhar fixo, se direcionado para baixo, pode trans- mitir insegurança. Por outro lado, se direcionado para cima, pode levar a plateia a considerar que o orador está sendo arrogante. Embora não seja possível enxergar individualmente as pessoas, a melhor postura é correr os olhos pela plateia, fixando-se em certos pontos durante alguns segundos, como se o orador estivesse dire- cionado a fala a uma pessoa específica. Em espaços menores, como salas de aula, o uso do olhar se torna ainda mais importante. Neste contexto, o orador deve evitar fixar o olhar em apenas um partici- pante, como se estivesse falando apenas com uma pessoa. O olhar deve correr pela plateia, detendo-se durante alguns segundos em pessoas específicas. du m ay ne /S hu tte rs to ck Pa nd a be ar F am ily /S hu tte rs to ck du m ay ne /S hu tte rs to ck Lu is C ar lo s T or re s/ Sh ut te rs to ck A apresentação 103 Em uma palestra ou aula, se o público desvia o olhar, se distrai com celulares ou em conversas paralelas, o orador não está conse- guindo captar a atenção e engajar a plateia. Pela postura corporal dos ouvintes, é possível identificar pessoas que estão interessadas, aqueles que concordam com o que o orador está dizendo, bem como aqueles que discordam ou demostram desinteresse. Assim, o orador pode usar tanto o olhar como outras ferramentas de orató- ria, como a comunicação não verbal para alterar o comportamento dos participantes Movimentação no espaço do palco Movimentar-se pelo palco é uma excelente ferramenta para pren- der a atenção da plateia. Contudo, é preciso que se tome alguns cui- dados com a movimentação. O orador deve equilibrar momentos em que anda pelo palco e nos quais para em determinados pontos, como forma de dar ênfase ao discurso. Por exemplo, quando o apresentador se aproxima da frente do palco, a plateia fica mais alerta. Momentos de reflexão ou em que uma questão é direcionada à plateia funcionam melhor se o orador está parado. Por outro lado, andar pelo palco traz dinamismo à fala. O andar deve ser firme e confiante. Por isso, roupas e calçados devem ser confortáveis e deixar o orador seguro durante a movimentação. De- ve-se evitar andar muito rápido, uma vez que pode gerar o risco de uma queda e dar a impressão à plateia de que o orador está insegu- ro e nervoso. A movimentação deve estar alinhada ao conteúdo do discurso. Por exemplo, se o orador vai apresentar dois pontos de vista diferentes sobre um tema, pode alternar as posições no palco sempre que for apresentar cada linha de argumento. A configuração do palco pode influenciar a liberdade de o orador se movimentar pelo palco, a título de exemplo, um púlpito ou um microfo- ne que não pode ser retirado de seu pedestal. Mas, mesmo nesses ca- sos, o palestrante pode usar movimentos e gestos para exprimir suas ideias e transmitir informações. du m ay ne /S hu tte rs to ck ka i k ei su ke /S hu tte rs to ck Em uma divertida palestra Bobby McFerrin Demonstrates the Power of the Pentatonic Scale, o reconhecido músico Bobby Mcferrin usa o posicionamento no palco para demonstrar o uso das escalas musicais. O músico usa o movimento para gerar uma intensa interação da plateia. O vídeo está em inglês, mas é possível ativar as legendas para melhor entendimento. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=ne6tB2KiZuk. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=ne6tB2KiZuk https://www.youtube.com/watch?v=ne6tB2KiZuk https://www.youtube.com/watch?v=ne6tB2KiZuk 104 Oratória e técnicas de apresentação Interação com a plateia A forma de movimentação e a gesticulação tem de ser usada como uma maneira de encorajar a plateia a participar da palestra. Movimen- tos positivos, com as palmas das mãos viradas para cima, polegares levantados, uma expressão facial aberta e franca, movimentos de acolhimento e abertura ajudam a construir uma relação de empatia e engajamento. A interação com a plateia pode ocorrer em momentos específicos, previamente planejados, como uma pergunta direcionada ao público, ou de modo espontâneo, quando surge um comentário ou questiona- mento. Em palestras realizadas em grandes espaços, ou em ambientes e contextos mais formais, geralmente não há a possibilidade de o pú- blico interagir espontaneamente. Neste contexto, o apresentador tem mais controle sobre as interações. Já em uma sala de aula, a interação natural dos alunos é bastante frequente, assim o professor precisa es- tar preparado para lidar com estas intervenções, a fim de aumentar a empatia e o engajamento do público. 4.3 Construindo empatia com o público Vídeo Um dos primeiros pontos do planejamento de uma apresentação (e discutidos na primeira parte deste capítulo) é buscar informações sobre a plateia, com a intenção de entender suas expectativas, conheci- mentos, opiniões e experiências com o tema que será abordado. Quan- to mais se conhece sobre o público, mais fácil é adaptar a linguagem do discurso ao seu nível de conhecimento e expectativas. Porém, nem sempre é possível obter informações prévias sobre as pessoas que participarão da apresentação. Um professor ou um gestor que vão fazer uma apresentação para sua equipe conhecem bem seu público, um palestrante que vai fazer um discurso para um público de um evento aberto, por sua vez, tem poucas possibilidades de captar informações específicas sobre a plateia. Uma postura equivocada que alguns palestrantes adotam é des- considerar as características específicas do público e realizar sempre a mesma apresentação, com a mesma linguagem, as mesmas observa- ções e a mesma abordagem. Como destaca Anderson (2016, p.8), du m ay ne /S hu tte rs to ck ne xu s 7/ Sh ut te rs to ck A apresentação 105 não existe uma única maneira de dar uma palestra de alto nível. O mundo do conhecimento é amplo demais, e a gama de pales- trantes e de plateias, demasiado variada. Qualquer tentativa de aplicar uma fórmula predefinida provavelmente será um tiro pela culatra. O público percebe isso na hora e se sente manipulado. Entender e conhecer as expectativas do público é fundamental para que o orador possa construir uma relação empática com a pla- teia. Estabelecer essa conexão é primordial em qualquer processo de comunicação, pois cria confiança e abertura às opiniões dos ou- tros. A empatia pode ser entendida como a capacidade da pessoa enxergar o mundo a partir do ponto de vista de seu interlocutor, estabelecendo com ele uma relação de compreensão, entendimento e reciprocidade. A empatia é um processo ativo de interação social, visto que as pes- soas que constroem o relacionamento precisam se abrir e sair de sua zona de conforto, renunciar a suas convicções e valores para ouvir e escutar as opiniões do outro, entender as crenças, ideias, opiniões e va- lores que o outro indivíduo defende. Nunes (2018) explica que o concei- to de empatia é composto por três dimensões, como ilustra a Figura 3. Afetiva Cognitiva Regulação das emoções 1 Figura 3 Dimensões da empatia Gr ib oe do v/ Sh ut te rs to ck Fonte: Elaborada pelo autor com base em Nunes, 2018. A dimensão afetiva está relacionada à percepção das emoções e sentimentos das outras pessoas; a dimensão cognitivase refere ao entendimento das diferenças de experiências e de aprendizados es- pecíficos de cada pessoa; já a dimensão da regulação das emoções diz respeito à capacidade de o indivíduo estabelecer uma respos- ta ou entendimento empático com as demais pessoas. Para Nunes (2018, p. 3), 106 Oratória e técnicas de apresentação o estado de empatia ou de entendimento empático, consiste em perceber corretamente o marco de referência interno do outro com os significados e componentes emocionais que contém, como se fosse a outra pessoa, em outras palavras, colocar-se no lugar do outro, porém sem perder nunca essa condição de “como se”. A empatia implica, por exemplo, em sentir a dor ou o prazer do outro como ele o sente e perceber suas causas como ele as percebe, porém, sem perder nunca de vista que se trata da dor ou do prazer do outro. Estabelecer uma relação de empatia com uma única pessoa, em uma conversa e em um processo de comunicação já representa um grande desafio. Para o orador, criar empatia com um público compos- to por muitas pessoas diferentes, com vivências, conhecimentos e ex- pectativas díspares, é ainda mais difícil. A construção da empatia do orador com seu público se associa com os elementos que constituem o discurso, no conceito da retórica aristotélica – ethos, páthos e logos (ARISTÓTELES, 2019). O ethos tem a ver com a credibilidade, a postura e a autoridade do palestrante para falar sobre o tema. Portanto, é o primeiro elemento da construção da empatia entre o orador e o público. Borg (2017) in- forma que a plateia cria uma predisposição positiva para desenvolver a empatia quando considera que o orador sabe do que está falando e tem confiança e credibilidade. Após estabelecer essa credibilidade, o orador pode desenvolver a relação empática com a plateia, usando de forma equilibrada o páthos e o logos, ou seja, as emoções e a lógica. Na retórica aristotélica, o páthos se relaciona com a emoção. Cada palestra é diferente: alguns temas são mais objetivos, outros mais subjetivos e ligados aos sentimentos. Todavia, o orador precisa colo- car emoção em sua fala. Quando fala de um assunto que o apaixona ou comove, mesmo que seja um tema que inicialmente possa parecer técnico e objetivo, o palestrante transmite essas emoções em sua fala e em sua comunicação não verbal. Desse modo, o público forma uma relação empática com essas emoções. A plataforma de palestras Ted Talks reúne milhares de palestras realizadas pelos maiores especia- listas globais dos mais variados temas. Uma das mais visualizadas é a apre- sentação realizada por Sir Ken Robinson – Como as escolas matam a criativi- dade –, um dos maiores especialistas globais em estruturação de sistemas de ensino e educação. O profundo conhecimento sobre o tema, aliado a seu humor simples e lingua- gem direta, faz com que o orador estabeleça com a plateia uma profunda empatia, que permite a Robinson aprofundar temas complexos sobre a educação. Disponível em: https://www. ted.com/talks/sir_ken_ robinson_do_schools_kill_ creativity?subtitle=pt-br. Acesso em: 08 ago. 2022. Vídeo A apresentação 107 Uma das formas de se construir emoções na palestra é o uso do storytelling. Um exemplo de como mudar um discurso de conteúdo técnico em uma experiência emocional, estabelecendo uma profunda conexão empática com a plateia por meio do storytelling é a palestra realizada pela Neurocientista Jill Taylor, no evento Ted 2 . Após décadas estudando o cérebro como cientista, Jill sofreu um derrame cerebral e, durante o processo, tentou identificar os sintomas que estudou ao longo de sua vida. Ao relatar sua experiência, a oradora usou as emoções para construir empatia com a plateia. A palestra de Jill Taylor exemplifica a afirmação de Nunes (2018), para quem uma das formas pelas quais a empatia se manifesta é o sentimento da dor e do sofrimento do outro. O uso da lógica e da argumentação, associadas ao conceito de logos na retórica aristotélica, é o outro elemento da construção da empatia com o público. Mesmo que o público esteja envolvido emocionalmente com o discurso, os fatos, dados e informações usados pelo orador é que vão convencer a plateia a entender e aceitar os pontos de vista, opiniões ou conhecimentos transmitidos. Se o orador consegue a predisposição para criar o relacionamento empático com os elementos do ethos (credibilidade e autoridade) e do páthos (emoções e sentimentos), a plateia estará aberta a ouvir e con- siderar os argumentos e informações ligadas ao elemento logos (razão, informação e conhecimentos) anunciados pelo orador. Anderson (2016) explica que uma palestra possibilita a criação de uma relação empática entre o comunicador e o público que não pode ser alcançada em outras formas de transmissão de conhecimentos, como um livro. Para o autor, somente a voz humana possibilita criar esse laço profundo que faz com as pessoas desejem se engajar em uma ideia ou projeto, ou mudar uma forma de pensar e de se comportar. A Figura 3 apresenta a sequência de sentimentos e percepções que ocorrem na plateia ao ouvir uma palestra na qual o orador consegue es- tabelecer uma relação empática com o público, segundo Anderson (2016). Para ver a fala de Jill Taylor no Ted e ver como ele conduz e cria uma relação com a plateia, basta aces- sar o link a seguir. Disponível em: https://www.ted. com/talks/jill_bolte_taylor_my_ stroke_of_insight?language=pt. Acesso em: 08 ago. 2022. 2 https://www.ted.com/talks/jill_bolte_taylor_my_stroke_of_insight?language=pt https://www.ted.com/talks/jill_bolte_taylor_my_stroke_of_insight?language=pt https://www.ted.com/talks/jill_bolte_taylor_my_stroke_of_insight?language=pt 108 Oratória e técnicas de apresentação Sintonia Empatia Ab er t/ Sh ut te rs to ck Envolvimento Entusiasmo Curiosidade Convicção Compreensão Fonte: Elaborada pelo autor com base em Anderson, 2016. Ação Figura 4 A construção da empatia durante uma palestra A sintonia é o primeiro momento do estabelecimento da empa- tia, de acordo com Anderson (2016), dado que ela está baseada na percepção da plateia com relação à credibilidade transmitida pelo orador e está envolvida com o ethos da retórica aristotélica, como citado por Borg (2017). Ao entrar em sintonia com o palestrante, a plateia passa a se en- volver com o discurso, que desperta o interesse e a curiosidade, isto é, a vontade da plateia em querer saber mais sobre o tema e sobre o orador. A curiosidade é despertada pela comunicação verbal e não verbal do orador. Quando entende a forma como o orador se comunica, a plateia con- segue assimilar o conteúdo e a mensagem, usando tanto elementos verbais quanto outros sinais transmitidos pela forma de movimenta- ção e postura do palestrante. A compreensão é fundamental para o estabelecimento do relacionamento empático entre orador e plateia. Esse momento pode ser conectado ao logos da retórica aristotélica. Se o orador consegue se associar empaticamente com sua plateia, seu discurso pode entusiasmar a audiência. O entusiasmo se traduz em um profundo envolvimento e engajamento das pessoas com o que A apresentação 109 está sendo dito e, também, com a figura do orador. Esse momento se envolve com o páthos da retórica aristotélica. A postura do orador durante o discurso também é um ponto chave na construção da empatia com a plateia. Como destaca Caxito (2009, p. 90), ser modesto e despretensioso também é um aspecto chave para o sucesso ao se falar em público. Arrogância afasta o público. Você não está no palco para mostrar sua superioridade. Apenas tem um ponto de vista sobre um determinado assunto e a opor- tunidade de defendê-lo frente a um público, que pode concordar ou não com sua visão. Se o orador consegue estabelecer uma relação de empatia com o público, este último poderá ser convencido de que as ideias transmiti- das são válidas e coerentes e passará a considerar uma mudança em seus comportamentosou tomar uma ação efetiva com relação ao que o orador defende. 4.4 Planejamento e improviso Vídeo Desenvolver um bom planejamento da palestra é necessário para o seu sucesso. No entanto, assim como acontece com qualquer tipo de programação, fatos e eventos inesperados podem surgir durante a apresentação e modificar totalmente ou até inviabilizar a estru- tura pensada pelo orador. Durante a organização, o orador define o tema, a estrutura do discurso e os tipos de recursos que serão usados ao longo da apresentação. No que tange à estrutura do local no qual ocorrerá a exposição, po- dem acontecer problemas técnicos, como defeitos nos aparelhos de projeção de slides, falhas em microfones ou em qualquer tipo de equi- pamento a ser usado no discurso. É fundamental que o orador esteja preparado para esse tipo de ocorrência. Além de enviar para os organizadores, de forma digital, os materiais que serão utilizados, recomenda-se que o palestrante tam- bém leve o conteúdo em algum tipo de mídia física, como uma memó- ria externa, do tipo HD ou pendrive, ou em seu próprio computador. É também aconselhado que o comunicador se prepare para realizar a apresentação sem o uso dos recursos visuais, caso o problema téc- 110 Oratória e técnicas de apresentação nico seja mais complexo. No desenvolvimento dos slides da apresen- tação, o orador pode criar cartões com os tópicos a serem abordados. Assim, caso seja necessário, é possível realizar a palestra mesmo sem o uso da projeção de slides. Embora a qualidade da apresentação possa ser comprometida, a plateia perceberá que o orador tem amplo conhecimento sobre o tema, o que pode gerar um sentimento de em- patia e aumentar a credibilidade. A interação da plateia com o apresentador depende da estrutura do evento e da apresentação. Enquanto em uma sala de aula a inte- ração entre professor e alunos é total, em palestras realizadas em locais de grande porte, a interação é controlada e muitas vezes ine- xistente. Também é plausível que a interação seja controlada pelos organizadores, que podem, por exemplo, receber questionamentos e comentários, selecionar os mais relevantes e repassá-los ao orador ao final da palestra. Uma forma de garantir que todos os passos do planejamento da palestra foram devidamente abordados é usar uma lista de checagem ou de verificação, como a indicada no Quadro 1. Quadro 1 Lista de checagem da preparação para a palestras Sim Não Observação Conteúdo A mensagem principal da palestra está de- finida e precisa? O benefício da mensagem para a plateia está explícito? A ideia principal pode ser resumida em uma frase ou slogan? Estrutura O discurso está estruturado? Existe uma linha de argumentação clara e bem sedimentada? Serão usados exemplos ou uma história para ilustrar os conceitos? A apresentação está organizada para man- ter a atenção da plateia? O fechamento resume os principais pontos e leva a plateia à ação? (Continua) A apresentação 111 Sim Não Observação Recursos visuais Os recursos visuais estão alinhados à men- sagem? Os slides apoiam e esclarecem o discurso? Os slides estão conectados entre si? Será necessário usar outros recursos vi- suais? Infraestrutura Como será o espaço físico em que a apre- sentação ocorrerá? O espaço conta com equipamentos para a apresentação? Os equipamentos estão em perfeito esta- do? A apresentação utiliza os recursos disponí- veis? Vestuário Existe um dress code a ser seguido? A apresentação será gravada? Qual tipo de microfone será utilizado? O palco permite a movimentação e o des- locamento? Vestuário A roupa está adequada ao ambiente e ao contexto? Interação Há um púlpito ou algo que restrinja a mo- vimentação? Haverá interação com a plateia durante o discurso? Os participantes podem fazer perguntas durante a fala? As perguntas serão respondidas ao final da palestra? Os organizadores selecionarão as pergun- tas? Que tipo de pergunta pode surgir? Preparou uma lista de perguntas frequen- temente realizadas? As perguntas podem ser respondidas após o fim do evento, por outros meios de co- municação? Fonte: Elaborado pelo autor. A lista de verificação do planejamento ajuda o palestrante a repas- sar cada um dos pontos da preparação, com a finalidade de evitar que ocorram situações inesperadas que poderiam ser adequadamente antecipadas. 112 Oratória e técnicas de apresentação Sempre que for possível e a estrutura do evento permitir, é in- teressante que o orador promova a interação com plateia, dire- cionando perguntas, pedindo que se manifestem ou interagindo diretamente com uma ou mais pessoas. Mas, para utilizar a intera- ção, o orador deve estar preparado para lidar com situações ines- peradas causadas por interferências da plateia. Uma pergunta não planejada, uma pessoa que invade o palco, uma reação inadequada de um ou mais participantes, como vaias ou gritos, são alguns exem- plos de situações que podem ocorrer. Quanto à interação com a público, é importante salientar que a pla- teia é formada por pessoas diversas, que, por algum motivo específico, decidiram participar da apresentação. Algumas pessoas têm interesse genuíno no tema e apresentam uma predisposição a concordar com o orador, enquanto outras discordam do ponto de vista apresentado. Em certas ocasiões, por exemplo, em empresas ou escolas, alguns par- ticipam por serem obrigados ou se sentirem pressionados pelo grupo social ou pela instituição. Outro aspecto notório é entender que as pessoas reagem de ma- neiras diferentes aos mesmos estímulos dados pelo orador. O uso do humor na palestra é um exemplo. Uma pessoa pode achar engraçada uma brincadeira ou piada, já outra pode se sentir ofendida. O humor deve ser usado de forma equilibrada e sutil durante uma palestra. Se- gundo Caxito (2009, p. 91), muitos livros sobre oratória sugerem que uma boa forma de co- meçar uma palestra é contar uma piada, para “quebrar o gelo”. Pessoalmente, em minhas experiências, não concordo com esta sugestão. Piadas são muito boas para o seu grupo de amigos. Mas não para falar com um público que você não conhece. Você pode (e com certeza, vai) ofender alguém da plateia. O que pode ser desastroso. Principalmente se a piada for preconceituosa. Antes de utilizar o humor na fala, o orador precisa analisar se o con- texto da palestra permite esse tipo de abordagem, se o tema possibilita essa forma de linguagem, se as características do público (faixa etária, formação, atuação profissional e interesses) são compatíveis com o tipo de humor que se pretende usar e se a plateia vai compreender as piadas. A apresentação 113 Pequenos exercícios e momentos de interatividade, como perguntar algo e esperar uma resposta geral, pedir que as pessoas levantem a mão ou façam um tipo específico de movimento, ou questionar algo direta- mente a alguém, enriquecem a palestra e aumentam a empatia. Uma palestra ou discurso pode parecer, em um primeiro momento, um monólogo do palestrante. Porém, o orador consegue estabelecer um diá- logo, observando as reações da plateia às suas opiniões e ideias. O orador deve falar com as pessoas, e não apenas falar para as pessoas. Por isso, sempre que possível, deve incentivar a participação de todos. As perguntas realizadas pelos participantes – seja durante a palestra, seja ao final da fala da apresentação – representam um momento em que não é possível prever o que acontecerá. Temas inesperados ou não rela- cionados com o assunto apresentado podem ser abordados pela plateia. Durante o planejamento, sugere-se que o orador prepare um roteiro ou uma lista de possíveis perguntas, dúvidas e comentários que possam surgir. Essa lista pode ser constantemente atualizada, caso o palestrante realize o mesmo discurso de forma repetida, por exemplo, um treinador de equipes ou um professor que apresentaum conteúdo igual para di- versas turmas. Essa preparação dá segurança ao palestrante e cria na plateia uma sensação de credibilidade e confiança. Contudo, perguntas inesperadas ou complexas, para as quais o palestrante não está preparado, podem ser feitas. Nesse momento, a postura, a calma e a segurança são fundamentais. A franqueza do apre- sentador, ao demonstrar que não sabe a resposta, é mais valorizada e respeitada pelo público do que uma resposta inventada ou que possa ser contestada na sequência pela pessoa que fez a pergunta. O orador não deve inventar uma resposta, ou tentar criar informa- ções ou respostas sem que tenha a certeza do que está falando. O ideal é que o palestrante responda aquilo que sabe e, caso não tenha cer- teza sobre um dado, uma informação ou um ponto de vista apresen- tado pela plateia, diga diretamente que não tem essa informação por enquanto, mas que buscará os dados e em um momento futuro e dis- ponibilizará a resposta. Para isso, pode fornecer seus contatos ou pedir à pessoa que fez a pergunta que o procure ao final da palestra para que possam conversar. A interação com a plateia é um recurso bastante utilizado por comediantes no formato de stand up comedy. Nesse tipo de show, as interações são baseadas em piadas, mui- tas vezes preconceituosas ou ofensivas. No vídeo DISCUSSÃO COM UMA JOVEM NA PLATÉIA - VÍDEO INÉDITO, o comediante Afonso Padilha interage com uma pessoa da plateia que discorda de sua piada. No contexto de um show, esse tipo de interação pode ser realizada, mas, agora, imagine o mesmo tipo de interação ofensiva e preconceituosa em uma palestra profissional Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=3Vkpn6_ eISM. Acesso em: 24 ago. 2022. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=3Vkpn6_eISM https://www.youtube.com/watch?v=3Vkpn6_eISM https://www.youtube.com/watch?v=3Vkpn6_eISM 114 Oratória e técnicas de apresentação A segurança na voz e na fala também é fundamental nesse mo- mento. O orador deve fazer uma pausa para organizar seus argu- mentos e respirar. Essa ação dá para a plateia a percepção de que ele está buscando compreender a pergunta e que dará uma respos- ta coerente e pensada. Recomenda-se também que o apresentador tenha cuidado com a lin- guagem. Uma fala acelerada, desconexa, com o uso de muletas verbais 3 podem passar para a plateia a impressão de nervosismo e despreparo. Colocado frente a uma situação inesperada, o orador deve manter a coerência com as informações que transmitiu e a postura que adotou durante toda a palestra. Uma resposta que coloque em dúvida um dado que foi usado no discurso ou uma postura incongruente com a figura apresentada, como mudar o tom de voz, discutir com um participante da plateia e ser arrogante durante uma resposta, podem quebrar o rela- cionamento empático e destruir a credibilidade e o respeito construídos ao longo de todo o período do discurso. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que uma palestra seja bem-sucedida e o orador consiga atingir seus objetivos, não basta apenas desenvolver um bom conteúdo e uma estrutura de discurso organizada. No contexto das apresentações, pales- tras e aulas desenvolvidas no mundo contemporâneo, é necessário levar em consideração diversos outros aspectos, por exemplo, o uso de ves- timentas adequadas ao contexto, o desenvolvimento de recurso visuais coerentes e a adequação do formato da palestra ao conteúdo e ao con- texto no qual ocorrerá a palestra. A comunicação não verbal, importante em qualquer tipo de processo de comunicação é ainda mais fundamental no contexto das apresenta- ções e ajuda na construção de uma relação de confiança e empatia entre o orador e a plateia. Porém, nem tudo o que acontece durante a apresen- tação ocorre conforme o planejado. Dessa forma, o orador precisa estar preparado para lidar com situações inesperadas, para garantir o sucesso de seu discurso. Muletas verbais são palavras, expressões ou partículas usadas de forma repetitiva na fala, tais como “né”, “sabe”, “entende”, “tipo”. Outro tipo de muleta verbal é o prolongamento de letras e sílabas, como “ãaah” e “huuuum”. São vícios da fala usados, sobretudo, quando a pessoa não tem certeza do que está fa- lando ou está inventando uma informação. 3 A apresentação 115 ATIVIDADES Atividade 1 Algumas perguntas devem ser feitas pelo orador para orientar a sua escolha com relação ao tipo de roupa que precisa utilizar em uma palestra. Cite e explique duas dessas perguntas. Atividade 2 Virar as costas para a plateia é considerada uma postura não adequada durante uma palestra. Explique os motivos. Atividade 3 Três dimensões compõem o conceito da empatia. Explique essas dimensões. REFERÊNCIAS ANDERSON, C. TED Talks: o guia oficial do TED para falar em público. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016. ARISTÓTELES. Retórica. 1 ed. São Paulo: Edipro, 2019. BORG, J. A arte da persuasão. São Paulo: Saraiva, 2017. CAXITO, F. Não Deixo a Vida Me Levar. A vida, Levo Eu! São Paulo: Saraiva, 2009. NUNES, D. B. Compreendendo os conceitos de empatia a partir de uma experiência pragmática em Competência em Informação (Coinfo): o Programa Jovens Talentos para a Ciência da Universidade de Brasília–UnB. In: 7º SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEÑO DE INVESTIGACIÓN EN INFORMACIÓN, DOCUMENTACIÓN Y SOCIEDAD. Anais [...] Madri: UCM, nov. 2018. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/162132372.pdf. Acesso em: 05 ago. 2022. WEIL, P.; TOMPAKOW, R. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. Petrópolis: Editora Vozes, 2017. https://core.ac.uk/download/pdf/162132372.pdf Resolução das atividades 1 Importância da escuta ativa na comunicação 1. Explique os elementos que fazem parte do processo de comunicação. O emissor é um indivíduo que deseja transmitir uma mensagem ou informação, que pode ser, por exemplo, um professor ou um vendedor. Já o receptor é uma pessoa ou grupo que recebem esta mensagem. A mensagem pode ser uma ideia, opinião, informação ou conhecimento que o emissor transmite. Já o canal de comunicação é o meio pelo qual a mensagem é transmitida, como por exemplo, uma conversa, uma palestra ou um vídeo. A mensagem é transmitida em um código, por exemplo, em uma determinada língua ou sinais que podem ser decodificados e entendidos pelo receptor. O receptor pode oferecer uma resposta ou um feedback ao emissor, caso esse processo de comunicação ocorra em um meio que permita o diálogo entre os interlocutores. Durante a comunicação podem ocorrer ruídos, como problemas no canal de comunicação ou erros no processo de codificação e decodificação, que podem prejudicar o entendimento da mensagem. 2. Cite, explique e dê exemplos dos tipos de canais de comunicação. Os canais visuais são aqueles que utilizam, de forma predominante, componentes visuais, como símbolos, signos, imagens, desenhos e gráficos, como cinema e televisão; nos canais auditivos o som é predominante, como no rádio e no telefone. Já nos canais sinestésicos, a comunicação não verbal, sentimentos, e emoções ocupam um papel de destaque, por exemplo, uma conversa. 3. Qual é a diferença entre canais de comunicação unidirecionais e bidirecionais? Os canais bidirecionais possibilitam que os indivíduos desempenhem tanto o papel de emissor quanto de receptor. São exemplos dos canais bidirecionais a conversa pessoal, uma ligação telefônica ou as redes sociais baseadas na internet. Já nos canais unidirecionais, os indivíduos desempenham um papel definido no processo de comunicação. O emissor apenas transmite a informação, enquanto o receptor apenas recebe a comunicação. Como exemplo, podem ser citados uma palestra ou um vídeo. 116 Oratória e técnicas de apresentação 2 Oratória 1. Explique a diferença entre os conceitos de oratória e retórica. Enquanto a retórica se relaciona à construção do conteúdo do discurso e das estratégias usadas para que o orador possa atingir seus objetivos, a oratória trata das ferramentas,competências e práticas necessárias para que a apresentação transmita as informações, conhecimentos, emoções e motivações do discurso. 2. Cite os principais tipos de oratória utilizados atualmente. A oratória forense ou discurso jurídico é aquele usado nos tribunais, tendo como objetivo principal a acusação ou defesa de um determinado cidadão ou indivíduo, sendo utilizado por advogados, promotores e juízes. A oratória política é utilizada por políticos, que usam discursos inflamados e emocionais para convencer a população de suas ideias. Na oratória religiosa, relacionada ao discurso epidíctico, o orador usa elogios, censura, críticas e exemplos para apresentar suas ideias e fazer com que o público analise, reflita, ou mude de opinião sobre um tema. A oratória pedagógica tem por objetivo o desenvolvimento das ações e estratégias de ensino-aprendizagem. 3. Explique o conceito da comunicação proxêmica. Uma das modalidades da comunicação não verbal, a comunicação proxêmica é relacionada ao uso do espaço pelos interlocutores e à distância adotada pelos interlocutores durante o processo de comunicação. 3 Preparação da Apresentação 1. A definição do tema do discurso é uma importante etapa do planejamento da apresentação. Portanto, explique a importância desse passo. A correta definição do tema é o ponto de partida sobre o qual será construída toda a apresentação, pois é a partir dele que serão definidos o tipo de linguagem a ser utilizado, os recursos, o tempo de fala e a estrutura do discurso. Uma forma de deixar claro o tema de um discurso, tanto para orientar o orador no planejamento, quanto para que o público entenda e relembre o conteúdo, é transformar o ponto central da fala em um mote ou slogan, uma frase curta e sonora que seja de fácil entendimento ou lembrança. Resolução das atividades 117 2. Explique a diferença entre o discurso argumentativo, o discurso narrativo e o discurso expositivo. O discurso argumentativo, também chamado de persuasivo, é utilizado quando o orador busca mostrar seus pontos de vista, ideias, crenças ou valores, com o objetivo de convencer a plateia a tomar uma determinada ação ou comportamento. Os discursos narrativos têm como um de seus principais recursos o uso das emoções, baseando-se em histórias, fábulas ou metáforas utilizadas para apresentar uma ideia, conquistar a atenção ou convencer a plateia. No discurso expositivo, o orador precisa apresentar ou explicar um ou mais conceitos, informações ou conhecimentos, com o objetivo de desenvolver na plateia um novo conhecimento ou uma competência. 3. Explique por que o uso do storytelling pelos oradores pode ajudar a estabelecer empatia com o público. As histórias facilitam a comunicação entre as pessoas e estão presentes nos processos de comunicação e de educação dos mais variados povos. As pessoas gostam de contar e de ouvir histórias. Sejam os mitos e lendas repassados de geração a geração, sejam os contos de fadas e as histórias infantis contadas pelos pais, sejam os personagens criados pelas empresas para representar seus valores e seus produtos. 4 A apresentação 1. Algumas perguntas devem ser feitas pelo orador para orientar a sua escolha com relação ao tipo de roupa que precisa utilizar em uma palestra. Cite e explique duas dessas perguntas. O principal questionamento que o orador deve se fazer é saber se há um dress code, ou seja, um guia de orientação que define o tipo de roupa a ser utilizado pelos palestrantes, algo que geralmente é desenvolvido pelos organizadores do evento. Outro fato é se perguntar como será o palco: um palco grande faz com que a figura do apresentador se torne pequena. Nesse sentido, roupas de cores mais claras e vibrantes podem destacar a figura do orador, mas se houver um púlpito no palco, isso também pode limitar a movimentação do orador, fazendo com que suas roupas não sejam totalmente visualizadas. 2. Virar as costas para a plateia é considerada uma postura não adequada durante uma palestra. Explique os motivos. É uma postura que pode causar na plateia uma impressão bastante negativa sobre o orador. Ao virar as costas para ler o que está sendo 118 Oratória e técnicas de apresentação projetado, a plateia pode se sentir desrespeitada, considerando que o orador não se importa com ela, principalmente se a postura for adotada com frequência e por longos períodos. O rosto do palestrante é um dos pontos que mais chamam a atenção dos espectadores. 3. Três dimensões compõem o conceito da empatia. Explique essas dimensões. A dimensão afetiva está relacionada à percepção das emoções e sentimentos das outras pessoas; a dimensão cognitiva se refere ao entendimento das diferenças de experiências e de aprendizados específicos de cada pessoa; e a dimensão da regulação das emoções diz respeito à capacidade de o indivíduo estabelecer uma resposta ou entendimento empático com as demais pessoas. Resolução das atividades 119 O RA TO RIA E TECN ICA S D E A PRESEN TA Çà O FA BIA N O CA XITO FA BIA N O CA XITO ISBN 978-65-5821-178-5 9 786558 211785 Código Logístico I000935 Página em branco Página em branco