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NUTRIÇÃO EM ONCOLOGIA Prof. Iris Lengruber – irislengruber@hotmail.com IMUNOTERAPIA Principal avanço no tratamento do câncer nos últimos anos, a imunoterapia estimula o organismo a identificar as células cancerosas e atacá-las com medicamentos que modificam a resposta imunológica. As maneiras mais comuns de administrar os medicamentos são: Intravenosa: administrado diretamente na veia Subcutânea: por injeção no tecido subcutâneo. A imunoterapia age de forma distinta daquela promovida por qualquer outro tipo de tratamento oncológico. Enquanto os mecanismos de ação contra o tumor oferecidos pela quimioterapia e pelas drogas de alvos moleculares baseiam-se em atacar as células tumorais diretamente, a imunoterapia auxilia o próprio sistema imunológico do paciente a identificar e combater o câncer. A imunoterapia não se aplica a todos os casos. A indicação tem relação com o tipo de tumor e o momento do tratamento em que o paciente se encontra. A diferença de ação da imunoterapia em relação à quimioterapia pode ocasionar reações adversas distintas. Existem vários medicamentos imunoterápicos e, no Brasil, vários destes estão aprovados pela Agência Nacional de Saúde para pacientes com melanoma metastático, câncer de bexiga, câncer de pulmão de células não pequenas, linfomas de Hodgkin e, mais recentemente, tumores de cabeça e pescoço e câncer gástrico. Porém, vários estudos clínicos estão em andamento e espera-se que, nos próximos períodos, pacientes com outros tipos de tumores, como câncer gástrico e colorretal, também possam se beneficiar da imunoterapia. Apesar das aprovações, a definição terapêutica de tratamento será mais bem definida pelo médico oncologista. Até o momento, a terapia não está disponível para pacientes do Sistema Único de Saúde. Abordagem Nutricional: Dieta normal, com os mesmos cuidados para evitar desnutrição e contaminação - o foco principal é a manutenção de peso saudável. TRATAMENTOS DO CÂNCER: EFEITOS COLATERAIS DE ORDEM NUTRICIONAL Cirurgia - interferência no consumo, digestão e/ou absorção. O câncer, em sua fase inicial, pode ser controlado e/ou curado através do tratamento cirúrgico. O tratamento cirúrgico é indicado para tumores sólidos (não inclui hematológicos, como leucemia). A cirurgia pode interferir no consumo, digestão e/ou absorção dos alimentos devido a efeitos mecânicos (gastrectomia por exemplo), ou até mesmo pela ausência de enzimas e substâncias necessárias para digestão e absorção (ressecção da vesícula biliar, gastrectomia, duodenopancreatectomia). Quimio e radioterapia - interferência no consumo alimentar por diversas razões: A quimioterapia é um tratamento sistêmico, que atua no ciclo celular para tentar bloquear a replicação descontrolada da célula tumoral, onde são utilizados alguns compostos químicos. Existem inúmeras medicações que são utilizadas. A radioterapia é o método capaz de destruir células tumorais empregando feixe de radiação ionizante. Assim como a quimioterapia, é um tratamento que induz um estresse oxidativo às células com o objetivo de destruir o tumor. Alguns sintomas mais comuns a esses tratamentos são a diarreia, constipação, mucosite, anorexia, náusea, vômito, odinofagia, disfagia, disgeusia, estomatite, fraqueza, fadiga. O alívio de sintomas físicos, psicológicos e espirituais pode ser alcançado em até 90% dos pacientes com câncer, por essa razão é necessária a abordagem multiprofissional. A base multidisciplinar justifica-se pela grande complexidade dos sintomas trabalhados, além do reconhecimento da influência que os aspectos não físicos exercem sobre a intensidade do quadro clínico. ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA TERAPIA ANTITUMORAL Anorexia - falta de apetite As estratégias clínicas de tratamento da anorexia envolvem medicamentos e intervenções não farmacológicas, que são as nutricionais e acompanhamento psicológico. É um sintoma comum decorrente da toxicidade do tratamento, levando à diminuição da ingestão alimentar e, nesse contexto, a intervenção nutricional, por meio da orientação dietética individualizada é imprescindível. Esse sintoma pode se manifestar por meio de intolerância e determinados alimentos, mesmo os preferidos. As condutas preconizadas pelo INCA são as descritas no quadro abaixo: Sugestões para acréscimo proteico-calórico em preparações alimentares: geleias de frutas sem açúcar, mel; tubérculos e raízes (batata, inhame, mandioca e mandioquinha); óleos vegetais (azeite, macadâmia, linhaça...), manteiga, abacate, sementes de oleaginosas; ovos, carnes, frango, peixe; leite e derivados; extratos vegetais (soja, quinoa, aveia, castanha, coco). Disgeusia e disosmia Disosmia é a percepção distorcida do olfato, tornando os odores inócuos desagradáveis. Disgeusia é a distorção ou diminuição do senso do paladar. Pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço e em radioterapia apresentam mais alterações gustativas que outros grupos. Os efeitos podem permanecer por mais de um ano após o tratamento. Os pacientes submetidos à quimio também podem apresentar diminuição da sensibilidade bucal e presença de gosto metálico ou amargo, associados a medicamentos antineoplásicos. A deficiência de zinco também tem sido associada às alterações do paladar. As condutas nutricionais preconizadas estão descritas no quadro abaixo: Náuseas e vômitos As náuseas e vômitos pós-quimioterapia são relatados por mais de 70% dos pacientes. Esses sintomas são classificados em três tipos: A náusea antecipatória que ocorre antes do início das sessões de quimioterapia; A náusea aguda que ocorre dentro das primeiras 24 horas pós-quimioterapia; A náusea tardia que vai ocorrer de 24 horas até 5 dias após a quimioterapia. Estudos sugerem que o consumo de uma refeição rica em proteínas, pode melhorar os sintomas de náuseas e vômitos, e que uma combinação de suplemento de gengibre e proteína resultaria em uma redução significativa desses sintomas. Porém o uso do gengibre não é consensuado. O mecanismo exato para isso não é claro, mas observa-se que, durante a exposição a estímulos nauseantes, o ritmo do estômago torna-se desregulado - A ingestão de uma refeição mantém o ritmo fisiológico normal do estômago, o que pode, por sua vez, reduzir os sintomas de náuseas e vômitos. O tratamento não farmacológico preconizado para esses sintomas, estão descritos no quadro abaixo: XEROSTOMIA - alteração quantitativa e/ou qualitativa da saliva que causa a sensação de boca seca. A radiação pode provocar uma reação inflamatória degenerativa, especialmente das células serosas acinares das glândulas salivares. Além disso, a ansiedade e a depressão, muitas vezes presentes nesses pacientes, favorecem o aparecimento desse sintoma. A perda da função salivar causa numerosas sequelas adversas, incluindo: disfunção esofágica (esofagite crônica); maior frequência de intolerância aos medicamentos orais e produtos de higiene bucal; aumento da incidência de infecção local/regional (glossite, candidíase, cárie dentária, halitose). O tratamento não farmacológico preconizado para esses sintomas, estão descritos no quadro abaixo: Mucosite É caracterizada por descamação da mucosa, eritema, pseudomembrana e ulceração. Os sintomas dor e queimação ocorrem, principalmente, na ingestão de alimentos condimentados e de texturas ásperas, o que dificulta a higiene oral e a deglutição do alimento. A Organização Mundial daSaúde definiu escores para graduação da mucosite: grau ZERO representa ausência da mucosite, grau I representa eritema, grau II apresenta eritema, edema e úlcera dolorosa e o paciente ainda consegue se alimentar de sólidos, grau III representa um quadro grave com ulcerações orais e o paciente consegue se alimentar apenas de líquidos, grau IV representa o paciente que já não consegue se alimentar pela boca, necessitando de suporte nutricional. A utilização da glutamina e da camomila têm sido estudadas, mas ainda não é consenso. O tratamento não farmacológico preconizado para esses sintomas, estão descritos no quadro abaixo: Esofagite É a inflamação no esôfago, o tubo que liga a parte posterior da boca ao estômago. Frequentemente causa dor, dificuldade ao engolir e dores no peito. Tratamento não farmacológico: Trismo - contratura dolorosa da musculatura da mandíbula O trismo é uma sequela que limita a abertura bucal, dificulta a alimentação, a fonação, o exame da cavidade oral, o tratamento dentário, a higienização oral, e causa intenso desconforto. Os pacientes com tumores na faringe, em áreas retromolares e regiões posteriores do palato, são os mais afetados. Ou ainda, quando os músculos mastigatórios fazem parte do campo de radiação, há como consequências edema, destruição celular e fibrose muscular. O tratamento não farmacológico preconizado encontra-se no quadro abaixo: Enterite É a inflamação do intestino delgado como um todo ou de parte dele como no caso do duodeno, íleo e jejuno. O tratamento não farmacológico recomendado é: Diarreia A utilização de protocolos de quimioterapia com drogas de derivados de fluoropirimidas associa-se a um risco maior de ocorrência da diarreia. Pacientes submetidos a radioterapia dirigida à região pélvica podem presentar enterite actínica de forma aguda ou crônica, que se manifesta com quadro clínico semelhante a diarreia. O tratamento não medicamentoso preconizado se encontra no quadro abaixo: Constipação ou obstipação A constipação é definida como ausência de evacuação por mais de três dias ou menos frequente que habitual. Aproximadamente 40% dos pacientes apresentam esse sintoma e 90% dos que utilizam opioides. Outros fatores podem contribuir com esses sintomas, como: imobilidade, dieta com baixo teor de fibras, ingestão de líquidos reduzida, hipercalemia e hipocalemia, dentre outros. Os quimioterápicos mais relacionados a ela são os do grupo da vinca como vincristina e a vimblastina. A dieta deve conter uma quantidade adequada de fibras solúveis e insolúveis. Elas são importantes para o funcionamento intestinal devendo estar presentes nas refeições para auxiliar a formação do bolo fecal e estimular os movimentos peristáltico. Além do adequado consumo de líquidos que é importante para a hidratação e para evitar o ressecamento das fezes. Vários estudos demonstraram que o uso de prebióticos, probióticos e simbióticos para o tratamento da constipação crônica melhoram o trânsito intestinal e a consistência das fezes. O consenso do INCA preconiza esses e outros tratamentos, conforme quadro abaixo: Neutropenia É um dos efeitos colaterais mais comuns da quimioterapia, aumentando o risco de infecção. É graduada em leve (neutrófilos menores que 1500); moderada (menores que 1000) e severa (abaixo de 500). A presença de micro-organismos patógenos em diversos alimentos pode causar infecções oportunistas nos períodos de imunossupressão. As práticas adequadas de aquisição, higienização, armazenamento e preparo dos alimentos é imprescindível nessa fase. Outros cuidados estão descritos no quadro abaixo: AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A avaliação nutricional é uma etapa extremamente importante na avaliação dos pacientes oncológicos, a fim de identificar desnutrição, que é extremamente prevalente e determinar o papel prognóstico da desnutrição. O instrumento mais adequado para a realização da avaliação nutricional no paciente oncológico é a ASG- PPP (versão longa ou curta). Outros instrumentos como avaliação laboratorial e composição corporal podem complementar a avaliação nutricional. A avaliação nutricional tem o principal objetivo de identificar os pacientes com risco nutricional e/ou desnutrição estabelecida. É indiscutível a influência do estado nutricional sobre a evolução clínica de pacientes oncológicos. É essencial para a hipótese diagnóstica nutricional, a fim de auxiliar na manutenção ou recuperação do estado nutricional e estabelecer conduta dietoterápica mais apropriada, direcionada e especializada ao paciente oncológico. Além disso, a identificação precoce da desnutrição é importante para o tratamento efetivo e preventivo dos efeitos clínicos adversos. Embora não existam instrumentos específicos para detectar a desnutrição, vários métodos têm sido utilizados. Não há uma medida nutricional única que possa ser considerada como um indicador sensível e específico, pois as condições clínicas poderão alterar as variáveis analisadas. AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA DESNUTRIÇÃO A restrição alimentar de longo prazo, e/ou as próprias doenças que aumentam o gasto energético, a exemplo do câncer, levam a um comprometimento visceral. Por essa razão, a dosagem de proteínas de síntese hepática é uma excelente estratégia para a triagem da avaliação do estado nutricional. Albumina Um exame de baixo custo, e por isso o mais utilizado. Vários estudos correlacionam a hipoalbuminemia com aumentada incidência de morbimortalidade. Os níveis caem após depleção proteica significativa (meia vida de 20 dias). Transferrina É o mais sensível marcador de depleção proteica, pois possui meia vida de 8 dias. Não é adequado utilizar isoladamente, pois diversos fatores podem alterar (infecção crônica, doença renal, dentre outros). Pré – albumina É uma proteína depletada precocemente em estado hipermetabólico, uma vez que tem uma vida média de dois dias e uma reserva corporal bem pequena. É bem fiel, mas menos utilizado porque tem alto custo. Proteína Ligadora de retinol PLR – responsável pelo transporte de vitamina A na forma de retinol. Outro marcador bastante sensível do estado nutricional porque possui uma meia-vida de 12 horas. COMPLEMENTAÇÃO, SUPLEMENTAÇÃO E IMUNONUTRIÇÃO O aporte de nutrientes específicos pode resultar em melhores desfechos clínicos, devido a sua ação na modulação da resposta imunológica e metabólica. A capacidade dos nutrientes em influenciar as células do sistema imunológico é definida como Imunonutrição. O sistema imunológico possui um papel muito importante no tratamento do câncer e esse assunto tem dado origem a um campo emergente de estudos dentro da oncologia e, especificamente, sobre a capacidade de uma dieta com imunonutrientes influenciar na melhoria do sistema imunológico, diminuir toxicidade do tratamento e, consequentemente, gerar melhores resultados aos pacientes oncológicos. Glutamina A glutamina é um aminoácido essencial que desempenha um papel como importante fonte de combustível para macrófagos, linfócitos e enterócitos. Ela ainda realiza um papel crucial na diferenciação de células B, citocinas, proliferação de células T e possui papel na fagocitose, reduzindo apoptose e inflamação. As concentrações de glutamina estão reduzidas na inflamação e, portanto, apresenta um efeito supressor sobre o sistema imunológico e quebra da barreira epitelial. O papel da suplementação deglutamina é controverso. Assim os dados ainda são insuficientes para recomendações a fim de melhorar desfechos clínicos em pacientes recebendo altas doses de quimioterapia e transplantes de medula óssea, por exemplo. As evidências para recomendar a glutamina para prevenir enterite/diarreia e alterações de pele são insuficientes e pouco consistentes. Mesmo com algumas evidências para potenciais efeitos benéficos da glutamina nestas situações, para existir um consenso sobre a recomendação será necessário esclarecer questões de segurança, dosagem e eficácia com dados mais robustos. Ácidos graxos ômega 3 Eles são potenciais adjuvantes na terapia anticâncer ; por suas propriedades na atividade antitumoral, antiproliferativa, pró-apoptótica, anti-invasiva, antimetastática, dentre outras. Alguns estudos demonstram que para pacientes em tratamento com quimioterapia e radioterapia, a inclusão de ácidos graxos ômega 3 tem benefício na manutenção do peso corporal e da massa muscular, na resposta inflamatória e em indicadores nas escalas de qualidade de vida. Em pacientes cirúrgicos, a Imunonutrição com o ômega 3 diminui complicações pós-cirúrgica, ajuda na cicatrização de feridas e diminui o tempo de permanência no hospital. Na síndrome da caquexia, essa suplementação se mostrou eficaz no ganho de peso e melhora na qualidade de vida. Apesar da suplementação de ômega 3 na população oncológica trazer benefícios claros e poucos efeitos colaterais, as evidências científicas não permitem ainda forte recomendação. Antioxidantes Estima-se que 70% dos pacientes em tratamento utilizam suplementos contendo antioxidantes. Porém, o que se sabe hoje é que os antioxidantes causam um efeito contraditório, visto que protegem o tecido normal da toxicidade do tratamento, ao passo que protegeria também as células cancerosas contra os danos causados pela radiação. Fitoterápicos O consumo de algum extrato vegetal, mesmo em pequenas doses, pode levar a interações medicamentosas. São necessárias pesquisas melhor “desenhadas”, bem como a necessidade de normatização no cultivo, manejo, produção, distribuição, e uso de plantas medicinais. Pela falta de vivência clínica na população oncológica, ainda não foi possível consensuar. Prebióticos e probióticos O intestino responde por 70% da atividade imunológica do organismo. Por essa razão, os Prebióticos e probióticos auxiliam na redução dos efeitos colaterais da radioterapia e da quimioterapia, bem como na melhora da resposta imunológica antitumoral. Fazem ainda proteção contra colonização intestinal por patógenos e translocação dos mesmos para a circulação. As multicepas são mais eficazes e as mais utilizadas são Lactobacillus acidophilus e Lactobacillus rhamnosus. O único cuidado é nos casos de neutropenia (menor que 1000) pelo risco de bacteremia. LOW CARB, CETOGÊNICA E JEJUM INTERMITENTE NO TRATAMENTO DO CÂNCER Infelizmente hoje em dia existem muitos “fake news” em relação ao tratamento alternativo para o câncer. Com promessas de “matar as células de fome”, as estratégias como jejum intermitente, cetogênica e “low carb” estão se disseminando de forma desenfreada e sem bases científicas suficientes. Embora os efeitos antitumorais da restrição calórica estejam bem estabelecidos, o mecanismo por trás dessa relação permanece incerto. Acredita-se que os efeitos supressores tumorais sejam mediados, em parte, pela apoptose aumentada dentro dos tumores, pela modulação de sinais sistêmicos, reduzindo a inflamação sistêmica e a sinalização do fator de crescimento, melhorando os marcadores metabólicos, e com isso reduzindo a angiogênese. De todo modo, continua sendo contraindicada para muitos pacientes com câncer em risco de perda de peso, caquexia e imunossupressão. Sem contar que um período de jejum prolongado seguido de uma alimentação excessiva pode alterar o funcionamento da insulina, hormônio que facilita a entrada de glicose nas células, e até aumentar as chances de desenvolver uma compulsão alimentar, além de alterar o humor. Estudos futuros devem levar em consideração o risco de caquexia nessa população de pacientes. É necessária uma investigação clínica para testar melhorias metabólicas a longo prazo além da perda de peso. Além do mais, faltam dados sobre os impactos do jejum intermitente em outros comportamentos de saúde, como na alimentação, sono e atividade física. A associação do câncer com dietas restritivas pode ocasionar uma perda de peso grave no paciente oncológico, o que muitas vezes inviabiliza o tratamento. As dietas restritivas são acompanhadas de privações e monotonia alimentar que interferem diretamente na relação que o indivíduo tem com a comida, bem como as relações sociais associadas. Tendo então um aspecto negativo nessa questão social também. Dessa forma, não há evidência científica que respalde a utilização dessas estratégias em pacientes oncológicos. Evidências científicas não são suficientes para atestar os reais benefícios e riscos do uso do jejum intermitente como estratégia nutricional, pois os estudos sobre o tema geralmente são realizados com modelos animais e com curto período de duração. Desta forma, há a necessidade de mais evidências científicas para respaldar o uso desta estratégia. NUTRIÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS Segundo a OMS, Cuidado Paliativo é a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual. Os princípios do cuidado paliativo são: o alívio do sofrimento, a compaixão pelo doente e seus familiares, o controle impecável dos sintomas e da dor, a busca pela autonomia e pela manutenção de uma vida ativa enquanto ela durar. O que se busca hoje é um modelo de cuidado em que os componentes do cuidado paliativo são oferecidos no momento do diagnóstico e que permanece até o desfecho, seja a cura ou a morte. O nutricionista no cuidado paliativo tem que ter a noção de que alimentar é muito mais que um processo de fornecer calorias e nutrientes aos indivíduos; está diretamente relacionado com os aspectos emocionais, socioculturais, religiosos e as experiências de vida. Papéis do nutricionista no cuidado paliativo Identificar as necessidades nutricionais e de hidratação; Avaliar precocemente e intervir de modo preventivo; Auxiliar a equipe multiprofissional na tomada de decisão; Garantir a autonomia do paciente quanto à sua alimentação; Proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente Intervenção nutricional no cuidado paliativo A intervenção nutricional deve considerar: Prognóstico/Expectativa de vida Potencial de reversibilidade da desnutrição – Risco X Benefício da Terapia Nutricional. Sofrimentos inerentes ao tratamento – Situações em que um tratamento mais agressivo se constitui um tratamento fútil. Objetivos da nutrição no cuidado paliativo Melhora na qualidade de vida Prevenir ou minimizar déficits nutricionais Ofertar fluidos, energia e nutrientes satisfatórios Alívio sintomas Conforto e bem-estar Tomada de decisão A decisão de iniciar o suporte nutricional no cuidado paliativo vai depender de alguns fatores inerentes ao paciente, como: Condição clínica Sintomas Expectativa de vida Estado nutricional Condições e aceitação de alimentação via oral Estado psicológico Integridade do trato gastrointestinal Necessidade de serviços especiaispara fornecimento da dieta. Para essa tomada de decisão, podem ser usados parâmetros clínicos para avaliação, como os descritos abaixo: O Consenso Nacional de Nutrição Oncológica do INCA (2015), também traz uma tabela para facilitar essa avaliação. Um indicador único não caracteriza a condição nutricional do indivíduo: A conduta nutricional deve respeitar a Bioética Principialista: Autonomia: O paciente deve ter a palavra final nos tratamentos. Caso seja incapaz de decidir, deve- se considerar ordens escritas previamente ou a decisão dos responsáveis. Beneficência: Os tratamentos devem ter por objetivo o bem do paciente. Não maleficência: Não promover o sofrimento. Justiça: Os recursos limitados devem privilegiar os potencialmente mais beneficiados Diante de um paciente no final de sua vida, devemos priorizar seu conforto e garantir a troca de afeto, que pode se dar através de pequenas porções de alimento. SOBREVIVENTES DE CÂNCER Para pacientes que finalizaram seus tratamentos, usa-se a nomenclatura “clinicamente curado”, que é diferente de biologicamente curado. O que significa que sempre há chance de recidiva ou de um novo câncer. Pois no caso dessa doença, é possível e mais provável inclusive, que o “raio caia no mesmo lugar duas vezes”. Há de se considerar ainda, que até 20% dos pacientes com câncer sofrem síndromes paraneoplásicas, mas essas crises quase sempre não são reconhecidas. São secundárias às substâncias secretadas pelo tumor ou resultantes de anticorpos direcionados contra os tumores. Os sintomas podem ocorrer em qualquer órgão ou sistema fisiológico. Por exemplo: Febre Sudorese noturna Rubor Lesões cutâneas pigmentadas Herpes-zoster Neuropatia periférica Muitos outros... Após o término dos tratamentos cirúrgicos, quimio e radioterápico, quando o paciente for considerado livre da doença, em fase de manutenção de saúde, é comum que ele mesmo procure mudar seu estilo de vida anterior ao diagnóstico. O papel do nutricionista nessa etapa é de reavaliar novos hábitos alimentares e de estilo de vida, avaliar o tipo de alimentação que está sendo oferecida e informar sobre a importância de uma alimentação saudável. Além de apoiar mudanças de comportamento, como adesão à atividade física, espiritualidade, etc. CONCLUSÕES: As deficiências nutricionais podem reduzir o prognóstico e eficácia do tratamento, aumentando a morbimortalidade, trazendo impacto negativo na vida do paciente e da sociedade. Por essa e outras mil razões, a prevenção sempre será o melhor investimento. A real prevenção começa com a adoção de um estilo de vida com dieta balanceada, manutenção de peso adequado, ter atividade física regular, não fumar, dormir bem, usar álcool com moderação, cultivar amizades e fazer avaliação médica de prevenção regularmente (prevenção primária). REFERÊNCIAS: ABC do Câncer – INCA – online Barrére, Ana Paula Noronha et al. Guia Nutricional de Oncologia - Atheneu, 2017 BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS Dal Bosco, S.M., Genro, J.P. Nutrigenética e |Implicações na Saúde Humana. Ed Atheneu, 2014. Estimativa 2019: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2017. 118p. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/estimativa/2019 Garófolo, A. Nutrição clínica, funcional e preventiva aplicada à oncologia. 2012. Ed Rubio. Pinho, A. Nutrição e câncer: da prevenção ao tratamento (Bases científicas e Prática clínica). Ed.PoloBooks, SP, 2018. Waitzberg, Dan Linetzky, et al. Manual de terapia nutricional em oncologia do ICESP. 2011.
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