Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GEUS, Arie de. A empresa viva: como as organizações podem aprender a prosperar e se perpetuar. Tradução de Lenke Peres. Rio de Janeiro: Campus, 1998. ANÁLISE CRÍTICA Mateus Pacheco Braga Evangelista A presente obra, de autoria de Arie de Geus, busca um veraz modelo de como as organizações passam a agir no período de sua existência e como esses comportamentos podem coadjuvar nos extremos que elas podem alcançar: o sucesso ou o fracasso. Logo na apresentação da obra, o autor já apresenta alguns exemplos de companhias que tem uma longevidade significativa, enquanto outras duram a expectativa de média que foi estabelecida em estatísticas. Nota-se que o autor traz uma visão mais humanística como ideia principal do livro, deixando ressaltado que a visão econômica não sustenta sozinha o tempo de vida que uma empresa pode ter. Isso é um erro comum entre os administradores de muitas empresas, que visam apenas o lucro e o capital. Geus traz a abordagem das relações humanas como um elemento necessário para que a empresa possa atingir o sucesso de forma mais pontual. A análise do autor traz as empresas como elementos vivos e, para uma melhor explicação, dividiu a obra em quatro tópicos: Aprendizado, Persona, Ecologia e Evolução. Ao abordar sobre o Aprendizado, Geus traz uma definição mais contextualizada da conjuntura atual da sociedade, e mostra que a visão principal que muitas empresas ainda têm como um “método de sobrevivência” é o pilar econômico. Como dito anteriormente, é a economia que rege os pensamentos dos gestores, alegando-se, que essa seria a única forma de manter uma empresa ativa por um tempo considerado longo. Esse pensamento é totalmente manifestado de maneira divergente pelo autor, que passa a mostrar uma visão além do superficial, sem deixar excluso o conhecimento. A migração de mundos, do capital para o conhecimento, deve ser feita através da percepção, onde o gestor precisa estar notório ao ambiente em que a organização está inserida, até mesmo atuando como um proativo no seu mundo externo. É assim que os acontecimentos serão percebidos com antecedência, atribuindo um papel preventivo aos efeitos que essas variáveis possam gerar. O autor utiliza de perspectivas de várias áreas que contribuem para o alcance do objetivo dessa parte da obra, bem como ela como um todo, sempre mantendo a visão realista do autor, que foi o coordenador de planejamento coorporativo do Grupo Shell. A segunda parte, intitulada Persona, explica ao leitor, de forma mais nítida, que a empresa deve ser vista como uma entidade viva. Para o uso desse termo, o autor baseou-se nos estudos do psicólogo Willian Stern, que com seus fundamentos, mostrou a Geus que uma empresa pode ser uma persona viva por diversos fatores. Assim como um ser humano (persona viva), a empresa é ativa aos acontecimentos do ambiente externo, já que se encontra aberta a ele e não tem um comportamento previsível, explicado pela relação direta de uma causa que gera um efeito pertinente àquilo, pois sabemos que as variáveis são geridas sem um roteiro prévio. Aponta-se também que a empresa tem um tempo de vida, assim como uma pessoa, não se tendo a exatidão dessa cronologia temporal. Apesar de conter muito embasamento teórico, para entendimento do termo “empresa viva”, o autor busca sempre levar para a prática o que ele apresenta no enredo de sua obra. Ele, como partícipe desse momento, traz breves relatos (uma espécie de estudos de caso), por organizações na qual ele prestou serviços como funcionário, aplicando essa visão que ele defende no livro. O interessante na leitura, são as críticas tecidas a algumas organizações, porém, essas críticas vêm acompanhadas de métodos que façam a própria empresa enxergar os fatores que estão a prejudicando e encontrar os melhores caminhos para resolver e mudar essas questões. Na parte intitulada Ecologia, o autor usa de artifícios que mostram a importância da locomobilidade de funções dentro da empresa, ressaltando a negatividade dos funcionários que ficam restritos a apenas uma função desde sua admissão na organização, como um sistema de castas. Geus enfatiza a importância que se deve dar a cada funcionário com seu diferencial, a criação das relações interpessoais e inovações que não visem só o capital. Mais uma vez, a visão humanística ganha destaque, como em todo o enredo da obra, enfatizada para mostrar a sua real importância para a organização, a empresa viva. É claro que que alguns gestores tem um certo receio quando se dá muita liberdade na organização e Geus traz isso como uma reflexão ao dizer que os riscos precisam ser enfrentados para que o crescimento do indivíduo, dentro da organização, não fique empatado. Uma relação interessante abordada pelo autor é a da empresa como um sistema imunológico (capítulo 9), em que ele traça alguns riscos que ocorrem em processos de pressão e tolerância que precisam ter defesas criadas para que o trabalho realizado por esse sistema seja equilibrado e não conturbe a organização inteira. Ao tratar de Evolução, na última parte do livro, o autor reitera alguns pontos que são desmistificados ao longo dos capítulos anteriores, como o capital ser sinônimo de evolução. É claro que isso não torna firme a base de qualquer empresa, se fazendo necessário o aprendizado, título da primeira parte dessa obra. É necessário que os conhecimentos de segmentos do ambiente geral sejam analisados, estudados e conhecidos. Assim, o dinheiro perde o protagonismo, não sendo uma medida única de sucesso. O humanismo fica bastante evidente quando é tratada a questão de poder, em que o autor deixa claro que esta não deve estar concentrada na mão de poucos, como muito vemos em grande maioria das organizações. Quando a empresa deixa esse poder concentrado, ela gera um ciclo que vai prejudicando-a como ser vivo, esse ciclo é gerado pelos déficits de ausência de liberdade, gerando pouquíssima criação e desenvolvimento de conhecimento, o que dificulta a disseminação do mesmo, causando uma ineficácia perante os segmentos do ambiente externo. Tudo isso pode levar a “morte” da organização, causando grande impacto na sociedade por ter que lidar com questões de comunidades desintegradas, demissões em massa etc. Por isso, acredita-se que, dando oportunidade de decisão ao maior número de pessoas possíveis, a empresa possa ganhar mais e ter uma prosperidade como empresa viva. O livro de Arie de Geus não deve ser visto como um manual com dicas e ideias de prosperidade e evolução, mas sim, como uma reflexão tanto para as organizações quanto para o indivíduo. É necessário ver o que é tido como importante para o ambiente em qual a organização está inserida. Cabe ao gestor, responsável desde a escolha de seus funcionários, buscar pessoas que somem e valorizem a organização, conhecer a cultura organizacional, o ambiente externo e seus segmentos para que possa se tornar um reflexo positivo para a sociedade como um todo, e claro, para que não fique presa as estatísticas de expectativa média de vida. Apesar da obra ter sido publicada em 1998, vemos o reflexo de algumas empresas atuais que ainda são regidas pelo pilar econômico, não valorizando nenhuma pessoa que a ela agrega, seja um pouco do intelecto e/ou força de trabalho. Essa visão humanística, bastante evidenciada na obra vem mostrar que é necessária uma revisão do que as empresas apresentam como metas e objetivos, analisando se as mesmas são realmente eficientes, pois tem como se provar que o melhor caminho a ser tomado é outro. É interessante a confirmação que o autor traz sobre o que foi abordado em seus capítulos, através dos planejamentos realizado por ele nas empresas em que trabalhou. Ficaram claros que os objetivos foram alcançados e que o autor deu uma nova visão de mundo ao leitor de sua obra, que passará a ser mais atencioso a essa questão. Quem trabalha ou estuda com a área de Administração, com certeza, precisa ter uma visão mais criticista a partir dessaleitura para que não cometa os mesmos erros que já vem sendo cometidos atualmente.
Compartilhar