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1 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Diabetes Mellitus O diabetes mellitus consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação. A hiperglicemia persistente esta associada a complicações crônicas micro e macrovasculares. DIABETES MELLITUS TIPO 1 O DM1 é uma doença autoimune poligênica, decorrente de destruição das células betas pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. Ela é mais frequentemente diagnosticada em crianças e adolescentes, afetando igualmente homens e mulheres. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de auto anticorpos circulantes. DIABETES MELLITUS TIPO 1A: forma mais frequente de DM1, confirmada pela positividade de um ou mais auto anticorpos(ICA, IAA, ANTI-GAD65). Embora sua fisiopatologia não seja totalmente conhecida, envolve, além da predisposição genética, fatores ambientais que desencadeiam a resposta imune. Entre as principais exposições ambientais estão às infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal. Inicialmente manifesta-se com cetoacidose diabética. DIABETES MELLITUS TIPO 1B: é denominado também de idiopático, e é atribuída aos casos nos quais os autoanticorpos não são detectáveis na circulação. O diagnostico apresenta limitações e pode ser confundido com outras formas de DM. DIABETES MELLITUS TIPO 2 O DM2 corresponde a 90% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genéticos e ambiental. Geralmente a DM2 acomete indivíduos a partir da quarta década de vida. Trata-se de uma doença poligênica, com forte herança familiar, ainda não completamente esclarecida, cuja ocorrência tem contribuição significativa de fatores ambientais. . Dentre eles, hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, destacam-se como os principais fatores de risco. O desenvolvimento da hiperglicemia ocorre concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos à ação de insulina, aumento da produção hepática de glicose, aumento de lipólise e ácidos graxos. 2 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Dentre os fatores que justificam a hiperglicemia são: (1) resistência à insulina; e (2) déficit secretório das células beta. Acredita-se que ambos sejam necessários para a expressão clínica da doença, e parece que a resistência à insulina surge primeiro, fazendo com que a célula beta trabalhe em excesso até atingir uma “exaustão” secretória. O resultado é o hipoinsulinismo “relativo”, isto é, a insulina pode estar “normal” ou mesmo alta, mas é sempre insuficiente para manter a homeostase da glicose. Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, sendo o diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Os consagrados fatores de risco para DM2 são: história familiar da doença, avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. Um importante sinal clinico é a Acantose nigricans. Sempre que observar essa lesão pensar em resistência a insulina; DIABETES MELLITUS GESTACIONAL A gestação consiste em condição diabetogênica, uma vez que a placenta produz hormônios hiperglicemiantes e enzimas placentárias que degradam a insulina, com consequente aumento compensatório na produção de insulina e na resistência à insulina, podendo evoluir com disfunção das células β. O DMG trata-se de uma intolerância a carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual, sem ter previamente preenchido os critérios 3 Marcela Oliveira – Medicina 2021 diagnósticos de DM. O DMG traz riscos tanto para a mãe quanto para o feto e o neonato, sendo geralmente diagnosticado no segundo ou terceiro trimestres da gestação. Pode ser transitório ou persistir após o parto. DIAGNÓSTICO DE DIABETES MELLITUS Na história natural do DM, alterações fisiopatológicas precedem em muitos anos o diagnóstico da doença. A condição na qual os valores glicêmicos estão acima dos valores de referência, mas ainda abaixo dos valores diagnósticos de DM, denomina-se pré-diabetes. Na maioria dos casos de pré-diabetes ou diabetes, a condição é assintomática e o diagnóstico é feito com base em exames laboratoriais. Glicemia em jejum: coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8 horas; TOTG: previamente à ingestão de 75 g de glicose dissolvida em água, coleta-se uma amostra de sangue em jejum para determinação da glicemia; coleta-se outra, então, após 2 horas da sobrecarga oral. Importante reforçar que a dieta deve ser a habitual e sem restrição de carboidratos pelo menos nos 3 dias anteriores à realização do teste. Hemoglobina glicada (HbA1c): oferece vantagens ao refletir níveis glicêmicos dos últimos 3 a 4 meses e ao sofrer menor variabilidade dia a dia e independer do estado de jejum para sua determinação. A confirmação do diagnóstico de DM requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia. Pacientes com sintomas clássicos de hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento, devem ser submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e independente do jejum, não havendo necessidade de confirmação por meio de segunda dosagem caso se verifique glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL. As categorias de pré-diabetes, além de conferirem risco aumentado para desenvolvimento de DM, também estão associadas a maior risco de doença cardiovascular e complicações crônicas. Os critérios diagnósticos para DM1 são semelhantes aos utilizados no DM2. No primeiro caso, porém, comumente a sintomatologia já chama muito mais a atenção do clínico do que no segundo caso. DIAGNOSTICO DE DIABETES MELITTUS GESTACIONAL No primeiro trimestre da gestação, sugere-se identificar DM preexistente por meio de exames habituais. Gestantes com diagnostico de DM no primeiro trimestre de gestação devem ser consideradas tendo DM preexistente. Elas apresentam maior risco de malformações fetais e outras complicações gestacionais e neonatais. O valor de corte da glicemia em jejum durante a gestação difere do considerado normal, sendo <92mg/dl em qualquer fase da gestação. Toda gravida deve ser submetida a TOTG entre 24 e 28 semanas de gestação. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2021 CONFIRMAÇÃO DIAGNÓSTICA O diagnostico de diabetes mellitus requer a demonstração laboratorial de hiperglicemia. Excetuando o critério 4, todos os demais precisam ser confirmados numa segunda dosagem. O que isso quer dizer? Se não estiver diante de uma franca descompensação metabólica aguda (como cetoacidose ou estado hiperosmolar não cetótico) será preciso repetir o exame. 1. ESTADOS PRÉ-DIABÉTICOS Existem pacientes que tem glicemia alterada, mas ainda não preenchem os critérios formais para o diagnostico de DM. Esses são os indivíduos pré-diabéticos, ou seja, pessoas com alta probabilidade de desenvolver DM tipo 2 em curto prazo, Além disso, o paciente pré-diabético também demonstra um risco cardiovascular aumentado. A conduta nesses casos é baseada em medidas higienodietético, isto é, ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL + ATIVIDADES FÍSICAS REGULARES, visando à redução do peso corporal e reversão do estado de resistência à insulina... A cessação do tabagismo também tem se mostrado importante, pois o cigarroé comprovadamente um agravante da resistência insulínica. 5 Marcela Oliveira – Medicina 2021 AUTOMONITORIZAÇÃO DIÁRIA DA GLICEMIA CAPILAR A monitorização da glicemia capilar diariamente por indivíduos de qualquer faixa etária traz grandes benefícios, por diminuir o risco de complicações agudas, tais como cetoacidose e hipoglicemia. Idealmente, esta medida deveria ser feita no mínimo quatro vezes ao dia: pré-prandial (antes do café da manhã, almoço e jantar) e antes de dormir. No entanto, para certos pacientes, uma monitorização ainda mais frequente seria ideal (ex.: 6-10 vezes ao dia, acrescentando, por exemplo, medidas entre 1-2h após o início das principais refeições – as chamadas “glicemias pós-prandiais”, que podem ajudar a se chegar numa dose mais adequada de insulina em alguns casos). Naquelas pacientes que possuem um diabetes mellitus pré-gestacional é aconselhável a monitorização das glicemias capilares pré e pós-prandial em todas as refeições (média 7 ao dia). Para mulheres que desenvolveram a DM na gestação, recomendam-se a monitorização da glicemia capilar quatro vezes ao dia: em jejum e após as três principais refeições. RASTREIO POPULACIONAL O diagnostico de DM tipo 1 geralmente é feito sem dificuldades a partir do momento em que o paciente torna sintomático (o que tende a ser precoce na evolução da doença). 6 Marcela Oliveira – Medicina 2021 No caso da DM tipo 2, infelizmente o diagnostico é tardio em grande parte dos casos. Logo, é mandatório estabelecer uma estratégia de rastreio com o intuito de detectar a doença precocemente na população assintomática. As atuais indicações de rastreio do DM tipo 2 em pacientes assintomáticos são: (1) “Sobrepeso” (IMC ≥ 25 kg/m2 em todas as raças, exceto asiáticos, onde o critério passa a ser IMC > 23 kg/m2) + pelo menos um dos fatores de risco de DM tipo 2. (2) Na ausência do critério nº 1, qualquer adulto > 45 anos de idade. (3) Crianças e adolescentes com sobrepeso + pelo menos DOIS fatores de risco de DM tipo 2. Todos os métodos utilizados no diagnostico (glicemia de jejum, TOTG 75 ou A1C) podem ser empregados no rastreio. Se ele for negativo, os exames devem ser repetidos a cada três anos. Aceita-se a realização de rastreio do DM 1 somente em pacientes de alto risco (parentes de 1º grau de um indivíduo acometido). O método é a pesquisa dos autoanticorpos característicos no soro! Caso esse screening seja positivo, até o momento a única recomendação é orientar o paciente quanto à possibilidade de surgimento da doença e o que fazer para levar um estilo de vida mais saudável. MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA Os diabéticos tipo 1 geralmente são magros, necessitando de aporte calórico suficiente para manter o seu peso ideal. Podemos calcular este aporte multiplicando-se o peso ideal por 22. Por exemplo, se o peso ideal for 52 kg, o aporte calórico deve ser 52 x 22 = 1.145 kcaL. Classicamente, recomenda-se que a dieta contenha em média 55-60% de carboidratos (especialmente amido e fibras solúveis, presentes em alimentos como verduras, frutas e legumes), 10-20% de proteínas e 30-35% de lipídios (especialmente as gorduras mono ou poli-insaturadas, contidas nos óleos vegetais e azeite). A preferência deve ser para os alimentos com baixo índice glicêmico (que elevam menos a glicemia pós-prandial), como o arroz integral, feijão e fibras solúveis (aveia, cereais, grãos). Os açúcares refinados (sacarose) devem ser limitados, mas não totalmente proibidos. É prudente substituí-los por adoçantes (ex.: sucralose) ou produtos diet. A restrição de lipídios – principalmente ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans e colesterol – é importante para o controle do colesterol LDL (“colesterol ruim”) e redução do risco cardiovascular. Uma importante medida prática para indivíduos em uso de insulina é a ingestão, NA CEIA, de alimentos com baixo índice glicêmico (ou seja, de absorção mais lenta, como carboidratos complexos) em conjunto com lipídios e/ou proteínas (que retardam o esvaziamento gástrico), mantendo-se, assim, uma glicemia estável ao longo da noite, com menor risco de hipoglicemia durante o sono. O álcool deve ser desencorajado, por aumentar tanto o risco de hipoglicemia, em usuários de insulina (o metabolismo do álcool inibe a 7 Marcela Oliveira – Medicina 2021 gliconeogênese hepática), quanto o risco de hiperglicemia (no caso de bebidas adocicadas). O exercício físico regular é uma medida promotora de saúde, indicada de rotina em diabéticos, sendo ainda mais importante no DM tipo 2 por ajudar no controle da obesidade, da hipertensão e aumentar a sensibilidade à insulina. No caso do DM tipo 1, vale ressaltar os riscos do exercício físico extenuante sobre o controle glicêmico. TRATAMENTO DIABETES MELLITUS TIPO 1 O uso de insulina é imprescindível no tratamento do DM1 e deve ser instituído assim que o diagnóstico for realizado. Estudos demonstraram que o tratamento intensivo do DM1, com três ou mais doses diárias de insulina (de diferentes tipos de ação) ou com sistema de infusão contínua de insulina (SICI; bomba de insulina), é eficaz na redução das complicações crônicas advindas do mau controle. ADMINISTRAÇÃO E DOSE DE INSULINA O objetivo do tratamento do DM1 é manter as metas glicêmicas nos limites da normalidade. Na prática, a reposição insulínica é feita com uma insulina basal (cuja função é evitar a lipólise e a liberação hepática de glicose no período interalimentar), uma insulina durante as refeições (bolus de refeição) e doses de insulina necessárias para corrigir hiperglicemias pré e pós-prandiais ou no período interalimentar (bolus de correção). A insulinoterapia em esquema intensivo (basal-bolus), seja com múltiplas aplicações de insulina ao dia, seja com SICI, constitui a terapêutica fundamental e deve ser aliada à terapia nutricional com contagem de carboidratos, automonitorização e prática regular e planejada de atividade física, a fim de complementar o tratamento, cujo objetivo principal é o bom controle metabólico, postergando- se complicações crônicas. A dose diária total de insulina preconizada em pacientes com DM1, com diagnóstico recente ou logo após diagnóstico de cetoacidose diabética, varia de 0,5 a 1,0 U/kg/dia. 8 Marcela Oliveira – Medicina 2021 TRATAMENTO DIABETES MELLITUS TIPO 2 Os antidiabéticos são divididos em diferentes classes. Os hipoglicemiantes orais formam a base da terapêutica medicamentosa do DM tipo 2, e exercem seu efeito de algumas formas: Estimulando a secreção de insulina pelas células beta (SULFONUREIAS E GLINIDAS - secretagogos), Aumentando o efeito periférico da insulina – principalmente no fígado e musculo (METFORMINA E GLITAZONAS) Retardando a absorção de carboidratos (ACARBOSE) Agindo simultaneamente na célula beta – estímulo para síntese de insulina – e alfa – reduzindo a produção de glucagon (INIBIDORES DA DPP-4). Inibem a reabsorção tubular renal da glicose filtrada no glomérulo – promovem glicosúria (INIBIDORES DO SGLT-2). Estimula os receptores do GLP1, aumentando a síntese de insulina pelas células beta e reduzindo a produção de glucagon (AGONISTAS GLP1) É importante ressaltar que pode existir uma progressão insidiosa da disfunção da célula beta com o passar dos anos, explicada em parte pelo efeito da própria hiperglicemia (glicotoxicidade à célula beta). Isso fortalece a necessidade de se controlarem os níveis glicêmicos precocemente. Muitos desses pacientes acabam evoluindo após cerca de 15 anos para uma grave disfunção das células beta, tornando-se refratários ao tratamento oral e necessitando de já sei. 1. BIGUANIDAS A única representante dessa classe é a Metformina (850mg x 3), que, aliás, é o medicamento mais utilizado no tratamento de pacientes diabéticos, uma vez que ela está indicada para todosos pacientes DM 2 que não tenham contraindicação. – Melhora sensibilização periférica à insulina. Metformina xr – 1000mgx2. O principal efeito é sobre o fígado, reduzindo a gliconeogênese hepática, que é a maior responsável pelos altos níveis glicêmicos no paciente diabético. Além disso, em menor escala, ela também retarda a absorção intestinal de carboidratos e aumenta a translocação de GLUT-4 na periferia (especialmente em células musculares), o que diminui a resistência insulínica. No entanto, é importante a gente se atentar de que seu uso é contraindicado quando o paciente apresenta: • Alguma insuficiência (renal, cardíaca…) • Acidose Grave Obs: Dosar vitamina B12 Os principais efeitos adversos são: Gastrointestinais, dor abdominal, diarreia e empachamento. 2. GLITAZONAS OU TIAZOLINEDIONAS O principal representante é a Poliglitazona, que é a nossa segunda opção de droga quando o paciente tem contraindicação ou não respondeu bem à Metformina. 9 Marcela Oliveira – Medicina 2021 Já com relação à sua ação, essa droga possui um efeito genômico (ou seja, vai demorar semanas para agir): ela vai atuar sobre um receptor nuclear conhecido como PPAR-γ, que está relacionado aos tecidos adiposo e muscular, promovendo o metabolismo da glicose e também a produção de adipócitos. – Aumenta sensibilização periférica. Em cima disso, a gente percebe que a ação do fármaco sobre esse receptor, além de diminuir a resistência insulínica nos tecidos adiposo e muscular, também está relacionada a uma maior formação de adipócitos (e, por isso, ganho de peso) nas regiões periféricas do corpo. Visto isso, temos que as principais contraindicações para seu uso são: • Insuficiência cardíaca (NYHA III ou IV) • Insuficiência hepática • Gravidez Os principais efeitos adversos são: edema, insuficiência cardíaca, ganho de peso, infecção em trato respiratório alto e sinusite/faringite. 3. SULFONIUREIAS Essa classe de drogas, juntamente com a das biguanidas, é uma das mais utilizadas no tratamento de pacientes diabéticos. O efeito desses medicamentos é sobre as células beta do pâncreas. Basicamente, o que eles fazem é bloquear os canais de K+, o que leva a uma despolarização da membrana plasmática e consequente abertura dos canais de Ca+2. O influxo de cálcio, então, favorece a degranulação das vesículas com insulina, liberando o hormônio no meio externo. As Sulfonilureias só terão efeito nos pacientes que ainda tiverem células betas preservadas - aqueles em estágio mais avançado não se beneficiam. Como contraindicações, temos: • Insuficiência renal; • Insuficiência hepática; • Gravidez Os principais efeitos adversos são: hipoglicemia (pelo aumento da insulina), ganho de peso. 4. GLINIDAS Essa classe de medicamentos atua de forma muito semelhante às sulfonilureias: promovem a secreção de insulina pelo mesmo mecanismo de ação. A diferença entre elas é apenas o tempo de meia vida 10 Marcela Oliveira – Medicina 2021 das drogas, que é bem menor no caso das glinidas. Dessa forma, o seu uso deve ser sempre antes de alguma refeição, para que ela consiga reduzir a glicemia pós-prandial - é por isso que a sua principal indicação é em casos de pacientes que não tem horário fixo para as refeições. Diante disso, conseguimos perceber que as glinidas atuam apenas sobre os momentos de pico de insulina, mas não sobre o nível basal desse hormônio, de modo que essas drogas não podem ser utilizadas isoladamente. Indicada para paciente com glicose aumentada no pós-prandial. Além disso, também não podem ser prescritas juntamente com uma sulfonilureia, afinal o mecanismo de ação das duas é o mesmo. No que tange às contraindicações, tem-se apenas uma: gravidez. Os efeitos adversos são: hipoglicemia e ganho de peso. 5. INIBIDORES DA DPP-4 - GLIPTINAS A ação deles se baseia em inibir a enzima DPP-IV, cuja função é degradar as incretinas que foram liberadas após a alimentação. A partir disso, sem sofrer degradação, as incretinas têm o seu efeito prolongado, ou seja: há um maior estímulo à liberação de insulina (mas dependente da presença de glicose). Por conta desse seu mecanismo, esses medicamentos estão pouco relacionados à hipoglicemia e também não possuem muitas contraindicações, no máximo alergias - mas, no geral, são bem tolerados. Contudo, é importante destacar que eles são bem caros e não estão disponíveis no SUS, de modo que acabam não sendo utilizados na prática. Os principais efeitos adversos são: nasofaringite, cefaleia ou tontura e diarreia. 6. ANÁLOGOS DA GLP-1 Essa classe de medicamentos atua mimetizando uma das incretinas (no caso: o GLP-1) e, assim, estimulando a liberação de insulina. A sua administração deve ser subcutânea - diferente de todas as outras drogas que vimos até aqui (que são orais) - e o seu efeito depende dos níveis de glicose, ou seja: se a glicemia estiver baixa, elas não atuam o que implica dizer que o risco de hipoglicemia é muito baixo! Além disso, outra vantagem dessa classe é que os medicamentos conseguem reduzir bastante o peso e inclusive são usados no tratamento de obesidade, até porque praticamente não há contraindicações para seu uso. Os principais efeitos adversos são: náuseas e possibilidade de pancreatite aguda injetável. Ex: LIRAGLUTIDA (diária); SEMAGLUTIDA (semanal) 11 Marcela Oliveira – Medicina 2021 7. INIBIDORES DO SGLT-2 O SGLT-2 (cotransportador de sódio e glicose) é um canal presente na membrana apical das células do túbulo proximal do néfron responsável pela reabsorção de cerca de 90% da carga de glicose filtrada. Esses medicamentos bloqueiam este canal, aumentando a perda urinaria de glicose. Tal ação exerce discreto efeito hipoglicemiante, além de ser capaz de promover alguma perda de peso. A pressão arterial também é reduzida com seu uso (provável efeito natriurético associado). Pacientes com Doença Renal crônica devem evitar esse medicamento. Seus principais efeitos colaterais são o aumento na incidência de infecção urinária e candidíase vulvovaginal. Parece que a acentuação da glicosúria seria o mecanismo responsável por esses paraefeitos. 8. INIBIDORES DA α-GLICOSIDASES Essa classe de medicamentos atua impedindo a ação da enzima α-glicosidase, que atua no intestino quebrando as moléculas de carboidrato para facilitar a sua absorção. Com isso, lentificam a absorção intestinal de glicose, fazendo reduzir a glicemia pós-prandial nos diabéticos tipo 2. Outro efeito benéfico dessas drogas é a redução da relação LDL/HDL, o que pode diminuir os riscos de evento cardiovascular. São excelentes drogas para os diabéticos com glicemia de jejum normal, porém com hiperglicemia pós-prandial documentada. Como contraindicação, temos apenas: • Gravidez • Doença Inflamatória Intestinal Os principais efeitos adversos são: flatulência (devido a passagem de carboidratos não digeridos ao cólon, onde serão metabolizados por bactérias locais), distensão abdominal e dor abdominal. DECISÃO TERAPÊUTICA • PRÉ-DIABETES Caso a gente identifique que o paciente está em um quadro de pré-diabetes, a principal medida a ser adotada é a orientação quanto à MEV. De todos os medicamentos disponíveis, apenas a Metformina mostrou conseguir reduzir o desenvolvimento de diabetes – e só em pacientes com menos de 60 anos. Isso quer dizer que só prescrevemos metformina para pré-diabéticos que são: Obesidade grau II (IMC > 35) História de DM Gestacional HbA1c aumentada > 6% (mesmo com MEV) 12 Marcela Oliveira – Medicina 2021 • DM TIPO 2 Toda vez que a gente for pensar na terapia de uma paciente com DM 2, é importante levar em consideração 4 perguntas chaves: Caso o paciente tenha insulinopenia (4 Ps), nós precisaremos passar para ele um secretagogo (SULFONIUREIAS E GLINIDAS) ou então iniciar uma insulinoterapia - mas essa última sópode ser considerada caso o paciente se enquadre em pelo menos das seguintes indicações específicas: Agora, se o paciente tiver com uma resistência insulínica, aí vamos precisar passar a Metformina e/ou a Poliglitazona. Se o paciente DM 2 for assintomático ou tiver apenas sintomas leves e uma glicemia < 200mg/dL, provavelmente ele só tem a resistência insulínica, então para eles a gente pode começar com uma monoterapia usando Metformina ou Poliglitazona. Por outro lado, se ele já chegar com uma glicemia entre 200-300mg/dL e com manifestações (só que não graves) aí é porque além da resistência, ele também já deve estar começando a reduzir produção de insulina, então junto com Metformina/Poliglitazona, a gente deve indicar o uso de um secretagogo (SULFONILUREIA OU GLINIDA). Mas e se o paciente tiver com glicemia > 300mg/dL e com manifestações graves? Bem, aí ele já entra naquela indicação para insulinoterapia. No caso de pacientes com um maior risco de hipoglicemia, como é o caso dos idosos e dos pacientes com demência ou algum acometimento cardiovascular, é importante a gente avaliar bem se vamos passar uma sulfonilureia ou uma glinida, por exemplo. Se a gente iniciar a terapia do paciente e ele não responder e continuar descompensado? Vamos associando outras drogas pra ver se regula, sendo que quando atingirmos a marca de 3 fármacos hipoglicemiantes, a gente já deve começar a refletir sobre a necessidade de introduzir insulina. • Glicemia>300mg – iniciar insulina (pode ser combinada com metformina) • Terapia tripla não funcionando – iniciar insulina. • HBa1c em torno de 12- iniciar insulina 13 Marcela Oliveira – Medicina 2021 INSULINOTERAPIA NA DM2 A insulinoterapia no DM tipo 2 não deve ser interpretada como uma exceção ou como um sinal de falência terapêutica. A insulina exógena no DM tipo 2 tem sua maior indicação na falência da terapia oral (HbA1c > 7% apesar da terapia tripla ou dupla). Neste caso, devemos adicionar uma dose de insulina NPH ou uma insulina de ação prolongada (glargina ou detemir) à terapia oral prévia. Nesse gráfico a gente consegue ver que a insulina tem uma concentração basal que se mantém ao longo de todo o dia, porém, apresenta picos após as principais refeições do dia e a gente precisa ter isso em nossa cabeça porque na insulinoterapia, o objetivo é criar uma associação que mimetize esse gráfico. Dessa forma, há dois grupos de insulina: • INSULINA BASAL Fisiologicamente falando, a insulina basal é aquela que se mantém em níveis constantes ao longo de todo o dia e aí, para mimetizar o seu efeito, nós podemos utilizar insulinas de: Ação prolongada/lenta: Glargina; Detemir; Degludeca Ação intermediária: NPH 1. Glargina, Detemir e Degludeca: São as nossas melhores opções de insulina basal, uma vez que elas conseguem se manter por um período médio de 24h (ou seja, o paciente só precisará fazer uma aplicação ao dia) e, além disso, ainda não apresentam picos significantes, o que é um fator importante pois diminui os riscos de hipoglicemia. Obs: Degludeca tem efeito durante mais de 24h e o maior benefício disso é que se cria um intervalo de proteção em relação ao horário da tomada do medicamento, de modo que o paciente pode se atrasar um pouco e ainda assim terá seu nível de insulina basal garantido. 2. NPH: Diferente das opções anteriores, a NPH é uma insulina de ação intermediária, tendo efeito por apenas 12h (ou seja, serão necessárias, no mínimo, 2 aplicações por dia: uma de manhã e outra de noite) e ela também possui um pico significante, o que a afasta do 14 Marcela Oliveira – Medicina 2021 que seria considerado fisiológico. Contudo, essa é a única opção de insulina basal disponibilizada pelo SUS, de modo que acaba sendo mais frequentemente utilizada do que as demais. No caso da NPH (ação intermediaria), utiliza-se uma aplicação noturna, antes de dormir, começando com 10 U SC (0,1-0,2 U/kg), no intuito de inibir a produção hepática de glicose na madrugada e início da manhã (fenômeno do alvorecer); isso facilita a ação dos antidiabéticos orais durante o dia. • INSULINA PRANDIAL Já a insulina prandial, por sua vez, é a responsável por fazer o pico após as refeições e depois ceder para voltar aos níveis basais. Então nesse caso, o paciente precisa fazer uso dessas insulinas antes de cada refeição principal. Ação ultrarrápida: Lispro; Aspart; Glulisina Ação rápida: Regular 1. Lispro, Aspart e Glulisina: As insulinas de ação ultrarrápida são aquelas que começam a fazer efeito de forma mais imediata (só precisam ser aplicadas 15min antes da refeição) e cujo tempo de ação é mais curto, o propicia que ela forme um pico muito semelhante ao fisiológico. 2. Regular: Já a insulina Regular, que possui ação rápida, é aquela que demora um pouco para surtir efeito (então precisa ser aplicada 45min antes da refeição) e ainda tem um tempo de ação mais longo, formando picos mais alargados e diferentes do que considerado fisiológico. Contudo, essa é a única insulina prandial que está disponível pelo SUS e, portanto, acaba sendo a mais utilizada no cenário brasileiro. 15 Marcela Oliveira – Medicina 2021 CÁLCULO DO BOLUS DE CORREÇÃO Fator de sensibilizada: 1500/quantidade de Insulina diária. Ex: 1500/30 = 50, ou seja, 1 unidade de insulina reduz 50g de glicose na corrente sanguínea. Bolus correção: glicemia aferida - glicemia desejada/FS Ex: 250 – 100/50 =3, ou seja, o bolus de correção será 3UI de insulina regular. CÁLCULO DE BOLUS ALIMENTAR BOLUS ALIMENTAR: CARBO / 15 Ex: BA: 40/15 = 2,8 CÁLCULO DE BOLUS TOTAL BOLUS TOTAL: BC + BA Ex: BT: 3 + 2,8= 6
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