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1 O Diabetes Melito (DM) é caracterizado por um defeito na ação e/ou secreção da insulina, resultando em elevação dos níveis de glicose plasmáticos (hiperglicemia). A insulina é um hormônio produzido e secretado pelas células beta pancreáticas, que desempenha papel fundamental no transporte de glicose através da membrana celular (Fig 1), além de ser necessária para o uso e armazenamento de outros combustíveis corpóreos. Fig. 1: é necessário que a insulina se ligue ao seu receptor na célula para estimular a translocação do transportador de glicose (GLUT 4) para a membrana celular, para que a glicose entre na célula. PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA No mundo: Atualmente, estima-se que a população mundial com diabetes é da ordem de 382 milhões de pessoas e que deverá atingir 471 milhões em 2035. Cerca de 80% desses indivíduos com DM vivem em países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade, com crescente proporção de pessoas afetadas em grupos etários mais jovens, coexistindo com o problema que as doenças infecciosas ainda representam (SBD,2015). No Brasil: no final da década de 1980, estimou-se a prevalência de DM na população adulta em 7,6%; 3 dados mais recentes apontam para taxas mais elevadas, como 13,5% em São Carlos-SP e de 15% em Ribeirão Preto-SP. Em 2013, estimou-se que existiriam 11.933.580 pessoas, na faixa etária de 20 a 79 anos, com diabetes no Brasil. O Estudo Multicêntrico sobre a Prevalência do Diabetes no Brasil evidenciou a influência da idade na prevalência de DM e observou incremento de 2,7% na faixa etária de 30 a 59 anos para 17,4% na de 60 a 69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes. Há marcantes diferenças na prevalência de DM entre diversos países e grupos étnicos. No Brasil já tem sido descrita uma elevada prevalência de diabetes entre os índios Xavante: de 28,2% em ambos os sexos, de 18,4% em homens e de 40,6% em mulheres, o que evidencia que este é um grupo particularmente vulnerável e necessita atenção especial. PREVENÇÃO DO DM Primária: DM 1: As intervenções populacionais ainda são teóricas, necessitando de estudos que as confirmem. As proposições mais aceitáveis baseiam-se no estímulo do aleitamento materno e em evitar a administração do leite de vaca nos primeiros 3 meses de vida. DM 2: Os programas de prevenção primária do DM2 baseiam-se em intervenções na dieta e na prática de atividades físicas, visando a combater o excesso de peso em indivíduos com maior risco de desenvolver diabetes, particularmente nos com tolerância à glicose diminuída. Secundária: • Tratamento da hipertensão arterial e dislipidemia, o que reduz substancialmente o risco de complicações do DM; • Rastreamento para microalbuminúria é um procedimento recomendável para prevenir ou retardar a progressão da insuficiência renal, permitindo intervir mais precocemente no curso natural da doença renal. • Medidas para reduzir o consumo de cigarro auxiliam no controle do DM, visto que o tabagismo se associa ao mau controle do diabetes e causalmente à hipertensão e à doença cardiovascular em pessoas com ou sem DM. SBD,2015 CLASSIFICAÇÃO DO DM A classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Diabetes (ADA) e aqui recomendada inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e DM gestacional. Ainda há duas categorias, referidas como pré- diabetes, que são a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose diminuída. Essas categorias não são entidades clínicas, mas fatores de risco para o desenvolvimento de DM e doenças cardiovasculares (DCVs). Vale lembrar que os números que classificam o DM devem ser arábicos e nunca algarismo romano. DIABETES MELLITUS Prof. Fernanda Osso fernandaosso@nutmed.com.br 2 Classificação etiológica do DM DM tipo 1 ( minoria dos casos – 5 a 10%) Caracteriza-se por destruição das células beta pancreáticas (responsáveis pela produção de insulina), levando a uma deficiência de insulina. Na maioria dos casos (99%), essa destruição de células beta é autoimune (DM 1A), porém existem casos em que não há evidências de processo autoimune, sendo, portanto, referidos como forma idiopática de DM1 (DM 1B). A etiologia do DM imunomediado envolve predisposição genética do indivíduo à destruição das células beta por anticorpos. Os marcadores de autoimunidade são os autoanticorpos anti-insulina, antidescarboxilase do ácido glutâmico (GAD 65), antitirosinafosfatases (IA2 e IA2B) e antitransportador de zinco (Znt). Os anticorpos podem ser detectáveis no sangue na fase pré-clínica, ou seja, meses ou anos antes do diagnóstico clínico. Uma hipótese aceita é de que existam condições que desencadeiem esta reação imunológica, são elas: infecção viral (Coxsackie B, Rubéola, Caxumba, Citomegalovírus, Mononucleose Infecciosa, Retrovírus e hepatite), agentes químicos tóxicos ou outras doenças. O DM1 idiopático corresponde à minoria dos casos e caracteriza-se pela ausência de marcadores de autoimunidade contra as células beta. Na prática: Nem sempre dá para saber qual tipo o paciente tem, pois nem sempre há disponibilidade de pesquisa de autoanticorpos. Freqüentemente, após feito o diagnóstico do DM e correção da glicemia, acidose metabólica e cetoacidose, o paciente passa por uma fase conhecida como lua – de – mel. Nesta fase, as necessidades de insulina exógena se reduzem drasticamente por até 1 ano, porém após 8 a 10 anos de início clínico da doença, a perda de células beta é maior e a deficiência de insulina pode se tornar absoluta, tornando-se inevitável o aumento da insulina exógena. É importante frisar, que a velocidade de destruição das células beta é bastante variável entre indivíduos, sendo normalmente mais rápida em bebês e crianças e mais lenta em adultos. DM tipo 2 ( maioria dos casos – 90 a 95%) Caracteriza-se por resistência à insulina e deficiência relativa de insulina. Os níveis de insulina endógenos podem ser baixos, normais ou elevados, no entanto, devido à resistência à sua ação, mesmo em níveis elevados, a insulina não consegue exercer sua função adequadamente. Acredita-se que 2 defeitos possíveis influenciam o surgimento do DM tipo 2, são eles: 1. Com a resistência à insulina, ocorre aumento da produção hepática de glicose, levando à hiperglicemia de jejum 2. A resistência à insulina também gera elevação da lipólise com conseqüente elevação de ácidos graxos livres na corrente sanguínea. Estes por sua vez irão piorar a resistência à insulina Estes defeitos em conjunto levam à hiperglicemia. Os portadores de DM tipo 2 ao contrário do que se observa na tipo 1, podem ou não apresentarem os sintomas clássicos de DM mau controlado (poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso) e também em oposto ao que ocorre nos indivíduos com DM tipo 1, NÃO são propensos a desenvolver cetoacidose, salvo em condições de estresse, onde a insulina exógena pode ser necessária para controlar a hiperglicemia por ele gerada. Embora no DM tipo 2 a insulina exógena não seja necessária para sobrevivência, ± 40% necessitam dela para controle adequado da glicemia. A etiologia do DM tipo 2 permanece obscura, mas sabe-se que tanto fatores genéticos e ambientais, quanto fatores de risco são importantes, como demonstrado na figura abaixo: Na imagem a seguir, estão resumidas as principais diferenças entre o DM tipo 1 e 2. 3 *Insulite: Infiltração das ilhotas por células mononucleares que antecede a doença clínica e persiste por semanas ou meses antes que uma destruição significativa das células beta ocorra. No curso da insulite os macrófagos e células T ativadas secretammediadores solúveis (citocinas, óxido nítrico, radicais livres do oxigênio), que provavelmente contribuem para a disfunção e morte da célula beta. HOMEOSTASIA ALTERADA DE GLICOSE (pré-diabetes) É definida por duas categorias, glicose deficiente do jejum(GAJ) e tolerância deficiente à glicose (TDG), conforme mostra a tabela 2. Apesar de nenhuma delas ser considerada doença, sabe-se que ambas são fator de risco para diabetes e doenças cardiovasculares futuras. Tab. 2: Diagnóstico de Homeostasia deficiente de glicose ATENÇÃO: indivíduos com TDG apresentam > risco de aterosclerose comparados à população normal. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DO DM Apesar de haver 3 testes diagnósticos possíveis (Tab.3), o preferido é a glicemia de jejum (GJ). Tab.3: Testes diagnósticos para DM (mg/dl) Diagnóstico critérios Diabetes GJ ≥ 126 (preferido) HbA1C > 6,5% Glicemia casual* ≥ 200 + sintomas clássicos TTOG > 200 *glicemia medida a qualquer hora do dia sem considerar o tempo decorrido da última refeição. Cada critério diagnóstico, na ausência de hiperglicemia inequívoca, deve ser confirmado no DIA SEGUINTE da realização do teste. É relativamente comum na prática clínica, a discordância entre os resultados da glicemia e da HbA1c quando, mesmo após a repetição deles, somente um permanece anormal. Nesse caso, a pessoa deve ser considerada diabética (SBD, 2015). (ADA 2018) Em caso de discordância significativa entre Glicemia e HbA1C, deve-se levantar hipótese de hemoglobinopatia e apenas a glicemia deve ser considerada como critério diagnóstico. Da mesma forma, situações que induzem a um turnover aumentado de hemácias, notadamente hemodiálise, recente hemorragia ou transfusão, terapia com eritropoietina, também tem a indicação de utilizar a glicemia como critério único. Marcadores de resistência à insulina na clínica diária Pode-se definir resistência à insulina (RI) como uma perturbação das vias de sinalização, mediadas pela insulina, em que as concentrações normais do hormônio produzem uma resposta biológica subnormal. É surpreendente quanto a RI é prevalente na população (25 a 30%), sendo componente de condições fisiológicas como puberdade e gravidez, e de condições patológicas como DM2 (em mais de 90% dos pacientes), obesidade, hipertensão arterial, síndrome metabólica, alterações do metabolismo da glicose, dislipidemia, síndrome do ovário policístico, esteato-hepatite não alcoólica (NASH). Métodos como o HOMA-IR e o QUICKI e o revised QUICKI que medem a insulinemia em relação à glicemia, são mais precisos que a insulinemia isoladamente, e se combinados com critérios clínicos, apresentam resultados ainda melhores no diagnóstico da RI. O revised QUICKI apresentou as melhores correlações com as medidas do padrão ouro (clamp). Limitações: Sabe-se que há diferenças na IR e na secreção de insulina relacionadas às origens étnicas de uma população. Não possuímos um ponto de corte para HOMA- IR baseado na população brasileira. Sendo assim, usamos valores obtidos, sobretudo, na população europeia. Um estudo brasileiro sugeriu 2.71 como ponto de corte para RI * 4 no HOMA-IR. (Stabe C et al, 2013. Clinical Endocrinology. 2013;78,874-81) Obesidade central como fatores preditivos de RI: A obesidade, especialmente a visceral, é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento, por meio de diversos mecanismos, como aumento dos ácidos graxos livres circulantes (FFAs), diminuição da adiponectina e secreção pelo tecido adiposo de citocinas (como o fator de necrose tumoral alfa [TNF-α] e a interleucina-6) que em última análise exacerbam a RI. Circunferência do pescoço: também tem sido associada à resistência à insulina. Pontos de corte na população brasileira: > 39,6 cm no homem e > que 36,1 cm na mulher são associados a uma maior probabilidade de resistência à insulina e síndrome metabólica. A medição deve ser realizada logo abaixo da cartilagem cricóide, na base do pescoço. Não há protocolo standard definido e nem uma frequência estabelecida para a reavaliação de RI. Esses parâmetros não têm valor isoladamente, por isso deveriam ser utilizados comparando-os antes e após intervenção clínica. SBD, 2020 CRITÉRIOS DE TRIAGEM DO DM 2 Em adultos: Considerar em indivíduos assintomáticos, não diagnosticados com idade > 45 anos. Se o teste for normal repetir a cada 3 anos, salvo nas situações a seguir, onde o intervalo entre os testes e a idade podem ser menores. indivíduo que apresentou TDG ou GAJ no último teste presença de complicações compatíveis com DM obesos ou sobrepeso (IMC > 25) hipertensos (PA > 140/90) dislipidêmicos(atenção ao TG e HDL) HbA1C > 5,7% mulheres c/ história de dar a luz a feto macrossômico ou DM gestacional. uso de medicação hiperglicemiante (corticóides, tiazídicos e beta-bloqueadores) parentesco em 1º c/ diabético CONSIDERAÇÕES SOBRE A INSULINA Como já previamente discutido, a insulina exerce papel chave no metabolismo não só de carboidratos, mas de lipídeos e proteínas, e um controle ótimo do diabético, significa normalizar o metabolismo dos macronutrientes. A insulina possui ação anabólica, anticatabólica e de transporte, porém é antagonizada pelos chamados hormônios contra-reguladores (catecolaminas, glucagon, cortisol e hormônio do crescimento). As ações que a insulina exerce no metabolismo de cada macronutriente estão descritas abaixo. ação anticatabólica ação anabólica ação de transporte Carboidratos: diminui degradação de glicogênio facilita conversão de glicose em glicogênio no fígado e músculo ativa translocação do GLUT 4 no músculo e tec. Adiposo Lipídios: inibe lipólise, prevenindo cetonas estimula lipogênese, facilitando a conversão de piruvato em ácidos graxos livres ativa LPL, estimulando transporte de TG para o tec. Adiposo Proteínas: inibe degradação e gliconeogênese estimula síntese reduz aminoácidos no sangue quando glicose está TRATAMENTO DO DM Como todo tratamento de uma doença crônica, o tratamento do DM requer um conjunto de medidas de caráter vitalício, são elas: Monitoração da glicemia Terapia Nutricional Terapia medicamentosa Plano de exercícios físicos Estas medidas conjuntamente objetivam proporcionar ao paciente diabético o melhor controle glicêmico possível, já que estudos demonstraram conclusivamente que níveis elevados de glicose sanguínea causam complicações a longo prazo tanto no DM tipo 2 quanto no DM tipo 1, incluindo retinopatia, neuropatia e nefropatia. Além das complicações vasculares citadas, a elevação da glicemia a níveis > 200mg/dl, também acarreta desordens imunológicas. MEDIDAS ADOTADAS NO TRATAMENTO DO DM Monitoração da glicemia Esta medida é fundamental sendo realizada de 2 formas , uma diária e outra a longo prazo, conforme descrito abaixo: 1. Automonitoração da glicose sanguínea (AMGS): Como o próprio nome já sugere, na AMGS o próprio indivíduo avalia sua glicemia com utilização de equipamento próprio. Para DM 1 e DM2 usando insulina: Para pacientes em tratamento intensivo com múltiplas injeções de insulina ou sistema de infusão contínua, a AMGS deve ser realizada, em média, 4x/ dia, geralmente antes das refeições e ao deitar. Para DM2 sem insulina: Ainda não há consenso sobre a utilização de AMGS em pacientes com DM2 tratados apenas com antidiabéticos orais. Fica a critério do médico assistente. A principal limitação da AMGS é a necessidade de obtenção do sangue capilar na polpa digital, que embora os dispositivos sejam indolores atualmente, alguns pacientes se incomodam. Em alguns glicosímetros é permitido utilizar sangue capilar obtido de locais alternativosdo corpo, como o antebraço, para preservar a polpa digital. Embora sejam úteis, podem demonstrar até 20% de diferença em relação ao sangue obtido da polpa digital, especialmente em períodos de mudanças rápidas da glicemia, como o pós- 5 prandial ou pós-exercício, devendo ser evitados em situações de hipoglicemias ou pós-prandiais. Os resultados devem ser anotados em um diário e valores de glicemia >240mg/dl requerem a realização do teste para detecção de cetonúria (keto-diastix – Bayer; Ketodiabur – Accu-chek). Níveis elevados de glicemia + cetonúria persistente significa necessidade de ajuste de insulina. Mais recentemente, sensores implantados no interstício ganharam muito espaço por permitirem a monitorização contínua de glicemia, que permite avaliar o tempo no alvo de glicemia (TIR, sigla do inglês, time in range). O tempo no alvo (TIR) ganhou força com os trabalhos recentes que conseguiram correlacionar o TIR com complicações microvasculares. Como recomendação para a maioria dos pacientes com DM1 e DM2 ficaram estabelecidos, como indicadores de um bom controle glicêmico: > 70% do tempo no alvo entre 70-180mg/dL < 4% do tempo < 70 mg/dL < 1% do tempo < 54 mg/dL < 25% do tempo > 180 mg/dL < 5% do tempo > 250 mg/dL 2.Hemoglobina glicada (HbA1C): A HbA1c é uma das formas de hemoglobina glicada. Sua mensuração representa o controle glicêmico de maneira mais fidedigna do que a medida do total de hemoglobinas glicadas. Consegue monitorar a glicemia de longo prazo, já que é capaz de avaliar a glicemia que o indivíduo manteve nas semanas ou meses antes do exame. Por este motivo, fornece o melhor índice disponível para controle total do DM. A utilização da hemoglobina para avaliação da glicemia de longo prazo, baseia-se no fato de que ao ser exposta a altas concentrações de glicose no plasma, a hemoglobina se liga à glicose por uma reação não enzimática, permanecendo ligadas por semanas ou meses. Isto significa que caso o diabético tenha tido episódios de hipeglicemia, a HbA1C dele estará acima da faixa de normalidade. 1% de mudança da HbA1C = mudança de 28-29mg/dl de glicemia Hemoglobina GLICADA X Hemoglobina GLICOSILADA: Embora frequentemente sejam empregados como sinônimos, não o são! A glicação ocorre como resultado de uma reação não enzimática, formando um complexo ESTÁVEL glicose-Hb. Já a glicosilação ocorre com a participação de enzimas formando um complexo instável. Enquanto a participação do perfil glicêmico nos últimos 30 dias é de cerca de 50% do total da HbA1C, os dias 90 a 120 são responsáveis por cerca de 10% apenas. Assim, o teste pode ser solicitado após 1 mês de modificações do tratamento para avaliar respostas a mudanças terapêuticas. Tem sido proposta a utilização da glicemia média estimada (GME) como forma de trazer aos pacientes um significado prático da HbA1c, conforme tabela abaixo: Aplicabilidade clínica da HbA1C 1. O gráfico abaixo demonstra o aumento do risco relativo de complicações microvasculares, a medida que se eleva a HbA1C 2. Gráfico demonstra redução no risco de complicações relacionadas ao DM, para cada 1% de redução de HbA1C 3. 6 Limitação do uso de HbA1C – cuidados na interpretação! 3.Frutosamina: Mede a glicação das proteínas séricas de um modo geral, das quais a principal é a albumina. Como a albumina tem um turnover de duas semanas, a frutosamina reflete o controle glicêmico ao longo desse período. É uma alternativa útil nos casos em que a confiabilidade da dosagem de HbA1c é comprometida por fatores que interferem nesse parâmetro, como os já descritos acima. Entretanto, uma associação entre os níveis de frutosamina e o desenvolvimento de complicações crônicas do DM não foi tão bem estabelecida quanto para os níveis de HbA1c. Tab. 4: Metas de controle glicêmico Tenha em mente: Grandes variações da glicemia estão associadas ao desenvolvimento de estresse oxidativo e complicações crônicas da doença. Terapia Nutricional (TN) A ADA enfatiza a importância do cuidado nutricional individualizado, pois já que nenhum regime insulínico funciona para todos, nenhuma dieta pode ser prescrita igualmente para todos. Portanto, é recomendado uma prescrição baseada em perfis metabólicos e metas de tratamento e não simplesmente baseado em percentuais de VET. Além disso, deve-se levar em consideração a medicação em uso, atividade física e nível socioeconômico. A ADA recomenda que a TN seja disponibilizada por um nutricionista, em série inicial de 3 a 4 encontros com 45 a 90min cada um, compreendidos em 3 a 6 meses, já que tem sido bem documentado que o acompanhamento nutricional, realizado por nutricionista especialista favorece o controle glicêmico promovendo redução de 1% a 2% nos níveis de hemoglobina glicada, independentemente do tipo de diabetes e tempo de diagnóstico. Objetivos da TN no DM - manutenção da glicemia o mais próximo do normal - conseguir níveis lipídicos ótimos (ver tab.5) - prover calorias adequadas para manutenção de peso razoável para adultos, para crescimento de crianças e adolescentes e para atingir resultados satisfatórios em gestantes e lactantes - manutenção de níveis pressóricos que reduzam complicações macro e microvasculares - prevenção e tratamento de complicações agudas e a longo prazo - estímulo à prática de atividade física /álcool 80 7 Tab 5: Metas de perfil lipídico (SBD,2019/20) Estratégias para TN no DM DM tipo 1 - integrar a terapia insulínica com os exercícios habituais - alimentação em horários sincronizado com ação da insulina - ajustar dose de insulina à quantidade de alimentos habitualmente ingeridos - ensinar ao paciente como administrar insulina para lanches que não façam parte do seu plano - injeções múltiplas de insulina ou o uso de bomba infusora, confere maior flexibilidade de quando e o que ingerir entretanto pode gerar ganho de peso. DM tipo 2 - atingir e manter glicemia, lipídios séricos e pressão arterial normais - aumentar fracionamento da dieta e ingestão de gorduras - apoio psicológico, exercícios físicos e mudança de hábitos alimentares - perda de peso moderada, da ordem de 5 a 7% (0,5 a 1kg/semana) melhora a sensibilidade à insulina e controle do DM, reduz dislipidemia e Hipertensão, mesmo sem atingir um peso desejável. Esta redução é ainda mais benéfica quando ocorre no início do diagnóstico. Considerações sobre os nutrientes no DM Energia - restrição calórica de 250 a 500kcal da ingestão média diária tem efeito regulador na glicemia independente de qualquer efeito na perda de peso. - Pacientes Obesos diabéticos: Redução de 500 a 1000Kcal do VET diário previsto ( promove perda de 0,5 a 1Kg/sem) ou utilizar de 20 a 25 Kcal/kg/dia. Dietas muito hipocalóricas (< 800 kcal) NÃO têm se mostrado efetivas na manutenção da perda de peso, pois estão associadas a ganho de peso após suspensão da dieta Carboidratos - a recomendação de carboidratos para diabéticos É IGUAL à de indivíduos não diabéticos. Quantidades inferiores a 130g/dia não são recomendadas, pois podem gerar cetose. - recomenda-se distribuição de 55 a 60% do VET - Segundo ADA não há evidencia científica para restrição de sacarose como parte total de carboidrato da dieta, podendo ela substituir outros carboidratos da dieta grama por grama, pois o mais importante é a quantidade de carboidratos e não o tipo. Estratégia Low carb O uso da estratégia LC tem atraído muita atenção nos últimos anos, com artigos sugerindo queessa deve ser a abordagem de gerenciamento para diabetes. No entanto, a definição de um LCD (low carb diet) é inconsistente. Feinman e colaboradores (2015) definiram a LCD como menos que 45% de energia de carboidratos. Os estudos nesse quesito ainda são bastante inconclusivos e uma das razões é justamente pelo tipo e quantidade de carboidratos não ser padronizada, tornando-se um viés importante. O que os estudos mais consistentes apontam é que PARA OS PACIENTES DIABÉTICOS TIPO 2, a redução da glicemia na estratégia low carb tem superioridade nos primeiros 6 meses. Após 1 ano, proporciona resultados similares às outras estratégias com quantidades maiores de CHO (45-60% do VET). Assim, a conclusão é que o mais importante é adotar a estratégia alimentar que terá MAIOR ADESÃO a longo prazo por parte do paciente, pois isto é o mais efetivo. Nutrition Therapy for Adults With Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report, 2019 Já em relação aos pacientes diabéticos tipo 1, não foram encontrados estudos que reportam a segurança de dietas muito baixas em carboidratos, e que essas dietas, quando extremamente restritivas, têm efeitos cetogênicos e podem ser preocupação àqueles com risco de cetoacidose. SDB, 2019/2020 Considerações sobre índice glicêmico - a frutose tem um índice glicemico < sacarose e amido, porém, seu uso como adoçante não é recomendado em função de seu uso excessivo (20% VET) causar efeitos adversos sobre colesterol e LDLc. O consumo de frutas e hortaliças que contenha naturalmente frutose NÃO deve ser restrito. - as respostas glicêmicas dependem de fatores como quantidade de CHO, estrutura do açúcar, natureza do amido, 8 métodos de cocção, processamento, teor de fibras e demais macronutrientes nos alimentos. - Não há evidencias suficientes para recomendar dietas com baixo índice glicêmico como estratégia primária no planejamento alimentar do diabético Adoçantes Após rigorosa análise, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou o consumo de acessulfame K, aspartame, sacarina sódica e sucralose. Todos esses adoçantes foram submetidos à rigorosa análise, mostrando-se seguros, quando consumidos pelo público em geral. (SDB, 2015) Alimentos Diet e Light - Diet: são alimentos cuja composição atende às exigências de doenças específicas. Nesses casos estão incluídas dietas com restrição de açúcar, mas também de sal, gorduras totais, colesterol, proteínas, glúten etc. Assim, não significa que podem ser sempre ingeridas por diabéticos. - Light: caracterizado por apresentar redução de no mínimo 25% em um ou mais ingredientes, não sendo também permitido sempre para diabéticos, já que esse ingrediente pode ou não ser o açúcar. Fibras - 20g/dia já mostram redução moderada de colesterol e LDLc se em conjunto com uma dieta de no mínimo 50% carboidrato. - As fibras solúveis podem apresentar efeito coadjuvante no controle glicêmico, por promoverem retardo na absorção dos carboidratos. - recomenda-se: 25 a 30g/dia de solúvel + insolúvel Fitoesteróis Uma dieta balanceada com quantidades adequadas de vegetais fornece aproximadamente 200 mg a 400 mg de fitosterois. No entanto, é necessária a ingestão de 2 g ao dia de fitosterois para a redução média de 10% a 15% do LDL- C. Os fitosterois não influenciam os níveis plasmáticos do HDL-C e dos triacilglicerois. Prescrição: 3 a 4 g/dia de fitosteróis pode ser utilizada como adjuvante no tratamento hipolipemiante. (SBD, 2015) Proteínas - Não há evidências de que as necessidades protéicas de indivíduos diabéticos não complicada sejam diferentes, portanto recomenda-se 0,8 a 1g/kg/dia visto que ingestão protéica < 0,6g/kg/dia está associada à desnutrição. A ingestão superior a 20% do VET não é recomendada. É muito comum que o paciente diabético reduza o consumo de carboidrato e comece a ingerir grandes quantidades de proteína, mas não devemos nos esquecer de que o excesso de proteína e gordura também resulta em aumento da glicemia, além de interferir na absorção do carboidrato ingerido. Sendo assim, quando o paciente for a um churrasco ou rodízio de carnes, deve ficar atento à quantidade consumida e monitorar a glicemia 3 a 4 horas após a ingestão excessiva de carne. Acima de 90 gramas de carne (25 gramas de proteína), 60% serão convertidas em glicose dentro de 3 a 4 horas, ou seja, devemos considerar 15 gramas de carboidrato. Lipídios O perfil lipídico comumente encontrado em portadores de diabetes consiste em hipertrigliceridemia + redução do HDL- C. Embora as concentrações do LDL-C não apresentem diferenças quantitativas quando em comparação com as de pacientes não diabéticos, estudos observaram um perfil mais aterogênico das LDL em diabéticos do tipo 2, sendo elas mais leves e menores. - total: 20 a 35% do VET (ADA,2015) Gordura saturada - recomenda-se < 7% VET colesterol - recomenda-se < 300mg/dia gordura monoinsaturada - melhoram tolerância à glicose por reduzirem resistência à insulina - dietas ricas em monoinsaturados foi capaz de reduzir LDL-c de forma semelhante à dietas ricas em carboidratos, e ambas não apresentaram efeitos prejudiciais sobre os triglicerídeos. gordura poliinsaturada Até 10%. Quando utilizados em grandes quantidades podem induzir maior oxidação lipídica e reduzir os níveis de HDL. ácidos graxos W-3 - recomenda-se 2 a 3 porções de peixe/semana - suplemento podem ser usados para tratamento de hipertrigliceridemia grave, porém deve-se monitorar os níveis de LDL que podem aumentar com a suplementação. Não se recomenda suplementação rotineira em diabéticos, com o objetivo de melhora do controle glicêmico, já que os estudos não evidenciaram esse efeito. (ADA,2015) Efeito de medicamentos usados em DM sobre perfil lipídico: - A insulina reduz a hipertrigliceridemia e aumenta HDL - as sulfoniluréias, metformina e acarbose reduzem a hipertrigliceridemia - as glitazonas também reduzem hipertrigliceridemia mas podem elevar LDL e lipoproteína a. efeito comum a todos: reduz triglicerídeos Álcool No estado de jejum, o álcool pode provocar hipoglicemia em pacientes que usam insulina e/ou hipoglicemiante oral), pois além de não poder ser convertido em glicose, ainda inibe a gliconeogênese. Portanto, caso haja consumo alcoólico deve ser feito SEMPRE COM ALIMENTOS! Jejum + insulina + álcool = hipoglicemia 9 A dose máxima permitida para usuário de insulina é de 2 doses para homem e 1 dose para mulher, que correspondem à 15g de álcool, caso não haja hipertrigliceridemia, já que esta condição é proibitiva para o consumo alcoólico. Para incluir o álcool no cálculo da dieta, o mesmo deve substituir a gordura na seguinte equivalência: 1 bebida alcoólica = 2 quantidades de gordura Sódio As recomendações para diabéticos são as mesmas da população em geral, entretanto, no caso de hipertensão, deve-se ter como meta < 2.300 mg/dia. Magnésio O magnésio possui conexões com a sensibilidade à insulina através dos receptores de ligação da insulina com a atividade dos receptores pós-ligação e na sinalização para os intermediários intracelulares. Os estudos que envolvem o magnésio e o diabetes indicam uma diminuição do balanço de magnésio, principalmente por perda renal e uma alteração da distribuição do magnésio nos compartimentos corporais. Um estudo duplo-cego, randomizado e controlado, publicado na American jornal of Clinical Nutrition em 2018, indicou a importância do Magnésio como um regulador da vitamina D sérica. Estudos prévios já haviam demonstrado que na deficiência de magnésio, a suplementação de vitamina D não foi eficaz para seu aumento sérico. Isto se justifica pois enzimas que sintetizam e metabolizam a vitamina D são dependentes do magnésio. Esse estudo de 2018, além de corroborar com osestudos prévios, observou adicionalmente que o magnésio teve efeito regulador nas concentrações séricas de vit D, pois sua suplementação aumentou a concentração de 25 (OH) D3 quando suas concentrações iniciais estiveram próximas a 30 ng / mL, mas diminuíram quando o nível plasmático dessa vitamina foi maior (de 30 a 50 ng / mL). Assim, como a deficiência de magnésio é comum entre os diabéticos, é fundamental que no caso de uma deficiência de vitamina D, pensemos também na adequação do magnésio, preferencialmente pela alimentação. Terapia Medicamentosa Insulina A insulina utilizada no tratamento do DM pode ser de origem animal (pâncreas de bovinos e suínos) ou humana. Saber sua origem tem importância, pois a insulina humana apresenta mais rápida absorção, pico mais precoce e menor duração do que as animais, além de ter a vantagem de produzir menos anticorpos. Ela pode ser classificada nas categorias abaixo: Curva de ação das insulinas: Para DM 2: Existem vários estudos demonstrando que a melhor forma de iniciar a insulinização em DM2, por dar menos hipoglicemia e menos ganho de peso, é com insulina basal (glargina, detemir – longa ação ou NPH ação intermediária), aplicada uma vez ao dia, na hora de dormir, mantendo os antidiabéticos orais durante o dia. dose de insulina basal inicial: 10 unidades ou 0,2 unidades/kg/dia,ajustando-se de acordo com os valores de glicemia de jejum. Um esquema também eficiente é o uso de insulina ultrarrápida antes das principais refeições (insulina prandial), embora acarrete maior ganho ponderal. 10 Para DM 1: Dose diária total em DM1 com diagnóstico recente ou diagnóstico de cetoacidose diabética: 0,5 – 1,0 U/Kg/dia (dose inicial: 0,3 – 0,5 U/Kg/dia) Esquemas: - NPH: 2 doses/dia: 2/3 pela manhã e 1/3 à noite; - Basal bolus: consiste no regime de aplicação intensiva de insulina, na tentativa de imitar a secreção pancreática fisiológica da insulina: a insulina basal (de longa duração) é aplicada com objetivo de oferecer insulina durante as 24 horas do dia, incluindo os períodos entre refeições e todo o período noturno. Ela deve corresponder a 40% – 50% do total de insulina diária. Já a insulina bolus consiste na aplicação de insulina de ação rápida a cada refeição, com a finalidade de oferecer a cobertura insulínica semelhante à oferecida pelo organismo. Essa insulina deve perfazer de 50% – 60% do total de insulina diária. Contagem de CHO: Regra geral: 1 unidade de insulina rápida ou UR cobre 15g de carboidrato. Regra do peso: Aplicação prática: 1. calcula-se o VET 2. considera-se o % de CHO/dia 3. de acordo com a anamnese, define-se a quantidade de carboidrato/refeição (Ex: café da manhã) Regra 1:15 => logo, 60g de Cho/15 = 4UI de insulina para cobrir a refeição. Hipoglicemiantes orais (anexo 1) Com finalidade prática, os antidiabéticos podem ser classificados em quatro categorias: 1. Os que aumentam a secreção de insulina (hipoglicemiantes): São as sulfonilureias, de 1ª e 2º geração. 2. Os que não aumentam a secreção de insulina (anti- hiperglicemiantes): quando usados em monoterapia, em geral estão relacionados com um risco bem reduzido de hipoglicemia. São eles: Acarbose (inibidor da alfaglicosidase), Metformina (biguanida)., Pioglitazona (tiazolidinediona ou glitazona). Um estudo de revisão sistemática evidenciou risco aumentado para DCV com a rosiglitazona, gerando muitos questionamentos e discussões que culminaram com a retirada do medicamento do mercado na Europa e no Brasil e a restrição extrema na sua indicação nos Estados Unidos. 3. Os que aumentam a secreção de insulina de forma dependente de glicose, além de promover a supressão do glucagon (gliptinas) 4. Os que promovem glicosúria (sem relação com a secreção de insulina). Esses são os mais novos no mercado!! (glifozinas) O anexo 1 apresenta todos os hipoglicemiantes orais disponíveis no Brasil. Plano de Exercícios O exercício auxilia na melhora da sensibilidade à insulina, reduz fatores de risco cardiovasculares, controla o peso e saúde mental e devido às diretrizes os diabéticos podem se exercitar com segurança. Os efeitos dos exercícios serão diferentes em diabéticos tipo 1 e 2, conforme descrito abaixo. DM tipo 1: A insulinemia antes e após o exercício é uma importante variável. Se o nível de insulina estiver muito alto pode potencializar a hipoglicemia devido à maior captação pelo músculo exercitado. Em oposto, se os níveis de insulina forem baixos (diabéticos hipoinsulinizados) ocorre gliconeogênese e produção de corpos cetônicos. DM tipo2: o exercício pode melhorar o controle glicêmico, já que aumenta a sensibilidade à insulina, gerando uma maior utilização de glicose por tecidos periféricos por até 48h após o exercício. O exercício reduz cerca de 10 a 20% os valores de HbA1C, além de reduzir os triglicerídeos e a pressão arterial. manteiga 11 Adicional de carboidratos para usuários de insulina - adicionar 15g de carboidratos para cada 30 – 60min de atividade - um lanche é necessário se a glicemia antes do exercício for < 100mg/dl - exercícios moderados por menos de 30 min raramente requerem ajustes. - a ingestão de carboidratos após 40 a 60 min do exercício também auxilia na prevenção da hipoglicemia A ADA recomenda 150 min/semana de ativ física aeróbica moderada (50 a 70% da freq. Cardíaca máxima) ou 90 min/semana de atividade intensa (> 70% da freq. Cardíaca máxima) para melhor controle glicêmico, redução de peso e prevenção de DCV. Problemas potenciais com exercícios: - Hipoglicemia: mais comum após o exercício, pela necessidade de reposição de glicogênio hepático e muscular - Hiperglicemia: pode ocorrer em exercícios de alta intensidade que estimulama liberação dos hormônios contra- reguladores (ação hiperglicemiante). - No caso de DCV preexistente o exercício pode precipitar arritmias, isquemias ou infarto do miocárdio - Na Presença de neuropatia periférica, o risco de lesão dos pés, tecido mole e articulações é maior. Deve-se utilizar calçado de alta qualidade - A pressão arterial pode se elevar mais em diabéticos do que em não diabéticos. Se a pressão SISTÓLICA for > 180 a 200mm Hg, o exercício não deve ser iniciado. COMPLICAÇÕES AGUDAS Síndrome Hiperosmolar Hiperglicêmica Não Cetótica (SHHNC) Caracterizada por uma glicemia extremamente alta, podendo variar de 600 a 2000mg/dl (média de 1000mg/dl), ausência ou pouca cetona e desidratação profunda. Apesar de rara, esta condição pode ocorrer em idosos com DM tipo 2. Estes pacientes não fazem cetose, pois possuem insulina suficiente para evitar a lipólise exagerada e conseqüente produção excessiva de corpos cetônicos. Tratamento: hidratação + pequenas doses de insulina para controlar a hiperglicemia Cetoacidose diabética (CAD) Complicação reversível, mas se não tratada pode levar ao coma e óbito. A CAD é sempre o resultado de insulina inadequada para utilização de glicose, gerando níveis muito altos de glicemia (>250mg/dl, mas em geral < 600mg/dl) e cetonas na urina. Como os tecidos não conseguem captar a glicose, os lipídios passam a ser a fonte energética principal. Com isso, ocorre intensa lipólise e cetogênese, tendo como conseqüência a acidose, que resulta deste aumento da produção e redução da utilização dos corpos cetônicos (ácido acetoacético e 3-beta-hidroxibutírico). Os sintomas incluem poliúria, polidipsia, hiperventilação, desidratação, e fadiga. Doenças agudas aparentemente simples (gripe, resfriados, vomito, diarréias) se não adequadamente tratadas, podem gerar CAD. É uma complicação muito mais comum em DM tipo 1, mas podeacontecer em pacientes DM tipo 2 sob estresse orgânico. Tratamento: insulina + reposição hidroeletrolítica +monitoração médica. Hipoglicemia Ocorre como efeito colateral comum da terapia com insulina. Os sintomas experimentados pelos pacientes variam de acordo com a gravidade da hipoglicemia. Hipoglicemia leve (sintomas autônomos): tremor + sudorese + palpitação + fome Hipoglicemia moderada a grave (sintomas neuroglicopênicos): cefaléia + confusão mental + incoordenação motora + visão borrada + ira + convulsões podendo chegar ao coma. As principais causas da hipoglicemia incluem: - excesso de insulina ou hipoglicemiantes orais - refeições omitidas, inadequadas ou atrasadas - falta de sincronização entre horários da insulina e refeições - aumento de exercícios ou exercícios não planejados - terapia intensiva com insulina - ingestão de álcool sem alimento Tratamento: Se a glicemia for < 70mg/dl tratar com 15 g de carboidrato, que equivale a: - 150ml de refrigerante comum - 150 ml de suco de laranja - 3 balas de caramelo Deve-se esperar 15 min e reavaliar a glicemia. Caso esteja ainda < 70mg/dl, repetir a conduta acima quantas vezes for necessário para normalizar a glicemia. O que o paciente precisa registrar diariamente? Especialmente durante o início do tratamento, onde ainda se está ajustando as doses de medicação e dietoterapia para encontrar o melhor equilíbrio metabólico, é importante que os registros sejam feitos diariamente Data e Hora Glicemias pré e pós prandiais de todas as refeições. Anotação do tipo e quantidade de alimento Anotação do bolus de alimentação Anotação do bolus de correção, quando houver Anotação de prática de atividade física (tipo, duração e horário de inicio) Anotação de intercorrências (período pré menstrual, stress, gripe, infecção, etc) Anotação de qualquer situação que saia da rotina (eventos) COMPLICAÇÕES A LONGO PRAZO (DOENÇAS MACRO + MICROVASCULARES) DOENÇAS MACROVASCULARES Doença Cardíaca Coronária, Doença Vascular Periférica e Doença Cerebrovascular 12 São as mais comuns, tendem a acontecer em idade mais precoce e serem mais graves em diabéticos, que inclusive apresentam um risco para seu desenvolvimento de 2 a 4x maior que não diabéticos . Vale ressaltar que no DM tipo 2, as LDL são menores e mais leves, sendo portanto mais aterogênicas, mesmo sem aumento significativo de seus níveis séricos. Em oposto ao que se observa na população não diabética, as mulheres diabéticas morrem mais de cardiopatias do que os homens diabéticos. Hipertensão Meta antiga objetivo para todos DM: < 130/80 mmHg objetivo DM com insuficiência renal e proteinúria acima de 1 a 2 g/dia: 120/75 mmHg. Meta (8º JOINT/2014) Não há mais diferença de recomendação de níveis pressóricos entre hipertensos diabéticos e não diabéticos. Diante das evidências mais recentes, o Eighth Joint National Committee (JNC 8), responsável pela determinação das diretrizes americanas para tratamento da hipertensão arterial, estabelece níveis pressóricos cosiderando a idade, conforme segue: Idade < 60 anos = < 140/90 mmHg, mesmo naqueles com doença renal. Idade > 60 anos = < 150/90 mmHg Meta ADA 2018 Todo pacte diabético e Hipertenso deve monitorar diariamente sua P.A em casa. Para todos = <140/90mmHg Se já houver DCV = < 130/80mmHg ATENÇÃO: em pacientes com retinopatia diabética, a recomendação é de PS < 130mmHg (Parecer da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo. Retinopatia Diabética, 2010) DOENÇAS MICROVASCULARES Retinopatia Mais de 80% dos pacientes diabéticos têm alguma forma de retinopatia 15 anos após o diagnóstico, sendo ela uma importante causa de cegueira entre adultos. Foi demonstrado que o tratamento intensivo com insulina, que consigam reduzir os níveis médios de glicemia para quase normais, previnem ou melhoram a retinopatia. DM tipo 1: exame ocular anual 5 anos após o diagnóstico DM tipo 2: exame ocular anual Os hormônios da puberdade aceleram a retinopatia Nefropatia Mais de 20% dos diabéticos tem nefropatia após 10 a 15 anos de doença, podendo esta progredir para doença renal de estágio final (mais comum no DM 1), onde será necessária diálise e transplante. A evidência clínica mais precoce de nefropatia é o aparecimento de microalbuminúria (>30mg/dia ou TFG = 20 microgramas/min). Caso não haja intervenção, pode evoluir para macroalbuminúria. Deve-se realizar anualmente o teste de albuminúria para DM tipo 1, 5 anos após o diagnóstico e imediatamente após o diagnóstico no tipo 2. Embora a doença não possa ser curada, sua progressão pode ser lentificada com algumas medidas como controle glicêmico e da pressão arterial. A medida nutricional seria o controle da ingestão protéica conforme abaixo: - microalbuminúria = 0,8 a 1g/kg/dia - macroalbuminúria = máximo 0,8g/kg/dia Vitamina D: Evidências clínicas têm demonstrado uma relação inversa entre o nível de vitamina D e o grau de albuminúria. Esses achados sugerem que a vitamina D pode ter um efeito antiproteinúrico, exercendo funções moduladoras nos sistemas renal, cardiovascular e imune.(SBD,2015). Neuropatia A neuropatia se apresenta nos dois tipos de DM e é fruto da lesão dos nervos pela hiperglicemia. Pode afetar o sistema nervoso periférico (neuropatia periférica), afetando principalmente pés e mãos, e sistema nervoso autônomo afetando sistemas e orgãos com descrito abaixo. - sistema cardiovascular: menor resposta aos impulsos nervosos cardíacos levando à cardiopatia isquêmica (Infarto) indolor. - função sexual: a manifestação mais comum é a impotência em homens. - trato gastrointestinal: pode se manifestar em esôfago (náusea e esofagite), estômago (gastroparesia) e intestinos (perda de nutrientes, diarréia e constipação), podendo provocar efeitos prejudiciais no controle glicêmico. Tratamento: refeições pequenas e freqüentes, pobres em fibras e gorduras. A insulina deve ser ajustada considerando a absorção de glicose atrasada pela gastroparesia. 13 ANEXO 1: Hipoglicemiantes orais 1ª geração 14
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