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HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Tradução de Waltensir Dutra. 21ª ed. revista. Rio de Janeiro: LTC, 1986. ANÁLISE CRÍTICA Mateus Pacheco Braga Evangelista A presente obra, publicada em 1981, é de autoria de Leo Huberman e busca, através da história, tentar montar uma linha que narre a teoria econômica e vice-versa. Para o autor, essa relação é necessária, pois se o indivíduo estuda a teoria econômica, sem uma base funda histórica, ela acaba tornando-se monótona e massiva enquanto a história deixa de lado o aspecto econômico, em alguns casos. Com isso, ele resolve explicar o desenvolvimento das instituições econômicas, mostrando o seu princípio, sua doutrina, suas modificações e adequações e como essas foram se tornando defasadas com as mudanças que a sociedade sofria na relação tempo e espaço. Em vinte e dois capítulos, divididos em duas partes, Huberman busca ser bem detalhista ao descrever os processos de duas instituições econômicas: o feudalismo e capitalismo. Ele se utiliza da ordem cronológica histórica para explicar como esses dois pilares se desenvolveram, sempre se atentando ao olhar da economia, uma das peças fundamentais para a composição da obra. Todo esse processo é contínuo e sempre ligado ao que foi descrito anteriormente pelo autor. A primeira parte vem descrevendo o sistema feudal, uma das instituições econômicas que perdurou por oito séculos, sendo a principal fonte na época. Logo no primeiro capítulo, o autor começa introduzindo a dinâmica do sistema feudal, descrevendo todos as pessoas envolvidas no sistema, através das suas hierarquias e atividades que eram desenvolvidas para que a produção girasse naquele feudo, bem como as características, a exploração do trabalho, bem como os deveres e obrigações que se tinham instaurados em cada feudo. É nesse capítulo, também que se presencia a atividade da Igreja, que detinha um poder bem grande, tendo um poder de decisão bem centralizado. É possível notar um encargo histórico bem maior neste capítulo. Por se tratar de um capítulo introdutório, a história fica mais evidente pelo fator do autor ter que descrever todo o processo através do tempo e espaço em que ela ocorria, mas sempre analisando o lado econômico, pois, como dito anteriormente, o objetivo de Huberman era equiparar as duas vertentes, a fim de que elas de complementassem. A partir do segundo capítulo, a leitura se concentra mais no teor econômico, onde Huberman passa a discutir a forma como o capital era aplicado e como ele girava no sistema pertencente a aquele momento, o feudalismo. A história entra, como complemento, mostrando como as movimentações aconteciam e para quem eram aplicadas, geralmente ao clero e a igreja. Um dos pontos destacáveis é quando ele passa a falar sobre o estatuto feudal, mostrando o ciclo de produção e consumo, que era voltado para o abastecimento de acordo com a necessidade do senhor feudal. A partir disso, ele põe em discussão a questão do comércio, que iniciou em um nível muito baixo, tendo vários osbstáculos para que se firmasse, mas só foi a partir do século XI que houve um crescimento rápido e significativo dessa vertente, criando um clico de criação de procura e mercado, abrindo vantagens para alguns grupos (os chamados comerciantes) que produziam e utilizavam desse método para ter capital. O crescimento do comércio foi sinônimo do crescimento das cidades, onde o esse novo forte econômico se estabelece, gerando trabalho, e assim gerando a procura por partes das pessoas que desejavam se libertar daquele sistema que se utilizava de feudos para sobreviver, ter sua própria forma de comercialização e legislação. Partindo desse contexto histórico, apresentado pelo autor, que surge a classe média, vivendo apenas do comércio e tendo o direito de poder, que se descentralizaria das mãos do clero e da nobreza. Todo o contexto histórico, se estende ao longo dos demais capítulos dessa primeira parte do livro. O autor, destaca, detalhadamente, a questões como o surgimento dos juros, que a priori, era visto como um pecado pela Igreja, a mais praticante do uso de juros e como essa forma de cobrança era utilizada, e como a mesma não foi vista como “usura”, cedendo-se a nova realidade que precisava ser atendida. Outro ponto é a divisão do trabalho entre o campo e cidade, que ficou bem acentuada quando houve uma grande parte da população que se mudou para a cidade com intuito de progresso de vida. Também, se dá destaque ao princípio do consumismo, a busca pela liberdade das regras e pré-requisitos impostos pela Igreja, o fim do sistema feudal, as modificações no cenário econômico com a entrada dos artesãos, que trabalham para suprir sua necessidade, a ligação que o autor faz entre o “homem rico” e o “homem pobre, mendigo e ladrão” que mostrava o contraste do que se via da riqueza, o número alto de homens morando nas ruas, o aumento de preço dos produtos pela desvalorização da moeda (a ideia de que o valor menor da moeda proporcionalmente dá um valor quantitativo menor para compra dos produtos), a revolução e expansão do mercado, a necessidade de trabalhadores etc. O último capítulo da primeira parte mostra como os camponeses conseguiram se atentar as explorações e desigualdades entre eles e o clero e a nobreza (na história, eles eram divididos em Primeiro, Segundo e Terceiro Estado). Na segunda parte, o autor começa a explicar sobre o capitalismo abordando como questionamento inicial sobre a origem do dinheiro, e trazendo a diferença de quando ele é capital e quando ele não é. Essa diferença se dá pelo objetivo do retorno. Quando uma compra visa gerar um retorno financeiro (o lucro), normalmente, quando o produto comprado é revendido por um valor maior, o dinheiro passa a ser entendido como capital. Caso contrário, ele não será visto, pois ele estará sendo empregado apenas no uso. No capitalismo, se obtém a compra da mão-de-obra e força de trabalho, normalmente, barata, para que o lucro seja visado a partir do que essa força produzir. Esse lucro, só é obtido pelo fato de que o trabalhador não recebe o que realmente lhe é gratificado pelo trabalho feito. A partir disso, Huberman acaba explorando os primórdios do capital, antes do capitalismo avançar pelo mundo como a conhecemos. Nessa parte da obra, a Igreja volta a ser um personagem ativo, mas agora voltado com doutrinas, como a do calvinismo. Esse último citado, teve uma participação importante ao pregar que o reino dos céus só seria alcançado pelo indivíduo, se houvesse trabalho, lucro, poupança e investimento. Foi assim, que o sistema que temos conhecimento hoje surgiu, pois, a partir dessa dialética pregada pela Igreja, que as fábricas começaram a crescer. Nesse momento, o fervor das indústrias estava alto, a cada tecnologia lançada, aprimorava o crescimento das cidades e as fábricas começavam a se expandir, assim, gerando mais lucro. A Revolução Industrial já era forte, e o autor deixa isso bem colocado, mostrando que a classe mais baixa continuava a ser explorada, o que gerava uma revolução por parte deles. O autor busca ser bem criticista ao relatar esses acontecimentos, porém, essa crítica fica muito implícita, tendo de decifrar bem esse teor na leitura. O autor se utiliza de diversas visões e análises para que se monte o perfil que a Revolução Industrial deixou marcada nos seus primórdios. Um cenário de desordem ao ver a ascensão e decréscimo de várias empresas, as classes sociais se dividindo, a estrutura insalubre e escravista dos funcionários das indústrias, incluindo crianças, com jornadas de trabalhos absurdas e moradias sem um mínimo de condição para convivência. Infelizmente, os sistemas não eram humanos, sempre centralizados na mão de um poder mínimo e uma maioria que era abusada pelo sistema que só visava lucro e ascensão. Se trazermos para o sistema capitalista que conhecemos atualmente, em pleno século XXI, ainda pode ser ver que muita coisa não mudou. A escravidão, a olhos nus,não existe, mas sabemos que esse sistema ainda perdura e maltrata todo e qualquer funcionário que só está lá por uma necessidade maior. Essa questão, podem ser vistas em documentários que chegam a chocar qualquer pessoa que passe a ver que ela ainda essa questão ainda é presente nas organizações. A desigualdade de classe ainda é um ponto muito forte nas sociedades atuais. É possível ver monopólios se formando e que ficam concentrado nas mãos de poucos (isso em qualquer sistema existente: comunicação, industrial etc). Apesar das crises, a visão continuou não sendo periférica, pois mesmo que as crises abram os olhos para a necessidade das empresas, elas não mudam as questões humanas. A obra, em um panorama geral, conseguiu atingir os seus objetivos explicitados ainda no seu prefácio, trazendo uma união que se completa e deve ser sempre usada. Nota-se que Huberman é bem discreto quanto ao seu posicionamento. São nas entrelinhas de cada parágrafo que ele deixa seu teor criticista presente, até mesmo por trazer uma riqueza de detalhes que, muitas das vezes, ficaram por trás do que se sabe sobre o assunto. Apesar dessa discrição, o autor consegue passar que seu posicionamento é contra aos sistemas capitalistas, até pelo fato de ele ter presenciado esse momento (a obra original é datada de publicação em 1959). Vemos que a desumanização é um fator que, infelizmente, faz parte do cenário atual. Os sistemas que vem sendo adotados são apenas feitiços que conseguem manter as pessoas iludidas, quando na verdade ela só transcreve o que já está certo: o de cima, continua a subir e o de baixo, continua a descer. Há uma enorme lacuna de necessidade de buscar essa humanização nas organizações, como foi visto na obra Empresa Viva (Arie de Geus, 1997), para que ela alcance mais prosperidade e tirar essa ideia de que só o lucro e o capital que sustentam o bom sucesso da empresa.
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