Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Código Logístico 59619 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6696-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 9 6 4 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Marina Vargas IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ V427c Vargas, Marina Cálculo para funções de múltiplas variáveis / Marina Vargas - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 174 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6696-4 1. Cálculo. 2. Funções de várias variáveis reais. I. Título. 21-71247 CDD: 515.84 CDU: 517.55 Marina Vargas Pós-doutora em Mecânica Computacional pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutora e mestra em Métodos Numéricos em Engenharia na área de programação matemática também pela UFPR. Especialista em Educação Matemática e licenciada em Matemática pela Universidade Paranaense (Unipar). Professora no ensino superior nas modalidades presencial e a distância, ministrando as disciplinas de Cálculo de funções de uma e mais variáveis, Álgebra Linear, Geometria Analítica, Métodos Numéricos, Teoria dos Números, Pesquisa Operacional, Matemática Aplicada, Estatística Aplicada e Métodos Quantitativos. Professora conteudista em diversas instituições e empresas. Pesquisadora nas áreas de programação matemática, mecânica computacional, educação matemática e educação em engenharias. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Funções de múltiplas variáveis 9 1.1 Definição de funções de múltiplas variáveis 9 1.2 Limites de funções de múltiplas variáveis 18 1.3 Continuidade de funções 22 1.4 Funções vetoriais 24 2 Derivadas parciais 31 2.1 Derivadas parciais 31 2.2 Plano tangente e diferenciabilidade 38 2.3 Regra da cadeia 42 2.4 Derivadas direcionais e vetor gradiente 45 2.5 Valores máximo e mínimo 50 3 Funções vetoriais e curvas espaciais 56 3.1 Curvas definidas por equações paramétricas 56 3.2 Cálculos com curvas parametrizadas 62 3.3 Comprimento de arco para curvas parametrizadas 64 3.4 Área de curvas parametrizadas 67 3.5 Coordenadas polares 68 3.6 Comprimento e área em coordenadas polares 77 3.7 Curvas espaciais 81 4 Integrais múltiplas 87 4.1 Integrais duplas 87 4.2 Integrais duplas sobre regiões gerais 96 4.3 Mudanças de variáveis nas integrais duplas 99 4.4 Integrais triplas 105 4.5 Mudanças de variáveis nas integrais triplas 111 5 Cálculo vetorial 116 5.1 Campos vetoriais 116 5.2 Integrais de linha 121 5.3 Teorema de Green no plano 128 5.4 Superfícies e integral de superfície 135 5.5 Teorema da divergência de Gauss 139 6 Introdução a equações diferenciais ordinárias 142 6.1 Conceitos básicos: equações lineares de primeira ordem 142 6.2 Equações de primeira ordem: alguns métodos 152 6.3 Equação exata e fator integrante 159 6.4 Equações lineares de primeira ordem 162 6.5 Aplicações 163 Gabarito 168 Quadro de símbolos 174 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Nesta obra trazemos os conceitos necessários para trabalharmos com funções que representam superfícies e hiperfícies. Além de tratarmos das funções compostas de múltiplas variáveis, abordamos as funções vetoriais e, com isso, abrimos um importante leque para o estudo de campos escalares e vetoriais, tendo como fechamento a introdução ao estudo das equações diferenciais, conteúdo que por si só possibilitaria a escrita de diversas obras. O estudo de funções com domínio real é indispensável na formação do matemático, seja bacharel ou licenciado. Além disso, esse conteúdo está presente nos cursos de Engenharia, Física, Química, Ciência da Computação, Administração, Economia, Biologia e muitos outros que poderíamos continuar listando por se beneficiarem desse conhecimento. Pensando nisso, no primeiro capítulo discorremos sobre o conceito das funções de múltiplas variáveis, com atenção especial às funções de duas variáveis pela possibilidade de sua representação gráfica. Também tratamos de limite e continuidade de uma função composta de n variáveis e trazemos o conceito de função vetorial, que aprofundamos em outros capítulos. No segundo capítulo construímos o conceito de derivada parcial, considerando como referência as funções de duas variáveis. Aqui a escolha também ocorre pela possibilidade de representação gráfica e analogia direta com as derivadas de funções de uma variável. Além do conceito de derivadas parciais, trabalhamos com as derivadas direcionais e o vetor gradiente, ferramenta fundamental para o detalhamento de muitas das teorias presentes no quinto capítulo. No terceiro capítulo explanamos as funções vetoriais, as curvas espaciais e as equações paramétricas. Com isso, é possível compreendermos as funções sob uma ótica diferente da trabalhada nos capítulos iniciais. A estrutura desse capítulo possibilita a introdução de conceitos como o movimento de partículas ao longo do tempo e as mudanças de coordenadas. No quarto capítulo apresentamos as integrais de funções de múltiplas variáveis. A escolha de funções de duas variáveis é importante para a percepção da composição geométrica por traz da estrutura algébrica. Além de funções de duas variáveis, trabalhamos com as funções de três variáveis e o conceito de integrais triplas. Como a integração permite o uso de algumas mudanças de variáveis, é nesse capítulo que explicamos as coordenadas polares e cilíndricas. No quinto capítulo debatemos a concepção de cálculo vetorial. Para isso, é importante recordarmos todos os conceitos apreendidos nos capítulos anteriores para, com base nisso, desenvolvermos o conceito de rotacional e divergente e trabalharmos com os teoremas de Green, Gauss e Stokes. Talvez APRESENTAÇÃOVídeo esse seja o capítulo mais denso e que exija maior abstração, pois abordamos os campos vetoriais e a influência deles sobre curvas e superfícies. Entretanto, é um dos mais ricos em exemplos envolvendo outras áreas do conhecimento. No sexto e último capítulo realizamos uma introdução ao amplo campo das equações diferenciais. Enunciamos a definição e classificação delas e uma breve metodologia para a solução das ordinárias de primeira ordem. Este é o foco desta obra: a compreensão do comportamento de funções de múltiplas variáveis e de funções vetoriais. Desse modo, a proposta é que amadureçamos nosso conhecimento matemático para que consigamos manusear as ferramentas matemáticas com mais agilidade e domínio, ensinar esses conceitos utilizando ferramentas computacionais simples – as quais são apresentadas no decorrer dos capítulos –, e aplicar nas mais diversas áreas e situações práticas. Esperamos que este livro colabore para a formação de um excelente profissional na área escolhida. Bons estudos! 8 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Funções de múltiplas variáveis 9 1 Funções de múltiplas variáveis 1.1 Definição de funções demúltiplas variáveis Vídeo Muitos são os casos em que uma função de uma variável não é suficiente para modelar um problema físico de maneira efetiva, sendo necessário mais variáveis para representar o que realmente ocorre fisicamente; por exemplo, se precisamos calcular a área aproximada de uma superfície conhecendo o peso e a altura dessa estrutura, ou mesmo se vamos calcular o volume de um cilindro conhecendo seu raio e sua altura. Dessa forma, o que teremos neste capítulo são funções que po- dem depender de duas ou mais variáveis. Um ponto no espaço n-dimensional, n, é representado por uma n-upla de nú- meros reais P = (x1, x2, …, xn). Alguns casos particulares são fundamentais também na modelagem de situa- ções físicas aplicadas a problemas da engenharia, da computação, da tecnologia em geral, da biologia, dentre outras áreas. Em particular, se: • n = 1 ⇒ P = x • n = 2 ⇒ P = (x, y) • n = 3 ⇒ P = (x, y, z) • • n = 6 ⇒ P = (x1, x2, …, x6) Quando trabalhamos com funções de uma variável, aprendemos técnicas de derivação e integração que nos permitem analisar o comportamento de uma função que pode ser representada por uma curva no plano cartesiano. Contudo, a necessidade de expandir a quantidade de variáveis nessas funções, de modo que seja possível trabalhar com superfícies, hiperespaços, funções vetoriais, dentre outros exemplos, nos obriga também a aumentar as técnicas já conhecidas. Assim, vamos estudar neste capítulo o comportamento de funções de múl- tiplas variáveis dando um enfoque especial às funções de duas variáveis reais, que nos permitam compreender o comportamento de superfícies no espaço tridimensional. Além disso, traremos o conceito de limites de funções de n va- riáveis e trabalharemos com conceitos algébricos e geométricos. Esperamos que você se sinta motivado pelo tema. 10 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Acompanhe um exemplo de função em que n = 2 ⇒ P = (x, y). Σxemρlo 1 Seja a função de x e y dada pelos pares ordenados (P, z), tal que z x y� � �64 2 2 , então o domínio de f é dado por 64 – x2 – y2 ≥ 0, logo: D(f) = {(x, y) ∈ 2 | x2 + y2 ≤ 64} Esse conjunto é composto por pontos do plano xy sobre a circunferência x2 + y2 = 64 e pontos no interior da região limitada pela circunferência. Observe na figura a seguir. Figura 1 Domínio da função z x y� � �64 2 2 Fonte: Elaborada pela autora. Como z x y� � �� �64 2 2 , então 0 ≤ z ≤ 8, assim a imagem de f é o conjunto de todos os números reais no intervalo fechado de [0, 8]. Figura 2 Im(f) da esfera x2 + y² + z² = 64 Fonte: Elaborada pela autora. Para reforçar o conceito de funções de múltiplas variáveis, sugerimos o artigo O que são funções multivariáveis? da platafor- ma da Khan Academy, que traz não só a parte concei- tual, mas também vários exemplos de funções. Disponível em: https:// pt.khanacademy.org/math/ multivariable-calculus/thinking- -about-multivariable-function/ ways-to-represent-multivariable- -functions/a/multivariable-functions. Acesso em: 11 mar. 2021. Leitura Funções de múltiplas variáveis 11 Definição 1 Uma função de n variáveis é um conjunto de pares ordenados (P, w), em que dois pares distintos não podem ter os primeiros elementos iguais. P é um ponto no espaço n-dimensional numérico e w é um número real. O conjunto de todos os valores possíveis de P é chamado de domínio da função, enquanto o conjunto de todos os valores possíveis de w é chamado de imagem da função (STEWART, 2017). Uma função f de duas variáveis f(x, y) = z tem no seu domínio elementos na for- ma (x, y) ∈ 2 e na sua imagem elementos da forma z ∈ . Figura 3 Relação domínio e imagem para f(x, y) = z x y z (x, y) (a, b) f 0 f (x, y) f (a, b) Dom ı́nio Imagem O 2 Fonte: Elaborada pela autora. Para compreender melhor o conceito de domínio de uma função de múltiplas variáveis, acompanhe o exemplo a seguir. Σxemρlo 2 A função g de duas variáveis x e y é o conjunto dos pares ordenados da forma (P, z) para os quais g x �y z x � �y � � ,� � � � � � 1 642 2 . O domínio de g é o conjunto com x y2 2 64 0� � � , logo D(g) = {(x, y) ∈ 2 | x2 + y2 > 64}. Conforme a Figura 4. Figura 4 Domínio da função g Fonte: Elaborada pela autora. 12 Cálculo para funções de múltiplas variáveis A imagem de g será o conjunto aberto 1 8 ,��� � � � � � . O gráfico de g está representado na Figura 5. Figura 5 Gráfico da função g Fonte: Elaborada pela autora. Note que uma função de duas variáveis nos leva a uma imagem tridimensional. Portanto, quando a função passa a ter mais do que duas variáveis, não teremos uma dimensão, visualmente falando, para a representação geométrica de todas as coordenadas ao mesmo tempo. Acompanhe um exemplo para calcular o valor de uma função de duas variáveis. Σxemρlo 3 Considerando uma função definida por f x y x y,� � � � �64 2 2 , calcule: a. f �1 2,� � b. f �8 0,� � c. f ��� �2 3, d. f u � v, 3� � Para calcular f x y x y,� � � � �64 2 2 nas coordenadas indicadas, substituímos x pelo valor do primeiro elemento da coordenada e y pelo valor do segundo elemen- to da coordenada. Assim, temos que: a. f �1 2 64 1 2 64 1 4 592 2,� � � � � � � � � � � � � b. f �8 0 64 8 0 64 64 0 02, ( ) ²� � � � � � � � � � � c. f ��� � � � �� � � � � � � � �2 3 64 2 3 64 4 9 512 2, ���� d. f u � v u v u v, ( ) �3 64 3 64 92 2 2 2� � � � � � � � � � Agora, verifique no exemplo a seguir o cálculo do valor de uma função de três variáveis. (Continua) Funções de múltiplas variáveis 13 Σxemρlo 4 Considerando a função g x �y �z x yz xy z , ,� � � � �2 4 , calcule: a. g � �1 2 1, , �� � b. g u � v �w2 4, ,�� � c. g x ��y � z, , �� � Para calcular �g x �y �z x yz xy z , ,� � � � �2 4 nas coordenadas indicadas, fazemos de maneira semelhante ao cálculo com duas variáveis, mas agora é preciso substituir o valor de z pelo terceiro elemento da coordenada enunciada, além de substituir os valores de x e y. Assim, temos que: a. g � � ��1 2 1 1 4 2 1 1 2 1 1 8 2 72, , ·�� � � � � � � � �� � � � � � � � b. g u � v �w u v w u v w u vw uv w 2 4 2 4 4 2 4 4 16 82 2, ,�� � � � � � �� �� � � � � �� � � � � c. g x �y � z x y z xy z � �x yz xy z , , �� � � � � � � � �� � � � � � � 2 24 4 Vejamos outro exemplo, agora para determinar o domínio de uma dada função. Σxemρlo 5 Calcule o domínio para a função g x y z x yz xy z , ,� � � � �2 4 . Neste caso, a função é definida para todos os reais exceto quando z = 0. Portan- to, D(g) = {(x, y, z) ∈ 3 | z ≠ 0}. Definição 2 Se f for uma função com uma variável e g uma função de duas variáveis, então a função composta f g será a função de duas variáveis definida por (f g)(x, y) = f(g(x, y)) e o domínio de f g será o conjunto de todos os pontos (x, y) no domínio de g para os quais g(x, y) está no domínio de f (GUIDORRIZZI, 2018). O símbolo significa a composição das funções e lemos “f bola g”. É a notação utilizada para a função f composta com a função g. Saiba mais Acompanhe um exemplo da definição de composição de funções de uma variá- vel com uma função de duas variáveis. Σxemρlo 6 Dadas as funções f t t � � � 1 e g(x, y) = x + y, ache a função composta h(x, y) = (f g) (x, y) e determine o domínio de h. Como queremos h(x, y) = (f g)(x, y), então podemos escrever: (Continua) 14 Cálculo para funções de múltiplas variáveis h x y f g x y f x y x y , ,� � � � �� � � �� � � � 1 Assim, o domínio de h será D(f) = {(x, y) ∈ 2x + y ≠ 0}. A figura a seguir mostra a representação gráfica dessa composição de funções. Figura 6 Função h x �y x� �y ,� � � � 1 Fonte: Elaborada pela autora. Definição 3 Uma função polinomial de duas variáveis x e y é uma função f tal que f(x, y) seja a soma de termos da forma cxnym, sendo c ∈ � e m, n números inteiros não negativos. O grau da função polinomial é determinado pela maior soma m + n dos expoentes de x e y dos termos, em que c ≠ 0. Vejamos um exemplo da definição de função polinomial de duas variáveis.Σxemρlo 7 O volume V de um cone reto é uma função do raio da base r e de sua altura h. Assim, V r h r h,� � � � 2 3 . Determine o grau desse polinômio, o domínio e a imagem dessa função. O grau desse polinômio é igual a 3, pois somamos o grau de r e o grau de h (2 + 1 = 3). Como o raio e a altura de um cone devem ser valores positivos, então D(V) = {(r, h) ∈ 2r > 0 e h > 0}. A imagem de V é dada por z r h� � 2 3 , portanto Im(V) = (0, +∞). Funções de múltiplas variáveis 15 Dessa forma, passamos a compreender o conceito de função de múltiplas va- riáveis e a definição de domínio e imagem para essas funções. Também é possí- vel perceber que agora temos mais possibilidades para modelarmos o mundo ao nosso redor. 1.1.1 Interpretação gráfica e curvas de nível Nesta subseção vamos trabalhar com um conceito muito útil em áreas da enge- nharia e da cartografia chamado curva de nível de uma função. Para isso, definire- mos o conceito de gráfico de uma função e na sequência trabalharemos com um tipo específico de gráfico, que nos mostra as curvas de nível de uma função f(x, y). Definição 4 Suponha f uma função de duas variáveis reais. Essa função escrita na forma f: 2 → , terá como gráfico o conjunto de todos os pontos (x, y, z) em ℝ3, sendo que (x, y) ∈2 é um ponto do domínio de f e z = f(x, y) ∈ é a imagem dessa função. Dessa forma, o gráfico de f: R R�2 → é uma superfície que representa o conjun- to de todos os pontos (x, y, z) no espaço tridimensional. Σxemρlo 8 Seja a função de um paraboloide elíptico com a = b = 1, podemos escrever essa função na forma f(x, y) = x2 + y2, com f(x, y) ∈ ℝ. Figura 7 Paraboloide f(x, y) = x² + y² Fonte: Elaborada pela autora. Como o domínio de f é um conjunto de pontos no plano xy e cada par ordena- do (x, y) no domínio de f corresponde a um único valor de z, então nenhuma reta perpendicular ao plano xy pode interceptar o gráfico de f em mais de um ponto. Atrelado a esse conceito, surge a definição de curva de nível. Uma curva de nível é obtida com a interseção de um plano paralelo ao plano xy em determinado valor de z. Assim, cada curva de nível pode ser expressa por f(x, y) = c, em que c ∈ ℝ. 16 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Entendemos que, com esse processo, estamos identificando valores do conjunto imagem da função f. Observe o gráfico a seguir com algumas curvas de nível do paraboloide do exemplo anterior. Figura 8 Curvas de nível de ƒ Fonte: Elaborada pela autora. Acompanhe mais um exemplo sobre a representação gráfica de uma função de duas variáveis e suas curvas de nível. Σxemρlo 9 A função g x y (sen(x seny)) (xy) ,� � � � possui domínio D(g) = {(x, y) ∈ ℝ2 | xy ≠ 0}. O gráfico para essa função e as curvas de nível serão dados conforme as figuras a seguir. Figura 9 Gráfico da função �g x y (sen(x seny)) (xy) ,� � � � Fonte: Elaborada pela autora. Curvas de nível para • z = –0,2; • z = –0,1; • z = 0,1; • z = 0,2. Quando temos uma função de três variáveis reais a va- lores reais, f : 3 → , tal que f x, y,z = w� � teremos o que chamamos de superfície de nível. Para entender mais sobre esse conceito, sugerimos o material do Projeto Newton da Univer- sidade Federal do Pará, que trata desse tema, dentre os assuntos relacionados aos gráficos de funções de múltiplas variáveis. Disponível em: https://aedmoodle. ufpa.br/pluginfile.php/326997/ mod_resource/content/0/Aula%20 09%20-%20Gr%C3%A1fico%20 de%20fun%C3%A7%C3%B5es%20 de%20duas%20vari%C3%A1veis.pdf. Acesso em: 11 mar. 2021. Leitura (Continua) Funções de múltiplas variáveis 17 Figura 10 Curvas de nível, vista superior Figura 11 Curvas de nível, vista inferior Fonte: Elaborada pela autora. Note que podemos entender as curvas de nível como a projeção do gráfico da função sobre o plano xy. Vamos, na sequência, trazer aplicações com o uso das curvas de nível para funções na forma f(x, y). 1.1.2 Algumas aplicações Vamos trazer algumas aplicações de funções de múltiplas variáveis usando o conceito gráfico e as curvas de nível. Essas funções podem ser usadas para indicar a temperatura em uma placa. Seja z = T(x, y) uma função que representa a temperatura em cada ponto de uma região plana. Nesse caso, as curvas de nível dessa função representam pontos de igual temperatura. É comum que essas regiões sejam representadas por uma paleta de cores (le- genda) de acordo com a temperatura. Assim, curvas de mesma cor são chamadas de isotermas (mesma temperatura). No artigo Escoamento de ar através de embalagens de polpa de frutas em caixas comerciais: efei- tos sobre os perfis de velocidade em túneis de congelamento, dos autores Jaime Vilela de Resende, Lincoln de Camargo Neves Filho e Vivaldo Silveira Jr., publicado em 2002 na Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, você pode observar algumas imagens de curvas isotermas. Acesso em: 11 mar. 2021. https://www.scielo.br/pdf/cta/v22n2/a14v22n2.pdf Artigo Também podemos encontrar as curvas de nível na cartografia. A ideia é ma- pear as alturas de cada terreno e representá-las por meio de curvas no plano xy, como mostra a Figura 12. 18 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Figura 12 Representação de curvas no plano xy Ro m ar y/ W ik im ed ia C om m on s O artigo Uso de césio-137 para avaliar as taxas de erosão em cultura de soja, café e pastagem, de Andrello, Appoloni e Guimarães, publicado na Revista Brasileira de Ciência do Solo em 2003, traz uma imagem bem interessante do uso das curvas de nível na área topográfica para análise de solo. Acesso em: 11 mar. 2021. https://www.scielo.br/pdf/rbcs/v27n2/16223.pdf Artigo Ainda, podemos encontrar curvas de nível sendo aplicadas a funções de ruptura de concreto e de potencial elétrico. Muitos outros exemplos poderiam ser dados nesta seção, mas vamos tratar agora de outras ferramentas importantes para a análise de funções de múltiplas variáveis. 1.2 Limites de funções de múltiplas variáveis Vídeo Assim como estudamos o limite de uma função de uma variável e entendemos que esse tipo de estudo é essencial para que possamos entender o comportamen- to de uma função, principalmente em pontos que não pertencem ao domínio dela, nesta seção traremos a definição e alguns exemplos sobre o limite de uma função de duas variáveis. Lembre-se de que estamos dando um enfoque maior nas funções de duas va- riáveis pela possibilidade de representação geométrica, mas os conceitos desenvol- vidos podem ser extrapolados para funções de múltiplas variáveis. Definição 5 Seja f uma função de duas variáveis cujo domínio D contém pontos arbitrariamente próximos de (a, b). Dizemos que o limite de f(x, y) quando (x, y) → (a, b) é L e escrevemos lim x y a b f x y L , , , � � �� � � �� Se para todo ε > 0� existe um número correspondente δ > 0 tal que se (x, y) ∈ D e 0 2 2 x a y b � �� � � �� � � � , então |f(x, y) – L| < ε (GUIDORIZZI, 2018, p. 170). Funções de múltiplas variáveis 19 Figura 13 Representação gráfica para a definição de limite L – ε L L + ε Fonte: Elaborada pela autora. Quando trabalhamos com funções de uma variável e x → a, só existem duas direções possíveis de aproximação: pela esquerda ou pela direita. Sabemos que: se lim lim lim x� �a x� �a x� �a f x f x � f x � � � � � � � � � � � � � � Já para as funções de duas variáveis existem infinitas maneiras de (x, y) se apro- ximar de (a, b). Assim, se acharmos dois caminhos diferentes de aproximação ao longo dos quais f(x, y) tenha limites diferentes, então � f x y x y � � a b lim , , ,� ��� � � � . A seguir, exemplificaremos como calcular o limite de uma função de duas variáveis. Σxemρlo 10 Calcule o limite da função f x y x � �y x � �y ,� � � � � 2 2 2 2 quando (x, y) tende a (0, 0). Solução Temos que calcular lim , , , , ,x y a b x y f x y lim x � �y x � �y � � ��� � � ��� � � � � � �0 0 2 2 2 2 . Para isso, vamos usar a ideia de caminhos diferentes que possam nos levar a re- sultadosdiferentes. Se isso se confirmar, saberemos que o limite não existe. Caso contrário, precisaremos usar outro tipo de ferramenta de verificação ou escolher outro caminho. Para auxiliar na escolha desses caminhos, vamos analisar rapidamente o gráfico da função. Figura 14 Gráfico de f x y x � �y x � �y ,� � � � � 2 2 2 2 Fonte: Elaborada pela autora. (Continua) 20 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Pelo gráfico, notamos que a função não está bem definida no ponto (0, 0), jus- tamente o ponto em que desejamos calcular o limite. Desse modo, não é possível determinar o limite por uma substituição direta, e adotaremos dois caminhos dife- rentes na tentativa de concluirmos que o limite não existe na origem do sistema. Uma das maneiras de escolher esses caminhos é justamente optar por regiões que apresentem “problema” no domínio, por exemplo em x = 0 e y = 0, pois x2 + y2 ≠ 0. Assim, fazemos: • y = 0 lim , � lim , , , ,x � � x � � x� � f x �y lim x x0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 0� ��� � � ��� � � � � � � � � ��x x � 2 2 1� • x = 0 lim , lim , , , ,0 0 0 0 0 0 2 2 0 0 0y � � y � � y� � f x �y lim y y� ��� � � ��� � � � � � � � � �yy y � 2 2 1� � Portanto, dois caminhos diferentes nos levam a limites diferentes. Dessa manei- ra, o limite da função f(x, y) quando (x, y) tende a (0, 0) não existe. Acompanhe mais um exemplo do cálculo de limite de uma função de duas variáveis. Σxemρlo 11 Calcule o limite de g x y x y x � � y ,� � � � 3 7 7 2 2 4 , para (x, y) → (0, 0). Observe que nessa função precisamos tomar cuidado com o valor para (x, y) de maneira que o denominador seja diferente de zero, ou seja, 7x2 + 7y4 ≠ 0. Figura 15 Gráfico da função g x y x y x � � y ,� � � � 3 7 7 2 2 4 Fonte: Elaborada pela autora. Escolher os caminhos x = 0 e y = 0 pode ser uma opção simples. Contudo, ao adotarmos esses dois caminhos, recairemos em dois limites com o mesmo resul- (Continua) Funções de múltiplas variáveis 21 tado lim � � lim y x� y e x �� � � � � � �� � � ��0 4 0 2 0 7 0 0 7 0 . Percebemos esse padrão observando a Figura 15, na qual, no ponto (0,0), há uma intersecção desses caminhos exatamente na ori- gem. Portanto, precisaremos optar por outra forma de resolução. Nesse caso, sugerimos mais uma verificação utilizando outros dois caminhos. Usaremos: • y = kx lim , ,x y x y x y� ��� � �0 0 2 2 4 3 7 7 lim lim , , , ,x kx x kx x kx x kx kx x k� ��� � � ��� � � � � � � � �0 0 2 2 4 0 0 3 2 3 7 7 3 7 7 44 4x � � � �� �� ��� � lim , ,x kx x kx x k x0 0 2 2 4 2 3 7 7 � � � �� � � � ��� � lim , ,x kx kx k x0 0 4 2 3 7 1 0 • y = x2 lim , ,x y x y x y� ��� � �0 0 2 2 4 3 7 7 lim lim , , , ,x x x x x x x x2 0 0 2 2 2 2 4 2 0 0 43 7 7 3 7� � � � � ��� � � � � � � ��� �� � � � x xx x x2 8 2 0 0 2 2 2 67 3 7 1� � � � �� ���� ����� �x x x x x lim , , � �� � � � � � � � ��� � lim , ,x x2 0 0 2 6 3 7 1 0x x Note que os dois caminhos nos levam a lim , , ,x y g x y � ��� � � � � 0 0 0 . Portanto, essa opção também não nos garante um resultado. Essa análise nos leva a suspeitar que o limite existe para esse ponto. Assim, faremos: Seja lim , ,x y � � x y x � � y� ��� � �0 0 2 2 4 3 7 7 , logo g x y x y x � �y ,� � � � � � �� � � �� 3 7 2 2 4 . Agora, seja ε > 0, queremos encontrar um δ > 0 tal que, se 0 3 7 2 4� � � �x y � � 3 7 7 0 2 2 4 x y x � � y� � � � Ou seja: 0 3 7 2 4� � �x y � ⇒ 3 7 7 2 2 4 x y x � y�� � � Uma vez que y2 e y4 são estritamente positivos, temos que: x x +y x x y x x � �y 2 2 4� � � � � �� � � � � � �� � � �� � 3 7 3 7 3 7 3 7 2 2 4 2 2 4 (Continua) 22 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Nesse momento, precisamos fazer com que o numerador seja 3x²y. Contudo, é necessário que o produto y(3x²) não modifique o sinal da fração 3 2 2 4 x x y+ . Para isso usaremos |y|. Dessa forma, se y x x � �y 3 7 2 2 4 � � � � � � � � � �� � � �� , então teremos que: 3 7 3 7 2 2 4 �. x y x y y � � Portanto, 3 7 3 7 3 7 2 2 4y y x y� � � Pelo Teorema do Confronto: 3 7 7 3 7 2 2 4 2 4x y x y x y � � � �� � � �� �� � �� �� entre 0 e Se escolhermos um delta tal que � �� 7 3 e fizermos 0 3 7 2 4� � �x y �,�teremos: 3 7 7 0 3 7 3 7 3 7 7 3 2 2 4 2 4x y x y x y � � � � � � �� � �. Portanto, pela Definição 5: lim , ,x y x y x y� ��� � � � 0 0 2 2 4 3 7 7 0 No caso de precisarmos calcular o limite de funções contínuas de duas ou mais variáveis, podemos proceder da mesma forma que fazemos para funções de uma variável, por meio de substituições diretas. Vemos que o processo de cálculo para as funções de uma e de múltiplas va- riáveis é semelhante, mas agora precisamos analisar os caminhos pelos quais po- demos nos aproximar do valor para o qual queremos encontrar o limite de uma determinada função. 1.3 Continuidade de funções Vídeo No processo para determinar o limite de uma função de múltiplas variáveis, é intuitivo pensarmos se essa função é contínua nesses pontos. Nas funções de uma variável procuramos se a curva possui “furos” ou “saltos”. Nas funções de múltiplas variáveis, exemplificando com o uso de uma função de duas variáveis reais, f(x, y), analisaremos se a superfície possui esses mesmos “fu- ros” ou “saltos/rachaduras” de uma região para outra. Para isso, definimos: Para reforçar esse con- teúdo, sugerimos dois vídeos do canal UNIVESP. O primeiro, ministrado pelos professores Samuel Rocha de Oliveira e Adolfo Maia Jr., traz a parte teórica com exemplos. Já no segundo vídeo, a professora Martha Salermo Monteiro, do Instituto de Matemática e Estatística da USP, fala das curvas em que o limite é igual a zero, das curvas de limite diferente de zero e do teorema para provar que o limite da função não existe. Cálculo II - Aula 4 - Limites e Continuidade de Funções de Várias Variáveis com Valores Re. Disponível em: https://youtu.be/mcPWBJt08XM. Acesso em: 27 jan. 2021. Cálculo II - Aula 6 - Parte 1 - Continui- dade e cálculo de limites de funções de duas variá. Disponível em: https:// youtu.be/8CPS8DjxvZY. Acesso em: 27 jan. 2021. Vídeo Funções de múltiplas variáveis 23 Definição 6 Uma função z = f(x, y) é contínua em um ponto P 0 = (x 0 , y 0 ) se lim , , , ,x y � � x y f x y f x y � ��� � � � � � � 0 0 0 0 Note que a definição é muito semelhante àquela de continuidade para funções de uma variável, inclusive visualmente. Vamos relembrar o Exemplo 10, da função f x y x � �y x � �y , .� � � � � 2 2 2 2 Vimos que essa fun- ção tem problemas na origem e que o limite no ponto (0, 0) não existe. Ou seja, essa função não é contínua na origem, pois � lim , ,x y � x � �y x � �y� ��� � � �0 0 2 2 2 2 . Agora, observe o exemplo a seguir. Σxemρlo 12 Seja a função h(x, y) uma função por partes dada por: h x y x y �se x y { x y |x y se x y { , ,� � , , �� } � ,�� , � � � � � �� � � � � � �� 2 2 2 2 9 9 xx y |x y, �� }� � � � � � � �� 2 2 9 Quando olhamos para x2 + y2 = 9, temos a equação de uma circunferência cen- trada na origem e de raio 3. Portanto, temos que essa função vale x2 + y2 quando olhamos para todos os pontos no interior dessa circunferência e no seu aro, e que h vale 9 para os pontos fora dessa circunferência. Graficamente a função h é da forma: Figura 16 Gráfico da função h(x, y) Fonte: Elaborada pela autora. Analisando essa função graficamente, vemos que ela não tem “furos” e nem “rachaduras”. Ao calcularmos o limite de h(x, y) para (x, y) → (3, 3), encontramos que por qual- quer caminho obteremos o limite igual a 9. Portanto, essa função é contínua, pois: lim , , , ,x y h x y f � ��� � � � � � � � 3 3 3 3 9 24 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Desafio Analise a função g x y x y se x y { x y |�x y �se x y { , ,�� � , , } � ,� � , � � � � � �� � � � � � �� 2 2 2 2 9 1 xx y |x y, � }� � � � � � � �� 2 2 9 , semelhante à h(x, y),e discuta se ela é contínua no ponto (3, 3). Figura 17 Gráfico de g x y,� � Fonte: Elaborada pela autora. Todas as funções estudadas até esse ponto são funções de múltiplas variáveis reais a valores reais. Dentro desse contexto demos prioridade às funções f: ℝ2 → ℝ. Veremos na sequência uma inversão nessa proposta. Trabalharemos com fun- ções de uma variável real a valores em ℝn, que podem ser escritas como f: A → ℝn, em que A ⊂ ℝ. Tais funções são também chamadas de funções vetoriais. Focaremos nas funções f: ℝ → ℝ3. 1.4 Funções vetoriais Vídeo Para entendermos as chamadas funções vetoriais, trazemos como ponto de par- tida duas definições sobre o mesmo conceito, de dois matemáticos e autores reno- mados na área do cálculo multivariável. Definição 7 “Uma função vetorial, ou função a valores vetoriais, é uma função cujo domínio é um conjunto de números reais e cuja imagem é um conjunto de vetores” (STEWART, 2017, p. 779). Definição 8 “Uma função de uma variável real a valores em ℝ3 é uma função de F: A→ ℝ3, onde A é um subcon- junto de ℝ. Uma tal função associa, a cada t ∈ A, um único vetor F (t) ∈ ℝ3. A imagem ou trajetória de F é o lugar geométrico, em ℝ3, descrito por F (t), quando t varia em D F ” (GUIDORIZZI, 2018, p. 116). Funções de múltiplas variáveis 25 Para entendermos o conceito geométrico da Definição 8, vamos assumir fun- ções em que seus valores são vetores tridimensionais, ou seja,� : r D → 3, com D ⊆ sendo o domínio da função. Assumindo t ∈ ℝ um valor no domínio de r, podemos escrever que existe um úni- co vetor de ℝ3, denotado por r t� �, tal que f(t), g(t) e h(t) são as componentes de r t� �. Assim, f, g e h são funções a valores reais chamadas funções componentes de r e são escritas, em coordenadas cartesianas, como: r t f t i� g t j h t k f t �g t �h t� � � � � � � � � � � � � � � � � �� �, , Figura 18 Vetor r t� � Fonte: Elaborada pela autora. Seja t uma variável para o tempo, podemos interpretar a expressão r t f t i� g t j h t k f t �g t �h t� � � � � � � � � � � � � � � � � �� �, , como o vetor que parte da origem do plano cartesiano tridimensional e aponta na direção de P = (f(t), g(t), h(t)). Assim, se imaginarmos uma partícula que se move por meio da expressão pa- ramétrica r t sent, cost, t� � � � �, então, para t ∈ ℝ, teremos que o caminho percorrido por tal partícula será a curva C, que dependerá do tempo t. Essa curva pode ser observada na figura a seguir. Figura 19 Gráfico da função r t sent, cost, t� � � � � Fonte: Elaborada pela autora. 26 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Então, todos os pontos (x, y, z) que formam a curva C, com x = f(t), y = g(t) e z = h(t) (1) e t variando em um intervalo aberto conhecido I, são chamados de curva espacial. As expressões em (1) também são chamadas de representação paramétrica para a curva C, em que t é o parâmetro adotado. Σxemρlo 13 A curva C para a função vetorial r t t sent t� � � �� �ln , ,1 , no intervalo I = [0, 2π], pode ser observada na figura a seguir. Figura 20 Curva C para r t t sent t� � � �� �ln , ,1 Fonte: Elaborada pela autora. Esses caminhos (curvas) serão modelados por meio da teoria de funções veto- riais que estamos aprendendo neste capítulo. Seja a curva D, modelada por: D �r t sen t t� i sen t sent�j t�k: cos cos � � � �� � � �� � �5 20 5 20 20 no intervalo [0, π]. Figura 21 Modelagem da curva D Fonte: Elaborada pela autora. Funções de múltiplas variáveis 27 Essa curva paramétrica ou função vetorial apresentada para a curva D pode ser usada para modelar o reflexo de espelho de feixes de elétrons. As propriedades para funções vetoriais são semelhantes àquelas para funções de uma variável. Assim, sejam r �s n, : → , f: ℝ → ℝ e k ∈ ℝ, teremos: 1. r s t r t s t r s n�� �� � � � � � � � � �� � �: 2. kr t kr t kr n � � � � �� � � � � �: 3. f r t f t r t f r n· · · : � �� � � � � � � � � � � 4. r s t r t s t r s�� �� � � � � � � � � �� � �: Assumindo r t f t g t h tr r r� � � � � � � � �� �, , e s t f t g t h ts s s� � � � � � � � �� �, , , teremos r t s t f t f t g t g t h t h tr s r s r s� � � � � � � � � � � � � � � � � � � �. . . 5. r s t r t s t r s n�� �� � � � � � � � � �� � �: Se n = 3, r t f t g t h tr r r� � � � � � � � �� �, , e s t f t g t h ts s s� � � � � � � � �� �, , , teremos r s�� � �: 3 r s t r t s t i j k f t g t h t f t g t h t r r r s s s �� �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� O limite de uma função vetorial r é dado por: Definição 9 Se r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � , então: lim lim t� �a t� �a r t f t i g t j h t k � � � � � � � � � � � � � se existir os limites de f, g e h com t → a. Note que os limites de funções vetoriais recaem nas mesmas regras existentes para os limites de funções reais. Portanto, uma função vetorial será contínua se: lim t� �a r t r a � � � � � � Σxemρlo 14 Calcule o limite de r t t i e j t sent kt� � � � �3 2· para t = 0 e verifique se r t� � é contí- nua nesse ponto. Solução lim lim · t� � t� � tr t t i e j t sent k � � � � � � � 0 0 3 2 lim lim lim · t� � t� � t� � t t� � r t t i lim e j t sent � � � � � � � � � 0 0 3 0 0 2 kk lim t� � r t � � � � � � � 0 0 1 0 1 Portanto, o limite de r t� � quando t tende a zero é igual a 1. As curvas paramétricas tri- dimensionais em função do tempo são muito úteis para descrever o movimento de partículas. No link a seguir é possível acompanhar diversos resultados obtidos com a análise de partículas em feixes de elétrons, movimento de elétrons em campos elétricos, reflexos de espelho em feixes de elétrons, dentre outros. Disponível em: http://www.physics. ucla.edu/plasma-exp/Beam/. Acesso em: 11 mar. 2021. Site A Propriedade 5 exige que lembremos o produto vetorial, em geral visto nas disciplinas de Geometria Analítica e Álgebra Linear. Para recordar esse concei- to, sugerimos o material do REAMAT-UFRGS (Recursos Educacionais Abertos de Matemática). Nele você poderá não só recordar o conceito de produto vetorial, mas também acompanhar diversos exemplos resolvidos. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ reamat/Calculo/livro-cfvv/xv-o_pro- duto_vetorial.html. Acesso em: 11 mar. 2021. Leitura 28 Cálculo para funções de múltiplas variáveis A derivada de uma função vetorial r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � é definida por: r t dr dt t r t h r t h ' t� � � � � � � � �� � � � �� � � lim 0 Dizemos que r t� � é derivável (diferenciável) em t = t0 quando r' t0� � existe. Definição 10 Uma função vetorial é derivável quando suas funções componentes são todas deriváveis. Assim, se r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � é derivável, então: r' t f t ' i g t 'j h t 'k� � � � � � � � � � � Adotando uma função vetorial da forma f: U → ℝn, tal que U é um subconjunto de ℝm, de acordo com Lima (2011, p. 2): “diz-se que uma aplicação f: U → ℝn é dife- renciável no ponto x ∈ U quando existe uma transformação linear T: ℝm → ℝn tal que f(x + h) = f(x) + T · h + r(h), com lim h r h h� � � � 0 0”. Note que as regras de derivação para funções reais podem ser aplicadas às funções vetoriais. A interpretação geométrica para a derivada de uma função vetorial será de- senvolvida assumindo que r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � é um vetor posição de uma partícula em movimento no espaço tridimensional. Assim, derivar r t� � é encontrar o vetor velocidade para a mesma partícula em relação a um ponto t = t0. Também podemos interpretar essa derivada como um vetor tangente à trajetória espacial descrita pela partícula em cada instante do tempo t. Já a segunda derivada, r'' t� �, nesse caso, pode ser compreendidacomo a acele- ração da partícula em t. Σxemρlo 15 Seja r t t sent � t� � � � �2, , cos . Calcule �dr�dt e �d r� dt 2 2 . Solução As derivadas de r t t sent � t� � � � �2, , cos são: • �dr� dt t t � sent � �� �2 ,cos , • �d r� dt sent � t 2 2 2 � � �� �, , cos Funções de múltiplas variáveis 29 Por fim, falaremos das integrais de funções vetoriais, que seguem as mesmas metodologias adotadas para os limites e derivadas de funções vetoriais. Assim, para calcular a integral de uma função vetorial, precisamos calcular as integrais de suas componentes, desde que essas integrais existam. Desse modo, seja r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � uma função vetorial, então: � � � � � � � � � � � � �� � � � � � r t dt f t i g t j h t k dt R t C em que R t� � é uma primitiva de r t� �. Podemos calcular integrais de funções vetoriais definidas em um intervalo [a, b] seguindo o mesmo princípio enunciado. Com isso, teremos: a b r t dt R b R a� � � � � � � � � Sendo, r t f t i g t j h t k� � � � � � � � � � � , então: a b a b a b a b r t dt f t dt i g t dt j h t� � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ddt k � � � � � � � � Vejamos como esse cálculo é feito na prática. Σxemρlo 16 Seja r t t sent � t� � � � �2, , cos . Calcule � �2 � � � r t dt Solução � � � � � � � � � 2 2 2 2 2 3 2 3� � � �� � � � � � � � � � � � r t dt t dt sentdt tdt t, � , cos � �� � � � �,� cos � ,� �� � � �� � � ��t sent 2 2 � � � � � � � � 2 3 37 3 2 2 7 3� � � � � �� � �� � � � � � � � � r t dt sen sen,� cos cos ,� ,���� � � � � �2 0,� Dessa maneira, percebemos que as funções vetoriais podem ser calculadas com propriedades semelhantes àquelas para funções reais, tendo na sua in- terpretação geométrica a maior diferença entre essas teorias. O conceito de função vetorial é expressivamente usado na física e nas engenharias como um todo. Por esse motivo, também é um conceito importante no estudo de diver- sos teoremas que embasam o cálculo de funções de múltiplas variáveis, os quais podem ser encontrados nos materiais de cálculo para funções multiva- riadas, bem como nas obras de engenharia elétrica, ambiental, de estruturas, dentre outras. 30 Cálculo para funções de múltiplas variáveis CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos neste capítulo conceitos do cálculo para funções de múltiplas variáveis que são base para muitas definições da matemática avançada e peça-chave para resolver problemas aplicados em diversas áreas do conhecimento. Com as funções de múltiplas variáveis e as teorias relacionadas a esse tema, con- seguimos compreender o comportamento de planos, hiperplanos e superfícies, que servem de modelo para nosso mundo real. O estudo da matemática avançada está só começando. Indicamos que as suges- tões de leitura, vídeos e demais materiais neste capítulo sejam contempladas e, se possível, que os exemplos sejam refeitos para auxiliar na compreensão e na fixação do conteúdo. Desejamos um ótimo estudo! ATIVIDADES 1. Seja uma função de duas variáveis na forma f x, y = 1 x - y2 2 � � . A imagem para essa função será Im(f) = ℝ – {0} e as curvas de nível serão f x, y = 1 x - y = c 2 2� � , com c ≠ 0. Organizando essa expressão, podemos dizer que as curvas de nível serão hipérboles? Justifique sua resposta. 2. Seja uma função f(x, y) tal que f(0, 0) = 2. O fato de que f(0, 0) = 2 nos permite concluir que existe lim f x, y x, y 0,0� ��� � � � ? Justifique sua resposta. 3. Sabendo que r t� � é uma função vetorial com três componentes, f(t), g(t) e h(t), então se queremos calcular lim r t t � � � 0 teremos que determinar lim f t lim g t lim h t t t t� � � � � � � � �� � � � � �0 0 0 , , Se o limite em um desses componentes não existir, podemos afirmar que o lim r t t � � � 0 também não existe? Justifique. REFERÊNCIAS GUIDORIZZI, H. L. Um curso de cálculo. Rio de Janeiro: LTC, 2018. v. 2. STEWART, J. Cálculo. São Paulo: Cengage Learning, 2017. v. 2. LIMA, E. L. Variedades Diferenciáveis. Rio de Janeiro: IMPA, 2011. [Publicações matemáticas] Vídeo Derivadas parciais 31 2 Derivadas parciais Quando trabalhamos com funções de uma variável, pensamos na derivada como a inclinação da reta tangente a um determinado ponto do gráfico da função. Porém, as funções que trabalharemos neste capítulo são funções de duas variáveis ou mais, ou seja, não temos mais uma única curva, mas sim uma superfície, uma hiperfície. Os valores para z dependem dos valores de (x, y). Assim, usaremos o processo que consiste em fixar uma dessas variáveis como uma constante e derivar em função das variáveis restantes. Dessa forma, procuramos a inclinação de uma reta tangente sobre uma curva da superfície da função, paralela a um dos eixos coordenados. Vamos entender esses processos e nos divertir com as representações geométricas dessa importante teoria do cálculo diferencial para funções de múltiplas variáveis. 2.1 Derivadas parciais Vídeo Neste capítulo trabalharemos com funções de duas variáveis ou mais, ou seja, não teremos apenas uma curva e sim uma superfície ou uma hiperfície para ser avaliada. De acordo com a obra Variedades diferenciáveis, do saudoso professor Elon Lages Lima, um dos matemáticos brasileiros mais importantes da nossa época, uma hiper- fície está definida como sendo um conjunto M contido no espaço n+1. Localmente, esse conjunto pode ser representado por meio de um gráfico de função real de n variáveis (LIMA, 2011). Quando n = 1, temos uma hiperfície de 2 chamada comumente de curva; quando n = 2, temos uma hiperfície 3 conhecida por superfície – é nesse tipo de hiperfície que residirá a maior parte dos exemplos deste capítulo. Vamos entender esse processo e interpretação geométrica para, na sequência, trabalharmos com a definição algébrica e os processos de cálculo. 2.1.1 Interpretação geométrica das derivadas parciais Para funções de múltiplas variáveis, vamos derivar em relação a cada uma das variáveis que compõem a função, fazendo com que as demais sejam fixadas como constantes. Sendo assim, se temos uma função f(x, y), calcularemos uma derivada em relação a x (com y constante, ou seja y = y0), que será denotada por ∂ ∂ f x , e uma derivada em relação a y (com x constante, ou seja, x = x0), denotada por ∂ ∂ f y . 32 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Temos com isso a derivada parcial da função f em relação a x � f x , ∂ ∂ , que toma como constante a variável y = y0. Assumiremos que a superfície z = f(x, y) será in- terceptada por um plano paralelo ao eixo x, passando por A = (x0, y0, f(x0, y0)), como apresentado na figura a seguir. Figura 1 Superfície z = f(x, y) interceptada por um plano paralelo a x Fonte: Elaborada pela autora. Portanto, ∂ ∂ f x será a inclinação da reta tangente à curva C no ponto A = (x0, y0, f(x0, y0)). Figura 2 Reta tangente à curva C Fonte: Elaborada pela autora. Já a derivada parcial da função f em relação a y � f y , ∂ ∂ toma como constante a va- riável x = x0. Assumiremos, agora, que a superfície z = f(x, y) será interceptada por um plano paralelo ao eixo y, passando por A. Nesse caso, ∂ ∂ f y será a inclinação da reta tangente à curva D no ponto A = (x0, y0, f(x0, y0)). Derivadas parciais 33 Figura 3 Reta tangente à curva D Fonte: Elaborada pela autora. Com isso, temos as derivadas parciais em relação a x e em relação a y para uma função f(x, y) em um ponto A = (x0, y0, f(x0, y0)). � � � � � �� � � � � � f x x y f x x y f x y xx0 0 0 0 0 0 0, lim , , � � � � � � � � �� � � � � � f y x y f x y y f x y yy0 0 0 0 0 0 0, lim , , � � � Os processos para encontrar as derivadas parciais para funções com mais do que duas variáveis são análogos. 2.1.2 Interpretação algébrica A interpretação geométrica nos ajuda a entender as expressões algébricas que utilizamosquando realizamos os cálculos ou provamos alguma teoria. Nesse sen- tido, vimos a interpretação para as derivadas parciais de uma função composta por duas variáveis. Veremos, agora, o contexto algébrico que permite a existência dessa estrutura geométrica. Definição 1 Se f é uma função de duas variáveis, suas derivadas parciais são as funções ∂ ∂ f x e ∂ ∂ f y e são definidas por � � � � � �� � � � � � f x x y f x x y f x y xx , lim , , � � �0 � � � � � �� � � � � � f y x y f x y y f x y yy , lim , , � � �0 em que � � � �f x x y, é a derivada parcial em relação a x e � � � �f y x y, é a derivada parcial em relação a y (STEWART, 2017). Portanto, para que exista a derivada parcial em um ponto, é necessário que o limite exista nesse ponto. Para manipular esse processo geométrico, sugerimos os links a seguir. No primeiro, a autora Ana Breda criou uma superfície por meio da função f(x, y) = 4 – x2 – y2 e deixou a derivada parcial em relação a x interativa, mostrando o ponto A de maneira móvel e o plano que consequente- mente intercepta f. Disponível em: https://www.geogebra. org/m/cfSgMJMf. Acesso em: 30 mar. 2021. Isso também é feito para a derivada parcial em relação a y, disponível neste link. Disponível em: https://www.geogebra. org/m/FZwd9Dhp. Acesso em: 30 mar. 2021. Sites 34 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Σxemρlo 1 Seja a função f: 2 → , com f x y x y,� � � �2 2 . Calcule as derivadas parciais de f no ponto (0, 0), se existirem. Solução � � � � � �� � � � � � � � � � f x f x f x x x x x x x 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 , lim , , lim lim � � � � � � � � ��x Assim, precisamos fazer: lim � � �x x x� � � 0 1 lim � � �x x x� � � � 0 1 Como � x x x xx x lim lim � � � � ��� � � � � 0 0 , então � x xx lim � � ��0 . Com isso, não existe a derivada parcial de f em relação a x. A derivada em relação a y nos levará ao mesmo resultado. Logo, também não existe a derivada parcial de f em relação a y. Nesse caso, temos que a função possui um ponto crítico em (0, 0). Figura 4 Gráfico da função f x y x y,� � � �2 2 Fonte: Elaborada pela autora. Notação: podemos denotar as derivadas parciais das formas: • � � � � � � � � � � � � � � � � � f x x y f x y f f x z x f D f D fx x x, , 1 1 • � � � � � � � � � � � � � � � � � f y x y f x y f f y z y f D f D fy y y, , 2 2 � � � �f x x,y é a notação usada para a derivada de f(x, y) em relação a x, tomando y como constante (independente de x). Já a notação d dx f x,y� �� � é a notação usada para a derivada de f(x, y) tomando y como uma função de x (se nada contrário for dito) (GUIDORIZZI, 2018). Importante Derivadas parciais 35 Técnica: 1. Para encontrar fx, considere y como uma constante e derive f(x, y) em relação a x. 2. Para encontrar fy, considere x como uma constante e derive f(x, y) em relação a y. Σxemρlo 2 Calcule as derivadas parciais das funções: a) f(x, y) = x3 + y2 – 2xy b) f(x, y, z) = x + y – z2 + 4 c) f(x, y) = sen xy + cos y Solução a) f(x, y) = x3 + y2 – 2xy Fixando primeiro a variável y para calcularmos a derivada parcial de f em rela- ção a x, temos: � � � � � � � � �f� x x y x y x y, 3 0 2 3 22 2 Agora, fazendo x constante para calcularmos a derivada parcial de f em relação a y, temos: � � � � � � � � �f y x y y x y x, 0 2 2 2 2 b) f(x, y, z) = x + y – z2 + 4 Fixando primeiro as variáveis y e z para calcularmos � � � �f x x y z, , , temos: � � � � � � � � �f� x x y z, , 1 0 0 0 1 Agora, fazendo x e z constantes para calcularmos � � � �f y x y z, , , temos: � � � � � � � � �f y x y z, , 0 1 0 0 1 Por fim, tomando como constantes x e y para calcularmos � � � �f z x y z, , , temos: � � � � � � � � � �f z x y z z z, , 0 0 2 0 2 c) f(x, y) = sen xy + cos y Fixando primeiro a variável y para calcularmos a derivada parcial de f em rela- ção a x, temos: � � � � � � � � �f� x x y xy y y xy, cos ·� cos0 Agora, fazendo x constante para calcularmos a derivada parcial de f em relação a y, temos: � � � � � � � � � �f y x y xy� � x seny x xy seny, cos �·� cos A plataforma da Khan Aca- demy traz, além de vídeos e atividades, alguns artigos sobre o tema da aula. Para auxiliar com as derivadas parciais, sugerimos o arti- go intitulado Introdução às derivadas parciais. No link a seguir também será pos- sível acessar alguns vídeos do canal 3Blue1Brown- Clips e resolver pequenos testes sobre o conceito de derivada parcial. Disponível em: https://pt.khanaca- demy.org/math/multivariable-cal- culus/multivariable-derivatives/ partial-derivative-and-gradient-arti- cles/a/introduction-to-partial-deriva- tives. Acesso em: 30 mar. 2021. Site (Continua) 36 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Figura 5 Gráfico de f(x, y) = sen xy + cos y Fonte: Elaborada pela autora. Note que na letra c do Exemplo 2 usamos a regra da cadeia para funções de uma variável. Σxemρlo 3 Se f x y sen xy x ,� � � �� � � � � � 1 , calcule fx e fy. Solução Fixando primeiro a variável y para calcularmos fx, teremos: f x y xy x y x y x xy xx , cos cos� � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 1 1 1 1 2 2 �� Agora, fazendo x constante para calcularmos a derivada parcial de f em relação a y, teremos: f x y xy x x x xy xy , cos cos� � � �� � � � � � � � � �� � � � � � 1 1 Conhecendo tanto as particularidades geométricas quanto as algébricas das de- rivadas parciais z = f(x, y), podemos expandir esse campo para as derivadas parciais de maior ordem. Veremos, na sequência, essa teoria. 2.1.3 Derivada de maior ordem Considere uma função f: 2 → da forma f(x, y). Podemos calcular as derivadas parciais das derivadas parciais, desde que o limi- te exista. Assim, se f(x, y) = x2y5, podemos escrever: Derivadas parciais 37 • Derivadas parciais de primeira ordem: � � � � � � � �f x x y f x y xx, , 2 � � � � � � � �f y x y f x y yy, , 5 4 • Derivadas parciais de segunda ordem: � � � � � �� � � � � � � � � � � � � �� � � � � �x f x x y f x x y f f x y f x yx x xx, , , , 2 2 2 � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � �� � � � � �x f y x y f x y x y f f x y f x yx y xy, , , , 2 0 � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � �� � � � � �y f x x y f y x x y f f x y f x yy x yx, , , , 2 0 � � � � � �� � � � � � � � � � � � � �� � � � � �y f y x y f y x y f f x y f x y yy y yy, , , , 2 2 320 Note que � � � � � � � � � � � 2 2f x y x y f y x x y, , . Isso não é uma coincidência, e a explicação para esse resultado está no teorema a seguir. Teorema 1: Teorema de Clairaut Suponha que f seja definida em uma bola aberta D que contenha o ponto (a, b). Se as funções fxy e fyx forem ambas contínuas em D, então fxy(a, b) = fyx(a, b) (STE- WART, 2017). Σxemρlo 4 Determine as derivadas parciais de segunda ordem de f(x, y) = x3 + x2y4 – 3y2. Solução • Derivadas de primeira ordem: � � � � f x x y x3 22 4 � � � � f y x y y4 62 3 • Derivadas de segunda ordem: � � � � � � � � � � � � � � � 2 2 46 2f x x f x x y � � � � � � � � � � � � � � � 2 2 2 212 6f y y f y x y � � � � � � � � � � � � � � � 2 38f x y x f y y x � � � � � � � � � � � � � � � 2 38f y x y f x y x 38 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Derivadas de ordem superior são calculadas derivando as derivadas parciais de ordens inferiores. Σxemρlo 5 Seja a função g(x, y) = x5 + 3xy4 – 2yx7. Calcule gyxx. Solução Primeiro devemos derivar g em função de y, depois em função de x e, por fim, em função de x novamente. Assim: � � � �� � � �y x xy yx xy x 5 4 7 3 73 2 12 2 � �� � � � � 12 2 12 14 3 7 3 6 xy x x y x Por fim: � �� � � � � 12 14 84 3 6 5 y x x x Vamos entender, na sequência, como podemos calcular a equação de um plano tangente a um ponto de uma superfície definida por uma função. 2.2 Plano tangente e diferenciabilidade Vídeo Vamos supor que a superfície em azul naFigura 6, denotada por S, seja definida pela função f(x, y) = z. O ponto A = (x0, y0, z0) é um ponto de S e o plano α tangencia S em A. Figura 6 Plano α tangente a f(x, y) em A. Fonte: Elaborada pela autora. Derivadas parciais 39 Note que duas retas estão contidas nesse plano e são retas tangentes à superfície S, passando pelo ponto A. Dessa forma, podemos dizer que a inclinação dessas retas é calculada por meio das derivadas parciais de f. Portanto, se pudermos escrever uma equação genérica para o plano α na forma: h(x, y) = ax+ by + c (1) Teremos que: • A inclinação na direção do eixo x será: a f x x y� � � � �0 0, (2) • A inclinação na direção do eixo y será: b f y x y� � � � �� ,0 0 (3) • O ponto A = (x0, y0, f(x0, y0)) satisfaz (1) Com isso, escrevemos: h(x0, y0) = f(x0, y0) (4) Substituindo as Equações (2) e (3) na Equação (1), obtemos: h x y f x x y x f y x y y c, , ,� � � � � � � � � � � � �0 0 0 0 (5) Agora, substituindo a Equação (4) na Equação (5) e isolando a constante c, temos: c f x y f x x y x f y x y y� � � � � � � � � � � � �0 0 0 0 0 0 0 0, , , (6) Por fim, substituindo a Equação (6) em (5), encontramos: h x y f x y f x x y x x f y x y y y, , , ,� � � � � � � � � � ��� �� � � � � � ��� ��0 0 0 0 0 0 0 0 (7) Com isso, desde que o plano tangente a um ponto A = (x0, y0, f(x0, y0)) exista, ele poderá ser calculado por meio da Equação (7) Σxemρlo 6 Determine a equação do plano tangente ao gráfico de z senxy ex y� � ��� 2 2 1 no ponto A = (0, 0, 2). Solução O gráfico de z senxy ex � �y� � ��� 2 2 1 é a superfície apresentada na figura a seguir. (Continua) 40 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Figura 7 Gráfico de z senxy ex y� � ��� � � 2 2 1 Fonte: Elaborada pela autora. Usando a equação (7): h x y f x y f x x y x x f y x y y y, , , ,� � � � � � � � � � ��� �� � � � � � ��� ��0 0 0 0 0 0 0 0 E fazendo: g x f x sen x e sen e ex � � x x� � � � � � � � � � � � � � ��, �·�� �0 0 1 0 1 12 0 2 2 h y f y sen y e sen e e� �y y y� � � � � � � � � � � � � � ��0 0 1 0 1 10 2 2 2, �·�� � Temos: g x xe' x� � � 2 2 e � � � �h y yey2 2 Logo: � � � � � � � � � � � � � � � ��f x g �� f y h'0 0 0 0 0 0 0 0, , , e f(0, 0) = 2 Com isso, a equação do plano tangente a z senxy ex � �y� � ��� 2 2 1 no ponto A = (0, 0, 2) será escrita como: h x y f x y f x x y x x f y x y y y, , , ,� � � � � � � � � � ��� �� � � � � � ��� ��0 0 0 0 0 0 0 0 h x y x y,� � � � ��� �� � ��� ��2 0 0 0 0 h x y,� � � 2 Na Figura 8 é possível ver o plano tangente a z senxy ex � �y� � ��� 2 2 1, ou seja, veri- ficar a localização de h(x, y) = 2. (Continua) Derivadas parciais 41 Figura 8 Gráfico de h(x, y) = 2 Fonte: Elaborada pela autora. Definição 2 Suponha que f tenha derivadas parciais contínuas. Uma equação do plano tangente à superfície z = f(x, y) no ponto A = (x 0 , y 0 , f(x 0 , y 0 )) é dada por: z – f(x 0 , y 0 ) = f x (x 0 , y 0 )(x – x 0 ) + f y (x 0 , y 0 )(y – y 0 ) Se o plano calculado pela Equação (7) existe e fornece uma “boa aproximação” para f(x, y) ao redor de (x0, y0), então dizemos que f é diferenciável nesse ponto. O conceito de “boa aproximação” pode ser verificado por meio do limite. Portan- to, teremos uma “boa aproximação” se: lim , , , , x x y y f x y f x y f x x y x x f y x y � � � � � � � � � � � � ��� �� � � � � � 0 0 0 0 0 0 0 0 0 yy y x y x y ��� �� � � � � � � �� � � � � � 0 0 0 0 , (8) em que |(x, y) – (x0, y0)| representa a distância de (x, y) a (x0, y0), que é dada por x x y y�� � � �� �0 2 0 2 . A Equação (8) nos permite concluir que se (x, y) se aproxima de (x0, y0), a diferen- ça entre f(x, y) e z = h(x, y) se aproximará mais rapidamente de zero. Neste ponto, podemos tirar algumas conclusões importantes: • Toda função diferenciável é contínua, mas nem toda função contínua é diferenciável. • A existência de derivadas parciais não é suficiente para mostrar que uma função é diferenciável. 42 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Σxemρlo 7 Verifique se a função f(x, y) = |x| + |y| é diferenciável em (0,0). Solução Fazendo y = 0, obteremos z = |x| e, sendo assim: � z x � � � �0 0, pois os limites laterais são diferentes para x → 0. Portanto, z não é diferenciável, poque uma das condições necessárias para se comprovar tal fato já não foi satisfeita. Teorema 2 Se as derivadas parciais de uma função f(x, y) existirem em um conjunto aberto D contendo (x0, y0) e se forem contínuas em (x0, y0), então f é diferenciável em (x0, y0). Σxemρlo 8 Verifique se a função f(x, y) = sen xy é diferenciável. Solução Vamos verificar a existência e continuidade das derivadas parciais. Assim: � � � � � � �f x x y y xy, cos � � � � � � �f y� x y x xy, cos Note que as derivadas parciais são contínuas para todo (x, y) ∈ 2, portanto a função f(x, y) = sen xy é diferenciável. Agora que sabemos verificar se uma função de múltiplas variáveis é diferenciá- vel, vamos aprender a regra da cadeia. 2.3 Regra da cadeia Vídeo Quando trabalhamos com a regra da cadeia para derivadas, precisamos anali- sar primeiro a quantidade de variáveis que as funções que compõem o problema possuem. Conhecemos a regra da cadeia para derivadas quando aplicada às funções de uma variável. Veremos, a seguir, casos em que essa regra é aplicada para funções de múltiplas variáveis. Derivadas parciais 43 Definição 3: Regra da cadeia para derivadas Sejam as funções z = f(x, y), x = f(t) e y = g(t) diferenciáveis, ou seja, as suas derivadas parciais são contínuas. Então f(x, y) = z é uma função diferenciável de t e podemos escrever: dz dt f x dx dt f y dy dt � � � � � � Escrito em versão matricial, temos um produto escalar entre o vetor de deriva- das parciais pelo vetor de derivadas de f. Assumindo v t x t y t � � � � �� � � � � � � � � � , então: dz dt f x f dx dt dy dt f v t � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � y � �� �� � �� � � � � � �� �� � v' t Portanto, d dt f v t f v t v t � �� � � � � �� � � � �´ . Acompanhe um exemplo de como calcular a derivada de uma função cujas va- riáveis dependem de outra variável. Σxemρlo 9 Seja a função f(x, y) = x2 – 2y, em que x = x(t) = t2 e y = y(t) = et. Calcule a derivada de f(t). Solução Para isso podemos fazer uma substituição da forma: f t t � et� � � � � � � �2 2 2 Portanto, � � � � f t t et4 23 Podemos resolver esse mesmo exemplo de uma segunda maneira: calculamos, em primeiro lugar, a derivada de f(t) usando as derivadas parciais. Dessa forma, fazemos: � � � f x x2 � � � � f y 2 Precisamos ainda calcular dx dt e dy dt para podermos usar a regra da cadeia na forma: df dt f x dx dt f y dy dt � � � � � � Para relembrar a regra da cadeia para funções de uma variável, sugerimos o vídeo da plataforma da Khan Academy intitulado Regra da Cadeia. Disponível em: https://pt.khana- cademy.org/math/ap-calculus-ab/ ab-differentiation-2-new/ab-3-1a/v/ chain-rule-introduction. Acesso em: 18 fev. 2021. Vídeo Uma demonstração para a regra da cadeia para derivadas pode ser encontrada na página 840 do livro Cálculo, de Stewart (2017). STEWART, J. São Paulo: Cengage Learning, 2017. v. 2. Leitura (Continua) 44 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Portanto, dx dt t= 2 e dy dt et= . Assim: df dt x t e t t e t et t t� � � � �� � � � � � � �2 2 2 2 2 2 4 22 3 De maneira geral, para funções com mais de duas variáveis, f(x1, ..., xn), com v t x t x tn� � � � � � � �� �1 , , , podemos escrever a derivada de f em relação a t na forma: df dt f x dx dt � i n i i� � � � � 1 (9) Na forma matricial, podemos escrever: d dt f v t f x f x dx n f v t � � � �� �� � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � 1 1 ddt dx dt n v' t � � �� �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Definição 4: Seja z = f(x, y), com x = g(s, t) e y = h(s,t), uma função diferenciável com x e y também diferenciáveis. Então: � � � � � � � � � � � � z s z x x s z y y s � (10) � � � � � � � � � � � � z t z x x t z y y t (11) Para compreender melhor como calcular as derivadas parciais de uma função de duas variáveis, acompanhe o exemplo a seguir. Σxemρlo 10 Seja a função f(x, y) = z = x2 – 2y3x, em que x = x(s, t) = st2 e y = y(t) = s2et. Calcule as derivadas ∂ ∂ z s e ∂ ∂ z t . Solução Usando a Equação (10), obtemos: � � � � � � � � � � � � z s z x x s z y y s � � � �� � � �� �� �zs x y t xy e s t2 2 6 23 2 2 � � � � � �� � � � � � � � �� �� �� �2 2 6 22 2 3 2 2 2st s e t st s e e st t t² (Continua) Derivadas parciais 45 � � � �� � � � � � � �zs st s e t s t e st s t e s t e t t t t2 2 12 2 2 122 6 3 2 6 2 3 4 6 2 3 6 2 3 � � � � z s st s t e t2 144 6 2 3 Usando a Equação (11), obtemos: � � � � � � � � � � � � z t z x x t z y y t � � � �� �� � � �� �� �zt x y st xy s e t2 2 2 63 2 2 �= st s e st st s e s et t t2 2 2 62 2 3 2 2 2� � � � �� � � � � � � � � � �� �� �� �² � � � �� �� � � � � �zt st s e st s t e s t s te s t e t t t t2 2 2 6 4 4 62 6 3 5 2 2 2 3 7 3 7 2 3 � � � � z t s t s t e t4 102 3 7 3³ Na sequência, veremos as derivadas direcionais e como podemos entender as derivadas parciais como casos particulares delas. 2.4 Derivadas direcionais e vetor gradiente Vídeo O gradiente de uma função composta por múltiplas variáveis – f(x1, ..., xn) – é for- mado por todas as informações sobre suas derivadas parciais. Essas informações são apresentadas em formato de vetor, denotado por ∇f, com: � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � f f x f xn 1 Assumindo que � � v t x t x t x t x t x t x t n n � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 1 2 1 2, , , é uma função vetorial, então o gradiente de uma função f v t � �� � é também uma função vetorial. O vetor gradiente aponta para a direção de crescimento da função. Assim, se vamos analisar uma situação, por exemplo, a partir do ponto (x0, y0) e desejamos entender em que direção a função f cresce (aumenta) mais rapidamente, calcula- mos ∇f(x0, y0). 46 Cálculo para funções de múltiplas variáveis A definição de campo vetorial traz que: um campo vetorial associa um vetor a cada ponto no espaço. Desse modo, interpretando ∇f como uma função vetorial e calculando o gra- diente de f para diversos pontos do domínio de f, podemos visualizar esse resulta- do como um campo de gradientes. Esse campo de gradientes vive no domínio de f, que é o plano xy. Σxemρlo 11 Seja a função f(x, y) = sen xy diferenciável. O gradiente de f, ∇f, é dado por: � � � � � �� � � � � � � � � � f x y y xy x xy , cos cos O campo de gradientes de f pode ser visto nas figuras a seguir. Figura 9 Função f(x, y) = sen xy Fonte: Elaborada pela autora. Figura 10 Campo de gradientes de f(x, y) = sen xy Fonte: Elaborada pela autora. Para saber mais sobre os campos vetoriais, sugeri- mos que acesse o material da plataforma da Khan Academy disponibilizado no link a seguir. Nele é possível rever o conceito de campo vetorial, assistir a vídeos com exemplos e exercitar seu conheci- mento. Disponível em: https:// pt.khanacademy.org/math/ multivariable-calculus/thinking- -about-multivariable-function/ ways-to-represent-multivariable- -functions/a/vector-fields. Acesso em: 30 mar. 2021. Site Derivadas parciais 47 O gradiente de uma função em um ponto é perpendicular à curva de nível que passa por esse ponto. Assim, se traçarmos as curvas de nível de uma função f(x, y) e nesse mesmo domínio traçarmos o campo de gradientes, conseguimos ter uma ideia bastante precisa sobre o comportamento dessa função. Para compreender essa relação, analise a figura a seguir 1 . Figura 11 Campo de gradientes e curvas de nível Fonte: Elaborada pela autora. Temos uma ligação direta entre a regra da cadeia e as derivadas direcionais. Vamos entender esse processo na sequência. 2.4.1 Relação da derivada direcional e o vetor gradiente Quando trabalhamos com as derivadas parciais, analisamos o comportamento de uma função em relação à direção dos eixos ordenados. As derivadas direcionais podem ser entendidas como uma expansão desse conceito. Assim, se desejamos calcular a derivada direcional de uma função f, na direção de um vetor u, em relação a um ponto A = (x0, y0), precisamos calcular a taxa de variação de z na direção de u, ou seja, a inclinação da reta tangente à curva obtida pela intersecção da superfície z com o plano vertical que passa por (x0, y0, 0) na direção de u. Esta figura pode ser manipulada no GeoGebra on-line, disponível em: https://www.geogebra. org/3d/gmpxsgqy. Acesso em: 30 mar. 2021. 1 48 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Figura 12 Derivada de f(x, y) em relação ao vetor au no ponto P Cr ea te d by G eo Ge br a Fonte: Dixiemath; Alberca, 2021. Definição 5 Seja f(x, y) = z uma função de duas variáveis e u a b�� �, um vetor unitário. A derivada direcional de f em A = (x 0 , y 0 ) na direção de u é escrita como: D f x y f x ha y hb f x y hu h 0 0 0 0 0 0 0, lim , ,� �� � �� �� � � � (12) caso esse limite exista. Algumas notações que representam a derivada direcional de uma função f na direção do vetor u são: � � � � � � � � u u u uf f u f D f f´ (13) Portanto, se f é uma função diferenciável, podemos escrever a derivada direcio- nal por meio do produto escalar entre ∇f e u. Teorema 3 Segundo Stewart (2017), seja f uma função de duas variáveis x e y diferenciável, ∇f o gradiente de� ,� ,f u a b � � � um vetor unitário, então: D f f x a f y b f x f y a bu f � � �� �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � u f u�� � � (14) Derivadas parciais 49 É comum trabalharmos com vetores normalizados, ou seja, versores, sendo que esse tipo de transformação (ajuste) no vetor é necessário nos casos de uso das de- rivadas direcionais para o cálculo da inclinação. Σxemρlo 12 Seja a função f x y x y,� � � �2 2 . Sabendo que D f x y f x y uu , ,� � � � � � � , com u um ve- tor unitário, calcule a derivada direcional de f no ponto P = (3, 4) na direção do vetor v i j� �3 4 . Solução O versor de v pode ser calculado por � � � � � u v v = . Assim: � � � v � � �� � �3 4 52 2 Logo: u i j� �� � � � � � � � � � � � 3 4 5 3 5 4 5 3 5 4 5 , , . Sendo: � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �f x y f x f y x x y y x y x x y i y x , , , 2 2 2 2 2 2 2 �� y j 2 Teremos: � � � � � � � � � � � � � � � �f � i j3 4 3 3 4 4 3 4 3 5 4 52 2 2 2 , , Portanto: D f � f � �u 3 4 3 4 3 5 4 5 3 5 4 5 3 5 4 5 , , �·�� , , �·�� ,� � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � �� � � � � � � � � � 9 25 16 25 7 25 Com essa ferramenta, podemos não só calcular a derivada de uma função em diversas direções, mas também analisar o comportamento dessa função em pon- tos específicos e direcionado por diferentes vetores. 2.4.2 A relação entre a regra da cadeia e as derivadas direcionais Para entender esse processo, note que a expressão do produto escalar para a regra da cadeia para múltiplas variáveis se parece com uma derivada direcional: � � �� � � � �f v t u t' (15) Esse fato não é uma coincidência. Quando escrevemos a derivada de u para um valor t0, u t' 0� �, o resultado desse processo estará no domínio de f: u t x t y t ' 0 0 0 � � � � �� � � � � � � � � � ´ ´ O GeoGebra é uma ferramenta computacio- nal que permite visualizar diversos conceitos da matemática por meio de suas estruturas geométri- cas. No material a seguir, o professor Waldecir Bianchini desenvolveu uma ferramenta intera- tiva que mostra a inter- pretação geométrica do gradiente de uma função de duas variáveis em um pontoP em relação à sua derivada direcional na direção do vetor unitário. Disponível em: https://www. geogebra.org/m/m5jfSAP6. Acesso em: 30 mar. 2021. Site Exemplos resolvidos de problemas envolvendo derivadas direcionais podem ser encontrados no material da plataforma da Khan Academy intitu- lado Derivadas direcionais (introdução). Disponível em: https://pt.khana- cademy.org/math/multivariable- -calculus/multivariable-derivatives/ partial-derivative-and-gradient-ar- ticles/a/directional-derivative-intro- duction. Acesso em: 30 mar. 2021. Leitura 50 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Por exemplo, se u t� � for interpretado como a trajetória de uma partícula no momento t t ��u t'� � �0 0, , dará o vetor velocidade dessa partícula naquele momento. Com essa interpretação, a regra da cadeia nos diz que a derivada da função composta f u t � �� � é a derivada direcional de f ao longo da derivada de u t� �. 2.5 Valores máximo e mínimo Vídeo No estudo das funções de uma variável, percebemos que uma das grandes apli- cações das derivadas é no estudo de problemas de otimização. Para isso, é funda- mental que ferramentas envolvendo a teoria de máximos e mínimos sejam usadas. Isso não é diferente para as funções de múltiplas variáveis. Agora, no entanto, os pontos de máximo ou mínimo, locais ou globais, estarão localizados em hiperfí- cies no n, com n > 2. Figura 13 Superfície com máximos e mínimos locais JM at th ew s/ W ik im ed ia C om m on s Dessa forma, precisamos identificar em primeiro lugar se temos pontos críticos para que possamos verificar, na sequência, se esses pontos são de máximo ou mínimo. Essa análise é feita utilizando-se as derivadas parciais de primeira ordem. Definição 6 Assumindo f uma função de duas variáveis e C = (x 0 , y 0 ), dizemos que essa função possui ponto crítico em C se � � � ��f x x y0 0 0, e � � � ��f y x y0 0 0, , ou se uma das derivadas parciais não existir. Derivadas parciais 51 Teorema 4 “Se uma função f tem um máximo ou mínimo local em (x0, y0) e as derivadas parciais de primeira ordem de f existem nesses pontos, então � � � � �f x x y0 0 0, e � � � � �f y x y0 0 0, ” (STEWART, 2017, p. 859). Impondo a condição de que � � � � �f x x y0 0 0, e � � � � �f y x y0 0 0, em (7), ou seja, na equação h x y f x y f x x y x x f y x y y y, , , ,� � � � � � � � � � ��� �� � � � � � ��� ��0 0 0 0 0 0 0 0 obteremos h(x, y) = f(x0, y0). Σxemρlo 13 Seja a função f(x, y) = 10x2y – 2y2 – 2x2 – 2x4 – 3y4 representada pela figura a seguir. Figura 14 Gráfico de f(x, y) = 10x2y – 2y2 – 2x2 – 2x4 – 3y4 Fonte: Elaborada pela autora. Temos fx(x, y) = –8x 3 + 20xy – 4x e fy(x, y) = –12y 3 + 10x2 – 4y. Tomando fx(0, 0) = 0 e fy(0, 0) = 0, o ponto (0, 0, 0) é um ponto crítico da função. Acompanhe mais um exemplo. Σxemρlo 14 Seja a função f(x, y) = –x3 + 4xy – 2y2 +1. Calcule os pontos críticos de f. Solução Fazemos: fy = 4x – 4y = 0 (16) e fx = –3x 2 + 4y = 0 (17) Para entender um pouco mais sobre o uso dessas definições e como avaliar se um ponto crítico é um ponto de máximo ou mínimo, local ou absoluto, sugerimos o material Má- ximos, mínimos e pontos de sela, da plataforma da Khan Academy. Disponível em: https:// pt.khanacademy.org/math/ multivariable-calculus/applica- tions-of-multivariable-derivatives/ optimizing-multivariable-functions/a/ maximums-minimums-and-saddle- -points. Acesso em: 30 mar. 2021. Leitura Nem todos os pontos críticos são máximos ou mínimos. Importante (Continua) 52 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Tomando a Equação (16), temos que x = y. Substituindo esse resultado em (17), obtemos: –3x2 + 4x = 0 Portanto, x(–3x + 4) = 0, logo x = 0 e x = 4 3 . Com isso, temos que os pontos críticos de f estarão em A = (0, 0) e B � � � � � � � 4 3 4 3 , . Observe a figura a seguir para verificar o posicionamento desses pontos. Proje- tadas no plano xy, podemos ver algumas curvas de nível dessa função. Figura 15 Gráfico de f(x, y) = –x3 + 4xy – 2y2 + 1 Fonte: Elaborada pela autora. Seguiremos com quatro definições que nos permitem analisar se os pontos crí- ticos encontrados são pontos de máximo ou mínimo, local ou global. Definição 7 Seja z = f(x, y) uma função de duas variáveis. Dizemos que (x 0 , y 0 ) ∈ D(f) é ponto de máximo absoluto ou global de f se ∀ (x, y) ∈ D(f) ⇒ f(x, y) ≤ f(x 0 , y 0 ). Nesse caso, dizemos que f(x 0 , y 0 ) é o valor máximo de f. Definição 8 Dizemos que a função z = f(x, y) admite um máximo local no ponto (x 0 , y 0 ) se existe um disco aberto R contendo (x 0 , y 0 ) tal que f(x, y) ≤ f(x 0 , y 0 ) para todos os pontos (x, y) em R. Para entender um pouco mais sobre o uso dessas definições e como avaliar se um ponto crítico é um ponto de máximo ou mí- nimo, local ou absoluto, sugerimos o material Má- ximos, mínimos e pontos de sela, da plataforma da Khan Academy. Disponível em: https:// pt.khanacademy.org/math/ multivariable-calculus/applica- tions-of-multivariable-derivatives/ optimizing-multivariable-func- tions/a/maximums-minimums- -and-saddle-points. Acesso em: 30 mar. 2021. Saiba mais Derivadas parciais 53 Definição 9 Seja z = f(x, y) uma função de duas variáveis. Dizemos que (x 0 , y 0 ) ∈ D(f) é ponto de mínimo absoluto ou global de f se ∀ (x, y) ∈ D(f) ⇒ f(x, y) ≥ f(x 0 , y 0 ). Nesse caso, dizemos que f(x 0 , y 0 ) é o valor mínimo de f. Definição 10 Dizemos que a função f(x 0 , y 0 ) admite um mínimo local no ponto (x 0 , y 0 ) se existe um disco aberto R contendo (x 0 , y 0 ) tal que f(x 0 , y 0 ) ≤ f(x, y) para todos os pontos (x, y) em R. Contudo, analisar se uma função em determinado ponto é maior ou menor quando comparada a uma região pode não ser muito simples. Por esse motivo, usaremos o chamado teste da segunda derivada, que nos permitirá concluir o cará- ter dos pontos críticos encontrados. Teste da segunda derivada, baseado em Bianchini (2021) e Stewart (2017). Suponha que f tenha derivadas parciais de segunda ordem contínuas em um disco aberto com centro em um ponto crítico (x 0 , y 0 ) de f. Denotaremos por A = f xx (x 0 , y 0 ), B = f xy (x 0 , y 0 ), C = f yy (x 0 , y 0 ) e H = AC – B2. Então: • Se H > 0 e A > 0, então f(x 0 , y 0 ) é um mínimo local. • Se H > 0 e A < 0, então f(x 0 , y 0 ) é um máximo local. • Se H < 0, então f(x 0 , y 0 ) é um ponto de sela e o gráfico de f cruza seu plano tangente em (x 0 , y 0 ). • Se H = 0, nada podemos concluir. Note que H f f f f A B B C AC B f f fxx xy xy yy xx yy xy� � � � � � � �2 2 . Σxemρlo 15 Seja a função f(x, y) = 10x2y – 2y2 – 2x2 – 2x4 – 3y4 (trabalhada no Exemplo 13). Temos ferramentas para analisar se o ponto crítico (0, 0, 0) é um ponto de máximo, mínimo ou ponto de sela. Para isso, precisaremos encontrar as segundas derivadas. Assim, fazemos: fxx = –24x 2 + 20y – 4, fyy = –36y 2 – 4 e fxy = fyx = 20x Calculando em (x0, y0) = (0, 0), teremos: f � x yxx 0 0 24 20 4 4 2, � �� � � � � � � � f � yyy 0 0 36 4 4 2, � �� � � � � � � f � f � xxy yx0 0 0 0 20 0, ,� � � � � � � (Continua) 54 Cálculo para funções de múltiplas variáveis Logo: H �0 0 4 0 0 4 16 0 16 0,� � � � � � � � � Portanto, como H > 0, temos um ponto de sela representado pelo ponto A = (0, 0, 0) e que pode ser observado na Figura 14. Acompanhe outro exemplo. Σxemρlo 16 Usando o mesmo princípio, analisaremos os pontos críticos da função f(x, y) = –x3 + 4xy – 2y2 + 1 do Exemplo 14. Como fy = 4x – 4y = 0 e fx = – 3x 2 + 4y = 0, então: fxx = – 6x, fyy = – 4 e fxy = fyx = 4 Assim: fxx(0, 0) = – 6x = 0, fyy(0, 0) = – 4 fxy(0, 0) = fyx(0, 0) = 4 H �0 0 0 4 4 4 0 16 16 0,� � � � � � � � � Portanto, temos um ponto de sela, representado pelo ponto A = (0, 0, 1) na Fi- gura 15. Para analisar o ponto B � � � � � � � 4 3 4 3 437 200 , , , vamos aproveitar as derivadas já calcula- das. Assim: f xxx � ��6 , fyy � ��4 e f fxy yx= = 4 Logo,
Compartilhar